COMO O EXÉRCITO DOS EUA PRETENDE LUTAR E VENCER …...Escravatura e a Proclamação da República,...

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17/01/2020 | VELHOGENERAL.COM.BR | CATEGORIAS: ANÁLISE, DOUTRINA, EXÉRCITO, EUA, GUERRA ASSIMÉTRICA

PRIORIZANDO AS OPERAÇÕES DE COMBATE CONVENCIONAL EM LARGA ESCALA COMO O EXÉRCITO DOS EUA PRETENDE LUTAR E VENCER AS PRÓXIMAS GUERRAS

PorAlessandroVisacro*

MilitaresdaGuardaNacionaldoEstadodeArkansascoma1036ªCompanhiadeEngenhariadeJonesboro,Arkansas,detonamumsistemadecargalineardeaberturadebrechaM58noNationalTrainingCenter,em

FortIrwin,Califórnia,16deAgostode2015.(Foto:MajW.ChrisClyne,115ºDComSocMv).

ArtigopublicadonaediçãobrasileiradarevistaMilitaryReview,ediçãodoPrimeiroTrimestrede2019.

Durante muitos anos, tanto a Militar das Agulhas Negras quanto a Escola deAperfeiçoamentodeOficiaisensinaram,emsuasaulasde tática,que “amelhorarmacontraumcarrodecombateeraoutrocarro”.Noentanto,essaassertiva,tomada ao pé da letra, é errônea. Aeronaves de ataque constituem a maiorameaça contra formações blindadas. O caça de apoio aéreo aproximado A-10Thunderbolt II, com seu poderoso canhão antitanqueGAU-8Ade 30mm, ou ohelicópteroAH64-DApacheLongbow,cujodiversificadoarsenalincluiomíssilguiado a laser Hellfire, por exemplo, adquiriram notoriedade por seremimplacáveis destruidores de tanques1. Na Segunda Guerra Mundial, o caça-bombardeiro britânico Typhoon Mk 1B, dotado de oito foguetes de sessentalibras, além de quatro canhões de 20 mm instalados nas asas, mostrou-seextremamente eficaz em missões de ataque ao solo2. Convém lembrar que acontrovérsia envolvendoosgeneraisRommel,Rundstedt eGuderianacercadoposicionamentodasreservasblindadasalemãsparaseanteporemàinvasãoda

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costa setentrional francesa, em 1944, girava em torno da capacidade de opoderioaéreoaliadoimpediromovimentodasdivisõesPanzerparaonorte.

Mesmosedesconsiderarmososvetoresaéreos,dificilmentepoderíamos ternopróprio carro de combate a melhor opção contra blindados. Os alemães, que,com justo reconhecimento, se tornaram célebres por sua excelência tática naguerrademovimento,dificilmenteconcordariamcomessaideia.Elespreferiamempregar o canhão antiaéreo FLAK 18 de 88 mm com “alça zero”, fazendojudiciosousodoterreno,paracriarumafortebarreiraantitanque,enquantoseusblindados ficavam livres para avançar em profundidade, atacando os pontosmais vulneráveis do dispositivo inimigo3. O atrito gerado pelo engajamentodiretoentreunidadesblindadaseratidocomocontraproducente,aexemplodaderrotasofridanabatalhadeKursk,travadaemjulhode1943nafrenterussa–omaiorconfrontodetanquesdaSegundaGuerraMundial4.Anosdepois,asliçõesextraídasdaGuerradoYomKippur,emoutubrode1973,corroboraramavisãotáticadosalemães.

Então,porquenossasescolassemantiveramfiéis,por tanto tempo,aoaxiomamencionadonoprimeiroparágrafo?

QuandoaForçaExpedicionáriaBrasileirafoienviadaparalutarnaItália,nossoExércitofoiredesenhadoaosmoldesdoExércitodosEstadosUnidosdaAmérica(EUA),que,naquelaépoca,nãocontavacomnenhumaarmaanticarroeficaz.Amaiorpartedoarsenaldisponível,comoocanhãoM3de37mm5,porexemplo,erainofensivadiantedosespessos100mmdablindagemfrontaldeumtemívelPanzer VI Tigre6. Como os aliados preferiam empenhar seusmeios aéreos emconformidade com a “Doutrina Trenchard”, isto é, bombardeando os centrosindustriais e os núcleos urbanos da Alemanha nazista7, restavam-lhes poucasalternativas a não ser empregar o próprio carro de combate como armaantitanque.

Esse pequeno exemplo se presta tão somente para demonstrar o quanto ascircunstâncias são importantes no processo de formulação doutrinária. Nãodevemos ignorarocontextomaisamploqueenvolveacriaçãoeaaceitaçãodeum conjunto de princípios teóricos, segundo os quais pretendemos reger oemprego do instrumento militar, sob pena de nos apegarmos, de formaintransigente,adogmasinsustentáveise,porvezes,incoerentes–aindaque,nãoraro,essasejaumatendêncianatural.

Taladvertência torna-separticularmenterelevantenomomentoemqueo teordo novo Manual de Campanha 3-0, Operações (FM 3-0, Operations), maisimportantepublicaçãodoutrináriadoExércitodosEUA,começaareverberarnoâmbitodoExércitoBrasileiro.Ouseja,tãoimportantequantosaber“quaisideiassãoexpressas”nonovomanualésaber“porqueessasideiassãoexpressas”.

Devemosatentar,também,paraaquiloquecadaleitorbuscaencontraremsuaspáginas, de acordo com suas próprias convicções e preconceitos, pormeio deuma leitura seletiva, orientada para conclusões previamente determinadas.Nessesentido,valereiteraroqueobservouohistoriadorRobertBaumann: “aspessoassemostrammaisreceptivasàsnovasevidênciasqueseajustamapontos

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devistajáaceitosdoqueàsevidênciasqueoscontradizem”8.Napsicologia,essapredisposição mental, inerente a todo ser humano, denomina-se “viés deconfirmação”9.

Caberelembrarque,noiníciodoséculoXX,oExércitoBrasileiroencontrava-se,genuinamente, empenhado na correção das graves deficiências apresentadasdurante a Campanha de Canudos10. A “reforma militar” em curso buscou seureferencialnadoutrinaalemã,cujospreceitosrepresentavamaquintessênciadaguerramoderna.Naverdade,oexércitodeScharnhorst,Gneisenau,ClausewitzeMoltketornara-semodelonãosóparaoBrasil,masparaamaioriadospaísesaoredordoplaneta.

Entretanto, em face das surpreendentes inovações tecnológicas postas à provanos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial e da derrota alemã emnovembrode1918,oExércitoBrasileiroviu-se,maisumavez,diantedodesafiodemodernizar-se.Em1920chegouaoRiodeJaneiroaMissãoMilitarFrancesa,chefiadapeloGeneralMauriceGamellin.Duranteasduasdécadasseguintes,essepequeno grupo de oficiais esteve à frente de significativas mudançasintroduzidas na Força Terrestre. Mas, por um capricho da história, quando aWehrmacht invadiuaFrançadesbordandoaLinhaMaginot, emmaiode1940,Gamellin era o Comandante-Chefe Aliado11. O notável sucesso da Blitzkriegtornouevidenteo renascimentoda guerrademovimento e a obsolescênciadadoutrinafrancesacentradanasoperaçõesdefensivas.

ComodesenrolardaguerranaEuropaeoengajamentodosEUAnadefesadoHemisfério Ocidental, o Brasil foi atraído para a órbita de influência norte-americana. A partir da criação da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, em1943,adoutrinavigentenoExércitodosEUAtornou-seoprincipal referencialteóricoparaossoldadosbrasileiros.Édignodenotaque,dentretodasasnaçõesdo globo – incluindo os tradicionais aliados dos EUA, como Inglaterra, França,Canadá e Austrália – o Brasil tenha o maior número de oficiais estrangeirosdiplomados pela Escola de Comando e Estado-Maior, sediada em FortLeavenworth. Ao todo, 315 alunos brasileiros graduaram-se naqueleestabelecimentodeensinoentreosanosde1943e2018.

Todavia,mesmo tendoaprincipal potênciamilitardoplaneta como referênciaem termos doutrinários, o célere e irreversível processo de incorporação denovas tecnologias tem dificultado sobremaneira a manutenção de um ritmoadequadodeevoluçãoteóricaeconceitual.Muitospreceitos,sobretudoaquelesrelacionadosaocombateconvencional,têmsidofrequentementeadquiridosemdecorrência de abstrações doutrinárias, que buscam mitigar mais de setedécadas de ausência de tropas em um campo de batalha de média e altaintensidade. Entretanto, o sentido de urgência dado ao desejo de suprir essalacunanãodevecomprometeraevoluçãodaForçaTerrestrenomédioe longoprazo.Ao contrário, exigeuma abordagem crítica que vaimuito alémdamera“importação”desoluçõespré-formatadas.Assimsendo,opresenteartigovisaaoferecerumamodestacontribuiçãoàsdiscussõesemtornodaediçãodeoutubrode2017domanualde campanhaFM3-0, analisandoas reaisperspectivasdasoperaçõesdecombateemlargaescalanoatualcontextogeopolítico.

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UM H ISTÓRICO DE MUDANÇAS: S ÍNTESE DA EVOLUÇÃO DOUTRINÁRIA DO EXÉRCITO DOS EUA Ao contrário do que aconteceu com o Exército Brasileiro após a Guerra doParaguai, engajando-se em questões nacionais relevantes como a Abolição daEscravatura e a Proclamação daRepública, o Exército dos EUA, ao término daGuerradeSecessão(1861-1865),voltou-separadentrodesimesmo,dedicando-se a temas estritamente profissionais e experimentando um significativoamadurecimento institucional. Seu papel nas chamadas Guerras Índias (1870-1900) e, por conseguinte, na “marcha para o oeste” jamais transcendeu aexpressãomilitar.

Contudo, quando as duas guerras mundiais eclodiram na primeira metade doséculoXX,oExércitodosEUA,assimcomotodososoutrosexércitosdoplaneta,nãoseencontravaverdadeiramenteprontoparaotipodecombatetravadonasplanícies daEuropa, nas ilhas doPacífico e nos desertos donorte daÁfrica.Onúmero excessivo de baixas durante a ofensiva Meuse-Argonne em 1918, aperdadasFilipinasem1941eaderrotasofridanopassodeKasserineem1942ilustram o quão inapropriados eram os preceitos que regiam as forças norte-americanas no início de sua participação nos dois conflitos12. Assim sendo, aevolução doutrinária que se fazia necessária se deu no decurso das própriasguerras.

Nos anos 1950, a criação da “Divisão Pentômica” (divisão de infantaria comunidadessubordinadasdebasecinco)foiarespostadoutrináriadoExércitodosEUA ao advento das armas nucleares13. Na década seguinte, o programa dereestruturação da Força denominado ROAD (Reorganization Objective ArmyDivision)buscouumasoluçãomaisflexível,queseadequassetantoaumcampode batalha convencional quanto nuclear. Foi de acordo com o “modelo ROAD”queoexércitonorte-americanotravouaGuerradoVietnã.

Naturalmente, a traumática experiência vivida nas selvas do Sudeste Asiáticoconstituiu um ponto de inflexão na história do Exército dos EUA. A longa ecruenta luta na península da Indochina tornou evidente graves problemas,incluindo liderança precária, racismo, uso abusivo de drogas, treinamentoinsatisfatórioeindisciplina–fatoresquecontribuíramparaocolapsomoralnalinhadefrentee,porconseguinte,paraocometimentodecrimesdeguerra,emespecial,oataqueindistintoàdesafortunadapopulaçãonativa.Autoridadescivise militares adotaram uma postura pragmática diante do fracasso no Vietnã:simplesmente, mostraram-se determinadas a não incorrer no mesmo erropermitindoquesoldadosnorte-americanos fossemenviadosparacombateremoutra guerra irregular como aquela14. Também estava claro que o fragilizadoexército que se retirou da Indochina, em 1973, não possuía condições desobrepujarasforçasdoPactodeVarsóviaemumeventualcombateconvencionalem larga escala travado nas planícies da Europa. Naquele mesmo ano, a lutarenhida entre árabes e israelenses, no deserto do Sinai e nas colinas de Golã,serviudealertaquantoaospotenciaisriscosedesafiosdeumconfrontodiretoentreforçasregularesdemaiorenvergadura.Estavaclaroquealgoprecisavaserfeito.

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Inaugurando um período de enormesmudanças, foi criado, ainda em 1973, oComandodeInstruçãoeDoutrina(TrainingandDoctrineCommand–TRADOC).Em1976,erapublicadanovaediçãodoManualdeCampanha100-5,Operações(FM100-5,Operations)dandoênfaseàquiloque ficouconhecidocomo “DefesaAtiva”. Em 1982, foi apresentada nova versão do manual, cujo teor revisadoabandonava a proposição defensiva anterior e trazia como grande inovaçãodoutrináriaoconceitode“BatalhaAr-Terra”15.

OnavioArcadaPaz(T-AH866)daMarinhadoExércitodeLibertaçãoPopulardaRepúblicaPopulardaChinafoiumdos42naviosesubmarinosquerepresentaramquinzenaçõesparceirasduranteoExercícioRIMPAC2014.AChinaenviouessenavioemmissãodeajudahumanitáriaàVenezuela.(Foto:USNavy/2ºSargento

ShannonRenfroe).

Em1991,quandotropasnorte-americanaslutarampelalibertaçãodoKuwait,adoutrinada“BatalhaAr-Terra”representouocombatedearmascombinadasemseuestadodaarte.Soldadosbemtreinados,conduzidosporlíderescompetentes,dispunham da mais moderna tecnologia de combate. Décadas de vultososinvestimentos empesquisa e desenvolvimento resultaramnosmais avançadossistemas de armas e equipamentos de emprego militar: carros de combateAbrams,viaturasblindadasBradley,helicópterosdeataqueApacheedeassaltoBlackHawk,caçasF-18Hornet,bombardeiosstealthF-117eumainfinidadedeoutrosmeios, incluindo veículos aéreos não tripulados, informações satelitais,equipamentosoptrônicosdevisãonoturnaesofisticadosrecursosdepontariaeguiagem a laser. Além disso, sistemas de redes robustos integraramcomputadores ao processo decisório, assegurando tanto o aumento dacapacidadedecomandoe controledoscomandantes táticosquantooempregosincronizado das unidades de combate16. A campanha cognominada OperaçãoDesert Storm foi amais rápida emais completa vitóriamilitar da história dosEUA17.

Entretanto, a despeito do sucesso, os líderes militares norte-americanosadmitiam que suas forças armadas necessitavam sofrer reformulações. Adoutrinada“BatalhaAr-Terra”foraconcebidacomopropósitodesobrepujarasforças do Pacto de Varsóvia, no teatro de guerra europeu. Nessa hipótese, astropas norte-americanas disporiam de unidades pré-posicionadas e dainfraestrutura da Europa ocidental: portos, aeroportos, depósitos, armazéns,hospitais,extensamalharodoferroviária,basesmilitares,etc.AGuerradoGolfo

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de1991evidenciouque,nomundopós-GuerraFria,osEUAdeveriamestaraptosadesdobrarem, com rapidez, tropas emqualquerpartedoplaneta, projetandoforçaapartirdeseupróprioterritório.

O cerne do problema residia no fato de que o Exército dos EUA possuía,basicamente, dois tipos de unidades: as leves (infantaria), capazes de sedesdobrar com a rapidez necessária, porém dotadas de um poder relativo decombatetalqueasimpediadeconduziroperaçõesindependentes;easpesadas(blindadas), cujo grande poder relativo de combate assegurava-lhes acapacidade de operar de forma isolada; no entanto, partindo da América doNorte, consumiam um tempo excessivo para se encontrarem prontas em umalongínqua zona de guerra. Era preciso, portanto, dispor de estruturasintermediárias, isto é, forças combinadas demédio porte – rápidas o bastanteparaatenderemaqualquercontingênciaesuficientementefortespara,sozinhas,engajarem qualquer tipo de inimigo18. Surgiu assim a Brigada Stryker (StrikerBrigadeCombatTeam – SBCT), capaz de projetar força em qualquer ponto dogloboemumprazode96horaseoperardeformaindependenteporatédezdias,incluindo72horasdeefetivocombate19.

Com as perspectivas de uma “nova ordem mundial” hegemônica advinda docolapsodaUniãoSoviéticaedofimdaGuerraFria,alémdeexponenciaisavançosnocampodaciênciaetecnologia(guerracentradaemredes,armasinteligentes,drones,etc.),osEUAesperavamalcançarvitóriasrápidas,decisivasecomumaincidênciamínimadebaixasedanoscolaterais.A ferramentaconceitual comaqual os militares norte-americanos acreditavam ser possível obter taisresultados denominava-se “Operações Baseadas em Efeito”20. Uma campanhafulminante, aplicando poder de combate reduzido, porém avassalador, deveriaobedeceràteoriado“ChoqueePavor”deHarllamUllmaneJamesWade21.Essasforamaspremissasqueguiaramastropasnorte-americanasduranteos21diasda exitosa ofensiva que destituiu Saddam Hussein do poder no Iraque, em200322.

Entretanto,asaçõesempreendidasnaÁsiaCentralenoOrienteMédioemnomeda“GuerraGlobalContraoTerror”deraminícioa longascampanhasdecontrainsurgência. A despeito da notável proficiência tática exibida nos campos debatalha, seus resultados imediatos não foram apenas insatisfatórios, mas, dopontodevistapolíticoeestratégico,representaramumverdadeirodesastre.

Depois de 15 anos de esforços militares no Afeganistão, a guerrilha Talibãcontrolava uma área maior do que aquela que possuía quando as primeirasequipesdeforçasespeciaisnorte-americanasingressaramnopaís.Alémdisso,aprodução de ópio e, por conseguinte, o tráfico de heroína aumentaramsignificativamente.Tampoucoseextirpouaameaça representadapor islamitasradicais e outras organizações extremistas23. De acordo com JohnArquilla, em2001, ocorreram cerca de dois mil incidentes passíveis de serem qualificadoscomoatentadosterroristasemtodoomundo.Essasaçõesdeixaramumsaldode,aproximadamente, quatorzemilmortos e feridos. Em2015, o total de ataqueschegou a quinze mil e o número de vítimas alcançou a cifra de oitenta milpessoas24.

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Na verdade, as iniciativasmilitares lideradas porWashington em resposta aosatentados terroristas de 11 de Setembro conflagraram todo o volátil OrienteMédio, com a ingênua presunção de disseminar a democracia ocidental. Oslevantes populares da chamada Primavera Árabe, em pouco tempo, sedegeneraramemlutafratricida.Ondasderefugiados,provenientesdosconflitosna Líbia e na Síria, inundaram a Turquia, o Líbano, a Jordânia e, em menormedida, a Europa. Além de revelar a tragédia humanitária, o fluxomigratórioparaoVelhoMundotemcausadoenormeimpactodemográfico,cultural,políticoeeconômico,cujasconsequências,atéomomento,nãopodemsercorretamenteavaliadas.Ademais,oimbrógliocriadopelaefêmeraascensãodoEstadoIslâmicoeasobrevivênciadocombalidoregimedoditadorBasharal-Assad,emDamasco,permitiuareinserçãodaRússiacomoatordedestaquenaregião.Comosenãobastasse, o Irã – principal antagonista norte-americano no Oriente Médio –tornou-seomaiorbeneficiáriodasguerrasdoAfeganistãoedoIraque.Afinal,oque, de fato, se conseguiu com ambas as intervenções foi a deposição deautocraciasanti-xiitasradicaisemCabuleBagdá,restaurandoahistóricaáreadeinfluênciadoImpérioPersa.

Mas,aoretornaremda“LongaGuerra”,ossoldadosdosEUAsedepararamcomum cenário geopolítico significativamente distinto daquele que existia há 15anos,quandoiniciaramsualutacontraaAlQaedaeoutrasorganizaçõesfiliadas,representantes do salafismo jihadista internacional25. A hegemonia norte-americana tornara-se contestada por Estados nacionais que demonstramcapacidade crescente de se oporem ao poderio bélico norte-americano emtermos regionais ou que estão, efetivamente, determinados a reduzir a suainfluência em áreas críticas ao redor do mundo. Ou seja, Rússia, China, Irã eCoreia do Norte – explicitamente nominados nas páginas do novo manual e,doravante,considerados“ameaçascompoderdecombateequiparadoouquaseequiparado”26.DeacordocomoGeneralMichaelLundy,comandantedoCentrodeArmasCombinadaseresponsávelpelamaisrecenteversãodoFM3-0:“comooExércitoeasforçasconjuntassemantiveramfocadasnacontrainsurgênciaeno contraterrorismo, nossos adversários observaram, aprenderam, adaptaram,modernizaram-seeconceberamestratégiasquenoscolocamemumaposiçãoderelativadesvantagememlugaresondenós,talvez,tenhamosdelutar”27.

SegundooMajorAlessi-Friedlander,doExércitodosEUA,“hámuitosparalelosentreoqueoExércitodosEUAestávivendohojeeoqueenfrentouhá40anos.[...]ApósmaisdeumadécadanosarrozaiseselvasdoVietnã,oExércitodosEUAse viu completamente despreparado para um potencial ataque pelo ExércitoVermelho e seus aliados”28. Decerto, essa perspectiva sugere um retorno àstradicionais formas de beligerância, isto é, o “American way of war”, emdetrimento da complexa e, aparentemente, infrutífera luta contra atoresarmadosnãoestatais.

Ao tentarem formular o “novo” problema que tinham diante de si, osdoutrinadores norte-americanos identificaram algumas condicionantes quedeveriam, necessariamente, guiar-lhes na busca de uma solução apropriada,quaissejam:

• dareminícioaumacampanhamilitaremsituaçãodedesvantagem;

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• verem-sedesafiados,simultaneamente,emtodososdomínios(terrestre,naval,aéreo,espacialecibernético);

• operarememumambienteregidopor“atividadehipercaótica”,cujoritmoacelerado dos acontecimentos estabelecerá novos padrões de tempo eumadinâmica,consideravelmente,maisrápidaeintensa;e

• engajarem-se emum campode batalha exponencialmentemais letal doqueasruasdeBagdáouasremotasmontanhasdoHinduKush.

Assim sendo, o cerne do novo FM 3-0 enfatiza, de forma objetiva, o combateconvencionalemlargaescala,abrangendotodososcincodomíniosmencionadosanteriormente,alémdosesforçosnoambienteinformacional.Pretende-sequeaaçãodecisiva contraumaameaçadotadadepoderiobélicoequivalente resulteda hábil combinação entre operações ofensivas, defensivas e de estabilidade,instrumentalizadas por meio de manobras conjuntas sofisticadas einterdependentes, denominadas “Combate em Múltiplos Domínios” (Multi-DomainBattle).

AMEAÇAS COM PODER DE COMBATE EQUIPARADO O fato deRússia, China e Irã desafiarem a hegemonia norte-americana retratauma dinâmica multipolar muito próxima do cenário previsto por SamuelHuntingtonemsuacontroversaobraOChoquedeCivilizaçõeseaRecomposiçãoda Ordem Mundial29. De qualquer forma, as preocupações do governo deWashington não parecem infundadas diante da redefinição do arranjogeopolíticoglobal.

ARússiatentarestauraroprestígio,opodereainfluênciaperdidosaotérminodaGuerraFria.Emagostode2008,Moscou,sobalegaçãodeapoiaromovimentoemancipacionista da Ossétia do Sul, lançou uma rápida e decisiva ofensivaterrestre contra a Geórgia, no Cáucaso. No ano de 2014, em resposta àaproximaçãodaUcrâniacomaUniãoEuropeia,oKremlininterveiomilitarmenteem favor dos separatistas na bacia do rio Donetz, anexando a estratégicapenínsuladaCriméia,noMarNegro,cujoportodeSebastopolédeimportânciacapitalparaafrotarussa.Desdesetembrode2015,ogovernodeVladimirPutinvemseenvolvendonaguerracivilsíria,oquelhepermitiuresgatarpartedesuarelevância no Oriente Médio, além de obter vantagens expressivas, como oarrendamento do porto de Tartus, no Mar Mediterrâneo, pelos próximos 49anos30. As atividades cibernéticas russas, como o ataque contra a Estônia em2007 e a suposta interferência nas eleições presidenciais dos EUA em 2016,denotam não apenas um nível avançado de capacidades, como também apredisposição para utilizá-las31. Ademais, a Rússia tem renovado osinvestimentos em sua indústria de defesa, como demonstram a aquisição docaça-bombardeiroSukhoiSu-34eodesenvolvimentodocarrodecombateT-14Armata e das aeronaves Su-57 e MiG-3532. Acredita-se que, em algumastecnologias críticas emergentes, como velocidade hipersônica, por exemplo, osrussosjáestejamàfrentedosnorte-americanos33.

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OPresidentedaChina,XiJinping,cumprimentaoPresidentebolivianoEvoMoralesnoGrandeSalãodoPovo,emPequim(Beijing),19deJunhode2018.AChinapretenderealizarinvestimentosexpressivosnaeconomiaboliviana,sobretudo,emsuainfraestruturaenergética.ABolíviaéoúnicopaíssul-americanoqueabrange,

concomitantemente,asregiõesandina,platinaeamazônica.(Foto:KyodoviaAPImages).

AChina,noperíodocompreendidoentre1996e2017,expandiuem665%seusgastos com defesa, incluindo investimentos em forças aeronavais e odesenvolvimentodesistemasantissatélites34.SuaspretensõesemrelaçãoaoMardo Sul da China têm chamado a atenção dos EUA e seus aliados na zona doPacífico.Oestabelecimentoderobustasbasesmilitaresemrecifesartificiaisnaáreadelimitadapela“LinhadosNoveTraços”temopotencialdeassegurar-lheocontrole militar da região, impedindo o acesso de forças norte-americanasàquele eventual teatro de guerra (não por acaso, o componente terrestre doComando do Pacífico recebeu a incumbência de implementar a doutrina do“CombateemMúltiplosDomínios”).AChinatambéméacusadadeenvolvimentoemmetadedosciberataquesrealizados,emtodoomundo,entreosanosde2005e 201735. Ademais, o governo de Pequim (Beijing) tem demonstrado enormecomplacênciaemrelaçãoaosavançosdoprogramanucleardavizinhaCoréiadoNorte.Entretanto,orecursomaiseficazdagrandeestratégiachinesatemsidoa“geoeconomia”, isto é, “o uso de instrumentos econômicos para promover edefender interessesnacionaiseproduzir resultadosgeopolíticos”36.Valendo-sede um capitalismo estatal poderoso e agressivo, orientado não pela dinâmicaimprevisível e imediatista das regras do mercado, mas pela consecução dosobjetivospolíticosnacionaisdemais longoprazo,aChina, comclaravantagemcompetitiva, tem diversificado e expandido seus acordos comerciais e decooperação econômica, penetrando profundamente em áreas estrategicamentesensíveis comoaAméricaLatina, por exemplo – tradicional zonade influêncianorte-americana. Além disso, os chineses têm sido bem-sucedidos na delicadaquestãoqueenvolvea“captura”depropriedadeintelectual.Pareceprovávelque,

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duranteamaiorpartedahistóriadahumanidade,amilenarChinatenhasidoamaior economia do planeta. Projeções plausíveis indicam que, em bem poucotempo,voltaráaser37.

O Irã, a despeito das pressões da comunidade internacional, permanecedeterminado a levar adiante seu programa nuclear. O governo teocrático deTeerãdisputacomadinastiawahabistadaArábiaSauditaahegemoniaculturalsobre o mundo muçulmano. Os conflitos no Afeganistão, Iraque e Síriapermitiram-lhe ampliar sua influência sobre o chamado “arco xiita”, que seestende do oeste do Afeganistão ao sul do Líbano, passando pelos antigosterritórios da Pérsia, Mesopotâmia e Síria. Seus estreitos vínculos com oHezbollah e suposto envolvimento com outras organizações extremistasdenotam sua participação no terrorismo internacional. Alguns especialistasadvogamqueaGuerradoLíbanode2006,entreasForçasdeDefesadeIsraeleoHezbollah,foiumlaboratório,ondesetestaramastáticasterrestresassimétricasdesenvolvidas pelo Irã38. Mais recentemente, o engajamento em defesa doregime daminoria alauita de Bashar al-Assad resultou na presença de tropasiranianas juntoà fronteiradeIsrael.Emmaiode2018,autoridades israelensesacusaramoIrãdebombardearposiçõesdoexércitonascolinasdeGolã39.

GeneralValeryGerasimov,ChefedoEstado-MaiorGeraldasForçasArmadasdaFederaçãoRussa(FotocedidapeloMinistériodaDefesadaFederaçãoRussa).

Naturalmente, Rússia, China e Irã, também, veem a política externa deWashingtoncomgrandetemor.ApresençaglobaldosEUAinterfereemquestõesregionais específicas, que sob a ótica dessas potências, lhes dizem respeito. Opodereconômiconorte-americanoéconsideradoinvasivoeseuarsenalatômicoameaçador.Moscou se ressente da influência ocidental, cada vezmaior, sobrepaíseslimítrofesque,historicamente,têmorbitadoemtornodaRússia,comoéo

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casodenaçõesdoMarBáltico,doCáucasoedaÁsiaCentral.Damesmaforma,ogovernodePequimdesaprovaapresençamilitarnorte-americananapenínsulada Coreia e o tratamento dispensado a Taiwan. Teerã rejeita cabalmente aingerênciadosEUAnoOrienteMédio,incluindooapoiodadoàdinastiasaudita,aoEstadodeIsraeleàspretensõesnacionalistascurdas.

Considerando que os três países (Rússia, China e Irã) não adotam regimes degoverno democráticos, a disseminação do liberalismo político associado avalores ocidentais lhes parece, particularmente, nociva. As chamadas“Revoluções Coloridas” são vistas com grande temor, a exemplo da RevoluçãoRosa na Geórgia (2003), Revolução Laranja na Ucrânia (2004), Revolução doCedro no Líbano (2005) ou a Revolução da Tulipa no Quirguistão (2005).Convémlembrarque,em2009,cercadetrêsmilhõesdepessoasforamàsruasdeTeerãparaprotestar contra a reeleiçãodeMahmoudAhmadinejad40.Nãoédifícil entender tais preocupações, diante das palavras proferidas pelocomandante de operações especiais dos EUA no continente europeu, emnovembrode2014,duranteumsemináriorealizadonaEstônia:

Ascondiçõesde2014sãodiferentesdaquelasde1944,easferramentascomasquaisaguerranãoconvencionalétravada,hoje,diferemenormemente.Nósdevemosdeixaravisãonostálgicadasremotasbasesdeguerrilhaemterritórios inacessíveis e nos adaptarmos a um mundo de comunicaçõesinstantâneas, transferência de dados, resistência não violenta, guerracibernéticaeeconômica,emanipulaçãoda lei internacionalparaminarasoberania nacional. [...] Na nossa era, é mais provável que a guerra nãoconvencionalassumaa formadeummovimentoderesistênciacivil,aindaque manipulado por poderes estrangeiros, que provoque uma respostaviolenta das autoridades, com o propósito de destruir a legitimidade dogoverno aos olhos da comunidade internacional. Empreender e enfrentaressanovaformadeguerranãoconvencionaldemandagrandesofisticaçãoeagilidade41.

Ou seja, o atual ambiente geopolítico parece tão hostil e desafiador sob aperspectiva russa, chinesa ou iraniana quanto sob o ponto de vista norte-americano.Masqualalógicaembutidanasiniciativasestratégicaslevadasacabopelos “Estados com poder de combate equiparado”? E, sobretudo, quais asimplicaçõesdessasiniciativasparaadoutrinaexpressanoFM3-0?

Espectadores da surpreendente demonstração do poderio bélico norte-americanoduranteaGuerradoGolfoem1991,essespaísesseconvenceramdequeosEUAhaviamsetornadovirtualmenteimbatíveisemumcampodebatalhaconvencional.Nenhumaoutraforçaarmadadoplanetapoderiaconfrontar-lhes,aventurando-se em um embate campal direto, conduzido de acordo com aortodoxiaque,atéentão,haviaregidoaguerraentreasnações42.

Anosmaistarde,emfevereirode1999,doisoficiaisdaForçaAéreachinesa,QiaoLiangeWangXiangsui,publicaramumlivrointitulado“Aguerraalémdoslimites:conjecturas sobreaguerraea táticanaeradaglobalização”. A obra propunhaações e procedimentosque transcendiamasusuais táticasmilitares, visando acompensar a inferioridade militar de países emergentes, como a China em

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particular, no caso de um conflito envolvendo meios de alta tecnologia43.Segundoosautores:

A guerra como nós a conhecíamos, descrita em termos gloriosos edominantes, até a conclusão do recente conflito, marcando um ápice nahistóriamilitar,deixoudeserconsideradaumdosmaisimportanteseventosnocenáriomundial,epassouateraimportânciadeumatorsecundário.[...]A questão é que as forçasmultinacionais lideradas pelos Estados Unidos,operandona regiãodesérticadoKuwait,marcaramo fimdeumperíodo,inaugurando,assim,umanovaera.[...]Tudoissoaindaéindeterminado.Aúnicaconclusãocertaéadeque,apartirdeagora,aguerranãoserámaiscomosemprefoi. [...]Aguerra,quesesubmeteuàsmudançasdamodernatecnologia e do sistema demercado, será desencadeada de formas aindamais atípicas. Em outras palavras, enquanto presenciamos uma relativaredução na violência militar, estamos evidenciando, definitivamente, umaumentonaviolênciapolítica,econômicaetecnológica44.

Recentemente, o Chefe do Estado-Maior Geral da Rússia, General ValeryGerasimov, também fez menção à adoção de estratégias mais ecléticas, nãocalcadasexclusivamentenousodoinstrumentomilitar:

A ênfase no conteúdo dos métodos de enfrentamento está mudando emdireçãoaoamploempregodemedidaspolíticas,econômicas,diplomáticas,informacionais e outras medidas não militares, implementadas com oenvolvimentodopotencialdeprotestodeumapopulação.Formasemeiosnão militares de luta têm sido objeto de um desenvolvimento semprecedentes,adquirindoumcaráterperigosoe,àsvezes,violento45.

Assimsendo,acondutados“Estadoscompoderdecombateequiparado”parecesesubordinar,claramente,atrêspremissas:

• Umembatediretocontraas forçasarmadasdosEUAseriaextremamentedesvantajosoearriscadoe,portanto,deveserevitado.

• Outros meios, que não as alternativas militares tradicionais, devem serempregadosna consecuçãodosobjetivosnacionais; isso significaatribuirmaior ênfase às ações políticas, diplomáticas, geoeconômicas einformacionais, em detrimento das ações no campo militar, bem comodesenvolveroutrosmétodosindiretosdeengajamento,como,porexemplo,guerranãoconvencional,operaçõesdeinformaçãoeguerracibernética.

• Dispordepoderiobélicoconvencionalque,emboranãosejasuficienteparalhes assegurar uma vitória militar definitiva sobre os EUA, permita-lhesalterar a relação custo benefício de uma eventual intervenção norte-americana, tornando-a desvantajosa e criando, assim, um impasseestratégico do qual possam tirar proveito, explorando as ambiguidades econtradiçõesdosistemainternacional.

Dessa forma, asopçõespolíticas e estratégicas traçadasporMoscou,PequimeTeerã se desenvolvem, em linhas gerais, de acordo com a seguinte sequêncialógica:

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1. Emprego “agressivo” de meios não militares, apoiados por alternativasmilitares de efeito não cinético (não letais), sobretudo operações deinformaçãoeguerracibernética.Issolhespermitemoldaroambienteaseufavor,reduzindoprogressivamenteainfluênciaeopoderdeingerênciadosEUAemdeterminadaáreageográfica,aomesmotempoquelhesasseguraexpandir sua própria presença no âmbito regional. As iniciativasgeoeconômicasempreendidaspeloschinesesnaÁfricaenaAméricaLatinaseprestamcomoexemplo,assimcomoasaçõeslevadasaefeitoporTeerãjuntoàsforçaspolíticasxiitasdoAfeganistão,Iraque,SíriaeLíbano.

2. Emprego de meios militares para alcançar objetivos estratégicos, sem,contudo,provocarumaintervençãonorte-americana.Issosignificaadmitiruma escalada violenta do conflito até um limite que anteceda uma açãodecisiva do governo de Washington. Nessa fase, é possível observar oempregolimitadodeforçasconvencionais,combinadocomohábilusodeferramentasdiplomáticaseinformacionais,alémdepráticasdeguerranãoconvencional,sobretudo,ointensousodeproxies,comoosrussostêmfeitoapoiandoosseparatistasnolestedaUcrâniaepormeiodemilíciasxiitasedoWagnerGroup,umacompanhiamilitarprivadaaserviçodoKremlin,naguerracivil síria46;bemcomoo IrãpormeiodoHezbollahedo Janudal-Madhi,porexemplo.

3. Eventualempregodecapacidadesdeanti-acessoenegaçãodeárea(A2-AD,na sigla em inglês), valendo-se de sofisticadosmeios aéreos, navais e dedefesa antimísseis, apoiados por operações de informação, atividadescibernéticasedeguerraeletrônica,afimderestringiroingressodeforçasnorte-americanasnoteatrodeoperações.

Essecenárioambíguoedifusotemcolocadoemgrandeevidênciaosconceitosde“GuerraHíbrida”e“ZonaCinza”.DeacordocomHalBrands,o“conflitonazonacinzaéumaatividadecoercitivaeagressivapornatureza,masdeliberadamenteconcebida para permanecer abaixo dos limites de um conflito militarconvencional”47. Ou seja, “a Zona Cinza se caracteriza por uma intensacompetição política, econômica, informacional e militar, mais acirrada que adiplomacia tradicional, porém inferior à guerra convencional”48. O próprioGeneralGerasimovadmiteque“atualmente,oobscurecimentodadistinçãoentreestadodeguerraedepazéóbvio”49.

SegundoJohnTroxell,“aguerradeinformação,guerracibernéticaecompetiçãoeconômicainternacionalnãosãonecessariamentenovasabordagensoumétodosparaosEstadosbuscaremobjetivosde segurançanacional,maso contextoemque estão sendo aplicadas e a importância que assumiram são algosignificativamente novo”50. O que temos, de fato, é o exercício da tradicionalrealpolitik com umportfóliomais diversificado demeios e, talvez, commenosamarras morais. Não apenas os Estados fazem parte dessa dinâmica. Afinal,diante da vigorosa ascensão de atores não estatais (armados ou não) e doadvento da sociedade pós-industrial, a ordem internacional tornou-sevisivelmentemaiscomplexa,apontodecolocaremdúvidaaprópriaeficáciadosistemawestfaliano.

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As disputas geopolíticas sempre foram comparadas a uma partida de xadrez.Entretanto, parecem existir novas regras em um mundo globalizado eprofundamenteafetadopelaRevoluçãoDigital,noqualasdistânciaseo tempoforamvirtualmenteabolidoseopodersensivelmentedegradado51.Imaginemos,então, um tabuleiro que comportamais de dois adversários aomesmo tempo.Algumaspeçassãoautônomas,possuemvontadeprópria,movendo-sedeformaindependente. O perfil de jogo das peças sofre modificações no decorrer dapartida–atorreavançanadiagonalcomoumbispo,eumpeãoretrocedeváriascasas! Os jogadores são livres para se movimentarem sem respeitar o tempodestinado aos outros adversários... Possivelmente, essa analogia retrate oscomplexosdesafiosdoséculoXXIdeformamaisapropriada52.

FIGURA1:RelaçãoentreospapéisestratégicosdoExércitoeasfasesconjuntas.

As implicaçõesde tudo issopara adoutrina expressanoFM3-0 são claras: asforças militares norte-americanas, provavelmente, terão de desempenhar umpapel estratégico importante nas fases que antecedem a deflagração de umaguerratotalounopós-conflito.Decertoserãoexigidascapacidadessofisticadasemdomínios contestadosporadversários compoderiobélicoequiparado.Masmuitodificilmente, travarãoumcombateconvencionalde largaescalaem todasua plenitude, como advogam os mais ortodoxos discípulos de Clausewitz(FIGURA1).

OpróprioFM3-0reconhecequeosadversáriosdosEUApreferematingirseusobjetivossemengajaremdiretamentesuasforçasemcombate53.Evaialém:“asforças opostas retratam inimigos dotados de moderna tecnologia para gerarcombinações de ameaças convencionais, irregulares e disruptivas em cada umdoscincodomíniosenoambienteinformacional”54,ouseja,adversáriosaptosatravaraGuerraHíbrida.SegundooCoronelPatProctor,doExércitodosEUA:

DesdeofimdaGuerradoVietnã,oExércitotevedelutarumtotalinferioratrintadiasdecombatesdealtaintensidade.

No mesmo período, ele travou dezenas de conflitos de baixa intensidade,muitos dos quais duraram anos. Já é tempo de o Exército redefinir a simesmo,nãoapenasparalutarevencerbatalhas,masparalutarevenceras

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guerrasqueaNaçãoexige– incluindoaconfusa fasedeestabilidadepós-conflitodasguerrasfuturas55.

Issonos levaaoutroponto fundamentale irrefutável:vivemosemumaeradepredomínioabsolutodeviolênciaarmadanãoestatal.DeacordocomSebastianGorka, nos últimos duzentos anos, ocorreram 460 guerras, das quais mais de80% foram guerras irregulares, isto é, conflitos protagonizados por atoresarmados não estatais56. Na década de 1990, esse percentual chegou a 96%57,obedecendoàtendênciaidentificadaapósotérminodaSegundaGuerraMundial,em1945,equesemantématéosdiasatuais,comodemonstraaFIGURA2.

FIGURA2:Naturezadosconflitosarmadosentre1946e2017.

DavidKilcullenchamaaatençãoparaofatodeque:

Conflitos entre Estados sempre foram relativamente raros e estão setornandocadavezmenosfrequentes.Poroutrolado,aguerrairregulartemsidohistoricamenteaprincipalformadeviolênciaorganizadaaoredordoplaneta e é provável que continue assim [...] Com o arrefecimento dasguerrasnoIraqueenoAfeganistão,orenovadofocodosEUAemameaçasconvencionais só irá reforçar essa tendência, uma vez que a supremaciamilitar norte-americana significa que nenhum inimigo, no seu juízoperfeito,irápreferirlutarumaguerraconvencionalcontraasforçasnorte-americanas,e isso induztodososseuspotenciaisadversários–estataisounão–aousodemétodosirregulares[...]

Emparticular,osgovernosqueadquiriremarmasnucleares,asquais lhespermitirão dissuadir ataques convencionais, deverão patrocinar ‘guerrasporprocuração’contraseusoponentes”58.

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TalafirmaçãoencontrarespaldonaacirradacorridaarmamentistaqueseseguiuaotérminodaSegundaGuerraMundial.AferozdisputaentreosEUAeaUniãoSoviética,duranteaGuerraFria,levouaumequilíbriodosarsenaisatômicosdeambas superpotências. Os riscos inaceitáveis de uma hecatombe nuclear,postuladosdeacordocomateoriada“DestruiçãoMútuaAssegurada”(MAD,nasigla em inglês – Mutual Assured Destruction)59, descartaram a opção de umconfrontodiretoentreas forçasdaOrganizaçãodoTratadodoAtlânticoNorte(OTAN) e do Pacto de Varsóvia na Europa. Por conseguinte, o embate foitraspassado para a via indireta do Terceiro Mundo. O que se pôde observar,nesseperíodo, foiuma incontidaproliferaçãodeconflitosdebaixa intensidadeaoredordoplaneta60.

Segundo o General Álvaro de Souza Pinheiro, “a probabilidade de conflitos demaior intensidade entre Estados nacionais desenvolvidos está decrescendosensivelmente; mesmo que se aceite a possibilidade realística da eclosão deconfrontaçõesarmadasentreatoresestatais,omaisprováveléqueempreguemmétodos assimétricos de guerra”61. Em um artigo para o Washington Post, ocolunista Max Boot foi ainda mais enfático, assegurando que os EUA estão,simplesmente,sepreparandoparalutaraguerraerrada62.

Naverdade,ossoldadosnorte-americanosseveempresosemumparadoxo,quepoderíamos chamar de “paradoxo do poder hegemônico”. Isto é, os EUA sãoobrigados a envidar esforços e investimentos expressivos, a fim de obter umasuperioridadebélicaincontestável,quelhesdá,apenas,acertezadequelutarãoemguerrasnãoconvencionaiseconflitosassimétricos.Afinal,comoobservouoGeneralRupert Smithemsua consagradaobra “AUtilidadedaForça:aArtedaGuerra no mundo moderno”: “o adversário costuma jogar com as nossasfraquezas e não com os nossos pontos fortes”63. De certa forma, o GeneralMichaelLundyeoCoronelRichardCreedadmitemessaaparentecontradiçãoaoafirmarem que as “forças do Exército não podem se dar ao luxo de seconcentraremexclusivamentenocombateterrestredegrandevultoàcustadasdemaismissõesqueanaçãodelasrequer,mas,aosmesmotempo,nãopodemsedaraoluxodeestaremdespreparadasparaaqueleprimeirotipodeoperaçãoemummundocadavezmaisinstável”64.

Embora o novo FM 3-0 atribua, de forma explícita, ênfase ao combateconvencionalentreforçasregularesdemaiorenvergadura,adoutrinaexpressaemsuaspáginasnãosegrega“operaçõesdeguerra”e“nãoguerra”,admitindoapossibilidadedequeoExércitodosEUA,nodesempenhodetodososseuspapéisestratégicos (FIGURA 1), engaje-se em operações de contra insurgência, ajudahumanitária, assistência militar, dentre outras, no contexto de operações deestabilidademais amplas. Alémdisso, advoga o recurso à guerra irregular nosníveis estratégico e operacional65.Mais importante, ainda, reconhece que umaofensiva calcada no poderio bélico convencional, por mais bem-sucedida quepossaser,talvez,nãorepresenteoatodecisivodeumacampanhamilitar.Afinal,“osucessotáticovencebatalhas,masnãoéosuficienteparavencerguerras”66.

Seusidealizadoressabemquenãosetratadeumaobraacabada.Espera-sequeosdebatesemtornoda“nova”doutrinaestimulemnovasmudanças67.Porém,étemerário que os soldados profissionais cedam à tentação de se dedicarem

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exclusivamente (ou quase exclusivamente) às operações de combate em largaescala,seapegandoaofalaciosoadágio“quempodemais,podemenos”.Afinal,ahistória militar demonstra, de forma inequívoca, que poderosos exércitos,concebidospara travaremgrandesbatalhas de atrito, quase sempre fracassamdiantedeobstinadasforçasirregularesesuastáticasheterodoxas.Comoconstado próprio FM 3-0: “uma força, qualitativa e quantitativamente, inferior podederrotaruminimigosuperior,sepuderditarostermosdocombate”68.Essassãoadvertências importantes diante de “ameaças com poder de combateequiparado”, que têmexibido enormepropensãopara iniciativas apoiadas nosconceitosde“GuerraHíbrida”e“ZonaCinza”.

CONCLUSÃO Os Estados nacionais, como entes políticos, ainda competem acirradamenteentresi,guiadospelaraisond’étatepelospreceitosrealistasdaescoladeHansMorgenthau.Todavia,têmdiversificadoasformasdeenfrentamentoeprocuradoreduziravisibilidadedesuasaçõesestratégicas,emfacedeumaopiniãopúblicacadavezmaisintoleranteeimpacienteemenosdispostaaarcarcomoscustosde uma guerra total. Guerra cibernética, guerra da informação, guerrapsicológicaeoperaçõesclandestinas(BlackOps)sãoapenasalgunsdosrecursoslargamente empregados, de modo conjugado, com alternativas não militares,visandoacomplementar,apoiar,ampliare,sobretudo,evitarumaconfrontaçãoformal69. Por esse motivo, talvez, seja prudente aprofundarmos os estudosrelativosà“GuerraHíbrida”e“ZonaCinza”,enquantobuscamosentendermelhora nova doutrina de “Combate emMúltiplosDomínios” – ainda que esta últimaexerça, naturalmente, maior fascínio sobre o imaginário dos soldadosprofissionais.

Indubitavelmente,adisponibilidadedepoderiobélicoconvencionalsemantémimprescindível,sobretudo,comofatordissuasório.SegundooGeneralLundyeoCoronelCreed:“ofatode[asforçasnorte-americanas]estarempreparadasparaocombateterrestredegrandevultogeraumadissuasãoconvincenteecontribuiparaaestabilidadeemâmbitomundial”70.

Entretanto, não há como negar que a violência armada não estatal, isto é, aguerra irregular, continuará sendo a formamais usual de conflito ao redor doplaneta.Portanto,umexércitoqueestejapreparado,apenas,paraasoperaçõesde combate em larga escala representará mais um estorvo do que um trunfodiantedoscenários“voláteis,incertos,complexoseambíguos”doséculoXXI.Asforças armadas que almejam ser bem-sucedidas deverão, necessariamente, sercapazes de realizar rápida transição entre conflitos que apresentem níveisvariáveis de intensidade, lutando em um ou mais teatros de operaçõessimultaneamente.Mas,alémdisso,elasdeverãodemonstraraptidãoparatravarasguerrasregulareirregularnomesmoteatro,aomesmotempoecomamesmaproficiência. Isso exige que as competências necessárias para sobrepujaradversáriosestataisenãoestataissejam,concomitantemente,desenvolvidasaolongo de todo o processo de preparo profissional da Força e não de formasegregada,comotemsidousual.

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Embora, há muitas décadas, a enorme influência norte-americana sobre adoutrina militar terrestre brasileira seja inegável e indispensável, a meraincorporação de preceitos teóricos vigentes no Exército dos EUA, sem umentendimento mais amplo das circunstâncias que os envolvem, pode,inadvertidamente,noslevaràadesãoaalgumasideiasdissonantesdarealidadenacional, do cenáriopolítico internacionaloudo contextohistóricovividopelahumanidade.Háquese tercautelaquandodiscussõeseminentemente táticasetécnicas têm lugar sem uma clara orientação política e estratégica. Em ummundonoqualaguerravemsendotravadadediferentesformasenão,apenas,pelo fogodos canhões, faz-senecessáriaumavisãomais ampla e coerentedasquestõesligadasàSegurançaeDefesa.Acapacidadeparaconduziroperaçõesdecombateemlargaescaladeformaeficazéessencial,mas,semdúvida,nãoseráosuficienteparasalvaguardarosinteressesvitaisdasociedadeegarantiravitória.

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41.JosephL.Votel,CharlesT.Cleveland,CharlesT.ConnetteWillIrwin,“UnconventionalWarfareintheGrayZone”,JFQ80(1stQuarter2016),p.107-108.

42.AlessandroVisacro,AGuerranaEradaInformação,p.54.

43.QiaoLiangeWangXiangsui,UnrestrictedWarfare,(Beijing:People’sLiberationArmyLiteratureandArtsPublishingHouse,1999).[Otrechotraduzidofoiextraídodaversãoemportuguêsintitulada“Aguerraalémdoslimites:conjecturassobreaguerraeatáticanaeradaglobalização”,tradutordesconhecido,disponívelemhttps://pt.scribd.com/document/385434327/A-Guerra-Alem-Dos-Limites-Unrestricted-Warfare–N.DoT.]

44.Ibid.

45.ValeryGerasimov,“AGuerraContemporâneaeosProblemasAtuaisparaaDefesadoPaís”,MilitaryReview73,Nº3,EdiçãoBrasileira(TerceiroTrimestre2018),p.45.

46.FredericoAranha,“GuerraHíbrida:desvendandoaPMCWagner”,Defesanet(site),7Jul.2018,acessoem1ºdesetembrode2018,http://www.defesanet.com.br/russiadocs/noticia/29702/GUERRA-HI-BRIDA-%E2%80%93-Desvendando-a-%E2%80%9CPMC-WAGNER%E2%80%9D/.

47.JohnArquilla,“PerilsoftheGrayZone”,p.121.

48.Voteletal.,“UnconventionalWarfare”,p.102.

49.ValeryGerasimov,“AGuerraContemporânea”.

50.JohnF.Troxell,“Geoeconomia”,p.24.

51.SobreadegradaçãodopodervideMoisésNaím,OFimdoPoder:nassalasdadiretoriaounoscamposdebatalha,emIgrejasouEstados,porqueestarnopodernãoémaisoquecostumavaser(SãoPaulo:LeYa,2013).

52.Umaanalogiamaisinteressante,comparandooxadrezaoGo,éapresentadaporMarkMcNeilly,SunTzueaArtedaGuerraModerna(RiodeJaneiro:Record,2003),p.37.

53.FM3-0,Operations(Washington,DC:U.S.GPO,Oct.6,2017),p.1-9e3-4.

22 PRIORIZANDOASOPERAÇÕESDECOMBATECONVENCIONALEMLARGAESCALA VELHOGENERAL.COM.BR

54.Ibid.,p.2-54.

55.PatProctor,“LessonsUnlearned:ArmyTransformationandLow-IntensityConflict”,Parameters47,Nº4(Winter2017-18),p.45.

56.HilaryMatfesseMichaelMiklaucic,BeyondConvergence:WorldWithoutOrder(Washington:CenterforComplexOperations,2016),p.354e355.

57.AlessandroVisacro,GuerraIrregular,p.7.

58.DavidKilcullen,OutoftheMountains:thecomingageoftheurbanguerrilla(NovaIorque:Oxford,2013),p.103.

59.HenryKissinger,Diplomacia(SãoPaulo:Saraiva,2012),p.730.

60.AlessandroVisacro,GuerraIrregular,pp.23-25.

61.ÁlvarodeSouzaPinheiro,“CriseseconflitosnoséculoXXI:aevoluçãodasforçasdeoperaçõesespeciais”,noprelo.

62.MaxBoot,“TheUnitedStatesispreparingforthewrongwar”,TheWashingtonPost(site),Mar.29,2018,acessoem1ºdesetembrode2018,https://www.washingtonpost.com/opinions/the-united-states-is-preparing-for-the-wrong-war/2018/03/29/0c0553ae-336b-11e8-8bdd-cdb33a5eef83_story.html.

63.RupertSmith,AUtilidadedaForça:aArtedaGuerranomundomoderno(Lisboa:70,2005),p.10.

64.MikeLundyeRichCreed,“FM3-0Operações”,p.10.

65.FM3-0,Operations(Washington,DC:U.S.GPO,Oct.6,2017),p.7-2.

66.Ibid.,p.1-39ep.7-58.

67.MikeLundyeRichCreed,“FM3-0Operações”.

68.FM3-0,Operations(Washington,DC:U.S.GPO,Oct.6,2017),p.1-11.

69.AlessandroVisacro,GuerraIrregular,p.167.

70.MikeLundyeRichCreed,“FM3-0Operações”.

*AlessandroVisacroécoroneldoExércitoBrasileiro.FoideclaradoAspiranteaOficialdaarmadeInfantaria pela turmade 1991 daAcademiaMilitar dasAgulhasNegras. Possui o curso deAltosEstudosMilitaresdaEscoladeComandoeEstado-MaiordoExército.Exerceuasfunçõesdeoficialsubalterno no 29º BIB e no 26º BI Pqdt. Comandou a 3ª Cia F Esp e o 1º B F Esp. Foi oficial deoperaçõesdo2ºBatalhãodeInfantariadaForçadePazdo17ºcontingentebrasileiro,noHaiti,eChefe de Estado-Maior do Comando de Operações Especiais. É autor dos livros Guerra Irregular,LawrencedaArábiaeAGuerranaEradaInformação.