Post on 26-Nov-2018
0
Lucio Pozzobon de Moraes
BOOK TRAILER: A BUSCA ESTÉTICA
DE UM NOVO FORMATO AUDIOVISUAL
Santa Maria - RS
2012
1
Lucio Pozzobon de Moraes
BOOK TRAILER: A BUSCA ESTÉTICA
DE UM NOVO FORMATO AUDIOVISUAL
Trabalho Final de Graduação II em
Publicidade e Propaganda, apresentado ao
Curso de Publicidade e Propaganda, da área de
Ciências Sociais, do Centro Universitário
Franciscano, UNIFRA.
Orientadora: Profª Drª Michele Kapp Trevisan
Santa Maria – RS
2012
2
Lucio Pozzobon de Moraes
BOOK TRAILER: A BUSCA ESTÉTICA
DE UM NOVO FORMATO AUDIOVISUAL
Trabalho Final de Graduação II em
Publicidade e Propaganda, apresentado ao
Curso de Publicidade e Propaganda, da área de
Ciências Sociais, do Centro Universitário
Franciscano, UNIFRA.
_________________________________________________
Profª Drª Michele Kapp Trevisan (orientadora)
_________________________________________________
Prof. Me. Carlos Alberto Badke
_________________________________________________
Prof. Me. Iuri Lammel Marques
Aprovado em .......... de ..................................... de ................
3
AGRADECIMENTOS
Quero primeiramente agradecer a minha orientadora, Michele, por ter colaborado com
minha pesquisa e ter entrado na loucura de começar uma pesquisa do zero, sem quase nenhum
referencial e também a professora Ana Coiro, por ter incentivado essa pesquisa desde o início.
Tenho que agradecer também a Editora Novo Conceito e a Agência 6P Marketing e
Propaganda que colaboraram com o material básico para essa pesquisa, sempre sendo muito
atenciosos e prestativos em tudo o que foi solicitado.
Aos meus pais por acreditarem em mim, principalmente proporcionando o estudo em
uma universidade particular. As queridas irmãs franciscanas por proporcionarem o desconto
de 25% desde o segundo semestre do curso.
A todos os locais que proporcionaram meu crescimento profissional/ pessoal: Editora
UNIFRA, Linc, Cayena Studio e Challenger Brasil, sem contar a todos os professores, amigos
e colegas de profissão que fiz.
Não posso esquecer de agradecer a todos os meus verdadeiros amigos que fiz durante
esse período e como foi divertido estar com todos, desde o início. Sei que este período da
minha vida está acabando para começar um ciclo muito melhor e espero contar com eles para
sempre.
4
RESUMO
Esta pesquisa analisa os book trailers como um novo produto audiovisual de divulgação para
os livros da Editora Novo Conceito, que busca atrair o público leitor, o qual interage nas redes
sociais. Para isso, foi necessário compreender este público, de acordo com o contexto
histórico dos tipos de leitores, as estratégias de divulgação baseadas no movie marketing, a
linguagem dos trailers cinematográficos, para a compreensão e identificação da estética dos
book trailers selecionados. Esse estudo foi realizado de acordo com as categorias de análises
criadas pelo pesquisador, a partir de sua forma e conteúdo.
Palavras-chave: book trailer; estética audiovisual; literatura.
ABSTRACT
This research analyzes the book trailers as a new audiovisual product, to the books of Editora
Novo Conceito, which search attracts the readers, who interact on web social networks. For
this, was necessary understand the audience, based on the historical context of the types of
readers, the publicize strategies based on movie marketing, the esthetic language of movie
trailers. This study was done with the categories created by the researcher from its form and
content.
Keywords: book trailer; audiovisual esthetic; literature.
5
SUMÁRIO
1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ..................................................................................... 6
1.1 LITERATURA E A SOCIEDADE ............................................................................ 6
1.1.1 Os tipos de leitores e a Editora Novo Conceito ......................................................... 7
2 CONCEITUANDO BOOK TRAILER ............................................................................ 10
2.1 Movie marketing .......................................................................................................... 10
2.2 Trailer ......................................................................................................................... 11
2.3 Book trailer ................................................................................................................. 13
3 ESTÉTICA ....................................................................................................................... 16
3.1 Categorias de análise estética dos book trailers .......................................................... 18
4 ANÁLISE DESCRITIVA DOS BOOK TRAILERS ...................................................... 22
4.1 O Céu está em todo lugar, de Jandy Nelson ................................................................ 22
4.2 A Janela de Overton, de Glenn Beck .......................................................................... 30
4.3 Estilhaça-me, de Tahereh Mafi ................................................................................... 38
4.4 Starters, de Lissa Price ................................................................................................ 44
4.5 O Clã dos Magos, de Trudi Canavan .......................................................................... 51
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 59
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 62
ANEXOS .............................................................................................................................. 64
ANEXO 1 - Interior do livro “O céu está em todo lugar” ............................................... 64
6
1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
O book trailer consiste em um vídeo que possui uma média de dois minutos, com
apresentação da história principal, personagens e trechos de um livro. Ele é um formato de
audiovisual que começou a ser mais utilizado no Brasil a partir de 2010, com o intuito de
aumentar a divulgação e, consequentemente, as vendas de livros classificados como Young
Adults (Jovens Adultos).
De acordo com Ferreira (2012), book trailer, “como o próprio nome sugere, é uma
ideia oriunda do cinema”, ou seja, segue características do trailer já utilizadas pela indústria
cinematográfica. Atualmente, esse produto audiovisual é apresentado principalmente na
internet, via Youtube, com divulgação feita nas redes sociais, pelas editoras e blogs literários.
Nesse sentido é importante compreender como a literatura pode relacionar-se com o
público e suas plataformas, contextualizando os tipos de leitores durante os períodos
históricos da sociedade, quais foram as mudanças, dificuldades e facilidades que foram
encontradas para manter um público leitor.
1.1 LITERATURA E A SOCIEDADE
A cada passagem histórica, podemos perceber várias modificações no mundo
comunicacional e uma das mais perceptíveis foi a mídia impressa. Nos últimos tempos os
livros, principalmente, sofreram muito com essas adaptações, como mudança no tamanho,
outras opções de papéis e materiais para impressão e, principalmente, o surgimento dos livros
digitais. Com a criação de plataformas múltiplas, o livro impresso foi ameaçado e precisou
apresentar novas formas de atingir o seu público. Apesar de todas as mudanças e muitas vezes
apresentar novas características de visualização e interação, o livro continua sendo
todo e qualquer dispositivo através do qual a civilização grava, fixa, memoriza para
si e para a posteridade o conjunto de seus conhecimentos, de suas descobertas, de
seus sistemas de crenças e voos de sua imaginação (MACHADO, p. 204, 1994).
De acordo com Benício (2003, p. 30) “o livro impresso foi considerado como um
instrumento de libertação do homem”. Essa “libertação” não foi somente para o homem, mas
também para apresentar formatos variados, a versão impressa do livro.
Segundo Machado (2004), independente da versão, o livro deve ser considerado um
dispositivo de informações que auxilia no pensamento criativo. Mesmo que o fim do livro já
7
tenha sido anunciado inúmeras vezes, todos os formatos que tentaram ser inseridos no
mercado não tiveram o resultado desejado. No início da década de 90, foram os CD-Roms que
atormentaram o mercado editorial, até porque, em um único CD era possível carregar mais de
200 livros. Porém, após o inicio das vendas e reclamação dos consumidores pela dificuldade
em ler na frente do computador, ficou visível que os livros digitais ainda precisavam de
muitas adaptações para serem aceitos.
De acordo com Magalhães (2004) entre o fim dos anos 90 e o início dos anos 2000, a
internet começou a popularizar-se e novos formatos para venda digital foram apresentados,
como e-books1 em pdf
2 e, atualmente em e-pub
3, mobi
4 e amz
5. Uma das razões para adaptar
o livro para o formato digital é a facilidade de leitura em vários dispositivos, preço inferior à
versão impressa e a comodidade para adaptar-se aos mercados. Como esse formato ainda é
muito novo, não é possível dizer qual será seu futuro, mas o livro impresso começa a ser
ameaçado novamente.
Todas essas adaptações dos livros são realizadas de acordo com a necessidade do ser
humano. Os tipos de leitores estão sempre se modificando e procurando uma maior rapidez
para entender e compreender fatos e histórias, por isso é importante procurar novos formatos.
1.1.1 Os tipos de leitores e a Editora Novo Conceito
Conforme Santaella (2004), as primeiras adaptações do livro começaram no
Renascimento, quando foi necessário diminuir seu tamanho, apresentar novas opções de papel
para diminuir o peso, assim como temas e histórias que agradassem o leitor. Com o passar dos
anos, a forma de publicar e ter acesso aos livros ficou cada vez mais fácil, com o crescimento
do número de bibliotecas, livrarias e, principalmente, da internet. De acordo com a autora, o
livro
foi instaurador de formas de cultura que lhe são próprias, que incluíram, desde o
Renascimento, nada menos do que o desenvolvimento da ciência moderna e a
constituição do ser universitário (SANTAELLA, 2004, p. 15).
1 “Termo de origem inglesa, e-Book é uma abreviação para “electronic book”, ou livro eletrônico: trata-se de
uma obra com o mesmo conteúdo da versão impressa, com a exceção de ser, por óbvio, uma mídia digital”
(AMARAL, 2009). 2 Formato de arquivo de leitura desenvolvido pela Adobe©. Fonte: <http://www.tecmundo.com.br/amazon/3644-
o-que-e-o-formato-epub-.htm> 3 Formato de arquivo de leitura desenvolvido pela Sony©. Fonte: <http://www.tecmundo.com.br/amazon/3644-o-
que-e-o-formato-epub-.htm> 4 Formato de arquivo de leitura desenvolvido pela Mobipocket©. Fonte: <http://www.mobipocket.com/> 5 Formato de arquivo de leitura desenvolvido pela Amazon©. Fonte: <https://kindle.amazon.com/>
8
A partir dessa definição de livro, a autora apresenta os leitores, com características
muito diferentes de acordo com o período histórico que viveram ou vivem. Santaella (2004)
define os leitores da seguinte forma: contemplativo, movente e imersivo.
O leitor contemplativo é aquele que viveu no Renascimento. Este passou por uma das
maiores mudanças nas características do leitor. Como naquela época eram poucos que sabiam
ler, os que possuíam essa capacidade faziam as leituras em voz alta para familiares ou locais
públicos. Com o surgimento das bibliotecas, o silêncio tornou-se obrigatório. A partir dessa
mudança, Santaella (2004) afirma que a leitura tornou-se individual, solitária, silenciosa,
ampliando a quantidade de textos lidos e transformando a leitura em algo íntimo. As leituras
em voz alta eram feitas principalmente em encontros religiosos.
O leitor movente surgiu a partir da Revolução Industrial, quando as máquinas
começaram a surgir. Os jornais e livros puderam ser produzidos em uma escala maior,
possibilitando que cada leitor tivesse seu exemplar, ou seja, sua fonte de informações. Um dos
grandes auxílios que o meio impresso teve foi a utilização de fotografias em seus materiais,
tanto em jornais, livros e publicidade. Isso facilitava para quem não tinha o hábito da leitura,
pudesse receber as informações a partir de signos imagéticos. Segundo Santaella (2004), este
leitor era observador, possuía uma imaginação fértil, principalmente quando analisava as
imagens e, a partir disso, conseguia entender mais sobre o que estava ao seu redor.
O último tipo de leitor especificado pela autora é o imersivo, nascido no século XXI.
Como nasceu na “era digital”, ele possui a mesma capacidade de leitura e compreensão dos
outros dois tipos de leitores, porém, esse é mais livre. Essa liberdade se dá pelo sentido da
possibilidade de recepção, criação e modificação muito rápida de conteúdos e principalmente
dos signos. Como ele está sempre buscando novas formas de se comunicar, ele consegue
interagir com o mundo sem precisar de um formato ou aparelho específico para criação e
difusão de seus pensamentos.
A partir desse perfil de leitores, podemos perceber que o livro precisa ser inserido na
sociedade de uma maneira diferente a cada momento histórico. A todo o momento as editoras
procuram um novo veículo ou formato diferente para realizar a divulgação de seu produto.
Hoje em dia o leitor não precisa sair de casa para descobrir um novo livro. Com a ajuda das
redes sociais e sites de busca, fica mais fácil de apresentar o conteúdo editorial com pesquisas
de campo e interesse, ampliando a rede de leitores.
Como uma das principais editoras que trabalha com esse formato é a Novo Conceito,
pois cria book trailers para todos os seus livros, desde junho de 2011, ela foi escolhida para a
9
análise do projeto. A Novo Conceito é nova no mercado, apesar de ter começado em 2004, e
concorre com grandes editoras que dominavam grande parte do mercado.
A proposta da editora é exatamente o que seu nome diz, trazer um novo conceito para
suas publicações, procurando produtos de qualidade, um vasto conteúdo e claro, atendendo
aos pedidos do público, que muitas vezes é ignorado pelas grandes editoras. Nesse contexto, o
book trailer será apresentado como um novo formato de publicidade que colabora com a
divulgação dos livros, tanto impressos como digitais.
Como esses audiovisuais possuem muitos elementos, tanto visuais como audiovisuais,
será realizada uma pesquisa a partir de sua forma e conteúdo para a definição da estética do
book trailer. Nela será analisado seu desenvolvimento de cenas e a história que é apresentada
ao público.
Os book trailers escolhidos para análise são dos livros “O Céu está em todo lugar”, de
Jandy Nelson (2011); “A Janela de Overton”, de Glenn Beck (2011); “Estilhaça-me”, de
Tahereh Mafi (2012); “Starters”, de Lissa Price (2012); e “O Clã dos Magos”, de Trudi
Canavan (2012), produzidos pela Editora Novo Conceito.
Nesse contexto, este trabalho adquire relevância, pois visa introduzir a pesquisa sobre
este novo formato de publicidade, o book trailer, ainda pouco estudado pela literatura
nacional. Contudo, é possível encontrar em muitos blogs literários, de entretenimento ou nas
páginas das redes sociais das editoras comentários dos leitores sobre o que pensam dos book
trailers. Muitas vezes, eles aproveitam para divulgar book trailers pouco conhecidos para
apresentar novas obras e autores (inclusive, no Brasil, foi criado um site6 com o intuito de
divulgar e comentar algumas produções deste formato audiovisual, porém, depois de poucas
postagens ele ficou inativo).
Para realizar essa pesquisa, serão desenvolvidos no referencial teórico os seguintes
temas: conceituação do book trailer a partir do movie marketing, trailer, identificando as
principais características do book trailer. Abordagem sobre a estética de acordo com sua
forma e conteúdo, com a construção das categorias de análise a partir de elementos visuais e
audiovisuais e após isso, a observação e interpretação dos book trailers selecionados.
6 Disponível em: <http://www.booktrailer.com.br/>.
10
2 CONCEITUANDO BOOK TRAILER
Como o tema proposto por esta pesquisa trata de um novo formato audiovisual, é
necessário definir as características que o cercam enquanto objeto de estudo. Nesse sentido,
para conceituar os book trailers, são utilizadas referências que abordam movie marketing e
trailers cinematográficos, sua origem, formatos, métodos de divulgação e a importância do
formato para a publicidade literária atual. Com estes conceitos, acredita-se ser possível
analisar o processo estético dos book trailers da Editora Novo Conceito.
2.1 Movie marketing
O movie marketing é uma forma importante e necessária para a divulgação de
audiovisuais, principalmente para o cinema. Como os book trailers também são produtos
audiovisuais, boa parte de suas características são utilizadas para sua divulgação.
Entende-se por movie marketing, de acordo com Santos (2004, p. 18), o processo
utilizado para medir “a audiência para um filme, incentivando e criando mercado, ampliando
o público e consequentemente elevando os lucros, fazendo com que o filme arrecade o
máximo de dinheiro possível”.
De acordo com Santos (2004),
o planejamento e execução de uma campanha mercadológica para o filme deve ser
criativo para causar um grande impacto e colaborar com sua performance nas
bilheterias. O marketing do filme tem a tarefa primordial de construir visibilidade,
conhecimento e interesse sobre o novo lançamento para causar um estrondo no fim
de semana de estreia (SANTOS, 2004, p. 19).
O autor também afirma que uma estratégia de movie marketing precisa ter como
resultado a fidelidade da “marca” com o cliente. No caso do book trailer, a “marca” é o livro
e a editora.
Muitos estúdios encontram como forma de impulsionar suas vendas, a utilização de
astros do cinema e TV. Além de ser uma ótima tática para chamar o público que já é fã desse
artista, os produtos licenciados ao filme também recebem um alto investimento. Podemos
dizer que esta forma de impulsionar vendas com astros dos cinemas já é utilizada nos livros
há muito tempo. A seguir, podemos notar essa relação em alguns livros da Editora Novo
Conceito (Figura 1) que possuem livros que deram origem a filmes, com os atores nas capas.
11
Figura 1 - Livros da Editora Novo Conceito que utilizam pôsteres referentes a seus filmes nas capas dos livros
com o intuito de impulsionar as vendas.
Portanto, o movie marketing é uma forma importante e necessária para a divulgação de
audiovisuais, principalmente para o cinema. Claro que ele acaba influenciando outras áreas,
como os book trailers, em sua divulgação.
2.2 Trailer
O trailer, de acordo com Kernan (2004), é um pequeno fragmento de vídeo que
apresenta imagens e textos, baseados no roteiro do filme que visa promover em cinemas, ou
outros meios de comunicação, como TV e internet.
De acordo com Santos,
O trailer (movie trailer) de filme é basicamente uma propaganda feita para
espectadores em salas de cinema [ou canais de televisão]. Trata-se da prévia de um
determinado filme e geralmente é exibido antes do filme em cartaz (SANTOS, 2004,
p. 55).
Nesse sentido, um dos objetivos dos trailers é exibir qual é a temática do filme, qual é
o elenco e quem produziu e dirigiu. Essas características, muitas vezes, atraem a atenção do
12
espectador. O trailer surgiu no cinema americano para apresentar fragmentos da história de
um filme que seria lançado futuramente. Segundo Justo (2010), logo que começaram a ser
exibidos, os trailers eram passados após o filme, pois, de acordo com sua tradução
[trailer] significa seguir imediatamente, a fim de chamar atenção para o filme
seguinte, ou capítulo, na época em que os filmes era seriados. Com o passar dos
anos, os créditos foram ficando mais longos, devido à quantidade de profissionais
envolvidos e o aumento das produções, por isso a posição foi invertida, senão
dificilmente alguém permaneceria na sala para ver os trailers (JUSTO, 2010, p. 6).
A produção de trailers é diferenciada de acordo com a capacidade cinematográfica de
cada país. Existem algumas exigências para a produções de trailers, para as produções norte-
americanas, definidas pela Motion Picture Association of America7, que determina que o
trailer não pode ultrapassar dois minutos e meio e pela Trailer Audio Standards Association8,
que determina o máximo de decibéis do áudio. Nos EUA, o máximo de decibéis, deve ser três
vezes menor que o áudio original. No Brasil, a única informação apresentada pelo Ancine9 é
que os trailers podem ter no máximo três minutos.
De acordo com Santos (2004), em relação à montagem dos trailers, nos Estados
Unidos
existem profissionais para a edição de trailers em todos os estúdios de Hollywood e
cerca de 25 empresas especializadas nesta área atuando em Los Angeles [...]. No
Brasil não há empresas especializadas em produção de trailers, geralmente são
montados nas produtoras que costumam trabalhar com publicidade ou por certos
profissionais que trabalham com a distribuidora do filme (SANTOS, 2004, p. 56).
Na maioria das vezes os trailers são aprovados pelo estúdio, sem envolvimento do
diretor. Porém dependendo do tamanho da produção e custos que são disponibilizados, os
responsáveis por essa montagem são o diretor e o montador do filme.
Para definir a forma de abordagem de um trailer, os estúdios apresentam dois
formatos diferentes, o teaser trailer e o regular trailer. Segundo Santos (2004, p. 64) o teaser
trailer é o primeiro que o estúdio utiliza para divulgar que um filme entrará em cartaz. O
teaser é utilizado como uma ferramenta para gerar expectativa, principalmente para filme
anunciados como blockbusters10
ou com elenco consagrado. Na maior parte das vezes, ele é
mais curto, apresentando seu elenco e não informa uma data precisa para seu lançamento,
apresentando somente o ano ou temporada, como fall season (outono/inverno) ou summer
7 Disponível em: <http://www.mpaa.org/> 8 Disponível em: <http://www.tasatrailers.org/> 9 Disponível em: <http://www.ancine.gov.br/> 10 Livro, filme, exposição ou outro objeto cultural que atinge grande popularidade ou sucesso. Disponível em:
<http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=blockbusters>.
13
season (primavera/verão). Além da sua exibição nos cinemas, tem ampla divulgação nos
canais de televisão, principalmente na TV paga.
Já o regular trailer é o utilizado nas salas de cinema. Apresentam uma sinopse do
filme e é inserido pouco tempo antes de seu lançamento. Em sua maioria, mostram as
melhores partes do filme, principalmente os que possuem efeitos especiais ou efeitos em
terceira dimensão. Estes são distribuídos pelos estúdios, junto ao material promocional que
são utilizados nos cinemas e possuem uma média de duração de um minuto e meio.
A estrutura dos teaser trailers ou regular trailers pode ser dividida em três momentos:
1. o início do trailer caracterizado pelos logotipos e marcas da distribuidora,
produtora e estúdio do filme;
2. o meio onde estão articuladas as cenas, os diálogos, as imagens, enfim, o conjunto
que sustenta o trailer;
3. e, o fim, marcada pelas referências ao titulo, diretor, artistas, etc. e a estreia do
filme (que pode ser algo genérico, do tipo “breve nos cinemas”, ou mais concreto
como “dia 5 de maio nos cinemas”) (IUVA, 2009, p. 45).
É importante ressaltar que os trailers não são apenas uma forma de divulgação de um
produto audiovisual, mas sim um formato de apresentação do mesmo. O book trailer utiliza
características de um trailer para poder ser divulgado e atrair o interesse do leitor, criando
uma realidade além do imaginário.
2.3 Book trailer
O book trailer é um vídeo que possui características de um trailer cinematográfico,
porém a diferença é que ele é produzido para divulgar a ideia ou mensagem de um livro. De
acordo com Lowell (2010, p. 464), o primeiro passo é conhecer a história do livro, ou seja,
conhecer toda a história. Após isso, começa a criação de um audiovisual comum, com
produção de roteiro, escolha de planos e ângulos, criação de um storyboard, processo de
gravação e edição.
Lowell (2010) lembra que a história contada deve apresentar os principais pontos do
livro, como sua temática e personagens. Não é recomendado citar trechos muito longos da
história, pois o futuro leitor precisa entusiasmar-se com a leitura.
A autora ressalta que muitas vezes, quando fãs produzem os book trailers, é necessário
um cuidado com as imagens, sons, fontes, e outros aspectos que serão utilizadas, pois caso
alguma possua direitos, o seu criador pode exigi-los. Na verdade, ela comentou sobre esse
assunto, pois quando lançou seu segundo romance, “Spotting for Nellie” (2010), resolveu
14
criar um book trailer caseiro antes de o livro chegar às lojas e a editora pedir a produção de
um audiovisual. Depois que fez o upload no Youtube, algumas pessoas, que eram donas de
algumas imagens utilizadas, começaram a entrar em contato para pedir seus créditos.
Quando o book trailer é finalizado e postado na rede, é importante verificar a
quantidade de visualizações e como ele pode ter influenciado na compra do livro. Tudo isso,
pode ser analisado através das resenhas e comentários realizados nos blogs parceiros das
editoras e lojas online.
Desde 2007, a revista norte-americana School Library Journal11
, promove um
concurso para premiar o melhor book trailer produzido por editoras e, principalmente, os
desenvolvidos em salas de aula pelos alunos. Como premiação, as editoras recebem
divulgação dos seus book trailers na revista impressa e na edição online e os alunos podem
escolher alguns livros das editoras que participaram do concurso.
No Brasil, as informações e produções de book trailers são escassas. É possível
visualizar esse tipo de produção a partir de produtos audiovisuais criados por grandes
editoras, como Editora Record, Suma de Letras, Rocco e Novo Conceito. A produção destes é
realizada a partir do contanto com uma agência de publicidade, que fica responsável por todas
as ações relacionadas ao livro.
Alguns blogs literários e de variedades costumam publicar esses vídeos, com intuito
de divulgar os lançamentos de uma editora, ou quando estão postando uma resenha ou
comentário sobre o livro. No país, foi criado um site para divulgação de book trailers, o
“Book trailer - onde você vê (mesmo) os últimos lançamentos literários”12
. O criador é o
autor brasileiro Roberto Campos Pellanda, porém, o site não é atualizado desde julho de 2010.
Uma grande vantagem do book trailer ser um produto audiovisual novo, é a ampla
divulgação que ele recebe quando é bem produzido. Como exemplo, temos o livro “O Coletor
de Almas”, que ganhou destaque no site Obvious13
pelo seu book trailer. A autora da
postagem mostrou sua opinião sobre o formato:
Algumas pessoas ainda relutam em considerar o book trailer uma boa ideia. Mas a
indiscutível vantagem do vídeo, além de um prático imediatismo, é que ele ataca
todos os sentidos ao mesmo tempo. Seja uma apresentação clássica da história e dos
personagens, ou uma abordagem diferente recortando uma cena marcante, se o leitor
sente a ansiedade crescendo nos poucos segundos do trailer e é arrebatado no final,
pronto. Objetivo alcançado (ALLIAH, 2012).
11 Disponível em: <http://www.schoollibraryjournal.com/>. 12 Disponível em: <http://www.booktrailer.com.br/Home.html>. 13 Disponível em:
<http://obviousmag.org/archives/2012/07/o_coletor_de_almas_e_o_poder_do_booktrailer.html>.
15
Outro ponto apresentado em alguns blogs é a dificuldade do formato engrenar na
publicidade brasileira. Como exemplos, podemos citar o blog Meia Palavra14
, que diz: “o
conceito de book trailer é muito legal, mas não parece ser muito fácil pegar a manha de fazê-
los”. Já o site O Vendedor de Livros15
, diz que
muita coisa ainda precisa ser feita no mercado editorial se quisermos equilibrar
melhor a balança oferta/procura, contudo, iniciativas e ideias como esta contribuem
muito para movimentar o mercado e despertar, principalmente nos jovens (já que
são os maiores usuários de internet), o anseio de ler e consumir mais livros
(FERREIRA, 2012).
Podemos perceber que os blogueiros citados acima confiam no formato, mas percebem
que existe um problema quando eles são produzidos ou apresentados ao público. As editoras,
principalmente as brasileiras, estão se preocupando com esses aspectos e tentando melhorar a
qualidade de produção dos book trailers. Felizmente, esse formato será mantido por mais
tempo no mercado.
Como é a principal editora que lança book trailers, a Novo Conceito, desde março de
201216
, trouxe uma novidade para aumentar e facilitar a divulgação dos vídeos. Todos os
livros publicados a partir desse período possuem um QR-Code em suas capas.
De acordo com Taddeo e Silva Junior, o QR-Code “é uma representação gráfica
bidimensional em preto e branco de dados, baseado no arranjo de múltiplas formas
geométricas simples em um espaço fixo”. Essa ferramenta possibilita que o leitor assista o
book trailer de um dispositivo móvel (celular ou tablet), em um ambiente público, como a
livraria onde o livro está sendo vendido ou até mesmo uma biblioteca.
Como pode ser visto, o book trailer é um material audiovisual que está conquistando
seu espaço, principalmente quando se trata de portabilidade para a internet. O maior meio de
divulgação desse material são os blogs de literatura e entretenimento, que ilustram as resenhas
e sinopses divulgadas.
Apesar disso, neste trabalho foram analisadas as características estéticas dos book
trailers da Editora Novo Conceito. Para melhor definir o processo de desenvolvimento desses
audiovisuais, serão observadas, de acordo com sua forma e conteúdo, a sua estética.
14 Disponível em: <http://blog.meiapalavra.com.br/2012/05/20/sobre-booktrailers-e-livros-infantis/>. 15 Disponível em: <http://www.ovendedordelivros.com.br/2012/02/book-trailer-mais-nova-mania-das.html>. 16 Disponível em: <http://www.blognovoconceito.com.br/cruzando-o-caminho-do-sol-corban-addison>.
16
3 ESTÉTICA
A estética é um ramo que começou a ser estudado e analisado na Filosofia, a partir da
Antiguidade. Com Aristóteles e Platão, de acordo com Pareyson (1997, p. 1), antes da
definição do nome “estética”, os termos pesquisados dizem a respeito a “sua natureza, limites,
incumbências e seu método”. As buscas nas análises eram como “designar as teorias do belo e
da arte”, a partir das teorias da arte e filosofia. Com o desenvolvimento nos estudos
filosóficos, além de definir seu nome, a estética foi apresentada como
tudo o que se refira a beleza ou arte: seja qual for a maneira como se delineie tal
teoria [...]; onde quer que a beleza se encontre, no mundo sensível ou num mundo
inteligível, objeto da sensibilidade ou também da inteligência, produto da arte ou da
natureza; como quer que a arte se conceba, seja como arte ou da natureza; como
quer que a arte se conceba, seja como arte em geral, de modo a compreender toda
técnica humana ou até a técnica da natureza, seja especificamente como arte bela
(PAREYSON, 1997, p. 2)
Pareyson (1997, p. 2), afirma que muitos estudiosos acreditam que a estética é
sinônimo de filosofia. Esse argumento ainda é utilizado, pois, mesmo com várias teorias e
estudos, existe uma confusão nos significados e a definição é imprecisa. Pareyson (1997, p. 4)
diz que a “estética não é uma ‘parte’ da filosofia”. Na verdade, a filosofia procura
complementar a reflexão da arte, de acordo com a percepção do artista na criação da obra.
Em um contexto histórico, antes de a estética relacionar-se com a filosofia, Bayer
(1978, p. 13) apresenta a presença de uma preocupação com a representação da realidade
durante a pré-história. Nesse período, os elementos estéticos eram representados,
principalmente, com os desenhos dos homens das cavernas. Em relação aos autores estéticos,
o autor afirma que
a Pré-história não possui, [mas] os testemunhos materiais que os nossos
antepassados distantes nos deixaram constituem, em certa medida, textos, e a sua
análise não nos diz apenas que o Homo Sapiens pré-histórico tinha um inegável
sentido das formas, dos volumes e das cores, mas também que os artistas obedeciam
a certas normas ditadas por tal ou tal concepção as representações animais humanas
ou simbólicas (BAYER, 1978, p. 15).
Portanto, as peças criadas serviam para informar batalhas, simplesmente onde iriam
estar, mostrar o que era vivenciado ou uma preocupação em representar a realidade.
Os estudos que relacionam a filosofia e a estética começaram a ser apresentados por
Platão e Aristóteles, na Antiguidade. De acordo com Bayer (1978, p. 37), Platão relacionou
todo seu estudo com estética, afirmando que “os objetos da natureza só existem por imitação”.
17
A partir desse conceito da imitação, Platão desenvolveu três padrões que relacionados a
beleza: a beleza dos corpos, a beleza das almas e a beleza em si (BAYER, 1978, p. 41). Platão
conclui seu estudo afirmando que a estética não deve ser julgada e sim apreciada.
Já a definição de estética de Aristóteles é aquela que foi criada a partir de “opiniões
práticas sobre a criação artística”. Bayer (1978, p. 48), mostra que Aristóteles distingue a
estética como as ações do humano e criações artísticas a partir da natureza. As ações do
humano envolvem o psicológico, formação do pensamento e técnica. Já as criações artísticas a
partir da natureza acontecem de acordo com o tempo; não há como definir como, quando ou
onde irá acontecer. Bayer (1978, p. 48) afirma que Aristóteles usa essas duas forma de ver
estética para melhor definir o belo e o útil.
Após a apresentação dos pensamentos de Aristóteles e Platão, Bayer introduz à
concepção estética na Idade Média. Bayer (1978, p. 87) afirma que a principal abordagem na
época era a religiosidade relacionada com a arte e estética. Ele afirma que a fé influenciava o
pensamento do homem e isso permitia que as interpretações das criações pudessem ser
julgadas de maneira errada. Isso fez com que boa parte dos elementos estéticos tivessem
relação com a religião, principalmente o cristianismo.
No Renascimento, Bayer (1978, p. 101) apresenta a estética como um gosto sensível e
decisivo. Nesse período que os estudiosos passam a analisar esteticamente o corpo humano e
a figura humana. O homem não era só um objeto a ser imitado, era uma forma de transformar
o corpo em arte.
Já no Século XIX, Bayer divide a estética em três períodos: Romantismo, Naturalismo
e Simbolismo. No Romantismo, o autor (1978, p. 261) explica que o “belo é o espirito
histórico”. A arte precisa se adaptar de acordo com seu ambiente, seja ele cultura, história,
clima, mas que tenha relação com o público que vai vê-la. O Naturalismo (1978, p. 284) é
predominante durante a segunda parte do Século XIX. O autor, afirma que não existe um
“ideal de beleza”, o que predomina é o que a ciência explica. O Simbolismo (1978, p. 286),
apresenta, de forma figurada, sentimentos, sensibilidade e sensualidade.
Quando chegamos ao Século XX, a estética é novamente dividida em dois períodos:
durante e após a Segunda Guerra Mundial. De acordo com Bayer (1978, p. 387), o primeiro
período é uma fase racionalista, equilibrada, com um pensamento rígido e fechado. No
segundo período é apresentado um pensamento estético confuso, pois ainda existiam dúvidas
de como seriam vistas as decisões e criações que fossem definidas.
Toda a confusão estética que se iniciou no período anterior, apresentou uma
convergência no Século XXI. De acordo com Domingues (1997), durante o início desse
18
século, tudo começou a virar arte. Era necessário possuir um olhar estético mais elaborado
para compreender o que o artista queria expressar. Tudo isso ainda misturou-se com o
crescimento do ciberespaço, que aumentou a possibilidade de busca, divulgação e apreciação
estética.
Apesar de todas essas mudanças de posicionamento em relação à estética, Jimenez
(1999) explica que a ela está diretamente conectada com a arte. Arte é aquilo que vemos,
compreendemos e vivenciamos através de um objeto ou manifestação artística. Durante a
história ela sempre esteve presente e precisa estar representada em todos os espaços. É
importante apresentá-la de alguma forma, em algum espaço, trazendo significados para a vida
real ou imaginária. Jimenez afirma que
a arte ancora-se na realidade sem ser plenamente real, desfraldando um mundo
ilusório no qual, frequentemente - mas não sempre - julgamos que seria melhor viver
do que viver na vida cotidiana (JIMENEZ, 1999, p. 10).
Como vimos anteriormente, com o passar dos séculos, a estética deixou de resumir-se
a obras de arte, como pinturas e esculturas. Para Jimenez (1999, p. 32), a estética “aparece
somente no momento em que a arte é reconhecida e se reconhece, através de seu conceito,
como atividade intelectual, irredutível a qualquer outra tarefa puramente técnica”. Portanto,
ela pode representar a decomposição das estruturas, formas e elementos artísticos, ideia sobre
uma obra, relação entre os materiais utilizados e como ela influencia a sociedade.
Jimenez (1999, p. 9), diz que a estética tem o objetivo de “designar a reflexão
filosófica sobre a arte” e buscar o que é belo de uma forma simbólica. Ela também pode
controlar nosso comportamento, pensamento e forma de expressar nossa opinião sobre o belo.
A partir desses aspectos relacionados à arte, podemos começar a desenvolver a estética para o
book trailer.
3.1 Categorias de análise estética dos book trailers
A apreciação estética de uma obra possui a finalidade de facilitar a interpretação da
obra audiovisual, nesse sentido, podemos considerá-la um termo subjetivo aos gostos e
costumes do espectador, contudo, é necessário que se tenham alguns critérios a serem
seguidos, a fim de guiar as análises. De acordo com Serra (2008)
por “estético” deve entender-se, aqui, tudo o que, de acordo com a etimologia da
palavra - derivada de aesthesis, sensação -, se refere à sensibilidade, à capacidade
que certas criações humanas têm de chamar a nossa atenção e produzir em nós um
19
determinado conjunto de “sensações” especiais [...] [que facilitam a capacidade de
compreensão do produto audiovisual] (SERRA, 2008, p. 5).
O autor afirma que o audiovisual não deve tentar recriar a realidade, ele deve criar seu
próprio espaço artístico, um novo padrão estético, passível de uma apreciação peculiar, de
acordo com seus recursos estilísticos.
Assim, neste estudo, levamos em consideração, principalmente, a decomposição das
estruturas e elementos artísticos dos book trailers a partir da constituição de sua forma e
conteúdo. Para relacionar a arte com esses conceitos, Pareyson (1997, p. 55) explica que a
forma “é o estado final e conclusivo [da obra audiovisual], a elegância da representação ou da
expressão, a perfeição da imagem, o êxito do processo [criativo], a autossuficiência da obra”,
baseada na elaboração dos conteúdos. Resumindo, o conteúdo é o ato que cria forma e a
forma é uma expressão do conteúdo.
Mesmo que a forma e conteúdo andem juntos na maior parte do tempo, Pareyson
(1997) apresenta mais algumas explicações para o conteúdo. Uma delas é a inserção do tema
e assunto abordados na matéria. O tema, segundo o autor, é o sentimento que o artista teve ao
criar a obra, o que viu ou queria apresentar ao seu público. O assunto é o real, o que pode ser
representado ou descrito, facilitando a imaginação da narrativa e mostrando como as ideias
podem ser sistematizadas.
A partir desses dois conceitos, é possível realizar uma análise de conteúdo de acordo
com o estilo da obra. Pareyson (1997, p. 81), afirma que a arte, a partir do conteúdo, pode ser
uma “imitação da natureza não enquanto representa a realidade, mas enquanto a inova”, isto é,
saber o quanto ela acrescenta ao real, ou representa ao que está sendo criado.
De acordo com os conceitos apresentados por Pareyson, sendo a forma o produto final
e o conteúdo o material que está em seu interior e como foi desenvolvido, foi realizada uma
definição de tópicos a serem analisados nos book trailers. Para a definição deles, os conceitos
de forma e conteúdo foram desmembrados de acordo com os elementos da comunicação
visual e audiovisual, apresentados pelos autores Dondi (2003) e Dubois (2011). Os dois
autores desenvolvem suas pesquisas desmembrando os elementos da comunicação para
demonstrar tudo o que há contido em um produto.
Dondi (2003, p. 51-83), relaciona boa parte de seus conceitos de comunicação visual
com as peças impressas. Para este estudo, alguns dos elementos foram selecionados para a
definição mais clara dos elementos nos audiovisuais. Dentre as definições que serão
utilizadas, temos os elementos visuais (os que vemos), conceituais (os que imaginamos) e
relacionais (os que interagem entre si). Para os elementos visuais serão analisados o formato,
20
a duração, as cores, animações, formato, duração, texturas, iluminação, e a inserção de textos;
nos relacionais, sonoplastia; e nos conceituais, os planos.
Dessa forma, constituem-se as seguintes categorias para a comunicação visual, a partir
de Dondi (2003, p. 51-83):
a. Elementos Visuais: apresentar como os elementos são inseridos durante os book
trailers:
Cores: quais cores são utilizadas que fazem relação com os aspectos visuais do
livro e book trailer.
Animações: projetos visuais em 2D ou 3D que apresentam elementos
futurísticos ou não.
Formato: teaser trailer ou regular trailer.
Duração: tempo que o vídeo possui.
Texturas: elemento que traz a proximidade do tato combinado com a visão.
Iluminação: como a luz é projetada durante o ambiente dos vídeos e como
interfere nas ações dos personagens.
Inserção de textos: podem ser citações dos personagens, palavras ou recursos
de atração de espectador.
b. Elementos Relacionais: como os elementos interagem durante os book trailers:
Sonoplastia: como o som é apresentado; contínuo, procura representar algum
sentimento durante as cenas.
c. Elementos Conceituais:
Planos: planos abertos, fechados, closes, detalhe.
Dubois (2011, p. 69-95), traz características estéticas específicas para vídeos. Suas
pesquisas normalmente envolvem longas-metragens, porém os elementos que serão
procurados no book trailers são quase os mesmos. As definições que serão utilizadas são a
sobreimpressão, com transparência e estratificação; janelas, com recortes; e incrustação, com
textura vazada. Assim, define-se as seguintes categorias de análise para a comunicação
audiovisual, a partir de Dubois (2011, p. 69-95):
21
d. Sobreimpressão:
transparência e estratificação: sobreposição de duas imagens que tras o efeito
de transparência e multiplicidade de visão.
transições: efeito que transita entre duas imagens para trocas de cenas ou ações
dos personagens; blur, fade-in, fade-out.
e. Janelas:
recortes: montagem de imagens lado a lado; não é utilizada uma mescla de
imagens como na sobreimpressão.
f. Incrustação:
textura vazada: uso de efeitos para definir a inserção de elementos em uma
imagem a partir dos recortes.
Com estes conceitos definidos, a partir da forma e conteúdo de Pareyson e os
elementos da comunicação visual e audiovisual de Dondi e Dubois, a análise será realizada
para cinco book trailers da Editora Novo Conceito (O Céu está em todo lugar, de Jandy
Nelson; A Janela de Overton, de Glenn Beck; Estilhaça-me, de Tahereh Mafi; Starters, de
Lissa Price; e O Clã dos Magos, de Trudi Canavan), de acordo com as categorias de análise
definidas neste tópico.
22
4 ANÁLISE DESCRITIVA DOS BOOK TRAILERS
Os book trailers escolhidos para análise são ferramentas de comunicação definidas
pela Editora Novo Conceito para a divulgação dos seguintes livros: O Céu está em todo lugar,
de Jandy Nelson; A Janela de Overton, de Glenn Beck; Estilhaça-me, de Tahereh Mafi;
Starters, de Lissa Price; e O Clã dos Magos, de Trudi Canavan. Neste caso, todos eles foram
produzidos ou adaptados pela Agência 6P Marketing e Propaganda, localizada em Ribeirão
Preto - São Paulo.
Para a análise dos book trailers foi constituído um roteiro de categorias a serem
observadas, a partir de conceitos de Dondi (2003) e Dubois (2011), compreendendo os
elementos da comunicação visual (visuais, relacionais e conceituais) e audiovisual
(sobreimpressão, janelas e incrustação). Ainda, faz-se uma comparação entre os tipos de
trailer identificados por Santos (2004), sendo eles o teaser trailer (vídeo curto, apresentando
as principais informações sobre o lançamento) e o regular trailer (vídeo com o mínimo de um
minuto e meio, com a apresentação de um pequeno enredo e personagens).
Abaixo será apresentada uma sinopse do livro, ficha técnica da produção (cedida pela
Agência 6P) e os aspectos relacionados à forma e conteúdo, de acordo com as categorias
citadas anteriormente. A ordem de apresentação das análises segue a data de lançamento dos
livros.
4.1 O Céu está em todo lugar, de Jandy Nelson
4.1.1 O Livro
“O Céu está em todo lugar”, de Jandy Nelson, foi lançado em 2010 pelo selo Dial
(especializado em Young Adults) da Editora Penguin. O livro foi considerado pela
Association of Booksellers for Children New Voices Picks17
o melhor livro de romance para
adolescents. Em 2011, o livro foi lançado pela Editora Novo Conceito.
A história apresenta a vida de Lennie, uma garota de 17 anos que perde sua irmã, que
morre de uma forma inesperada. Para piorar a situação, ela se apaixona por dois garotos, mas
17 Associação dos Estados Unidos que possui o cadastro e informações sobre todos os livros e autores infantis e
infanto-juvenis lançados. Anualmente realiza uma premiação para os autores que possuem mais livros vendidos
ou apresentam uma boa venda em seu primeiro livro lançado.
23
ela sente mais atração por Toby, ex-namorado da sua irmã e ela tem que aprender a controlar
seus sentimentos e mostrar que é mais forte que qualquer perda.
4.1.2 O Book trailer
Ficha Técnica:
Anunciante: Editora Novo Conceito
Agência: 6P Marketing e Propaganda
Criação: Eliza Carrara e Leonardo Leite / sobre colagens de trecho original de captações da
Autora Jandy Nelson
Montagem/Finalização: XP Filmes
Áudio: XP Filmes
Duração: 1m42s
Meio de divulgação: YouTube, redes sociais e blogs
O book trailer começa com a imagem de um céu sobre o qual vão surgindo textos e o
desenvolvimento da história. Nele os personagens principais não são apresentados, apenas
interagem entre si e com o ambiente. É possível ver que a personagem principal aparece
sofrendo em boa parte do vídeo e com o decorrer da história ela vai mostrando sua mudança
de atitude e comportamento, relacionados com os textos que fazem parte do seu diário.
Como o livro tem em seu título, a palavra “céu”, foi uma das alternativas usadas pela
produção do vídeo para inserir os textos durante a apresentação. A fonte utilizada durante o
vídeo é manuscrita, passando o conceito de diário, lembranças pessoais.
24
Figuras 2, 3, 4 e 5
Nota-se que a transição das imagens foi feita de forma diferenciada, como as
referências aos raios de sol e movimento das nuvens (Figuras 2 a 5) e desfocagem (ou blur),
até chegar a uma imagem focada (Figuras 6 a 9). Estas transições ajudam a elaborar a
dramatização e sentimentos do personagem. Em algumas cenas desse book trailer a
personagem aparece tocando flauta, elemento que também está presente no livro e que é
utilizado da mesma forma no vídeo, para apresentar momentos em que ela tenta esquecer um
pouco dos seus problemas.
Figuras 6, 7, 8 e 9
25
Há a utilização de grandes planos abertos para melhor situar o usuário no espaço em
que foram inseridos os personagens. Nas figuras a seguir, é perceptível a harmonia de cores,
principalmente o azul, que predomina a maior parte do vídeo relembrando o elemento “céu”,
e o verde, trazendo a vivacidade da personagem que é apresentada na história. Uma das
formas utilizadas para apresentar as ações dos personagens, foi o uso de sombras e tons
escuros para definir sua silhueta.
Figuras 10, 11, 12 e 13
Alguns dos elementos dos planos abertos reaparecem durante o book trailer, trazendo
uma estrutura detalhada, com closes e planos fechados, como pode ser observado nas figuras
abaixo.
26
Figuras 14, 15, 16 e 17
Quando são apresentadas cenas do casal se abraçando ou beijando, novamente são
utilizados planos fechados com closes nas principais ações do casal. Uma referência
importante é a cor das roupas utilizadas pelos atores. Elas sempre possuem tons de azul e
vermelho, fazendo referência à capa do livro. Um tópico importante a ser notado, como no
livro, o casal aparece tocando os mesmo elementos citados na história, no caso uma flauta e
um violão.
27
Figuras 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24 e 25
A principal ferramenta para passar a mensagem e contar um pouco da história do livro
é a utilização de trechos do próprio livro. No livro18
são utilizadas as mesmas ferramentas do
vídeo para a exposição dos pensamentos da personagem principal. No caso foram utilizados
fragmentos do céu, folhas de caderno, papéis amassados e pedaços de madeira.
18 Verificar anexo 1.
28
Figuras 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32 e 33
No fim do book trailer, o plano aberto inicial fica um pouco mais fechado, com a
inserção do texto “a história de amor do ano” (mantendo o mesmo padrão de fonte inicial),
fazendo referência ao prêmio que o livro recebeu. É possível notar que no canto esquerdo do
vídeo, o casal encontra-se na grama.
Figuras 34 e 35
Como já é costume da Editora Novo Conceito, no último frame é apresentado o título
do livro, o nome da autora (sem foto), a capa do livro, um comentário sobre a obra, a marca
da Editora e os contatos para mais informações e interação com o público (Twitter e site).
Além disso, foi mantido o mesmo padrão estético do book trailer, com um fundo azul,
relembrando o céu.
29
Figura 36
4.1.3 Considerações acerca da análise
O book trailer de “O Céu está em todo lugar” foi traduzido de sua versão original,
lançada no Reino Unido pela Editora Penguin. Durante todo o book trailer foram utilizadas
imagens reais, produzidas pela equipe contratada no país de seu lançamento. A participação
dos atores nesse book trailer, mesmo sem a inserção de diálogos, faz com que seu
desenvolvimento seja baseado em suas ações e nas citações inseridas nas imagens.
Essas citações trouxeram uma maior interação entre o vídeo e o livro, mostrando como
é possível mesclar um pouco dos dois. Para a trilha sonora deste audiovisual, foi utilizada
parte da música “This Boy” da cantora Erin K19
. Já os efeitos visuais, como as transições,
foram mantidas do original20
, menos as fontes das citações que foram em maior parte
modificadas.
De acordo com as categorias de análise, foram identificados nesse book trailer, a partir
dos elementos visuais, cores – com predominância do azul e vermelho, texturas - quando as
citações aparecem em pedaços de papel ou madeira, planos abertos – para enfatizar os
ambientes - e fechados – nas ações dos personagens. Já os elementos audiovisuais, são
apresentados, principalmente, nas transições – com o uso de blur, contraste – após as
transições das imagens e a iluminação – quando os personagens aparecem como uma sombra.
Pela duração desse book trailer, podemos considera-lo como um regular trailer, que
tem como característica apresentar em torno de um minuto e meio e as ações de seus
19 Cantora inglesa do estilo Folk. Música disponível em: <http://youtu.be/Lnwq_WFvgdE>. 20 Disponível no CD anexado ao trabalho.
30
personagens. Além disso, a relação dos textos com as ações das personagens faz com que ele
se aproxime mais de um trailer de cinema, principalmente pelos seus elementos estéticos e
narrativos.
4.2 A Janela de Overton, de Glenn Beck
4.2.1 O Livro
“Janela de Overton” é uma ficção jornalística criada pelo locutor, comentarista e
âncora do Fox News, Glenn Beck. Nos Estados Unidos foi lançada em 2010 pela Editora
Threshold e em 2011 pela Editora Novo Conceito. Desde sua pré-venda, o livro já conseguiu
alcançar o topo da lista dos livros mais vendidos e comentados do New York Times21
e sendo
elogiado pelos jornalistas22
como uma ótima ficção jornalística23
.
O livro conta a história de uma conspiração que ronda os Estados Unidos por mais de
100 anos. Essa conspiração utiliza a mídia para cobrir fatos que possam impressionar a
população, causar revoltas e guerras. Tudo o que a população sempre acreditou, como planos
de governo, formação militar, problemas na economia, poderia ser uma grande história para
não revelar o pior: o fim do país.
4.2.2 O Book trailer
Ficha Técnica:
Anunciante: Editora Novo Conceito
Agência: 6P Marketing e Propaganda
Criação: Luis Gustavo Fiali e Léo Rabelo
Montagem/Finalização: XP Filmes
Áudio: Toka Produtora
Duração: 1m05s
21 Disponível em: <http://www.nytimes.com/best-sellers-books/2010-07-04/hardcover-fiction/list.html>. 22 Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/931416-thriller-politico-a-janela-de-overton-
sugere-fim-dos-eua.shtml>. 23 De acordo com Pena (p. 114) a ficção jornalística “não tem compromisso com a realidade, apenas a explora
como suporte para a sua narrativa”. O principal é adaptar o real com o que a ficção pode oportunizar para o
desenvolvimento da história. Para trazer mais relação com o real, os capítulos são curtos, porém eles acabam
formando o dia a dia dos personagens.
31
Meio de divulgação: YouTube, redes sociais e blogs
Diferente dos outros book trailers que serão apresentados, este é um dos vídeos que
foi produzido inteiramente no Brasil pela agência 6P Marketing e Propaganda. O book
trailer24
americano utilizou somente palavras para formar frases que contassem um pouco do
livro.
O book trailer começa com um plano aberto, apresentando uma ilustração da Estátua
da Liberdade em um dia claro, representado com o fundo azul, os raios claros do sol e nuvens.
Aos poucos esse plano começa a ficar mais fechado, terminando em um close no rosto da
estátua, ficando mais perceptível algumas rachaduras que possui.
Figuras 37, 38, 39 e 40
Como o tema principal do livro é a mudança de foco que a mídia traz à sociedade, a
estátua desaparece antes das rachaduras ficarem maiores. Para isso é usado como transição
uma tela de TV fora do ar transferindo para a transmissão de um comunicado político.
O cenário apresenta um habitual gabinete, com o desenho da bandeira americana ao
fundo, reforçando o patriotismo, uma bancada e um microfone. O político traz em sua
expressão rugas e um sorriso forçado, tentando parecer simpático, para atrair mais público.
Como é comum nas emissoras de TV, durante os programas, uma faixa com o GC (gerador de
caracteres), aparece no vídeo com um questionamento (‘vai cair de novo nesse blá, blá, blá?’).
24 Disponível no CD anexado ao trabalho.
32
Figuras 41, 42, 43 e 44
No frame anterior, a transmissão deixa de ficar em tela cheia e se afasta para uma tela
de TV de uma casa, que aparece nos frames seguintes. O local da apresentação é uma sala de
estar, com cortinas e sofá em tons avermelhados, em que um casal assiste tranquilamente ao
programa e leva um susto ao ver que algo não está certo.
Para reforçar a ação dramática, é dado um close no rosto da mulher, evidenciando
principalmente seu olhar fixo. Nesta última cena, o fundo anterior muda e fica verde com
bordas escurecidas para deixar a personagem e sua expressão de choque em evidência.
Figuras 45, 46, 47 e 48
33
Após o fim do pronunciamento na TV, o político sai de cena e entra outro personagem
que faz o sinal de silêncio para a câmera. Esse acontecimento é acompanhado de uma nova
mensagem na faixa do GC (‘a verdade pode ser um lobo em pele de cordeiro. E se você
acredita, ela existe.’) que reforça a intenção do personagem ao pedir o silêncio da população.
Figuras 49, 50, 51 e 52
Para reforçar essa opressão do governo, é feito um plano detalhe no olho da mulher,
que nas cenas anteriores, foi fechada em choque. No olho dela, é possível ver as palavras
“WALL ST.”, que significa “Wall Street”, o centro financeiro de Nova York. Esta referência
é apresentada pela expressão popular utilizada no GC dos frames anteriores, que cita “lobo em
pele de cordeiro”, que significa que apesar de parecer uma boa pessoa, ela não é. Ou seja,
provavelmente está ocorrendo corrupções dentro do centro financeiro, por partidários
políticos. Outro detalhe é uma espécie de cronômetro na parte inferior do olho, provavelmente
constando com o tempo que falta para mais alguma conspiração acontecer.
34
Figura 53
Após estas cenas, o book trailer começa a trazer uma relação com a história real dos
Estados Unidos, trazendo cenas referentes a acontecimentos históricos, como à Quebra da
Bolsa de Valores de Nova York, discussões no parlamento, a chegada do homem a lua e o 11
de Setembro. Isso é adicionado a mais uma pergunta (‘qual é a verdade?’) para deixar a
dúvida se realmente esses acontecimentos foram reais ou armados pelo governo. Todas as
imagens utilizadas nessa parte do book trailer fazem parte de arquivos de emissoras de TV.
Figuras 54, 55, 56 e 57
35
Entre as cenas dos momentos históricos apresentadas anteriormente, o vídeo retorna
aos primeiros frames da estátua da liberdade, voltando ao close que foi cortado pela transição
da TV fora do ar na Figura 41. O fundo, que era azul claro, transformou se em roxo,
acompanhado de uma fumaça branca após as rachaduras da estátua começar a quebrar. As
rachaduras, comentadas anteriormente, ficam maiores e, o principal ponto de referência dos
Estados Unidos começa a ser destruído.
Figuras 58, 59, 60 e 61
Durante a destruição da estátua, é a apresentada mensagem que introduz o nome do
livro, convidando o usuário a descobrir uma nova versão da verdade americana.
Figuras 62 e 63
Após isso, a estátua continua quebrando e uma luz forte direciona para o frame
seguinte que faz referência à imagem da capa do livro.
36
Figuras 64, 65, 66 e 67
Na sua cena final, o livro aberto transfere-se para a tela, fechando-se e apresentando a
capa do livro. Ao lado é apresentado novamente o nome do livro, acompanhado da frase
“autor best-seller #1 do The New York Times”. Para reforçar a questão de o livro ser um
sucesso, é adicionado um selo amarelo, certificando a venda de mais de um milhão de livros.
No canto direito, foi adicionada a marca da Editora Novo Conceito com o endereço do site
(www.editoranovoconceito.com.br/).
Figuras 68 e 69
4.2.3 Considerações acerca da análise
Como foi relatado anteriormente, este é um book trailer que foi produzido no Brasil
pela Agência 6P Marketing e Propaganda. Um dos pontos mais relevantes nele é a mescla de
37
ilustrações, animações e cenas reais de alguns acontecimentos nos Estados Unidos, fazendo
que ele se aproxime da realidade.
Para a trilha sonora do book trailer, foi utilizado um fundo base e contínuo que
apresentava um aumento na sua velocidade e tom da música, principalmente nos momentos
finais. Porém, para cada frame e movimentação dos personagens presentes, efeitos eram
adicionados, como a TV fora do ar (Figura 41), o som de contagem regressiva quando os
números da Figura 53 se movimentavam e principalmente quando as rachaduras na estátua da
liberdade ficaram mais evidentes (Figuras 58 a 61).
É notável o uso dos elementos visuais de Dondi (2003) das cores azul e vermelho,
fazendo uma clara relação com as cores da bandeira norte-americana; é possível verificar a
texturas, quando a Estátua da Liberdade começa a ser destruída, com todas as suas
rachaduras; já os elementos audiovisuais de Dubois (2011) surgem com os planos detalhe e
closes nos personagens e situações do decorrer do vídeo, como a destruição da Estátua da
Liberdade, o rosto e o olho da personagem (Figuras 48 e 53); algumas transições usadas,
como a TV fora do ar, trazem um diferencial para produção, que ajuda a deixar mais próximo
da realidade.
Para complementar o lançamento do livro e do seu book trailer, foram produzidos para
a imprensa e blogs parceiros, press-kits, que possuíam um cadeado para abri-lo de acordo com
uma senha que era encontrada na caixa, a partir de perguntas que teriam um melhor
desenvolvimento no decorrer do livro. Também foi lançado um jogo online que trazia o
participante para dentro da história25
e permitia que ele interagisse com outros usuários.
Apesar de estar inserido na categoria de teaser trailer, que é um vídeo com média de
um minuto com inserções dos principais elementos, como o enredo, o decorrer da narrativa do
book trailer não faz nenhuma relação direta com os personagens do livro, mas sim com sua
narrativa, apresentando o contexto da obra.
25 Mais informações disponíveis em: <http://www.6p.com.br/2010/site02/press.asp?id=199> e no CD em anexo.
38
4.3 Estilhaça-me, de Tahereh Mafi
4.3.1 O Livro
O livro “Estilhaça-me” de Tahereh Mafi, foi lançado em 2011 pela Harper Collins, no
selo HarperTeen, e em 2012 pela Editora Novo Conceito. A história é contada por sua
personagem principal, Juliette, uma garota que está presa em um ambiente escuro, sem luz ou
contato com outras pessoas há mais de 264 dias. A razão disso é em função da garota possuir
poderes que nem ela entende. Seu toque é letal e os poucos que podem tocá-la querem
aproveitar seu poder de forma errada e ela precisa lutar contra isso.
O book trailer foi produzido originalmente pela editora Harper Collins e adaptado no
Brasil pela 6P Marketing e Propaganda, a pedido da Editora Novo Conceito.
4.3.2 O Book trailer
Ficha Técnica:
Anunciante: Editora Novo Conceito
Agência: 6P Marketing e Propaganda
Criação: Adaptação do book trailer original
Montagem/Finalização: Amanda Zola
Áudio: Amanda Zola
Duração: 1m12s
Meio de divulgação: YouTube, redes sociais e blogs
Como no livro, o book trailer traz a imagem da personagem Juliette em um local
escuro, com planos fechados, trazendo suspense e angústia às cenas. Durante todo o vídeo, a
história mistura as citações da garota sobre como ela se vê e como as pessoas percebem. As
cenas de ação que são apresentadas no fim trazem uma maior intensidade para o
desenvolvimento da história, trazendo expectativa à pessoa que está assistindo.
Este book trailer é mais um vídeo adaptado da sua versão original, como no book
trailer de “O Céu está em todo lugar”. Diferentemente do anterior, que teve o texto traduzido,
o recurso para adaptação do texto foram as legendas em seu desenvolvimento.
39
Figura 70
Uma de suas características é a utilização de tons escuros, como preto, azul escuro e
roxo, misturados com efeitos de transição claros, dando a ideia do poder que a personagem
menciona durante a história (entende-se que seu poder é relacionado a algo luminoso, um
poder de luz). Nestas cenas também observamos planos fechados, com close e desfoque (ou
blur). Para a transição delas, são utilizados pequenos “vazios de imagem” pretos,
possibilitando um espaço entre um pensamento e outro da personagem.
Figuras 71, 72, 73 e 74
40
Na segunda parte de seu desenvolvimento, são inseridas as falas da personagem
Juliette. Além de narradas, elas seguem exatamente a tradução e inserção no seu capítulo
inicial. Durante o livro é utilizado o recurso das palavras riscadas. Já no book trailer, as
palavras e frases se quebram. Para trazer referência ao título do livro, foi utilizada a mesma
fonte da capa, com exibição em 3D e movimentação dos ângulos de câmera até a palavra
estilhaçar.
Figuras 75, 76, 77 e 78
Da mesma forma que a palavra ou frase se estilhaça, ela já forma uma nova para dar
continuidade à fala e ao pensamento da personagem, transformando-se em um elemento de
dramaticidade. O lettering, desta forma, traz a intensidade que é necessária para o
desenvolvimento da história. Com isso é notável que estas palavras e frases unidas aos efeitos
especiais representam a força que a personagem necessita durante o livro.
41
Figuras 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85 e 86
Nas cenas finais, o book trailer retorna a estética apresentada inicialmente, com a
participação de atores. A diferença é que nestas cenas são utilizados planos abertos e
movimentação rápida da câmera para acompanhar os personagens durante as ações. Para a
transição das cenas foram utilizados cortes rápidos, sem qualquer efeito, como fade-in ou
fade-out, trazendo a intenção de rapidez e transposição de cenas.
Apesar destas cenas apresentarem um pouco mais de luz, continuam acentuando os
tons escuros, principalmente as sombras dos personagens. Já estes são destacados com cores
vibrantes, como branco e vermelho. Estas cenas de ação também trazem um ponto mais
sentimental da história, a intenção de fuga e encontro com a realidade.
42
Figuras 87, 88, 89 e 90
Na finalização do vídeo, onde é apresentado o título do livro e sua autora, é utilizado o
mesmo recurso das frases de Juliette, o estilhaçar das palavras. A diferença é que o fundo
roxo utilizado anteriormente foi substituído para o preto, fazendo uma forte referência com o
material gráfico do livro.
Figuras 91, 92, 93 e 94
43
No frame final, são apresentadas as principais frases do livro, que estão presentes na
capa e contracapa – “Meu toque é letal. Meu toque é poder”. Além disso, o usuário é
convidado a “envolver-se” com a história. Como é costume da editora, é apresentado em uma
parte da tela a marca e seus contatos digitais (Twitter e site).
Figura 95
4.3.3 Considerações acerca da análise
Este é mais um book trailer adaptado do original, lançado nos Estados Unidos. De
acordo com o contato realizado com a agência, manter o vídeo original foi um pedido da
autora, para que a história fosse contada da mesma forma em todos os países em que se
realizasse o lançamento. Apesar disso, algumas cenas foram cortadas para facilitar a
adaptação brasileira. Outro ponto bastante evidente é a utilização de legendas para a tradução
do audiovisual. Não houve nenhum processo de dublagem durante o vídeo.
Diferente dos outros dois book trailers já analisados, esse possui narração. Esta é uma
narração feminina em 1ª pessoa, como se a personagem Juliette estivesse contando sua
própria história. Durante o audiovisual foi utilizada somente uma trilha base e os efeitos
foram adicionados principalmente nas palavras que se estilhaçavam. Para estas palavras foram
utilizados efeitos 3D para dimensiona-las no espaço em que foram introduzidas e facilitando a
visualização do efeito de estilhaçar.
Em relação aos seus elementos visuais podemos perceber o uso de cores escuras, como
o preto, cinza e roxo, que fazem com que os momentos de tensão fiquem mais intensos; os
44
planos são em sua maioria, fechados, reforçando a imagem da personagem principal e toda
sua angústia. Em seus elementos audiovisuais, é perceptível o uso de pouca iluminação para
passar a ideia de fim do dia e reforçar a fuga dos personagens nas imagens finais; as
transições são realizadas sem uso de fades ou blur, o que deixa a narrativa rápida.
Uma característica que já foi vista anteriormente, este book trailer também traz a
presença de atores para a interpretação de certas cenas, principalmente as finais que trazem
um pouco mais de ação entre os personagens. Isso faz com que este book trailer, aproxime-se
de um trailer de cinema. Pela sua duração, ele estaria enquadrado em um teaser trailer, pois
ele traz uma expectativa de continuação da história.
4.4 Starters, de Lissa Price
4.4.1 O Livro
O livro “Starters”, de Lissa Price, foi lançado em março de 2012 no mercado norte-
americano, e em julho de 2012 no brasileiro, pela Editora Novo Conceito. O livro conta a
história dos Estados Unidos após a Guerra dos Esporos, que deixou muitas crianças órfãs e
fez com que a vida dos mais velhos se prologasse. Durante a narrativa, os personagens veem
que a única opção de sobrevivência é alugar seu corpo para a empresa Prime Destinations,
que transfere as informações cerebrais de um corpo velho (Enders) para um novo (Starters)
por um período pré-determinado por contrato e pagamento.
A versão original26
do book trailer de “Starters” foi produzida pela Random House
Children's Books27
, uma editora britânica que possui projetos sociais que incentivam a leitura
infantil. Na versão brasileira, o vídeo manteve as mesmas características visuais, no entanto
ele foi totalmente traduzido para o português.
4.4.2 O Book trailer
Ficha Técnica:
Anunciante: Editora Novo Conceito
Agência: 6P Marketing e Propaganda
26 Disponível no CD anexado ao trabalho. 27 Site oficial da Random House Children's Books <http://www.randomhouse.com/>
45
Criação: Larissa Dinamarco e Silvio França
Montagem/Finalização: Amanda Zola
Áudio: Amanda Zola
Duração: 41s
Meio de divulgação: YouTube, redes sociais e blogs
Este book trailer traz a história de “Starters” de uma maneira resumida, trazendo como
elemento principal para seu desenvolvimento a narração. Durante o vídeo, a personagem
principal fica sentada em uma cadeira, escutando as orientações que são passadas em uma tela
holográfica sobre os procedimentos que a Prime Destinations realiza, até ser chamada pelos
personagens secundários.
Na figura 96, é possível notar que este é mais um book trailer realizado com atores, o
que traz uma carga dramática para as cenas. Nesse frame, a atriz está sentada em uma
poltrona azul escuro, trazendo como referências os aspectos visuais do livro (a lombada e
contracapa são do mesmo tom). A luz é azulada, em função de a personagem estar assistindo
ao vídeo na tela. Nesse ponto é possível ver o uso de referências tecnológicas que são
apresentados durante o livro, como o “suporte” da tela holográfico, formado por linhas
horizontais e verticais.
Figura 96
O frame abaixo apresenta a tela holográfica, que apresenta as imagens que a
personagem está assistindo no frame a seguir. Na imagem é possível ver a marca da empresa
que realiza as transferências mentais dos Starters e Enders. Na tela, é possível ver vídeos de
46
atividades esportivas, normalmente realizada por jovens, além das bordas luminosas que
ajudam a definir o espaço da tela. Aqui permanece o tom azulado do frame anterior.
Figura 97
Nas figuras 98 e 99 é possível ver uma mudança no aspecto visual. Primeiro é visto
um fade in branco, que representa um flashback28
da vida da personagem. No caso, esse
flashback relaciona-se com o texto. O narrador diz “uma recompensa generosa” e a garota
lembra-se de seu irmão, que de acordo com a narrativa, está muito doente e a principal razão
de realizar esse procedimento é para ajuda-lo. É notável a diferença das cores no vídeo; do
tom azulado, passamos a um tom sépia. Essa vivacidade nas cores representa a alegria que ela
sente ao estar com seu irmão, o único sobrevivente da família. Ao fim da cena, um fade out
branco é inserido e retorna para a tela holográfica.
28 “O flashback é um dispositivo formal de grande relevância nas obras narrativas. [...] o flashback vira a atenção
do espectador para o passado dos acontecimentos, pelo que a sua utilização deve ser criteriosamente ponderada e
justificada, uma vez que ao espectador importa frequentemente mais saber como tudo acaba do que como tudo
começou. (NOGUEIRA, 2008)”.
47
Figuras 98 e 99
Na figura 100, a tela holográfica é apresentada novamente, mantendo a característica
futurista, com crânios em 3D, para mostrar como funciona o programa de transferência. Além
disso, no fundo da imagem é possível notar os traços que remetem as placas de computadores.
Figura 100
A partir das figuras 101 e 102, é notável uma mudança na posição da câmera. De um
plano aberto ele passa a apresentar closes da personagem principal.
Figuras 101 e 102
48
Nos frames seguintes é realizada uma transição rápida de três personagens que
participam da história e interferem no desenvolvimento da história (Figura 103 – Segurança;
Figura 104 – Tinnenbaum; Figura 105 - Doris). Essa transição e close no rosto dos
personagens, ajuda a desenvolver a aparente tensão da personagem nas figuras 106 e 107.
Figura 103, 104, 105, 106 e 107
A expressão assustada do último frame é voltada para outros dois personagens que se
encontram em uma sala azul, muito iluminada. Os tons de azul prevalecem e a luz é tão forte,
que destaca o contorno corporal dos personagens.
49
Figura 108 e 109
A partir da figura 110, o book trailer, mantém a característica visual do uso do azul e
as linhas das redes de computador. O texto inserido convida o usuário que está visualizando-o
a conhecer a história.
Figura 110
No frame seguinte, o título do livro é apresentado e junto a ele é exibida a capa do
livro, uma foto da autora, seu respectivo nome e a marca da Editora Novo Conceito. Também
é utilizada, como forma de persuasão para incentivar a busca do livro, o uso de opiniões de
outros autores famosos e títulos que já atingem milhares de fãs, no caso a série “Jogos
Vorazes”, de Suzanne Collins, lançado no Brasil pela Editora Rocco.
50
Figura 111
No fim do book trailer, a marca da Editora Novo Conceito é apresentada novamente
junto com os contatos das redes sociais. No caso, o Twitter (@Novo_Conceito) e o site
(www.editoranovoconceito.com.br/).
Figura 112
4.4.3 Considerações acerca da análise
Este book trailer é mais uma adaptação de um original lançado no exterior, e
novamente é perceptível que a produção realizada possui uma qualidade em seu
desenvolvimento. Neste audiovisual, foi percebido a partir de Dondi (2003) e seus elementos
visuais, que a cor azul foi predominante, trazendo uma relação maior com a capa do livro.
51
Além da presença do azul, é notável a grande utilização de uma luz branca e forte. Um
elemento audiovisual, de acordo com Dubois (2011), usado para transição de cenas, foi o
flashback, que faz referência ao passado, mostrando um pouco da história e o porquê da
personagem estar presente naquele ambiente assistindo àquela apresentação.
Em relação aos planos, foi utilizado planos abertos quando a personagem está sentada
na cadeira assistindo a TV e os closes nos rostos dos personagens, ajudam a formar os
momentos de tensão do audiovisual.
Como foi visto na análise anterior, existe um texto narrado durante o vídeo, neste caso
ele está na 3ª pessoa. Nela, é explicado como ocorre e quais as vantagens de participar do
programa de transferência mental. Ainda é possível perceber uma dublagem para o
personagem Tinnenbaum, o único que se manifesta verbalmente durante o audiovisual. Só é
utilizado outro efeito sonoro quando o nome do livro e a foto da autora surgem na tela (Figura
111). Durante o tempo restante, nenhum som foi identificado.
Uma característica importante deste book trailer é o uso de referências tecnológicas,
como as redes de computador (Figuras 110 a 112) e efeitos visuais em 3D nas projeções que
foram assistidas pela personagem (Figura 97 e 100).
Como em “Estilhaça-me” este book trailer traz características de um teaser trailer,
com uma média de um minuto, com a apresentação do seu enredo principal. Ele apresenta
seus personagens principais e apesar de não existir muita interação entre eles, a narração faz
com que a história desenvolva-se de uma maneira mais rápida.
4.5 O Clã dos Magos, de Trudi Canavan
4.5.1 O Livro
Em 2001 foi lançado “O Clã dos Magos”, de Trudi Canavan29
, pela editora australiana
Orbit Books. Onze anos depois, o primeiro livro da “Trilogia do Mago Negro” chega pela
Editora Novo Conceito. Com mais de dez livros lançados, autora é a mais lembrada em seu
país pelos livros de ficção que envolvem magos, bruxas e qualquer outro tipo de magia.
O livro conta a história de um grupo de magos que se reúnem todos os anos para
purificar as ruas de sua cidade dos pedintes, criminosos e vagabundos. Depois que parte da
29 Site oficial da autora: <http://www.trudicanavan.com/>.
52
população é expulsa da cidade, uma jovem garota de rua resolveu atirar uma pedra, com toda
sua força e raiva, contra o escudo protetor desses magos e um deles acaba sendo atingido. A
partir disso, as buscas começam, pois uma jovem maga sem treinamento está sozinha e pode
destruir todos se não souber controlar seus poderes.
4.5.2 O Book trailer
Ficha Técnica:
Anunciante: Editora Novo Conceito
Agência: 6P Marketing e Propaganda
Criação: Fernanda Xavier e Leonardo Leite
Montagem/Finalização: Léo Rabelo
Áudio: Léo Rabelo
Duração: 1m03s
Meio de divulgação: YouTube, redes sociais e blogs
A narrativa deste book trailer é mais enigmática, provavelmente pelo livro tratar desse
tema. Durante a primeira parte é apresentado somente palavras-chave que fazem referência ao
livro, em um fundo que faz referência a um livro antigo, mescladas com uma animação de um
mago que não apresenta o rosto em um cenário escuro e com muitos trovões. Tudo isso para
apresentar uma história cheia de magia e mistério.
O início desse book trailer já traz uma linguagem diferente desde o inicio. Nos
anteriores, as informações sobre autor e posição de vendas só apareciam nos últimos frames.
Além disso, este é o único audiovisual analisado que possui o título do livro no canto superior
direito, facilitando a identificação dos títulos. Essas informações estão inseridas em um fundo
marrom, fazendo referência aos livros antigos de capa dura. Durante as transições dos frames
(Figuras 113 a 115), foi utilizado um pequeno cross-fade.
53
Figura 113
Figura 114
Para começar a introduzir a ideia principal do livro e seu gênero, foram utilizadas,
dentro do mesmo fundo anterior, palavras-chave que marcam a história: magia, aventura e
mistério. Estas palavras foram apresentadas em uma fonte fina em 3D. Além disso, ficou mais
fácil de notar uma moldura mais clara no contorno do vídeo. Para complementar com
“elementos mágicos”, foi adicionada uma fumaça no canto esquerdo do vídeo além de pontos
de luz que são visíveis durante todo o book trailer.
54
Figuras 115, 116 e 117
Na transição entre cada palavra-chave, foi utilizada uma capa preta passando pelo
vídeo, como a capa de um mago. O efeito colocado sobre ela dá a impressão de uma textura
voluptuosa, talvez fazendo uma relação com a seda. Sua movimentação dá a impressão de
leveza e rapidez. Além disso, quando ela passa e o novo texto aparece, é adicionado um blur a
imagem até que ela fique nítida para a leitura do texto.
Figuras 118, 119, 120 e 121
55
Na sequencia do vídeo, começa a ser apresentada uma personagem de animação
vestida com uma capa preta em um plano fechado. Ele volta a aparecer a cada inserção de
texto que é feita, porém o plano começa a abrir, até deixar o corpo a mostra e apresentar seu
cenário. O fundo varia de preto para cinza e apresenta um pouco de roxo nos momentos dos
trovões. É possível identificar um espaço arenoso, com galhos, troncos e focos de luz.
Figuras 122, 123, 124 e 125
Nas imagens que intercalam com as cenas apresentadas anteriormente, o padrão de
fundo, moldura e inserção do texto continua como nas figuras 115 a 117. Porém, no último
frame com texto referente ao livro (Figura 131), o fundo deixa de ser marrom e passa a ser
preto e a cor da fonte das letras passa a ser um tom de prata, mantendo o efeito 3D.
56
Figuras 126, 127, 128, 129, 130 e 131
Após a figura 131, o cenário da figura 125 recebe um filtro preto deixando quase todos
os elementos, como os galhos, troncos e o terreno arenoso, imperceptíveis. Nesse espaço um
feixe de luz dourado é inserido para fazer a transição para o penúltimo frame.
57
Figuras 132 e 133
No penúltimo frame, é retomado o fundo marrom e seu contorno. Nele são inseridos
um texto, retomando as características da autora e do livro citados no início do book trailer, e
a capa do livro.
Figura 134
Diferente dos outros vídeos, a marca e contatos da Editora Novo Conceito (site e
Twitter) foram inserido em um fundo branco, a partir de um fade-in, passando a ideia de
transparência, possibilitando ver a figura 134. Foi também utilizado zoom para aproximar as
informações da Editora.
58
Figura 135
4.5.3 Considerações acerca da análise
Diferente de todos os book trailers desse trabalho, ele é o único que não possui um
book trailer original. Como sua primeira edição é de 2001, nenhuma produção baseada no
livro foi encontrada.
Como no book trailer de “A Janela de Overton”, também foi utilizada uma animação
para seu desenvolvimento (Figuras 122 a 125), mesclando com elementos que dessem a
impressão de antigo, como a capa de um livro e fontes em relevo (Figuras 115 a 117).
Para a trilha sonora, foi utilizada uma única trilha com uso de efeitos sonoros de
transição, na capa preta do mago (Figuras 118 a 121) e trovões quando o personagem aparece
na tela.
Em relação aos elementos da comunicação visual e audiovisual, neste book trailer
encontramos como cor principal o marrom, para o fundo das palavras, e as mesclas de cinza e
preto, durante a aparição do personagem. Para o personagem principal, foi usada uma
animação, de um mago, que não apresenta muitos movimentos. Os textos foram inseridos
como palavras-chave e frases que desenvolvem o tema principal da história. No caso, eles
foram inseridos com um efeito 3D. Os planos presentes nesse vídeo são notáveis
principalmente quando o personagem interage na tela; temos planos fechados e abertos, além
de um plano fixo e aberto para a inserção do texto. As transições foram feitas principalmente
com a capa do mago passando na tela e na tela final foi inserido um fade-in, que passa uma
ideia de transparência para o elemento que foi inserido.
59
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante esta pesquisa, propôs-se uma busca para compreender como os elementos
estéticos se enquadravam em um book trailer, a partir de suas características visuais e
audiovisuais de sua forma e conteúdo. Além disso, buscou-se entender de que forma esse tipo
de audiovisual é importante para a criação de um novo leitor, levando em conta o período
comunicacional digital, em que vivemos.
De acordo com o estudo apresentado é possível perceber que existem elementos para
sua criação estética que delimitam os book trailers a partir de sua forma e conteúdo. Para isso
foi necessário buscar novas informações e uma maneira de adequar todos os elementos a uma
única metodologia.
Essa metodologia reuniu informações sobre forma e conteúdo de acordo com Pareyson
(1997) e trouxe como categorias de análise os estudos sobre comunicação visual e
audiovisual, de Dondi (2003) e Dubois (2011). Assim, foi definido um roteiro de
características acerca dos elementos visuais e audiovisuais que constituem em comunicação
visual, com aspectos visuais, relacionais e conceituais, e a audiovisual, com as
sobreimpressão, janelas e incrustações. Além destes, buscou-se verificar semelhanças com os
tipos de trailers propostos por Santos (2004), que compreendem em teaser trailers e regular
trailers. Essa união foi necessária, pois não existe, até o momento, nenhuma análise estética a
partir de book trailer, o que traz um caráter inovador, porém com possibilidade de mudanças
em suas categorias e forma de análise no futuro.
Como foi possível notar, os book trailers não possuem um padrão de produção,
criação ou duração, mas observou-se que possuem os elementos passiveis de balizamento,
conforme as categorias propostas. Os materiais possuem características diferentes,
principalmente em relação a seu conteúdo, em função da narrativa do livro a qual foi
adaptado. Essa criação possibilita uma nova realidade em relação ao livro. O book trailer traz
características que, ao ser assistido, podem interferir na criação dos personagens na mente do
leitor. Porém, pode ser uma boa forma de manter as características apresentadas pelos autores
na descrição de seus personagens.
Em relação a narrativa livro/book trailer, podemos perceber maiores semelhanças
quando são apresentadas citações dos livros. As citações trazem uma grande importância no
desenvolvimento da trama do book trailer. No caso de “Estilhaça-me”, as palavras em
conjunto com os efeitos de quebra trazem um efeito narrativo muito forte que prende o
60
espectador no momento da visualização. Ou seja, as citações dos livros trazem uma carga
emocional para o desenrolar do book trailer.
Nos cinco audiovisuais analisados, somente um deles (A Janela de Overton) não
apresentou seus personagens principais, porém, trouxe toda a narrativa que era desenvolvida
durante o livro. Por um lado, essa falta de apresentação dos personagens facilita o imaginário
do leitor, que com os outros já é criada uma imagem para cada personagem e de que forma
suas ações poderiam influenciar a narrativa.
O que esteve presente em todos os book trailers, foi a sonoplastia. Neste tópico,
podemos notar um padrão utilizado com músicas sem utilização de cantores, com a exceção
de “O céu está em todo lugar”, que trouxe uma canção de uma cantora. Também é possível
notar que foi o único dos estudados que usou uma música, em sua sonoplastia, que possuía
uma canção de Erin K.
O elemento final de todos os book trailers é padrão. Nele são inseridos a imagem do
livro, o nome do autor (às vezes com foto), número de livros vendidos e os contatos nas redes
sociais com a Editora Novo Conceito. Esta característica pode ser intitulada de pack shot, que
de acordo com Tavares (2011, p. 55) é um close dado ao produto, reforçando o que quer ser
vendido/divulgado.
De acordo com as fichas técnicas, foi possível perceber que as formas de divulgação
desses book trailers foram realizadas nas mesmas mídias: YouTube, redes sociais e blogs.
Nenhum destes audiovisuais possuiu divulgação em meios de comunicação tradicionais,
como a TV ou cinema. Isso mostra que o produto possui um foco de público que se relaciona
com a internet diariamente.
Porém, o que mais varia em cada book trailer é sua duração. De acordo com os
padrões normais de trailer de cinema, apenas “O céu está em todo lugar” se enquadra como
um regular trailer, pois ultrapassa o tempo de um minuto e meio. Os outros trouxeram
características de duração de um teaser trailer.
Os book trailers não trazem novos elementos que caracterizem sua produção. Isso é
facilmente notado quando é verificada a busca das categorias de pesquisa. Sua criação traz
elementos de comunicação visual e audiovisual comuns aos trailers ou outros tipos de
audiovisuais.
O estudo atingiu seus objetivos de compreender as estéticas do book trailer a partir de
sua forma e conteúdo, fazendo a ligação com os principais elementos da comunicação visual,
audiovisual e ainda comparando com outros tipos de trailers. É importante ressaltar que o
resultado do estudo deu-se devido às categorias de análises criadas durante o decorrer deste
61
trabalho, possibilitando a contribuição com futuros projetos sobre o book trailer e sua
estética.
Enfim, é possível dizer que a estética dos book trailers está entre os trailers de cinema
e a publicidade e propaganda de produtos, criando outras formas de divulgação no meio
digital. Isso não só possibilita a variação de formas e conteúdos comunicacionais, mas
formata a criação de novas estéticas visuais e audiovisuais, à medida que novos tipos de
leitores surgem.
62
REFERÊNCIAS
AMARAL, Fabio Eduardo. O que é e-Book? <http://www.tecmundo.com.br/educacao/1519-
o-que-e-e-book-.htm>.
BAYER, Raymond. História da Estética. Lisboa: Editorial Estampa, 1978.
BENÍCIO, Christine Dantas. Do livro impresso ao e-book: o paradigma do suporte na
biblioteca eletrônica. João Pessoa, 2003.
DOMINGUES, Diana. (Org.). A arte no século XXI: a humanização das tecnologias. São
Paulo: Ed. da UNESP, 1997.
DONDI, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 2. ed., 1997.
DUBOIS, Philippe. Cinema, vídeo, Godard. São Paulo: Cosac Naify, 2. ed., 2011.
FERREIRA, Wellington. Book trailer: a mais nova mania das editoras.
<http://www.ovendedordelivros.com.br/2012/02/book-trailer-mais-nova-mania-das.html>.
IUVA, P. de O. A reinvenção do trailer como experiência audiovisual autônoma. São
Leopoldo: Dissertação de Mestrado da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2009
(Dissertação de Mestrado).
JIMENEZ, Marc. O que é estética? São Leopoldo: UNISINOS, 1999.
JUSTO, Maíra Ventura de Oliveira. Trailer: Cinema e Publicidade em um só produto.
Revista Anagrama, São Paulo, 3. ed., 2010.
KERNAN, Lisa. Coming attractions: reading American movie trailers. Texas: University of
Texas Press, 2004.
LOWELL, Pamela. Five Easy Steps to Making a Great Book trailer That Your Students -
and Even Technophobes (Like Me) - Can Master. Voya, 2010.
MACHADO, Arlindo. O fim do Livro? Estudos Avançados. São Paulo, v.8, n. 21, 1994
63
MAGALHÃES, Evaldo. A internet – do projeto militar à popularização. 2004. Disponível
em:
<http://www.evaldomagalhaes.jor.br/index.php?option=com_content&task=view&id=11&Ite
mid=9>.
NOGUEIRA, Luís. Lost in flashback: Design de Personagens. Comunicação e Cidadania,
2008.
PAREYSON, Luigi. Os problemas da estética. São Paulo: Martins Fontes, 3. ed., 1997.
PENA, Felipe. Jornalismo Literário. São Paulo: Contexto, 1. ed., 2006.
SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São
Paulo, SP: Paulus, 2004.
SANTOS, Claudia Melissa N. TRAILER: cinema e publicidade no mesmo rolo. Rio de
Janeiro, 2004.
SERRA, Paulo. Estética e media – o caso da televisão. 2008. Disponível em:
<http://www.bocc.ubi.pt/pag/serra-paulo-estetica-media.pdf>.
TADDEO, E. S. Silva L. S.; SILVA JUNIOR, L. S. da. QRCODE colorido, duplicando a
capacidade de armazenamento com cores. Disponível em:
<http://iris.sel.eesc.usp.br/wvc/Anais_WVC2012/pdf/98193.pdf>.
TAVARES, Tonio Gomes. Pack Shot: imagens melancólicas, processos de comunicação.
São Paulo, 2011. Disponível em:
<http://www.casperlibero.edu.br/rep_arquivos/2011/08/10/1313003212.pdf>.
64
ANEXOS
ANEXO 1 - Interior do livro “O céu está em todo lugar”