Apontamentos e Interrogações - fep.up.pt · A lógica de Tarski (“tradicional”) é, segundo...

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Epistemologia da Economia

Apontamentos e Interrogações

Carlos Pimentapimenta@fep.up.pt

http://www.fep.up.pt/docentes/cpimenta

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Glória aos paradigmasViva a Ciência EconómicaAnálise de alguns aspectosSoluçõesAngústiasProposta

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Glória aos paradigmas

São tranquilosExigem vigilância epistemológica

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Como são tranquilos

Afirma MINGAT & Outros (MéhodologieÉconomique)

95% dos economistas não saberiam o fazer se não se encaixassem espontaneamente num paradigma“A maior parte dos investigadores não podem ambicionar com razoabilidade uma originalidade de pensamento. Só será capaz de descobrir alguma coisa a partir de um método de pensamento já disponível e, de preferência (para limitar os riscos de erro) já tendo prestado provas” (pág. 172)“erro” leia-se “não aceitação pela comunidade científica”

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Paradigma dominante permiteAdopção inconsciente de um conjunto de hipóteses de partidaApropriação de um conjunto de modelos e leis que fornecem uma leitura da realidadeOpção inconsciente por uma certa visão de classeSua aceitação pela comunidade científica(Promoção na carreira universitária)

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E exigem vigilância epistemológica

Argumento de autoridade não é critério de verdadeRotatividade ortodoxia – heterodoxia – ortodoxia é mais o resultado da luta de classes que da validade conceptual“Inconsciente” ou “subconsciente” é um perigo para a construção científica....Importância das “crises de paradigma” na construção científica

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Viva a Ciência Económica

Da glorificação da EconomiaPara uma certa leituraE alguns problemas

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Da glorificação da Economia

Ciência “velha”Quesnay: 1694 – 1774Adam Smith: 1723 – 1790

Ciência com estatuto comprovado e reconhecidoCom prestígio social

Veja-seReconhecimento académicoMassificação dos cursos

E político

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Revelando grandes progressosAmpliação do objecto real, apresentando hoje grande vastidãoProgressiva especializaçãoConsolidação das técnicasCapacidade de observação e previsão

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Para uma certa leitura

Alguns elementos caracterizadores da Economia que exige análise:

Conflitualidade internaMescla de positivismo e normatividadeObjecto «preciso» em oscilação entre a «produção...» e a «gestão dos recursos escassos»Assente sobre dois pilares, por vezes de construção fácil:

RacionalidadeMercado

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E alguns problemas

Fazem suspeitar problema científico por resolver:

Fragmentação macro-micro“desarticulação” indivíduo / instituições / sociedadeIrrealismo das hipóteses e dos modelosFrequentemente previsão sem descriçãoIncapacidade de diálogo entre correntes teóricas

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De tanta matéria de análise seleccionemos alguns temas de conversa...

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Análise de alguns aspectos

Conflitualidade InternaEntre o Positivismo e a NormatividadeEm Busca do ObjectoUma Certa RacionalidadeFragmentação Macro-Micro

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Conflitualidade Interna

A mesma realidade é interpretada diferentemente por modelos económicos alternativosO mesmo objecto real dá lugar a diferentes objectos teóricos, diferentes problemáticas

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RazõesDiferentes classes sociais, conflitualidade socialDiferentes «consciências possíveis» dos cientistasdiversidade da realidade económica e social estudada pelos diferentes economistas e a maior ou menor capacidade de impor a sua leitura da realidade na comunidade científica internacional, nas estruturas políticas, nos saberes constituídos.

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Razõescontradição entre a complexidade da realidade social e anatureza dos modelos elaborados ou, por outras palavras, no facto de diferentes economistas perante a mesmarealidade económico-social construírem objectos científicos que captam apenas uma parte do objecto real.diversidade de posturas adoptadas pelos economistas noexercício da sua actividade profissional.diferente grau de abstracção dos modelos económicos.

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Entre o Positivismo e a Normatividade

A Economia pretende-se positivistaDescrição de factosPreocupação pela quantificaçãoAbandono das “causas últimas”: teoria das preferências reveladasQuase identidade entre simultaneidade e causalidade

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Pareto: “As discussões sobre o método da Economia Política não têm nenhuma utilidade. A meta da ciência éconhecer as uniformidades dos fenômenos; portanto épreciso empregar todos os procedimentos, utilizar todos os métodos que nos conduzem a essa meta.”(Manual de Economia Política, 23)

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Apresenta-se frequentemente como normativa:“gestão” / “recursos escassos” / “aplicações alternativas” Melhor gestãoVerificadas as hipóteses H1, H2, ..., Hn e admitindo I1, I2, ..., Im temos Modelo descreve o que acontece se ... Deve acontecer isto... Para que tenhamos aquiloFrequente irrealismo das hipóteses

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Em Busca do Objecto

A definição do objecto tem oscilado entre a delimitação de “um domínio de actividades específicas”e “um aspecto específico de todas as actividades humanas”

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Um domínio de actividades específicas:Adam Smith: ciência da riquezaMarx: Ciência da produção, distribuição, circulação e consumoSay: Ciência da produção, consumo e distribuição da riquezaOutros: Ciência das trocasMarshall: “o estudo da humanidade nas ocupações normais da vida (...) para consecução e utilização das condições materiais de bem-esta”

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um aspecto específico de todas as actividades humanas:

Marginalistas: A “raridade”, a “escassez”assume-se como a chave da delimitação científicaLionel Robbins: “the science which studies human behaviour as a relationship between (given) ends and scarce means which have alternative uses”.

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Estas duas definiçõesSão diferentesNão são coincidentesAssociam-se a diferentes metodologias e posturas filosóficas

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Uma Certa Racionalidade

Toda a Ciência Económica se constrói admitindo uma certa “racionalidade económica”"A questão da racionalidade económica é, pois, ao mesmo tempo a própria questão epistemológica, da Economia política enquanto ciência“, (GODELIER, MAURICE (s.d.), Racionalidade e Irracionalidade na Economia, pág. 18)

Outros Problemas ...

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O sonho de Marshall

“as leis da Economia são expressões de tendências formuladas de um modo indicativo, e não preceitos éticos no imperativo. As leis e raciocínios econômicos são, de fato, apenas uma parte do material que a consciência e o bom senso têm que levar em conta na resolução de problemas práticos e na fixação de regras que sirvam de normas para orientação na vida “ (Pág. 3)“Na presente obra considera-se ação normal aquela que se espera, sob certas condições, dos membros de um grupo industrial, e não se tenta excluir a influência de quaisquer motivos, cuja ação seja regular, somente porque sejam altruísticos. (...) princprincíípio de continuidadepio de continuidade.: (Pág. 4)1 “aplicado não só à qualidade ética dos motivos pelos quais um homem pode ser influenciado na escolha de seus fins, mas também à sagacidade, à energia e à disposição com que os procura.” (Pág. 4)2. “Do mesmo modo que não existe uma linha nítida de divisão entre uma conduta que é normal e a que deve ser provisoriamente desprezada como anormal, assim também não há nenhuma entre os valores normais de um “lado e, de outro, os valores “correntes”, “do mercado” ou “ocasionais”” (4)

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Estas são as palavras do Prefácio da 1ª Edição de Principios de Economia.Diferente é a sua posição na 8ª Edição:

Todavia, as forças a serem encaradas são tão numerosas que o melhorar um certo numero de soluções parciais como auxiliares de nosso estudo principal. Começamos assim por isolar as relações primarias (...). Reduzimos as outras forças à inércia com a frase “todos os outros fatores sendo iguais”: não supomos que sejam inertes, mas por enquanto ignoramos sua atividade.

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Racionalidade “Normal”

Procura de um padrãoIndividual / Colectiva / SocialJustificado

Natureza humanaProduto histórico

CalculadoMédiaFrequência, probabilidade

ConstruídoHomem Económico

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Exclui-se “anormal”, “atípico”, “acidental”, “efeito perverso”

No mundo da diversidade do ser e do estarCom a comprovação científica de que

O irracional é parte integrante do acto económicoA emoção é elemento da razão

Elege-se um comportamento único

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Racionalidade greco-latina

Admite-se como universalPráticas sociais pós-revolução industrial“Racionalidade greco-latina”

Autonomia da Razão (em relação à autoridade, paixão, revelação, sensibilidade)AnalíticaPrimado do sentido da vista

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Fragmentação Macro-Micro

BOHM & PEAT distingue especialização e fragmentação. A primeira resulta da dinâmica de construção e reconstrução científica, é positiva. A segunda tem outras razões:

A fragmentação em ciência surge por diversas vias, em particular através da tendência da mente a agarrar-se ao que, na infra-estrutura subconsciente das suas ideias tácitas, é compatível com o seguro (BOHM & PEAT, 1989, 58)

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Na nossa leitura a divisão entre macroeconomia e microeconomia é uma fragmentação

que exprime a separação entre sociedade e indivíduo, que reflecte a absolutização de um dos termos da relação (“indivíduo produto da sociedade” versus “sociedade somatório de indivíduos”). É a expressão na Economia Política, da dicotomia filosófica necessidade-liberdade

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Soluções?

Pluralismo Teórico (não ecléctico)Outras LógicasAlguns Aspectos da Teoria do CaosInterdisciplinaridadeTotalidade / Complexidade

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Pluralismo Teórico não-ecléctico

Bachelard afirma“Destouches estuda com efeito as condições de coerência lógica das diversas teorias. Ele demosntra que, por intermédio de modificação de um postulado é sempre possível tornar coerentes duas teorias que se revelam racionalmente válidas e que, no entanto, se opunham uma à outra” (A Filosofia do Não)

Consideramos que tem aplicabilidade à problemática da conflitualidade interna

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ConsideramosÉ possível estabelecer muitas identidades entre paradigmas alternativos, estabelecer relações e complementariedades desde que se harmonizem graus de abstracção e linguagens, se explicitem ashipóteses subjacentes a cada um dos modelos e se modifiquem algumas delas. Desta forma é possível construir modelos suficientemente gerais para englobar muitos do aspectos consignados em modelos pertencentes a paradigmas diferentes.Para tal exige-se uma críticas das teorias, o que reduz, sobretudo partindo de autores com posturas bastante diferentes, os seus níveis de subjectividade

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Esta atitude não elimina a conflitualidade mas reduz o seu âmbito e incidência e sobretudo permite precisar o que efectivamente diferencia os paradigmas em luta. Mas ela só pode ser assumida se os economistas conhecerem os diversos paradigmas em confronto e tivessem capacidade para terem sobre eles uma atitude crítica.Atitude não-ecléctica exige uma ou várias das atitudes:

Hierarquização conceptual das teorias em confrontoDescoberta de uma nova terminologiaNova forma de pensar o económico

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Aplicação do pluralismo teórico ao ensino da economia tem vantagens adicionais:

Fortalece a capacidade cognitivaPrepara para a mudançaFomenta os valores democráticos e de cidadaniaCria um efectivo espírito crítico.

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Outras Lógicas

A lógica de Tarski (“tradicional”) é, segundo alguns autores, a lógica da geometria euclidiana e da dinâmica de Newton. Diríamos nós que é a lógica da linearidade, da simplificação, do ceteris paribus, do uniparadigmatismo, da subjugação a um paradigma dominanteenfrentar os desafios trazidos pela complexidade e procurar resolver alguns dos problemas aqui referidos exige a utilização de certo tipo de lógica

Diversos graus de veracidade / falsidadeEnglobe a contradição

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Lógica polivalente, mesmo infinitovalenteLa idea de que hay sólo dos valores de verdad es tan respetable como cualquier

otra tesis metafísica, añeja o no, pero frente a ella abonan razones de peso que no cabe dejar de escuchar atentamente; algunas de esas razones llevaron a una parte de la tradición filosófica - aunque minoritaria - a la afirmación de grados de realidad y de verdad; otras de tales razones tienen que ver con problemas epistemológicos debatidos actualmente; y muchas de ellas guardan conexión con aplicaciones de la lógica a diversos campos del saber y de la investigación. Teniendo en cuenta que generalmente el mundo se nos acaba presentando como más complicado de lo que nos lo solíamosimaginar, cabe conjeturar que es infinitamente complicado, y que una parte de esa complejidad viene dada por la infinivalencia veritativa, por losinfinitos grados de verdad y de falsedad. (PEÑA, 1996, 346)

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É frequente na análise económicaSer e não serContradiçãoNem sempre... Mas tambémLógica dialéctica

Lógica paraconsistente engloba a lógica dialéctica (Newton da Costa)

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Alguns Aspectos da Teoria do Caos

Sensibilidade infinitesimal às condições iniciaisNão-linearidade nas relações entre os fenómenosEfeitos perversos enquanto variante do comportamento normalGeometria fractal em muitos fenómenos económicoGrande aplicabilidade do determinismo caótico.

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Interdisciplinaridade

(A Desenvolver)

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Totalidade / Complexidade

(A Desenvolver)

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Angústia

É possível

Uma Ciência Económica do ConcretoUma Ciência Económica do Concreto

?

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Proposta

Reconstruçãodo objecto

e da metodologia da Economia

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(Fim da comunicação)(Continuação do trabalho)