Artículo de José Antonio Llorente en Valor Económico

Post on 07-Jul-2015

373 views 1 download

description

Valor Económico, el diario financiero más influyente de Brasil, dedica media página de su sección de Opinión a este artículo de José Antonio Llorente sobre los desafíos de Brasil en la Cumbre Iberoamericana en Veracruz.

Transcript of Artículo de José Antonio Llorente en Valor Económico

Jornal Valor --- Página 13 da edição "08/12/2014 1a CAD A" ---- Impressa por GAvenia às 07/12/2014@20:59:46

Sábado, domingo e segunda-feira, 6, 7 e 8 de dezembro de 2014 | Valor | A13Enxerto

JornalValor Econômico -CADA-BRASIL - 8/12/2014 (20:59) - Página 13-Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Épelos 20 centavos sim!

Cúpula reúne grupos de países que caminham a velocidades diferentes. Por José Llorente

“OsEUAsãoamelhorcasadeumquarteirãoruim.Ocicloglobal estádessincronizado”.DeVincentReinhart,economista-chefeparaosEstadosUnidosdoMorganStanley,paraquemamudançadapolíticamonetáriapeloFeddeslancharáum‘testedeestresseemtemporeal’

DavidKupfer

Asdecisõesdeinvestimentoconcentram-se emreestruturaçãopatrimonial

Acoluna passada, “OCâmbio e o Saldo”, de10 de novembro últi-mo, enfocou os im-

pactos da trajetória da taxa decâmbio sobre as decisões de pro-dução dos agentes econômicos.Sugeriu-se que quanto mais vo-látil for essa trajetória, menoresem grau ou mais lentos em rit-mo serão os seus efeitos sobreessas decisões devido ao fatoprimordial de que para bens co-mercializáveis as expectativasquanto ao nível futuro da taxade câmbio são mais relevantesdo que o seu nível corrente.

Nesta coluna, a reflexão é dire-cionada para a relação entre a tra-jetória da taxa de câmbio e as de-cisões de investir. Embora o fatorexpectacional mantenha a suaprimazia, é importante ter claroque tratar do investimento requerum quadro analítico mais amplo.Em primeiro lugar, o cálculo eco-nômico deixa de se referir apenasa valores correntes e esperados decustos e receitas e passa a refletir

também valores presentes e futu-ros dos diferentes ativos envolvi-dos na formação de capital, alar-gando os horizontes temporais eaumentando as exigências dosagentes em termos do grau deconfiança na economia.

Em segundo lugar, enquantonas decisões de produção a volati-lidade do câmbio afeta mais in-tensamente os bens comercializá-veis, nas decisões de investimentoseu alcance recai sobre a totalida-de da economia. Isso porque todoe qualquer investimento englobaum conjunto de bens de capitalque, sendo comercializáveis, po-dem e, pelo menos em parte, sãoimportados pelo país.

Em terceiro lugar, a decisão deinvestimento é tomada em mó-dulos e, portanto, é mais indivisí-vel, mais irreversível e mais cru-cial para o sucesso dos negóciosdo que as decisões de produção.A imprevisibilidade quanto à ta-xa de câmbio futura afeta a esti-mativa do custo do investimentoe tende a provocar uma preferên-cia por adiar a aquisição do ativoà espera de que mais à frente fi-que mais claro para qual valor ataxadecâmbioestáefetivamenterumando. É a chamada preferên-cia pela flexibilidade.

A preferência pela flexibilida-de ajuda a explicar porque noBrasil as decisões de investimen-to concentram-se em operaçõesde reestruturação patrimonialque aumentam a eficiência docapital já imobilizado em detri-

mento de investimentos em ati-vos realmente novos (green-field), que teriam impacto muitomaior sobre a produtividade e odinamismodaeconomia.Essaéaessência da hipótese da rigidezestrutural que há anos sustentocomo a maior mazela enfrentadapelo sistema produtivo brasilei-ro. Vem daí, por exemplo, umapossível razão para o aparenteparadoxo representado pelaconvivência de um nível de utili-zação da capacidade instaladarelativamente alto (81,5% cf. CNI,média do primeiro semestre de2014) com o quadro de virtualestagnação exibido pela econo-mia brasileira no período.

Sem pretender sequer arranharos termos do debate que a teoriaeconômicareservaparaoprocessode formação de expectativas, épossível delinear uma explicação.Olhando para trás, percebe-se quenos quatro últimos anos está emcurso uma trajetória de desvalori-zação do real em relação ao dólarem degraus de aproximadamentevinte centavos ao ano. Esse proces-so não é linear, havendo umovershooting de outros quinzecentavosque,porsuavez, é reverti-do dentro de cada período. Essemovimento pode ser depreendidosimplesmente da análise da evolu-ção dos valores das médias móveisde 6 meses e dos máximos das ta-xas de câmbio nominais nesses in-tervalos tomando-se como refe-rência o final do mês de junho decadaano, a saber: em2011,R$1,61

e R$ 1,67; em 2012, R$ 1,87 e R$2,02; em 2013; R$ 2,05 e R$ 2,22 eem2014,R$2,28eR$2,43.

No entanto, a despeito dessatrajetória, os agentes se baseiamem um modelo expectacionalque associa aumento da inflaçãohoje com valorização do realamanhã, pois entendem que aâncora cambial ainda é parteativa da estratégia de estabiliza-ção monetária. Por isso, quandovêem a inflação em ascensão an-tecipam que o real irá se valori-zar (via aumento da taxa de ju-ros) e passam a exercer a prefe-rência pela flexibilidade. Resul-tado: as decisões de investimen-to são adiadas em toda a econo-mia, incluindo as atividades deserviços nas quais as decisões deprodução podem ser mais imu-nes à volatilidade do câmbio,mas não as de investimento.

Essa (falta de) dinâmica é par-ticularmente preocupante dian-te do fato de que o ciclo de inves-timento em andamento na eco-nomia brasileira está apoiado naexpansão da infraestrutura sen-do, portanto, muito capital-in-tensivo e envolvendo muita tec-nologia incorporada nos bens de

Provavelmente ninguémfez tanto pela integra-ção ibero-americana co-mo o recém-falecido

Roberto Gómez Bolaños, comseus inesquecíveis personagensChaves e Chapolin Colorado. Emespanhol ou português, ele con-seguiu nos mostrar um pouco darealidade da nossa região em ca-da uma de suas histórias. E talvezesse seja o ambiente que muitosesperam encontrar no México,sua terra natal, durante a XXIVCúpula Ibero-americana, hoje eamanhã na cidade de Veracruz.

Mesmo com a Educação e a Ino-vação como eixos centrais do en-contro, o panorama econômico daregião para o próximo ano semdúvida marcará grande parte dasdiscussões. E a participação confir-mada de pelo menos 20 presiden-tes parece endossar ainda mais aimportância do debate. No anopassado, no Panamá, um númeroaindamenorestevepresente.

Porém,estanãoseráumadiscus-são fácil em uma Ibero-Américaque caminha a duas velocidades:de um lado estão os países daAliança do Pacífico. Chile, Colôm-bia, México e Peru chegam ao en-contro com perspectiva de cresci-mento que vai desde 2%, no Chile,até os quase 4,8% na Colômbia, deacordocomoFMI,ecomafirmein-tenção de seguir investindo emprocessos de liberalização econô-mica. E apoiados por uma econo-miamexicanarevitalizadaquepre-vêumcrescimentoacimado3%.

Do outro lado, o bloco do Mer-cosul, mais propenso ao prote-cionismo, chega a Veracruz comum cenário mais pessimista: comexceção do Paraguai e Uruguai(com crescimentos em torno ao4% e 2,8%, respectivamente), Bra-sil, Argentina e Venezuela aguar-dam por um ano difícil. Argenti-na e Venezuela com números ne-gativos de crescimento, enquan-to o Brasil terá que se esforçarmuito para superar o 1%.

Entre esses dois blocos, paísescomo a Bolívia, Panamá ou Repú-blica Dominicana esperam, deacordo com o FMI, crescimentosespetaculares acima de 5%.

Diante de um cenário tão desi-gual, somado à ausência confir-mada de Cristina Kirchner, o Bra-sil tem o desafio de dar um passoa frente e assumir o papel de pro-tagonista no México. Quer pelasimples necessidade de fortaleceros laços comerciais com os seus“vizinhos prósperos”, ou porque

capital. Estrategicamente, issoimplica perceber que para reto-marumataxamais robustade in-vestimento não basta lubrificaros circuitos regulatórios e de fi-nanciamento que vem travandoa aceleração dessas obras. Se asindústrias fornecedoras não lo-grarem reverter mesmo que par-cialmente o hiato de competiti-vidade que se acumulou nos úl-timos anos, e principalmente,não intensificarem o ritmo deinovação, as pesadas importa-ções de bens de capital poderãocontaminar o processo de inves-timento com o virus da prefe-rência pela flexibilidade.

Nesse ponto, cabe lembrar asmanifestações de junho de 2013cuja irrupção foi motivada — oque não quer dizer explicada —pelo aumento de vinte centavosde real nos preços das passa-gens de ônibus. Com relação àtaxa de câmbio, cabem mani-festações similares em favor deuma condução mais decididada política cambial. É pelos vin-te centavos sim! Ironias à parte,feliz ano velho para todos nós.

DavidKupfer é professor licenciado emembro doGrupo de Indústria eCompetitividade do Instituto deEconomia daUFRJ (GIC-IE/UFRJ) eassessor da presidência doBNDES.Escrevemensalmente àssegundas-feiras. E-mail: gic@ie.ufrj.br)www.ie.ufrj.br/gic. As opiniões expressassão do autor e não necessariamenterefletemposições doBNDES.

o crescimento de toda a regiãonecessita de um “Brasil saudável”,especialmente diante de um ce-nário internacional de reduçãona demanda de matérias-primas.

Mas não é só isso. As melhoresperspectivas do México — impul-sionado pela recuperação dos Es-tados Unidos — ameaçam roubaros investimentos que poderiamvir para o Brasil. E o Brasil não sepode dar ao luxo de perder umtrem que já avança a uma veloci-dade maior que a sua.

A presença da Espanha podeser útil tanto por ser o segundomaior investidor estrangeiro noBrasil, como pela necessidade deviabilizar o acordo entre o Merco-sul e a União Europeia. E Veracruzpode abrir novos caminhos.

Como dizem os especialistas, aEspanha saiu do poço mas aindaestá no purgatório. Ainda que ossinaisderecuperaçãoconvidemaootimismo, o fantasma de 23% dedesemprego reflete o fato que, al-gumas vezes, a economia melhorasemmelhoraravidadaspessoas.

Assim, também a Espanha es-pera que o Brasil seja esse sócioquetantoprecisa,paracontinuarsendo um dos principais desti-nos da suas empresas, mas tam-bém para ter mais e maiores in-vestimentos brasileiros.

Depois de um período de des-

confiança, os primeiros sinais dosegundo mandato de DilmaRousseff têm sido bem recebidospelosempresáriosnoBrasil.Ago-ra essa mensagem deve chegaraos vizinhos da Ibero-América edomundo.Eacúpula ibero-ame-ricana será essa oportunidade.

Mas, junto a estas complexida-des econômicas, existe também odesafiopolíticodeliderançaregio-nal. Com o México atravessandodificuldades institucionais e a pró-pria Espanha em um processo detransição política e econômica, aregião requer que a diplomaciabrasileira assuma, como já fez nopassado, a liderança que lhe cor-responde. O Brasil deve ser o gran-de articulador da região diantedos diferentes blocos e foros inter-nacionais. Isto também é parte dofortalecimento institucional quese espera deste governo nos espa-ços internacionais. Hoje, mais doque nunca, a diplomacia tem aoportunidade de se consolidar co-mo questão de Estado, acima dequalquer outra questão, social,econômicaoupolítica.

Apesar das complexidades polí-ticasqueopaísenfrentahoje,aCú-pula Ibero-americana é a oportu-nidade que o Brasil tem para colo-car em prática o seu compromissoassumido com a inovação e educa-ção. O país é, junto com a Espanha

e Portugal, o único da região a in-vestir mais de 1% de seu PIB empesquisa e desenvolvimento tec-nológico. É verdade que deveria (edeve) ser mais, porém é inegávelque este é um país de grandes em-presários e com uma inesgotávelcapacidade para inovar. E, em mo-mentos em que as grandes empre-sasdopaís seencontramnocentrodeumacriseprovocadaporobscu-ras gestões é importante não es-quecer o seu papel como referên-ciapara toda Ibero-América.

Manter a constância em ciclosde crescimento depende da capa-cidade para inovar. Para transfor-mar riqueza em mais riqueza. E seexiste uma parte do continenteque deseja manter o seu ciclo deprosperidade, existe outra que de-seja muito retomá-lo. E no meioestá o Brasil, o gigante do qual to-dos esperam alguma coisa.

Sem dúvida, a Cúpula de Vera-cruz pode ser o momento espera-do para que o país retome o cami-nho do crescimento e a liderançaa partir da educação, da inovaçãoe da integração ibero-americana.Como bem dizia o personagemChaves “acho que é bem difícilamar inimigos, mas amar os idio-tas é quase impossível”.

JoséAntonio Llorente é sócio fundadore presidente da Llorente&Cuenca.

CartasdeLeitores

Desafios doBrasil emVeracruz

Frasedodia

Corrupçãoe trensApós excelente trabalho, a Polí-cia Federal encerrou as investiga-ções e acusou 33 pessoas comosuspeitas de corrupção ativa epassiva, lavagem de dinheiro,evasão fiscal, fraude licitatória,formação de quadrilha e outroscrimes no cartel de trens em SãoPaulo, durante o governo doPSDB (1998 - 08). Entre os acusa-dos, então ex diretores de em-presas como Siemens e Bombar-dier, o deputado federal JoséAníbal (PSDB) e o ex presidenteda CPTM. Por aí se vê o tamanhoda corrupção, licitações frauda-das, obras superfaturadas e des-vio de verbas públicas que impe-ram no país, sangrando os cofrespúblicos em bilhões de dólares.Seja o partido político que for, acorrupção é um crime nefasto,com gravíssimas consequênciaspara toda a sociedade e que nãopode ficar impune'.RenatoKhairrenatokhair@uol.com.br

NovaequipeO governo por enquanto caiu nareal e não chama mais os analis-tas econômicos de pessimistas. Edando mostras de que quem vaimandar mesmo na economianão será mais a Dilma, mas sim onovo indicado para o ministérioda Fazenda, Joaquim Levy, final-mente a comunicação do Planal-to se alinha com a do mercado ede forma realista reduz de 2% pa-ra 0,8% a projeção de crescimen-to do PIB para 2015. Até quandoa presidente vai obedecer estanova ordem, eu não sei. Mas, queé um bom começo, e melhor ain-da para o país, que se respeite asregras do mercado, isso eu nãotenho dúvidas.PauloPanossianpaulopanossian@hotmail.com

Ao projetar um crescimento de0,8% para o PIB em 2015, pratica-mente coincidindo com o bole-tim Focus (0,77%) e incorporan-do à proposta de Lei de Diretri-zes Orçamentárias (LDO) de2015, ora encaminhada ao rela-tor da matéria no Congresso, aequipe econômica do segundomandato da presidente Dilmamostra sua disposição em traba-lhar com as perspectivas de mer-cado, bem distante, portanto,das projeções delirantes que vi-goraram nos últimos anos e quesempre se chocaram com a reali-dade. Tal novidade deve ser sau-dada como um grande avançona direção certa.DirceuLuizNataldirluna@gmail.com

PrevidênciaO crescimento da expectativa devida do brasileiro é um dadomuito importante, refletindo omomento que estamos passan-do. Mas isto cria um problemapara que o sistema previdenciá-rio continue funcionando. Este éum assunto que exige avaliaçãona busca de alternativas que pos-sam evitar crises futuras, por fal-ta de verba para cobrir as apo-sentadorias.Uriel VillasBoasurielvillasboas@yahoo.com.br

Diantedeumcenáriotãodesigual, oBrasiltemodesafio dedarumpassoa frente eassumiropapel deprotagonista.O crescimentoda regiãonecessitadeum“Brasilsaudável”, emespecialdiantedeumcenáriointernacional dereduçãonademandadematérias-primas

Opinião

Correspondências paraAv. FranciscoMatarazzo, 1.500 -TorreNewYork - CEP05001-100 -ÁguaBranca - SP ou paracartas@valor.com.br, comnome,endereço e telefone. Os textospoderão ser editados.