Aula 01 Macro Ii Conceitos BáSicos

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Aula de Macroeconomia Pós-Keynesiana, Prof. Dr. Eduardo Strachaman

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O que é economia pós-keynesiana?

• O estudo do funcionamento da economia capitalista em seus determinantes básicos (quanto a emprego, produto, distribuição de renda, políticas econômicas, crescimento, preços)

• Tem origem na “revolução keynesiana”, mas promoveu também uma verdadeira mudança de paradigma em economia

O que é economia pós-keynesiana?

• O foco da análise está nos efeitos das decisões dos agentes (microeconomia) sobre os resultados para a economia como um todo (macroeconomia).

• É preciso fazer uma caracterização ontológica dos objetos teóricos. Em outras palavras, o que constitui uma economia capitalista?

Características de uma economia empresarial

• Diferentes autores enfatizam um aspecto ou outro dos componentes de uma teoria monetária da produção no sentido pensado por Keynes(a) tempo (Davidson, 1980; Chick, 1983)

(b) moeda (Rotheim, 1981; Kregel, 1985)

(c) incerteza (Shackle, 1967; Davidson, 1978)

Características de uma economia empresarial

• Essas diferenças de ênfase não deixam de considerar que os três aspectos estão relacionados. Tendo isso em mente, Carvalho (1992) propõe que o aspecto unificador do pensamento pós-keynesiano é sua análise de uma economia “empresarial” ou “monetária da produção”.

Características de uma economia empresarial

(1) Uma economia capitalista, com propriedade privada e divisão do trabalho;

(2) Usualmente pensamos em três tipos de agentes (empresas, famílias e bancos) com poder diferenciado de implementar decisões;

(3) O tempo é irreversível (o passado é irrevogável e o futuro é incerto);

(4) As decisões de conservação/ampliação da riqueza são tomadas hoje com o objetivo de gerar efeitos em algum período (às vezes não-especificado) no futuro;

Características de uma economia empresarial

(1) A especificidade de uma economia monetária é que as decisões são tomadas (e os resultados avaliados) em termos monetários, pelos seguintes motivos:

- a moeda é a unidade em que os contratos estão escritos (“a unidade de conta é a função básica da moeda”, cf. Keynes, 1930).

- por isso, a moeda é o dispositivo institucionalmente aceito para saldar compromissos.

- além disso, a moeda é, nos termos de Marx, a riqueza em sua forma mais abstrata. A posse de moeda confere liberdade de tomar decisões ao seu possuidor.

Características de uma economia empresarial

(6) Numa economia com essas características, há um elemento de incerteza fundamental quanto aos resultados das decisões tomadas:(a) os processos de produção e consumo tomam tempo e não são sincronizados – o sistema pode passar por alterações estruturais no transcurso de um período de produção ou de investimento;(b) como as rendas dos agentes são uma soma monetária, não está pré-determinado em que, em qual quantidade ou em que data a renda será gasta. O estudo das decisões de gasto é a chave para entender o funcionamento de uma economia monetária.

Características de uma economia empresarial

(c) as vendas por encomenda são uma parte menor da produção capitalista e não há contratos para todas as contingências. Além disso, Davidson (1978:13) argumenta que os contratos de compra transferem a incerteza (sobre o valor futuro do ativo comprado) do vendedor para o comprador. Uma outra forma de incerteza é quanto aos valores de repactuação dos contratos.

(7) O futuro é um resultado das decisões presentes. Shackle argumenta que os agentes tomam decisões cruciais:

Características de uma economia empresarial

“Napoleão não poderia repetir a batalha de Waterloo centenas de vezes na esperança de que, numa certa proporção de casos, os prussianos chegassem tarde demais. Sua decisão de lutar... foi o que eu chamo de um experimento crucial, usando a palavra crucial no sentido de uma bifurcação. Se ele tivesse vencido, a repetição seria, por um bom tempo, desnecessária; quando ele perdeu, a repetição se tornou impossível”

(Shackle, 1955: 25, apud Davidson, 1978: 15).

Características de uma economia empresarial

Se o anterior for aceito, então o ambiente econômico é não-ergódico, ou seja, tomada a decisão d no ambiente h1 que gera como resultado o ambiente h2, é proibitivo ou impossível desfazer a decisão d para retornar às condições anteriores (h1). Mais do que isso, as condições em h2 não podem ser previstas estudando-se o passado (h1-n, ..., h1).

Características de uma economia empresarial

o ambiente econômico também é não-estacionário, ou seja, quando o número de observações aumenta, o sistema não converge para uma freqüência estável. Então o passado não é um guia confiável para o futuro, apesar de ser o melhor guia existente. O passado também, no entanto, limita as decisões viáveis aos agentes devido à longevidade dos estoques e dos contratos.

(8) Contratos e convenções ou – mais amplamente – instituições, transformam o potencial caos de uma economia capitalista em instabilidade passível de compreensão e teorização. Estes são, pois, elementos redutores de incerteza (Davidson; Dequech, 1998: cap. II).

Um resumo dos princípios de uma EMP

Numa economia capitalista é racional reter moeda (diferir o gasto)

Propriedades da moeda

(εy = 0; εs = 0)

Os agentes desenvolvem contratos que, se não eliminam, reduzem a incerteza

Coordenação

Não existem garantias de que o sistema “retorne” ao seu ponto inicial, i.e., repita o passado. Na verdade, geralmente o sistema não repete o comportamento de períodos passados

Não ergodicidade

As decisões são tomadas hoje e geram resultados no futuro

Temporalidade da produção

Firmas gasto

Famílias renda, gasto

Bancos fragilidade financeira

Assimetria de poder

As empresas são motivadas pelo lucro, não pela utilidade

Produção

Concepções Metodológicas (Dow, 1991)

• Percepção metodológica• Ausência de dualismo / rejeição de dicotomias:

– positivo versus normativo;

– microeconomia versus macroeconomia;

• Análise Organicista, Não Atomista• Teorização em Sistemas Abertos• Abordagem interdisciplinar

• Preocupação com o realismo

Conhecendo os personagens

t e m p o e i n c e r t e z ak e y n e s i a n i s m o f i l o s ó f i c o

C a r a b e l l iO ' D o n n e l l

L a w s o n

K n i g h tS c h a c k l e

E s c o l a A u s t r í a c aS u b j e t i v i s m o R a d i c a l

f a t o r e sm o n e t á r i o s

K a l d o rC h i c k

D o wR o u s s e a s / M o o r e / W r a y

W e i n t r a u bD a v i d s o n

K r e g e lM i n s k y

M a r s h a l lo f e r t a e d e m a n d a

a s s i m e t r i a s d e p o d e rd i n â m i c a c o n c o r r e n c i a l

A s i m a k o p o l o u sE i c h n e r / S h a p i r o

S a w y e rK r i e s l e r

K a l e c k iR o b i n s o n

K a l d o rP a s i n e t t i

M a r xd i s t r i b u i ç ã o d e r e n d a

d e m a n d a e f e t i v a a l o n g o p r a z ov a l o r e s e p r e ç o s d e p r o d u ç ã o

G a r e g n a n iS t e e d m a n

S c h e f o l dG r a m

S r a f f aD o b bM e e k

H a r c o u r t

R i c a r d o / M a r xr e p r o d u ç ã o a l o n g o p r a z o

A E C O N O M I A D E K E Y N E SL e i d e S a y v s . D e m a n d a E f e t i v a

M o e d a N e u t r a v s . E c o n o m i a M o n e t á r i a d a P r o d u ç ã o

Davidson (1994)• Keynes rejeita 3 axiomas clássicos principais (p. 11):

– A) o da neutralidade do dinheiro;– B) o da substitutibilidade bruta;– C) o da ergodicidade.

• Lei de Say e Neutralidade do Dinheiro – (aceita explícita ou implicitamente por todos os “clássicos”

modernos [Mankiw, Blanchard, etc.], ao menos no l.p.)– o desemprego involuntário é impossível

• Só superproduções parciais (em certos setores) seriam possíveis (Ricardo)• Mas 22% de desemprego, na GB, em 1932, e mais de 10%, em todos os

anos, de 1921 a 1938 → mas recusa em depreciar a £– preços e salários flexíveis deveriam se ajustar ao câmbio pré-guerra, apesar

de os preços terem aumentado em 50% entre 1914-1919, na GB.

• E PNL cai 1/3 em preços constantes e 50% em preços correntes nos EUA (1929-1933)

• vs. Teoria da Demanda Efetiva, Teoria Monetária da Produção e Não Neutralidade do Dinheiro

Chick (1983)

• Teoria da Produção dos Manuais é, na verdade, uma Teoria da Troca (Chick, 1983: cap. 1)– O objetivo de Keynes (por ex., 1934) era atacar a

Teoria de Trocas Reais– Também para ele, o objetivo era D-M-D’

• A distinção entre C e I foi virtualmente apagada– No modelo IS-LM

• Assim como as expectativas, que desapareceram

– E ainda mais nas teorias monetaristas e das expectativas racionais