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1FACULDADE AIEC
Associação Internacional de Educação Continuada
Faculdade AIEC
PresidenteVicente Nogueira Filho Diretor FinanceiroFrancisco Cabral de Menezes Júnior Diretora AdministrativaLéa Postiga Nogueira Diretora de Graduação Ruth Alves Franklin Almeida Diretor de Pós-Graduação Alaciel Franklin Almeida Diretor de Pesquisa e AvaliaçãoBenito Nino Bisio
Ideias em Gestão é uma publicação da Faculdade AIECISSN 2236-8183
EditorVicente Nogueira Filho
Coordenação EditorialArtur Roman
ArteAna Cristina A. Woellner
Revisão Ângelo Edval Roman FinalizaçãoÂngela Roman Fotos capa e entrevistaArtur Rangel
Foto editorial Cleber Medeiros
DiagramaçãoAna Cristina A. Woellner anacris_alwo@hotmail.com
Edição nº 16 – Novembro/2014
ContatoRevista Ideias em GestãoCLSW 105 - Bloco A - Edifício Espaço 105 - 1º andar Setor Sudoeste - CEP 70.670-431 - Brasília - DFTelefone: (61) 3403-0000E-mail: revista@aiec.br
Os artigos publicados na Ideias em Gestão são de responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não representam necessariamente a opinião da AIEC.
ÍNDICE02
03
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52
Apresentação
Editorial
Entrevista Taise Beduschi Gestora de Sustentabilidade do Grupo Malwee Gestão do diálogo A tragédia em Soma, Turquia: algumas lições ereflexões Ozdemir Ergin
Gestão de viagens Viagens: ótimo investimento! Newton Ribeiro Machado Neto Gestão do espaço urbano Jane’s Walk e 72h Urban Action em Curitiba Juliano Monteiro
Gestão empreendedora Em busca do sonho, com trabalho e dedicação Raimunda Miranda Barros
Gestão de TI Novos paradigmas tecnológicos: da nuvem à Internet do futuro Jeandro de Mesquita Bezerra
Gestão do desenvolvimento Angola: um país em construção João Daniel
Gestão da marca Semiótica: a teoria e suas aplicações no mercado Roberta Navas Battistella
Gestão do varejo A sobrevivência em um mercado competitivo Wilson Antônio Deschamps
Gestão da produção Otimismo e perseverança: receita de empreendedores Elisete Pessatti Ern
Gestão do esporte Além da cancha de voleibol Darrell Akimoto
EAD Capacitando colaboradores e formando líderes Geovania Carla de Moura
E então... Artur Roman
2 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
APRESENTAÇÃO
A Ideias em Gestão, revista da Faculdade AIEC, publica entrevista e artigos com experiências, pesquisas e
aprendizagens no universo organizacional e no mundo dos negócios.
Periodicidade: três edições por ano, em março, julho e novembro.
Público-alvo: empresários, dirigentes e funcionários de organizações privadas e públicas, administradores
formados pela Faculdade AIEC, alunos da Instituição.
Autores: empresários, dirigentes de empresas, profissionais com experiência de mercado, pesquisadores,
pensadores e professores da área de administração, convidados especiais, administradores formados na
Faculdade AIEC, professores, tutores e alunos.
Temas dos artigos: relacionados às diversas áreas da administração como Gestão de Pessoas, Educação
corporativa, Marketing, Finanças, Produção, Serviços, Comunicação, Contabilidade, Controladoria,
Logística, Responsabilidade socioambiental, Empreendedorismo, etc.
Natureza dos artigos: opinativo, reflexivo, descritivo ou analítico.
Tamanho dos artigos: até 9.000 caracteres (com espaços).
Para ler mais artigos de Administração e notícias da AIEC, acesse blog.aiec.br
A palavra que melhor define o meu trabalho de arte nesta edição é “liberdade”. As fotos da natureza do Parque
Malwee me inspiraram ainda mais a deixar livre a criatividade na composição das ilustrações das páginas da Revista.
Ana Cristina A. Woellner – Direção de arte
Parque Malwee
Estar ali. Ver o sol surgir e dissipar a névoa. Para onde olhar? Os olhos se rendem à beleza que surge. Canto de
pássaros. Colibris flutuam degustando flores. Subir, descer, parar. Maravilhar-se. Ter tudo isso à disposição. E a
sensibilidade diz: “Deus e o homem são o exemplo de parceria perfeita. Aquele, por ter provido; este, por preservar.
Isto é sustentabilidade”.
Sérgio Medina Roman – Autor das fotos que ilustram os artigos da Revista.
3FACULDADE AIEC
Editorial
Cara leitora, caro leitor
Neste ano, tivemos no Brasil dois eventos que
mobilizaram a opinião pública de todo o País:
a Copa do Mundo e as eleições. São muitas as
lições que um administrador pode tirar desses
acontecimentos.
A gestão da coisa pública é de natureza diferente
da gestão de uma organização privada e também
da gestão de uma equipe de futebol. Mas existe
algo em comum entre elas: todas demandam
racionalidade administrativa em seus processos
de gestão. É isso que esta Revista procurou
mostrar em suas 16 edições, nos últimos seis
anos, compartilhando experiências em gestão nas
entrevistas e artigos publicados.
A entrevistada de capa desta edição é Taise
Beduschi, Gestora de Sustentabilidade da Malwee,
de Jaraguá do Sul (SC), uma das maiores indústrias
de moda do País. As metodologias de produção
desenvolvidas pela empresa, com o foco em
sustentabilidade, demonstram a capacidade da
empresa para apresentar respostas às novas
demandas da sociedade, sem perder o foco no
resultado.
Temos uma instigante reflexão do pensador turco/
francês radicado em Quebec, Ozdemir Ergin, sobre
a importância do diálogo social interrogativo na
democracia. Leitura especialmente apropriada
para estes tempos em que se acirram os confrontos
de ideias políticas. Do continente africano, Angola,
temos um artigo do aluno da AIEC, João Daniel,
com reflexões realistas sobre os desafios vividos
por aquele país na busca do desenvolvimento.
Do Japão, recebemos artigo do engenheiro
Darrell Akimoto sobre suas experiências como
coordenador de tecnologia na seleção de
voleibol masculino dos EUA.
Dos artigos de autores brasileiros, destaco as
experiências em gestão dos administradores
formados na AIEC, Raimunda Barros, de
Macapá (AP), e Wilson Deschamps, de Vacaria
(RS). Para os que gostam de viajar, o artigo de
Newton Machado, de Brasília (DF), também
administrador formado na AIEC, traz ótimas
orientações sobre o necessário planejamento de
viagem, para usufruir o máximo do investimento.
A diversidade temática continua sendo o padrão
editorial da Revista, o que pode ser conferido
na leitura dos demais assuntos abordados neste
número.
As fotos que ilustram esta edição foram
produzidas pelo fotógrafo Sérgio Medina Roman.
São imagens do Parque Malwee em Jaraguá do Sul
(SC), com 1,5 milhão m2 de área verde preservada.
Um bom exemplo de parceria que poderia
ser estabelecida entre empresas, governos e
sociedade civil para recuperação e manutenção
de reservas naturais urbanas.
Boa leitura!
Professor Vicente Nogueira Filho
Editor
4 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/20144 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/20144 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
Entrevista
1. Na home page da Malwee, há uma
contagem da quantidade de “garrafas
pet transformadas em moda” e outra
de “litros de água que não foram
retirados da natureza” nos processos
de produção da empresa. Como são
esses dois programas?
Taise Beduschi - A Malwee traz na
sua história a responsabilidade com
o meio ambiente e a crença de que o
recurso preservado hoje será fonte
de subsistência no futuro. Em 2001, o
tratamento de efluentes já devolvia, para
o rio, a água utilizada na produção, com
uma eficiência de 92% em remoção de
DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio),
índice que chegou a 98%, bem acima
dos 80% exigidos pela lei. A instalação
do sistema de MBR (Membranas de
Ultrafiltração), inédito na América do Sul,
permitiu o uso da água de seu efluente
novamente no processo.
A MALWEE, SEDIADA
EM JARAGUÁ DO
SUL (SC), UMA DAS
MAIORES INDÚSTRIAS
DE MODA DO
PAÍS, INVESTE EM
TECNOLOGIAS MAIS
LIMPAS E EM AÇÕES
QUE REDUZEM O
IMPACTO AMBIENTAL
EM SEU PROCESSO
PRODUTIVO,
MOSTRANDO QUE É
POSSÍVEL OBTER BONS
RESULTADOS COM
RESPEITO AO MEIO
AMBIENTE.
O sistema tem capacidade de 300
milhões de litros por ano, com
possibilidade de reuso de até 200
milhões, reduzindo assim a captação
de água dos rios da região. O contador
no site é uma forma de mostrar para os
consumidores que a sustentabilidade é
tratada continuamente aqui na Malwee,
e, ainda, uma maneira de motivar outras
empresas a também preservarem
recursos naturais. Sobre a malha PET,
em 2010, a Malwee selecionou duas
empresas brasileiras detentoras da
tecnologia de transformar as embalagens
PET em fibras de poliéster. Elas passaram
a desenvolver fios de acordo com as
necessidades da Malwee. É um processo
de transformação muito bonito, pois
um material que não teria mais utilidade
é transformado em um novo produto,
evitando a extração de mais recursos
naturais.
4 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
5FACULDADE AIEC 5FACULDADE AIEC 5FACULDADE AIEC
“
”
Hoje, registramos todas as novas malhas
desenvolvidas com o PET e quantificamos
a produção, deixando claro por meio
do contador no site o impacto positivo
que geramos ao retirar essas garrafas
da natureza, contabilizando mais de 10
milhões delas atualmente. Além da malha
PET, a equipe de pesquisa da Malwee
busca continuamente novas matérias
primas com o viés da sustentabilidade,
como o jeans sustentável, que usa 45%
a menos de água, malha com algodão
desfibrado proveniente de processos
de reciclagem de resíduos têxteis e
amaciante de cupuaçu.
2.Umaroupacom50%defiode
poliéster de garrafas PET traz
resultados positivos para o meio
ambiente. Mas ela é mais barata
para o consumidor? E como é a sua
qualidade?
Taise Beduschi - Quanto ao preço
do produto, outros fatores, além da
matéria prima, compõem o preço da
peça, como o número de operações de
costura, estampas, tipos de acabamento
utilizados, entre outros. O fio PET é um
dos itens dessa composição de preço.
Buscamos desenvolver esses produtos
considerando as tendências da moda,
com preço justo em toda a cadeia e que
seja acessível ao consumidor. Quanto
à qualidade, esse é um atributo das
peças da Malwee, reconhecido pelos
consumidores. Características como
maciez, durabilidade, conforto e
uniformidade de cor são fundamentais
para a Malwee e essas valiosas
propriedades foram consideradas no
desenvolvimento do produto.
3. Os consumidores brasileiros
certamente valorizam as
empresas que se preocupam com
sustentabilidade e uso racional
de recursos. Mas essa valorização
estáinfluenciandoasuadecisãode
compra?
Taise Beduschi - O fator
sustentabilidade se torna influenciador
na decisão de compra, desde que o
produto com viés sustentável possua
preço competitivo no mercado.
Pesquisas recentes do Instituto Akatu e
da Nielsen mostram que tem aumentado
no Brasil o percentual de consumidores
que buscam informação sobre
sustentabilidade dos produtos e das
empresas, e também de consumidores
que manifestam o desejo de gastar com
empresas que fazem investimentos
socioambientais. Por outro lado,
pesquisas da Greendex - National
Geografic de 2012 revelam que 66% dos
brasileiros se dizem preocupados com
a sustentabilidade, mas apenas 33% têm
comportamento que justificam essa
afirmação. Ou seja, existe preocupação
com a sustentabilidade, mas o
consumidor, na sua maioria, ainda precisa
ser conscientizado sobre a importância
do consumo responsável e do comércio
justo. Levar sustentabilidade para o
mercado consumidor como alternativa
de compra ainda é uma iniciativa das
empresas visionárias e inovadoras. É uma
aposta na sensibilização e engajamento
futuro do consumidor e em sua
fidelização.
O CONSUMIDOR
BRASILEIRO, NA
SUA MAIORIA,
PRECISA SER
CONSCIENTIZADO
SOBRE A
IMPORTÂNCIA
DO CONSUMO
RESPONSÁVEL E
DO COMÉRCIO
JUSTO. LEVAR
SUSTENTABILIDADE
PARA O MERCADO
CONSUMIDOR
COMO
ALTERNATIVA DE
COMPRA AINDA
É UMA INICIATIVA
DE EMPRESAS
VISIONÁRIAS E
INOVADORAS.
5FACULDADE AIEC
6 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/20146 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
“
”
4. Ao longo da história de nossa
civilização, o progresso econômico
se fez à custa da devastação
ecológica. Você acredita que esse
processo pode ser interrompido,
sem uma mudança no modelo de
desenvolvimento do capitalismo
industrial, baseado na produção
crescente e consumo desenfreado?
Taise Beduschi - Já me fiz a pergunta:
que outro modelo econômico existente,
aplicado a uma sociedade livre, de
mais de sete bilhões de indivíduos, não
promoveria flagelos ambientais? O
fato é que chegamos até aqui e, a partir
deste ponto, retroceder é impossível.
Apenas amenizar esses flagelos não é
suficiente e interromper esse processo
de forma abrupta é impossível, pois os
interesses dos diversos grupos sociais
e econômicos divergem por falta de
conhecimento ou por um ceticismo
conveniente. Acredito que não existe
solução de curto prazo, mas também não
sei se teremos tempo de implementar
soluções de longo prazo. No momento,
a melhor alternativa é promover o
conhecimento acerca dos desafios
da sustentabilidade e das possíveis
soluções, trabalhar para engajar a
sociedade na mudança do seu estilo
de vida, promover a ideia do consumo
consciente e oferecer alternativas
de produtos que contribuam para a
reversão desse modelo. É um processo
desafiador, pois se trata de mudança de
cultura.
5. O Prêmio Nobel de Economia, o
americano Milton Friedman, no início
dos anos 70, estimulou a polêmica
sobre responsabilidade social e
ambiental das empresas ao dizer: “Há
poucas coisas capazes de minar tão
profundamente as bases de nossa
sociedade livre do que a aceitação por
parte dos dirigentes das empresas
de uma responsabilidade social que
não a de fazer tanto dinheiro quanto
possível para seus acionistas.” O que
vocêpensasobreessaafirmação?
Taise Beduschi - Essa visão levou
grande parte da humanidade à miséria.
E fez uma série de empresas americanas
desenvolverem estratégias de preço
que massacraram seus fornecedores,
pressionando-os a promover trabalho
escravo ao longo de sua cadeia e a utilizar
de forma irresponsável recursos naturais
de países em situação econômica frágil.
Essa opção equivocada hoje mancha a
imagem de marcas famosas. A geração
de riqueza deve estar acompanhada de
valores éticos, com respeito aos direitos
do ser humano e preocupação com o
uso racional dos recursos da natureza.
Aqueles que concordavam na época
com o pensamento do economista
certamente não imaginavam o cenário
que viveríamos hoje, em que empresas
acumulam prejuízos impedidas de operar
por falta de água! Não consideravam
tampouco que o fluxo de geração de
riqueza para a empresa se retroalimenta
da geração de riqueza para seus
colaboradores e para a sociedade.
A GERAÇÃO
DE RIQUEZA
DEVE ESTAR
ACOMPANHADA DE
VALORES ÉTICOS,
COM RESPEITO
AOS DIREITOS DO
SER HUMANO E
PREOCUPAÇÃO
COM O USO
RACIONAL DOS
RECURSOS DA
NATUREZA.
6 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
7FACULDADE AIEC
“
”
6. Qual a melhor forma de educação
para a sustentabilidade?
Taise Beduschi - Precisamos de pais
que ensinem a seus filhos valores básicos
de respeito ao ser humano, à natureza
e a todas as espécies. E precisamos
de professores que contribuam com
a formação de cidadãos conscientes
da importância do desenvolvimento
sustentável. Em um mundo ideal, é assim
que teremos pessoas com capacidade
de contribuir com soluções para que
as gerações futuras tenham o que lhes
é de direito. Mas, no mundo real, as
empresas que acreditam na causa da
sustentabilidade devem ir além: levar
informação e conhecimento para os
diversos públicos e mostrar que é
possível ser responsável para com o
meio ambiente e com a sociedade e ter
resultados econômicos.
7. A Malwee incorporou com
criatividade, responsabilidade e
inteligência o tema sustentabilidade
a sua identidade institucional,
reforçando o conceito em suas
novas coleções. Para terminar
nossa entrevista, uma pergunta
que muito empresário gostaria
de fazer: “dá dinheiro investir em
sustentabilidade”?
Taise Beduschi - Depende do que
se entende por “dar dinheiro”.
Conheço empreendimentos que
teriam fracassado se aspectos de
sustentabilidade não tivessem sido
considerados desde o planejamento.
Vendas comprometidas por conta de
barreiras comerciais relacionadas a
critérios ambientais e sociais; atraso
de projetos resultantes de estudos de
impactos socioambientais incompletos;
orçamentos estourados porque
projetos precisaram ser modificados
para atender critérios ambientais;
operações embargadas por questões
ambientais simples, como a falta de água,
são alguns dos problemas enfrentados
por empresas por descuidarem da
sustentabilidade. Quando a empresa
considera essa dimensão em seu
planejamento estratégico, diminuem
os riscos de a empresa perder dinheiro
e aumentam as chances de retorno
do investimento. Precisamos evoluir
nesse aspecto, e alguém tem que sair
na frente. Nós, da Malwee, queremos,
acima de tudo, construir um futuro em
que a moda caminhe lado a lado com a
sustentabilidade, uma moda fashion que
siga a tendência, encante o consumidor
e promova seu engajamento para o
desenvolvimento sustentável. Esse é o
nosso desafio!
QUANDO
A EMPRESA
CONSIDERA
A DIMENSÃO
SUSTENTABILIDADE
EM SEU
PLANEJAMENTO
ESTRATÉGICO,
DIMINUEM OS
RISCOS DE A
EMPRESA PERDER
DINHEIRO E
AUMENTAM AS
CHANCES DE
RETORNO DO
INVESTIMENTO.
7FACULDADE AIEC
8 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
Gestão do diálogo
O acidente ocorrido em 13/05/14
na mina de carvão de Soma,
Turquia, sacrificou a vida de
301 trabalhadores. Essa tragédia nos
entristece profundamente e nos convida
a uma reflexão sobre a importância do
diálogo social crítico para limitar a lógica
do lucro quando ele coloca em perigo
vidas humanas.
O diálogo social interrogativo
Uma sociedade desenvolve padrões de
comportamento a partir do que entende
como bem viver e mal viver. E é capaz
de modificar os padrões existentes ou
criar novos padrões de comportamento
quando surgem situações problemáticas
e intoleráveis que comprometem o bem-
estar público.
O que é tolerável e intolerável para uma
sociedade pode ser definido a partir de
questionamentos como: o que fazemos
do desejo de bem viver juntos? Quais
são os nossos valores? Por quais valores
estamos dispostos a nos mobilizar? Que
tipo de vida é capaz de encarnar o nosso
desejo de bem viver juntos e os valores
que escolhemos?
As interações comunicativas dependem
da relação interlocutiva, que atinge o
seu melhor nível com o diálogo social
interrogativo para formar vínculos
sociais inclusivos, construtivos e críticos.
O melhor lugar para se viver é aquele em
que a comunidade recusa a violência e
privilegia a prática desse diálogo social
interrogativo com ética, na busca do que
deve ser feito para bem viver juntos.
O questionamento inspira o nível crítico
do diálogo ao combinar os quatro
polos interrogativos: 1) as questões
(por que e como bem viver juntos?);
2) os questionantes (cada um dos
componentes da sociedade, seja de
esquerda ou direita, crentes ou ateus,
jovens ou velhos); 3) os pontos de vista
(a diversidade de visões de mundo); 4) o
contexto sociopolítico.
Essa abordagem torna mais facilmente
problematizável o objeto questionado.
Trata-se de uma forma de organizar
a interação que pode ser aplicada
em diversas situações conflituosas,
constituindo-se como uma competência
básica para a boa governança.
TRAGÉDIAS COMO
DA MINA DE CARVÃO
DE SOMA PODERIAM
SER EVITADAS COM
FERRAMENTAS
DEMOCRÁTICAS
DE PARTICIPAÇÃO
POPULAR COMO O
DIÁLOGO SOCIAL
INTERROGATIVO.
Ozdemir Ergin
Traduzido do original em francês por Artur Roman
9FACULDADE AIEC
“
”
Experiênciacanadense
A Suprema Corte do Canadá utiliza
uma abordagem semelhante para
a correta gestão do país. O diálogo
social interrogativo em caso de grave
conflito, que é constante em uma
democracia, acontece no parlamento,
em tribunais administrativos e em
fóruns civis, da seguinte forma: a) cada
cidadão pode dar sua versão sobre o
tema em debate e ouvir os demais; b)
o conjunto dessas versões, opostas e
complementares, compõe os aspectos
relevantes do conflito; c) os aspectos
pertinentes dos relatos compartilhados
entre os cidadãos formam um
material vivo e orientam a ação
coletiva; d) a partir dessas narrativas
diversificadas, os cidadãos definem as
decisões e determinam as normas e
procedimentos.
O diálogo social interrogativo promove
um ajuste contínuo entre “o que deveria
ser feito”, e que é considerado como
boa conduta, e “o que foi feito”, e que
é considerado como má conduta pelo
conjunto da sociedade.
Umexercício
Convido o leitor a fazer, junto comigo,
um exercício de diálogo interrogativo,
tendo como tema o neoliberalismo
e a globalização, conceitos muito
questionados e debatidos atualmente,
especialmente nos países centrais, para
chegarmos depois na tragédia turca de
Soma.
Consideremos a globalização como
a circulação em escala mundial de
mercadorias, recursos financeiros e
trabalhadores, com uma influência
significativa no PIB dos países.
Consideremos o neoliberalismo como
um sistema econômico com as seguintes
características: 1) concorrência entre
as pessoas, ou seja, competição de
todos contra todos; 2) concentração
da renda nas mãos de uma minoria
em detrimento das classes mais
desfavorecidas socialmente; 3) declínio
da socialdemocracia com a consequente
marginalização do bem comum e
da justiça social; 4) transposição da
lógica do modelo privado para a gestão
pública, sem os ajustes necessários; 5)
enfraquecimento do sindicalismo.
Quando a globalização e o neoliberalismo
ultrapassam a fronteira do que é tolerável,
o diálogo social deveria permitir os ajustes
apropriados em termos de ética pública
(respeito a todos os cidadãos em primeiro
lugar) e de justiça social (redução das
desigualdades).
O diálogo social deveria harmonizar a
relação entre o contexto problemático
e o conteúdo ativo da boa governança,
o que inclui: as dimensões cultural
e política; o cuidado com a saúde e
segurança dos cidadãos, a defesa de sua
integridade moral; as consequências
sobre o bem comum ou o bem individual;
a sensibilidade, as emoções, as convicções
das pessoas; a qualidade interrogativa no
compartilhamento dos relatos; o nível
de responsabilidade de cada um e das
instituições envolvidas; a autenticidade
das vontades; e o comprometimento com
as deliberações tomadas.
AS INTERAÇÕES
COMUNICATIVAS
ATINGEM O
SEU MELHOR
NÍVEL COM O
DIÁLOGO SOCIAL
INTERROGATIVO
PARA FORMAR
VÍNCULOS
INCLUSIVOS E
CONSTRUTIVOS.
A MELHOR
COMUNIDADE
PARA SE VIVER
É AQUELA
QUE RECUSA
A VIOLÊNCIA E
PRIVILEGIA O
DIÁLOGO NA
BUSCA DO QUE
DEVE SER FEITO
PARA BEM VIVER
JUNTOS.
10 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
“
”
Esse contexto afeta hoje fortemente a
Turquia e muitos outros países.
A tragédia turca
Na Turquia, o Estado privatizou as minas
de carvão e o dinheiro árabe sustenta
o governo muçulmano conservador.
As holdings muçulmanas, também
conservadoras, reduziram o custo
de produção do minério por quase
dez e multiplicaram por quase 100 a
quantidade de mortes no trabalho.
Elas sabotam a segurança, a saúde e os
salários dos trabalhadores. A proteção
social dos trabalhadores é quase ausente
e o Estado participa dos desvios do
capitalismo selvagem e da corrupção.
A catástrofe de Soma é um sinal claro
de irresponsabilidade em relação às
condições de trabalho na indústria de
mineração. Um testemunho dos aspectos
negativos do neoliberalismo e da má
orientação das políticas públicas do
governo. Os responsáveis religiosos do
país dizem: “o risco de morte faz parte
da atividade de mineração...é a vontade
de Deus...”. Nas minas da Turquia, há 80
vezes mais mortes de trabalhadores do
que nas minas da América do Norte. Será
que Deus ama aos americanos mais que
aos turcos?
A Turquia se recusou a assinar
determinadas disposições das
convenções internacionais relacionadas
à segurança no trabalho nas minas,
para evitar o reflexo nos custos de
produção. Na mina de Soma e em todas
as minas privadas na Turquia, a lógica é
“explorar com o menor custo possível,
independentemente das consequências.”
Máquinas sem valor
A valorização do ser humano é essencial
no Islã e na cultura turca. Os trabalhadores
das minas, porém, são tratados como
máquinas sem valor. O lucro é mais
importante que a valorização das pessoas.
A tragédia de Soma pode ser referida
como “massacre de trabalhadores”, pois
a catástrofe era previsível. Os padrões
de segurança antiquados haviam sido
denunciados, mas nada foi feito pelo
governo e pelos proprietários.
A opinião pública, os partidos políticos,
os sindicatos, os ministérios e os
especialistas se mobilizaram para exigir
uma comissão de investigação e um
projeto com novas regras e novas
condições de trabalho nas minas da
Turquia.
É necessário o exercício contínuo do
diálogo social para delinear as fronteiras
entre o tolerável e o intolerável na
mineração. A exploração de minérios
é uma área complexa e sujeita à
competitividade e à concorrência
internacional.
NA TURQUIA,
O ESTADO
PRIVATIZOU AS
MINAS DE CARVÃO
E O DINHEIRO
ÁRABE SUSTENTA
O GOVERNO
MUÇULMANO
CONSERVADOR.
AS HOLDINGS
MUÇULMANAS
REDUZIRAM
O CUSTO DE
PRODUÇÃO DO
MINÉRIO POR
QUASE 10 E
MULTIPLICARAM
POR QUASE 100
A QUANTIDADE
DE MORTES NO
TRABALHO.
11FACULDADE AIEC
“
”
A orientação estratégica, porém, deve
ser coerente e não sacrificar a gestão
de riscos, tampouco a qualidade das
condições de trabalho. A coesão social
requer uma economia mista que
respeite a dignidade humana.
Significadodoprogresso
Após essa breve reflexão, vemos que
o provérbio “é melhor prevenir do
que remediar” é muito pertinente. Tal
abordagem reduziria o drama humano e
o fatalismo diante de tragédias que nós
podemos evitar.
O destino dos países depende da
capacidade de questionar o legado do
passado e a pertinência das escolhas
atuais nas políticas públicas. Os países
emergentes, como a Turquia e o Brasil,
têm os meios para evitar os erros
do passado cometidos pela Europa
industrial. Precisamos confiar em nosso
potencial humano e em nossos recursos
culturais e naturais para construir as
possibilidades para o bem viver juntos.
Os resultados do nosso compromisso
com o bem comum é tão importante
quanto a natureza de nossas crenças,
quer sejamos religiosos ou ateus.
A PROPOSTA DO
GOVERNO BRASILEIRO
DE CRIAÇÃO
DE CONSELHOS
POPULARES ESTÁ
SINTONIZADA COM
AS MELHORES
PRÁTICAS
DEMOCRÁTICAS
DOS PAÍSES
DESENVOLVIDOS,
ESPECIALMENTE POR
OFERECER MAIS UM
ESPAÇO PARA O
DIÁLOGO SOCIAL
INTERROGATIVO.
Nós podemos e devemos favorecer a
participação de todos os componentes
diferentes da sociedade em torno do
legado da maioria e em torno de valores
comuns para reduzir o sofrimento e criar
um ambiente de vida sustentável. Esse é o
verdadeiro significado de progresso.
Conselhos populares
Acompanhei a distância, aqui de Quebec,
as grandes mobilizações de rua de junho
e julho de 2013 no Brasil. A resposta do
governo brasileiro, propondo a criação
de conselhos populares, que passarão a
ser consultados a respeito das políticas
públicas do governo federal, me parece
bem inteligente e sintonizada com as
melhores práticas democráticas dos
países desenvolvidos, especialmente por
oferecer um espaço importante para o
diálogo social interrogativo, além dos
espaços tradicionais do parlamento que,
me parece, pelas leituras que faço sobre o
Brasil, está um tanto desacreditado no país.
O diálogo social pode ajustar a ética pública
para que seja possível diferenciar as
práticas toleráveis das intoleráveis, corrigir
os aspectos negativos da atividade humana
e promover a amizade cidadã na oposição e
complementaridade democrática.
Ozdemir Ergin
Administrador de organização de
utilidade pública em Quebec - Canadá.
Desenvolve pesquisas em nível
de doutorado em ciências sociais
em universidades europeias e em
universidade canadense. Diplomado em
Ciências Sociais pela Sorbonne Nouvelle
Paris III (DEA) e pelo Institut National
des Langues et Civilisations Orientales
de Paris.
12 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
Gestão de viagens
12 IDEIAS EM GESTÃO
As pessoas têm fascínio pelo ato
de viajar. Seja pela própria cidade
ou pelo outro lado do mundo, a
vontade de sair por aí cruzando fronteiras
e descobrindo coisas está codificada
no DNA do ser humano. Para algumas
pessoas, o importante é o destino. Para
outras, a jornada em si. Alguns buscam
comodidade, outros buscam aventuras. De
modo geral, viajamos para conhecer novos
lugares, encontrar pessoas, aprender
sobre outras culturas, vivenciar novas
experiências, experimentar novas comidas
ou simplesmente sair da zona de conforto.
Viajar é um dos melhores investimentos
que alguém pode fazer. As experiências
e lembranças se tornam um patrimônio,
capaz de resistir a crises e render
dividendos em outros momentos da vida.
Muitas vezes os conhecimentos e ideias
adquiridas em viagens acabam por resultar
até em uma guinada na carreira ou na vida,
pois o viajante passa por situações que
renovam seu modo de ver o mundo e as
pessoas.
Há alguns anos, uma viagem
internacional era um algo restrito a
poucas pessoas. Hoje, viajar para fora
pode até ser mais fácil e barato do que
se deslocar dentro do Brasil. Além da
maior oferta de voos e facilidades de
pagamentos em moedas estrangeiras, os
viajantes têm acesso a uma quantidade
enorme de informações que lhes
permitem planejar e realizar viagens que
antes eram apenas sonhos distantes.
Mas para que o sonho não se transforme
em pesadelo, alguns cuidados são
necessários.
A viagem como projeto
Uma viagem bem sucedida é aquela
que corresponde aos objetivos dos
viajantes, gerando tanto a satisfação de
suas expectativas quanto um retorno
adequado ao que foi investido em sua
realização. Lembremos, contudo, que
esse investimento costuma ser bastante
significativo, tanto em dinheiro quanto
em tempo.
A MAIOR FACILIDADE
PARA VIAGENS AO
EXTERIOR NÃO
DISPENSA O VIAJANTE
DE UM CUIDADOSO
PLANEJAMENTO E DO
CUMPRIMENTO DE
ETAPAS IMPORTANTES
ANTES, DURANTE E
DEPOIS DA VIAGEM.
Newton Ribeiro Machado Neto
13FACULDADE AIEC 13FACULDADE AIEC
“
”
Assim, para que o investimento tenha o
melhor retorno, a viagem deve receber
o mesmo tratamento que damos a um
projeto.
Iniciação
A primeira fase de um projeto é a
Iniciação. É o momento de identificação
da necessidade, definição dos objetivos
e análise dos recursos disponíveis.
No caso de uma viagem, nesta etapa,
o viajante deve pensar inicialmente
sobre qual necessidade busca atender.
Quero apenas me afastar do trabalho e
descansar? Aprender ou aprimorar um
idioma estrangeiro? Viver momentos
de reflexão ao longo de um caminho
milenar? Ou apenas me divertir e fazer
compras?
A partir da identificação da necessidade,
podem ser definidos o objetivo e o
destino da viagem. Essa definição, para
a maioria das pessoas, resume-se a
afirmações vagas como “vou aos Estados
Unidos”, ou “quero visitar Londres, Paris
e Roma”. Contudo, se não houver uma
clareza maior em relação aos objetivos,
a chance de voltar insatisfeito ao final da
viagem é muito grande.
Sabendo que necessidade visa atender
e qual o seu objetivo, o viajante pode
então passar para uma das etapas mais
cruciais do projeto de viagem: a análise
dos recursos disponíveis.
Esses recursos não se limitam ao
dinheiro; incluem também a duração das
férias ou do afastamento do trabalho,
a existência de parentes e amigos que
possam oferecer hospedagem e apoio
no exterior e mesmo as competências do
viajante, como o domínio do idioma, por
exemplo.
Quanto mais claramente estiverem
definidos a necessidade, os objetivos
e os recursos disponíveis, melhor será
o planejamento da viagem. E, como
a maioria das viagens é realizada em
conjunto, seja com familiares ou com
amigos, é fundamental que a fase
de iniciação tenha a participação de
todos os envolvidos. Se não houver
um alinhamento de expectativas e
consenso entre os integrantes do grupo
quanto aos objetivos da viagem, o
risco de conflitos e insatisfação cresce
exponencialmente.
Planejamento
A emoção de traçar um roteiro,
pesquisar sobre países, conversar
com pessoas que já estiveram lá,
tudo isso faz com que planejar uma
viagem internacional seja quase tão
emocionante quanto realizá-la. É um
momento que deve ser vivenciado
intensamente. Contudo, planejar uma
viagem é bem mais do que apenas
listar expectativas aleatórias. Algumas
reflexões são fundamentais nesta fase,
tais como:
VIAGEM BEM
SUCEDIDA É AQUELA
QUE CORRESPONDE
AOS OBJETIVOS DO
VIAJANTE, GERANDO
SATISFAÇÃO DAS
EXPECTATIVAS
E RETORNO
ADEQUADO AO
QUE FOI INVESTIDO.
PARA QUE O
INVESTIMENTO
TENHA O MELHOR
RETORNO, A
VIAGEM DEVE
RECEBER O MESMO
TRATAMENTO QUE
DAMOS A UM
PROJETO.
14 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
“
”
14 IDEIAS EM GESTÃO
• O tempo disponível é suficiente para
realizar todos os passeios e atividades
previstas? Se a viagem tornar-se uma
maratona de atividades que deixa o
viajante exausto ao final do dia, alguma
coisa pode estar errada.
• As despesas e o orçamento disponível
foram estimados corretamente? Na
euforia da preparação, o viajante pode
superestimar sua capacidade financeira
e subestimar os custos da viagem. Nada
estraga mais uma viagem do que receber
uma conta gigantesca do cartão de
crédito logo depois de retornar.
• Tenho todas as informações
necessárias? É muito frustrante elaborar
o roteiro em torno de alguma cidade
ou sítio arqueológico e descobrir que o
local encontra-se fechado bem no dia
de sua visita. Ou então visitar um país
exatamente na temporada de furacões
ou na estação chuvosa.
É durante a fase de Planejamento
que o projeto da viagem começa a
ganhar forma. Aqui são escolhidos os
locais a serem visitados, as datas de
ida e volta e os vários fornecedores
(empresas aéreas, agentes de viagem,
consulados, hotéis, locadoras, etc.).
Essas definições resultam em um roteiro
da viagem, um cronograma detalhado,
um orçamento com os recursos
disponíveis e as despesas previstas,
e uma lista de atividades com seus
respectivos responsáveis. Esses quatro
“documentos” constituem a essência
do projeto de viagem. Vejamos cada um
deles:
• Roteiro: é uma descrição dos pontos
a serem visitados, dos deslocamentos
necessários e dos locais de hospedagem.
O roteiro deve resumir as definições
essenciais da viagem, incluindo as
atividades e passeios que serão realizados.
• Cronograma: é a versão temporal do
roteiro, destacando as datas e horários
das atividades, deslocamentos e períodos
de descanso, com uma margem para os
imprevistos.
• Orçamento: ajuda a dimensionar os
gastos e a mantê-los dentro dos limites
estabelecidos. O orçamento deve ser
bastante conservador e considerar uma
margem de segurança para fazer frente a
situações imprevistas. Deve também levar
em conta não apenas os preços em si, mas
também gastos emergenciais, tributos e
eventuais custos financeiros como multas,
juros, etc.
• Lista de Atividades: reúne as
providências decorrentes do
planejamento, como aquisição de moeda
estrangeira, contratação de seguros,
emissão de vistos, liberação de cartões
e telefones para uso no exterior, etc.
Quanto mais detalhada for a lista, menor o
risco de esquecer algo importante.
Execução
O Planejamento está completo e
chegamos à fase de Execução, na qual as
atividades do projeto de viagem serão
concretizadas. A viagem começou e as
atividades que foram planejadas estão
acontecendo na prática. É o momento
de relaxar e curtir esse momento tão
esperado.
A EMOÇÃO
DE TRAÇAR
UM ROTEIRO E
PESQUISAR SOBRE
PAÍSES FAZ COM
QUE PLANEJAR
UMA VIAGEM
INTERNACIONAL
SEJA QUASE TÃO
EMOCIONANTE
QUANTO REALIZÁ-
LA. ESSE
MOMENTO DEVE
SER VIVENCIADO
INTENSAMENTE.
CONTUDO,
PLANEJAR UMA
VIAGEM É
BEM MAIS DO
QUE LISTAR
EXPECTATIVAS
ALEATÓRIAS.
15FACULDADE AIEC 15FACULDADE AIEC
“
”
Esse é o momento em que os cuidados
tomados nas fases anteriores começam
a mostrar sua utilidade, pois, se o
Planejamento foi bem feito, a Execução
ocorrerá sem sobressaltos que
comprometam a viagem. Cabe lembrar
que, por mais detalhado que tenha sido
o Planejamento, este não deve se tornar
uma camisa de força ou um check-list
a ser cumprido burocraticamente. O
grande objetivo, no final das contas, é
usufruir da viagem!
Monitoramento
Com a viagem em andamento, o viajante
não deve baixar a guarda! Mesmo
com uma boa dose de flexibilidade, é
importante observar as linhas gerais
do roteiro e do cronograma, pois um
dia a mais em um local pode significar
um dia a menos em outro. Mudanças no
roteiro podem causar perdas financeiras
decorrentes das multas e taxas por
alteração em passagens e reservas de
hotéis.
Outro fator que deve ser observado
durante o Monitoramento é o controle
das despesas, com base no orçamento.
CONTROLAR
AS DESPESAS
É NECESSÁRIO
PARA MANTER
AS FINANÇAS
NA LINHA. SE
O VIAJANTE
GASTAR ALÉM
DOS RECURSOS
DISPONÍVEIS,
AO FINAL DA
VIAGEM, EM VEZ
DE CURTIR AS
LEMBRANÇAS,
ESTARÁ
PREOCUPADO EM
COMO PAGAR AS
CONTAS.
Anotar as despesas e periodicamente
verificar o quanto gastou e de quanto
ainda dispõe são ações necessárias
para manter as finanças na linha. Se o
viajante ceder à tentação das compras
por impulso e gastar além do valor
disponível, terá que arcar com tributos
e despesas financeiras caso utilize o
cartão de crédito ou outras formas de
financiamento. E, ao final da viagem, em
vez de curtir as lembranças, você estará
preocupado em como pagar as contas.
Encerramento
Ao voltar para casa, geralmente somos
logo envolvidos pelas demandas do
dia a dia e mal temos tempo para fazer
uma reflexão sobre a viagem e avaliar
seus resultados. Este, porém, é um
momento que deve ser aproveitado para
consolidar aprendizados e experiências,
comparando-as com nossas expectativas
e objetivos no início do projeto. A partir
dessa reflexão é que podemos avaliar se
o investimento realizado na viagem, em
termos de tempo, dinheiro e energia,
teve o retorno pretendido. Se a resposta
for positiva, podemos considerar
que o projeto foi um sucesso e que a
experiência adquirida permitirá realizar
viagens ainda melhores no futuro.
Newton Ribeiro Machado Neto
Diretor da Mais Ativos Educação
Financeira e consultor em Gestão de
Pessoas. Autor do livro Passaporte Para
Viajar Mais, sobre finanças pessoais
em viagens. Especialista em Gestão do
Desenvolvimento Sustentável pela UnB e
pós-graduado em Japanese Language and
Society pela Universidade de Sheffield,
Inglaterra. Bacharel em Administração
pela Faculdade AIEC.
16 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
Gestão do espaço urbano
O planejamento urbano se
apresenta hoje como um dos
principais desafios a serem
enfrentados nas grandes cidades. As
conformações arquitetônicas geradas
em função dos interesses do mercado
imobiliário não têm trazido respostas às
demandas da população e as questões
urbanas têm sido vistas como uma
problemática de solução apenas a longo
prazo.
Essa situação tem animado profissionais,
comunidades acadêmica e entidades
envolvidas com a temática a pensarem
novas soluções para os problemas
urbanos e também novos formatos para
se discutirem e se perceberem as nossas
cidades. O Jane’s Walk e o 72h Urban
Action são duas dessas iniciativas.
O que é o Jane’s Walk?
É uma proposta de reativação da
caminhada, do “pé no chão” como ponto
de partida para a investigação urbana.
BRASIL RECEBE
PELA PRIMEIRA VEZ
DUAS INICIATIVAS
INTERNACIONAIS PARA
SE PENSAR AS CIDADES
E DISCUTIR SOLUÇÕES
INOVADORAS PARA OS
PROBLEMAS URBANOS.
Juliano Monteiro
São passeios a pé planejados e orientados
em que os caminhantes são convidados
a observar os detalhes da cidade,
suas curiosidades e suas surpresas, e
descobrir locais muitas vezes conhecidos,
mas inexplorados pela maior parte da
comunidade.
O Jane’s Walk foi criado em 2006, em
Toronto, Canadá, por pessoas que viviam
próximas ao trabalho de Jane Jacobs,
teórica urbanista que propagava a ideia da
cidade feita pela cidade, e que acreditava
no envolvimento das comunidades na
transformação de suas cidades e na
construção das soluções para os seus
problemas urbanos.
O Jane’s Walk acontece todos os anos
e nos mesmos dias em mais de 100
cidades ao redor do mundo. Neste ano,
aconteceram diversas caminhadas,
programadas por organizadores locais
ou mesmo por leigos que gostariam de
conhecer mais o seu espaço.
17FACULDADE AIEC
“
”
Em Nova York, foram mais de 100
caminhadas. Aqui pelo Brasil, já temos
organizadores responsáveis pela
realização das caminhadas em cinco
cidades, incluindo Curitiba, pela qual sou
responsável.
Caminhando por Curitiba
Na primeira edição do Jane’s Walk aqui
em Curitiba, nos dias 2, 3 e 4 de maio
passado, convidamos, como guias
para as caminhadas, profissionais de
diversas áreas, da gastronomia até o
empreendedorismo. Combinamos
duas caminhadas por dia para instigar
a investigação da cidade. Foi curioso e
surpreendente descobrir que temos
diversos locais desconhecidos ou
escondidos em Curitiba dentro de
áreas diariamente frequentadas. Essas
caminhadas foram uma preparação para
o 72h Urban Action (72HUA), uma outra
proposta inovadora para se discutirem
soluções para nossas cidades.
O que é o 72HUA?
O 72HUA é a primeira competição
de arquitetura e intervenções
urbanas realizada em tempo real. São
selecionados, entre os inscritos no site da
entidade, por volta de 100 participantes,
de qualquer nacionalidade, que estejam
dispostos a contribuir com a “guerrilha”,
como é carinhosamente chamado o
evento. A competição tem duração de três
dias ou 72 horas.
Os 100 participantes são organizados
em dez grupos. Cada grupo recebe uma
missão, elaborada previamente pela
equipe organizadora local do 72HUA,
constituída por órgãos representativos
da municipalidade e representantes
da comunidade que receberá as
intervenções. A missão consiste em
criar uma solução para um problema
existente em um determinado local
público da cidade. Esse problema deverá
ser solucionado da maneira que o grupo
entender melhor, sem direcionamento
dos organizadores.
A equipe organizadora procura juntar
competências múltiplas em cada
grupo, mesclando participantes locais e
estrangeiros, criativos e produtivos, para
que a experiência seja enriquecedora
para todos e o resultado o mais
consequente possível. Cada grupo
avalia a missão e informações recebidas,
elabora um projeto, aprova esse projeto
com a organização e conselheiros
técnicos, no local, e realiza a intervenção.
Tudo dentro das 72 horas.
Os projetos resultam em intervenções
de pequeno e médio porte. Não teremos,
portanto, a construção de uma escola
ou uma creche em 72h, mas poderemos
ter uma solução para o intenso fluxo
de crianças e veículos em determinada
rua, ou uma solução para mobiliário de
contemplação ou convivência em uma
área degradada, entre outras.
O JANE’S WALK
É UMA PROPOSTA
DE INVESTIGAÇÃO
URBANA. SÃO
PASSEIOS A PÉ
ORIENTADOS
EM QUE OS
CAMINHANTES
SÃO CONVIDADOS
A OBSERVAR OS
DETALHES DA
CIDADE, SUAS
CURIOSIDADES
E SURPRESAS, E
DESCOBRIR LOCAIS
MUITAS VEZES
CONHECIDOS, MAS
INEXPLORADOS
PELA MAIOR PARTE
DA COMUNIDADE.
18 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
“
”
As soluções convencionais que têm
sido propostas para os problemas
urbanos têm se tornado obsoletas
em um curto espaço de tempo. O
72HUA pretende estimular a criação
de propostas moldadas por pessoas de
diversas culturas que aglutinam suas
múltiplas competências em torno de
um objetivo comum. Uma das grandes
potencialidades da plataforma 72HUA é a
abertura para inovações arquitetônicas,
em que se aliam a criatividade, a
tecnologia e a funcionalidade.
72HUA em Curitiba
A primeira edição do 72h Urban Action
aconteceu em 2010 em Bat-Yam (Israel)
e nos anos seguintes se espalhou por
diversas cidades europeias. A primeira
edição fora da Europa acontecerá nos
próximos meses em Curitiba.
Para trazer o evento para o Brasil,
foram necessárias algumas adaptações
jurídicas, pois nossa legislação difere
das legislações europeias. Mudanças
também foram feitas na forma
de viabilização do projeto, que foi
integralmente incluído na Lei Rouanet.
As articulações para viabilizar o
72HUA iniciam um ano antes de sua
realização. Foram realizadas diversas
discussões com as instituições locais de
planejamento e pesquisa, instituições de
ensino, representantes da comunidade
local e parceiros diversos, para
que as decisões e orientações com
relação à condução do evento fossem
enriquecidas com diversos pontos de
vista.
O objetivo era possibilitar que os
projetos a serem apresentados
pelos participantes fossem o mais
diversificados, plurais e pragmáticos
possível.
Os participantes escolhidos que não
residem em Curitiba são responsáveis
apenas pelas despesas de viagem. Aqui
chegando, são acolhidos no QG do
evento, até o momento certo de irem
para a área de intervenção definida
para cada equipe. Em Curitiba, todas as
despesas de hospedagem, alimentação
e transporte local correm por conta da
organização do evento.
Mãos à obra!
No primeiro momento, os grupos são
informados das áreas selecionadas
para as intervenções, locais para
reuniões e modos de locomoção. Para
ambientar a todos, é feito um tour pela
cidade, mostrando os principais locais
caracterizadores da conformação
urbana.
Após dada a largada, os participantes
levam em média um dia para discutir
e apresentar um proposta para
intervenção. Logo que tenham sua
intervenção aprovada pela equipe
organizadora, partem para a compra do
material necessário ou contratação de
equipamentos de grande porte, se for o
caso, utilizando a verba disponível, que
é a mesma disponibilizada para todas as
equipes.
O 72HUA
É A PRIMEIRA
COMPETIÇÃO DE
ARQUITETURA E
INTERVENÇÕES
URBANAS REALIZADA
EM TEMPO REAL. O
EVENTO AGLUTINA
MÚLTIPLAS
COMPETÊNCIAS
DE PESSOAS DE
DIVERSAS CULTURAS
PARA ELABORAÇÃO
DE INOVAÇÕES
ARQUITETÔNICAS
EM QUE SE ALIAM
CRIATIVIDADE,
TECNOLOGIA E
FUNCIONALIDADE.
19FACULDADE AIEC
Durante as próximas horas até o final
das 72 horas, contadas com exatidão,
se revezam em turnos, uns trabalham
outros descansam, para, no final, terem
concretizado o que projetaram, com
segurança e perfeição. Durante a prova e
ao final das 72 horas, o júri visita os locais
das intervenções e decide qual a equipe
vencedora.
Na festa de encerramento, é feita uma
grande confraternização, para valorizar
a participação de todos na construção
de soluções para a cidade, a partir da
premissa de que as transformações
urbanas de que a população necessita
devem ocorrer por força da própria
comunidade e podem ser enriquecidas
com a contribuição de participantes
de comunidades de qualquer parte do
mundo.
E não para por aí! No dia seguinte,
realizamos uma nova visita aos locais
modificados, em conjunto com
representantes da municipalidade e
representantes da comunidade para
discutir a permanência e validade das
soluções apresentadas, juntamente
com a decisão de quem irá se tornar
responsável pelo local. Isso coloca à
prova as intervenções e fortalece o
sentimento de responsabilidade das
comunidades beneficiadas, o que
é extremamente necessário para a
contínua atuação das pessoas locais no
processo de transformação do espaço
urbano.
Longa metragem
As propostas de intervenção/ação/
reação imediata trazidas pelo 72HUA
transcendem a formatação tradicional
de projeção, pré-avaliação, execução
e resultado. O 72HUA faz um bate-
bola direto com a raiz do problema
detectado, propondo novas formatações
e soluções à comunidade em questão.
Nas ultimas décadas, temos gerado
uma quantidade muito grande de
informações sobre demandas urbanas.
E temos desenvolvido inúmeras
tecnologias que podem nos auxiliar na
construção de soluções. Nós, arquitetos,
urbanistas e cidadãos preocupados com
nossas cidades devemos buscar formas
alternativas de discutir as questões
que afligem nossas vidas nos núcleos
urbanos, e participar da elaboração
de respostas para essas questões, do
contrário, estaremos apenas sendo
coadjuvantes de uma história em que
cada capítulo está mais próximo de uma
sequência de GIFs animados do que de
um longa metragem.
Juliano Monteiro
Arquiteto curitibano, com passagem
pela Escola Tecnica Superior de
Arquitectura de Madrid e pela Escola
de Música e Belas Artes do Paraná. Tem
no seu portfólio trabalhos com artistas,
designers, teóricos e publicitários.
Investe em diferentes mídias e campos,
complexificando o entendimento
de arquitetura, design e obra. Seus
trabalhos já foram publicados na revista
Wallpaper de Londres. Premiado com
o WA Awards 5th Cicle, também de
Londres. Atualmente gerencia uma
proposta de Agência de ArquiDesign,
chamada Juliano Monteiro Studio
que inaugura um espaço para pensar
a Arquitetura como agenciadora de
diferentes produtos de criação.
jm@julianomonteiro.com
“
”
NÓS, ARQUITETOS,
URBANISTAS E
CIDADÃOS DEVEMOS
BUSCAR FORMAS
ALTERNATIVAS
DE DISCUTIR AS
QUESTÕES QUE
NOS AFLIGEM NOS
NÚCLEOS URBANOS
E PARTICIPAR DA
ELABORAÇÃO DE
RESPOSTAS A ESSAS
QUESTÕES.
20 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/201420 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
PLANEJAMENTO,
ATENÇÃO AO
MERCADO,
DESENVOLVIMENTO
DOS COLABORADORES
E FOCO NO CLIENTE
SÃO OS INGREDIENTES
FUNDAMENTAIS DA
RECEITA DE SUCESSO
DE EMPRESÁRIA
EMPREENDEDORA.
Raimunda Miranda Barros
Gestão empreendedora
A Fibrauto Acessórios,
instalada em Macapá, capital
do estado do Amapá, é um
estabelecimento que comercializa
acessórios automotivos para veículos.
Trata-se de uma empresa familiar criada
em 30/03/1999. O objetivo deste artigo é
compartilhar com os leitores um pouco
de nossa história, dificuldades, desafios
e vitórias em 15 anos de atividades.
A partir de 2003, tivemos, na região,
além do aumento da população, um
crescimento gradativo do número
de veículos, graças às políticas
governamentais de estímulo ao consumo
interno. Nossa empresa não estava mais
dando conta de atender a demanda
crescente dos clientes por acessórios
automotivos. Decidimos então construir
instalações próprias e mais amplas
para atender nossos clientes com mais
conforto e comodidade e passar a
oferecer produtos diferenciados dentro
do mesmo segmento de mercado.
O imprevisível
Quando estávamos construindo o
novo prédio da empresa, aconteceu o
imprevisível: um incêndio destruiu a
construção. Passamos por momentos
difíceis, pois, além dos prejuízos, tivemos
que pagar indenização para outras
empresas que foram atingidas pelo
incêndio. Nunca, porém, pensamos em
desistir do nosso intento de ter o prédio
próprio.
Quando colocamos nossos projetos
e propósitos nas mãos de Deus Todo
Poderoso, encontramos a solução. Uma
empresa chamada Carowim, que vendia
forração de caçamba de pick-up, fez um
sorteio entre os clientes na região norte
do Brasil de uma pick-up Ford Courier.
A Fibrauto foi a sorteada. Vendemos
o veículo e conseguimos concluir a
construção do prédio, onde estamos
instalados até hoje.
20 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
21FACULDADE AIEC 21FACULDADE AIEC
“
”
Diferencial
O diferencial de nossa empresa é o
bom planejamento e o conhecimento
do mercado. Também oferecemos um
pós-venda de qualidade, o que resulta
em fidelização dos clientes, que sempre
voltam para novas compras ou serviços.
Acompanhamos as inovações do
mercado e buscamos nos manter
atualizados com relação à tecnologia e
novos produtos, participando de feiras
automotivas fora do estado, para atender
os clientes com produtos diferenciados.
Damos preferência a produtos de
fabricação nacional, por sua qualidade e
pela facilidade em uma eventual troca.
As vendas atualmente estão atendendo
as expectativas da empresa. O mercado
de nossa região, porém, sofre os efeitos
da sazonalidade. As vendas caem em
fevereiro e agosto e têm o seu pico
em novembro e dezembro, quando os
clientes recebem o décimo terceiro
salário.
Gestão de pessoas
A empresa conta com 22 funcionários
efetivos e uma estagiária, que
desempenham as seguintes funções:
gerente de vendas/comercial,
montadores de acessórios, instaladores
de insulfilm, instaladores de som,
vendedores, estoquistas, operador de
caixa, auxiliar de serviços gerais e auxiliar
administrativo.
O mercado de trabalho está cada vez mais
competitivo. Para conciliar o crescimento
da empresa com a manutenção da
rentabilidade, temos que manter os
clientes satisfeitos. Nosso propósito
hoje não é apenas vender um produto,
mas também oferecer um serviço de
qualidade. Todos os dias fazemos com
que os nossos funcionários abracem essa
causa.
Para tanto, selecionamos profissionais
habilidosos com disposição para o
trabalho em equipe, visão ampliada,
conhecimento de mercado, iniciativa,
espírito empreendedor, persistentes,
otimistas, responsáveis, criativos e
disciplinados. E é assim que atingimos as
metas da empresa.
No nosso estado, Amapá, não há cursos
profissionalizantes no segmento em
que atuamos. A maioria de nossos
colaboradores vem de outro estado. Nós
investimos em seu desenvolvimento e
capacitação profissional e os orientamos
quanto à apresentação pessoal e
relacionamento com o cliente para
oferecer um atendimento de qualidade.
Procuramos estimular nos funcionários
uma visão empreendedora, mostrando
a eles que a empresa os tem como
colaboradores e parceiros.
A PARTIR DE
2003, TIVEMOS,
NA REGIÃO, ALÉM
DO AUMENTO
DA POPULAÇÃO,
UM CRESCIMENTO
DO NÚMERO DE
VEÍCULOS, GRAÇAS
ÀS POLÍTICAS
GOVERNAMENTAIS
DE ESTÍMULO AO
CONSUMO INTERNO.
NÃO ESTÁVAMOS
MAIS DANDO
CONTA DE ATENDER
A DEMANDA
CRESCENTE DOS
CLIENTES POR
ACESSÓRIOS
AUTOMOTIVOS.
21FACULDADE AIEC
22 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
“
”
Consultoria
Alguns colegas de minha turma da
Faculdade AIEC, onde me formei
em Administração, escolheram
minha empresa para fazer o trabalho
de conclusão de curso. O TCC na
AIEC consiste de uma consultoria
desenvolvida pelos alunos em
uma empresa, com orientação dos
professores, e que se desenrola durante
os dois últimos semestres do curso,
finalizando com a elaboração de um
plano de negócios.
Com o TCC, pudemos ter uma visão
melhor da situação da empresa, pois
os colegas fizeram um diagnóstico
detalhado a partir do olhar distanciado
de consultores. Envolvidos fortemente
há quinze anos com a empresa, às vezes
não sabemos onde estamos errando.
A partir das recomendações do TCC, a
Fibrauto Acessórios tem passado por
um processo de mudanças estruturais
que contempla, entre outras ações, a
reorganização de layout dos setores
de estoque e administrativo e a
implantação de um sistema de software
de gerenciamento dos processos.
Analisando os índices financeiros
levantados no TCC, pudemos observar
que a empresa estava, havia três
anos, com baixo retorno do capital
investido, devido especialmente a altos
investimentos em estoque. Verificamos
também um descasamento entre os
prazos de pagamento concedidos aos
clientes e os obtidos dos fornecedores,
o que exigia que recorrêssemos
a empréstimos para quitar os
compromissos e financiar o capital de
giro.
A indicação foi melhorar o
acompanhamento do estoque,
aprimorar o controle das compras
e dedicar atenção especial à
gestão financeira. Para aumentar o
faturamento, baixamos os preços de
alguns produtos com promoções, sem
sacrificar a margem de lucro. Com isso,
dinamizamos o giro de mercadorias do
estoque e ganhamos liquidez.
Perspectivas
Nosso plano atual é ampliar o prédio
da empresa em mais um andar para
proporcionar um melhor ambiente aos
clientes e colaboradores. Atendemos
hoje 40% do mercado de Macapá, mas
pretendemos chegar perto de 100%
em três anos, além de vender para
todas as concessionárias do estado. Há
carência no mercado local de oferta
de acessórios para pick-ups e carros
de luxo.
O TRABALHO
DE CONCLUSÃO
DO CURSO DE
MINHA TURMA NA
FACULDADE AIEC
FOI FEITO NA
MINHA EMPRESA.
OS COLEGAS
FIZERAM UM
DIAGNÓSTICO
DETALHADO A
PARTIR DO OLHAR
DISTANCIADO DE
CONSULTORES.
ASSIM, PUDEMOS
TER UMA VISÃO
MELHOR DA
SITUAÇÃO DA
EMPRESA E
PERCEBER ONDE
ESTÁVAMOS
ERRANDO.
22 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
23FACULDADE AIEC
Temos consciência, porém, de que a
nova postura empresarial que o mercado
exige não é aquela focada apenas na
obtenção de lucros imediatos, mas sim
na sustentabilidade do negócio. Por isso,
nos preocupamos em atuar com ética
e ter um bom relacionamento com a
sociedade, pois a credibilidade de uma
empresa se solidifica nas informações
passadas de pessoa a pessoa.
Recado
Gostaria de terminar compartilhando
uma reflexão com as leitoras deste
artigo: somos capazes de assumir o
mesmo cargo que um homem em uma
pequena ou em uma grande empresa.
O mercado de trabalho hoje está
aberto para pessoas competentes,
independentemente de ser homem ou
mulher.
Se a opção for abrir um negócio próprio,
devemos levar em consideração alguns
pontos, que comento a seguir, a partir de
minha vivência. Ter uma boa ideia muitas
vezes não é o suficiente para viabilizar
um empreendimento.
Para transformar um projeto em
realidade, a empreendedora precisa:
1) Conhecer muito bem o ramo de
atividade em que pretende atuar. 2)
Ter visão de onde está e aonde quer
chegar, e o que é preciso fazer para
atingir esse objetivo. 3) Criar planos
de ações e priorizá-los dentro do
negócio. 4) Monitorar, corrigir e rever
as ações planejadas e executadas. 5)
Estar sempre atenta ao que acontece
no mercado e buscar constantemente
oportunidades de negócios. 6)
Ter coragem para correr riscos. 7)
Administrar com responsabilidade
os riscos assumidos, pois arriscar-
se faz parte do ato de empreender.
8) Demonstrar explicitamente que
confia no empreendimento, pois essa
é a melhor forma de passar confiança
aos clientes internos e externos. 9)
Enfrentar com suas próprias forças as
dificuldades, pois o micro e pequeno
empresário muitas vezes é um solitário.
Por fim, um conselho que vale
para todos, homens e mulheres,
empreendedores ou não: nunca desista
dos seus sonhos e não use a idade
ou a falta de tempo como desculpa
para abandonar um projeto de vida.
O meu era fazer uma faculdade de
administração para adquirir mais
conhecimento e informação. Eu
consegui realizar esse sonho, com
determinação, força de vontade e
responsabilidade.
NÓS, MULHERES,
SOMOS CAPAZES
DE ASSUMIR O
MESMO CARGO
QUE UM HOMEM
EM QUALQUER
EMPRESA, PEQUENA
OU GRANDE. O
MERCADO DE
TRABALHO HOJE
ESTÁ ABERTO
PARA PESSOAS
COMPETENTES,
INDEPENDENTEMENTE
DE SER HOMEM OU
MULHER.
“
”
Raimunda Miranda Barros
Administradora geral da Fibrauto
Acessórios de Macapá (AP), responsável
pela gerência administrativa, gerência
financeira e gerência de vendas.
Bacharel em Administração pela
Faculdade AIEC.
23FACULDADE AIEC
24 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
Gestão de TI
A Internet, que conceitualmente
pode ser definida como uma rede
de redes, foi desenvolvida a partir
de pesquisas militares do departamento
de defesa americano na década de 60.
Os primeiros testes de comunicação
utilizando a rede foram realizados em
universidades através da aplicação de
e-mail. O projeto inicial não previa que a
rede tivesse um crescimento vertiginoso
em um curto período de tempo.
Esse crescimento trouxe uma série de
problemas que foram trabalhados pela
comunidade acadêmica nas últimas
décadas e, consequentemente incentivou
o desenvolvimento de novos paradigmas
que se tornaram realidade em nosso
cotidiano e refletem no mundo dos
negócios. Neste artigo, vou explicar
de maneira simples quais são esses
paradigmas e como eles trazem impacto
nas empresas.
PESQUISAS
ACADÊMICAS
BUSCAM SOLUÇÕES
QUE AMPLIEM A
CAPACIDADE DA
INTERNET PARA
ATENDER A DEMANDA
CRESCENTE POR
INTERCONEXÃO
GERADA COM A
POPULARIZAÇÃO DE
DISPOSITIVOS MÓVEIS
DE COMUNICAÇÃO.
Jeandro de Mesquita Bezerra
Agilidadeefluidez
Para reduzir a complexidade de todo
o instrumental que há por trás de uma
rede de computadores, foi padronizado
que ela fosse dividida em camadas.
Destaco principalmente a camada
mais próxima do usuário: a aplicação.
A diversidade de aplicativos aumentou
consideravelmente nos últimos quatro
anos com a popularização dos dispositivos
móveis, com maior destaque para os
tablets e smartphones. A massificação
da mobilidade incorpora mais agilidade
e fluidez aos negócios e vem tomando
o lugar dos PCs, principalmente com
a permissão do Banco Central para
que pagamentos sejam efetuados
pelo celular. Essa autorização do BC
facilitou os negócios e mostrou que a
mobilidade é uma boa opção no comércio,
movimentando um grande volume
financeiro.
25FACULDADE AIEC
“
”
Outro paradigma é o da computação em
nuvem. Definindo de forma bem simples,
pode-se dizer que são serviços ofertados
com foco em recursos computacionais.
Esses serviços são fornecidos através de
datacenters. Dentre vários existentes
no mercado, destacam-se os de
grandes empresas espalhadas pelo
mundo como a Microsoft, Amazon
e Google. O custo de utilização de
recursos computacionais: memória,
processamento e armazenamento
foi reduzido consideravelmente. Por
exemplo, atualmente, para requisitar um
serviço de hospedagem de um servidor
Linux na Amazon para hospedar a página
da sua empresa, o custo mensal é em
torno de R$ 200,00.
A nuvem possui uma característica de
elasticidade muito importante e de
grande vantagem para o usuário, pois
é possível aumentar ou diminuir, em
tempo real, a quantidade de memória
do disco do servidor com uma simples
configuração. Isso terá uma alteração
no custo, mas é uma grande vantagem.
Caso a página da sua empresa tenha
milhares de acessos simultâneos e seja
necessário aumentar a quantidade de
memória na CPU do seu servidor, será
possível realizar essa tarefa sem grandes
interrupções no serviço.
Para interconectar dispositivos
e explorar as funcionalidades da
tecnologia de nuvem é necessária uma
boa infraestrutura de telecomunicação.
Para que os dispositivos possam
se interconectar, é necessário um
protocolo (conjunto de regras para
computadores e outros dispositivos
conversarem entre si).
O principal protocolo da Internet
é o IP (Internet Protocol). Uma das
principais funções do IP é endereçar cada
dispositivo conectado à rede, permitindo
assim que os dados trafeguem da origem
até o destino.
Esforço mundial
Desde 1984, a Internet utiliza o IP versão
4 ou IPv4, que recentemente esgotou
o estoque de endereços, tornando
assim praticamente inviável conectar
mais dispositivos. O mecanismo de
compartilhamento de endereços
utilizados pelos atuais provedores
não comportará a quantidade de
dispositivos, pois não há endereços
suficientes para todos. A consequência
disso será problemas de conectividade
ao se acessarem algumas aplicações
como videoconferência, redes sociais
e aplicações de compartilhamento de
arquivos.
A solução para tal problema está no IPv6,
que permitirá que a Internet continue
crescendo. Há um esforço mundial e
local para a implantação do IPv6, pois ele
apresenta como maior destaque a grande
quantidade de endereços, permitindo
a implantação e desenvolvimento de
várias aplicações. Porém essa mudança
depende de alterações no núcleo da
Internet, sendo, portanto, uma tarefa que
acontecerá paulatinamente, pois deverá
ser acompanhada por órgãos gestores
da Internet no mundo todo. Envolve
fabricantes de equipamentos que se
conectam à Internet, desenvolvedores
de software, provedores de acesso e
usuários finais.
A NUVEM
POSSUI UMA
CARACTERÍSTICA
DE ELASTICIDADE
MUITO IMPORTANTE
E DE GRANDE
VANTAGEM PARA
O USUÁRIO,
POIS É POSSÍVEL
AUMENTAR OU
DIMINUIR, EM
TEMPO REAL,
A QUANTIDADE
DE MEMÓRIA
DO DISCO DO
SERVIDOR COM
UMA SIMPLES
CONFIGURAÇÃO,
SEM GRANDES
INTERRUPÇÕES NO
SERVIÇO.
26 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
“
”
Linhas de pesquisa
O sucesso de todas as tecnologias
descritas anteriormente depende da
rede de acesso e de como os dados
são tratados para envio da origem ao
destino. O meio de transmissão que
consegue maiores taxas de envio de
dados e o mais utilizado pelas empresas
de telecomunicações é a fibra ótica.
Quando a Internet foi projetada
inicialmente, não se previa o uso
intensivo de recursos de multimídia e
a grande quantidade de dispositivos
interconectados. Duas linhas de
pesquisa para a Internet do Futuro estão
sendo discutidas pela comunidade
acadêmica com o objetivo de ampliar a
capacidade e possibilidades da Internet:
1. Abordagem “começando do zero“
(clean slate), que determina que todos
os novos projetos para a Internet
devem ser iniciados do zero, ignorando
aspectos de compatibilidade com a
Internet atual.
2. Abordagem Evolutiva, que pretende
evoluir a partir da arquitetura atual da
Internet sem perder a compatibilidade
com a anterior.
A experimentação com testes para a
validação de novos protocolos deve ser
realizada em plataformas reais e flexíveis.
Não há viabilidade na substituição do
que está em funcionamento atualmente
sem antes ser testado em ambientes
de produção reais. Uma definição
que está sendo adotada em redes de
comunicação e em ambientes de nuvem
é a de virtualização de computadores,
que é o compartilhamento dos recursos
computacionais, processadores,
memória e dispositivos de entrada e
saída.
Sistemas legados
O objetivo da virtualização é potencializar
o uso do hardware. Por exemplo, uma
empresa possui cinco computadores,
cada um com sistema operacional
diferente e com sistemas legados
(sistemas antigos) em execução. Com
adoção da virtualização, é viável um único
computador hospedar os cinco sistemas
operacionais com os respectivos
sistemas legados. Obviamente o
hardware do computador terá que ser
mais robusto, logo o equipamento será
mais caro. Em compensação, o custo de
manutenção e o consumo de energia irão
se reduzir consideravelmente.
DESDE 1984, A
INTERNET UTILIZA
O IP VERSÃO 4,
QUE RECENTEMENTE
ESGOTOU O
ESTOQUE DE
ENDEREÇOS,
TORNANDO-SE
PRATICAMENTE
INVIÁVEL CONECTAR
MAIS DISPOSITIVOS.
TEREMOS
PROBLEMAS
AO ACESSAR
APLICAÇÕES COMO
VIDEOCONFERÊNCIA,
REDES SOCIAIS E
COMPARTILHAMENTO
DE ARQUIVOS.
27FACULDADE AIEC
“
”
A virtualização de redes consiste no
uso de roteadores e switches virtuais,
além de outros recursos como enlaces
de comunicação. Os roteadores são
responsáveis pelo encaminhamento
dos dados contidos no protocolo IP. O
switch é o equipamento responsável por
interligar computadores em uma rede.
No contexto das redes de comunicação,
a virtualização é utilizada em switches
e roteadores virtuais com a finalidade
de facilitar a implementação de novas
funcionalidades na rede.
O protocolo Openflow, que está
inserido na Abordagem Evolutiva,
referida acima, permite que testes de
novas funcionalidades sejam realizados
em redes de produção. Utiliza a ideia
da separação do plano de controle
do plano de dados de uma rede. O
plano de controle é a “inteligência”,
e o plano de dados é o responsável
pelo encaminhamento dos dados.
A separação traz vários benefícios,
dentre eles se destaca a capacidade do
administrador da rede para gerenciar
os serviços da rede sem se preocupar
diretamente com o equipamento, isto
é, a de ter que programar o hardware
no baixo nível. A separação dos planos é
oriunda do conceito de Redes Definidas
por Software.
Tomada de decisão
As tecnologias descritas até agora
estão relacionadas à tentativa de
resolver problemas de desempenho e
endereçamento na Internet. Isso afeta
diretamente a oferta de serviços e o
desenvolvimento de aplicações.
EXPLORAR OS
SERVIÇOS DA
COMPUTAÇÃO
EM NUVEM, COM
APLICAÇÕES JÁ
DISPONÍVEIS NO
PORTFÓLIO DO
DATACENTER,
OU MIGRAR AS
APLICAÇÕES
LOCAIS QUE
ESTÃO NA
EMPRESA TRAZ
ECONOMIA NA
MANUTENÇÃO DO
EQUIPAMENTO E
NO CONSUMO DE
ENERGIA.
O cliente das redes, seja empresário ou
usuário doméstico, tem papel importante
nessa evolução. Por exemplo, exigir que
o provedor de acesso à Internet possua
suporte ao IPv6 é muito importante para o
avanço da sua implantação.
Explorar os serviços da computação em
nuvem com aplicações já disponíveis no
portfólio do datacenter, ou migrar as
aplicações locais que estão na empresa
pode gerar uma economia considerável,
principalmente na manutenção do
equipamento e no consumo de energia.
Buscar soluções e experiências de
algumas empresas que combinaram a área
de Business Intelligence com computação
em nuvem pode auxiliar no processo
de buscar informações para auxiliar os
processos de investimento das empresas.
Por exemplo, a dinamicidade do mercado
de ações exige constante atualização e
busca de informações para a tomada de
decisão de onde investir. Ferramentas que
monitoram as redes sociais para saber do
“humor” dos principais diretores de uma
determinada empresa presente em larga
escala no mercado de ações auxiliam no
processo de tomada de decisão.
Os novos paradigmas trazem abordagens
de mobilidade, desempenho, segurança
e conectividade entre dispositivos. Nem
sempre é de interesse do usuário final
saber o que há no baixo nível da rede.
Porém o conhecimento do que está
acontecendo nos novos rumos que a
Internet tomará nos próximos anos pode
auxiliar na tomada de decisão da compra
dos equipamentos e na contratação
de novos serviços disponibilizados na
Internet.
Jeandro de Mesquita Bezerra
Professor Assistente da Universidade
Federal do Ceará (Campus de Quixadá).
Tem experiência na área de Ciência da
Computação, com ênfase em Redes
de Computadores. Graduado em
Ciência da Computação e Mestre em
Computação Aplicada (Mpcomp) pela
Universidade Estadual do Ceará.
28 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
Gestão do desenvolvimento
Vivo em Luanda, capital de
Angola, na África, e trabalho
em uma empresa familiar de
proprietários angolanos que se dedica
à importação e comercialização de
máquinas, ferramentas e materiais de
construção há mais de 15 anos.
Na empresa, somos 15 trabalhadores
de nacionalidade angolana, sendo 13
homens e duas mulheres. Formamos
uma equipa em que cada um procura
cumprir a parte que lhe cabe. O
investimento para capacitar os quadros
da empresa, porém, é um dos fatores
que, infelizmente, ainda não mereceu a
devida atenção dos proprietários.
Sabe-se que alguns funcionários já
trabalharam em outras empresas do
mesmo ramo ou similar, o que facilita
desenvolver o seu trabalho sem
dificuldades maiores. Mesmo assim,
face ao constante desenvolvimento do
mercado, é importante a qualificação
do pessoal angolano, especialmente
porque há mão de obra estrangeira mais
preparada nas empresas do ramo.
A comercialização
O processo para a importação começa
com a solicitação de encomendas a
fornecedores. Estes, então, enviam
as faturas para análise e posterior
aceitação dos pressupostos contidos:
valores e outros encargos. As faturas
serão obrigatoriamente reconhecidas
no Ministério do Comércio, que
confronta a identificação da empresa
importadora com o cadastro existente
na sua base de dados. Na sequência, essa
documentação é encaminhada a uma das
entidades inspecionadoras credenciadas
para o efeito, a fim de serem verificadas
a qualidade e a origem das mercadorias
contidas nas faturas.
Depois da chegada das mercadorias,
devem ser cumpridas as formalidades
e outras obrigações aduaneiras, tanto
nos portos como nos aeroportos
angolanos, até a liberação da encomenda
para o importador. É preciso urgência,
tanto da empresa como do elemento
despachante, na retirada da mercadoria
depois de sua chegada.
ANGOLA, PAÍS DA
COSTA OCIDENTAL DA
ÁFRICA, FALANTE DA
LÍNGUA PORTUGUESA,
ENFRENTA OS
DESAFIOS DE UM PAÍS
EM DESENVOLVIMENTO:
EDUCAR A POPULAÇÃO,
QUALIFICAR A MÃO
DE OBRA E CRIAR
INDÚSTRIAS LOCAIS
PARA SUBSTITUIÇÃO DE
IMPORTAÇÃO.
João Daniel
28 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
29FACULDADE AIEC
“
”
A permanência de produtos importados
por longo período nos recintos
portuários ou aeroportuários pode
resultar em perda da mercadoria
para o Estado, que irá comercializá-la
posteriormente em leilões oficiais.
O preço de venda da mercadoria
importada é definido segundo o modelo
instrutivo da entidade encarregada
em estipular preços, que orienta todos
os passos que devem ser seguidos até
encontrar o preço final de venda, tanto
para as empresas vendedoras a grosso
como àquelas vendedoras a retalho. O
“comércio a grosso” é chamado no Brasil
de “venda por atacado”. O “comércio a
retalho”, por sua vez, corresponde no
Brasil à “venda a varejo”.
O dinheiro das vendas é depositado nos
bancos, em contas abertas em nome da
empresa. Há um ditado aqui em Angola
que diz que “dinheiro não cresce no
garrafão”. É necessário bem guardá-
lo em um banco, até mesmo para se
evitarem assaltos.
Em construção
A maior parte das empresas de
construção civil são privadas, cujos
proprietários são tanto angolanos
quanto estrangeiros. O capital privado
aqui tanto pode ser nacional como vir de
outro país.
A maioria das obras em andamento hoje
em Angola são da iniciativa privada,
destacando-se a presença de grandes
empresas construtoras de países como
China, Portugal e Brasil, com destaque
para a Odebrecht deste último. Grandes
edifícios, condomínios, bairros inteiros e
outros empreendimentos vão surgindo
em quase todas as cidades.
As obras de iniciativa do governo se
resumem a infraestruturas sociais, como
estradas, pontes, escolas, hospitais e
outras de sua responsabilidade, sempre
com a parceria da iniciativa privada.
Podemos citar o exemplo da criação de
“Kilamba”, cidade planejada, com 82 mil
apartamentos, situada a 20 quilômetros
de Luanda, que só foi possível porque
muitos esforços conjugados estiveram
na base do seu surgimento.
Condições favoráveis
É sabido que, no mundo, não há um país
que consegue desenvolver-se sozinho.
As trocas comerciais são sempre bem-
vindas, mas Angola precisa priorizar
políticas de desenvolvimento que
estimulem e favoreçam a criação de
indústrias locais, o que iria resultar em
redução da necessidade de importações.
NO MUNDO,
NÃO HÁ UM PAÍS
QUE CONSEGUE
DESENVOLVER-
SE SOZINHO.
AS TROCAS
COMERCIAIS SÃO
SEMPRE BEM-
VINDAS, MAS
ANGOLA PRECISA
PRIORIZAR
POLÍTICAS DE
DESENVOLVIMENTO
QUE ESTIMULEM
E FAVOREÇAM
A CRIAÇÃO
DE INDÚSTRIAS
LOCAIS, O QUE
IRIA RESULTAR EM
REDUÇÃO DAS
IMPORTAÇÕES.
29FACULDADE AIEC
30 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
“
”
As condições de Angola hoje são
favoráveis tanto para investidores
nacionais como estrangeiros, que
poderão ter resultados vantajosos,
contribuindo para o desenvolvimento
socioeconômico do país, bem como para
a melhora das condições de vida dos
angolanos.
Abre-se aqui um parêntesis para chamar
atenção a quem é de direito, a fim de
analisar as potencialidades existentes
no país. Que se criem condições para o
aproveitamento do produto interno e
para a sua comercialização em outros
mercados. Com o elevado índice de
desemprego e pobreza extrema, o
país ganharia muito ao criar postos de
trabalho, garantindo assim o sustento de
vida para muitas famílias.
Precisamos de indústrias do segmento
de materiais e ferramentas para a
construção civil. No tempo em que a
guerra assolava o país, não era possível
pensar em tal ideia. Com a paz, existem
condições favoráveis para a implantação
dessas indústrias. E há campo para
explorar e desenvolver esse setor.
Angola possui muita matéria-prima,
desde pedras diversas, mármore,
calcário, madeira, água em vários rios,
solos diversos, etc. Com a implantação
de uma indústria transformadora de
matérias-primas locais, os preços dos
produtos seriam menores em relação
aos importados.
Atualmente, países da Europa além do
Brasil e China são os que mais fornecem
para Angola materiais e equipamentos
da construção civil. Com relação a esses
produtos importados, somos obrigados
a aceitar tudo o que chega porque a
necessidade obriga, mas a qualidade dos
mesmos não é totalmente garantida,
apesar dos esforços do instituto
nacional para a defesa do consumidor,
que tem feito tudo para controlar essas
situações.
Atenção às demandas
Para a implantação do projeto de uma
indústria em qualquer canto de Angola,
é necessário observar vários aspetos
como: conhecer e compreender bem
a comunidade onde será instalada a
indústria; procurar envolver as pessoas
na tomada de decisão; priorizar a
população local na ocupação dos
postos de trabalho; criar as condições
de habitabilidade tendo em conta o
ambiente social da zona; e implementar
programas de elevação do nível
educacional e de qualificação da mão de
obra.
Para que as vendas sejam satisfatórias,
maior atenção deve ser prestada naquilo
que tiver maior procura no mercado.
Não adianta produzir ou importar
mercadoria quando se sabe de antemão
que o mercado não vai consumi-la ou
a sua saída não dará muito benefício.
PRECISAMOS
DE INDÚSTRIAS
DO SEGMENTO
DE MATERIAIS E
FERRAMENTAS
PARA A
CONSTRUÇÃO
CIVIL. NO TEMPO
EM QUE A
GUERRA ASSOLAVA
O PAÍS, NÃO
ERA POSSÍVEL
PENSAR EM TAL
IDEIA. COM A
PAZ, EXISTEM
CONDIÇÕES
FAVORÁVEIS PARA
A IMPLANTAÇÃO
DESSAS
INDÚSTRIAS.
30 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
31FACULDADE AIEC
“
”
Para tal, o meio ambiente onde se deve
exercer o comércio é considerado, em
muitos casos, como a chave-mãe para o
seu desenvolvimento e atendimento das
demandas.
Essas considerações nos fazem
lembrar um episódio que aconteceu
numa das províncias de Angola, no
caso, a do Zaire, nas vésperas do Natal,
quando as pessoas estão com aquela
ansiedade que é própria da época, de
ver produtos como carne, açúcar, leite
e outros essenciais. Apareceram então
comerciantes credenciados que, por
não terem uma visão estratégica sobre
o que deviam comercializar, preferiram
levar para a população produtos como
vinho, carne seca de vaca, bacalhau, tudo
isso com um preço muito alto. E também
levaram castanha de caju importada que,
na língua local, se chama “dinga” e é um
produto nativo encontrado facilmente
na região!
Educação: cerne da questão
Angola é um país em construção.
Precisamos de mão de obra qualificada
não apenas para a construção civil, onde
há muito trabalhador estrangeiro, mas
para todas as atividades profissionais.
É necessário elevar o nível educacional
da população em geral com a adoção
de políticas públicas, não só dirigidas ao
ensino acadêmico como também para a
formação profissional.
ANGOLA É
UM PAÍS EM
CONSTRUÇÃO.
É NECESSÁRIO
ELEVAR O NÍVEL
EDUCACIONAL
DA POPULAÇÃO
COM A ADOÇÃO
DE POLÍTICAS
PÚBLICAS, NÃO
SÓ DIRIGIDAS
AO ENSINO
ACADÊMICO COMO
TAMBÉM PARA
A FORMAÇÃO E
QUALIFICAÇÃO
PROFISSIONAL.
Hoje notamos grande distância entre
as classes sociais em Angola. E o mais
grave é que essas distâncias significam
desigualdades sociais colossais e que
trazem perigo à paz social no futuro.
A história registra que nenhum país se
desenvolveu sem a existência de uma
classe média forte, porque ela é a ponte
de ligação entre os fracos e os mais
fortes.
Os angolanos são por demais
conformados e acham que as coisas
mudam a seu tempo, sem forçar essa
mudança. Essa caraterística contrasta
com a sua história, porque é sabido que
o angolano sempre lutou para mudar
situações de dificuldades. O mundo
atual é dinâmico e a educação é o cerne
da questão em Angola. Com o elevado
índice de analfabetismo que o país
conhece, não é fácil mobilizar o cidadão
para mudar a situação econômica e
social vigente.
A sociedade angolana encontra-se
desestruturada, tendo perdido valores
que a identificam com o continente
berço da humanidade. No passado, os
angolanos sempre foram mais coletivos
em torno dos ideais comuns. Nos dias de
hoje, nota-se o individualismo. Aquele
que tem o seu gerador, o seu tanque de
água, a sua casa, a sua despensa cheia
e, quem sabe, a sua conta bancária com
muitos números, ignora ou finge não ver
que ao seu lado há uma criança pedindo
pão e amor. É a tática de cada um por si e
Deus para todos...
João Daniel
Aluno do 6º período do curso de
Bacharelado em Administração da
Faculdade AIEC, no Polo de Luanda - Angola -
África. daniesperlemb@hotmail.com
31FACULDADE AIEC
32 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
Gestão da marca
Conversando com amigos à mesa de
um restaurante em Curitiba, recebi
um convite para escrever um texto
sobre os jobs em Semiótica. Atuando há
um ano e meio nessa área, não posso me
enquadrar como especialista, mas creio
que há apontamentos interessantes para
compartilhar nas linhas a seguir sobre esse
tipo de trabalho.
Em 2013, recebi um convite do Prof. Dr.
Sérgio Bairon, da USP, para participar de
um projeto de semiótica cujo cliente era
a C&A, uma das maiores cadeias de varejo
do mundo. Nele, faríamos uma reflexão,
com base na Semiótica, sobre os atributos
de marca percebidos pelos clientes e
consumidores, em contrapartida ao que
a principal agência de publicidade estava
emitindo de maneira intangível em sua
estratégia de comunicação.
Eu havia lido alguns textos sobre Semiótica
na graduação em Relações Públicas. Fiquei
um pouco intrigada em relação a como fazer
a aplicação dessa ciência nos contextos de
mercado, de marca, de negócio. Iniciei então
um estudo mais aprofundado sobre o tema
a partir das obras de seu fundador, Charles
Sanders Pierce.
Teoria geral dos signos
A Semiótica é “a ciência que estuda todas
as formas de o homem se comunicar” e
compreende todos os tipos de linguagem:
verbal, não-verbal, gestual, icônica, simbólica,
etc. O objeto da Semiótica é o estudo dos
signos, concebendo o signo como “tudo
aquilo que representa algo para alguém”.
Sua base teórica se estrutura numa
representação triádica do signo, em que cada
conceito ocupa um vértice de um triângulo:
1) signo (representamen), 2) interpretante,
3) objeto.
A partir do momento em que um signo é
direcionado às pessoas, elas criarão em
suas mentes o que nomeamos de um
signo em si mesmo (1). O segundo signo, já
desenvolvido no receptor, é apresentado
como interpretante (2). E, por fim, o signo
representado será o objeto (3). Signo,
interpretante e objeto compõem a estrutura
triádica pierciana.
Na tabela a seguir, apresento essa tríade:
signo, interpretante e objeto, e as categorias
em que cada um deles se subdivide. É
importante observar que a relação, também
triádica, entre essas categorias constitui os
três processos interpretativos da Semiótica,
ou seja, as três modalidades possíveis de
apreensão de todo e qualquer fenômeno:
primeiridade, secundidade e terceiridade.
A TEORIA GERAL DOS
SIGNOS DESENVOLVIDA
POR CHARLES SANDERS
PIERCE OFERECE
SOFISTICADAS
FERRAMENTAS
ANALÍTICAS QUE
PODEM AUXILIAR AS
EMPRESAS NA GESTÃO
DA MARCA E DE SEU
POSICIONAMENTO NO
MERCADO.
Roberta Navas Battistella
32 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
33FACULDADE AIEC
“
”
Tal teoria nos fornece as definições
e classificações de todos os tipos de
códigos, linguagens, signos, sinais, etc.,
de qualquer espécie e de tudo que os
envolve: significação, representação,
objetivação e interpretação. É por meio
dessas definições e classificações que
se buscam os princípios-guias para o
método de análise de todas as formas
de expressão dos signos: nome, cor,
som, logo, embalagem, rótulo, slogan,
catálogo, etc., em qualquer mídia ou
forma.
Pode-se afirmar, portanto, que a análise
semiótica é capaz de nos fazer penetrar
no movimento interno das mensagens,
resgatando os mecanismos que são
usados nas linguagens (palavras, imagens,
cores, diagramas, sons, etc.), permitindo
a avaliação da potência comunicativa das
mensagens.
Os universos de sentidos
A base da análise semiótica mercadológica
com a qual trabalhamos, e que revela a
potencialidade comunicativa do signo
em seu processo de emissão, é centrada
no que designamos como universo de
sentidos.
SEMIÓTICA É
A CIÊNCIA QUE
ESTUDA AS FORMAS
DE O HOMEM
SE COMUNICAR,
ABRANGENDO
TODOS OS TIPOS
DE LINGUAGEM:
VERBAL, NÃO-VERBAL,
GESTUAL, ICÔNICA,
SIMBÓLICA, ETC.
Signo (visual, verbal, sonoro): as
mensagens em si mesmas.
Interpretante: as mensagens em
relação aos efeitos que causam.
Objeto: as mensagens em relação
àquilo a que se referem.
Primeiridade: refere-se à primeira reação diante de qualquer fenômeno; aquele sentimento que é original, imediato e livre, e
que precede todo processo de síntese e diferenciação.
Quali-signo: representa as propriedades
internas, aspectos qualitativos e
sensoriais: cores, linhas, formas.
Emocional/afetivo: são os
efeitos interpretativos puramente
emocionais, afetivos.
Ícone: tem o poder de sugestão que
surge dos aspectos sensoriais como, por
exemplo, uma relação de semelhança
entre o som cocoricó e a galinha.
Secundidade: refere-se ao momento em que as pessoas entendem com mais profundidade o conteúdo de determinado
fenômeno. Na Semiótica é, também, uma atualização das qualidades da primeiridade.
Sin-signo: são os aspectos singulares,
ou seja, a mensagem que existe, que
se oferece à percepção – o intitulado
contexto.
Funcional/ação: são os efeitos reativos,
sendo que nele a interpretação se dá por
meio de uma ação.
Índices: são a referencialidade direta,
que indica aquilo a que ele se refere sem
ambiguidades. Podemos exemplificar por
meio da causa e efeito. Ex: a nuvem, que
causa chuva; e a febre como sinal de doença.
Terceiridade: corresponde à camada de “inteligibilidade”, ou pensamento em signos, por meio do qual o mundo é representado e
interpretado por nós. Esse nível interpretativo está mais conectado à nossa capacidade de previsão.
Legi-signo: aponta para o caráter
geral, como algo que pertence a uma
classe de coisas; pode ser considerado
o que nomeamos de convenção e
arbitrariedade.
Lógico: representa os efeitos que tem a
natureza do pensamento, o hábito.
Símbolo: são mensagens com poder
de representar ideias abstratas,
convencionais, e encontram-se baseadas
numa relação mais arbitrária, como uma
aliança, um logotipo.
33FACULDADE AIEC
34 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
O estudo semiótico-comunicacional
dos universos de sentidos de um signo
proporciona um grande levantamento
significante em seu entorno, assim como
explora as mais diversas relações entre
os signos.
No âmbito de produtos, marcas,
publicidade e serviços, a semiótica
explicita um possível caminho criativo:
induz um pensamento sobre o conceito
que vai desde a decisão estratégica
na empresa até o briefing da agência
de publicidade. De fato, organiza os
elementos interpretativos que indicam
rastros, pistas e sentidos associados a
cada signo a ser analisado: por exemplo,
brilho para limpeza, brisa como
refrescância ou infinito como liberdade.
Tal análise tem como principal
característica o foco na emissão. Quando
aliada às demais técnicas de investigação/
pesquisa de consumo, cultura,
comportamento e sociedade - como, por
exemplo, os estudos de recepção - passa
a dar vida a alguns signos. Ao longo desse
processo, esses signos podem ter sido
emitidos intencionalmente, e outros vão
acontecendo espontaneamente.
Os pedidos de análise semiótica
mercadológica chegam de empresas
das mais diversas categorias e setores,
contudo, mais comumente, de institutos
de pesquisa. O trabalho da C&A ao qual
me referi no início deste artigo já foi
concluído. Escolhi um case recente,
em andamento, para contar um pouco
sobre o processo da análise e alguns
desdobramentos na prática (usarei
nomes fictícios ao longo da descrição).
O desenvolvimento do trabalho
O IP (Instituto de Pesquisa) foi
convocado para uma reunião no
grupo R a fim de discutir sobre um
novo posicionamento da marca NB,
de eletrodomésticos. As equipes de
marketing e pesquisa de mercado
gostariam de entender como diferenciar
a marca NB no mercado brasileiro diante
da concorrência e recuperar a liderança
na categoria, que havia perdido.
A partir desse primeiro briefing, o IP
nos convocou para uma reunião a fim
de discutir quais universos de sentido
seriam os mais adequados para a análise
dessa categoria de eletrodomésticos.
Foram sugeridos mais de dez universos
de sentido para a empresa. Os quatro
escolhidos foram os que abordavam
temáticas relacionadas a: 1) o habitar
(relação do ser humano com o espaço
habitado); 2) discerning choice
(processo de definição da melhor
escolha de um produto); 3) evolução
histórica do homem e da forma dos
objetos domésticos (textura, cor,
dimensão); e 4) função dos objetos.
Nesses quatro universos de sentido
selecionados, o processo interpretativo
perpassou pelas três etapas de
reconhecimento interpretativo de um
“fenômeno”, apresentados na tabela:
a primeiridade, a secundidade e a
terceiridade.
“
”
A ANÁLISE
SEMIÓTICA
MERCADOLÓGICA
É CAPAZ DE NOS
FAZER PENETRAR
NO MOVIMENTO
INTERNO
DAS PEÇAS
PUBLICITÁRIAS,
RESGATAR OS
MECANISMOS QUE
SÃO USADOS NAS
LINGUAGENS E
ASSIM AVALIAR
A POTÊNCIA
COMUNICATIVA
DESSAS
MENSAGENS.
34 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
35FACULDADE AIEC
“
”
Após a aprovação dos universos de
sentido, começamos, em parceria com
a equipe do IP, a desenvolver o projeto.
O novo posicionamento está em fase
de planejamento na empresa, com
seus fornecedores, com a agência de
publicidade (responsável pela criação
do conceito/posicionamento, das
estratégias de comunicação com os
públicos de interesse e das peças) e com
o próprio IP, como um parceiro que
contribui conceitualmente tanto com
referências de potencialidade de emissão
de determinados signos, por meio da
Semiótica, quanto pela recepção dos
signos, por meio de pesquisas qualitativas
e quantitativas.
Interdisciplinaridade
Um dos aspectos peculiares da
análise semiótica mercadológica é
sua interdisciplinaridade, ou seja, a
necessária parceria da teoria geral
dos signos com as outras áreas do
conhecimento como antropologia,
psicanálise, sociologia, teoria da
comunicação, filosofia e história da
cultura.
A análise semiótica oferece
fundamentos tanto para o
desenvolvimento de conceitos
mercadológicos, como no case em
questão, quanto para uma avaliação de
conceitos já desenvolvidos. As empresas
têm valorizado, cada vez mais, esse tipo
de estudo, pois, diante da complexidade
do mercado, é necessário ir além do
que oferecem as pesquisas tradicionais
(quali e quanti, por exemplo).
OS PEDIDOS
DE ANÁLISE
SEMIÓTICA CHEGAM
DE EMPRESAS
DE DIVERSAS
CATEGORIAS
E SETORES,
QUE BUSCAM
FUNDAMENTOS PARA
O DESENVOLVIMENTO
DE NOVOS
CONCEITOS
MERCADOLÓGICOS
OU PARA AVALIAÇÃO
DE CONCEITOS JÁ
ESTABELECIDOS.
Referências bibliográficas1. Lotman, Yuri. La Semioesfera I. Madrid, Catedra, 1996.
2. Lotman, Yuri. La Semioesfera II. Madrid, Catedra, 1998.
3. Pierce, Charles S. Semiótica. São Paulo, Perspectiva, 2012.
4. Sant’anna, Sérgio B. B. Interdisciplinaridade: Educação, História da Cultura e Hipermídia. São Paulo,
Futura, 2002.
5. Santaella Braga, Maria Lucia. Teoria geral dos signos: semiose e autogeração. São Paulo, Ática, 1995.
Roberta Navas Battistella
Atua em projetos de semiótica
desde o início de 2013. Graduada
em Comunicação Social - Relações
Públicas - pela Faculdade Cásper Líbero.
Mestranda do programa de Pós-
graduação em Humanidades, Direitos e
Outras Legitimidades da Universidade
de São Paulo. Colaboradora da Escola
de Governo de São Paulo e voluntária da
Escola de Notícias e do Centro de Estudos
e Aplicação da Capoeira (CEACA).
ronavas87@gmail.com
35FACULDADE AIEC
36 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
Gestão do varejo
Ao voltarem da cidade de
Fortaleza (CE), onde viviam
havia seis anos, o catarinense
Wilson Antônio Deschamps e sua
esposa gaúcha Liane de Oliveira,
recém-ingressados nas atividades de
pais, precisavam se estabelecer. Com
a aposentadoria da mãe de Liane, que
tinha um pequeno bazar na cidade de
Vacaria (RS), o casal se deparou com
uma dúvida: abrir um comércio, mas qual
ramo escolher?
Wilson é nativo da cidade de Blumenau,
um polo têxtil brasileiro. Apesar de
nunca ter trabalhado no ramo, decidiram
que o comércio de roupas seria o mais
promissor. Assim, em junho de 2005,
com poucos recursos (como a maioria
das pequenas empresas no Brasil), em
uma sala de aproximadamente 64 m2,
iniciou suas atividades a empresa Lia
Modas, comercializando artigos de
vestuário para toda a família (masculino
e feminino adulto, infantil e juvenil).
Repaginação
A primeira necessidade observada,
por conta do pequeno espaço físico
e da grande variedade de estoque,
foi a ampliação das instalações, o que
se deu em novembro de 2006 com a
incorporação de uma sala ao lado com
aproximadamente 50 m2. Com essa
expansão, pôde-se dividir a loja em
setores adulto e infanto-juvenil.
No ano de 2007, a loja passou por
repaginação completa. Foram
reformados o interior e o exterior, e
alteradas suas cores e layout. O principal
investimento dos proprietários foi a
transformação de uma vitrine estilo
gaiola com uma porta central em uma
vitrine totalmente em vidro. Com isso,
melhorou a visualização do interior do
estabelecimento, que ganhou maior
luminosidade e aumentou em mais de
50% o espaço físico para a exposição das
mercadorias.
PARCERIAS COM
FORNECEDORES,
GESTÃO DO ESTOQUE
E ATENDIMENTO
PERSONALIZADO AO
CLIENTE SUSTENTAM
EMPRESA EM UM
MERCADO COMPETITIVO.
Wilson Antônio Deschamps
37FACULDADE AIEC
“
”
Desde o início das atividades, devido
à escassez de recursos, todos os
controles administrativos eram feitos
manualmente. Em junho de 2008, a
loja foi totalmente informatizada e
adquirido um programa específico
de gerenciamento de dados. Com
mais disponibilidade de tempo para o
negócio, a empresa passou a oferecer
um atendimento mais ágil e a investir na
formação de parcerias que resultassem
em diferenciais percebidos como valor
pelo cliente.
Fornecedor parceiro
A Lia Modas, por não ser fabricante,
tem nas indústrias seus principais
fornecedores. A partir do ano seguinte de
sua fundação, Wilson passou a conectar
uma rede de parceiros fornecedores para
que, com o auxílio deles, pudesse trazer
aos seus clientes o que havia de mais
atualizado em termos de moda.
Outra necessidade da empresa, para
não ir ao mercado financeiro, estava
nos prazos de pagamento e em preços
competitivos para fazer frente à
concorrência. Para tanto, foi estabelecida
uma conexão parceiro-produto, em
que se compra cada modelo (lã, calças
jeans, básicas, moletom, etc.) de, no
máximo, dois a três fabricantes. Essas
parcerias proporcionaram à empresa a
possibilidade de formar seus estoques
com variedade, preços baixos (que,
repassados aos clientes, tornam-se
promoções), sem abrir mão da qualidade
e sem a necessidade de comprar grandes
quantidades, como é usual nas grandes
redes de lojas.
Logística
As compras da empresa são feitas de duas
formas: 1) diretamente de vendedores,
que passam na empresa fazendo pedido
para posterior entrega ou vendendo a
pronta entrega; 2) em shopping centers,
formados por lojas de fabricantes de
Santa Catarina, que comercializam
produtos exclusivamente para lojistas
varejistas.
Há uma empresa de transporte de
compras em Vacaria, a Serra Sol
Turismo, que pega o lojista em seu
estabelecimento e o leva a oito shoppings
em três cidades catarinenses (Rio do
Sul, Indaial e Brusque). O comerciante
faz suas compras e retorna em sistema
“bate e volta”. A empresa de transporte
o deixa em sua loja com as mercadorias
compradas. Esse eficiente modo de
compras é interessante para o lojista
pelo custo zero de viagem (a empresa de
turismo recebe comissão das indústrias
pelas compras realizadas pelos lojistas
transportados) e pela possibilidade de
parcelamento das compras, o que pode
ser repassado a seus clientes.
Os cheques dos lojistas, utilizados para
pagamento das compras feitas nas lojas
das fábricas, são de total responsabilidade
da empresa de turismo de compras,
formando-se assim uma rede de
parceiros: indústria, guia de compras,
lojistas, em que todos ganham.
Diferenciais estratégicos
Com o crescente número de clientes, a
empresa desenvolveu alguns diferenciais
de mercado para que pudesse despontar
no ramo de vestuário:
AS PARCERIAS
COM FORNECEDORES
PROPORCIONARAM
À EMPRESA A
POSSIBILIDADE
DE FORMAR
SEUS ESTOQUES
COM VARIEDADE,
NOVIDADES E
PREÇOS BAIXOS,
SEM ABRIR MÃO DA
QUALIDADE E SEM
A NECESSIDADE DE
COMPRAR GRANDES
QUANTIDADES,
COMO É USUAL NAS
GRANDES REDES DE
LOJAS.
38 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
“
”
• Atendimento personalizado – O
atendimento na loja é supervisionado
por seus proprietários. Com isso, a
empresa procura maximizar a relação
de confiança com os clientes, dando um
atendimento diferenciado a cada um
deles.
• Formas de pagamento – Sempre
procurando seguir tendências de
mercado, a empresa incorporou ao seu
crediário o recebimento de cartões de
crédito (forma ainda pouco usual na
cidade, que conserva método tradicional
de pagamentos por carnês). Para tanto,
visando minimizar custos, costurou com
o Banco do Estado do Rio Grande do Sul
(BANRISUL) uma parceria para viabilizar
a possibilidade de receber, além do
cartão próprio do banco, as demais
bandeiras existentes no mercado, como
Mastercard e Visa principalmente.
• Customização – Para evitar o processo
de massificação dos produtos oferecidos
na loja, os proprietários procuram não
repetir modelos, cores e tamanhos de
uma mesma peça de roupa, trazendo
assim a maior exclusividade possível ao
cliente, o que resulta em sua fidelização.
• Busca das necessidades – Em contínuo
propósito de buscar soluções para as
necessidades e expectativas dos clientes,
faz-se com frequência um levantamento
com os clientes para saber quais
produtos gostariam que a loja passasse a
oferecer e o que poderia ser melhorado
em relação a diversidade de produtos.
• Horário diferenciado – Sentindo a
necessidade de atendimento ao público
que trabalha em horário comercial, a
Lia Modas é a única empresa que tem
expediente de 12 horas na cidade de
Vacaria. Suas portas abrem de 7h45min
às 19h30min, de segunda a sábado. E, nos
feriados, das 9h às 12h e das 15h às 19h.
• Qualidade – A empresa só comercializa
produtos de qualidade, confeccionados
em sua maioria no vizinho estado de
Santa Catarina, notório polo nacional de
roupas de alta qualidade. A Lia Modas
não trabalha com roupas de procedência
duvidosa ou pirateadas.
• Tamanhos grandes – Em uma de suas
expansões de mercado, a Lia Modas,
desde o ano de 2008, passou a ser
referencial para clientes que necessitam
tamanhos especiais. A empresa
comercializa vários modelos de roupas
em tamanhos que vão do “G1” ao “G6”,
sempre seguindo as tendências de moda
do mercado.
UMA EMPRESA
DE TRANSPORTE
DE COMPRAS LEVA
LOJISTAS A OITO
SHOPPINGS EM RIO
DO SUL, INDAIAL E
BRUSQUE (SC). O
COMERCIANTE FAZ
SUAS COMPRAS
E RETORNA NO
MESMO DIA, SEM
CUSTO DE VIAGEM,
POIS A EMPRESA
DE TRANSPORTE
RECEBE COMISSÃO
DAS INDÚSTRIAS
PELAS COMPRAS
FEITAS PELOS
LOJISTAS.
39FACULDADE AIEC
A concorrência
Quando a empresa começou suas
atividades, em junho de 2005, tinha
como concorrentes principais duas
ou três lojas tradicionais de médio e
grande porte regionais e outras tantas
de pequeno porte, além é claro, de um
enorme exército de sacoleiras (pessoas
físicas que compram e revendem
mercadorias, muitas vezes sem
qualidade, por preço bem inferior, sendo
que não pagam impostos).
Nove anos se passaram e a cidade
não aumentou sua população. Não
havia e não há indústrias. A renda dos
habitantes é originada basicamente da
agricultura, tendo destaque a cultura
da maçã, que paga baixos salários aos
trabalhadores. A quantidade e qualidade
dos concorrentes, porém, aumentaram
em muito, pois se instalaram na cidade
cinco fortes redes de lojas de vestuário,
tornando assim a competição bem mais
acirrada. A fidelização da clientela torna-
se um fator de sobrevivência para todas
as empresas do ramo.
A empresa hoje
Nos últimos dois anos, a empresa
tem investido em marketing, tendo
desenvolvido, com uma empresa de
Vacaria, o Altergirus® (um pedestal
giratório para manequins), que faz
uma exposição das roupas por todos os
ângulos e um painel de mensagens LED
onde são expostas suas promoções e
novidades.
Passados nove anos de atividade, a
empresa dispõe de vasta clientela, cerca
de 140 fornecedores e mais de mil itens
distribuídos entre roupas masculinas,
femininas e infanto-juvenis.
“
”
NOVE ANOS
SE PASSARAM E
A CIDADE NÃO
AUMENTOU SUA
POPULAÇÃO. A
QUANTIDADE E
QUALIDADE DOS
CONCORRENTES,
PORÉM,
AUMENTARAM
MUITO. A
FIDELIZAÇÃO
DA CLIENTELA
TORNOU-SE
UM FATOR DE
SOBREVIVÊNCIA
PARA AS LOJAS
DE ROUPAS.
Wilson Antônio Deschamps
Empresário, proprietário da Lia Modas em
Vacaria (RS). Bacharel em Administração
pela Faculdade AIEC.
40 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
Gestão da produção
Ao ser convidada para escrever
um artigo para esta revista,
muitas coisas voltaram à minha
mente desde o ano de 1986, quando,
aos 19 anos, me casei com Eider. Na
época eu era professora em um jardim
de infância no interior de Rio do Oeste,
Santa Catarina. Eider era filho de um
pequeno comerciante na linha de
açougues e embutidos. No mesmo ano
em que casamos, assumimos o pequeno
negócio e, com muito esforço e trabalho,
construímos passo a passo a nossa
história de vida.
O início de nossa jornada foi difícil. O
negócio ia mal. Não tínhamos dinheiro
e contávamos apenas com cinco
funcionários, que faziam praticamente
tudo. Começamos na época abatendo
duas cabeças de bovinos e dez suínos
por semana. A venda e toda a parte
burocrática e administrativa ficavam por
minha conta. A venda e entrega eram
feitas de porta em porta, e eu só voltava
pra casa à noite quando tudo estivesse
vendido. Eider ajudava no abate e
processamento dos bovinos e suínos e
também fazia a compra dos animais na
região.
FRIGORÍFICO
CATARINENSE
DIVERSIFICA ATIVIDADES
E AMPLIA ESPAÇO
NO MERCADO COM
PRÁTICAS ECOLÓGICAS
E SUSTENTÁVEIS,
IMPULSIONADO PELA
LEGISLAÇÃO SANITÁRIA
E AMBIENTAL.
Elisete Pessatti Ern
40 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
41FACULDADE AIEC
“
”
ENQUANTO
MUITOS
CONCORRENTES
NOSSOS SE
ACOVARDARAM
E NÃO TIVERAM
A MESMA VISÃO,
ENCONTRAMOS NA
REGULAMENTAÇÃO
SANITÁRIA UMA
OPORTUNIDADE
DE CRESCIMENTO
E EXPANSÃO
DE NOSSOS
NEGÓCIOS. FOMOS
BUSCAR RECURSOS
FINANCEIROS PARA
NOS ADEQUAR A
TAIS EXIGÊNCIAS E
CONTINUAR NOSSO
TRABALHO.
Oportunidade de crescimento
Tivemos muitas dificuldades pelo
caminho. Até o ano de 1995, tínhamos
o SIM (Serviço de Inspeção Municipal),
que nos permitia vender os produtos
apenas dentro do município. Foi
quando a Companhia Integrada
de Desenvolvimento Agrícola de
Santa Catarina (CIDASC), órgão
estadual de inspeção de produtos de
origem animal, através de vistorias
nos estabelecimentos situados no
estado, impôs algumas mudanças e
reestruturações nos estabelecimentos
que abatiam animais e comercializavam
os produtos derivados.
Enquanto muitos concorrentes
nossos se acovardaram e não tiveram
a mesma visão, buscamos nessa nova
regulamentação uma oportunidade
de crescimento e expansão de nossos
negócios. Fomos buscar recursos
financeiros para nos adequar a tais
exigências e podermos continuar nosso
trabalho. Foi com muito esforço e
dedicação que, em 1997, conseguimos o
novo certificado do Serviço de Inspeção
Estadual (SIE). A partir daí, estávamos
prontos para ampliar nossas ações
comerciais em todo o estado. Nesse
mesmo ano, a empresa deixou de se
chamar Comércio de Carnes Golli Ltda.,
passando a se chamar Frigorífico El’Golli
Ltda.
Novos parceiros
A partir de então, podemos dizer que
iniciamos uma nova fase em nossa
empresa. E as mudanças não pararam
por aí. As exigências dos órgãos
fiscalizadores eram cada vez maiores e
vinham de todos os lados. Tivemos que
nos adequar às normas sanitárias, fiscais,
ambientais e sociais. Como o mercado
tinha aumentado e as possibilidades
eram muito maiores, com novos
clientes a atender, novas exigências
no controle de qualidade foram sendo
implementadas.
O volume de compras de matéria-prima
para o frigorífico, nessa altura, tinha
se ampliado consideravelmente. A
pequena região do Alto Vale, região de
Santa Catarina onde está localizado o
frigorífico, já não supria mais a demanda
de bovinos e suínos para nossa produção
semanal. Assim, buscamos novos
parceiros e produtores qualificados
e preocupados com a qualidade dos
animais. Esses parceiros, na maior parte,
estão localizados no oeste catarinense,
onde a produção de pecuária de corte é
muito grande.
Capacidademáxima
Santa Catarina possui uma vantagem em
relação aos demais estados do Brasil,
no que se refere à pecuária bovina: é o
único estado 100% livre da febre aftosa
sem vacinação. Em virtude de os demais
estados terem ainda esse problema, o
abate em Santa Catarina só pode ser de
gado criado no próprio estado.
41FACULDADE AIEC
42 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
SANTA
CATARINA
POSSUI UMA
VANTAGEM EM
RELAÇÃO AOS
DEMAIS ESTADOS
DO BRASIL, NO
QUE SE REFERE
À PECUÁRIA
BOVINA: É O
ÚNICO ESTADO
100% LIVRE DA
FEBRE AFTOSA
SEM VACINAÇÃO.
EM VIRTUDE
DE OS DEMAIS
ESTADOS TEREM
AINDA ESSE
PROBLEMA,
O ABATE
EM SANTA
CATARINA SÓ
PODE SER DE
GADO CRIADO
NO PRÓPRIO
ESTADO.
“
”
Essa vantagem sanitária traz, porém,
para os frigoríficos de Santa Catarina,
dificuldade na compra de matéria-prima.
O gado para abate é muito disputado,
com preços elevados, chegando
diversas vezes a tornar o negócio
inviável. Nós acabamos nos vendo
obrigados a comprar gado já abatido de
outros estados para conseguir suprir
a necessidade de matéria-prima. Os
preços de outros estados muitas vezes
até são inferiores à carne catarinense,
porém as barreiras fiscais acabam
dificultando a compra e onerando os
preços.
Com todas essas mudanças ocorrendo,
a carteira de clientes e cidades
catarinenses atendidas foram
aumentando. O abate que, no início de
nossas atividades, lá nos anos 80, era de
duas cabeças por semana, nessa fase,
início dos anos 2000, já tinha atingido
uma quantidade de 40 bovinos e 120
suínos por dia.
No ano de 2007, verificamos que a
atividade de abate de suínos tornava-
se inviável. Passamos a concentrar as
atividades no abate e industrialização
de produtos bovinos. Em 2008 e 2009,
atingimos a capacidade máxima de abate
de bovinos, chegando a até 200 cabeças
por dia.
Respostas ecológicas e sustentáveis
Como nossa empresa sempre foi
preocupada com a parte ambiental do
negócio, temos nossa própria fábrica
para processamento dos resíduos
provenientes do abate e processamento
das carnes. Surgiu então, em 2009, mais
um desafio para o empreendimento. A
fábrica, que até então processava apenas
os próprios resíduos de sua indústria,
não poderia mais continuar funcionando
apenas com o registro de inspeção
estadual. Ou ela se adequava às normas
federais ou então deveria ser fechada.
Assim, mais uma vez, tivemos que
buscar recursos financeiros para inovar
e instalar tecnologias que atendessem
às rigorosíssimas normas do Serviço
de Inspeção Federal do Ministério da
Agricultura (SIF). Podemos dizer com
orgulho que, mais uma vez, não nos
detivemos diante das dificuldades
encontradas e alcançamos o objetivo
buscado. A fábrica de produtos não
comestíveis, oriundos dos resíduos
do abate, hoje é referência não só no
Estado como também em nível de
País, vendendo seus produtos para
clientes de renome nacional. Hoje a
empresa coleta os resíduos de dezenas
de frigoríficos, açougues e mercados
em todo o estado, transformando e
produzindo farinha e sebo de qualidade,
que são utilizados como ração animal e
matéria-prima para inúmeros produtos.
42 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
43FACULDADE AIEC
“
”
PARA ATENDER
ÀS EXIGÊNCIAS
DOS ÓRGÃOS
AMBIENTAIS
COM RELAÇÃO
AO DESTINO
DOS RESÍDUOS
DE PRODUÇÃO,
INSTALAMOS UM
BIODIGESTOR QUE
RECEBE TODOS
OS RESÍDUOS
LÍQUIDOS
RESULTANTES
DO ABATE,
TRANSFORMANDO-
OS EM BIOGÁS E
BIOFERTILIZANTE.
Os órgãos ambientais estão cada
vez mais exigentes com a qualidade
do meio ambiente e com o destino
que as empresas estão dando aos
resíduos de produção. Para atender a
essas recomendações com respostas
ecológicas e sustentáveis, fomos
buscar soluções menos agressivas ao
nosso ecossistema. Trouxemos do
estado do Mato Grosso uma alternativa
pioneira até então em nosso estado:
um biodigestor que recebe todos
os resíduos líquidos resultantes do
processo de abate, transformando-
os em biogás e biofertilizante. O
biogás é utilizado na geração de calor
para uma das caldeiras da empresa
e o biofertilizante irriga e fertiliza as
pastagens da fazenda.
Seleta fatia
Após um amplo estudo com o objetivo
de conquistar novas fatias de mercado,
visualizamos a oportunidade de
trabalhar com aves e suínos abatidos. Em
2012, concretizamos essa ideia por meio
de nosso Entreposto de Carnes, que
processa e transforma a matéria-prima
em um produto de alta qualidade com
sabor diferenciado para o consumidor
final. Estamos também em fase de testes
para a venda dos pratos prontos de
strogonoff e bife à parmegiana de frango
e de bovino. Esses novos produtos
prometem alcançar uma nova e seleta
fatia do mercado nacional.
Para tudo isso, é necessário estarmos
preparados para atender às exigências
do consumidor, como também, para
cumprir todas as obrigações legais que
acompanham todo o processo.
Do sonho à realidade
Diante de tudo que foi exposto, posso
garantir que cada minuto e esforço
dedicados valeram a pena e que nos
orgulhamos por tudo que construímos.
A esta altura de nossa história, nosso
frigorífico conta com 200 colaboradores
diretos e centenas de parceiros
indiretos.
No começo, era apenas um sonho que
parecia muito distante, mas hoje vejo
que, com a graça de Deus, podemos
realizar tudo aquilo que desejarmos,
desde que jamais nos esqueçamos
de colocar em todo o trabalho muita
dedicação e amor. Vamos deixar um
legado a nossos filhos e netos e acredito
que eles continuarão a escrever essa
história.
Espero que o leitor tenha gostado de
conhecer um pouco de nossa história
de vida e trabalho e que eu possa ter
passado um pouco de otimismo e
perseverança para todos. Quando
as pessoas, diante das dificuldades
encontradas no meio do caminho,
só focam os problemas, deixam de
visualizar as oportunidades que podem
estar por trás dos desafios. Sendo assim,
não desista de seus sonhos sem antes
fazer tudo o que estiver ao seu alcance.
Elisete Pessatti Ern
Sócia-proprietária do Frigorífico
El’Golli em Taió, SC.
43FACULDADE AIEC
44 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
Gestão do esporte
Provavelmente, as coisas que
provocam as maiores paixões
no mundo são: família, comida
e esporte. Todos os membros de uma
família normalmente compartilham seus
problemas e suas recompensas. Adoram
determinadas comidas e discutem quais
são as melhores opções gastronômicas e
até como prepará-las. Do mesmo modo,
os entusiastas dos esportes conhecem
e partilham, por exemplo, dados
estatísticos e torcem por seus times
favoritos.
Em minha experiência como membro
de equipes esportivas, vejo que
poucas pessoas pensam nas coisas que
acontecem fora das entrevistas, dos
campos ou das quadras de esportes,
ou mesmo no antes e no depois das
competições. Nos meus seis anos como
coordenador de tecnologia da seleção
masculina de vôlei dos Estados Unidos,
eu aprendi algo de muito apreciativo
sobre esses detalhes.
Antes de falar no tópico a seguir sobre
as formas como se organizam uma
seleção e os eventos, é importante dizer
que, como coordenador de tecnologia,
realizei muitas observações de jogos
de equipes adversárias, formei bancos
de dados estatísticos e também gravei
vídeos durante competições. Após a
captação desses dados, normalmente
durante a madrugada, eu corrigia alguns
erros estatísticos, imprimia o material
e repassava aos técnicos da seleção
americana.
Além disso, eu usava os vídeos digitais
dos jogos para fazer uma sincronia com
os dados estatísticos e produzir versões
de jogos que podiam ser analisadas pela
comissão técnica e pelos jogadores da
seleção americana. No início do meu
trabalho, esses vídeos eram produzidos
manualmente em fitas VHS, o que
tornava meu trabalho ainda mais difícil.
MEMBRO DA EQUIPE
TÉCNICA DA SELEÇÃO
MASCULINA DE VÔLEI
DOS EUA POR SEIS
ANOS DESCREVE
ALGUMAS DAS MUITAS
ATIVIDADES DE
SUPORTE AO TÉCNICO
E ATLETAS.
Darrell Akimoto
44 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
45FACULDADE AIEC
“
”
COMO
COORDENADOR
DE TECNOLOGIA,
OBSERVEI JOGOS
DE EQUIPES
ADVERSÁRIAS,
FORMEI BANCOS
DE DADOS
ESTATÍSTICOS E
GRAVEI VÍDEOS
DAS COMPETIÇÕES,
PRODUZINDO
MATERIAL PARA
SER ANALISADO
PELA COMISSÃO
TÉCNICA E PELOS
JOGADORES
DA SELEÇÃO
AMERICANA DE
VÔLEI.
Organização
No Comitê Olímpico dos Estados Unidos
(United States Olympic Committee -
USOC), cada modalidade de esporte tem
seu próprio comitê diretivo (National
Governing Bodies - NGBs) e opera
independentemente. Por exemplo, o
NGB de vôlei (USA Volleyball – USAV)
é reconhecido oficialmente pela
Federação Internacional de Vôlei (FIVB)
como um órgão diretivo dos Estados
Unidos.
Cada comitê diretivo tem uma Diretoria
(Board of Directors), composta por
representantes de diversas áreas
relacionados à modalidade. No caso do
USAV, há atletas da seleção de voleibol
de praia e de quadra, representantes
de programas de desenvolvimento de
novos atletas, juízes, técnicos, líderes de
regiões e representantes independentes.
Logística
Sem nunca ter participado da
organização de eventos esportivos
nacionais ou internacionais, é difícil para
as pessoas entenderem a quantidade de
atividades e providências envolvidas nas
operações. Assim se passou comigo que,
no início dos trabalhos, era como um
espectador com acesso aos bastidores,
fascinado ao ver por todos os lados
jogadores e técnicos que eu somente
via pela televisão. Essa empolgação teve
que diminuir logo que as competições
começaram, pois fiquei muito ocupado
com meus trabalhos e também, à
medida que o tempo foi se passando,
a convivência com esses atletas foi se
tornando mais normal.
Os grandes campeonatos são precedidos
de competições menores, que é de
onde saem as equipes mais qualificadas.
Supondo que, em muitos casos, as
grandes competições são realizadas
em diferentes países, é necessário um
planejamento de viagens e, enquanto os
jogadores e técnicos treinam nas quadras
esportivas, há uma equipe encarregada
desse planejamento. Geralmente
o pessoal da USAV é que cuida da
aquisição das passagens, dos vistos e dos
passaportes.
Às vezes, a FIVB é que se encarrega
desse planejamento, mas muitas
pessoas dessas confederações não
levam em consideração que os atletas
do voleibol são muito altos e os voos
são muito longos. Para economizar
dinheiro, terminam fazendo reservas de
assentos na classe econômica, onde os
espaços entre as fileiras dos bancos são
pequenos e isso é um incômodo muito
grande porque, em muitos casos, esses
atletas, com suas pernas longas, nem
cabem nesses espaços. Além disso, é
preciso planejar também o deslocamento
entre o centro esportivo e o aeroporto,
acomodar as bagagens e produtos dos
atletas e, no aeroporto, fazer os check-ins
para o(s) voo(s).
Ao chegar ao local de destino, as
confederações locais enviam um ônibus
para transportar os atletas e comissão
técnica do aeroporto até o local de
acomodação e, se for o caso, enviam
também um tradutor e um representante
da confederação local que, juntos com a
comissão técnica das seleções, discutem
uma agenda para a cidade e também para
toda a competição.
45FACULDADE AIEC
46 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
“
”
AS SELEÇÕES
E AS EMPRESAS
TÊM O MESMO
OBJETIVO: GANHAR.
OS JOGOS,
PORÉM, POSSUEM
UMA LÓGICA
RACIONAL MOVIDA
PREDOMINANTE-
MENTE PELAS
PAIXÕES DE
MILHÕES DE
ESPECTADORES.
AS ATIVIDADES
DO MUNDO DOS
NEGÓCIOS, POR
SUA VEZ, NEM
SEMPRE PODEM
SER MOVIDAS
PELAS PAIXÕES DE
SEUS ATORES.
No local de acomodação, o coordenador
do time faz o check-in e entrega as
chaves dos alojamentos para cada
membro. Caso a agenda permita, os
técnicos preferem fazer um treinamento
com os jogadores no mesmo dia, com o
objetivo de adaptação ao fuso horário.
Imagens e comunicação
Logo nos primeiros treinos, como eu
era o responsável pelas estatísticas e
produção de imagens, sempre fazia
a inspeção dos locais para a fixação
das câmeras, fazia a checagem da
energia local e observava os locais de
acomodação das tecnologias dos times
concorrentes. Muitas vezes, encontrava
problemas e tinha de procurar pessoas
das confederações locais para resolvê-
los. Em muitos casos, elas pensavam
que eu estava querendo obter alguma
vantagem para a seleção dos Estados
Unidos e, então, era preciso, convencê-
los, por exemplo, de que a posição de
alguns equipamentos de filmagens
bloqueava a visão das câmeras de outros
times também.
As competições começavam com três
ou quatro jogos por dia e os técnicos
logo queriam ver as estatísticas e os
vídeos dos times concorrentes. Assim,
meus dias começavam muito cedo
e eram muito longos, chegando a
trabalhar entre dez e doze horas por dia.
Normalmente, minha jornada começava
uma hora e meia ou duas horas antes do
primeiro jogo e voltava para o hotel uma
ou duas horas depois do último jogo.
Enquanto eu fazia esse trabalho, se
a nossa seleção ainda não estivesse
jogando, todos estavam trabalhando
em reuniões, preparativos médicos,
alongamentos, organização de materiais
de uso dos jogadores, transportes,
etc. Antes da nossa seleção entrar em
quadra, eu já preparava e distribuía
todos os equipamentos necessários
como rádios, computadores e outras
tecnologias de comunicação usadas
pelos técnicos e seus assistentes.
Observação e análise
Para o USA Volleyball, o campeonato
mais importante são os Jogos Olímpicos.
Como tal, são usados mais recursos
do que em outras competições como
na Copa Mundial de Vôlei ou no
Campeonato Mundial de Vôlei. Nas
Olimpíadas de Atlanta, que aconteceu
nos EUA em 1996, por exemplo, eu tinha
a ajuda de um outro coordenador de
tecnologia e, em meio aos espectadores
estavam seis conselheiros, entre eles
três ex-técnicos das seleções de voleibol
dos Estados Unidos.
Qualquer um deles podia falar
diretamente com os nossos técnicos
durante os jogos. Normalmente, pelo
menos um deles estava em alguma arena
assistindo aos jogos dos times com os
quais jogaríamos posteriormente. Tudo
isso porque há um entendimento de que
essas pessoas conhecem e entendem
muito bem o voleibol e, como tal, podem
ajudar nas análises de alguns jogos
importantes.
46 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
47FACULDADE AIEC
Hierarquiaepaixão
A USAV e as seleções operam como no
mundo dos negócios, ou seja, o que é
comum é o objetivo de ganhar. Os dois
mundos possuem hierarquias tanto
em níveis de atuações organizacionais
quanto em níveis das relações mais
individuais. A diferença talvez seja em
termos do produto que cada um quer
obter: as seleções querem ganhar
competições e as empresas querem
ganhar dinheiro. Obviamente que,
ao atingirem os objetivos ganhando
competições, isso, de alguma forma, vai
ser traduzido em ganhos econômicos.
Uma outra diferença é que as atividades
esportivas se realizam sob os olhos de
milhões de pessoas simultaneamente e,
portanto, possuem um caráter de lógica
racional predominantemente movida
pelas paixões desses milhões, enquanto
as atividades do mundo dos negócios
nem sempre podem ser movidas pelas
paixões de seus atores.
Restam menos de dois anos para a
abertura dos jogos olímpicos do Rio de
Janeiro no Brasil. Minha mensagem é que
as pessoas reflitam sobre o que acontece
fora das competições ou daquilo que
a TV pode mostrar, pois, como foi dito
acima, só depois de participar como
membro de uma comissão técnica é que
se pode ter uma dimensão maior daquilo
que envolve um time ou uma seleção
antes e depois de uma competição. Ao
final, gostaria de agradecer a Eliseu
Pichitelli pelas correções de português
deste artigo.
“
”
RESTAM MENOS
DE DOIS ANOS
PARA A ABERTURA
DOS JOGOS
OLÍMPICOS DO
RIO DE JANEIRO.
CONVIDO AS
PESSOAS PARA
REFLETIREM
SOBRE A GRANDE
QUANTIDADE DE
ATIVIDADES QUE
ACONTECE FORA
DAS COMPETIÇÕES
OU DAQUILO
QUE A TV PODE
MOSTRAR.
Darrell Akimoto
Americano residente no Japão desde
2005. Atualmente leciona inglês em duas
universidades japonesas. Nos Estados
Unidos, trabalhou como engenheiro
eletrônico em empresas prestadoras de
serviços para o governo federal. Na década
de 90, trabalhou como coordenador de
tecnologia na seleção nacional de voleibol
masculino dos Estados Unidos, com a qual
viajou para muitos países, inclusive ao
Brasil. Graduado e Mestre em Ciências da
Engenharia Elétrica, pela San Diego State
University (EUA).
47FACULDADE AIEC
48 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
EAD
Em 12 de maio de 1923, Domingos Zema abriu em
Araxá (MG) a Casa Sport, uma pequena loja de
peças, acessórios, lubrificantes e combustíveis,
marco inicial de uma das maiores empresas de Minas
Gerais. Esse empreendedor nato, com características
marcantes de simplicidade e determinação -
características que são valorizadas até hoje pelo Grupo
- começou a alugar carros, fabricar carroças e, em 1936,
inaugurou o primeiro posto de combustível da cidade.
Nos anos 40, seus filhos Romeu e Oswaldo assumiram
os negócios. Em 1957, com 14 anos de idade, Ricardo
Zema começou a trabalhar na empresa devido à morte
prematura de seu pai, Romeu Zema, em um acidente
aéreo.
No ano de 1964, Ricardo assumiu a direção dos
negócios, que, na época, se restringia a uma
concessionária e um posto de combustível. Em 1969,
comprou o segundo posto e daí em diante iniciou o
processo de expansão de forma consistente e contínua
da Zema.
De lá pra cá, a empresa cresceu e adquiriu outros
segmentos de negócios em Araxá e região. Ricardo
Zema atualmente é o presidente do Conselho
Administrativo do Grupo Zema e, juntamente com seus
filhos, trabalha com determinação para o crescimento
do Grupo.
A UNIVERSIDADE
CORPORATIVA
DO GRUPO ZEMA
(UNIZEMA) INVESTE
EM EDUCAÇÃO
A DISTÂNCIA
COM FOCO NO
DESENVOLVIMENTO DE
COMPETÊNCIAS QUE
OS FUNCIONÁRIOS
DEMANDAM PARA
QUE A EMPRESA
MANTENHA SEUS BONS
RESULTADOS.
Geovania Carla de Moura
49FACULDADE AIEC
“
Reconhecimento
Em sua trajetória, a empresa acumula
selos de reconhecimentos em diferentes
áreas, sendo a de gestão de pessoas
uma das mais destacadas. A Zema é
reconhecida pelo Instituto Great Place
to Work, por meio da Revista Época,
há mais de dez anos como uma das dez
melhores empresas para se trabalhar no
Brasil.
A empresa também já foi reconhecida
entre as “150 Melhores para Você
Trabalhar” em seleção realizada pela
Revista Exame.
Dentre as práticas aprovadas pelos
colaboradores e que fazem da
Zema uma das melhores empresas
para se trabalhar, destaca-se o
“Desenvolvimento Profissional”,
indicador que está sempre à frente
dos demais que os colaboradores
mais valorizam. E, nesse contexto,
a educação corporativa tem papel
crucial, pois a empresa tem necessidade
de implantação de processos que
gerem, armazenem, gerenciem e
disseminem conhecimentos, formando
e capacitando o colaborador para
a construção de características
indispensáveis para manter nosso
negócio.
Novidade e tradição
Para isso, em 2003, nasceu a
Universidade Corporativa do Grupo
Zema (UNIZEMA), que tem como
propósito educar para o novo sem
perder os valores tradicionais e a cultura
da empresa, focando na qualidade dos
processos e no desenvolvimento do seu
colaborador, nas múltiplas dimensões do
ser humano.
Na era da informação, em que os valores
humanos são priorizados, bem como a
criatividade e o conhecimento, o bem
maior de uma empresa é representado
pelas pessoas que para ela trabalham.
Nesse sentido, através da UNIZEMA, foi
possível que a empresa estruturasse
seus investimentos e definisse uma
proposta para direcionar os programas
de capacitação, dentro de uma visão
andragógica (para adultos) da educação.
Assim, nasceram propostas ousadas
como o Programa de Gerente Trainee,
que forma aproximadamente três
turmas de 30 alunos por ano. Além
dos cursos de coordenadores
administrativos, Escola de Liderança,
entre outros, que são estruturados de
acordo com a necessidade de cada setor
da Zema.
Programa de ensino a distância
Entendemos que a empresa precisa
apoiar a formação contínua das pessoas,
proporcionando ambientes para a
construção do conhecimento e para
o desenvolvimento da capacidade
criadora e inovadora, que são essenciais
para a evolução de nosso negócio. ”
EM 2003,
NASCEU A
UNIVERSIDADE
CORPORATIVA
ZEMA (UNIZEMA),
QUE TEM COMO
PROPÓSITO
EDUCAR PARA
O NOVO
SEM PERDER
OS VALORES
TRADICIONAIS
E A CULTURA
DA EMPRESA,
FOCANDO NA
QUALIDADE DOS
PROCESSOS E NO
DESENVOLVIMENTO
DO SEU
COLABORADOR,
NAS MÚLTIPLAS
DIMENSÕES DO
SER HUMANO.
“
50 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
“
”
O TAD (treinamento a distância) atende
ao desafio da educação orientada
para um público-alvo numeroso,
disperso geograficamente (como é
o caso da Zema), com necessidade
de desenvolvimento em amplas
áreas de conhecimento, com uso
de metodologias que promovem a
interação do aluno com o conteúdo,
construindo um aprendizado efetivo
e, portanto, aplicável no dia a dia do
colaborador.
Para que isso aconteça cada vez
mais e com a qualidade que nossos
colaboradores merecem, a UNIZEMA
realiza avaliações e orientações durante
o desenvolvimento dos cursos, analisa
criticamente o processo e os conteúdos
e propõe mudanças. O objetivo desse
acompanhamento é que os cursos
atendam as nossas necessidades com
qualidade, criatividade, sem redundância
de informações, com o uso adequado e
produtivo de recursos multimídia (som,
imagem, texto, vídeos), para manter e
reforçar a atenção do nosso colaborador
e promover a tão esperada mudança de
comportamento.
Gestão do conhecimento
Os cursos a distância estão disponíveis
para os colaboradores e a UNIZEMA
gerencia todo o processo, graças
a um ambiente de aprendizagem
virtual, a Conexão RH, plataforma de
gestão do conhecimento que oferece
ferramentas que facilitam o processo de
acompanhamento dos treinamentos a
distância. Entre elas:
• Histórico individual do aluno, com
todos os cursos realizados, notas e
horários de estudo.
• Resultados, por data, com todos os
cursos realizados pelos colaboradores
das filiais dentro do período desejado.
• Participação, por empresa, com a
quantidade geral de cursos realizados
pela filial.
• Avaliação de Reação, com informações
sobre o que o colaborador achou do
curso realizado.
• Relação de participantes por cursos
específicos.
Essas ferramentas são disponibilizadas
aos gestores, que têm total autonomia
para planejar o desenvolvimento
individual de seus colaboradores e
acompanhar todo o processo em
períodos previamente combinados.
O TREINAMENTO
A DISTÂNCIA
PERMITE ATENDER
UM PÚBLICO
NUMEROSO,
DISPERSO
GEOGRAFICAMENTE
E COM
NECESSIDADE DE
DESENVOLVIMENTO
EM DIVERSAS
ÁREAS. É UMA
MODALIDADE
DE ENSINO QUE
PROMOVE A
INTERAÇÃO DO
ALUNO COM
O CONTEÚDO,
TRAZENDO UM
APRENDIZADO
APLICÁVEL NO
DIA A DIA DO
COLABORADOR.
51FACULDADE AIEC
“
”
Trilha e matrizes
Para facilitar o processo de
desenvolvimento do colaborador, a
UNIZEMA criou, em sua plataforma
de cursos, um espaço denominado
“trilha do conhecimento”, que contém
“matrizes de desenvolvimento” com
cursos específicos, separados por
cargos.
As matrizes de desenvolvimento
tornaram mais eficiente a construção do
caminho para busca do desenvolvimento
das competências necessárias
para a qualificação profissional dos
colaboradores da Zema. De 2003 a 2013,
foram realizadas mais de 500.000 horas
de treinamento. Para 2014, temos uma
meta ousada: chegar às 600.000 horas!
Da teoria para a ação
Além do ambiente virtual de
aprendizagem – Conexão RH –, o
Grupo Zema desenvolve o Programa
de Educação Continuada (PEC).
O Programa também utiliza a
modalidade a distância para capacitar
e desenvolver competências técnicas e
comportamentais de nossas lideranças
ou de colaboradores com potencial para
ocupar cargos de gestão.
A ZEMA
ACREDITA QUE O
DESENVOLVIMENTO
DAS PESSOAS
É CONDIÇÃO
PRIMEIRA PARA QUE
OS RESULTADOS
APAREÇAM E A
EAD É PEÇA-CHAVE
NESSE PROCESSO.
O RESULTADO
DESSA PARCERIA
COM A EAD
ESTÁ ESTAMPADO
NOS NÚMEROS
ALCANÇADOS PELO
GRUPO ZEMA.
O PEC seleciona livros que abrangem
temas das mais variadas competências
gerenciais e os encaminha para os
gestores para leitura. Esse estudo
é acompanhado por tutores que
interagem com os gestores no ambiente
virtual de aprendizagem, fazendo a
mediação entre os conceitos abordados
nos livros e a construção coletiva de
saberes e ações, fundamentais para
nossa organização. Ler, neste caso, vai
além das páginas de um bom livro, pois
há, de fato, um desdobramento da teoria
para a ação. O Grupo Zema, treina a cada
semestre, cerca de 300 gestores no
Programa e vem trabalhando com esse
recurso desde 2010, com quatro livros.
A Zema acredita no potencial e
diferencial das pessoas, seu principal
valor, por isso investe constantemente
no processo de capacitação das
competências de seus colaboradores.
A Zema acredita também que o
desenvolvimento das pessoas é
condição primeira para que os
resultados apareçam e que a educação
na modalidade a distância é peça-chave
dessa engrenagem. O resultado dessa
parceria com a EAD está estampado nos
números alcançados pelo Grupo Zema
nos últimos anos.
Geovania Carla de Moura
Gerente de Desenvolvimento de
Pessoas, Comunicação Interna e Eventos
Corporativos do Grupo Zema. Graduada
em Pedagogia Empresarial e Educacional.
Pós-graduada em Supervisão e Inspeção
Educacional. MBA em Gestão de
Pessoas pela USP. Professional and Self
Coaching, e Executive Coaching pelo IBC
e Instituto Europeu de Coaching. Analista
Comportamental e de avaliação 360° pelo
IBC.
52 IDEIAS EM GESTÃO | NO 16 | NOV/2014
Em 2007, ao completar 35 anos de
contribuição ao INSS, me aposentei. Encerrei
minha vida acadêmica e me dei de presente
viver um tempo em Paris desenvolvendo
pesquisas em comunicação organizacional
com orientação do mestre da sociologia
contemporânea Michel Maffesoli na
Sorbonne. Na época, atuava como tutor
da Faculdade AIEC, de quem recebi todo o
apoio e incentivo para desenvolver o Pós-
Doutorado.
Foram nove meses deliciosos, não apenas
por conta dos vinhos e queijos franceses, mas
especialmente porque pude me dedicar ao
que sempre adorei e sei fazer bem: estudar!
Foi nessa época que recebi um convite do
Banco do Brasil para escrever um fascículo
(“Sustentabilidade e futuro”) sobre os 200
anos que a empresa iria comemorar no ano
seguinte, 2008.
Inspirado pela arquitetura urbana de Paris,
idealizada por Haussmann no século XIX, e
muito bem conservada até hoje, me dediquei,
então, na preparação do conteúdo do
fascículo, a estudar as empresas longevas.
A construtora Kongo Gumi, do Japão, fundada
no século VI (!!) é considerada a empresa mais
antiga do mundo. Nos EUA, a empresa mais
antiga é a Zildjian Cymbal, de Massachusetts,
fundada em 1623. A Zildjian Cymbal fornece
pratos e baquetas para percussionistas,
inclusive para o beatle Ringo Starr. No Brasil,
na época em que fiz o fascículo, o Banco do
Brasil era a única empresa bicentenária.
Independentemente do negócio a que se
dedicam, o que faz essas empresas durarem
são algumas práticas comuns ao longo de
suas histórias, das quais destaco: são sensíveis
ao ambiente e buscam harmonizar-se com
o mundo que as rodeia; são abertas a novas
ideias e à experimentação; transformam
crises em novos negócios; incorporam
inovações e diversificam sua atuação de
acordo com as demandas do mercado;
privilegiam a descentralização administrativa
e a gestão participativa.
Aprendi também com esses estudos que as
empresas feitas para durar sabem que é mais
difícil administrar o sucesso do que lidar com
as crises que as afligem. E isso vale também
para nós profissionais. Afinal, o mercado não é
bom nem ruim. Apenas cruel...
Artur Roman