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Trindade: comum a partir do diferente
Refletir acerca da Santíssima Trindade é um tema que nos
deixa cheios de vontade de falar, mas também com vontade de
calar, isso porque ninguém pode falar do mistério Trinitário sem
cair na conta dos nossos próprios limites e ao mesmo tempo, sem
cair na conta do próprio mistério.
Verdadeiramente, sabe-se que a Trindade é uma expressão de
amor incondicional de um Deus que não é solitário, mas que em si
é comunidade de pessoas: O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Nota-se
que o Deus – comunidade, sendo livre de tudo, por amor nos criou,
e viu que tudo era muito bom. E deste modo, desejou que
vivêssemos em comunidade, juntos, bem unidos, tendo a Trindade
como modelo de comunidade perfeita.
Nesta lição, temos como objetivo “proporcionar um encontro
profundo e real com esse Deus que se revela e fala sobre si
mesmo, sobre cada homem e mulher, sobre o modo de buscar e
viver a verdadeira felicidade, sobre a vida, sobre o mundo” 1 e
principalmente sobre a nossa resposta ao chamado do Deus uno e
trino.
Seria, pois muita pretensão da minha parte esgotar o mistério
da Trindade, isso se tornaria impossível. O próprio doutor da Igreja,
1 M.C.BINGEMER e V. FELLER, Deus Trindade: a vida no coração do mundo, SP, Paulinas, 2002. p. 12.
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Santo Agostinho, diz que “é impossível entender, captar
completamente o Deus Uno e Trino da nossa fé, mas é possível,
sim, conhecê-lo na medida em que ele mesmo revela seu Mistério
aos corações sedentos e amorosos que o buscam”2.
Diz a tradição que Agostinho passeava pela praia, pensando
no mistério da Santíssima Trindade, e encontrou um menino
brincando com a água do mar. Com um pequeno balde ele recolhia
água do mar e colocava num buraquinho que tinha cavado na
areia. Agostinho deteve-se e perguntou: “Menino, você vai se
cansar inutilmente. Como você pode pretender colocar a imensidão
do mar neste buraquinho?” Ao que o menino sabiamente
respondeu: “É mais fácil o mar caber dentro deste buraquinho do
que Agostinho entender o mistério da Santíssima Trindade”. Porém,
é bom salientar que “se Deus não fosse Trindade, não poderíamos
ouvi-lo, falar sobre ele, viver em comunhão com ele. O
Cristianismo, em suma, não teria sentido” 3. Eis o mistério da Fé!
Por meio do Deus que desejou fazer morada conosco, com a
encarnação do Verbo, podemos perceber a presença do Deus –
comunidade a partir do diferente: O Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Cada Pessoa da Trindade tem sua função, porém, estão
intimamente relacionadas entre si.
Deus é Pai: Ele é nosso escudo, segurança, amparo, rochedo,
fortaleza, libertação, força, rocha, refúgio, baluarte (Sl 18 (17,3).
Deus é uma palavra. Palavra que se ouve dentro da história, mas 2 Idem, p. 12-13. 3 Idem, 13.
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que vem de fora da história; daí a pessoa humana ser um ser de
transcendência, um homem que se relaciona consigo mesmo, com
o outro e com o transcendente.
Deus é Filho: No Filho, Deus – o Transcendente, o
Diferenciado, o Inatingível, aquele a quem ninguém poderia ver e
continuar vivo – torna-se um de nós, ganha corpo, em carne e
osso, como nós. Torna-se humano conosco e como nós, em tudo
igual a nós, menos no pecado (Hb 4,15) e, exatamente por isso,
verdadeiramente humano. Disso a razão não pode dar conta, é algo
que só pode ser aceito na fé. Essa fé, portanto, representa e
implica: o acolhimento do fato histórico Jesus de Nazaré. A
aceitação de que nesse homem histórico se deu a manifestação
total e definitiva de Deus. A convicção de que Deus constitui senhor
e Cristo a esse Jesus, que foi morto pelos seres humanos. Jesus
Cristo não é, portanto, mais uma revelação de Deus, mas é o
próprio Deus revelado. É isso que nossa fé proclama4.
Deus é Espírito Santo: Ao lado da revelação do Filho, há
outra revelação no Novo Testamento: a do Espírito Santo, ou seja,
“Deus concedeu seu Espírito. A teologia cristã só é possível a partir
do Espírito Santo. O filho só revela o Pai na glorificação, pelo
Espírito. E a comunidade cristã só reconhece e proclama o homem
Jesus como Filho de Deus após a Ressurreição, pelo Espírito. Em
4 Cf. idem, p. 18.
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Sua morte e sua ressurreição, Jesus doa seu Espírito a quem nele
crer”5.
O Deus uno e trino revelado por jesus na sagrada escritura
A leitura do Evangelho de João nos possibilita compreender
que a Sagrada Escritura é de fundamental importância para
pensarmos o Deus Trindade, é a terra natal onde vamos encontrar
o perfil desse Deus. Deste modo, é bom salientar que o texto
bíblico é a mediação primeira em que podemos encontrar Deus,
pois o Deus cristão é o Deus da Bíblia; devemos partir da Bíblia
antes de qualquer outro texto, pois ela é a fonte.
Deus se revelou de diversas formas, em diferentes tempos da
história da humanidade, porém, só sabemos que Deus é Pai porque
Jesus revelou, se não fosse o Filho, não teríamos consciência da
filiação. Jesus é o Filho do Homem (5, 27, 6, 27; 8, 28), Jesus vem
de Deus (5, 24, 6, 29.46; 7, 16.28-29; 8, 16.18.42), de modo que
as suas obras revelam que Deus o enviou (5, 36). Jesus mesmo
disse: “Eu não estou só, mas comigo está o Pai que me enviou” (8,
16).
E Jesus, no momento da sua morte, “inclinando a cabeça,
entregou o espírito” (19, 30); o último suspiro de Jesus foi o
prelúdio da efusão do Espírito. Antes disso, no batismo de Jesus, o
próprio João Batista disse: “Vi o Espírito descer, como uma pomba
vinda do céu, e permanecer sobre ele” (1, 33). Só
5 Idem, p. 20.
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compreenderemos tudo isso pelo Espírito Santo, pois ninguém pode
dizer que Jesus é Deus a não ser no Espírito Santo, por isso aquele
que recebeu o Espírito sobre si no batismo (1, 32-33), soprou sobre
os discípulos e disse: “Recebei o Espírito Santo” (20, 22). Aquilo
que só Deus tem, repousou em plenitude em Jesus, por isso
compreendemos que Jesus é o santo de Deus (6, 69).
Lendo o evangelho de João, percebemos claramente a relação
de Jesus com o Pai, e mais, como Jesus revela o Pai, por isso a
intriga da oposição do seu tempo, pois Jesus dizia ser Deus o seu
próprio pai, fazendo-se assim, igual a Deus (5, 18).
A vida inteira de Jesus foi um constante revelar de Deus, e
isso ele fez como Filho obediente (5, 30; 6, 38, 8, 28) à vontade
daquele que o enviou (5, 24, 6, 29.46; 7, 16.28-29; 8, 16.18.42).
“Se me conhecêsseis, conheceríeis também meu Pai” (8, 19), deste
modo, é bom salientar que através dos seus atos e palavras, Jesus
revela a imagem de um Deus que atrai (6, 44. 65), de um Deus
Único (5, 44), de um Pai (soberano Juiz) que não para de trabalhar
(5, 17), de um Pai amoroso (Jo 5, 20), que dá a vida (Jo 5, 21) e
que tem a vida em si mesmo (5, 26).
Nota-se que o Filho e o Espírito Santo são as duas mãos de
Deus que abraça a humanidade inteira. Deste modo, como
comunidade de diferentes, nós humanos, também devemos ser
uma só comunidade em Deus Uno e Trino, respeitando o diferente
de cada pessoa, e impulsionados, pelo sopro do Espírito Santo,
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devemos nos sentir como membros ativos do corpo de Cristo, o
enviado de Deus.
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REFERÊNCIAS
BINGEMER e V. FELLER, Deus Trindade: a vida no coração do
mundo, SP, Paulinas, 2002.
Bíblia de Jerusalém, Paulus – 2002.
Texto: Wilson Lima de Oliveira, SDV