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A CAMINHO DA XXIV AGEA CAMINHO DA XXIV AGE
02 de fevereiro de 2016INFORMATIVO Nº 04
Pe. Stefano Raschietti, SX
Os temas da profissionalização e da especialização na VRC dizem
respeito a dois aspectos complementares: a exigência de qualificação e de
organização das iniciativas apostólicas e a necessidade do retorno
financeiro que garanta a sustentabilidade da missão. Diga-se de
passagem, esta última é uma reivindicação do próprio Evangelho quando
Jesus insiste no sustento e no salário para os missionários. Paulo lembra
aos Coríntios que essa foi uma ordem explicita do Senhor.
Qualificação e remuneração se situam hoje dentro de um sistema de
economia capitalista altamente estruturada, informatizada, eficiente e
racional. Gratuidade e entrega parecem não ter espaço num mundo cujo
princípio vinculante é o da concorrência no livre mercado para conseguir
a maximização dos lucros.
Evidentemente, a VRC relaciona-se de maneira muito inquieta com essa realidade. Por outro
lado, a fuga não é a solução. É preciso encarar esses desafios: em primeiro lugar, porque a missão
precisa dessas mediações históricas para se encarnar; em segundo lugar, porque o Evangelho é
chamado a transformar toda a realidade humana, também sua dimensão socioeconômica, para
recolocá-la a serviço das pessoas; e em terceiro lugar, porque profissionalização e especialização,
assim como ciência e mercado, devem ser consideradas conquistas da humanidade, que devem ser
sempre mais direcionadas para o bem comum e, afinal, para o próprio Deus.
Devemos ter a humildade de reconhecer, de maneira geral, que a VRC precisa muito
amadurecer essas dimensões. Aqui podemos indicar algumas tarefas que nos competem olhando
para uma VRC em processo de transformação.
1) A primeira é reconhecer o valor da racionalidade empresarial. Nas instituições religiosas há
um equivoco em considerar esse tipo de abordagens como algo de específico de empresas
comerciais. No entanto, noventa por cento dos princípios, das tarefas e dos desafios das organizações
em geral são absolutamente semelhantes. Trata-se, consequentemente, de conhecer bem os 90 por
cento que são comuns a qualquer instituição, concentrando-se, ao mesmo tempo, nos dez por cento
que a qualifica.
2) A segunda tarefa é discernir os perigos e as seduções que estão por trás de um uso
equivocado dos instrumentos de gestão organizacional. O Papa Francisco alerta para não cair na
tentação do funcionalismo que reduz a missão à estrutura de uma ONG. O que vale é o resultado
palpável e as estatísticas. Para a VRC não pode ser assim, pois nem sempre é possível relacionar
“sucesso” com “fidelidade” ao Evangelho: a cruz de Jesus é testemunha disso.
Profissionalização, Especialização e Missão Congregacional
3) A terceira tarefa é organizar a missão congregacional em torno de um projeto. Olhando para
o mundo corporativo podemos aprender que a missão precisa ser definida em termos bem objetivos.
O próprio Jesus faz isso ao enviar seus discípulos para a missão: ele define uma visão da realidade;
chama e capacita seus discípulos; define um objetivo e interlocutores específicos; indica linhas de
ação de promoção da vida e de luta contra o mal; e, enfim, determina os recursos indispensáveis para
alcançar as metas.
4) Uma quarta tarefa é valorizar e capacitar os recursos humanos. O primeiro grande
patrimônio de cada organização são seus membros: essa é a garantia principal da operacionalização
da missão. Junto a um claro projeto institucional é preciso apostar na profissionalização e
especialização como elementos de uma formação integral dos missionários e das missionárias de
hoje.
5) A quinta tarefa é repensar alguns pressupostos da VRC. É muito comum entre as
congregações religiosas promover uma espiritualidade de absoluta confiança na divina providência.
Isso é muito bom, mas a providência é um princípio de fé e não de economia. Portanto, é bom
também reconhecer uma legítima autonomia da racionalidade econômica, porque assim
participamos de maneira mais responsável, e espiritualmente menos infantil, da ação e do projeto
providencial de Deus no mundo.
6) A sexta tarefa é articular a gratuidade com sustentabilidade e reciprocidade. A dimensão da
entrega total da vida, típica da VRC, para se expressar historicamente e produzir frutos, precisa se
relacionar com compromissos de ordem contratual e participativa. Sem definições em termos de
pacto social, não há como garantir uma sustentabilidade do dom de si mesmo. Sem relações de
amizade e participação, não há como operacionalizar a missão. Enfim, claramente, sem a gratuidade,
generosidade e entrega não há a paixão: qualquer atividade humana torna-se mecânica, alienada e
“sem graça”.
7) Por ultimo, os temas da profissionalização e da especialização apontam que é preciso
avançar e inovar na missão congregacional, para responder a novas demandas que emergem das
conjunturas históricas. Este é um desafio permanente e crucial para qualquer organização: perceber
os anseios concretos da realidade e de abrir caminhos brilhantes e atrativos de solução. Trata-se de
pensar mais no serviço que temos a oferecer e menos na nossa sobrevivência: sair da comodidade e
entrar num processos de renovação missionária exige não confundir fidelidade ao carisma
fundacional com a fixação em modelos historicamente ultrapassados.