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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA SADE
Aluna : Anna Beatriz Costa Neves do Amaral
Habilidades em Comunicao na Pediatria
.
UBERLNDIA - MG
2012
ii
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
Sistema de Bibliotecas da UFU, MG, Brasil.
A485h
2012
Amaral, Anna Beatriz Costa Neves do, 1978-
Habilidades em comunicao na pediatria / Anna Beatriz Costa Neves do
Amaral. -- 2012.
121 f.
Orientador: Carlos Henrique Martins da Silva.
Dissertao (mestrado) - Universidade Federal de Uberlndia,
Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade.
Inclui bibliografia.
1. 1. Cincias mdicas - Teses. 2. Pediatria - Estudo e ensino - 2. Teses. 3. Comunicao - Teses. 4. Relao mdico-paciente -
Teses. I. Silva, Carlos Henrique Martins da. II. Universidade Federal de
Uberlndia. Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade. III. Ttulo.
3. CDU: 61
iii
Anna Beatriz Costa Neves do Amaral
Habilidades em Comunicao na Pediatria
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Cincias da Sade da
Faculdade de Medicina da Universidade
Federal de Uberlndia, como parte das
exigncias para obteno do Ttulo de Mestre
em Cincias da Sade.
UBERLNDIA - MG
2012
iv
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA SADE
Orientador: Prof. Dr. Carlos Henrique Martins da Silva
Co-orientadora : Profa. Dra. Paula Philbert Lajolo
COORDENADORA DO PROGRAMA Profa. Dra. Vnia Olivetti Steffen Abdalah
UBERLNDIA-MG
2012
v
Para mame Rosa,
a melhor de todas!
Para os irmos recebidos e escolhidos Ricardo, Fernanda, Paula, Roberta, Andr e
Mariana; partes insubstituveis do todo.
Para meus pequenos grandes Pedro, Luza, Jlia, Rafael e Maria Luza;
com o amor incondicional da titia.
Para Raphael;
que chegou na concluso, mas em muito boa hora.
vi
AGRADECIMENTOS
Se vi mais longe foi por estar de p sobre os ombros de gigantes
Isaac Newton
Ao meu orientador Prof. Dr. Carlos Henrique Martins da Silva, o primeiro a acreditar no
tema e incentivar a realizao de cada etapa deste trabalho. Obrigada por toda pacincia e
compreenso de minhas falhas e pelo reconhecimento do meu esforo.
minha co-orientadora Profa. Dra. Paula Philbert Lajolo Canto, amiga e irm de todas as
horas. Sigo seus passos, pois acredito em sua competncia, dedicao e doao na amizade
e na carreira.
querida mestre Elizabeth Ann Rider MSW, MD, por permitir a realizao desta
traduo, por me receber to bem em seu hospital e por compartilhar comigo grandes
momentos de comunicao em sade.
Profa. Dra. Marisa Philbert Lajolo por sua fundamental contribuio nos ajustes
lingusticos, por seus questionamentos pertinentes na metodologia e por sempre incentivar
este produto final.
Ao Prof. Dr. Rogrio de Melo Costa Pinto, por dedicar tempo e pacincia reviso dos
clculos estatsticos, com o cuidado de ensinar-me passo a passo do que realizamos.
s queridas amigas Dra. Mnica ATC Cintra e Dra. Camila Philbert Lajolo pelo apoio nas
etapas do mtodo Delphi.
Aos grandes amigos do Hospital do Cncer em Uberlndia e HC-UFU Cludia, Bruna,
Ida, Cadu, Ana Carolina, Thiago, Dr. Eurpedes Barra e Dra. Isabel Roscoe pelo incentivo
desde o incio, pelo apoio na aplicao de questionrios e pela compreenso ao longo
destes dois anos de trabalho desenvolvidos paralelamente oncopediatria.
s amigas Cludia, Magda e Gizelli; companheiras de crditos e apoio sempre necessrio
durante a trajetria do mestrado. Somos todas vitoriosas em nosso empenho e no excelente
trabalho que agora finalizamos.
Aos professores e colegas do Grupo de Qualidade de Vida da Universidade Federal de
Uberlndia que colaboraram nas correes de metodologia e que compartilharam etapa por
etapa os resultados desta pesquisa.
Aos colegas estudantes da Faculdade de Medicina da UFU, aos residentes de Pediatria e
todos os pediatras que gentilmente aceitaram responder o questionrio e emitiram opinies
fundamentais para a adaptao cultural, com grande sensibilidade e disposio para debater
sobre o tema.
A todos os professores da ps graduao em Cincias da Sade e secretria Gisele de
Melo Rodrigues, pelo apoio a todos os alunos.
vii
Quem no se comunica, se trumbica.
Jos Abelardo Barbosa de Medeiros (1917-1988).
viii
RESUMO
A qualidade da comunicao em sade associa-se a melhor adeso aos tratamentos e maior
satisfao do paciente com o cuidado. Poucos estudos tratam da avaliao das
competncias comunicativas dos profissionais de sade que atendem crianas e
adolescentes. O Housestaff Communication Survey (HCS) um instrumento que avalia a
percepo da importncia de dezesseis habilidades comunicativas especficas peditricas, a
confiana em execut-las e o suporte institucional oferecido. Objetivos: Traduzir, adaptar
culturalmente para o Brasil e validar o instrumento HCS, avaliar a importncia das
habilidades comunicativas, a confiana em comunicar-se e o suporte oferecido para o
ensino e manuteno das condies adequadas de comunicao dos participantes que
responderam o instrumento traduzido. Mtodos: O questionrio HCS foi traduzido,
adaptado culturalmente e validado de acordo com guidelines recomendados na literatura. A
verso final em portugus foi aplicada a estudantes de medicina, residentes e pediatras de
um hospital universitrio. Foram avaliados a validade de face, a confiabilidade da
consistncia interna, a reprodutibilidade pelo teste-reteste e os dados perdidos. Resultados:
A verso final foi respondida por 182 dos 200 participantes elegveis (taxa de resposta de
91%). O coeficiente de confiabilidade alfa Cronbach do grupo todo foi 0,929 para a escala
de importncia e 0,892 para a escala de confiana. O coeficiente de correlao intra-classe
foi de 0,796 para a escala de importncia e 0,792 para a escala de confiana no teste-
reteste. Vinte e cinco itens deixaram de ser respondidos (0,3%). Noventa e cinco porcento
dos participantes referem que comunicar-se eficientemente com seus pacientes uma
prioridade e 94,5% no possuam capacitaes em comunicao. Os 16 itens da escala de
importncia foram considerados de importncia alta ou muito alta. Na escala de confiana
menos da metade dos participantes sentem-se confiantes ou muito confiantes,
principalmente para conversar com crianas sobre doenas graves, discutir o fim da vida
com pacientes e familiares, interagir com pacientes ou familiares de difcil trato, lidar com
as emoes dos pacientes e informar um diagnstico ruim. Na avaliao das escalas por
subgrupo verificou-se que pediatras sentem-se mais confiantes que estudantes e quanto
maior a idade, maior a confiana em executar os diferentes itens de comunicao. O
incentivo da instituio para uma boa comunicao mdico-paciente adequado para 62%.
Concluses: A traduo em etapas originou verso adequada para a lngua portuguesa do
ponto de vista lingustico e tcnico. As propriedades psicomtricas foram adequadas e
semelhantes s do questionrio original. Este instrumento pode ser utilizado para avaliao
do ensino de habilidades em comunicao na pediatria e para destacar entre temas
importantes quais so os de maior dificuldade de atuao e que devem ser enfatizados no
ensino mdico.
Palavras-chave : comunicao, pediatria, ensino.
ix
ABSTRACT
The quality of health communication is associated to better treatment adherence and
greater degree of patient satisfaction. There are few studies on the assessment of the
communication abilities of health professionals who assist children and adolescents. The
Housestaff Communication Survey (HCS) is an instrument that evaluates the perception of
the importance of 16 specific pediatric sills, the confidence for performing them and the
institutional support offered. Objectives: Translate into Portuguese, culturally adapt it to
Brazilian society and validate the Portuguese version of the HCS instrument, evaluate the
importance of communication abilities, the confidence for communication and the
institutional support offered to the respondents regarding their professional training and the
development of communication abilities. Methods: The HCS questionnaire was translated
into Portuguese, adapted culturally and its Portuguese version was validated, according to
the guidelines recommended in the literature. The final Portuguese version was answered
by medical students, pediatric residents and pediatricians of a university hospital. Face
validity, internal consistency reliability, test-retest reproducibility and the missing data
were assessed. Results: The final version was answered by 182 of the 200 eligible
participants (response rate of 91%). The Cronbach's alpha reliability coefficient of the
entire group was 0.929 for the scale of importance and 0.892 for the scale of confidence.
The intraclass correlation coefficient was 0.796 for the scale of importance and 0.792 for
the scale of confidence on test-retest. Twenty-five items were not answered (0.3%).
Ninety-five percent of participants reported that effective communication with their
patients is a priority and 94.5% indicated they had no previous participation in a program
to improve their communication skills with patients. All the 16 items of the communication
skills studied were rated as high or very high in importance. Concerning the scale of
confidence, half or fewer of the participants indicated they felt rather or very confident
about more advanced skills : speaking with children about serious illness, discuss end-of-
life issues with patients and families, dealing with the difficult patient or parent, ability
to respond to patients emotions and giving bad news to patient and family. In the
evaluation of the scales by subgroup, pediatricians were found to be more confident than
students, and older respondents expressed greater confidence for performing the different
communication items. The institutional support and incentives to the promotion of good
physician-patient communication was found to be adequate for 62%. Conclusions: The
translation in stages ensured an adequate Portuguese version both in the linguistic and
technical aspects. The psychometric properties were adequate and similar to those in the
original questionnaire. This instrument can be used for the assessment of the teaching of
communication abilities in pediatrics and to identify the most difficult subjects that should
be addressed as a priority in medical education.
Keywords: communication, pediatrics, teaching.
x
LISTA DE TABELAS E FIGURAS
Figura 1 Mdias e desvios padro a cada rodada do item 11
33
Figura 2 Mdias e desvios padro a cada rodada do item 3
33
Figura 3 Mdias e desvios padro a cada rodada do item 13
34
Figura 4 Mdias e desvios padro a cada rodada do item 33
34
Figura 5 Mdias e desvios padro a cada rodada do item 29
35
Figura 6 Disperso dos desvios padro de cada item na primeira rodada
35
Figura 7 Disperso dos desvios padro de cada item na segunda rodada
36
Figura 8 Disperso dos desvios padro de cada item na terceira rodada
36
Figura 9 Disperso dos desvios padro de cada item na quarta rodada
37
Figura 10 Percentual de participantes que relatou as habilidades em comunicao
como importantes e a confiana que possuem para desenvolver cada item
(n=182)
43
Tabela 1 Exemplos do processo de traduo, reconciliao e retrotraduo de itens
ou palavras do questionrio
39
Tabela 2 Caractersticas scio-demogrficas dos pediatras
40
Tabela 3 Coeficiente de confiabilidade alfa Cronbach geral e por subgrupos
41
Tabela 4 Percentual de participantes que relatou sentir-se confiante ou
muito confiante em cada item de comunicao
44
Tabela 5 Relao entre o percentual de importncia alta/ muito alta e o de
confiante/ muito confiante para cada item das escalas
45
Tabela 6 Comparaes entre as escalas de importncia e confiana
46
Tabela 7 Avaliao dos participantes a respeito do suporte institucional
comunicao 47
xi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABMS - American Board of Medical Specialties
ACGME - Acreditation Council for Graduate Medical Education
CEP - Comit de tica em Pesquisa
CNRM
- Comisso Nacional de Residncia Mdica
DP - Desvio Padro
FAMED UFU - Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlndia
HCS - Housestaff Communication Survey
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UFU - Universidade Federal de Uberlndia
UTI - Unidade de Terapia Intensiva
xii
SUMRIO
1. INTRODUO ......................................................................................................... 14
2. OBJETIVOS .............................................................................................................. 19
3. METODOLOGIA ...................................................................................................... 20
3.1 ESTUDO ............................................................................................................. 20
3.2 PARTICIPANTES .............................................................................................. 20
3.3 INSTITUIO .................................................................................................... 21
3.4 PROCEDIMENTO .............................................................................................. 22
3.5 INSTRUMENTO DE MEDIDA .......................................................................... 23
3.5.1 HOUSESTAFF COMMUNICATION SURVEY (HCS) ...................................... 23
3.6 TRADUO ....................................................................................................... 23
1 ETAPA : TRADUO INICIAL ............................................................................. 24
2 ETAPA : RECONCILIAO DE TRADUES .................................................... 24
3 Etapa : Retro-traduo/ Back-translation .............................................................. 24
4 Etapa : Revisores independentes/ Mtodo Delphi .................................................. 24
5 Etapa : Processo final de reviso e verificao gramatical ................................... 26
6 Etapa : Pr-Teste .................................................................................................... 26
7 Etapa : Incorporao dos resultados do pr-teste no processo de traduo. ........ 27
3.7 PROPRIEDADES PSICOMTRICAS ........................................................................... 27
3.7.1 Qualidade dos dados ....................................................................................... 27
3.7.1.1 Dados Perdidos ........................................................................................ 28
3.7.2 Confiabilidade ................................................................................................. 28
3.7.2.1 Reprodutibilidade do teste-reteste ........................................................... 28
3.7.2.2 consistncia interna.................................................................................. 29
3.7.3 Validade de face .............................................................................................. 29
3.8 HABILIDADES DE COMUNICAO ......................................................................... 29
3.9 ANLISE ESTATSTICA .......................................................................................... 30
4. RESULTADOS .......................................................................................................... 31
4.1 PROCESSO DE TRADUO ..................................................................................... 31
4.1.1 Traduo, reconciliao e retrotraduo .......................................................... 31
4.1.2 Apontamentos da autora ..................................................................................... 31
4.1.3 Consenso pelo mtodo Delphi modificado ......................................................... 32
4.1.4 Pr-teste e entrevistas cognitiva e retrospectiva ................................................ 37
4.1.5 Revises Lingusticas e verso final ................................................................... 38
4.2 AMOSTRA ............................................................................................................. 39
4.3 DADOS PERDIDOS ................................................................................................. 40
4.4 CONFIABILIDADE DAS ESCALAS ........................................................................... 41
4.5 TESTE E RETESTE.................................................................................................. 41
4.6 ATITUDES EM COMUNICAO ............................................................................... 42
4.7 IMPORTNCIA DAS HABILIDADES EM COMUNICAO ........................................... 42
4.8 CONFIANA EM EXECUTAR AS HABILIDADES EM COMUNICAO .......................... 44
4.9 SUPORTE INSTITUCIONAL ..................................................................................... 46
5. DISCUSSO .............................................................................................................. 48
6. CONCLUSES .......................................................................................................... 52
7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................... 53
xiii
ANEXOS ............................................................................................................................ 57
ANEXO A : PARECER DO COMIT DE TICA EM PESQUISA DA UFU .................................. 58
ANEXO B : PERMISSO DE TRADUO CONCEDIDA PELA AUTORA ................................... 59
ANEXO C : HOUSESTAFF COMMUNICATION SURVEY (HCS) ............................................. 61
APNDICES ...................................................................................................................... 62
APNDICE A : TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ................................. 62
APNDICE B : QUESTIONRIO SCIO-DEMOGRFICO ....................................................... 63
APNDICE C : TRADUES, RECONCILIAO E RETROTRADUO ................................... 64
APNDICE D: APONTAMENTOS DA AUTORA ..................................................................... 70
APNDICE E: ETAPAS DO MTODO DELPHI ...................................................................... 73
APNDICE G : VERSO FINAL PARA PR-TESTE .............................................................. 110
APNDICE H : ENTREVISTA COGNITIVA E RETROSPECTIVA ............................................ 112
APNDICE I : AVALIAO LINGSTICA PS PR-VALIDAO ........................................ 115
APNDICE J : VERSO FINAL PARA VALIDAO ............................................................. 119
14
1. INTRODUO
A eficiente relao mdico-paciente, o conhecimento e aprimoramento da profisso
mdica aliados ao cumprimento de preceitos ticos e bioticos so os atuais pilares para o
responsvel exerccio da Medicina, resgatando-se conceitos de integralidade no cuidado do
paciente (CALLEGARI, 2010).
Aprender a comunicar-se o primeiro passo para a re-humanizao do contato
mdico-paciente (RAO, 2007). A adequada comunicao em sade est diretamente ligada
empatia que o paciente tem por seu mdico desde a primeira consulta ou contato (EIDE,
2003).Pode aumentar o envolvimento do paciente na deciso de seus cuidados, diminuir o
referenciamento para outros especialistas bem como evitar a realizao de exames
laboratoriais e radiolgicos desnecessrios (STEWART, 2000).
Comunicao eficiente elemento central na adeso a tratamentos preventivos e
curativos (DiMATTEO, 2004), proporciona melhor manejo de condies crnicas
(GASCN, 2004) e aumento da satisfao do mdico e de seu paciente relacionada a
qualidade do cuidado (LINZER, 2000).
A reduo de queixas por mau atendimento por parte dos pacientes, a deciso por
manter o seguimento de sade linear com determinado profissional (SAFRAN, 2001), bem
como a reduo do risco de erros mdicos (DiMATTEO, 2004) tambm j foram
amplamente avaliadas e relacionadas com o compartilhamento adequado das informaes
entre o mdico, o paciente e seu cuidador.
Durante a prtica mdica, o ato de comunicar ms notcias corriqueiro,
principalmente em sub-especialidades de mais alta complexidade, e afeta tanto o mdico
quanto o paciente. A reao a este evento varia de indivduo para indivduo de acordo com
sexo, idade, escolaridade, religio e cultura. A compreenso da notcia pelo paciente
tambm ser pior se este perceber seu mdico ansioso, deprimido, irritado ou pressionado
(PTACEK, 1996).
Define-se como m notcia qualquer notcia drstica que negativamente altere a
viso de futuro do paciente (METHA, 2008). Estudos evidenciam que a maneira com que
as informaes so transmitidas fator decisivo para amenizar o estresse e os
15
ressentimentos, melhorando o entendimento, a aceitao e o ajustamento familiar a nova
situao (FALLOWFIELD, 2004).
O mdico deve, portanto, estar apto a desenvolver uma relao sensvel, efetiva e
de satisfao mtua com seu paciente, buscando entendimento e cuidado com empatia,
respeito e compaixo. Tais fatores interpessoais aliam a comunicao verbal no verbal e
associam ao ato de comunicar a troca de olhar, os elementos posturais, de voz e de
expresso facial (DYCHE, 2007).
Vrias recomendaes e consensos internacionais foram estabelecidos com objetivo
de melhorar a eficincia das tcnicas de comunicao, evitando-se erros comuns como
local inapropriado para conversas delicadas, pouca disponibilidade de tempo para tal e
utilizao de jarges ou termos mdicos de difcil compreenso (MAUSKCH, 2008).
A adequada comunicao em sade, prezando veracidade, privacidade, confiana e
fidelidade entre mdicos e pacientes tema de diversos estudos que avaliam por meio de
escalas qualitativas as habilidades comunicativas dos profissionais (REES, 2002;
WRIGHT, 2006). Frutos destas avaliaes so as importantes contribuies compiladas em
forma de consenso e utilizados tanto para mdicos quanto para estudantes de Medicina.
O Consenso Kalamazoo (BAYER-FETZER CONFERENCE, 2001) e o The Four
Habits Coding Scheme (KRUPAT, 2005), so exemplos importantes a serem citados. No
Consenso Kalamazoo so enumeradas algumas atitudes que guiam a troca de informaes
entre mdicos e pacientes com objetivo de facilitar a identificao dos pontos-chave do
dilogo e as melhores atitudes a serem adotadas para cada situao. Os tpicos
compreendem a construo da relao, abertura de discusso com valorizao das queixas
e comentrios do paciente, resumo e entendimento das informaes, compreenso da
perspectiva do paciente sobre sua doena, orientao de maneira clara e checagem do
entendimento das condutas, estmulo a co-participao na tomada de decises e definio
do prximo encontro para seguimento. Essas recomendaes so adaptadas ao ensino
mdico de diferentes formas, seja na implementao destes tpicos em espao maior no
currculo acadmico (NOVACK, 1997), seja em cursos psicodramticos de vivncia do
ensino em Psicologia Mdica, oferecendo-se feedback aos alunos durante simulaes de
situaes clnicas difceis (VAIDYA, 1999; MEIJER 2009; MAGALHES, 2009).
Em Pediatria, a comunicao torna-se ainda mais delicada por envolver pacientes,
pais e familiares, devendo-se ponderar o que, como, quando, quanto e a quem se deve
informar.
16
Desde 1968, a pediatra Brbara Korsch observa que a boa relao mdico-paciente
fator essencial para a qualidade do cuidado (KORSCH, 1968). Os pais valorizam muito
mdicos que preocupam-se com as crenas e sentimentos de suas crianas, na tentativa de
compreender melhor a sua perspectiva do adoecimento (STREET, 1991).
Pais e cuidadores esperam uma vida feliz e saudvel para seus filhos. Ao receberem
ms notcias sobre doenas graves acometendo seus filhos sentem-se culpados, descrentes
e angustiados. O mdico pode minimizar estes sentimentos quando est seguro para
interagir com os familiares atuando com calma e sensibilidade, de maneira equilibrada para
no destituir a esperana em cura ou melhores prognsticos.
A comunicao eficiente com a criana e a famlia uma das aes mais
importantes da atuao profissional em Pediatria, especialmente no processo de
terminalidade. Atingir a boa comunicao proporciona melhores mecanismos de expressar
emoes e de encontrar meios para enfrentar a doena. A m notcia leva a uma tomada de
decises familiares, por isso deve ser bem compreendida e gerar posicionamentos
conscientes que envolvam o cuidado com qualidade (DE CAMARGO, 2007).
As consultas peditricas requerem no s o contato com o paciente como tambm o
envolvimento com os pais e demais familiares nas decises. necessrio entendimento da
dinmica familiar e adaptao para o momento atual de desenvolvimento e cognio da
criana. A aquisio de conceitos de sade e doena inicia-se entre quatro e seis anos e a
compreenso de etiologia, preveno e cura desenvolvem-se a partir da (BREWSTER,
1982).
Baseado em todos estes fatores, o profissional deve atuar com integridade,
profissionalismo e tica buscando bom relacionamento, inclusive, com todos os membros
da equipe de sade. Trata-se de uma interveno centrada na relao, na qual todos os
envolvidos (mdico, paciente, familiares e equipe) so participantes ativos e conduzem
juntos as decises (RIDER, 2011).
Necessidades psicossociais motivaram at 65% das consultas de atendimento
primrio em pediatria e que 85% das mes de crianas na primeira infncia apreciam e no
se negam a responder questes relacionadas aos estressores emocionais no cuidado
(KAHN, 1999).
Os programas de treinamento para aprimorar comunicao com crianas,
adolescentes e seus familiares so pouco frequentes, tanto em forma de cursos de
17
capacitao ou atividades tericas quanto nas oportunidades de se observar a prtica
mdica diria desde a graduao at a residncia mdica (PEROSA, 2008).
Estudantes que possuem acesso a hospitais tercirios onde h uma grande
concentrao de crianas com patologias graves como, por exemplo, pacientes com
doenas oncolgicas, tem a oportunidade de observar experincias clnicas na
comunicao de ms notcias que, dependendo de como so retratadas e discutidas em
grupo, geram uma experincia prtica nica para sua formao. Estas experincias variaro
conforme as necessidades dos pacientes e a habilidade dos preceptores que conduzem os
atendimentos. So oportunidades diversas, menos freqentes e mais complexas que o
universo do indivduo adulto que lida com problemas de sade, pois, nestes casos, h uma
famlia cuidadora envolvida no processo de tomada de decises e autonomia (DUB,
2003).
Nos Estados Unidos, desde 1999 o Acreditation Council for Graduate Medical
Education (ACGME) prev em seu plano de ensino que mdicos residentes devem
aprimorar suas habilidades interpessoais de comunicao em sade. Da mesma forma, a
American Board of Medical Specialties (ABMS), a Federation of State Medical Boards e a
Joint Comission adicionam aos currculos a necessidade de incluir estas habilidades como
pr-requisitos da formao completa do aluno (RIDER, 2010).
Com o objetivo de avaliar competncias comunicativas de mdicos residentes em
Pediatria, inclusive a maneira com que so preparados para este contato, com objetivo de
adequar e melhorar o ensino mdico em Pediatria, o Departamento de Pediatria da Escola
de Medicina de Harvard elaborou e validou, com respaldo de equipe de conhecedores do
tema previamente atuante no ACGME (RIDER, 2006) o nico instrumento disponvel na
literatura, em formato de questionrio, baseado em outros instrumentos direcionados a
conduo de pacientes adultos (RIDER, 2008).
No questionrio, denominado Housestaff Communication Survey, (HCS) so
abordados temas como discusso acerca da terminalidade, lidar com paciente ou familiar
de difcil trato, falar com a criana sobre doenas graves, lidar com diferenas culturais e
psicossociais entre os doentes, entre outros.
Embora vrias instituies de ensino superior brasileiras ofeream currculos
mdicos com metodologias inovadoras de ensino-aprendizagem, a maioria ainda adota o
modelo flexneriano, que tende a reforar a neutralidade do mdico na relao com seu
18
paciente na medida em que prioriza a doena, o conhecimento fragmentado em disciplinas,
centrado no professor, baseado em aulas expositivas que visam primordialmente
competncia tcnico-cientfica (PAGLIOSA, 2007). Durante a formao terica e prtica
no h formalmente programas destinados a comunicao em sade tanto no contedo
programtico do curso mdico quanto nos programas de residncia mdica.
Diante da escassez de to relevante tema durante a formao do mdico geral e
principalmente do pediatra nos currculos tradicionais brasileiros, verificar as deficincias
de comunicao dos mdicos, tanto em formao acadmica geral quanto na sua
especializao e durante a sua carreira como Pediatra torna-se fundamental na busca de
melhorias de ensino e educao mdica continuada.
19
2. OBJETIVOS
Traduzir, adaptar culturalmente para o Brasil e validar o instrumento Housestaff
Communication Survey de avaliao de habilidades em comunicao na
Pediatria.
Avaliar a importncia das habilidades comunicativas, a confiana em
comunicar-se e o suporte oferecido para o ensino bem como a manuteno das
condies adequadas de comunicao.
20
3. METODOLOGIA
3.1 ESTUDO
Este um estudo transversal aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da
Universidade Federal de Uberlndia (UFU) em 11/06/2010 (Protocolo CEP/UFU 166/10
Anexo A).
Foi obtida previamente a permisso da autora do questionrio Housestaff
Communication Survey (Dra Elizabeth Rider Anexo B) para utilizao no estudo. O
processo de traduo, adaptao cultural e validao foi conduzido em trs etapas:
traduo, pr-teste e validao. De julho a dezembro de 2010 foi realizado o processo de
traduo. Em janeiro e fevereiro de 2011 o pr teste e de fev a junho de 2011 a validao.
3.2 PARTICIPANTES
A amostra elegvel para este estudo incluiu todos os possveis participantes da
instituio e era composta por 200 indivduos entre mdicos assistentes, colaboradores ou
docentes em Pediatria do Hospital de Clnicas da UFU, atuantes nos setores de Pronto
Socorro, Enfermaria, Berrios, Ambulatrios, UTI Neonatal e Peditrica (n= 70), mdicos
residentes em Pediatria do primeiro ao quarto ano (n=30) e estudantes do 10., 11. e 12.
perodos da graduao em Medicina que j tivessem cumprindo estgio supervisionado
regulamentar na Pediatria (n=100).
No pr-teste, a verso pr-final do questionrio foi auto-aplicada, por convenincia,
a 10 indivduos (3 mdicos pediatras, 4 mdicos residentes em Pediatria e 3 estudantes de
medicina) .
Para a realizao da reprodutibilidade pelo teste-reteste, 31 participantes (16
pediatras e residentes em Pediatria e 14 estudantes de Medicina) foram convidados a
responder novamente o questionrio traduzido aps 15 a 30 dias da primeira participao.
Foram excludos do estudo participantes que se recusaram a preencher o
instrumento e profissionais afastados de suas atividades habituais durante o perodo do
estudo.
21
Questionarios com mais de 20% de itens no respondidos tambm foram excludos
da anlise.
3.3 INSTITUIO
A FAMED-UFU adota o ensino mdico tradicional pelo currculo flexneriano com
durao de seis anos, sendo dois anos de cincias bsicas, dois anos e meio de treinamento
clnico e um ano e meio de treinamento supervisionado em servio (internato) quando os
estudantes tero contato mais duradouro com os pacientes e seus familiares, sendo um ano
em ambiente hospitalar e seis meses em ambiente ambulatorial.
Durante a formao terica e prtica no h formalmente na matriz curricular
programas destinados a comunicao em sade. Estes temas so abordados de maneira
breve em disciplinas como tica e Psicologia Mdica durante o quarto e quinto anos da
faculdade (stimo, oitavo e nono perodos).
Para a Pediatria, o tempo dedicado a formao terica de 150 horas tericas e
216 horas prticas de semiologia e puericultura (6,8% do total de horas ) mais 835 horas
de prtica no internato (24,8% do total de horas), o que equivale a um contato com a
disciplina em 13,3% das horas de todo curso mdico da instituio. No h disciplinas
optativas na rea e todos os mdulos so obrigatrios a todos os estudantes. A sala de
aula o principal local de exposio terica e os alunos so avaliados por seu
desempenho cognitivo em provas tericas. A auto-avaliao no utilizada como
estratgia avaliativa, nem para o aluno nem para o docente.
J o programa de residncia mdica em Pediatria da instituio segue as
normatizaes da Comisso Nacional de Residncia Mdica (CNRM), que atravs da
resoluo CNE/CES no2, de 17 de maio de 2006 estabelece a formao do pediatra
generalista em dois anos, sendo o primeiro ano com 20% de carga horria anual em
unidade de internao, atendendo de 5 a 10 pacientes/dia, 40% de carga horria anual
em ambulatrios de ateno primria, 10% da carga horria anual para servios de
urgncia e emergncia e 10% da carga horria anual em neonatologia. No segundo ano,
a unidade de internao ocupa 20%, ambulatrios 25%, urgncia e emergncia 15%,
neonatologia 10% e cuidados intensivos 10% da carga horria anual.
22
Em ambos os anos destina-se 20% da carga horria anual para cursos tericos,
sendo matrias obrigatrias ateno peri-natal (binmio me-feto e reanimao
neonatal), treinamento em aleitamento materno, controle de infeco hospitalar,
controle de doenas imunoprevenveis, preveno de acidentes na infncia e na
adolescncia, crescimento e desenvolvimento e ateno a sade do adolescente. No h
obrigatoriedade ou meno a comunicao em sade no contedo programtico.
(COMISSO NACIONAL DE RESIDNCIA MDICA, 2006)
3.4 PROCEDIMENTO
As etapas de traduo do instrumento ocorreram em um Centro de Lingustica
sediado na cidade de Uberlndia MG e por meios eletrnicos para realizao do mtodo
Delphi e das correes lingusticas.
Aps a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), os Os
participantes responderam de forma auto-aplicada um questionrio elaborado para
identificar variveis scio-demogrficas como idade, sexo, ocupao/ ano de curso da
Medicina, subespecialidade peditrica, ano de graduao, ano de especializao, setor
prioritrio de trabalho e formao com ps-graduao quando aplicveis. O questionrio
tambm continha uma pergunta sobre capacitao em comunicao na Pediatria.
(Apndice B)Todos os profissionais e estudantes foram abordados pessoalmente durante
suas atividades dirias para participao, com agendamento de momento oportuno para
auto-resposta do instrumento.
Na traduo, adaptao cultural e validao no Brasil foi optada, com aval da
autora, pela aplicao do instrumento, com as devidas adaptaes, no s para mdicos
residentes como tambm para estudantes de Medicina e Pediatras por julgar-se este tema
relevante durante todo processo de formao do profissional mdico.
Para a realizao do pr-teste, a verso pr-final do questionrio foi auto-aplicada, ,
a 10 indivduos (3 mdicos pediatras, 4 mdicos residentes em Pediatria e 3 estudantes de
medicina) e, para a realizao da reprodutibilidade pelo teste-reteste, 31 participantes (16
pediatras e residentes em Pediatria e 14 estudantes de Medicina) foram convidados a
responder novamente o questionrio traduzido aps 15 a 30 dias da primeira participao,
tambm por convenincia.Tanto os participantes do pr-teste quanto os participantes do
teste-reteste foram escolhidos por convenincia.
23
3.5 INSTRUMENTO DE MEDIDA
3.5.1 HOUSESTAFF COMMUNICATION SURVEY (HCS)
O instrumento em lngua inglesa utilizado possui ttulo original Housestaff
Communication Survey (RIDER, 2008) (Anexo C)
Trata-se de um questionrio desenvolvido por membros do Institute of Ethical and
Professionalism ligado ao Departamento de Pediatria da Harvard Medical School, baseado
em revises de literatura e outros questionrios de comunicao em sade que foi revisado
por conhecedores da rea para validao de face.
O HCS conta com doze itens referentes ao suporte oferecido pela instituio durante
a formao do residente e na prtica diria do profissional pediatra alm de dezesseis itens
em uma escala de importncia de determinadas atitudes na prtica mdica e os mesmos
dezesseis itens em uma escala de confiana para realizar tais atitudes.
Os escores so distribudos em escalas de cinco pontos de Likert, que variam, para o
suporte institucional, entre discordo totalmente e concordo totalmente, para a escala de
importncia, entre importncia muito baixa e importncia muito alta e para a escala de
confiana, entre nada confiante e muito confiante.
Este instrumento foi criado primariamente para avaliar atitudes de residentes de
Pediatria em relao comunicao em sade, a percepo que tinham da importncia
deste tema em sua formao mdica, a confiana que possuam em suas habilidades em
comunicao alm do suporte institucional que recebiam para aprimoramentos.
3.6 TRADUO
A metodologia de traduo e validao transcultural do Housestaff Communication
Survey foi realizada de acordo com as normas internacionais de traduo de instrumentos
(EREMENCO, 2005; ACQUADRO, 2008; BEATON, 2000), respeitando-se as seguintes
etapas:
24
1 ETAPA : TRADUO INICIAL
A traduo do HCS da verso de origem (ingls) para a lngua-alvo (portugus) foi
realizada por dois tradutores (T1 e T2) profissionais bilnges, nativos da prpria lngua-
alvo, sem formao mdica, sem conhecimento prvio dos conceitos contidos na escala, de
forma independente e simultnea, com o objetivo de obter uma traduo com linguagem
prxima da utilizada pela populao em geral e de destacar os significados ambguos da
escala de origem.
2 ETAPA : RECONCILIAO DE TRADUES
Os tradutores trabalharam juntos, com o auxlio dos pesquisadores, para produzir
uma verso nica da primeira traduo. Nesta reconciliao tambm foram anotadas as
principais dificuldades em sintetizar as duas verses em uma. Com isso, foi possvel
oferecer maior objetividade ao processo, outras possveis interpretaes, resolver qualquer
discrepncia e assegurar compatibilidade lingustica entre as duas tradues.
3 ETAPA : RETRO-TRADUO/ BACK-TRANSLATION
Um tradutor nativo em regio de lngua inglesa, fluente em lngua portuguesa, sem
envolvimento com os passos anteriores de traduo, com nvel superior e algum
conhecimento em Cincias da Sade traduziu novamente a verso conciliada para a Lngua
Inglesa, verificando-se aqui as principais dificuldades em retornar o questionrio ao
formato original.
Esta verso foi apresentada autora do questionrio original que fez apontamentos
sobre a verso retrotraduzida antes do consenso final.
4 ETAPA : REVISORES INDEPENDENTES/ MTODO DELPHI
25
Um comit formado por 6 participantes, dentre eles todos os tradutores, autores do
projeto e conhecedores do tema proposto, foi convidado a analisar conjuntamente as
tradues (1 e 2), a reconciliao, a retro-traduo, a verso original e os comentrios da
autora, atravs da Tcnica Delphi modificada, com o principal propsito de avaliar a
equivalncia semntica, idiomtica, experimental e conceitual entre a escala original, a
retro-traduo e a verso alvo.
A tcnica Delphi modificada (Delphi eletrnico para tomada de deciso) baseou- se
na construo estruturada de questionrios por dois coordenadores, com questes
quantitativas e qualitativas, contendo todas as etapas anteriores de traduo, comentrios
do autor e a escala original (HSU, 2007).
Os anexos dos questionrios foram enviados por correspondncia eletrnica (e-
mail) para os revisores que foram solicitados a responder o formulrio em um tempo
mximo de dez dias.
A cada rodada foram respeitadas as principais caractersticas do mtodo: o
anonimato dos respondentes, a representao estatstica da distribuio dos resultados, por
meio da porcentagem de concordncia entre os revisores e a retroalimentao (feedback)
das respostas do grupo para reavaliao nas rodadas subseqentes .
Na primeira rodada, os revisores escolhiam a melhor entre as opes de traduo (1
e 2) e a reconciliao, de acordo com o seu conhecimento e as observaes feitas pelo
autor, e expressavam a sua justificativa ou sugesto quando aplicvel. A segunda rodada
foi feita a partir das anlises dos resultados da primeira rodada e assim sucessivamente
para as demais rodadas, para identificar convergncia e mudana nos julgamentos e
opinies dos respondentes (HASSON, 2000).
A mdia e o desvio padro das respostas possveis foram calculados em cada item e
em cada rodada, para identificar as mudanas de opinio dos revisores e o grau de
concordncia entre as rodadas. A mdia como uma medida de tendncia central representa
a opinio do grupo do painel e o desvio padro, como uma medida de disperso, o grau de
concordncia com o painel (GREATOREX, 2000).
Os itens que obtiveram 100% de concordncia na primeira rodada (mesma opinio
e total concordncia entre os revisores) no receberam aplicao da tcnica Delphi.
O processo foi encerrado com base nos critrios predefinidos de finalizao:
consenso mnimo de 80% de concordncia entre os revisores ou estabilidade das respostas
atravs das rodadas (manuteno da mesma porcentagem de escolha do item pelos
26
revisores e da mdia e do desvio padro das respostas possveis) a partir da segunda
rodada, verificada em um nmero mximo de quatro rodadas.
Portanto, o consenso pode ser atingido completamente em cada rodada ou
alcanado mais tarde como resultado do processo Delphi que capaz de detectar mudanas
de opinio e concordncia dos revisores entre as rodadas. Isso contribui para a obteno
de uma deciso final de melhor qualidade e mais confivel (GREATOREX, 2000;
HASSON, 2000).
5 ETAPA : PROCESSO FINAL DE REVISO E VERIFICAO
GRAMATICAL
Os pesquisadores e um coordenador de linguagem avaliaram discrepncias entre os
revisores para definio da verso pr final de cada item.
6 ETAPA : PR-TESTE
O pr-teste tem como finalidade identificar e corrigir possveis tradues reversas
(significado oposto ao item original) e erros de traduo (sem correspondncia ao
significado do item em ingls), alm de propiciar neste momento a validao de face do
contedo global do questionrio.
Para tanto, foram selecionados por convenincia 10 sujeitos (5%) da populao do
estudo nesta etapa. Os participantes responderam o TCLE, o questionrio demogrfico e o
instrumento traduzido.
A anlise qualitativa foi realizada por meio de duas breves entrevistas :
A - Entrevista retrospectiva
A entrevista retrospectiva teve como objetivo analisar, de forma geral, a verso pr-
final. Os sujeitos foram questionados se: apresentaram dificuldade na compreenso dos
itens, identificaram itens irrelevantes ou ofensivos e gostariam de acrescentar outros
itens/tpicos/temas ou outros comentrios.
27
B - Entrevista cognitiva
A entrevista cognitiva teve como objetivo assegurar que o significado dado a cada
item pelo autor da escala seja o mesmo entendido pelo entrevistado. Os sujeitos foram
solicitados a identificar, em cada item, problemas na sua interpretao e possveis
alternativas de traduo. A entrevista cognitiva parte fundamental do processo de
adaptao cultural do instrumento.
7 ETAPA : INCORPORAO DOS RESULTADOS DO PR-TESTE
NO PROCESSO DE TRADUO.
As observaes do pr-teste foram compiladas, tabuladas e caso houvesse resposta
maior que 20% em alteraes em cada item, este item seria modificado de acordo com a
sugesto oferecida.
Este instrumento foi novamente submetido a reviso lingustica para finalmente
obtermos a verso final para validao.
Em cada etapa do processo (traduo, pr-teste e comentrios dos avaliadores) foi
realizado um relatrio para registrar as informaes obtidas.
3.7 PROPRIEDADES PSICOMTRICAS
Foram avaliadas na validao as seguintes propriedades psicomtricas: qualidade
dos dados, confiabilidade e validade de face.
3.7.1 QUALIDADE DOS DADOS
A anlise da qualidade dos dados verificou o percentual de dados perdidos e a
validade de face.
28
3.7.1.1 DADOS PERDIDOS
Dados perdidos referem-se proporo de participantes que no completaram pelo
menos um item da escala. Quanto menor a taxa de itens no preenchidos melhor a
qualidade dos dados, refletindo maior aceitabilidade e compreenso das questes pelos
participantes. A taxa de resposta igual ou acima de 80% considerada aceitvel
(McHORNEY, 1994).
3.7.2 CONFIABILIDADE
A confiabilidade estima a acurcia ou preciso do instrumento (GUYATT, 1997) e
refere-se ao grau em que os escores esto livres de erros de medida (McHORNEY, 2004).
A avaliao da confiabilidade foi realizada por meio da confiabilidade teste-reteste e
confiabilidade da consistncia interna.
3.7.2.1 REPRODUTIBILIDADE DO TESTE-RETESTE
A reprodutibilidade do teste-reteste mede a correlao entre avaliaes em dois
pontos no tempo e refere-se a quanto os mesmos escores podero ser obtidos quando o
instrumento aplicado mesma pessoa em ocasies diferentes (em geral, em duas
semanas), o que permite verificar a reprodutibilidade da escala. Os sujeitos so avaliados
com o mesmo instrumento, mas em ocasies diferentes, o que permite controlar apenas as
varincias de contedo relacionadas amostragem de tempo. As fontes de erro presentes
nesse tipo de estudo referem-se desateno por parte dos respondentes, s respostas
aleatrias, a um possvel processo de aprendizagem dos examinados, dentre outros
(RUEDA, 2008).
A escala foi reaplicada em 31 indivduos (15 estudantes de medicina e 16 mdicos
pediatras e residentes de Pediatria) e a confiabilidade teste-reteste verificada por meio do
coeficiente de correlao intraclasse (CCI).
29
O CCI, uma medida de proporo de varincia que atribuda ao objeto de medida,
foi estimado por meio da anlise de varincia considerando o modelo de um fator com
efeitos aleatrios (One- Way Random Effects Model). Valores de CCI abaixo de 0,4 so
considerados como pobre, entre 0,4 e 0,75, moderada para boa, e acima de
0,75,excelente confiabilidade. (LASCHINGER, 1992).
3.7.2.2 CONSISTNCIA INTERNA
A confiabilidade da consistncia interna refere-se ao grau de inter-correlao entre os
itens em uma escala, a qual mensurada por meio do coeficiente alfa Cronbach que
afetado pelo nmero e inter-correlao dos itens, bem como pela dimensionalidade da
escala. Coeficientes entre 0,5 a 0,7 (ou maiores) so recomendados com o propsito de
comparar grupos (McHORNEY, 1994). O coeficiente de alfa Cronbach com intervalo de
confiana a 95% (IC 95%) foi calculado para o total da amostra e para cada subgrupo
(mdicos residentes, estudantes de medicina e pediatras).
3.7.3 VALIDADE DE FACE
A validade de rosto ou de face, realizada durante o pr-teste, uma descrio
tcnica de julgamento realizada pelos participantes que indica se, na sua aparncia, o
instrumento parece avaliar as qualidades desejadas e medir o conceito proposto. A validade
de face do questionrio aqui traduzido tambm foi realizada pelo comit de especialistas
que elaborou a verso original em ingls (RIDER, 2008; VIANA, 2008).
3.8 HABILIDADES DE COMUNICAO
Os escores obtidos das escalas de importncia e confiana do HCS foram
comparados segundo o respondente (mdicos, residentes ou estudantes), o gnero e a
idade. Os dados referentes ao suporte institucional oferecido foram descritos em
percentuais.
30
Nas escalas de importncia e confiana, os percentuais de cada item de
importncia alta ou muito alta foram comparados com os percentuais assinalados como
confiante ou muito confiante.
3.9 ANLISE ESTATSTICA
A anlise descritiva foi utilizada para referir os dados scio-demogrficos dos
participantes. Estes dados foram representados por estatstica no-paramtrica, uma vez
que no apresentaram distribuio normal por meio do teste de Lilliefors.
Os dados perdidos foram avaliados em percentual de questes no respondidas em
relao ao total de questes possveis.
A consistncia interna foi verificada pelo coeficiente alfa Cronbach e a
confiabilidade do teste-reteste, pelo coeficiente de correlao Intra-Classe (CCI).
As escalas de importncia e confiana do HCS foram comparadas em relao ao
subgrupo (mdicos, residentes e estudantes), idade e ao gnero por meio das anlises de
varincia (ANOVA), do Teste t e da correlao de Pearson, respectivamente. Nas mesmas
escalas, atravs de teste binomial com duas variveis independentes, comparou-se a
relao entre o percentual de importncia alta/ muito alta e o de confiante/ muito confiante
para cada item das escalas .
O nvel de significncia estatstica considerado foi p < 0,05 .
O programa SPSS Statistics v 10.0 para Windows foi utilizado para as anlises
estatsticas da maioria dos itens, a anlise binomial foi realizada no programa Bioestat e as
avaliaes das etapas Delphi foram realizadas no Excell
31
4. RESULTADOS
4.1 PROCESSO DE TRADUO
4.1.1 TRADUO, RECONCILIAO E RETROTRADUO
O questionrio original em lngua inglesa foi enviado aos dois tradutores bilngues
para as primeiras tradues por meio eletrnico (e-mail).
As duas tradues foram compiladas e reconciliadas pelos pesquisadores e por
conhecedores da rea.
Esta verso reconciliada foi retrotraduzida para a lngua inglesa e reenviada para
avaliao e comentrios da autora. (Apndice 3)
4.1.2 APONTAMENTOS DA AUTORA
A autora fez consideraes a respeito de discrepncias entre o questionrio original
e o retrotraduzido.
A maioria das consideraes estavam relacionadas a semntica e no ao contedo e
foram consideradas variaes ocorridas apenas pelo processo de retorno para a lngua de
origem.
Entretanto, no primeiro item referente ao suporte institucional para boa comunicao
em sade (Learning how to communicate effectively with parents is priority for me) o
termo original parents foi retrotraduzido para family members e a autora sugeriu que
fosse mantida a expresso pais ao invs de membros da famlia j que a primeira
opo bem corriqueira e adequada em Pediatria. (Apndice 4 )
A sugesto da autora foi acatada pelo grupo de pesquisadores antes de iniciar o
consenso pelo mtodo Delphi .
32
4.1.3 CONSENSO PELO MTODO DELPHI MODIFICADO
Foram listadas para submeterem-se ao consenso Delphi modificado 38 afirmaes
referentes ao questionrio original que incluam alm dos itens das escalas de importncia,
confiana e suporte institucional, as orientaes de preenchimento do questionrio, o ttulo
e as escalas Likert.
Participaram do painel de consenso os trs tradutores envolvidos desde o incio do
processo de traduo e trs mdicos com experincia em traduo, comunicao em sade
e medicina baseada em evidncias.
Foram realizadas quatro rodadas para obteno de consenso entre os painelistas. Na
primeira rodada era possvel realizar sugestes de respostas, a serem avaliadas
subsequentemente por todos os painelistas.
Os painelistas receberam instrues de preenchimento e o questionrio original em
lngua inglesa em todas as rodadas, alm das opes de traduo elegveis para cada item.
Na primeira rodada de respostas (Apndice 5) oito itens obtiveram consenso de
mais de 80% e no foram includos na segunda rodada. Nesta etapa foi dada opo ao
painelista de sugerir, em questo aberta, uma nova verso de traduo alm das listadas no
item. Esta sugesto deveria vir acompanhada de uma justificativa para esta mudana. Dos
38 itens, sete receberam uma sugesto cada de reestruturao de frase e cinco itens
receberam duas sugestes. Dois painelistas fizeram comentrios adicionais ao trmino das
respostas, ambos referindo a dificuldade dos profissionais tradutores em sugerir mudanas
em assuntos dos quais no dominavam tecnicamente. Dois painelistas no acrescentaram
nenhum tipo de comentrio.
Os itens sugeridos foram incorporados na segunda rodada de respostas e puderam
ser escolhidos pelos demais painelistas, inclusive como a melhor verso final de consenso.
Dos 30 itens submetidos a anlise de consenso na segunda rodada, oito atingiram
consenso, um deles de 100%. A partir desta rodada no havia mais possibilidade de sugerir
novas verses de traduo do item ou justificativas de escolha daquele item. O apndice 6
contm todos os grficos e tabelas com as mdias e desvios padro de cada item em todas
as rodadas em que foi includo, exceto os consensos em primeira rodada.
A figura 1 exemplifica item que obteve consenso de respostas na segunda rodada. A
diminuio do desvio padro indicativo da evoluo para consenso do painel.
33
Figura 1 : Mdias e desvios padro a cada rodada do item 11
Vinte e dois itens seguiram para a terceira rodada de respostas com mais oito
consensos, sendo quatro de 100%. A figura 2 exemplifica item que obteve consenso de
respostas na terceira rodada. Nesta rodada cinco itens estabilizaram resposta desde a
primeira rodada em 66,7% dos respondedores. As alternativas de traduo com esta
estabilizao de resposta forma consideradas consenso e no mais listadas na quarta etapa.
Um item apresentou discordncia desde a primeira rodada e tambm foi retirado da etapa
seguinte para definio de consenso pela linguista (item 29).
Figura 2 : Mdias e desvios padro a cada rodada do item 3
34
Os oito itens que seguiram para a quarta rodada dividiram-se cinco para consenso,
quatro deles de 100% e trs mantiveram estabilizao de concordncia sem consenso de
respostas. A figura 3 exemplifica item que obteve consenso de respostas na quarta rodada,
enquanto a figura 4 exemplifica item sem consenso e estabilizao de resposta. A figura 5
exemplo de item que manteve a discordncia (aumento do desvio padro ao longo das
respostas) no decorrer do painel.
Figura 3 : Mdias e desvios padro a cada rodada do item 13
Figura 4 : Mdias e desvios padro a cada rodada do item 33
35
Figura 5 : Mdias e desvios padro a cada rodada do item 23
As figuras 6 a 9 representam a disperso dos desvios padro de cada item por
rodada. Nas rodadas do mtodo Delphi modificado, a medida em que obtinha-se
diminuio do desvio padro entre as respostas de cada painelista possibilitou-se consenso
na maioria dos itens a fim de refinar o processo de traduo.
Figura 6 : Disperso dos desvios padro de cada item na primeira rodada Delphi
36
Figura 7 : Disperso dos desvios padro de cada item na segunda rodada Delphi
Figura 8 : Disperso dos desvios padro de cada item na terceira rodada Delphi
37
0
0,5
1
1,5
2
2,5
0 1 2 3 4 5 6
Mdia
De
svio
Pad
ro
desvios padro
Figura 9 : Disperso dos desvios padro de cada item na quarta rodada Delphi
Nos itens com estabilizao de resposta acima de 50% foram adotadas as respostas
de maior percentual. Para os itens com estabilizao de resposta em at 50% ou
discordncia optou-se por consenso entre os pesquisadores e a linguista envolvida na
prxima etapa.
4.1.4 PR-TESTE E ENTREVISTAS COGNITIVA E
RETROSPECTIVA
A verso resultante das etapas do mtodo Delphi modificado foi avaliada por
linguista com experincia em traduo que opinou sobre os itens com establizao de
consenso, ajustou concordncias e gerou a verso traduzida para o pr-teste (Apndice 7).
Esta verso foi anexada ao questionrio scio-demogrfico e ao TCLE e aplicada
para dez indivduos elegveis para o estudo (5% da amostra), sendo estes trs estudantes,
quatro mdicos residentes e trs pediatras.
Aps responderem as questes todos participaram de entrevista cognitiva e
retrospectiva baseada em roteiro estruturado. Em cada questo havia opo no se aplica
para que o entrevistado optasse por considerar aquele tpico irrelevante no contexto das
questes. (Apndice 8)
38
Durante as entrevistas do pr-teste foram apontadas 33 sugestes de modificao
nas questes, sete para ajustes de redao para melhor entendimento.
Para permitir que alm de residentes tambm estudantes de medicina e pediatras
respondessem o questionrio, no item que se referia ao departamento do residente optou-
se por inserir o termo instituio. O item 12 referente ao suporte institucional (I teach
my medical students to show respect for their patients) no foi avaliado quando
respondido por um estudante. Da mesma forma, o ttulo dirigia-se ao housestaff e a
traduo necessitou ser literal para contemplar mdicos/ estudantes de medicina. As
escalas de importncia e confiana no sofreram adaptaes neste sentido.
Todos participantes aprovaram o layout de distribuio dos itens e entenderam o
questionrio, as escalas de Likert e consideram os itens pertinentes para sua prtica diria.
4.1.5 REVISES LINGUSTICAS E VERSO FINAL
Os sete itens com sugesto de ajuste de redao foram compilados e discutidos com
a linguista (Apndice 9) para a verso final de traduo (Apndice 10).
Alguns exemplos dos procedimentos de traduo esto compilados na tabela 1, a
qual diferencia termos originais, termos em portugus de acordo com os dois tradutores
independentes (T1 e T2), termos resultantes da retrotraduo e a verso final, aps a
tcnica Delphi, o pr-teste e a avaliao lingstica (Tabela 1).
39
Tabela 1: Exemplos do processo de traduo, reconciliao e retrotraduo de itens ou palavras do questionrio
Original
Traduo T1 Traduo T2 Retrotraduo (TB) Verso Final em Portugus
answers respostas respostas responses respostas
efectively eficientemente efetivamente effective eficientemente
rewards requer incentiva stimulates incentiva
housestaff residentes funcionrios clinical staff mdicos/estudantes de Medicina
caring cuidado sensibilidade sensitivity considerao
building rapport estabelecer relaes desenvolver inter-
relao positiva
establish positive
relationships estabelecer relaes
cultural
awareness/
sensitivity
conscincia/
sensibilidade cultural
percepo/
sensibilidade
cultural
cultural
perceptivity/
sensitivity
conscincia da diversidade cultural
e sensibilidade para lidar com ela
4.2 AMOSTRA
Dos duzentos indivduos convidados a participar do estudo, 182 responderam ao
questionrio (91%): 79 (43,4%) eram estudantes da Faculdade de Medicina da UFU (idade
mdia 25 anos; DP= 1,85), 29 (16%) mdicos residentes de Pediatria (idade mdia 27,7
anos; DP= 2,377) e 74 (40,6%) mdicos pediatras. A maioria era do sexo feminino
(67,6%). As caractersticas scio-demogrficas dos pediatras esto descritas na tabela 2.
A maioria dos sujeitos (89%) eram formandos ou formados pela UFU e no
possuam capacitaes prvias para melhorias de comunicao com os pacientes (94,5%).
Dez participantes declararam j possuir algum contato de capacitao com o tema : quatro
no Programa de Educao Permanente da Estratgia Sade da Famlia, quatro em
seminrios de educao continuada e um durante sua formao de ps graduao em outra
instituio. Um participante no referiu o local deste contato e nenhum deles descreveu
carga horria envolvida nestas atividades.
A taxa de resposta foi de 91% (182/200) sendo a maioria dos que no responderam
(77%) proveniente da populao de estudantes que fazem estgios externos Universidade
e no puderam participar na ocasio da aplicao dos questionrios. Todos os residentes
responderam o questionrio e seis mdicos no responderam : quatro se recusaram e dois
40
estavam de frias ou licena no momento da aplicao. Dois questionrios respondidos
foram excludos, pois havia mais de 20% de itens no respondidos em cada um deles.
Tabela 2 : Caractersticas scio-demogrficas dos pediatras
Caracterstica Valores numricos e percentuais
Idade mdia (anos) (DP) 46,3 (9,2)
Sexo feminino, n (%) 53,0 (71.6)
Especialidade, n (%)
neonatologista
pediatra geral
intensivista peditrico
demais especialidades
24,0 (32,4)
19,0 (25,6)
13,0 (17,6)
18,0 (24,4)
Local prioritrio de Trabalho, n (%)
Ambulatrio
UTI neonatal
UTI peditrica
Demais locais
26,0 (35,0)
21,0 (28,4)
13,0 (17,6)
14,0 (19,0)
Tempo de formatura mdio (anos) (DP) 22,0 (9,3)
Tempo como pediatra mdio (anos) (DP) 18,8 (9,6)
Ps Graduao , n (%)
mestrado
doutorado
16,0 (22,0)
12,0 (75,0)
4,0 (25,0)
4.3 DADOS PERDIDOS
Dos 8293 itens a serem respondidos pelo grupo de participantes, 25 itens (0,3%)
deixaram de ser assinalados. A questo com maior perda (seis itens) foi a 12. da primeira
41
parte ( " ensino a alunos de Medicina a demonstrarem respeito por seus pacientes") a qual
no se aplicava no caso dos alunos e deixou de ser respondida por seis mdicos residentes.
4.4 CONFIABILIDADE DAS ESCALAS
As escalas de Importncia e Confiana possuem avaliao por escala tipo Likert de
5 itens. O coeficiente de confiabilidade alfa Cronbach foi calculado para cada escala e
para cada subgrupo (estudantes de Medicina, residentes e pediatras) e est descrito na
tabela 3 .
Tabela 3 : Coeficiente de confiabilidade alfa Cronbach geral e por subgrupos
Grupo Escala de Importncia Escala de Confiana
Estudantes de Medicina 0,899 0,853
Mdicos Residentes 0,944 0,909
Pediatras 0,954 0,923
Total 0,929 0,892
4.5 TESTE E RETESTE
No processo de validao foi realizada a aplicao do teste e reteste das escalas de
importncia e confiana. O reteste foi aplicado a 17% da amostra (31 participantes) num
perodo de 15 a 30 dias aps o teste. O reteste foi aplicado aleatoriamente para estudantes,
mdicos residentes e mdicos assistentes/ docentes.
Foi obtido o coeficiente de correlao intraclasse (CCI) para a escala de
importncia (CCI= 0,796) e para a escala de confiana (CCI= 0,792).
42
4.6 ATITUDES EM COMUNICAO
Os participantes referem em 95% das avaliaes que incluem entre as prioridades
de sua formao aprender a comunicar-se eficientemente com seus pacientes.
Noventa e oito por cento refere que as habilidades em comunicao entre mdicos/
estudantes de Medicina e pacientes e entre mdicos/ estudantes de Medicina e demais
profissionais da sade poderiam ser aprimoradas. Igual percentual de participantes refere
ser importante demonstrar e ensinar alunos a demonstrarem empatia, considerao e
respeito por seus pacientes.
4.7 IMPORTNCIA DAS HABILIDADES EM COMUNICAO
Todos os itens da escala de importncia foram considerados de importncia alta ou
muito alta para os participantes, variando de 93 a 99% item a item (figura 10).
O item avaliado com maior escore (99%) foi a habilidade de se comunicar de forma
eficaz com os pacientes e o item de menor percentual (93%) foi a conscincia da
diversidade cultural e sensibilidade para lidar com ela.
43
Figura 10: Percentual de participantes que relatou as habilidades em comunicao como importantes e a confiana que possuem para desenvolver cada item (n=182)
0 20 40 60 80 100
Capacidade para conversar com crianas sobre doenas graves
Capacidade para discutir o fim da vida com pacientes ou familiares
Capacidade de interagir com pacientes ou familiares de difcil trato
Capacidade de lidar com as emoes dos pacientes
Capacidade de informar o paciente de um diagnstico ruim
Capacidade de perceber suas prprias reaes frente aos pacientes
Habilidade para entrevistar adolescentes
Capacidade de entender aspectos psicossociais do cuidado com o paciente
Conscincia da diversidade cultural e sensibilidade para lidar com ela
Capacidade de compreender a perspectiva dos pacientes sobre suas doenas
Habilidade para entrevistar crianas
Capacidade de estabelecer relaes com os pacientes
Habilidade de se comunicar de forma eficaz com seus pacientes
Habilidade para entrevistar familiares
Capacidade de demonstrar empatia e considerao para com os pacientes
Capacidade de ouvir o paciente
Importncia alta/ muito alta Confiante/ muito confiante
44
Tabela 4 : Percentual de participantes que relatou sentir-se confiante ou muito confiante em cada item de
comunicao
Confiante/
muito confiante (%)
Capacidade para conversar com crianas sobre doenas graves 22,7
Capacidade para discutir o fim da vida com pacientes ou familiares 28,0
Capacidade de interagir com pacientes ou familiares de difcil trato 36,8
Capacidade de lidar com as emoes dos pacientes 47,8
Capacidade de informar o paciente de um diagnstico ruim 47,8
Capacidade de perceber suas prprias reaes frente aos pacientes 58,2
Habilidade para entrevistar adolescentes 59,9
Capacidade de entender aspectos psicossociais do cuidado com o paciente 60,4
Conscincia da diversidade cultural e sensibilidade para lidar com ela 67,0
Capacidade de compreender a perspectiva dos pacientes sobre suas doenas 67,1
Habilidade para entrevistar crianas 69,2
Capacidade de estabelecer relaes com os pacientes 82,4
Habilidade de se comunicar de forma eficaz com seus pacientes 85,2
Habilidade para entrevistar familiares 85,7
Capacidade de demonstrar empatia e considerao para com os pacientes 90,0
Capacidade de ouvir o paciente 90,1
4.8 CONFIANA EM EXECUTAR AS HABILIDADES EM
COMUNICAO
Dos dezesseis itens avaliados, mais de 60% dos participantes avaliaram-se
confiantes ou muito confiantes em executar nove deles (figura 10).
Nos demais itens metade ou menos dos participantes sentem-se confiantes ou muito
confiantes, principalmente para conversar com crianas sobre doenas graves, discutir o
fim da vida com pacientes e familiares, interagir com pacientes ou familiares de difcil
trato, lidar com as emoes dos pacientes e informar um diagnstico ruim (tabela 4).
Atravs de teste binomial com duas variveis independentes verificou-se a relao
entre o percentual de importncia alta/ muito alta e o de confiante/ muito confiante
para cada item das escalas (tabela 5). Os dados evidenciam que todos os itens possuem
45
diferena estatisticamente significativa entre o percentual de importante/ muito
importante em relao ao percentual de confiante/ muito confiante.
Tabela 5 : Relao entre o percentual de importncia alta/ muito alta e o de
confiante/ muito confiante para cada item das escalas
Item Importncia alta /
Muito alta n (%)
Confiante/
Muito Confiante n (%) p
1 181 (99,4) 155 (85,2) < 0,0001
2 177 (97,2) 122 (67,1) < 0,0001
3 179 (98,4) 164 (90,1) 0,0007
4 178 (97,8) 87 (47,8) < 0,0001
5 169 (92,9) 110 (60,4) < 0,0001
6 178 (97,8) 164 (90) 0,0021
7 174 (95,6) 106 (58,2) < 0,0001
8 168 (92,8) 150 (82,4) 0,0045
9 171 (94) 67 (36,8) < 0,0001
10 175 (96,2) 126 (69,2) < 0,0001
11 176 (96,8) 156 (85,7) 0,0002
12 176 (96,7) 109 (59,9) < 0,0001
13 178 (97,8) 51 (28) < 0,0001
14 172 (94,6) 41 (22,7) < 0,0001
15 169 (92,8) 122 (67) < 0,0001
16 178 (97,8) 87 (47,8) < 0,0001
Os resduos da anlise de varincia apresentaram distribuio normal (teste de
Kolmogorov-Smirnov). Procedida, ento, anlise univariada ANOVA e o Teste de Tukey
para verificar diferenas nos escores mdios das escalas de importncia e confiana entre
os grupos de mdicos, alunos e residentes.
Verificou-se que existe diferena estatisticamente significativa entre as escalas de
confiana de alunos e mdicos, sendo os mdicos mais confiantes em executar
determinadas aes que os alunos (F = 4,33, p= 0,015), no havendo diferenas entre as
escalas de importncia e entre alunos e residentes e mdicos e residentes.
46
Para verificar influncias do gnero nas respostas das escalas de importncia e
confiana realizou-se o Teste t o qual verificou diferena estatisticamente significante nas
respostas das escalas de importncia para o sexo feminino (p=0,001) sem diferenas nas
escalas de confiana.
A anlise das escalas em relao a idade se deu atravs da correlao de Pearson, a
qual demonstrou no haver diferenas na escala de importncia, mas para a escala de
confiana h uma tendncia a concluir que quanto maior a idade, mais confiante se torna o
profissional (r=0,211, p= 0,002) (tabela 6).
Tabela 6 : Comparaes entre as escalas de importncia e confiana por subgrupo, gnero e idade
Importncia
Confiana
mdia p mdia p
Subgrupo
Mdicos 4,58
3,75
a
(ANOVA/
Tukey) Estudantes 4,57
0,491 3,54
b 0,015
Residentes 4,67
3,55
a, b
Gnero
valor p valor p
(Teste t) Masculino 4,45
0,001
3,69
0,238
Feminino 4,65 3,60
Idade
r
p r p
(Correlao de Pearson) - 0.063
0,201 0,211 0,002
a, b : valores seguidos pela mesma letra no diferem estatisticamente pelo Teste de Tukey
4.9 SUPORTE INSTITUCIONAL
Na populao avaliada, 62% referiu que a instituio que trabalham ou estudam
incentiva boa comunicao entre mdico e paciente e mais de 80% referiu receber
feedback positivo de suas relaes com os pais de pacientes e com os demais membros da
equipe de sade (tabela 7).
47
A disponibilidade de tempo para interagir com os pacientes adequada para 51%,
mas somente 7,7% refere ter disponveis treinamentos formais em tcnicas eficazes de
comunicao.
Tabela 7 : Avaliao dos participantes a respeito do suporte institucional comunicao
Concordo/
Concordo
totalmente
Sou
indiferente
Discordo/
Discordo
totalmente
Recebo feedback construtivo referente a meu relacionamento
com os pais de meus pacientes 87,3 2,8 9,9
Recebo feedback construtivo referente a meu relacionamento
com os demais membros da equipe 81,1 6,7 12,3
A instituio na qual trabalho ou estudo incentiva uma boa
comunicao entre mdico e paciente 62,4 8,3 29,3
Disponho de tempo adequado para interagir com meus
pacientes 51,0 4,0 45,0
Recebo treinamento formal em tcnicas eficazes de
comunicao com pacientes 7,7 3,9 88,4
48
5. DISCUSSO
A traduo em etapas do HCS, de acordo com as normas internacionais de
traduo de instrumentos e associada a tcnica Delphi modificada, possibilitou alcanar
verso adequada para a lngua portuguesa do Brasil tanto do ponto de vista lingustico
quanto do ponto de vista tcnico. A mincia neste processo preservou sentido e contedo
originais, minimizando possveis falhas na validao atribuveis a tradues pouco
rigorosas (BEATON, 2000).
Todas as etapas contriburam para a verso final. As adaptaes lingsticas foram
realizadas tanto durante as rodadas Delphi quanto aps as sugestes dos participantes do
pr-teste fornecidas nas entrevistas retrospectiva e cognitiva.
Entre as sugestes de mudana, o item 15 das escalas de importncia e confiana
(Cultural awareness/ sensitivity) foi o que mais gerou dvidas e necessitou de
acrscimos de termos em portugus para que fosse melhor compreendido. Este item ilustra
que no processo de traduo deve-se atentar ao fato de que a mera traduo literal pode
deixar a afirmao sem sentido em outro idioma, reforando a necessidade tanto da
adaptao cultural quanto lingstica prevista neste processo (LAUFFS, 2008).
A mincia de cada etapa ocupou um tero do tempo previsto no cronograma para
realizao do estudo. No final, chegou-se a uma verso final para validao adaptada para
ser respondida no s por residentes de pediatria, mas tambm por estudantes de medicina
e pediatras que, segundo a autora, no perdeu em contedo quando comparado ao texto
original.
As adaptaes culturais durante o pr-teste foram realizadas em apenas 7 itens com
poucas modificaes de redao. Durante esta etapa, a validade de face foi obtida atravs
dos dados das entrevistas cognitiva e retrospectiva. A facilidade nos ajustes pode ser
resultante do fato de que o questionrio possui linguagem tcnica conhecida e utilizada da
mesma forma em ingls e em portugus tanto pelo estudante de medicina quanto pelo
residente e medico pediatra. Os termos pacientes ou familiares de difcil trato ou
discutir o fim da vida so bons exemplos destes termos tcnicos.
Os questionrios de pr-teste, bem como os questionrios respondidos no reteste
foram solicitados aos participantes por convenincia. O principal motivo para esta conduta
49
foram as constantes trocas de estgios que os estudantes realizaram no perodo de coleta de
dados, o que torna o acesso ao participante que est em atividade externa universidade
menos possvel. Esta limitao pode ser considerada FONTE DE VIES POREM pouco
relevante, a medida em que os demais itens de rigor da traduo, das entrevistas cognitivas
e retrospectivas e da avaliao das propriedades psicomtricas da validao foram
rigorosamente seguidos.
A confiabilidade da consistncia interna das escalas de importncia e confiana da
verso traduzida foi excelente tanto para o grupo total quanto para os subgrupos de
estudantes, residentes e pediatras e estes valores foram semelhantes aos do questionrio
original (RIDER, 2008).
O nmero de dados perdidos foi bastante pequeno e o coeficiente de correlao
intraclasse foi adequado nas avaliaes de teste-reteste tanto para a escala de importncia
quanto para a escala de confiana. Apesar destes dados no terem sido avaliados no estudo
original, podem somar-se no intuito de validar esta traduo.
Embora tenha havido uma excelente taxa de resposta (91%), o subgrupo de
estudantes de medicina foi o que mais deixou de responder aos questionrios, o que pode
gerar diferenas de percepo entre os respondedores e no respondedores do questionrio
nesta categoria.
A diferena estatstica entre as mdias dos escores nas escalas de confiana obtidos
para estudantes e mdicos, sendo os mdicos mais confiantes em executar determinadas
aes que os estudantes, associado a tendncia de correlao positiva entre a idade e os
escores obtidos na mesma escala refora o conceito de que as experincias clnicas durante
os anos de prtica mdica sobressaem-se a uma adequada formao para comunicao em
sade (WRIGTH, 2000).
A maioria dos participantes considerou todas as habilidades de comunicao como
muito importantes ou importantes para sua prtica clnica diria. Entretanto, a confiana
em executar as habilidades menor para todos os itens, principalmente nas questes mais
delicadas de comunicao, como abordagem de terminalidade e comunicao de ms
notcias. Este apontamento coincidente com o estudo original (RIDER, 2008) e deve ser
associado a concluses obtidas por Kaufman et al (2000) ao apontar que, ao longo dos
anos, estudantes de medicina consideram-se mais confiantes em relao a temas mais
bsicos de comunicao, mas a confiana no se altera quando se observam temas de
maior complexidade. Detectar esta dificuldade pode ser decisivo para enfatizar alguns
50
tpicos durante os cursos de formao do estudante e do mdico em comunicao, sempre
com abordagem dos itens mais bsicos, mas enfatizando os temas mais complexos.
Uma parcela significativa de participantes neste estudo afirmou receber suporte
institucional adequado para comunicar-se tanto com o paciente e seus familiares quanto
com os demais membros da equipe de sade, alm de referirem disponibilidade de tempo
suficiente para interagir com os pacientes. Este resultado diverso do estudo original e
pode justificar-se pelo fato de que a nossa instituio possui formao prioritariamente
assistencial, com estmulo s discusses de casos principalmente durante as visitas s
enfermarias. Tempo suficiente associado superviso adequada so importantes
diferenciais de atendimento (DOSANJH, 2001).
No h um modelo nico definido como a melhor maneira de ensinar o mdico a
comunicar-se, mas estudos futuros podem aliar o uso deste questionrio a implementaes
dos conceitos de comunicao em sade em formato de cursos, simulaes de situaes
clnicas difceis entre outros, tanto no currculo mdico quanto nas residncias de pediatria
e nos cursos de educao mdica continuada para pediatras. Esta associao permitiria
observar se a percepo de importncia e confiana dos itens compatvel com a
performance e a atitude daquele indivduo frente a situaes reais ou simuladas
(CALHOUN, 2010).
No Brasil, as diretrizes curriculares nacionais dos cursos de graduao estabelecem
um perfil para o mdico brasileiro a ser formado: formao generalista, humanista, crtica
e reflexiva; capacitado a atuar pautado em princpios ticos, no processo sade-doena em
seus diferentes nveis de ateno, com aes de promoo, preveno, recuperao e
reabilitao sade, na perspectiva da integralidade da assistncia, com senso de
responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da sade integral
do ser humano (VEIGA, 2006). Para atingir esse perfil, o estudante deve desenvolver
competncias e habilidades relacionadas ateno sade, com possibilidade de tomada
de decises. Deve ser preparado para a busca ativa e avaliao crtica de informaes e
para o processo de educao permanente (BRASIL, MINISTRIO DA EDUCAO,
2001).
A qualidade da relao com o paciente peditrico e seus familiares afeta todos os
aspectos do cuidado. As habilidades comunicativas, apesar de serem passveis de
ensinamento, no acontecem separadas da humanizao do mdico, de seu
profissionalismo e de sua capacidade de ouvir, engajar-se e expressar confiana ao
51
indivduo fragilizado em seu processo de doena (BRANCH, 2009). Neste contexto
tornam-se indispensveis as melhorias curriculares em todas as etapas de aprendizado tanto
para questes bsicas como para as mais complexas da comunicao em sade.
Estudos futuros permitiro avaliar se a percepo de importncia e confiana dos itens
compatvel com a performance e a atitude daquele indivduo em situaes reais ou
simuladas.
52
6. CONCLUSES
6.1. A verso em portugus do Brasil do HCS apresentou propriedades psicomtricas adequadas, sendo um instrumento confivel e vlido para avaliar as habilidades de
comunicao na Pediatria.
6.2. Todas as habilidades de comunicao foram consideradas de importncia alta ou muito alta e devem, portanto, ser abordadas de igual maneira no ensino de
Pediatria.
6.3. A confiana em executar atitudes como conversar com crianas sobre doenas graves, discutir o fim da vida com pacientes e familiares, interagir com pacientes e
familiares de difcil trato, lidar com as emoes dos pacientes e informar um
diagnstico ruim se eleva a medida que o indivduo tem mais idade e mais tempo
como mdico.
6.4. A instituio participante do estudo assegurou maior suporte a seus estudantes, residentes e mdicos para comunicarem-se com os pacientes e seus familiares em
relao ao estudo original, provavelmente por priorizar atividades assistenciais.
53
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