Aulas Multimídias Santa Cecília · “—Você é um bicho, Fabiano. Isto para ele era motivo de...

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Aulas Multimídias – Santa Cecília

Professor André Araújo

Disciplina: Literatura

Série: 2º ano EM

VIDAS SECASG R A C I L I A N O R A M O S – 2 º A N O –

P R O F. A N D R É A R A Ú J O

Graciliano Ramos

CARACTERÍSTICAS DO AUTOR

• Principal romancista da geração de 1930;

• engajamento social;

• ultrapassa tendências regionalistas – atinge o universal;

• PARTICULAR UNIVERSAL;

• atinge dimensão universal a partir de um exemplo individual.

Retirantes (1944), Cândido Portinari

CARACTERÍSTICAS DO ROMANCE

• Primeiro livro do autor em terceira pessoa – maior objetividade;

• capítulos relativamente independentes – cada um apresenta um ritmo próprio;

• o romance surge a partir de um conto que se transformaria no capítulo “Baleia”;

• característica circular e sem fim da “odisséia” dos retirantes – começa em “Mudança” e termina em “Fuga”.

“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos.”

“Mudança”

ESPAÇO FÍSICO

• O espaço é indeterminado – caráter universal da experiência da

seca no sertão;

• simbiose entre paisagem hostil e vida humana miserável;

• determinismo (Neonaturalismo) - influência do meio sobre o

homem que o habita;

• espaço hostil = homem animalizado.

TEMPO

• Indeterminado – confere caráter universal à narrativa;

• história em ciclo, espiral – inicia-se com a fuga de uma seca e termina com a fuga de outra;

• caráter incessante dos tormentos da seca sobre a vida do sertanejo, como se ela (a seca) fosse eterna;

• o tempo predominante não é cronológico, os fatos não ocorrem na ordem em que são narrados;

• tempo psicológico – os fatos se desenrolam a partir da memória e da interioridade das personagens.

LINGUAGEM

• Linguagem enxuta e seca, como a realidade retratada;

• vocabulário pobre e mirrado como a realidade morta do sertão;

• economia de linguagem, dizer o mínimo necessário –

dificuldade de comunicação das próprias personagens.

CAPACIDADE COMUNICATIVA

• Personagens carentes de linguagem, quase mudos –aproximam-se dos bichos;

• desprovidos de linguagem e pensamento – deixam de ser seres racionais;

• busca pela linguagem – meio de compreender a realidade que os cerca (a natureza hostil e a autoridade injusta);

• conflitos de linguagem das personagens – busca do próprio escritor por uma via de expressão dessa realidade;

• seres de linguagem – tão poderosos como a seca;• a exploração e a dominação são exercidas por aqueles que

detêm o poder da comunicação.

PERSONAGENS• Duplamente vitimados – pela seca e pela exploração

econômica;• ignorância, incapacidade verbal e falta de autoconsciência

– animalização;• carência total – não têm direito nem à terra nem à

linguagem;• desumanização – tornam-se seres brutos, coisificados,

reificados (do latim res, coisa);• perambulam por um mundo incompreensível, em busca

unicamente da sobrevivência;• suas trajetórias oscilam do nada ao nada – ao invés de do

nada ao ser;• indivíduos fechados, semimudos, presos à ignorância e

ao analfabetismo.

“—Você é um bicho, Fabiano.

Isto para ele era motivo de orgulho.

Sim senhor, um bicho,

capaz de vencer dificuldades.

Chegara naquela situação medonha

— e ali estava, forte, até

gordo, fumando o seu cigarro de

palha.

— Um bicho, Fabiano.

Era. Apossara-se da casa porque não

tinha onde cair morto,

passara uns dias mastigando raiz de

imbu e sementes de

mucunã. Viera a trovoada.”

“Fabiano”

FABIANO• Significado do nome – indivíduo qualquer, desconhecido,

sem importância;• tipo – representa o sertanejo ignorante, sofredor e

explorado;• identifica-se com os animais – bicho;• coisa, escravo – não possui terra e é obrigado a trabalhar

para os outros;• sente-se mal perante outras pessoas – vive isolado do

mundo, acostumado à incomunicabilidade dos animais (choque de civilizações);

• interage com o mundo por meio da experiência sensitiva;• incapaz de se comunicar verbalmente – utiliza uma

linguagem gestual e onomatopéica.

“Não possuíam nada: se se retirassem, levariam a roupa, a espingarda, o baú de folha e troços miúdos. Mas iam vivendo, na graça de Deus, o patrão confia neles — e eram quase felizes. Só faltava uma cama. Era o que aperreava Sinhá Vitória.”

“Sinha Vitória”

SINHA VITÓRIA

• Ironia do nome – “vitória” aponta para uma existência feliz;

• Sinha Vitória – vencida pelo meio natural e pelo meio humano;

• ambições pequenas e limites estreitos – sua aspiração maior era ter uma cama;

• apega-se a sonhos mesquinhos como válvula de escape para sua realidade miserável.

Criança morta (1944), Cândido Portinari

OS MENINOS

• Os meninos não têm nome – são chamados apenas de “menino

mais velho” e “menino mais novo”;

• desumanização total – são coisas, não precisam de nomes;

• por serem meninos, ainda não “produzem”;

• por não produzirem, nada significam.

BALEIA

• Função de guia, companheira e responsável pela sobrevivência do grupo ao caçar;

• seu nome é o contrário de si mesma – franzina e habitante de um local árido e seco;

• mais capaz de se comunicar que os seres humanos;

• apresenta sentimentos e pensamento;

• animal humanizado – seres humanos animalizados (zoomorfismo).

“Olhou-se de novo, aflita. Que lhe estaria acontecendo? O nevoeiro engrossava e aproximava-se.Sentiu o cheiro bom dos preás que desciam do morro, mas o cheiro vinha fraco e havia nele partículas de outros viventes. Parecia que o morro se tinha distanciado muito.”

“Baleia”

DISCURSO INDIRETO LIVRE

• Narrador revela o interior das personagens;

• meio-termo – objetividade do narrador em terceira pessoa e subjetividade do narrador em primeira pessoa;

• atmosfera de imobilidade – pouca ação, predomínio da análise psicológica;

• revelação do universo mental fragmentado das personagens.

DISCURSO INDIRETO LIVRE

Fabiano também não sabia falar. Às vezes largava nomesarrevesados, por embromação. Via perfeitamente que tudo erabesteira. Não podia arrumar o que tinha no interior. Sepudesse... Ah! Se pudesse, atacaria os soldados amarelos queespancam as criaturas inofensivas. Bateu na cabeça,apertou-a. Que faziam aqueles sujeitos acocorados em tornodo fogo? Que dizia aquele bêbado que se esgoelava comoum doido, gastando fôlego à toa?

Sentiu vontade de gritar, de anunciar muito alto que elesnão prestavam para nada. Ouviu uma voz fina. Alguém noxadrez das mulheres chorava e arrenegava as pulgas.Rapariga da vida, certamente, de porta aberta. Essa tambémnão prestava para nada. Fabiano queria berrar para a cidadeinteira, afirmar ao doutor juiz de direito, ao delegado, a seuvigário e aos cobradores da prefeitura que ali dentro ninguémprestava para nada. Ele, os homens acocorados, o bêbado, amulher das pulgas, tudo era uma lástima, só servia paraagüentar facão. Era o que ele queria dizer.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

• Em Vidas secas, Graciliano denuncia não só os problemas brasileiros, mas de todos os homens explorados pelo sistema capitalista excludente;

• no âmbito brasileiro, há a denúncia do sistema de concentração de terras nas mãos de poucos, lançando milhares na indigência;

• há também a denúncia do atraso do Nordeste e da miséria dessa região, em contraposição ao progresso do Sul.