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Agatha Christie (e outros)
Um furojornalstico
(The Scoop)
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sisudo ar profissional e se permitiu uns momentos demexericos.
Reparei que eles designaram o seu querido Sr. Johnson para encarregado da histria do Bangal Isolado
disse a Srta. Timmins. Voc pode me emprestar o seu
creme evanescente, meu bem? Est ali no meu armrio replicou a Srta.
Blackwood mas, por favor, no chame o Sr. Johnson de
meu querido. Ele no propriedade minha. No mesmo? Pensei que ainda fosse; desculpe. O
caso que fiquei um pouco surpresa com a deciso do Sr.
Hemingway, designando o Sr. Johnson. que ele me parece
ainda muito jovem, voc no acha? Quero dizer, ele no tem aexperincia do Sr. Oliver, por exemplo. Se voc quisesse saber
minha opinio, diria que o Sr. Oliver e no o Sr. Johnson quem deveria ter ido a Jumbles tratar do caso.
O Sr. Oliver estava s voltas com a exumao em
Newcastle respondeu a Srta. Blackwood pacientemente,
embora revelando no tom da voz maior interesse pelo
assunto.
verdade, mas essa uma histria ultrapassada.Afinal, qual o seu interesse? Um pobre velho de 84 anos. Jestava em tempo de ir embora. Entretanto, o caso do Bangal
Isolado, em Jumbles, esse, sim, o tipo de crime que me
interessa. Aquela pobre moa encontrada sozinha, apunhala
no corao... So fatos assim que me horrorizam. Veja s:
poderia ter sido voc ou eu.
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A moral da histria comentou a Srta. Blackwood que quem no anda direito pelo menos deveria ter mais
cuidado. justamente o que eu acho. Mesmo que o tal de
Tracey fosse o marido dela... e, nesse caso, seria um marido
muito estranho, somente vindo para casa nos fins de semanae no aparecendo nem dando sinal de vida quando foi
noticiado o assassinato; enfim, ele merece o benefcio da
dvida. Mas, ento, o que que uma mulher casada estavafazendo com aquele outro sujeito, o tal de Fisher? Na noite desbado, quando ela foi assassinada, ele se encontrava l, no
? E eu gostaria de saber de que negcio ele estava tratando,
ainda mais porque a moa se achava sozinha, sem sequeruma criada.
Fisher deve saber mais do que contou disse aSrta. Blackwood.
claro que sabe! No me admirarei se ele estiver a
par de toda a histria. capaz at de ser o criminoso. Aquela
cara no engana. V-se pela fotografia que daquele tipo de
gorducho amvel. No me surpreenderei se ele tiver dado
cabo tambm de Tracey. Isso explicaria o fato de ele no teraparecido, voc no acha? Tome nota do que estou dizendo.Qualquer dia destes o corpo de Tracey vai ser encontrado em
algum lugar, com um punhal cravado nas costas, como a
moa.
No havia punhal algum nas costas da moa
corrigiu a Srta. Blackwood.
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Como?... Sim... Onde?... Ouvi, sim... O senhor acha que a viuem uma vitrine, mas no se lembra onde... Broad Street?... O
qu?... Olhe, espere um minutinho. Vou pedir uma novaligao. Telefonista! Pode dar um jeito nesta linha? Mais
parece uma barragem de metralhadora... Ah, agora, sim! Est
bem melhor, obrigada... Al, Sr. Johnson. Repita, por favor...Sim, estou ouvindo muito bem. Sim... Sim... O que o Sr.
Hemingway pensa a respeito disto?... O qu? No dar
conhecimento ao Sr. Hemingway? Mas meu caro rapaz, vocno deve perder seu tempo falando comigo... No... No...Est enganado... claro que voc deve falar diretamente com
o Sr. Hemingway... O qu?... No... no posso... No. Sr.
Johnson, no diga bobagens... No me chame de querida...No seja ridculo... Vou transferir a ligao...
Telefonista! Al, telefonista! Por favor transfira estachamada para o escritrio do Sr. Hemingway... Sim... Vou
desligar... Pronto!
A Srta. Blackwood reps o fone no lugar. Esse moo,
Johnson, estava fazendo uma complicao dos diabos. Mas o
engraado ele conseguir um furo daquela natureza.
Encontrar a arma do crime! E, alm disso, teve a sorte deidentific-la. Apesar de tudo, era uma pena que o Sr. Oliverno tivesse tido sua oportunidade. Ela deu um suspiro de
resignao e foi apanhar o chapu e o casaco.
Entrementes, a ligao foi transferida para a sala do
editor do noticirio. Hemingway, alerta e decidido como
sempre, o eterno cigarro pendurado no canto da boca, gritou
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logo no fone: Al!... Quem ?... Johnson?... Sim... O que h?...
timo!... Encontrou o homem?... Ah, a arma?... Onde?... um punhal?... Voc acha o qu?... Pode identific-lo? Como?
No perca tempo... Como ? Espere um momento.
Apanhou um bloco de memorando e retomou o fone. Johnson! Faa um resumo rpido dessa histria...
Sim... Sim... Continue... Sim... Sabe o nome da loja?... Est
bem... Talvez daqui a pouco voc se lembre. Agora, presteateno. Naturalmente voc no falou a ningum a respeitodisto... No?... Correto... Watkins, d-me uma tabela de
horrios. Obrigado Al, Johnson! De onde voc est falando?
De um botequim? Quanto tempo voc levar para voltar paraBrighton?... Ah, compreendo... Bem, parece melhor voc vir
diretamente para a cidade. Traga a arma e escreva suareportagem durante a viagem. Ser que d para apanhar o de
7:35?... Bem, se perder esse, h o de 8:35... Chega s 9:48...
Ainda a tempo. Providenciarei para que tudo esteja aqui
esperando a sua reportagem... Certo... Vou dar uma sada,
mas o Sr. Redman estar a postos... Correto... Isso mesmo...
At logo.Rabiscou apressadamente algumas instrues echamou com urgncia o chefe da tipografia, que se apressou
a vir, com uma poro de provas na mo.
Olhe aqui, Bill. O Johnson chegar mais tarde com
uma reportagem a respeito do Crime do Bangal de Jumbles.
Vou querer duas colunas na primeira pgina para um grande
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furo. Cancele a manchete sobre a recepo do prefeito etransfira tudo para as colunas cinco, seis e sete, pondo a
fotografia na pgina dois. Perks, preciso de um fotgrafo e depaginadores prontos para um trabalho urgente. Simmonds
est na casa? Mandem cham-lo. Est tudo bem claro?
Perfeito. O Sr. Redman resolver qualquer problema quesurgir. Al! Simmonds? Johnson telefonou, avisando que tem
um furo... O assassinato em Jumbles... Ele encontrou a
arma... Vamos aos detalhes... Reserve uma manchete e umttulo em duas colunas. Bill se encarregar de tudo, estbem? Johnson deve chegar aqui com a arma e o resto da
histria dentro de uma ou duas horas, o mais tardar s 10.
Desligou e, com um gesto, despediu o tipgrafo. Depois,consultou o relgio.
Sete e cinco. Digamos que ele pegue o de 7:35.Haver tempo de sobra. Onde est aquela reportagem sobre o
choque de trens?
s 7:25, com todas as providncias tomadas,
Hemingway se levantou e decidiu ir para casa. O editor
noturno do noticirio ainda no havia chegado; na ausncia
dele, Hemingway chamou o subchefe, entregando-lhe asnotas que havia rabiscado durante o telefonema. Entregue isto ao Sr. Redman, quando ele chegar.
No se esquea de que Johnson acha que pode identificar a
arma, porque a viu em uma vitrine. Infelizmente, como no
consegue lembrar-se do nome da loja, no podemos
aproveitar o resto da noite para obter maiores detalhes.
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uma boa idia. Telefone respondeu Redman. Se Johnson no chegar a tempo, devemos arranjar-nos com
as notas que Hemingway deixou.Folheou, nervosamente, os papis espalhados sobre a
mesa, perguntando:
H algum a que possa escrever uma reportagemcom base nestas notas?
O Sr. Oliver j chegou de Newcastle.
Pea que ele venha aqui.O subchefe conseguiu a ligao com Vitria justamente
no momento em que Oliver entrava na sala um jovem alto,
com fartos cabelos vermelhos e a fama de melhor reprter de
polcia do Morning Star . Eles informaram disse o subchefe que o de
9:48 atrasou, tendo chegado somente s 10 horas. Que azar! exclamou Redman. Bem, no adianta
chorar. Se ele no estiver aqui dentro de 10 minutos, Oliver,voc ter de fazer o melhor possvel com estas notas. isto o
que temos: um punhal encontrado em um toco de rvore;
Johnson pensa que foi adquirido em uma loja de Bond Street.
Explore isso o quanto puder. Temos de dar a notcia mesmosem a fotografia.... Espere, talvez seja Johnson.
O telefone tocava, estridente. Redman atendeu, ouviupor uns instantes e se voltou alegremente para Oliver:
da Estao Vitria. Encontraram um corpo em
uma cabine telefnica. Pode haver uma histria a. melhor
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voc dar um pulo at l, Oliver, para ver o que h. Pegue umtxi. Telefone logo que souber alguma coisa.
Dez horas e 20 minutos; 25; 10:30.Somente ento o telefone tocou na sala do editor de
noticias um som agudo, insistente.
Pronto... Sim, do Morning Star ... O editor denotcias falando... Como mesmo?
Oliver falando de Vitria. O cadver encontrado na
cabine telefnica de Johnson. Apunhalado pelas costas.Bem no corao. O mesmo tipo de ferimento da moa de
Jumbles. O caderno de notas dele foi roubado, assim como a
arma que trazia. Tambm no se achou a que produziu o
ferimento. O assassino deve ter entrado na cabine e matado Johnson para se apossar da prova. Continuo investigando.
Santo Deus! exclamou Redman. Johnsonassassinado! O criminoso de Jumbles o matou tambm.
Ficou imvel por uns instantes, consternado, mas oinstinto jornalstico foi mais forte. Comeou a apertar os
botes do interfone.
Bem, temos uma grande reportagem. Simmonds,
suba logo. Avise ao pessoal da composio para aguardarnovas ordens. Peters, tome nota.Ditou a reportagem rapidamente, com um sentido de
triunfo.O lpis grosso desenhou as manchetes:
REPRTER DO MORNING STAR APUNHALADO
O ASSASSINO DE JUMBLES EST SOLTO EM LONDRES
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MATA JORNALISTA A FIM DE SUPRIMIR PROVAREVELADORA
CARREGADOR ENCONTRA O CORPO EM UMA CABINE TELEFNICA
Redman sacudiu a cabea, aprovando.
Leve para a tipografia... Rpido... Mande Bill subir...Veja se h uma fotografia de Johnson no arquivo. Olhe aqui,
Mathews... d uma busca e obtenha uma entrevista com a
me dele, se que ela existe. Quem sabe uma namorada?Vamos, mexam-se. No fiquem olhando para mim.
Bill, o tipgrafo-chefe, deteve-se por um momento na
amurada da galeria, contemplando no andar de baixo as
mquinas que eram o orgulho de sua vida. As pginasexternas, recm-sadas do prelo, estavam sendo empilhadas,
prontas para compor os cadernos. Eram 11 horas da noite.Ele levantou a mo para acionar o boto de comando Tudo
pronto a?
Pronto.
Vamos l.
Ouviu-se um estalido. Com um ronco crescente e firme,
as mquinas comearam a rodar. O papel foi passando pelosrolos. Todo o grande edifcio estremecia sob o impacto dareverberao. Com o orgulho de sua enorme circulao, dois
milhes de exemplares do Morning Star pareciam formar um
enorme coro, festejando seu xito. Afinal, fora obtido um
grande furo jornalstico.
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CAPTULO II - O INQURITO
Agatha Christie
O inqurito sobre a morte de Geraldine Tracey teve
incio na manh de quarta-feira, 11 de novembro. Oliver,
desleixado como de costume, o velho chapu cado sobre os
olhos, escolheu cuidadosamente seu lugar. Perto dele estava
sentada uma gorda mulher de meia-idade, acompanhada deuma amiga franzina e nervosa. Oliver gostava de ouvir oscomentrios de pessoas estranhas ao caso, para ter uma
impresso das reaes do pblico. A mulher gorducha
pertencia ao tipo das que duvidam de tudo e discordam com
muita convico das observaes dos outros o que
provocava uma firme reao de sua companheira. L esto as testemunhas apontou a gorda.
Aquele Fisher, o tal que costumava sair de carro com amoa. Parece que dado bebida, voc no acha?
Aquele no o Fisher. Vi a fotografia dele no jornal
esta manh. No ele.
Voc sempre convencida de que sabe tudo, Maria.
capaz de duvidar at de um santo. ele, sim. Olhe: estroendo as unhas. Dizem que isso revela mau carter em um
homem. Est muito desfigurado.
E no para menos. Ele sabe o que esto pensando
a seu respeito. Mais parece uma lesma, no acha? Dessas
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que a gente encontra na folha de alface, ao preparar a salada.Minha sobrinha casou com um sujeito parecido com ele. E
por falar nisso, agora me lembrei que ele morreu de repente.Disseram que foi de indigesto, mas agora j estou
desconfiada...
Maria sacudiu a cabea energicamente. Ele no o assassina Como que voc sabe?
Antes que Maria respondesse, a sesso foi aberta e as
duas amigas ficaram em silncio, as cabeas esticadas para afrente, respirando nervosamente, inebriadas pelo espetculo.
Depois das preliminares normais, foi chamada a
primeira testemunha uma figura de indiscutvel elegncia,
vestida de preto e usando, equilibrado na cabea, umchapeuzinho de veludo.
Seu nome Mary Evans?Em resposta ao delegado, ela confirmou que se
chamava Mary Evans e dirigia uma loja de artigos femininos,
sob o nome de Madame Evanalda. Identificou a moa
assassinada, que ela havia empregado como sendo Geraldine
Potts e que se demitira trs meses antes. Pelo que sabia,
Geraldine no era casada e nunca ouvira qualquer refernciaa algum parente, exceto um irmo.O primeiro jurado pediu permisso para fazer uma
pergunta:
A senhora acha que ela era uma moa virtuosa?
Ora essa! exclamou Madame Evanalda,
visivelmente perturbada com uma pergunta feita em
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sbado. O marido dela, segundo ele supunha, no estaria emcasa. Nessa altura, a testemunha no escondia sua
apreenso, mas no foi feita qualquer pergunta indiscreta.No, ele no conhecia o Sr. Tracey. Segundo fora informado,
o Sr. Tracey era um caixeiro-viajante.
Orientado pelo delegado, Fisher narrou osacontecimentos daquela noite de sbado. Ele viera de carro,
tendo chegado ao bangal s nove horas, mais ou menos.
Bateu na porta, tocou a campainha, mas no obteveresposta. Finalmente, j aborrecido, tentou abrir a porta.Para sua grande surpresa, no estava trancada. Ele entrou e
acendeu as luzes, atravessando o vestbulo e entrando na
sala de jantar. Ali, para seu horror, quase tropeou no corpoda Sra. Tracey. A impresso que ela estava morta j fazia
algum tempo. E depois, Sr. Fisher? perguntou o delegado,
amavelmente.
Bem... passados alguns minutos, eu... voltei para
Brighton.
Fisher enxugou o suor da testa.
Que vergonha! exclamou a senhora gorda. Outraspessoas, perto dela, manifestaram seu apoio. Silncio, por favor! ordenou o delegado
rispidamente.
O senhor no fez qualquer comunicao policia at
ento?
No.
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Ah, entendo!Fisher prosseguiu, hesitante:
Foi um grande choque para mim... um choqueenorme. Sofro do corao. (Bebida, murmurou a
gorducha). Tenho palpitaes. Eu... continuei guiando
durante muito tempo, procurando descobrir qual a melhorcoisa a fazer.
Ah, entendo! repetiu o delegado. Com essas duas
palavras externou toda a censura de que era capaz.Lamentava amargamente as limitaes que impunham polcia.
Mas afinal o senhor resolveu dar parte polcia, Sr.
Fisher? Sim... de fato... eu... l pela meia-noite decidi
telefonar. Ah, entendo! repetiu o delegado pela terceira vez,
com uma entonao aperfeioada pela prtica. Suspirou
fundo. tudo, Sr. Fisher.
Seguiram-se os testemunhos oficiais. Como resultado
do telefonema, a polcia local chegou ao bangal pouco depois
da uma hora da madrugada.A testemunha seguinte a ser chamada foi GladysSharp.
Voc era a cozinheira da falecida?
No, apenas arrumadeira, durante o dia
respondeu ela friamente.
H quanto tempo estava empregada no bangal?
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A Sra. Tracey mencionou o nome do visitante? Disse que seria o marido, mas claro que essa eu
no engoli. O que voc quer dizer com isso?
Ora, no sou to boba. Evidentemente era o Sr.
Fisher quem viria; se fosse Tracey, ela no teria feito tantospreparativos, a no ser que ele no fosse o marido, isso eu
posso garantir...
Por favor, limite-se a responder minhas perguntas.Diga-me: voc tem absoluta certeza de que o Sr. e a Sra.
Tracey no eram casados?
Acho que no tenho o que o senhor chama de
absoluta certeza, mas a gente percebe as coisas, no mesmo? Esses homens que s vm para casa nos fins de
semana e dizem que so caixeiros-viajantes... Belos tipos demarido, hem?
Este ponto j est esclarecido. Agora, vamos adiante.
Voc declarou que viu a Sra. Tracey pela ltima vez s trs
horas da tarde. O estado dela era normal?
Completamente.
No mostrou sinais de aborrecimento oupreocupao? Pelo contrrio, quando sa, ela estava fazendo as
unhas e se embonecando toda. Oh! claro que o Sr. Fisher
viria.
Quando foi que voc soube o que havia acontecido?
No dia seguinte. Foi minha tia quem me contou. O
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marido dela ouviu a histria no bar, quando vinha para casa.Levei um susto enorme e comentei: O qu? Assassinada?
Obrigada, Srta. Sharp. tudo.No muito feliz por ter sido interrompida justamente
quando ia soltar a lngua, a Srta. Sharp deixou o banco das
testemunhas.O laudo mdico encerrou a parte preliminar. Era um
documento tcnico e sem comentrios. Traduzido em
linguagem para leigos, o relatrio dizia que a falecida foraapunhalada com um instrumento afiado, de lminatriangular, que lhe atingira o corao. O ferimento no
poderia ter sido produzido pela prpria vtima. O mdico no
se julgava em condies de opinar a respeito da natureza daarma. No fora encontrado qualquer instrumento que
pudesse ter sido utilizado. O exame do corpo se realizou 1:30 da madrugada. A morte ocorrera entre quatro e seis
horas antes. Impossvel determinar exatamente.
O inqurito foi ento suspenso por uma semana.
Muitas pessoas, alm de Beryl Blackwood, achavam
que Oliver tinha um jeito especial para conquistarsimpatias. Gladys Sharp no escapou lbia do reprter. Elamesma no saberia explicar como tudo aconteceu, to
ansiosa estava para abrir-se com algum que fosse capaz de
escut-la. O fato que, quando deu conta de si, j aceitara o
convite e se encontrava sentada a uma pequena mesa do Caf
Lido, tendo frente um simptico jovem de cabelos
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vermelhos.Oliver percebeu o fraco da Srta. Sharp e pediu
garonete que servisse ch, bolos, massas folheadas e, depoisde muitas explicaes, duas misteriosas iguarias com os
nomes de Manh Gloriosa e Doce de Chocolate Delcia.
Quando a Srta. Sharp deu a primeira dentada em umaapetitosa fatia de bolo coberta de sorvete, Oliver puxou a
conversa.
Foi um espetculo extraordinrio este de hoje. Naminha opinio, o delegado no soube conduzir ointerrogatrio. Voc poderia ter dado um depoimento muito
mais valioso, se ele no atrapalhasse, evidentemente de
propsito. Justamente o que eu acho. Interrompendo-me
daquela maneira! Se eu tivesse contado tudo o que sei... acrescentou ela, sacudindo a cabea.
Ah! Percebi logo que voc discreta por natureza.
Conheo as pessoas.
No sei como foi o que o senhor percebeu, mas a
pura verdade. Sempre desconfiei daqueles dois. Quando
chegava no sbado, ela me dispensava e no queira saber oestado da loua na segunda de manh! Nem sequer umacolher lavada. Tudo empilhado na pia da cozinha a ela toda
empoada!
Incrvel comentou Oliver. E Tracey, como era
ele?
S botei os olhos nele uma nica vez. Um sujeito do
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esteve l. O Sr. Fisher uma excelente pessoa.
Ah! exclamou Oliver, vendo mentalmente umanota de uma libra escorregada para a mo dela. Claro que
um sujeito distinto.
Foi Tracey quem a matou, no tenha dvidas.Brigavam muito, sabe? Como co e gato. No que eu tivesse
ouvido alguma coisa, mas percebi sinais vrias vezes nas
manhs de segunda-feira. Os homens querem as coisassempre moda deles. Deixam uma garota sozinha em um fimde mundo a semana inteira... Para mim, ele voltou naquele
dia, houve briga e ele a liquidou. Segundo ela me disse, o
sujeito era muito ciumento. Sim, talvez voc tenha razo. A intuio feminina
uma coisa muito sria. Entretanto, tenho um palpite de que Tracey j est morto. O corpo vai aparecer a qualquer
momento. O terceiro assassinato...
Manh Gloriosa disse a garonete, com um
sorriso de cumplicidade.
Oliver contemplou com fascinado horror a montanha
de sorvete de creme e morango, uma rodela de abacaxi, duasou trs cerejas, molho de chocolate, algumas nozes, umabanana em fatias e os restos de uma lata de ameixas cozidas.
No de admirar murmurou Oliver que as
mulheres tenham intuio. Elas bem que precisam disso.
O senhor no est comendo nada.
Dieta apressou-se Oliver a explicar. Tenho a
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impresso acrescentou com ar pensativo de que deveser muito triste morar em um lugar to isolado.
Ah, para mim era um sacrifcio. Tinha de caminharat o nibus, que passava s de hora em hora. Depois, 45
minutos para chegar em Brighton. No de admirar que ela
se enchesse. Os homens so uns egostas, no se pode negar.Retirar uma garota do meio de seus amigos e esperar que ela
fique feliz metida em um buraco, sem nada para fazer o dia
inteiro! Naturalmente ela se apoiou no Sr. Fisher. Olhe: noserei eu quem vai conden-la.
Voc muito bondosa.
claro que eu no teria ficado se o lugar no fosse
respeitvel. Sou uma pessoa de bom gnio, desde que no mepisem nos calos. Ainda na tarde da ltima sexta-feira ela veio
falar comigo, furiosa, apenas porque eu estava usando, paraprender os cabelos, um desses grampos ornamentais, com
uma cabea de jade. Que mal havia nisso, pelo amor de
Deus? Pois ela ficou possessa.
Que injustia! comentou Oliver. Voc deve ter
uma enorme experincia a respeito da natureza humana.
Como era a sua patroa anterior? O sobrenome era Catsby. Uma fera! Imagine que... Doce de Chocolate Delcia interrompeu a
garonete.
Parece muito gostoso, no acha? comentou
Gladys.
Oliver estremeceu, apavorado. Nunca tinha visto um
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sorvete assim. Catsby... disse Oliver, olhando para o teto. Ser
daqueles Catsby que moram em Monmouth Drive? No. a Sra. Walter Catsby, da Avenida Maidstone,
18. Como eu ia dizendo... O que era mesmo que eu ia
dizendo?Nesse momento Oliver levantou-se da cadeira e olhou
para o relgio de pulso com uma exclamao de pesar.
Santo Deus! Tinha-me esquecido completamente deum encontro muito importante. Voc no leva a mal se eu meretirar agora? Tive o mximo prazer em conhec-la.
Oh, no se preocupe respondeu Gladys,
saboreando o Chocolate Delcia.Oliver ps uma cdula no bolso da garonete e saiu
apressadamente do Caf Lido. Havia uma poro de coisasque ele queria fazer antes de regressar a Londres. Comeou
dando um telefonema para a Avenida Maidstone e tendo a
sorte de conseguir uma entrevista com a Sra. Catsby.
Improvisando uma histria a respeito de uma irm invlida,
Oliver conseguiu alguns detalhes sobre a personalidade de
Gladys Sharp. A Sra. Catsby uma matrona respeitvel foi muito franca: Perigosa, muito perigosa. Tenho o dever de alertar o
senhor. Ela fala demais. Mexeriqueira.
Oliver disse que tivera essa impresso.
E se o senhor reclamar, ela se torna vingativa. Tive
vrios exemplos. Pura maldade. Um bico de gs deixado
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aceso a noite inteira, apenas para aumentar a conta. Equebrou uma poro de minhas melhores porcelanas. No se
pode provar nada, naturalmente. Tambm tenho sriasdvidas de que ela seja uma moa sria. Eu mesma tive
ocasio de v-la acompanhada de homens de aspecto muito
estranho. E imagine onde ela esteve empregada ultimamente? Talvez tenha escondido de sua irm este fato. No Bangal
Isolado, Sr. Oliver! Agora eu pergunto ao senhor: uma moa
decente iria envolver-se em um caso de assassinato?Quanto honestidade apressou-se a Sra. Catsby a
acrescentar, sem dar tempo a Oliver de responder ltima
pergunta devo confessar que jamais dei falta de nada. Mas
fora isso, acho que ela capaz de tudo. No queira saber ascoisas impertinentes que ela me dizia!
Ento ela no era de confiana? Adotei como norma nunca acreditar no que ela dizia
respondeu a Sra. Catsby. sempre assim que procedo e
olhe que tenho uma larga experincia. Estou sempre
trocando de empregada.
Entendo disse Oliver. Muito natural
Adeus, senhor arrematou a Sra. Catsby,estendendo-lhe a mo. Fiquei muito contente porque veiopessoalmente. Se fosse por escrito, eu seria obrigada,
naturalmente, a dizer que ela era honesta e digna de
confiana. A lngua mais poderosa que a pena, Sr. Oliver.
Estou comeando a acreditar que a senhora tem
toda a razo respondeu o reprter, retirando-se.
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Antes de regressar a Londres, ele resolveu ir at a cenado crime deserta quela hora da noite. Como Gladys
dissera, o lugar era muito isolado. Oliver identificou semdificuldade o toco de rvore onde Johnson fizera sua
sensacional descoberta. Foi uma pena que ele no tivesse
descrito os detalhes quando telefonou! Infelizmente, pareceque o telefonema foi feito do botequim mais prximo e, como
natural, ele falou o menos possvel, com receio de que
pudesse estar sendo seguido. Ser que havia algumescutando? Algum que tivesse visto quando ele achou aarma?
Oliver olhou em torno de si, com um ligeiro arrepio. O
bangal estava situado apenas a algumas centenas demetros. O reprter aproximou-se. De repente, suspendeu a
respirao. Como uma sombra imprecisa, ele viu o vulto deum homem que tentava forar uma das janelas.
Silenciosamente, Oliver atravessou o ptio gramado. O
homem pressentiu a presena dele e voltou-se. O reprter
projetou a luz de sua lanterna em cheio no rosto do outro.
Era um homem de meia-idade, bem barbeado, com uma feia
cicatriz em uma das faces. Que diabo voc? berrou o sujeito. E que diabo voc est fazendo a, forando essa
janela? retorquiu Oliver.
O homem deu uma risadinha debochada:
E por que no posso fazer? Pode estar certo de que
tenho mais direitos do que voc. Este bangal era de
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Geraldine Tracey e eu sou irmo dela, Arthur Potts. O quetem a dizer?
CAPTULO III - O LIBI DE FISHER
E. C. Bentley
Na manh seguinte do inqurito em Brighton, Oliver,
o reprter policial, estava novamente em sua sala no edifciodo Morning Star , empenhado em uma acesa discusso comHemingway, o editor do noticirio, a respeito do crime. quela
hora pouco antes do meio-dia os escritrios estavam
relativamente silenciosos. Hemingway j despachara uma
dezena de reprteres para vrias misses; discutira
asperamente pelo telefone com uma agncia de notcias euma firma de fotografias, cujos trabalhos, segundo ele,
deixaram muito a desejar, prejudicando o jornal; ouviucalado, tambm pelo telefone, algumas speras recriminaes
do principal acionista e recebeu vrias pessoas que queriam
oferecer informaes muito valiosas sobre os mais absurdos
assuntos. No momento, caminhava de um lado para outro dasala, como era de seu costume, e no grande cinzeiro de sua
mesa j se amontoava a pilha de pontas de cigarros que ele
continuamente tornava maior. Bem, e o que sabe voc desse tal de Potts?
perguntou a Oliver, que relatava os acontecimentos da
vspera. Disse que era irmo dela, no foi? Nessa que
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no caio.Hemingway trabalhara em jornais das cidades do oeste
e suas reaes guardavam traos dessa experincia. Tambm desconfiei, mas o que ele contou me
pareceu bastante razovel. Disse que era camaroteiro em um
navio que faz a linha de Southampton ao Havre e me deu seuendereo em Southampton. claro que ele compreendeu que
a maneira como o surpreendi exigia uma boa explicao.
Declarou que h muitos anos no tinha notcias de sua irm,at aquela tarde, quando fora a Brighton tratar de unsnegcios. Ao ler a notcia do inqurito, no jornal da tarde,
tomou conhecimento de que o nome de solteira da vtima,
Sra. Tracey, era Geraldine Potts, e sabia que ela trabalharana loja Evanalda. Por isso, foi at o bangal, ver se havia
algum que lhe pudesse dar alguma informao; no negouque tentara forar a entrada na casa, para dar uma olhada.
Acrescentou que tinha de voltar logo para Brighton, a fim de
apanhar o trem de 7:15 para Southampton, uma vez que seu
navio partiria s 11 horas; no fez a menor objeo quando
eu disse que voltaria com ele. Conversamos durante toda a
viagem e tive oportunidade de constatar que ele entendia doservio de camaroteiro e estava familiarizado com o percursoat Havre, que eu conheo muito bem.
Ora essa! resmungou Hemingway. Ento voc
poderia contar a mesma histria, se fosse surpreendido no
lugar dele. Acreditou no homem?
Bem... desculpou-se Oliver acompanhei-o at
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que ele embarcou no trem que havia mencionado. Depois,telefonei para o escritrio da companhia em Southampton e
disse que precisava falar com um camaroteiro que trabalhacom eles, chamado Potts, e que ficava muito agradecido se
pudessem me ajudar. Ento eles me deram o nome todo,
Arthur Potts, e seu endereo, que era o mesmo que ele mehavia dito, acrescentando que o homem estava de servio no
navio que deveria partir s 11 horas naquela noite. Diante de
tantas provas, no me preocupei mais com o nosso amigoPotts. claro que ele no boa coisa, mas sua histriaestava absolutamente correta, inclusive a profisso de
camaroteiro.
Hemingway estava com a testa franzida. Tomara que voc tenha razo. De qualquer modo,
no h lugar para Potts neste caso. Trata-se de um crimesimples e no devemos deix-lo complicar-se com misteriosos
irmos, a menos que haja completa evidncia. claro que o
homem Fisher, est na cara. A histria que ele contou! Voc
j ouviu alguma coisa mais absurda? No comunicou
imediatamente polcia a descoberta do corpo, oh, no! O
prudente Sr. Fisher tinha de pensar um pouco, primeiro.Precisava forjar as desculpas que iria apresentar. Tambm acho que as coisas se apresentam assim
disse Oliver mas a gente precisa levar em conta a
impresso do pblico e no me parece que Fisher seja tido
como o culpado. Voc se lembra, Hemingway, quando voc
mesmo era reprter e estava sempre procurando obter mais
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informaes que os outros. Pouco lhe importava se havia ouno provas contra determinado suspeito, se voc tinha
certeza de que ele no era o criminoso.Hemingway sorriu um tanto amargurado.
verdade. Sempre segui minhas pistas e, em geral,
elas estavam certas. Mas pode ter certeza de que, por umlado, nunca topei com um caso assim, com tantas provas
contra Fisher, no havendo mais nenhum suspeito; por outro
lado... ora, meu rapaz, no me leve a mal por eu dizer queno tenho tanta confiana nas suas pistas, como eu tinha,naquele tempo, nas minhas.
Mas como que no h outros suspeitos? protestou
Oliver. Posso muito bem citar aquela venenosa GladysSharp, a criada, como uma possvel criminosa. Conforme eu
lhe dizia h pouco, no seria a primeira empregada a darcabo de sua patroa, com a qual vive sozinha em uma casa,
como sabemos. E no esquea que ela, conforme relatei a
voc, insistiu muito em lanar suspeitas sobre o marido da
vtima: Tracey deve ter sido o assassino. E naturalmente,
alm da acusao da criada, h uma poro de coisas que
apontam o marido como sendo o criminoso. A meu ver, ele muito mais alvo de suspeitas do que qualquer outra pessoa.Hemingway deu uma risadinha.
Como que voc chegou a essa concluso? Tracey,
nem qualquer sujeito parecido com ele, foi visto no local
antes ou depois do crime; a criada declarou que ele passava
fora de casa a maior parte do tempo; dada a sua profisso de
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caixeiro-viajante, poderia estar a centenas de quilmetros dedistncia e a prpria visita de Fisher naquele fim de semana
comprova que Tracey estaria ausente. O que me diz de tudoisto?
Nada. A histria de um crime misterioso comea
justamente por no se saber muita coisa a respeito dele, no? Mas me explique uma coisa: j faz quatro dias que o
assassinato foi cometido e todos os jornais esto falando a
respeito dele; como que o marido da vtima no d sinais devida?
Ah, isso no de causar surpresa replicou
Hemingway. Se ele for casado com outra mulher, o que
est parecendo muito provvel, no ter a mnima pressa emse ver envolvido na histria. isso o que eu acho.
Nesse momento o telefone tocou. Hemingway atendeu e15 segundos depois j tinha terminado a conversa com um
interlocutor desconhecido, tendo-lhe dito que o preo seria de
cinco guinus ou nada feito.
Oliver retomou a discusso:
No sei por que devemos admitir que Tracey no o
marido. Ningum levantou essa suspeita, a no ser essamulherzinha intrigante, a tal de Gladys, que estive recheandode sorvetes ontem. Mas casado ou no, que belos argumentos
Tracey teria, se viesse a saber do romance dela com Fisher!
Matar a mulher ou a amante por motivo de cimes no
coisa rara hoje em dia e, para falar a verdade, no vejo outra
razo.
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Hemingway sacudiu os ombros, impaciente. Voc est sofismando contra os fatos. O que
realmente sabemos que a conduta de Fisher, depois dehaver encontrado o corpo no bangal, segundo seu
depoimento, foi muito suspeita. Sabemos que ele mora em
Brighton; sabemos que o pobre Johnson descobriu a arma docrime e talvez alguma outra prova: sabemos que nada seria
mais fcil para o assassino do que esperar por Johnson na
estao de Brighton, viajar no mesmo trem e chegar com ele aLondres, em cuja estao o reprter foi assassinado. Sabemostudo isso, o que para mim representa muito. Agora, o que
quero de voc que v procurar Fisher e descubra o que ele
andou fazendo na noite em que Johnson foi morto. Ele deveter uma histria, naturalmente, e a polcia j deve conhec-la,
pois qualquer pessoa ligada ao primeiro crime est no rol dossuspeitos dos dois. E deve ter sido uma histria bem contada,
pois, caso contrrio, Fisher no estaria agora em liberdade.
Descubra essa novela, Oliver, e faa bom proveito!
s quatro horas daquela tarde Oliver estava
procurando localizar a firma do Sr. Fisher, na Rua Norte, em
Brighton. No foi uma tarefa difcil; se a joalheria no era amelhor de Brighton, pelo menos procurava s-lo. Sua vitrine ea decorao externa deviam ter custado um bom dinheiro e,
embora houvesse uma grande variedade de bijuterias, estas
eram estocadas no balco do fundo, deixando em primeiro
plano as jias de maior valor. O ambiente dava a impresso
de um estabelecimento respeitvel e Oliver concluiu que, se o
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Sr. Fisher era o responsvel por tudo aquilo, que realmenteconhecia seu ofcio.
O reprter dirigiu-se ao jornaleiro da esquina ecomprou um vespertino j lido. Graas experincia em
situaes dessa natureza, no teve dificuldade em puxar
conversa, abordando um assunto que fosse do interesse do jovem e gorducho vendedor. Passando os olhos pela pgina
das notcias do turfe, praguejou, fingindo-se irritado; a
seguir, analisando os palpites para as corridas do diaseguinte, percebeu que despertara a ateno do jornaleiro.
Voc parece que sabe de alguma barbada arriscou
Oliver.
No segundo preo replicou o jovem. Vai darDiabo Manco na cabea.
Poucos minutos depois ele e Oliver estavamempenhados em detalhada anlise dos diferentes preos, at
que o reprter conseguiu mudar de assunto.
Aquela joalheria Fisher & Flensburger, ali adiante...
Esse Fisher o que deps no inqurito?
O jornaleiro mostrou-se condescendente em falar a
respeito de Fisher, no escondendo sua admirao por umfregus que tambm gostava de corridas e entendia muito doassunto. Mais de uma vez eles haviam trocado palpites com
bons resultados. A joalheria era muito conceituada e dizia-se
que, discretamente, emprestava dinheiro a juros mdicos.
Fisher era bem-visto por aqueles que no condenam um
homem que gosta de divertir-se e era evidente que o
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jornaleiro pertencia a essa classe de admiradores. Ningumse surpreendeu ao saber que Fisher estava tendo um
romance com uma mulher casada que no era,evidentemente, o primeiro mas, quanto a inclu-lo no rol
dos suspeitos, quem conhecesse o homem no teria idia to
absurda. Fisher era a bondade em pessoa, incapaz de mataruma mosca. Alm disso, qual a necessidade de andar
apunhalando garotas de quem ele tanto gostava? Acontecia
ainda que Fisher era solteiro e morava em Hove, na zona deluxuosos edifcios de apartamentos.
Oliver agradeceu a preciosa colaborao do jornaleiro e
pouco depois apresentava sua carteira de jornalista na
joalheria Fisher & Flensburger, solicitando que o Sr. Fisher orecebesse por uns poucos minutos. Conforme Oliver
esperava, o Sr. Fisher no se fez de rogado e conversoudurante mais tempo que uns poucos minutos. O joalheiro
estava evidentemente passando por maus momentos. O rosto
redondo e o bigodinho levemente oleado deveriam, em
situao normal, apresentar um aspecto alegre; agora,
porm, havia rugas de ansiedade em suas faces e as olheiras
revelavam horas de angstia. Ao abrir a porta do gabinete, nofundo da loja, ele procurou endireitar o corpo e ajeitou, comum gesto instintivo, o alfinete da gravata, onde brilhava uma
prola. A sala era de tamanho mdio e mobiliada com bom
gosto, tendo ao centro uma mesa envernizada e uma
escrivaninha perto da janela.
Meu scio utiliza esta sala explicou Fisher e
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aqui que recebemos as pessoas para tratar de assuntosparticulares. Vamos passar para meu escritrio, mais atrs,
onde poderemos ficar vontade.Abriu outra porta, com a metade superior envidraada,
e passaram para uma sala menor e mais simples, exceto
quanto a uma larga mesa sobre a qual um cidado,despreocupado quanto a questes de estilo, podia espalhar
vontade seus objetos de estimao. Depois de oferecer a
Oliver um charuto de boa marca, Fisher foi muito franco emconfessar por que recebia to cordialmente um reprter do
Morning Star .
Sei que estou sob suspeita e quero que toda a
verdade a respeito de minha atitude seja conhecida o maisdetalhadamente possvel, de modo que ficarei muito grato por
tudo o que vocs divulgarem a esse respeito. Qualquer pessoaque me conhea sabe que nada tenho a ver com esses dois
assassinatos, mas h muita gente que nunca ouviu falar emmim e passa a me olhar, desconfiada, toda a vez que sou
identificado. Isso est dando cabo de meus nervos. Ora, como
o senhor sabe, tudo se resume em provar onde eu estava na
noite de segunda-feira, quando aquele pobre reprter foiseguido at Londres e assassinado. Se no cometi o segundocrime, ento tambm no cometi o primeiro.
Realmente concordou Oliver. Todo mundoaceita que o libi ser vlido para os dois assassinatos.
Pois continuou Fisher. Acontece que
Flensburger e eu estamos em negociaes para aumentar a
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8:15, suspendi o trabalho. Abri a porta e disse-lhe quepusesse os pratos na mesa grande da outra sala e que viesse
para lev-los de volta, mas no antes das nove. Trocamosalgumas palavras enquanto ele punha a mesa. Depois de sua
partida, sentei-me para comer e, ao terminar, retomei o
trabalho. Ouvi, quando o garom voltou mais tarde, os rudosdos pratos colocados na bandeja e a batida da porta. No
reparei que horas eram e havia recomendado que ele no me
interrompesse. Todavia, claro que ele viu, atravs davidraa da porta, que a luz estava acesa e meu chapu e osobretudo estavam em cima da cadeira. Bem, acabei o servio
aproximadamente s 11:45 e ento, precisando de um pouco
de ar fresco, fui a p at meu apartamento em Hove. Noposso precisar que horas eram, quando l cheguei, mas
deveria ser mais de meia-noite; tomei um drinque reforado efui dormir, bastante cansado. Esta toda a histria
concluiu Fisher, olhando ansiosamente para seu visitante.
Oliver disse para si mesmo que, se o ar de perfeita
sinceridade de Fisher fosse fingido, o homenzinho seria um
excelente ator. Apesar de tudo...
Foi realmente uma pena comentou o reprter,com os olhos na brasa do charuto que o garom no tenhafalado com o senhor, quando veio buscar os pratos.
Ento no sei? exclamou Fisher, agitado. Se ele
me tivesse visto, ningum seria capaz de pensar que fui eu
quem viajou com Johnson daqui para Londres, no 8:35; e eu
no sofreria o vexame de ver as pessoas olhando para mim
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a fim de verificarem aquele detalhe da histria. Interrogarama faxineira e, quanto ao garom, fizeram uma poro de
perguntas durante mais de meia hora, conforme fiqueisabendo depois. Olhe acrescentou Fisher com entusiasmo
o senhor pode falar com ele pessoalmente, bastando ir ao
Cambridge na hora do jantar. Ele atende exatamente asmesas do lado oposto de quem entra. um rapaz de cara
comprida, sempre sorrindo; o senhor vai identific-lo
imediatamente. Bem, adeus, Sr. Oliver. Foi um grande prazerconhec-lo. Outro charuto? No? Ento adeus e, se houveralguma coisa mais que o senhor queira perguntar, no hesite
em visitar-me outra vez.
O gorducho amigo de Oliver, dentro da banca de jornais, olhou para ele com maior respeito, ao ver a maneira
efusiva com que Fisher lhe apertava a mo, despedindo-se naporta da joalheria.
Est-se vendo que ele quer conquist-lo comentou
o jornaleiro, quando Oliver se aproximou. O senhor da
polcia ou jornalista, uma coisa ou outra, sou capaz de jurar.
Tenho minhas ligaes com a imprensa, como voc
tambm tem replicou Oliver, provocando um sorriso desatisfao no jornaleiro. Fisher um sujeito decente,conforme voc j me havia informado. Tivemos uma longa
conversa. Chegou mesmo a dizer-me que a firma estava
admitindo um novo scio.
verdade. Eu j sabia, porque o sujeito esteve l por
mais de uma hora na tera-feira de manh. Veio de Londres
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em um belo carro, que ficou estacionado bem ali perto daesquina. O motorista veio conversar comigo, assim como o
senhor fez. Falamos sobre corridas e ele me disse que seupatro iria entrar na firma, se achasse que tudo estava em
ordem.
Oliver jantou, uma hora mais tarde, em uma dasmesas do Royal Cambridge, que Fisher mencionara. Ainda
era um pouco cedo, o restaurante estava quase vazio, de
modo que o sorridente garom pde dar-lhe inteira ateno.Parecia no haver dvida relativamente hora em que o
jantar fora deixado na sala ao lado do gabinete de Fisher e
tambm ficou comprovado que o garom viera apanhar os
pratos s 9:15. A luz estava acesa no gabinete; o sobretudo eo chapu de Fisher estavam realmente sobre uma cadeira, em
um lugar que, como acentuou o garom, no seria possveldeixar de v-los. Quanto comida e bebida, no sobrou
nada.
Tudo o que encontrei disse o garom, alargando o
sorriso foi uma boa gorjeta para mim. E o senhor no
precisa perder seu tempo, como fez a polcia, imaginando que
ele pudesse ter engolido tudo de uma assentada s. Todos ospratos e talheres foram usados de maneira regular. Umgarom tem prtica dessas coisas e pode afirmar com
segurana. Muito obrigado, senhor. Boa-noite.
Fechado na cabine telefnica do hotel, Oliver entrou
logo em ligao com Redman, o editor noturno do noticirio
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em Londres. Entretanto, mal comeara a contar a histria deFisher, foi interrompido.
Venha para c no prximo trem e escreva suareportagem no caminho. Precisamos de voc aqui. A arma foi
encontrada.
CAPTULO IV - A ARMA DO CRIME
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Encontrada? perguntou Oliver. Onde?
Atirada em cima da cabine telefnica na Estao
Vitria.
Uma soluo inteligente admitiu Oliver. To
simples... Impresses digitais? Bem, a polcia no costuma fazer de ns seus
confidentes. Ademais, h certo ressentimento por Johnson
ter guardado segredo a respeito da sua descoberta. Temos de
ir com jeito, mas acho que no h impresses.
Realmente, no provvel que haja. Assassino sem
luvas uma espcie to extinta quanto um dinossauro.Algum detalhe quanto ao tipo da arma?
Qualquer coisa assim como um punhal ou grampode cabelo oriental com cabea de jade. No se usa mais isso,
eu acho. Venha logo e trate de agir.
J vou respondeu Oliver, desligando.
Um grampo oriental com cabea de jade... A descrio
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lhe soava familiar. Sentado no trem, tirou do bolso umamarrotado caderno de notas e escreveu: Oriental,
acrescentando em seguida Bond Street e, depois, Tentar aCasa Araby.
s 11 horas da manh seguinte, a Srta. Beryl
Blackwood atendeu o telefone que tocava. o seu estimado Sr. Oliver gracejou sua colega,
Srta. Timmins.
Aqui a Srta. Blackwood falando respondeu Berylsecamente, Al disse Oliver no outro lado da linha. Otelefonema para informar uma derrota com pesadas perdas.
A polcia no quer nada comigo. Minha simptica presena e
meus brilhantes argumentos no conseguiram impressionarningum. Entretanto, fui levar-lhes idias luminosas e pistas
inteligentes. Se o tal de grampo ou punhal foi comprado emBond Street, h apenas duas joalherias que vendem esse tipo
de enfeite, a Takurami e a Araby. Ambas trabalham com
objetos orientais. Segundo um princpio que aprendi no jogo
de bridge, supor que determinada carta se encontre na mo
de quem a gente quer que esteja, meu palpite a Araby. O
dono um velho amigo meu e, quando um oriental amigode algum, amigo para valer. Ele me ajudar no que forpossvel, tenho a certeza.
Parece uma excelente idia disse Beryl, no mesmo
tom seco com que atendera. O senhor telefonou... quero
dizer... apenas para conversar sobre o assunto?
No. Telefonei para convid-la para almoarmos
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juntos. A informao valiosa a respeito de Bond Street foiapenas a isca para atrair voc. Atraiu?
Combinaram encontrar-se em um restaurante queambos conheciam. A Casa Araby estava situada quase na
esquina da Piccadilly com Bond Street. Um balconista, muito
insinuante, foi ao encontro de Oliver, ao v-lo entrar. Oliverdisse-lhe que desejava falar com o proprietrio. Minutos
depois o reprter entrava em um gabinete, no fundo da loja,
acompanhando a figura austera do Sr. Araby. O orientalconvidou Oliver para sentar-se e ofereceu-lhe um cigarro,sentando-se tambm. Por alguns minutos guardaram
silncio, o silncio do Oriente, onde considerado como falta
de educao entrar logo no assunto da visita. Como quehipnotizado pelo ambiente, Oliver procurou no perturb-lo
com a rispidez do estilo ocidental. No quero roubar muito de seu tempo comeou
ele.
O Sr. Araby fez um gesto de quem no tem a mnima
pressa, como querendo dizer que, por ele, ficariam os dois ali
o dia inteiro, fumando.
Queria pedir que o senhor me ajudasse, se possvel continuou Oliver. Meus prstimos esto sempre a seu servio
replicou Araby.
a respeito do Crime do Bangal Isolado.
Encontraram a arma na Estao Vitria, ontem noite. Foi
comprada aqui, no foi?
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Araby assentiu com um grave movimento de cabea. Realmente. O Inspetor da Scotland Yard... ele esteve
aqui. Contei-lhe tudo o que eu sabia. Pode descrever-me o objeto?
Propriamente falando, trata-se de um grampo, no
de um punhal. Um comprido alfinete de metal com umacabea de jade... jade verde... muito bem lavrada... o desenho
de peixes entrelaados, representando o deus tutelar dos rios.
Imagino que se trata de uma jia rara arriscouOliver.
Aqui no Ocidente, talvez sim. As mulheres no
costumam us-la, como acontece no pas de origem, onde
prendem os cabelos geralmente com um par desses grampos.O Deus dos Rios assegura fertilidade e uma longa vida, com a
Deusa Serpente representando a imortalidade. O Deus dos Rios no parece haver oferecido proteo
desta vez observou Oliver. Talvez tenha sido insultado
ou qualquer coisa assim.
Ele anotou em seu caderninho: A maldio do Deus
dos Rios e achou que o ttulo era bem bolado. Uma grande
parte dos leitores constituda de pessoas crdulas queadoram amores ocultos e misteriosas maldies orientais. A moda oriental parece que foi adotada no Ocidente
comentou Araby. Foi para servir como grampo de
prender cabelos que eu vendi a jia.
Como que o senhor sabe disso? perguntou
Oliver bruscamente.
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Por intermdio do cavalheiro que a comprou. Elechegou mesmo a gracejar, comentando que voltara a moda
dos cabelos longos e que as mulheres esto sempre dispostasa usar os ornamentos mais excntricos, desde que consigam
inventar uma razo qualquer para isso.
E como era esse cavalheiro? quis saber Oliver. Um homem corpulento, com um bigodinho oleado,
scio da firma Fisher & Flensburger, de Brighton. Identificou-
se e pediu um desconto, por trabalharmos no mesmo ramo. estranho observou Oliver, surpreendido pela
maneira ostensiva com que fora feita a compra. E quando
foi isso?
Na sexta-feira passada, pelas cinco horas da tarde. Na tarde de sexta-feira murmurou Oliver. Na
vspera do assassinato em Jumbles.Permaneceu sentado ainda uns minutos, pensando.
Depois levantou-se. O Sr. Araby, calmo, impassvel, no
demonstrando qualquer reao, levantou-se tambm.
Sou muito grato ao senhor.
No h de qu respondeu Araby, sacudindo as
mos. Imagino que... disse Oliver, hesitante. No hdvida de que os dois crimes foram cometidos com o mesmo
grampo?
O Inspetor parece que estava convencido disso. O
senhor deve ter notado que o grampo no era redondo mas
retangular e tambm levemente torcido. Conheo um pouco
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de cirurgia, meu amigo. Um mdico no se deixaria enganar.Deve ter achado o ferimento muito caracterstico.
Meia hora mais tarde, Oliver e Beryl estavam sentadosno restaurante.
E ento? perguntou Beryl ansiosamente, depois
que o garom anotou os pedidos e se retirou. Como quefoi a entrevista? Correu tudo bem?
Oliver respondeu afirmativamente com um movimento
de cabea. Era mesmo da Casa Araby. Que timo! exclamou Beryl, entusiasmada.
que eu estava um tanto temerosa... voc compreende... a
ligao estava pssima... Mal podia ouvir o que o Sr. Johnsonestava dizendo. A princpio, pensei que fosse Broad Street.
Seria horrvel se eu cometesse um engano. Sempre achei que uma mulher deveria interessar-se
pelo trabalho de seu marido disse Oliver. Voc tem
vocao para jornalista, Beryl. um bom augrio para o
nosso futuro.
O que voc quer dizer com isso? perguntou ela.
Casamento. Ora, vamos falar sobre coisas mais interessantes.Oliver relatou sua entrevista com o dono da joalheria.
Veja s arrematou ele. No sei como Fisher
conseguiu arranjar um libi, mas no tenho dvida de que
ele certamente o assassino.
Ele comprou o grampo na sexta-feira e a moa foi
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morta no sbado... Sim, isso parece que encaixa direitinho disse Beryl.
Entretanto, ele se identificou e at pediu umdesconto... Isso coisa de doido.
Beryl no concordou.
No. Isso prova apenas que o crime no foipremeditado. Ele comprou o grampo como um presente e
levou-o para a Sra. Tracey, depois tiveram uma discusso e
Fisher a matou, enterrando-lhe o grampo no corao. Realmente... murmurou Oliver. Est tudo
muito bem, mas... h qualquer coisa que no encaixa.
O que voc quer dizer com isso?
que, teoricamente, est tudo certo mas, naprtica, no casa com Fisher. Ele no pertence a esse tipo de
homens. O gesto contraria a natureza humana. Tem razo concordou Beryl pensativamente.
Mas as pessoas no tm geralmente um lado escondido, uma
faceta que a gente no conhece?
O eu oculto? Sim, talvez tenha razo. O tigre
acorrentado. Seu rosto se alterou por um momento e, com
raiva, Oliver fincou o garfo em uma fatia de po. E h esselibi. Sabemos que os dois crimes foram cometidos pelamesma pessoa.
Foram mesmo? perguntou Beryl. Suponhamos,apenas para argumentar, que algum quisesse matar o Sr.
Johnson. Vinham h muito tempo aguardando uma
oportunidade. De repente, ela apareceu. Johnson estava
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voltando para Londres e trazia consigo a arma com que jfora cometido um assassinato. Se ele fosse encontrado morto
pela mesma arma, qual a concluso natural? Que ele foraapunhalado pelo primeiro criminoso, evidentemente.
Quando, na realidade, os dois crimes so
independentes entre si arrematou Oliver. A propsito,h em favor de Fisher um detalhe importante, que parece que
ningum est levando em conta.
Qual ? O seguinte: Johnson tinha a arma consigo, no ?
Ora, se Fisher o seguiu desde Brighton, como que ele se
apossou da arma, a fim de us-la contra sua vtima?
Est a um ponto bem interessante concordouBeryl.
Johnson no iria entregar seu precioso achado auma pessoa totalmente estranha e claro que no houve luta
na Estao Vitria. Johnson deve ter sido apunhalado
completamente desprevenido.
Como o seria se se tratasse de algum que ele
conhecesse completou Beryl.
De fato. O diabo que ningum sabia que ele viriade trem, exceto o pessoal do Morning Star . Por isso mesmo, apolcia nos interrogou a respeito das atividades de cada um
de ns hora do crime. Mas voc j sabia disso. No, no sabia.
Bem, foi o que a polcia fez, de acordo com a rotina.
Mas no surgiu nenhuma circunstncia discordante.
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Realmente, o que no encaixa ...Hesitou por um momento, olhando interrogativamente
para Beryl. Sei qual disse ela, meneando a cabea. A
principal objeo minha teoria est em que no se conhece
uma nica pessoa que possivelmente quisesse matar o Sr. Johnson. Falta o motivo.
Mas podemos examinar o problema ao contrrio.
Johnson tinha um motivo para me matar. O rival que odesbancou.
Voc realmente um sujeito muito convencido.
E voc uma garota muito ardilosa. E por falar em
garotas, voc sabe que talvez Johnson tenha sidoassassinado por uma mulher?
Por qu? Porque isso resolveria tudo. Apunhalar pelas costas
um crime tipicamente feminino e um grampo com cabea de
jade uma arma tambm feminina. Imagine o seguinte: a
garota e Johnson perto da cabine telefnica... Ele mostra a
descoberta que fizera, identificando a arma do crime... A
garota se apossa do grampo, elogiando a inteligncia doreprter. O pobre coitado, sem suspeitar de nada, vira-lhe ascostas e entra na cabine, sendo logo apunhalado. Estou
vendo a cena. Johnson era o tipo do sujeito que confiaria
cegamente em uma mulher.
, mas infelizmente no existe mulher alguma para
confirmar sua teoria atalhou Beryl, impiedosamente,
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acabando com as fantasias de Oliver. Realmente, no existe disse ele, desconsolado.
Depois, consultou o relgio. J est na minha hora. Vamosapenas resumir o caso, como ele se encontra agora. Hiptese
n. 1: Fisher cometeu os dois crimes, fez camaradagem com
Johnson no trem e perguntou o que havia naquele esquisitoembrulho que ele colocara sobre os joelhos. Ou ento,
apanhou o grampo que estava dentro da pasta de Johnson,
quando este se encontrava fora do vago.Parou por um momento e bateu com a ponta do dedo
na mesa.
Hiptese n 2: Fisher cometeu o primeiro crime e um
desconhecido inimigo de Johnson cometeu o segundo.Hiptese abandonada, porque no acreditamos que Johnson
tivesse qualquer espcie de inimigo. Hiptese n 3: Tracey... Essa a sua hiptese favorita. Voc sempre quis que
o criminoso fosse Tracey.
Ora, e por que no poderia ter sido? A ausncia de
Tracey muito sintomtica. Toda a Inglaterra procurando por
ele, inutilmente. Parece at que se trata de um ser mtico.
Entretanto, sabendo que est sendo procurado, ele acabarpor se entregar. Salvo se... O qu?
Salvo se tambm j estiver morto concluiu Oliver
gravemente.
Houve um longo silncio. Afinal, ele retomou a palavra,
em tom mais alegre:
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E temos assim completada nossa lista de suspeitos. No disse Beryl. Falta aquele tal de Potts.
Um tipo desagradvel comentou Oliver. Masrealmente no vejo como encaix-lo.
A menos que... Beryl hesitou, encabulada. A
menos que Tracey seja Potts. Mas, minha querida, a cicatriz...
muito fcil simular uma cicatriz. Sinto que estou
na pista certa. Potts Tracey. Ele voltou ao bangal porquehavia esquecido alguma coisa l... alguma coisa que oincriminava. Quando voc o surpreendeu, ele se atrapalhou
um pouco mas logo inventou uma histria. Durante o
inqurito tinha ouvido falar que a vtima tinha um irmo.Assim, ousadamente, se apresentou como sendo esse irmo.
Voc est esquecendo que telefonei paraSouthampton e verifiquei sua histria.
Isso pode ser explicado. Ele talvez seja mesmo Potts
e tenha adotado o nome de Tracey para freqentar o bangal.
Mas por que eles alugaram um bangal com o nome
de Tracey? insistiu Oliver, j fascinado pela teoria de Beryl,
mas sentindo-se no dever de apresentar todas as objeespossveis. Ah, isso eu no sei confessou a moa.
Deve haver alguma razo suspeita, algo assim como
chantagem. Fisher talvez esteja envolvido nisso. Tenho de ir
embora acrescentou Oliver, levantando-se. No vou me
esquecer de sua idia, Beryl. Voc vai ficar?
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Apenas alguns minutos mais respondeu ela,consultando o relgio. Ainda no est na hora de reabrir o
expediente e gostaria de repassar alguns pontos que noentendi bem.
Oliver assentiu com um movimento de cabea e,
apanhando o sobretudo e o chapu, deixou o restaurante.Depois que ele passou pela mesa ao lado, ouviu-se o rudo
caracterstico de um jornal quando dobrado
apressadamente. Beryl se surpreendeu e levantou os olhos. Amesa vizinha estava ocupada por um fregus solitrio,sentado de costas para eles. Naquele momento, o homem
segurava o jornal de um modo esquisito e parecia muito
absorvido em sua leitura. Beryl observou que, mantidonaquela posio, o jornal escondia o rosto de seu leitor para
quem passasse pelo intervalo das mesas. Uma invencvelcuriosidade tomou conta dela. Levantou-se, como se fosse
sair; depois fez a volta da mesa, olhando para o cho,
fingindo que procurava uma luva. Desse modo, sem despertar
suspeitas no misterioso ocupante da mesa vizinha, pde ver-
lhe claramente o rosto refletido em um espelho na parede.
Sentindo-se coberto pelo jornal que mantinha sua frente, ohomem no tirara os olhos da porta por onde Oliver acabarade sair. A expresso de seu rosto era muito estranha uma
espcie de satisfeito triunfo, mas com um trao de outro
sentimento que mais se assemelhava ao temor. Assim
pareceu a Beryl. O homem era moreno, de meia-idade e na
face direita havia, no sentido diagonal, uma feia cicatriz
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vermelha. Potts! Era ele, com certeza!Beryl esperou que ele pagasse a conta e se retirasse.
Depois, a uma discreta distncia, seguiu atrs dele. A moano receava que o homem desconfiasse de alguma coisa. Se,
como ela supunha, Potts houvesse seguido Oliver at o
restaurante e tentado ouvir a conversa, provavelmente teriaprestado pouca ateno garota com quem o reprter estava
conversando.
Em frente estao Holborn do metr o homem sedeteve e ficou esperando. Uma poro de gente estava saindoda estao. A Beryl pareceu que Potts, no meio de toda
aquela gente, entregara uma folha de papel a um dos
passageiros. A moa pensou que talvez se tivesse enganado,mas pouco depois, tendo atravessado a rua, o homem repetiu
o mesmo procedimento em frente estao do MuseuBritnico. Potts continuou seu caminho. Na esquina de
Tottenham Court Road, Beryl colocou-se ao lado dele,
suspeitando que a mesma manobra iria ser novamente
executada. Desta vez no houve dvida. Beryl viu
perfeitamente quando a folha de papel branco mudou de
mos. A pessoa que a recebeu era uma mulher bem vestida,muito elegante. Nem olhou para o papel que recebera e sedirigiu para a bilheteria. Potts fez o mesmo e Beryl os seguiu
mas no a tempo de ouvir para qual estao Potts comprara
os bilhetes. Pelas dvidas, Beryl resolveu pedir uma
passagem at o fim da linha.
Na plataforma de Hampstead os trs ficaram esperando
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a chegada do trem. Havia muita gente. Quando as portas seabriram, Potts entrou logo. No momento em que a mulher
quis fazer o mesmo, o papel lhe escapou das mos e, sem queela o percebesse, caiu no cho. Rapidamente, Beryl se
abaixou e o apanhou mas, com isso, perdeu a oportunidade
de entrar no trem. As portas j estavam fechadas.Beryl permaneceu imvel, com a folha de papel na mo,
enquanto o trem passava por ela ganhando velocidade. De
repente, divisou o rosto de Potts, os olhos fixos nela e nopapel. Um sorriso sardnico contorcia-lhe o rostodesfigurado. Ansiosamente, Beryl olhou para o que ela
julgara ser um grande achado e experimentou uma penosa
decepo. Era uma folha impressa com os seguintes dizeres: TER RELIGIO MELHOR DO QUE TER UM EMPREGO.
SUA ALMA ESTA SALVA?
CAPTULO V - TRAANDO TRACEY
Anthony Berkeley
Lorde Ludgate deu um soco violento na mesa. Temos de encontrar esse tal de Tracey antes que a
policia o faa!O editor-chefe, mais o editor do noticirio e o reprter
policial sacudiram a cabea em solene assentimento. Foi para
comparecer a essa importante reunio que Oliver teve de
interromper seu encontro com Beryl.
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Com todos os diabos! Um de nossos prprioshomens assassinado dessa maneira! Dobro a recompensa.
O editor-chefe, lacnico por natureza, limitou-se acontinuar sacudindo a cabea. Oliver manteve-se em silncio
mas Hemingway comentou:
Tenho minhas dvidas de que isso v adiantaralguma coisa.
O Morning Star , sentindo-se profundamente atingido, j
oferecera uma recompensa de 500 libras por qualquerinformao que desse como resultado a descoberta de Tracey.Em meio a uma enxurrada de cartas, apareceram umas
poucas informaes de certa utilidade. Umas 10 pessoas
diferentes registraram as viagens normais de Tracey ssegundas-feiras, de Jumbles para Brighton, de Brighton para
Vitria e dai, no metr, para Charing Cross. Nessa alturaterminavam as informaes e Tracey era deixado como se
continuasse viajando sempre para leste. Nem o mais histricoinformante do Morning Star foi capaz de assinalar a presena
dele em qualquer ponto mais longe.O detalhe mais interessante para Oliver, nessa viagem,
era o fato de o trem em que Tracey costumava embarcar emBrigthon partir s 9:40, chegando estao Vitria s 10:59.Assim, somente muito depois das 11 que poderia alcanar
Charing Cross e, bem mais tarde, seu destino final. Se essedestino fosse algum escritrio no centro, como parecia mais
provvel, a inferncia era lgica: ele deveria ocupar um cargo
elevado; somente quem exercesse funes de chefia poderia
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chegar ao escritrio quela hora.Oliver exps seu ponto de vista na reunio.
Pode ser um indcio concordou Lorde Ludgate. De qualquer modo, vamos explor-lo. Exploraremos tudo.
Estou decidido a agarrar o bandido que matou Johnson.
E o senhor continua pensando que foi Tracey? perguntou Hemingway, que j expusera sua convico de que
o assassino era Fisher.
No devemos esquecer atalhou o editor-chefe,pausadamente a hiptese de os dois crimes serem afinalindependentes.
J pensei nisso respondeu Lorde Ludgate
secamente. No tem sentido. Se fosse esse o caso, no est
vendo a inferncia? Depois do crime em Jumbles, as nicaspessoas que sabiam que Johnson estava viajando de trem
para c eram justamente as daqui do jornal. No creio que os
dois crimes possam ser separados. Em qualquer caso,
Johnson era um sujeito muito popular, no verdade? No
tinha inimigos? Era estimado por todos? Ou ser que ouvi
uns rumores de certa desavena entre ele e um dos seuscolegas? Ah, o senhor se refere a Redman? Realmente, houve
certa vez uma pequena discusso a respeito de uma garota,
creio eu. Nada srio estava esclarecendo o editor-chefe,
quando a campainha do telefone o interrompeu. Entendido
disse ele por fim, depois de haver escutado atentamente a
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informao. Obrigado, Graves.Recolocou o fone no lugar e voltou-se para Lorde
Ludgate: A polcia trouxe Fisher de Brighton e o levou para a
Scotland Yard. Parece que ele ainda no est preso mas h
qualquer coisa no ar. Deve ser a respeito da arma disse Oliver.
melhor eu ir at l.
Em rpidas palavras, contou o resultado de suaentrevista com Araby, naquela manh. Hemingway sacudiu acabea, em sinal de aprovao, olhando para Lorde Ludgate,
como se dissesse: Fisher! Como eu sempre disse. No trajeto
at a Scotland Yard, Oliver concluiu que havia uma nicarazo possvel para justificar a convocao de Fisher: ter sido
identificado por Araby como sendo o fregus que comprara ogrampo. Provavelmente, Fisher havia negado a compra. As
possibilidades eram agora mais interessantes.
Entretanto, transcorreu bastante tempo antes que
Oliver pudesse satisfazer sua curiosidade. Graas a
cuidadosa investigao, descobriu que iria realizar-se uma
acareao, o que confirmava sua hiptese. Era absolutamentenecessrio que ele soubesse do resultado. Enquantoprocurava resolver esse problema, um homenzinho muito
agitado apareceu na entrada do edifcio, com um guarda-
chuva em uma das mos e um chapu-coco na outra,
gesticulando nervosamente para o policial que o
acompanhava. Vendo o sargento com quem Oliver estava
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princpio, negou que tivesse comprado o grampo. Foi umatolice, como verificou mais tarde. Entretanto, como seguira
essa linha em um momento de alarme, sentiu-se obrigado asustent-la. Naturalmente, isso despertou suspeitas na
polcia. Nada mais lgico. Entretanto, agora, depois que ele,
de um modo franco e sincero, admitira a compra e explicaratudo, eles se mostraram inteiramente satisfeitos.
Oliver concordou, demonstrando sua integral simpatia.
Percebera claramente que Fisher, insistindo a respeito dacompleta satisfao da polcia, estava realmente procurandoconvencer-se a si prprio; o que ele desejava era que a polcia
estivesse satisfeita. medida que ouvia os detalhes da
histria, Oliver passou a alimentar suas dvidas.Em resumo, Fisher contou que a polcia, com
desagradvel rudeza, havia-lhe apresentado, naquela manh,em seu prprio escritrio, um grampo com cabea de jade e
marcas de sangue, perguntando-lhe se j o tinha visto antes.
Foi somente nessa ocasio que Fisher tomou conhecimento
da natureza da arma; chegou mesmo a perguntar se o crime
fora cometido com ela.
No se preocupe com isso replicou o policialasperamente. J a tinha visto alguma vez?Fisher, sem poder desviar os olhos daquelas manchas
de sangue, perdeu a cabea por uns instantes e respondeu
que no. Perguntado a respeito do fato de o comprador haver
apresentado o carto de Fisher, este ponderou (e a polcia foi
obrigada a concordar) que qualquer pessoa poderia ter feito
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desses pontos. Limitou-se a extrair de Fisher o maior nmeropossvel de informaes e se despediu.
Consultando o relgio, ao chegar rua, viu quefaltavam 10 minutos para as seis, tempo bastante para a
outra entrevista que ele queria fazer, antes de voltar para o
escritrio, a fim de escrever a reportagem.A Butique Evanalda no ficava na Praa Hanover nem
na Rua Hanover mas sim distante de qualquer das duas. J
passavam das 6:00 quando Oliver conseguiu chegar l.Felizmente encontrou, no momento em que ela saa, avendedora que ele j tivera o cuidado de identificar.
O reprter sabia como adaptar seus mtodos aos
indivduos. Se bolos e sorvetes constituam iscas excelentespara Gladys Sharp, o indicado para a Srta. Amethyst
Mainwaring eram drinques em Picadilly Palace. A Srta.Mainwaring uma moa alta e muito loura alm de ser o
principal manequim de Evanalda, considerava-se a melhor
amiga de Geraldine Potts na butique. Depois de alguns
comentrios a respeito de uma exposio em Monte Cario, do
fracasso da ltima temporada de corridas e dos mritos
comparativos de John Galsworthy e A. S. M. Hutchinson, queOliver ouviu pacientemente, pois sabia que ela precisavaexpor para algum suas idias, a Srta. Mainwaring consentiu
em contar-lhe o que sabia a respeito de Tracey.
Infelizmente, as informaes que ela prestou no
acrescentaram muito ao que j era sabido. Geraldine
segundo a Srta. Mainwaring falara abertamente sobre
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Tracey, mas como ela mesma no sabia muita coisa, poucohavia o que contar. As duas amigas se referiam ao casamento
como se ele tivesse mesmo se realizado, pois Geraldine jamaisdeixara escapar qualquer indcio em contrrio; a Srta.
Mainwaring, porm, nunca se iludira.
Pois veja s, Sr. Oliver disse ela, saboreando umcanap com extrema delicadeza o senhor acha que
Geraldine iria se casar sem me convidar? Acha isso possvel?
Realmente, parece inadmissvel concordou Oliver.No mesmo tom, a Srta. Mainwaring deixou perceber
que o detalhe de Tracey ser um caixeiro-viajante fazia parte
da histria. A prpria Geraldine no se detinha muito nesse
ponto, dando a entender que a rea de ao de Traceyabrangia altos negcios, tais como vendas de navios ou
blocos de apartamentos. A esse respeito, a Srta. Mainwaringtambm no se iludira. Estava certa de que Tracey no era
caixeiro-viajante e que Geraldine estava farta de saber disso.
A verdade que ele era um perfeito cavalheiro
arrematou a Srta. Mainwaring como Geraldine no se
cansava de acentuar.
Ento qual a profisso que ele exercia? perguntouOliver, fingindo-se de ingnuo. Com escritrio no centro dacidade? Um corretor ou coisa assim?
A Srta. Mainwaring, porm, no achava que ele fosse
corretor. No tinha cara disso.
Como que voc sabe qual a cara dele?
perguntou Oliver, j em tom de muita ingenuidade.
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Porque o vi pessoalmente. Geraldine me mostrouquando ele estava na calada do Forum, conversando com
um amigo. Geraldine ia encontrar-se com ele em CharingCross, mas ns o vimos quando passamos de nibus em
frente ao Forum.
Oliver mal podia conter a excitao Voc o viu? Euno sabia disso. Pode descrev-lo para mim? Voc o
reconheceria se o encontrasse outra vez?
A Srta. Mainwaring no tinha muita certeza. Foraapenas um rpido golpe de vista. Pareceu-lhe que ele era
jovem, bem jovem, mas naturalmente, naquela distncia...
Um tipo comum, talvez mais para louro do que para moreno,
mas era difcil dizer, ainda mais que ele estava de chapu.Oliver reconheceu que a descrio, embora vaga, diferia
da prestada por outras testemunhas oculares de Tracey;entretanto, talvez houvesse uma razo para isso. A pergunta
veio logo.
E o homem com quem ele estava conversando? Pode
descrev-lo?
A Srta. Mainwaring sorriu com ar superior.
Bem... as pessoas so muito parecidas, vistas decostas, no acha? Na verdade, poderia ter sido o senhor ouqualquer outro cavalheiro, Sr. Oliver.
E virando-me de costas, no vai adiantar nada?
gracejou Oliver.
A Srta. Mainwaring no respondeu.
Vinte minutos mais tarde, ao despedir-se dela, Oliver
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resolveu guardar segredo a respeito das informaes queobtivera da Srta. Mainwaring. Elas, no momento, no tinham
qualquer valor; talvez se tornassem teis mais tarde,inclusive a prpria informante. Era melhor guardar essa
possibilidade do que divulg-la prematuramente.
Oliver apanhou um nibus que se dirigia para FleetStreet. Por uma dessas coincidncias que acontecem
sobretudo nos nibus, o reprter encontrou um lugar vago ao
lado da loquaz Srta. Timmins, a colega de Beryl, que logoanunciou suas teorias sobre o crime, julgando que Oliverdeveria explor-las.
Ento comece logo a exp-las disse Oliver,
divertido. J descobriu quem o criminoso? Claro respondeu a Srta. Timmins prontamente.
No pode haver dvida. Est na cara que o tal dePotts.
Ah! exclamou Oliver, demonstrando o mximo
interesse e recordando-se das observaes de Beryl sobre o
assunto. O prprio irmo dela?
Ora, Sr. Oliver, no me diga que o senhor acredita
mesmo que Potts seja realmente irmo dela, acredita? Ento quem voc pensa que ele seja? perguntouele sorrindo.
O marido dela! Ora, Sr. Oliver, no precisa sorrir.
Tenho absoluta certeza. Acho que no h nada mais claro.
Era casado com ela e a matou, juntamente com o amante.
Clarssimo!
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Ser mesmo? perguntou Oliver, sentindo umpouco mais de respeito por sua irrequieta companheira de
viagem. A hiptese era plausvel e no havia qualquer provaque a contrariasse.
Acho que no justo impedir que o pessoal do jornal
faa jus recompensa pela descoberta de Tracey lamentoua Srta. Timmins.
Espere um pouco! Voc quer dizer que tambm sabe
onde Tracey se encontra? Sei quem ele corrigiu a Srta. Timmins pois
claro que usava um nome falso, quero dizer, no se chamava
realmente Tracey.
Ento qual o seu verdadeiro nome? A idia me veio quando eu comentava o crime com a
Srta. Blackwood. Eu dizia: Tome nota de minhas palavras,querida (sempre chamei Beryl de querida; ela um amor,
no acha, Sr. Oliver?). Tome nota do que estou dizendo: A
Sra. Tracey foi assassinada e o Sr. Tracey desapareceu. Sabe
por que no encontram o corpo? Ora, o pobre do Sr. Johnson
tambm foi assassinado, no foi?
Srta. Timmins! exclamou Oliver, atnito. O queest sugerindo? Mas qual a dvida? estranhou a Srta. Timmins,
ante tamanha obtusidade. O Sr. Johnson era Tracey,
evidentemente.
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primeiras informaes. Tracey foi visto, saindo do bangal, s7:30 da noite do crime.
No me diga! exclamou o chefe. Isso novidadepara mim. Quem foi que o viu?
O motorista de um nibus que faz a linha de
Newhaven para Brighton replicou Smallpiece. O rapaztem uma namorada que mora na estrada que passa em
Jumbles e foi por meio dela que cheguei ao motorista. Havia
algum falatrio na regio a respeito dos Traceys e, por isso, agarota, ao ver o homem, mostrou-o ao namorado. O motoristao reconheceu logo como sendo um passageiro que entrava no
nibus na estrada de Jumbles e saltava em Brighton.
s 7:30? repetiu o chefe. E o crime foi cometidoentre 7:00 e 9:30. uma pena. No uma prova conclusiva.
E h mais, senhor. O carro de Fisher foi visto naestrada para Jumbles s 9:00 da noite, aproximadamente.
Sim, foi isso o que ele disse na delegacia de
Brighton, o que, em resumo, quer dizer que tanto Tracey
como Fisher podem ter cometido o crime. Entretanto, no
temos condies de acusar qualquer um deles, muito mais
que umas 50 outras pessoas poderiam tambm ter estado l.Smallpiece no participava dessa opinio. Para ele, oassassino era Tracey.
Em que voc se baseia, Smallpiece? perguntou o
chefe.
No seguinte, senhor: Tracey instala a garota no
bangal e pouco depois ela inicia um romance com Fisher.
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Ora, o que acontece, quando Tracey sabe do caso?Suponhamos que naquele sbado Tracey v o grampo que
Fisher deu moa e pergunta onde foi que ela o comprou. Acomea a confuso, Tracey descobre que trado. Apanha o
grampo e apunhala a garota.
Essa uma boa teoria, mas podemos formularoutra, alterando as premissas. Fisher impe que a garota
acabe seu romance com Tracey. Ela concorda e, mais tarde,
declara que est livre. Ento, um dia, Fisher chega eencontra, digamos, as luvas de Tracey; conclui que a garota otraiu e decide mat-la. No muito provvel, Smallpiece, mas
possvel e no podemos desprezar esta hiptese.
Smallpiece admitiu que o chefe tinha razo. E quanto ao tal de Potts? prosseguiu Bradford.
Foi o sujeito que aquele jornalista, Oliver, descobriu e fez ummistrio a respeito.
Smallpiece no escondeu certa indignao contra a
conduta do reprter.
Ele pensou que havia descoberto uma pista e
guardou todas as informaes para o Morning Star . Nem
sequer se dignou a comunicar o fato polcia. Encontrou ohomem tentando entrar no bangal e dai por diante fez umatrapalhada dos diabos. Se tivesse o raciocnio de um
chimpanz, teria deixado o homem entrar, achar o queprocurava e somente ento o agarraria. O pior que deixou
que ele fosse embora! Fico furioso s em pensar na
oportunidade que perdemos.
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Tem razo concordou o chefe mas devemos ao
Morning Star um punhado de informaes sobre o caso.
Quem est no rastro de Potts? Ah, voc, Tinsley. Soube dealguma coisa?
Um policial alto e corpulento levantou a cabea. Acho que Potts inocente, senhor, mas ainda no
consegui provar. Ele disse a Oliver que era camaroteiro de um
navio da linha SouthamptonHavre. H realmente um
camaroteiro com esse nome mas, enquanto no o pusermosfrente a frente com Oliver, no saberemos se o mesmohomem. Quanto ao que ele procurava no bangal, no sei,
mas o senhor deve lembrar-se de que no inqurito foi
mencionado que a moa tinha um irmo, embora no o visseh muito tempo. Estou investigando e provavelmente ele
esse irmo desaparecido.O chefe concordou com um sinal de cabea.
Considere esse ponto como aceito ordenou ele. Entrementes, manterei Potts na minha lista de suspeitos.
Agora, Smallpiece, termine o relato que voc nos estava
fazendo.
Obtive ainda outras informaes do motorista donibus, senhor. Ele se lembrava de haver levado Tracey emuma segunda-feira de manh. Tomei o mesmo nibus na
segunda-feira seguinte e procurei conversar com ospassageiros habituais. Afinal, encontrei um homem que
viajara com Tracey at a cidade e, por acaso, os dois deveriam
apanhar o mesmo trem na Estao Vitria. O homem saltou
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em Charing Cross mas Tracey continuou no trem. Assim,conclumos que ele trabalha em algum lugar depois de
Charing Cross. Perfeito, Smallpiece aprovou o chefe. Alguma
coisa mais, no caso de Jumbles? Esperou um momento,
olhando para cada um de seus auxiliares, e prosseguiu: Agora, com relao ao crime da Estao Vitria. Aqui, a meu
ver, a questo se resume na seguinte: quem sabia que
Johnson descobrira qualquer coisa e estava vindo para acidade no trem das 8:35?
Houve murmrios de aprovao e o chefe continuou:
Vamos comear com nossos trs suspeitos de
Jumbles.Ser que Tracey ou Fisher ou Potts poderia ter sabido
da viagem de Johnson? Facilmente, senhor respondeu Smallpiece.
Imagine o seguinte: o assassino, tendo perdido a cabea,
procura livrar-se da arma e a esconde no toco de uma rvore,
um lugar onde ela poderia ser facilmente achada. Depois de
retirar-se, o criminoso se arrepende e resolve voltar, a fim de
descobrir um lugar melhor. Por acaso, chega justamente nomomento em que Johnson encontrava a arma. O que fazer,ento? Seguir Johnson, a fim de dar cabo dele; chega, porm,
at Estao Vitria sem encontrar uma oportunidade.
Sim, essa hiptese plausvel admitiu o chefe.
Muito bem, suponhamos que foi assim. Agora, pelo que
sabemos, tanto Tracey como Potts poderiam ter feito o
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servio. E Fisher? Ele tem um libi para o crime de Vitria. Examinei esse ponto, senhor interveio uma voz.
O homem tem realmente um libi, mas acho que possodestru-lo. Isso no quer dizer que no ache que ele seja
inocente.
Vejamos os detalhes. Antes de tudo, registre-se que no havia ningum na
joalheria de Fisher, no intervalo entre a sada dos
empregados e a entrada em servio da faxineira. Nesse meiotempo ele poderia ter ido at Jumbles e visto Johnsonapanhar a arma. Quanto ao jantar: se Fisher estava fingindo,
poderia ter jogado a comida no lixo, e sair do edifcio em cinco
minutos. Ele declarou que a faxineira estava trabalhando naparte da frente, o que verdade, mas h uma porta nos
fundos, que ele prudentemente no mencionou. Assim,poderia ter apanhado o de 8:35, cometido o crime em Vitria
e retornado para Brighton no de 11:05. A seguir, dirigiu-se
para o escritrio, apagou as luzes e apanhou o sobretudo e o
chapu. No esquea, senhor, que ele somente chegou em
casa depois da meia-noite.
O chefe sacudiu a cabea, concordando em silncio. Alm disso prosseguiu o policial se Fisher noestivesse forjando um libi, por que no foi jantar no hotel?
apenas do outro lado da rua. E h tambm o fato de ele no
ter comunicado o crime, somente tendo admitido que o
descobrira trs horas mais tarde. Somem-se a tudo isso suas
mentiras e a negativa inicial a respeito da compra do grampo.
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Ento, por que voc acha que ele inocente? Por trs razes, senhor. A primeira su