Post on 09-Nov-2018
Olá! Quero convidar você para conhecer um pouco da minha terra, da minha
história, da minha vida. Você topa? Então, vamos lá!
Sou uma bela cidade ao norte do Brasil, em plena Região Amazônica, e capital do Estado do
Pará, o segundo maior Estado brasileiro em área territorial.
Eu fui fundada pelos portugueses no dia 12 de janeiro de 1616, quando uma expedição com
mais ou menos 200 homens chegou aqui. Chefiada por Francisco Caldeira Castelo Branco, ela
partiu do Maranhão e seguiu pelos braços do rio Amazonas até que aportou numa ponta de terra,
bem ali onde o rio Guamá se encontra com a baía do Guajará. Nesse local foi construído um forte
— o "Forte do Presépio", depois chamado "Forte do Castelo" —, começando assim o processo de
conquista do território amazônico e o meu primeiro aglomerado urbano, chamado "Feliz Lusitânia".
Só 39 anos depois fui elevada à categoria de cidade, primeiro com o nome "Nossa Senhora de
Belém", depois "Santa Maria de Belém do Grão Pará" e, por fim, "Belém", como sou conhecida até
hoje. Ah, sim, muitos me chamam de "Belém do Pará".
Sou uma cidade voltada para as águas e muitos me consideram parada obrigatória para quem
vem conhecer o norte do Brasil. Tenho quase 1.500.000 habitantes, e o meu clima é quente e úmido
durante todo o ano. Para suavizar o calor, costumo ter chuvas quase todos os dias; por isso dizem
que, para marcar encontros à tarde, geralmente se pergunta se é antes ou depois da chuva.
Eu também sou conhecida como "Cidade das Mangueiras". Sabe por quê? Porque tenho
mesmo muitas mangueiras! Algumas ruas têm até túneis formados por essas árvores: a Avenida
Nazaré é uma delas. Isso tem o seu lado bom e até divertido: quando, em meio à chuva da tarde, a
ventania balança os galhos, vêem-se mangas caindo para todos os lados, e quem está passando por
perto não resiste a correr e pegá- las fresquinhas e suculentas. Dizem que elas matam a fome de
muita gente.
Túnel das Mangueiras da Presidente Vargas
Tenho várias ruas com outros tipos de árvores além de mangueiras. Com frutas diferentes e
consideradas exóticas, como o cupuaçu, o bacuri, a pupunha, o taperebá, o muruci, a bacaba e o açaí
— este é um caso à parte, podendo ser comido como fruta mesmo, tomado o seu suco puro com ou
sem açúcar, com farinha d'água ou farinha de tapioca, enfim, de acordo com o gosto de cada um.
Minha flora é muito especial: a gigantesca samaumeira, por exemplo, é uma árvore que
chega a medir 60 metros de altura! Tenho também a exótica vitória-régia, uma planta aquática, com
folha em forma de bandeja circular, que chega até a sustentar uma criança pequena. Mas também
tenho ruas desarborizadas, o que é uma pena, pois as áreas verdes são essenciais à vida. A minha
cozinha é uma das mais ricas e mais autênticas do Brasil, com iguarias muito especiais, como o
pato no tucupi, a maniçoba, peixes diversos e o tacacá.
Frutos do Açaí
Em certas épocas do ano essas comidas típicas são mais solicitadas, como, por exemplo, no
decorrer do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, a maior festa dos paraenses, que acontece nas
minhas ruas, e que também é considerada uma das maiores manifestações religiosas do país. Ela se
prolonga por todo o mês de outubro sendo a procissão maior no segundo domingo. Nesse período
eu me transformo, pois a fé religiosa se mistura com as diversas outras manifestações culturais
existentes e tudo vira uma grande festa.
Círio de Nossa Senhora de
Nazaré
Eu sou uma cidade que continua crescendo e, apesar disso, não perdi de todo as marcas meu
passado. A Cidade Velha foi o meu primeiro bairro; lá está a minha primeira rua, que antes Rua do
Norte e hoje é a Siqueira Mendes. Esse bairro é o que mais sobressai, com seus casarões seculares
recobertos de azulejos decorados e igrejas, também seculares e importantes, como a Catedral da Sé,
além de prédios e monumentos importantes. Aí se destacam também o Complexo Feliz Lusitânia,
que inclui o Forte do Castelo, a Casa das Onze Janelas e a Igreja de Santo Alexandre, todos
tombados como patrimônio histórico e cultural.
Por outro lado, tenho outros bairros que apresentam contrastes marcantes, com casas grandes,
bastante antigas (algumas bem conservadas, outras nem tanto), em meio a prédios modernos e
sofisticados, e também casas simples ou populares, algumas até construídas em cima de alagados,
as famosas palafitas.
Dentre os muitos locais que são roteiros obrigatórios de turistas, conto com o famoso complexo
do Ver-o-Peso, uma das maiores feiras livres da América Latina, onde se pode encontrar desde
peixes, carnes, verduras, comidas e frutas, até plantas medicinais para cura de muitas doenças,
como também para atrair sorte, dinheiro e amor. De fato, o Ver-o-Peso é um dos locais que
congregam o conjunto das manifestações culturais mais expressivas do meu povo amazônico.
Vale a pena conhecer a Estação das Docas, às margens da baía do Guajará, que é um
ambiente simpático e acolhedor, sobretudo para quem quer apreciar o pôr-do-sol ouvindo música,
saboreando comidas típicas ou simplesmente conversando com amigos. E o Museu Emílio Goeldi,
que tem uma grande amostra da fauna e da flora regional, e é um grande centro de pesquisa
científica de referência nacional e internacional... Também o Bosque Rodrigues Alves, que foi
recentemente elevado à categoria de Jardim Botânico, e nos mostra um pouco do que a
biodiversidade da floresta Amazônica contém. E é aqui nas minhas terras que está a maior
universidade pública do norte do Brasil, a Universidade Federal do Pará!
Vitória-Régia
Bem pertinho de mim existem muitas belezas naturais. É possível, por exemplo, tomar
deliciosos banhos de água doce nas praias da ilha de Caratateua (ou Outeiro), na ilha do Mosqueiro,
ou ainda na ilha de Cotijuba. São locais paradisíacos, com caminhos ladeados por rios que parecem
não ter fim, e onde se encontram algumas das poucas praias de rios com ondas existentes no mundo.
Você imaginava que eu tinha essas características todas? Mas para chegar até aqui não foi uma
caminhada simples.
Por incrível que pareça, muita gente imagina que sou uma cidadezinha pequena, cheia de
índios e jacarés. É verdade! Mas talvez isso aconteça porque eu faço parte da Amazônia, e muitas
pessoas a vêem apenas como uma vasta área de floresta tropical. Na realidade, nem a Amazônia é
apenas uma grande floresta tropical, nem eu sou cheia de índios e jacarés.
Os índios, de fato, fazem parte de minha história, assim como da história de todo o Brasil. Eles
foram tão explorados quanto as minhas riquezas naturais. Compunham diversos grupos étnicos,
com destaque para os Aruak, os Karib, os Tupi, os Jê, os Katukina, os Xirianá e os Tikuna.
Formavam tribos que reuniam grandes aldeias e falavam diferentes línguas, com crenças, costumes
e tradições também variadas, e com formas de vida adap tadas aos vários ambientes da Região
Amazônica. Cada uma dessas tribos foi alvo de escravização e de guerras de extermínio.
No decorrer das primeiras décadas de 1800 as pessoas que viviam aqui estavam muito
insatisfeitas com a situação social, econômica e política. Nesse período travaram-se muitos
conflitos, tanto que o Pará foi um dos últimos Estados do Brasil a aderir à Independência do Brasil,
Praia de Mosqueiro
o que só veio a ocorrer no ano de 1823. Isso se deu por vários fatores como, por exemplo, a
desconfiança dos partidários da Independência e a atitude dos dirigentes, que tudo faziam para se
manter no poder.
Mas a adesão do Pará à Independência não alterou muito as condições sociais da minha
população.
E foi nesse clima que eclodiu um dos mais significativos movimentos populares do Pará,
considerado por alguns historiadores como uma verdadeira revolução: a Cabanagem.
O termo cabanagem lembra cabana, habitação precária e rústica, com mínimas condições de
sobrevivência, como era a maioria das habitações do povo da minha região. Essa rebelião popular,
que aconteceu de 1835 a 1840, contou com a participação de índios, cabo clos, brancos, negros,
semi-escravos, liberais brasileiros e pequenos proprietários, entre outros. Ela alastrou-se de Belém
para o resto do Estado e foi um dos acontecimentos mais significativos da história do povo
paraense. Terminou com um número incontável de cabanos mortos, sob o comando do General
Andréia.
Tempos depois vivi um período de grande riqueza, em que aqui se ganhou muito dinheiro
com a exploração do ouro e da borracha. No auge da exploração da borracha, sobretudo de 1870 a
1910, é que foi construída boa parte do meu patrimônio histórico e cultura l. São dessa época, por
exemplo, o Teatro da Paz, o Teatro Waldemar Henrique e o Monumento à República, que ficam
numa das mais bonitas praças, a Praça da República. Depois, por volta da segunda década de 1900,
deixei de ser a "capital da borracha" e passei por um período sem grandes transformações.
Praça da República em dia de chuva
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Hoje são tantos os turistas que me vêm visitar, que mal posso acreditar. Além das belezas
naturais e dos lugares históricos, eles vêm para conhecer minha riqueza cultural: o artesanato, as
comidas regionais, as lendas e os mitos, e danças típicas como o lundu, o síria, o carimbo, entre
outras.
Estação das Docas
E como você aceitou o meu convite e me acompanhou até aqui, tenho outro convite a lhe
fazer: que tal me conhecer mais de perto? Estou esperando você e seus amigos, com toda a
exuberância dos meus rios, furos, praias, igarapés e demais belezas naturais e culturais que só aqui
existem. Esta é uma terra cheia de magia e de encanto, que acredita numa vida mais humana, mais
justa e mais feliz.
FELI(Z)CIDADE!!!
Darcy Flexa Di Paolo
Socióloga e professora da Universidade Federal do Pará.
Pesquisadora na área de Ciências Humanas e Sociais, com livros publicados nesta área. Ítalo Flexa Di Paolo
Bacharel em Ciência da Computação e Engenheiro Eletricista. Atualmente é sócio-diretor e engenheiro de
software da Exodus, organização especializada em tecnologia de informação e comunicação. Mãe e filho, nascidos na cidade de Belém do Pará,
convivendo entre as chuvas da tarde e o forte sol da Cidade das Mangueiras, curtindo essa gratificante
experiência no mundo da literatura infantil, esperam que os leitores também gostem deste breve passeio, fruto de suas memórias e vidas amazônicas.
Mario Barata começou a pintar em aquarela com o pai, nas manhãs de domingo. Ilustrou seu primeiro livro
aos 19 anos. É arquiteto e professor da Universidade Federal do Pará, cursa doutorado em Comunicação e
Cultura Contemporâneas na Bahia. Entre pesquisas e projetos de arquitetura, viaja de bicicleta, barco, carro,
caminhão e até de avião para pintar as cidades, a diversidade cultural, os mares e os faróis do Brasil.
Acredita que a magia das imagens muda o olhar infantil sobre a realidade.
Dedica as aquarelas deste livro às crianças da
Amazônia, em especial para Anitha e Arthur, "opinadores" oficiais dessas ilustrações.
© 2006 textos Darcy e ítalo Flexa Di Paolo ilustrações Mario Barata
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Editor
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Preparação ______________________________________________
Revisão
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Edição de Arte
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Fotos
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Índices para catálogo sistemático:
1. Literatura infantil 028.5
2. Literatura infanto-juvenil 028.5
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Impresso no Brasil — setembro de 2006
José Xavier Cortez
Emir Piedade
Dulce S. Seabra
Oneide M. M. Espinosa
Roksyvan Paiva
Mauricio Rindeika Seolin
© Miguel Chikaoka /
Kamara Kó
Di Paolo, Darcy Flexa
Belém: cidade das mangueiras / Darcy e ítalo Flexa Di Paolo; ilustrações, Mario
Barata. — São Paulo: Cortez Editora, 2006.
ISBN 85-249-1262-6 1. Literatura infanto-juvenil I. Di Paolo, Ítalo Flexa II. Barata, Mario. III. Título.
CDD-028.5
* A cidade não tem hino oficial. A prefeitura está promovendo um concurso por meio da Fumbel para
escolha do hino a ser apresentado em janeiro de 2007.
Brasão da Cidade
Bandeira da Cidade de Belém