Aula 1 linguística

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Aula 1 - Linguística

Autor: Marco Vitto Oddo

Direção de arte: Junior Jobim

Diagramação: Alessandra Prima

Coordenação: Felipe Prima e Fernando Severo

Direitos Reservados aoSPEA – Sistema Prima de Ensino e Aprendizagem

Introdução

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) avalia os alunos

a partir de cinco provas distintas. Uma dessas provas é a

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias.

Mais do que conhecimento sobre a

Língua Portuguesa e Estrangeira, Artes e

Educação Física, o Enem espera que seus

candidatos possuam um amplo entendimento

do que é linguagem, como funcionam as

línguas, e como esses conceitos se relacionam

com situações cotidianas e reais.

Ao longo desse curso, você poderáaprender alguns conceitos básicosda Linguística, a ciência que temcomo objeto de estudo a linguageme a língua.

Além disso, vamos discutirjuntos, aula a aula, situações donosso dia-a-dia em que essesconceitos aparecem.

A partir de agora vamos utilizar a palavra “texto” com o

significado de “um todo de sentido”. Isso significa que um texto

pode ser tanto um texto escrito quanto uma música, um

filme, um quadro e até mesmo uma forma de se vestir.

É assim que o Enem trabalha o texto, e é por isso que

as questões da prova de Linguagens, Códigos e suas

Tecnologias recorrem a imagens e canções, além de

manifestações culturais como danças e vestimentas

folclóricas.

Para organizar esse curso, foram utilizados os seguintes livros:

- Introdução à Linguística, organizado por José Luiz Fiorin;

- Elementos de Análise do Discurso, de autoria de José Luiz Fiorin;

- Elementos da Linguística Geral, de autoria de André Martinet.

Linguagem e Língua

Para além de todas as línguas

naturais, todos concordam que

existe um fenômeno maior, que

podemos denominar linguagem. A

linguagem seria a capacidade

humana de aprender e transmitir

uma língua; uma característica

específica da nossa espécie.

Essa capacidade, no entanto, não se desenvolve por si só. A

linguagem só se desenvolve em meio a uma sociedade; é a partir do

contato com outros indivíduos que é possível apreender uma língua.

(Chomsky)

Mas o que exatamente seria uma língua?

A língua é um sistema de sinais finitos com os quais se podem formar

mensagens infinitas, com infinitas possibilidades de interação, desde que

suas significações sejam coerentes dentro de um todo.

(Saussure)

Complicado

Eu te explico!

Vamos pegar a Língua

Portuguesa como exemplo.

No alfabeto português

existem 26 letras (vale

lembrar que agora o ‘k’, o

‘y’ e o ‘w’ agora fazem

parte do alfabeto).

Mesmo com um número muito pequeno de sinais, podemos formar

infinitas frases. Basta que utilizemos as letras de uma forma coerente para

formar palavras, e utilizemos as palavras de uma forma coerente com a

gramática para formar orações, ou seja, respeitar a forma que nossa língua

utiliza verbos, sujeitos e complementos, por exemplo.

Linguagem animal

É muito comum utilizarmos a palavra “linguagem” para

caracterizar a comunicação animal. Mas, se você lembra bem, foi

dito ainda agora que a linguagem é uma característica

exclusivamente humana. Por quê?

As abelhas, por exemplo, possuem um sistema elaborado de

comunicação. Ao encontrar uma fonte de alimento, a abelha

volta para a colméia e realiza um tipo de dança para avisar as

companheiras.

A abelha realiza uma dança

circular se o alimento está

próximo, e em forma de oito

se o alimento está longe. A

direção do alimento é

indicada de acordo com a

posição do sol. (Von Frisch)

Mesmo que as abelhas possuam um sistema preciso de transmitir

mensagens, não podemos chamar isso de linguagem. Em primeiro

lugar, a mensagem da abelha não produz uma resposta. Os integrantes

da colméia entendem o que a dança significa, mas são incapazes de dar

uma resposta.

Em segundo lugar, a mensagem é construída a partir de uma experiência

apenas. Ou seja, as abelhas são incapazes de produzir uma mensagem a

partir de outra. A mensagem reproduzida está limitada a uma reposta

única a um estímulo, não é possível para as abelhas interpretarem sinais

diversos, o conteúdo das mensagens é sempre limitado.

Por fim, a mensagem das abelhas não é

decomposta em elementos menores, ou

seja, não é possível reaproveitar os mesmos

sinais para construir outras mensagens.

Para resumir, a comunicação das abelhas

possui:

conteúdo fixo,

mensagem invariável,

se relaciona a uma só situação,

se transmite unilateralmente, e

seu enunciado é indecomponível.

Já a linguagem humana possui:

conteúdo ilimitado, mensagem

variável, se relaciona a infinitas

situações, possui interatividade

e seus enunciados são

decompostos em elementos

mínimos que podem se

reorganizar para formar novos

enunciados.

Por mais que os animais possam se comunicar, essa

comunicação não constitui linguagem.

Linguagem verbal e outras linguagens

A característica da linguagem não se limita às línguas

verbais, ou seja, as línguas baseadas em palavras, faladas e

escritas. Podemos pensar a linguagem em uma pintura, ou em

uma sinfonia. Os elementos básicos mudam para cada caso: a

pintura tem que combinar cores, sombras, profundidades para

formar sua mensagem; já a sinfonia utiliza notas, tons e escalas.

Seja com a linguagem verbal, com a

pictórica ou com a sonora, podemos

construir textos. Podemos construir

textos até mesmo com mais de uma

linguagem ao mesmo tempo. Revistas e

jornais, por exemplo, utilizam a

linguagem verbal nos seus textos, mas

também a linguagem fotográfica, e até

mesmo a linguagem própria da

diagramação (arrumação dos objetos nas

páginas).

Quando um texto possuir mais de uma linguagem ao

mesmo tempo, vamos chamá-lo de texto sincrético.

Sincretismo é isso, mais de uma linguagem no

mesmo texto.

Traduções entre linguagens

É possível traduzir o sentido de um texto de um

tipo de linguagem para um texto de outro tipo de

linguagem. Um exemplo fácil de visualizar são as

adaptações de livros famosos para o cinema. É

muito comum falarmos que um filme é muito pior

que o livro que o inspirou. Mas precisamos ter em

mente que é preciso fazer adaptações nessa

tradução, pois nunca duas linguagens diferentes

podem reproduzir o mesmo sentido.

Faça um teste, coloque uma

música instrumental para tocar;

feche os olhos por um minuto;

depois pegue um pedaço de papel

e tente escrever o que aquela

música significa. O que achou?

Agora, faça o contrário, feche os olhos

e tente imaginar que sons significariam

esse texto que você está lendo. Muito

mais difícil, não é?

A linguagem verbal, seja ela da língua que for, é considera uma

tradutora universal. Podemos, com a linguagem

verbal, traduzir o sentido de um quadro, ou de uma música

instrumental.

O oposto é muito mais

complicado, e algumas

vezes impossível. É muito

comum você encontrar

questões que pedem uma

interpretação de uma

imagem, e a resposta será

sempre dada na linguagem

verbal.