Post on 01-Dec-2018
ANAIS DO V SIMBIOMA: SIMPÓSIO SOBRE A
BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA
Editoração
Elton John de Lírio Joelcio Freitas
Maridiesse Morais Lopes Thaís de Assis Volpi Thiago Silva Soares
Tema: Conservação da Mata Atlântica:
pesquisa, educação e políticas públicas
Santa Teresa, ES, 02 a 04 de junho de 2016
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ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO MUSEU DE BIOLOGIA PROFESSOR
MELLO LEITÃO
V SIMBIOMA - SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA
MATA ATLÂNTICA
Elton John de Lírio, Joelcio Freitas, Maridiesse Morais Lopes, Thaís de Assis
Volpi e Thiago Silva Soares
SANTA TERESA – ES
SAMBIO
2016
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V Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – SIMBIOMA (2016: Santa Teresa, ES).
Anais do V Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica (SIMBIOMA), “Conservação da Mata Atlântica: pesquisa, educação e políticas públicas”, 02 a 04 de junho, 2016, Santa Teresa, ES, Brasil. e-book. ISBN: 978-85-67438-04-7.
702 folhas.
Evento realizado pela Associação de Amigos do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão – SAMBIO, Santa Teresa, ES.
1.Mata Atlântica. 2. Biodiversidade. 3.Conservação. 4.Meio ambiente.
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V SIMBIOMA Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica
Tema: Conservação da Mata Atlântica: pesquisa, educação e políticas públicas
Presidente da Associação de Amigos do Museu de Biologia Mello Leitão (SAMBIO)
Arlindo Serpa Filho
Comissão Organizadora
Alexander Tamanini Mônico Arlindo Serpa Filho
Aryanne Gonçalves Amaral Cintia Corsini Fernandes
Diego Vinicius Braun Elton John de Lírio
Fernanda Cristina Lirio Ferreira Francieli Loss Pugnal
Ingrid Delboni de Liz Krause Joelcio Freitas
Juliana Paulo da Silva Kêmilly Betânia Silva de Paula
Lorena Tonini Maridiesse Morais Lopes
Mileidy da Silva Caldonho Poliane Jovelina Coelho Raphael Becalli Soares Renan Luxinger Betzel Thaís de Assis Volpi Thiago Silva Soares
Comissão Científica e Editorial
Thaís de Assis Volpi Elton John de Lirio
Maridiesse Morais Lopes Thiago Silva Soares
Comissão Avaliadora
Amélia Tuler Ana Beatriz Romana Viveiros
Anderson Alves Araujo Andressa Gatti
Arlindo Serpa Filho Arno Fritz das Neves Brandes Augusto Giaretta de Oliveira
Bárbara de Sá Haiad Bruna Nunes de Luna
Bruno Augusto Costa Karnos Bruno Corrêa Barbosa
Bruno Tolentino Caixeta Carlos Eduardo Fortes Gonzalez Charles Gladstone Duca Soares
Diego Nunes Barbosa Diego Rafael Gonzaga
Elton John de Lírio Felipe Saiter
Francisco Candido Cardoso Barreto Francismeire Bonadeu Frederico Falcão Salles
Gabrielle Dantas Tenório Guilherme Figueira
Gustavo Magnago Jakeline Pires Jardel Seibert
Jeronymo Dalapicolla João Renato Stehmann
Jorge Luiz Pereira Souza Josiene Rossini
Leonardo Luiz Calado Lilian Hill
Luana Silva Braucks Calazan Lucas Monteiro
Luis Antônio Bochetti Bassetti Luisa Maria Sarmento-Soares
Magno Suprani Ramos Marcelo Ribeiro de Britto
Marcelo Rodrigues Nogueira Mário Luís Garbin
Michel Ribeiro Mirco Sole Kienle
Monique Aline Teles Monique Goes
Paola Maia Lo Sardo Patrícia da Rosa
Paulo Victor Scherrer Poliana Beatriz Arantes Priscila Rafaela Ribeiro
Rafael Felipe de Almeida Rafaela Duda Paes
Renato Silveira Bernils Roberta Paresque Roger Guimarães
Rosa Helena dos Santos Ferraz Sandor Christiano Buys Savana de Freitas Nunes Selma Aparecida Hebling
Tahysa Mota Macedo Tatiana Carrijo
Thalita Gabriella Zimmermann Thiago Marques
Thiago Silva-Soares Victor Hugo Colombi
Vivian Almeida Assunção Walace Kiffer
Yuri Luiz Reis Leite
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COLEÇÕES ZOOLÓGICAS, BIODIVERSIDADE E O NOVO INSTIT UTO
NACIONAL DA MATA ATLÂNTICA
L. M. Sarmento-Soares1,2 & R. F. Martins-Pinheiro1
1Instituto Nacional da Mata Atlântica
2Universidade Federal do Espírito Santo.
*luisa@nossosriachos.net
Ao longo do tempo o papel das coleções biológicas foi ganhando significados diferentes.
Desde as primeiras conservações de espécimens a mais de cinco mil anos, até os dias de
hoje, a razão de se preservar indivíduos foi ganhando objetivos específicos. Antes
temporárias e desorganizadas, como acontecia até a idade média, após “A Origem das
Espécies”, as coleções deixaram de representar um arquivo do passado, e passaram a
revelar a evolução das espécies, ganhando maior importância para estudos científicos.
Com o aumento e diversificação das coleções, cresceu também o conhecimento sobre a
diversidade das espécies. Após a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), as
coleções biológicas ganharam importância, para o armazenamento seguro de espécimes e
disponibilidade de infraestrutura necessária à investigação e pesquisa, sendo entendidas
como repositórios da biodiversidade. Pelo gerenciamento de coleções e a necessidade de
identificação acurada, são enxergadas missões que vão muito além do seu próprio acervo.
Identificação de áreas prioritárias a conservação de espécies, identificação de lacunas de
conhecimento, incluindo a investigação de grupos taxonômicos pouco estudados, são
algumas das atividades interdependentes das coleções biológicas. Coleções são ainda
bibliotecas da vida e precisam se manter sobremaneira vivas ao se representarem como
um espaço fundamental de formação e educação científica e cultural para a infância e
juventude.
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HISTÓRICO
A história da conservação dos exemplares é muito antiga, remonta aos processos de
mumificação no Peru e antigo Egito. A técnica de conservação mais antiga conhecida é a
desidratação, e exemplares de animais eram mumificados, envoltos em tecido de linho.
Múmias de peixes e outros animais já eram preparadas no Egito a cerca de 5 mil anos.
Olhos eram desenhados sobre o linho, e o corpo desidratado conservado. Outros animais
eram mumificados para servir de alimento no caminho até o lar espiritual.
Figura 1. Peixes mumificados, como parte dos antigos rituais de funeral.
Fonte: http://www.touregypt.net/featurestories/animalcults.htm
O processo de catalogação de espécies tem seus registros documentais mais antigos com
Aristóteles, a cerca de 350 A.C. Dos trabalhos de Aristóteles - pai da taxonomia biológica
– começaram também as primeiras classificações biológicas. Mundo estático e hierárquico.
Nesta época, animais e plantas eram secos, e depois descartados. Aristóteles é apontado
como um dos filósofos naturais que notou uma gradação na natureza (com a Scala
Naturae). Naquela época, eram conhecidas aproximadamente 550 espécies, a maioria da
Grécia. Não havia um propósito de perpetuação dos exemplares em coleções. Animais e
plantas eram secos, e depois descartados. As coleções eram temporárias e careciam de
organização.
Durante a idade média o conhecimento científico dependia do conhecimento acumulado
pelos antigos gregos. Novidades foram trazidas do mundo islâmico, durante sua prodigiosa
era de ouro, quando filósofos e pensadores traziam idéias vanguardistas, entre eles o
médico Al Farab e o filósofo Al Jahiz. Influenciado pelos textos de Aristóteles, Al Jahiz
descreve 350 espécies de animais, em seu ' Kitab Al Hayawan ' (o livro dos animais). Seus
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trabalhos continham idéias sobre a evolução dos organismos. Este conjunto de idéias e
trabalhos ainda no séc. IX, antecipando o pensamento científico na época.
Ao final da idade média surgem na Europa os “gabinetes de curiosidades”, que
correspondiam a coleções particulares expostas em pequenos espaços íntimos que
continham objetos variados. Como resultado das expansões marítimas cresce o
conhecimento sobre o mundo natural, e muitas novidades compunham as coleções de
objetos naturais (fósseis, corais, conchas, animais, incluindo especialmente pássaros e
animais marinhos, e ainda plantas exóticas vivas ou herborizadas), objetos etnográficos
(ornamentos, máscaras, vestimentas), e ainda argilas, rochas, metais, mármores e pedras
preciosas. Todos esses objetos diferentes eram cobiçados pela civilização européia,
adquiridos e colecionados como pequenas maravilhas a compor os gabinetes, alimentando
o imaginário da nobreza e da elite da época. Um dos gabinetes notáveis foi o do médico
dinamarquês Ole Worm, ao início do século XVII. Em Napoles, no Palazzo Orsini di
Gravina, é mantido o gabinete de curiosidades de Ferrante Imperato. No Rio de Janeiro, o
gabinete de Domenico Vandeli foi reproduzido no Jardim Botânico do Rio, em alusão aos
200 anos da chegada de D. João VI, em 2008. Contudo, as Coleções nos gabinetes e
armários de curiosidades foram acessíveis a poucos, ao contrário das Coleções nos museus
públicos.
Figura 2. O gabinete de curiosidades de Ole Worm, preservado em Copenhagen. Fonte:
http://www.the-scientist.com/?articles.view/articleNo/31897/title/The-World-in-a-Cabinet-
-1600s/
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Ainda ao final do século XVII surgem novidades importantes: a conservação alcoólica e os
vidros transparentes. O armazenamento que conhecemos até hoje de conservação de
animais em álcool acomodados em vidros transparentes teve início após 1662. Até os dias
de hoje, a ilha de Murano, em Veneza, Itália, permanece como um local de fabricação de
vidro artesanal.
A partir do renascimento surgem os museus modernos. As coleções deixam de ter apenas
um caráter particular nos “gabinetes de curiosidades” e passam a funcionar em grandes
museus. Mas alguns dos gabinetes se mantiveram e contribuíram para formar os embriões
do que viria a ser as grandes coleções zoológicas européias. Museus de história natural
conquistam um papel preponderante nas ciências biológicas como centros de estudo da
biodiversidade.
Ao final do séc. XVIII menos de um milhão de espécies eram conhecidas mas o
conhecimento acerca da diversidade biológica crescia rapidamente e exemplares de plantas
e animais eram coletados por aventureiros e comerciantes, ao longo de suas viagens pelo
mundo, e enviados aos centros europeus. A variação da natureza estava representada nas
coleções, e organizar a diversidade tornou-se a missão do naturalista sueco Carolus
Linnaeus. Certamente Linnaeus, em sua 10ª edição do Systema Naturae (1758), fez uso das
descrições de Marcgrave (1648) e cronistas dos séculos XVI a XVIII (franceses,
portugueses, holandeses) e das ilustrações de Seba (1734-1735,1759, 2005), para a
descrição de gêneros e espécies. O grande legado deixado por Linnaeus foi o registro e
catalogação de exemplares em coleções de acordo com uma classificação hierárquica.
Com a qualidade das coleções aumenta também o conhecimento sobre a variedade de
espécies. Ao início do século XIX, o conhecimento acerca da biodiversidade do planeta
continuava a expandir-se significativamente, muito em virtude do comércio marítimo e das
rotas de navegação entre o Novo e o Velho Mundo. O conhecimento em Zoologia tomou
grande impulso, os museus de história natural já haviam conquistado um papel
preponderante nas ciências biológicas como centros de estudo da biodiversidade. Após a
Origem das Espécies, as coleções deixaram de representar um arquivo do passado, e
passaram a revelar a evolução das espécies, ganhando maior importância para estudos
científicos.
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Nas Américas os mais antigos museus de história natural se organizaram entre 1810 e
1820. No Rio de Janeiro, a então Casa dos Pássaros, que funcionou até 1813, abrigava um
acervo da recém-descoberta diversidade biológica no Brasil colônia. Com a presença da
Família Imperial o acervo da Casa dos Pássaros foi transferido para o Campo de
Sant’Anna, passando a integrar o Museu Real em 1818. De Museu Real, a Museu Imperial
e depois Museu Nacional, a propagação do conhecimento biológico teve apoio de figuras
da nobreza, como a Imperatriz Leopoldina e contou com contribuições pioneiras
importantes de naturalistas e viajantes como Martius, Ender, Natterer, Pohl, e outros que
contribuíram para ampliar o conhecimento biológico na época. O Museu Nacional
encontra-se sediado na antiga residência imperial, a Quinta da Boa Vista, no Rio de
Janeiro.
Os acervos do Museu Nacional, juntamente com os do Museu Paraense Emílio Goeldi –
MPEG, em Belém, e o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo - MZUSP,
constituem os principais centros de representação da biodiversidade brasileira.
Agora no século XXI, além de centros de pesquisa de relevância internacional, estes
espaços contribuem para a formação e educação científica e cultural da infância e
juventude. Estima-se que atualmente existam aproximadamente 26 milhões de espécimes
depositados em coleções no Brasil.
O papel dos museus vai muito além de gerar, perpetuar, organizar e difundir informação.
Museus devem ser os mais abertos possíveis. Suas coleções acessíveis e informatizadas.
A IMPORTÂNCIA ATUAL DAS COLEÇÕES
As coleções foram historicamente concebidas com objetivos específicos. Ao longo do
tempo o papel das coleções biológicas foi ganhando significados diferentes. Com o
aumento e diversificação das coleções, cresceu também o conhecimento sobre a
diversidade das espécies. A preocupação de se mapear tal conhecimento foi colocada em
questão.
Iniciativas de avaliação da situação das coleções zoológicas e de elaboração de propostas
para iniciar programas de apoio ao desenvolvimento da zoologia e de coleções não são
recentes.
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Após a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), assinada durante a Conferência
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio 92, as coleções
zoológicas, microbiológicas e os herbários, sediados em diferentes instituições
principalmente museus, universidades e jardins botânicos, se tornaram mais evidentes para
a sociedade e para os governos, dentre outros motivos, por serem responsáveis pela guarda
dos espécimes que documentam a biodiversidade. A CDB foi estruturada sobre três bases
principais: a conservação da diversidade biológica, o uso sustentável da biodiversidade e a
repartição justa e equitativa dos benefícios provenientes da utilização dos recursos
genéticos e se refere à biodiversidade em três níveis: ecossistemas, espécies e recursos
genéticos.
O Brasil enquanto detentor da maior biodiversidade do planeta está em condições de
liderar a tomada de decisão dentro da Convenção sobre a Diversidade Biológica.
Atendendo aos objetivos da CDB, no Brasil foi instituída a Comissão Nacional de
Biodiversidade (Conabio), no Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Após a promulgação da CDB, os espécimes depositados nas coleções biológicas se
constituem registros da variação morfológica e genética passada e recente, da distribuição
geográfica, bem como de outras valiosas informações. Muitas vezes eles são os únicos
registros de uma espécie extinta ou de espécies vistas na natureza apenas uma vez em sua
forma selvagem.
Na Conferência das Partes (COP-3) em 1996, os países reconheceram que, apesar de toda a
sua importância e responsabilidade, as coleções biológicas não dispunham de recursos
suficientes para o armazenamento seguro ou para a infraestrutura necessária à investigação
e recuperação das informações dos espécimes; menos ainda para a sua expansão a fim de
desenvolver sua potencial contribuição ao conhecimento da biodiversidade.
Em 2005 documentos temáticos identificaram uma série de pontos coincidentes acerca de
fatores que poderiam ou não constituir sérios impedimentos ao desenvolvimento da
zoologia brasileira, destacando a necessidade de consolidação de uma política nacional
voltada às coleções. O “impedimento taxonômico” tem sido definido como o
impedimento do conhecimento da biodiversidade em conseqüência da falta de informações
taxonômicas. Os principais problemas que conduzem a tal impedimento correspondem a
informação taxonômica pouco acurada; o declínio no número de taxonomistas; e lacunas
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no conhecimento taxonômico. A remoção do impedimento taxonômico vem a ser um passo
crucial para o alcance dos objetivos da CDB e para a boa gestão e conservação da
biodiversidade.
COLEÇÕES E BIODIVERSIDADE
Estima-se que devam existir de 10 a 100 milhões de espécies no planeta. Trabalhos de
pesquisa cuidaram de descrever até hoje 1,7 milhão de espécies, uma ínfima fração de toda
a diversidade estimada, e novas espécies continuam a ser descobertas em todas as partes do
mundo. O simples confronto desses dois números fornece a dimensão do desafio lançado
aos pesquisadores que tratam de mapear a biodiversidade.
É necessário conhecer e disseminar a informação sobre o que já foi colecionado ao longo
de muitos anos e se encontra depositado nas coleções. Essas informações são
imprescindíveis para, por exemplo, o estabelecimento de áreas com biota pouco conhecida,
de áreas prioritárias para pesquisa e conservação, de grupos taxonômicos pouco estudados,
dentre outras funções.
Porém, esse é um árduo caminho que inclui entre os seus desafios: Gerenciamento de
coleções e a necessidade de identificação acurada. O gerenciamento envolve desde a
simples digitação e digitalização de dados e imagens, até a imprescindível organização e
modernização do acervo; o tombamento dos espécimes, sua acomodação em ambientes
adequados e um processo continuo de identificação das espécies. Este último, com certeza,
o maior dos desafios, pois a espinha dorsal do conhecimento em biodiversidade é a
pesquisa sistemática nas coleções científicas e a diminuição do número de cientistas nesse
campo do conhecimento tem sido apontada em diversos documentos e artigos científicos
como um grande problema.
Há grupos taxonômicos sobre os quais se sabe muito pouco, o que gera uma dificuldade
adicional à coleta, guarda e curadoria dos espécimes e dos dados a eles associados.
Nesse sentido a partir da Iniciativa Global de Taxonomia (GTI, na sigla em inglês) - a
taxonomia foi confirmada como imprescindível para o estudo e conhecimento de todos os
ecossistemas sendo, portanto, aplicável a diferentes grupos de trabalho da CDB.
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Estudos em biologia comparada são em grande parte dependentes da atuação de sistematas,
profissionais que atuam como geradores e organizadores dos conhecimentos sobre
biodiversidade. Assim, principalmente devido à crise mundial da biodiversidade, à
necessidade do conhecimento de seus componentes e à inserção do Brasil nas políticas
internacionais de meio ambiente, houve na última década um significativo crescimento nas
ações relacionadas às coleções biológicas brasileiras por parte de áreas específicas do
governo.
Com a incorporação de novas metodologias à taxonomia e novas tecnologias para estudos
moleculares, as coleções biológicas passaram a representar importantes bancos genéticos
para a realização de análises moleculares e para a biotecnologia.
A informatização dos dados dos espécimes depositados em coleções biológicas tem sido
prioridade em várias instituições ao redor do mundo, assim como, a digitalização de todas
as informações associadas aos nomes das espécies, catálogos, floras, checklists, entre
outros.
As coleções brasileiras têm o maior acervo do mundo sobre a região Neotropical.
Entretanto, a falta histórica de iniciativa na manutenção de um cadastro nacional de
coleções científicas dificulta sobremaneira a elaboração de um panorama efetivo sobre a
situação atual dessas coleções. O Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira
–SibBR visa preencher tal lacuna. O Sistema SIBBr alinha com os compromissos
assumidos pelo Brasil como signatário de convenções internacionais, entre elas a
Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) e o Protocolo de Nagoya sobre Acesso a
Recursos Genéticos e as Metas de Aichi.
Figura 3. Logomarca do SiBBr. Fonte: http://www.sibbr.gov.br/
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AS COLEÇÕES ZOOLÓGICAS NO INMA
Há um grande número de instituições brasileiras que abrigam coleções de valor inestimável
e que se encontram em locais inadequados e sujeitos a acidentes. Há poucos anos, o
Instituto Butantan foi vitimado por incêndio e boa parte de seu acervo perdido.
A conservação preventiva corresponde as iniciativas para prolongar a vida útil das
coleções. Seja através de providenciar um ambiente mais adequado de armazenamento, a
manutenção, manejo e cuidado da coleção. Neste sentido, as coleções zoológicas do INMA
têm alguns problemas que necessitam de solução urgente.
Para a preservação da rica biodiversidade da Mata Atlântica é necessária a tomada de
múltiplas medidas que dependem de ações coletivas, que necessitam de diálogo entre
poder público, meio empresarial e cidadão. Há necessidade urgente de melhoria das
coleções biológicas e documentação, o que poderia ser alcançado com amostragens
direcionadas a biomas e grupos incipientemente conhecidos, e intercâmbio de material
(Sabino & Prado, 2008). O Instituto Nacional da Mata Atlântica tem o potencial de agir
neste sentido estimulando as pesquisas necessárias para que se disponha de elementos
confiáveis nas definições de políticas públicas para esta região. Sua presença no Espírito
Santo ganha relevo por buscar enfrentar a desigualdade regional no tocante ao fomento à
pesquisa.
O acervo atual das coleções zoológicas do MBML conta com mais de trinta mil lotes,
distribuídos nas coleções de Peixes, Anfíbios, Répteis, Aves e Mamíferos. Em termos de
exemplares estão abrigados nas coleções aproximadamente 90 mil indivíduos.
Figura 4. Crescimento da coleção de peixes nos últimos dez anos. Fonte: CRIA.
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As coleções do INMA se sustentaram e desenvolveram com base no trabalho de
pesquisadores que se associaram com projetos próprios e um grupo de estagiários e
voluntários que passaram a ser treinados nas atividades das coleções e estimulados a
seguirem nas atividades acadêmicas.
Figura 5. Crescimento da coleção de anfíbios nos últimos dez anos. Fonte: CRIA.
Através do CRIA- Centro de Referência em Informação Ambiental, estabelecido desde
2002, seus dados estão disponíveis no Species link da base CRIA. Este disponibiliza uma
série de ferramentas para visualização das informações, como mapas e gráficos. É
necessário conhecer e disseminar a informação sobre o que já foi colecionado ao longo de
muitos anos e se encontra depositado nas coleções.
Figura 6. Crescimento da coleção de répteis nos últimos dez anos. Fonte: CRIA.
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Após a criação do INMA foi possível a inclusão de alguns bolsistas dentro do Programa de
Capacitação Institucional – PCI – uma parceria do MCTI com o CNPq. Os cuidados com a
coleção dependem da presença de um curador e de uma equipe técnica que assumam a
responsabilidade por grupo taxonômico. No caso do INMA esta situação acontece na
prática, pela atuação em parceria entre os bolsistas de diferentes níveis, cada um
cumprindo seu papel funcional diante da coleção.
Figura 7. Crescimento da coleção de aves nos últimos dez anos. Fonte: CRIA.
Mencionamos a importância das coleções biológicas para o armazenamento seguro de
espécimes e disponibilidade de infraestrutura necessária à investigação e pesquisa. Nesse
sentido as coleções biológicas do Instituto Nacional da Mata Atlântica necessitam de ações
de melhoria de seu espaço físico, necessitando transferência das coleções científicas, para
um local livre das inundações e com maior espaço, permitindo seu crescimento seguro. A
maior qualificação e dinâmica das coleções será alcançada com a integração com um maior
número de pesquisadores e colaboradores, o que deve acontecer com o tempo. Atualmente
três pesquisadores doutores atuam na área zoológica pelo INMA. A formação e
intercambio com taxonomistas é feita a medida que esses três pesquisadores buscam
parcerias e colaborações.
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Figura 8. Crescimento da coleção de mamíferos nos últimos dez anos. Fonte: CRIA.
As coleções biológicas são historicamente parceiras do avanço do conhecimento sobre a
biodiversidade. Tantos as grandes coleções, como as coleções menores, ainda dependem
grandemente do esforço pessoal de seus técnicos e curadores, sempre em número
absurdamente insuficiente.
LITERATURA CITADA
Carvalho, J.C. de M. 1977. Museu Nacional. Boletim do Conselho Federal de Cultura,
Brasília: MEC. 68pp.
Kury, A.B.; Aleixo, A. & Bonaldo, A.B. 2006. Diretrizes e estratégias para a
modernização de coleções biológicas brasileiras e a consolidação de sistemas
integrados de informação sobre biodiversidade. Brasília: Centro de Gestão e
Estudos Estratégicos: MCT. 234pp.
Lujan, N.K. & L.M. Page. 2015. Libraries of life. The New York Times. The opinon
pages. Feb, 27, 2015. Disponível em: http://nyti.ms/1AfjKhy
Marques, A. C. & C.J.F. Lamas. 2006. Taxonomia zoológica no Brasil: estado da arte,
expectativas e sugestões de ações futuras. Papéis Avulsos de Zoologia, 46 (13):
139-174.
Marinoni, L. & Peixoto, A.L. 2010. As Coleções Biológicas como fonte dinâmica e
permanente de conhecimento sobre a Biodiversidade. Ciência & Cultura, 62 (3):
54- 57.
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Prudente, A.N.C. (Org.). 2005. Coleções brasileiras de vertebrados: estado-da-arte e
perspectivas para os proximos dez anos. In: Centro de Gestão e Estudos
Estratégicos, CGEE. Projeto: Diretrizes e Estratégias para a Modernização de
Coleções Biológicas Brasileiras e a Consolidação de Sistemas Integrados de
Informações sobre Biodiversidade. Nota Técnica. Belém. Disponível em:
www.cgee.org.br/atividades/redirect.php?idProduto=1745
Sarmento-Soares, L.M. & R.F. Martins-Pinheiro. 2014. Coleções Zoológicas - O Museu de
Biologia Prof. Mello Leitão. Boletim da Sociedade Brasileira de Ictiologia, 109: 2-
4.
Simmons, J.E. & Y. Munõz-Saba. 2005. Cuidado, Manejo y Conservación de las
colecciones biológicas. Disponível em:
http://www.ibiologia.unam.mx/pdf/directorio/c/cervantes/clases/sistem/Cuidado_M
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Zaher, H. & P.S. Young. 2003. As coleções zoológicas brasileiras: panorama e desafios.
Ciência e Cultura, 55 (3): p. 24-26.