Post on 12-Nov-2018
RICARDO CAVALCANTE OLIVEIRA SANTOS
COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO MUSCULAR E PROPRIOCEPTIVO EM JOGADORAS DE VOLEIBOL E NÃO
ATLETAS
SÃO PAULO
2010
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID. Orientadora: Profª. Drª. Cristina Maria Nunes Cabral.
RICARDO CAVALCANTE OLIVEIRA SANTOS
COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO MUSCULAR E PROPRIOCEPTIVO EM JOGADORAS DE VOLEIBOL E NÃO
ATLETAS
UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO
UNICID
SÃO PAULO
2010
Dissertação apresentada como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Fisioterapia junto à Universidade Cidade de São Paulo - UNICID, sob a orientação da Profª. Drª. Cristina Maria Nunes Cabral.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho primeiramente à Deus pela vida e saúde proporcionada.
Aos meus pais Uilson e Cleide pelo exemplo de bons pais que me deram por
muitos anos e apoio financeiro sempre presente em minha carreira de estudos.
Às minhas maravilhosas filhas Milena e Marcela pela alegria vista em simples
sorrisos. E a minha querida esposa Luana pelo apoio em todos os momentos
da vida.
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Profª Drª Cristina M.N. Cabral pela ajuda e orientação do
trabalho. Aos professores do programa de mestrado em Fisioterapia por de
alguma forma terem participado desta formação, e aos professores da banca
pela ajuda no fechamento do trabalho. Aos professores Fabio Navarro Cyrillo e
Sérgio de Souza Pinto pela ajuda no aprendizado dos aparelhos utilizados
neste trabalho. As participantes do estudo que prontamente aceitaram fazer
parte desta etapa. Ao treinador Silvio, do clube de voleibol Guarulhos, por toda
disposição em colaborar com este estudo na obtenção dos resultados. Aos
amigos que auxiliaram na realização dos testes: Marcus Vinicius, Alessandra
Cabistrano, Ed Wilson, Pâmela Peyneau, Thalissa.
5
SUMÁRIO
Resumo .............................................................................................................. 6
1 Introdução...................................................................................................... 8
2 Objetivos ...................................................................................................... 19
2.1 Geral .................................................................................................................................. 19
2.2 Específicos ......................................................................................................................... 19
3 Métodos........................................................................................................ 20
3.1 Tipo do estudo................................................................................................................... 20
3.2 Sujeitos .............................................................................................................................. 20
3.3 Procedimento.................................................................................................................... 21
3.4 Análise dos dados.............................................................................................................. 24
4 Resultados ................................................................................................... 26
5 Discussão .................................................................................................... 29
6 Conclusão .................................................................................................... 35
7 Referências Bibliográficas ......................................................................... 36
Apêndice 1 ...................................................................................................... 41
Anexo 1 ........................................................................................................... 43
6
Resumo
Introdução: A propriocepção é uma variação especializada de uma
modalidade sensorial e atualmente é dividida em sensação de posição articular
(SPA) e cinestesia. Existe uma deficiência na literatura consultada de estudos
que relacionem o desempenho muscular de atletas de esportes que envolvem
membros superiores com a avaliação proprioceptiva. Esse tipo de avaliação é
importante, já que o equilíbrio da atividade muscular é considerado um
componente na prevenção de lesão em atletas. Objetivo: Comparar o
desempenho muscular e proprioceptivo do ombro de jogadoras de voleibol com
mulheres não atletas. Metodologia: Participaram do estudo 40 mulheres,
sendo 20 atletas de voleibol entre 15 e 22 anos e 20 não atletas, as quais
foram avaliadas de três formas. A primeira avaliação envolveu a avaliação da
SPA, na qual as participantes reproduziram dois ângulos alvo – 450 de rotação
medial e 750 de rotação lateral - após reposicionamento passivo. A segunda
avaliação foi da detecção de movimento em duas diferentes posições – sem
rotação do ombro e a 750 de rotação lateral - e na direção da rotação medial e
lateral, em que a angulação entre o início do movimento e a percepção pela
participante foi anotada. Por fim, foi realizada a avaliação isocinética do torque
concêntrico dos músculos rotadores mediais e laterais em duas velocidades:
60º/seg e 180º/seg com cinco repetições intervaladas em 10 segundos.
Resultados: Foi observada diferença estatisticamente significante na
comparação de idade, peso e altura das participantes (p<0,05), de forma que
as atletas eram mais jovens e apresentaram maior peso e altura do que as não
atletas. Também houve diferença significante do torque concêntrico a 180º/seg,
em que as atletas geraram menor torque para ambos os grupos musculares
avaliados – rotadores mediais (p=0,0443) e laterais (p=0,0156). Conclusão: As
participantes avaliadas apresentaram diferença na resposta muscular dos
rotadores do ombro em velocidades mais altas, porém não apresentaram
diferença na resposta proprioceptiva, provavelmente em razão do trabalho
muscular ao qual as atletas são submetidas.
Palavras chave: Propriocepção, Torque, Voleibol, Ombro.
7
Abstract Introduction: The proprioception is a specialized variation of a sensorial
modality and is divided into two modalities: joint position sense (JPS) and
kinesthesia. The relation between shoulder proprioception and muscular
performance has not been extensively studied in athletes participating in upper
extremity sports. This evaluation should be important, since muscle activity
balance is considered one component of the injury prevention in athletes.
Purpose: To compare the muscular performance and shoulder proprioception
between volleyball players and a control group. Methods: Twenty volleyball
players aged between 15 and 22 years and twenty women non athletes were
evaluated in three different ways. The first evaluation assessed the JPS, in
which the participants should reproduce two target angles – 450 of medial
rotation and 750 of lateral rotation – after a passive positioning. The second
evaluation was the detection of passive motion in two different positions -
shoulder neutral rotation and 750 of lateral rotation – and in direction to medial
and lateral rotation. In this evaluation, the angular dislocation between the
beginning of the movement and the perception was considered as the variable.
The isokinetic concentric peak torque was the last evaluation, performed with
five repetitions and a rest period between sets of 10 seconds. This evaluation
considered two different velocities: 600/sec and 1800/sec and was performed in
both lateral and medial rotators. Results: A significant difference was shown in
the age, body mass and height between the participants (p<0.05). The
volleyball players were younger, higher and had more body mass than the non
athletes. Concentric peak torque at 1800/sec showed a significant difference,
since the torque of the volleyball players was lower for both muscle groups –
medial rotators (p=0.0443) and lateral rotators (p=0.0156). Conclusion: The
participants evaluated showed difference in the muscular response of shoulder
rotators in high velocities, although this was not observed in the proprioceptive
response, maybe because the muscular training imposed to the athletes.
Key words: Proprioception, Torque, Volleyball, Shoulder.
8
1 Introdução
A propriocepção é caracterizada por aferências neurais cumulativas
originadas de mecanorreceptores localizados nas cápsulas articulares,
ligamentos, músculos, tendões e pele com destino ao sistema nervoso central.
É dividida em três sub-modalidades: consciência estática da posição articular;
consciência cinestésica, que detecta o movimento e sua aceleração; e resposta
reflexa eferente, necessária para regulação do tônus e da atividade muscular
(Lee et al., 2003; Voight e Cook, 2003). Mais recentemente, a nomenclatura
adotada para suas sub-modalidades é: a sensação de posição articular (SPA),
ou seja, a capacidade de um indivíduo para identificar a posição do membro no
espaço, que está relacionada com a mensuração do movimento ativo; e a
cinestesia ou detecção de movimento (DM), que é a capacidade de detectar a
movimentação do membro, relacionada com a mensuração do movimento
passivo (Lephart et al., 2002; Suprak et al., 2006; Whiteley et al., 2008). A
diferença básica entre essas sub-modalidades é que a SPA reflete a habilidade
do indivíduo em detectar a posição da articulação em relação a outras
estruturas corporais enquanto a cinestesia é a habilidade do sujeito em sentir o
movimento e a sua direção (Janwantanakul et al., 2001).
Segundo a Classificação Internacional de Funcionalidade, a função
proprioceptiva pode ser definida como as funções sensoriais que permitem
sentir a posição relativa das partes do corpo (Buchalla, 2003).
Outra perspectiva classifica a propriocepção em consciente ou voluntária
e inconsciente ou reflexa, sendo essenciais para o bom funcionamento articular
nas atividades funcionais, esportivas e para a estabilização reflexa (Lephart e
9
Fu, 2000; Andrews et al., 2000). A propriocepção consciente libera estímulos
por meio dos mecanorreceptores que partem do corno posterior da medula
rumo ao córtex cerebral pelo funículo posterior através do fascículo grácil,
responsável pela condução dos estímulos dos membros inferiores e metade
inferior do tronco. A outra porção surge do funículo posterior através do
fascículo cuneiforme, responsável pela condução dos estímulos dos membros
superiores e metade superior do tronco. Chegam ao córtex cerebral na região
da área somestésica, sendo responsáveis pelos sentidos de posição e
movimento (Lephart e Fu, 2000).
Na propriocepção inconsciente, os estímulos liberados por meio dos
mecanorreceptores atingem a medula espinal, regulando a ação reflexa
muscular (arco reflexo miotático). Portanto, quanto melhor e mais rápida for a
velocidade da resposta neuromuscular perante os estímulos, mais eficiente
será a estabilização reflexa (Lephart e Fu, 2000; Kandel et al., 2003).
Os mecanorreceptores são estruturas terminais especializadas, cuja
função é transformar a energia mecânica da deformação física (alongamento,
compressão e pressão) em potenciais de ação nervosos que geram as
informações proprioceptivas. Estas informações de posição e movimento
articular são originadas através de um feedback sensorial aferente dos
receptores que se projetam diretamente para as vias reflexas e corticais. Os
potenciais de ação gerados são classificados de acordo com a velocidade de
descarga sensorial, sendo assim divididos em receptores de rápida adaptação,
que cessam a emissão de descarga logo após o início de um estímulo, e
receptores de lenta adaptação, os quais continuam a emissão de descarga
enquanto o estímulo estiver presente. Os mecanorreceptores de adaptação
10
rápida são responsáveis por proporcionar sensações cinestésicas conscientes
e inconscientes em resposta ao movimento ou aceleração articular enquanto os
mecanorreceptores de adaptação lenta proporcionam feedback contínuo, ou
seja, informam a posição em que a articulação se encontra no espaço (Voight e
Cook, 2003).
Estes mecanorreceptores, em geral, podem gerar um reflexo
proprioceptivo que tem como função primária ajustar a eferência motora de
acordo com o estado biomecânico do corpo e dos membros. Isso garante um
padrão coordenado da atividade motora durante a realização de um movimento
e fornece um mecanismo que compensa a variabilidade intrínseca da eferência
motora (Kandel et al., 2003).
O papel dos mecanismos proprioceptivos na manutenção da
estabilidade articular é essencial para o desempenho coordenado de tarefas
funcionais de vida diária bem como para as mais exigentes habilidades
atléticas. Essa característica é especialmente importante para a articulação do
ombro, em que a estabilidade é sacrificada por uma grande amplitude de
movimento (ADM) (Kandel et al., 2003).
Mesmo que vários músculos participem da manutenção da mobilidade e
estabilidade dinâmica da articulação do ombro, a baixa estabilidade da mesma
é devido à pequena congruência óssea e relativa ineficiência das restrições
mecânicas fornecidas pela cápsula articular e ligamentos em condições
dinâmicas (Nordin e Frankel, 2001; Herrington et al., 2008). Tem sido postulado
que sinais aferentes decorrentes da articulação do ombro e seus
mecanorreceptores permitem que o sistema nervoso central mantenha a
estabilização muscular e a coordenação sobre a articulação e auxilie na
11
produção de movimentos suaves enquanto minimiza a possibilidade de lesão
articular (Suprak et al., 2006).
A articulação do ombro é uma das mais utilizadas em esportes que
envolvem arremesso. Ainda que o voleibol não seja um desses esportes, os
movimentos esportivos realizados envolvem grande ADM de ombro. A
evolução física, técnica, tática e psicológica desta modalidade acompanhou o
ritmo e as necessidades do próprio voleibol, evitando maior número de erros
em suas ações (Wang e Cochrane, 2001). Concomitante a esse
aprimoramento da prática esportiva, vem aumentando o número de lesões por
overuse, já que os movimentos repetidos em ADM extrema e com alta
velocidade são comuns. Assim, essas lesões representam 23% do total de
lesões no voleibol (Rokito et al., 1998).
Considerando o número de lesões envolvidas na prática esportiva,
diversos autores têm se preocupado em pesquisar as respostas musculares de
atletas mediante diferentes estímulos. Uma dessas respostas está relacionada
à avaliação da propriocepção.
Nesse sentido, Dover et al. (2003) determinaram as diferenças na SPA
entre atletas colegiais de softbol e atletas de outro esporte que não utilizavam a
articulação do ombro em seus esportes. Para isso, foram selecionadas 100
participantes, sendo 50 atletas de softbol e 50 atletas que não realizavam
movimentos com os membros superiores em suas atividades esportivas. As
atletas ficaram em supino com ombro abduzido e cotovelo fletido a 90º. A SPA
foi avaliada com um inclinômetro em dois ângulos alvo: 82º de rotação lateral e
62º de rotação medial, que representavam 90% da ADM total de rotação
observada entre as participantes. Foi realizado o posicionamento passivo pelo
12
avaliador em cada ângulo alvo com tempo de percepção de 3 segundos e, em
seguida, solicitado o reposicionamento ativo, com os dois membros superiores
(dominante e não dominante) e três tentativas para cada movimento. Os
resultados demonstraram que as atletas de softbol obtiveram um erro
significantemente maior no movimento de rotação lateral, independente da
dominância de membro superior, variando de 3,5º em atletas que não usam o
membro superior para 5º em atletas de softbol. Esse erro maior foi justificado
pela presença de frouxidão capsulo-ligamentar em algumas atletas. Por fim, os
autores afirmam que há uma deficiência na literatura em relação a estudos que
avaliem a SPA em atletas do gênero feminino.
Safran et al. (2001) realizaram um estudo com o objetivo de comparar a
SPA do membro dominante e não dominante de jogadores de beisebol.
Selecionaram 21 atletas colegiais de beisebol sem histórico de lesão nos
ombros, os quais foram posicionados em supino com 90º de abdução e flexão
de ombro e cotovelo, em um equipamento especificamente montado para este
estudo, composto por um miniprocessador digital, um dispositivo de
compressão pneumática e um motor. Os testes foram realizados passivamente
a uma velocidade de 0,5º/seg, devendo partir da posição inicial descrita acima,
para o ângulo alvo de 75º de rotação lateral e outro que representava 75% da
rotação lateral máxima do ombro analisado. O tempo para percepção do
ângulo alvo foi de 10 segundos e após, os sujeitos deveriam reposicionar o
membro superior por três tentativas. Os autores não encontraram diferença
significante em nenhuma comparação entre os membros dos jogadores
analisados.
13
Também avaliando atletas, Allegrucci et al. (1995) fizeram um estudo
com objetivo de verificar a diferença na DM entre membro dominante e não
dominante em duas posições, a interação entre as variáveis dominância de
membro superior e posição adotada pelo atleta no teste e a relação entre
rotação medial e lateral através da DM. Para isso, foram selecionados 20
atletas de beisebol do gênero masculino entre 18 e 21 anos de idade e quatro
jogadores de tênis com média de 10 anos de prática esportiva. A avaliação da
ADM passiva de rotação lateral e medial foi mensurada com os atletas em
posição supino e 90º de abdução de ombro com um goniômetro. Para a DM, foi
reproduzido um aparelho montado anteriormente por Lephart et al. (2002), o
qual contém um motor, painel de controle, dispositivo de compressão
pneumática e um microprocessador digital. Os participantes foram colocados
em posição supino com 90º de abdução de ombro e flexão de cotovelo, sendo
utilizadas duas posições iniciais: 0º e 75º de rotação lateral. Os sujeitos
deveriam apertar um botão assim que sentissem o movimento do braço,
realizando um total de 12 tentativas, considerando rotação medial e lateral. Os
resultados apontaram que o membro dominante teve uma perda
estatisticamente significante da propriocepção quando comparado com o
membro não dominante, assim como a diferença entre posição e dominância
de membro superior e uma propriocepção diminuída durante a rotação lateral
quando comparada com a rotação medial. Os autores concluíram que os
atletas possuem um déficit cinestésico entre membro dominante e não
dominante.
Pensando na fadiga muscular, Lee et al. (2003) investigaram os efeitos
desta na SPA do ombro. Para isso, selecionaram 11 homens com idade média
14
de 27 anos, os quais foram posicionados em supino no dinamômetro
isocinético Con-Trex com 90o de abdução e rotação lateral de ombro e 90o de
flexão de cotovelo no plano escapular. Os ângulos alvo avaliados foram 45o de
rotação medial e 75o de rotação lateral (nesse caso, a posição inicial foi de 30o
de rotação lateral e 90o de abdução de ombro e 90o de flexão de cotovelo), com
os sujeitos realizando reposicionamento ativo a uma velocidade de 2o/seg e
reposicionamento passivo a 0,5o/seg em três tentativas. Foi realizada uma
avaliação pré-fadiga; em seguida, o indivíduo realizou o teste de fadiga com
cinco repetições de contração muscular máxima, e após três minutos, foi
realizado o teste pós-fadiga. Na análise dos resultados, verificou-se diferença
significante apenas na comparação pré e pós-fadiga do reposicionamento ativo
da rotação lateral de ombro, com os autores concluindo que, somente neste
movimento, a fadiga muscular tem uma interferência direta sobre a acuidade
proprioceptiva.
Com o mesmo objetivo do estudo anterior, Carpenter et al. (1998)
selecionaram 20 indivíduos sem histórico de lesão musculoesquelética nos
ombros. O limiar de DM foi avaliado em equipamento especialmente preparado
para o estudo, com o indivíduo sentado, ombro em 30º de adução horizontal no
plano escapular, 90º de flexão de cotovelo, de abdução e rotação lateral de
ombro. A uma velocidade de 1º/seg, o equipamento realizou aleatoriamente o
movimento de rotação lateral ou rotação medial e foi solicitado que o voluntário
indicasse o exato momento em que percebia o movimento e a sua direção.
Esse procedimento foi repetido por 10 vezes. Em seguida, a uma velocidade de
180º/seg, os sujeitos realizaram movimentos de rotação medial e lateral do
ombro até que o pico de torque da rotação medial representasse 50% do obtido
15
no início dos exercícios. Após a indução de fadiga, foi realizado novamente o
teste de DM. Verbalmente os indivíduos relataram apresentar fadiga muscular
após os testes, mas os resultados não evidenciaram diferença estatisticamente
significante entre os membros, concluindo que essa fadiga induzida não
interferiu na propriocepção dos indivíduos.
Para verificar os efeitos da realização de exercícios físicos sobre a
propriocepção, Björklund et al. (2006) avaliaram a influência do alongamento
muscular na SPA. Para isso, selecionaram nove homens e nove mulheres sem
lesão musculoesquelética, os quais foram divididos em três grupos: controle,
grupo que realizou alongamento de músculos denominados como agonistas
(bíceps braquial, coracobraquial, deltóide fibras claviculares e peitoral maior) e
grupo que realizou alongamento dos músculos antagonistas (deltóide fibras
acromiais e manguito rotador) por sete dias, sendo os músculos alongados ao
menos duas vezes por dia. Antes e após o alongamento, os participantes foram
posicionados sentados em um aparelho construído exclusivamente para este
estudo, iniciando os testes com o ombro a 90º de flexão e adução horizontal de
45º. Os ângulos alvo avaliados foram de 30º e 15º de adução horizontal, com
um tempo de percepção de 5 segundos em cada ângulo a uma velocidade de
10º/seg. Foram realizadas seis tentativas de reposicionamento em cada ângulo
alvo. Os resultados apontam que houve uma diferença entre os testes antes e
depois do alongamento, maior no grupo dos músculos antagonistas e no
ângulo alvo de 15º. Porém, em nenhum deles, essa diferença demonstrou
significância estatística, sendo possível concluir que o alongamento muscular
não interferiu na resposta proprioceptiva.
16
Com objetivos diferentes, Aydin et al. (2001) investigaram a SPA de 44
indivíduos, divididos em grupo controle (24 sujeitos sem lesão
musculoesquelética) e grupo experimental (20 pacientes após procedimento de
reparação cirúrgica no ombro). Os testes foram realizados no dinamômetro
isocinético Cybex, ficando os sujeitos com olhos vendados na posição supino
com 90º de flexão de cotovelo e abdução de ombro, no plano sagital. Foi
realizado o posicionamento passivo no ângulo alvo de 20º de rotação lateral
tanto com o membro dominante como com o não dominante, permanecendo na
posição por 10 segundos. Em seguida, foi solicitado o reposicionamento ativo
por três tentativas. Os autores verificaram que não houve uma diferença
estatisticamente significante entre os grupos, visto que no grupo controle houve
uma variabilidade de 1,16º a 1,57º e no grupo experimental de 1,22º a 1,46º.
Dessa forma, foi possível concluir que a lesão e o reparo cirúrgico não
interferiram na propriocepção desses sujeitos.
Por fim, Cuomo et al. (2005) visaram avaliar a propriocepção de ombro
como um todo, avaliando-a em pacientes com osteoatrose (OA) e participantes
sem patologia no ombro e determinando as mudanças ocorridas na
propriocepção após uma artroplastia total de ombro. Participaram de sua
pesquisa 40 indivíduos com média de idade de 69 anos, sendo 20 com OA e
20 sem patologia, chamados de sem OA. A mensuração da SPA e da DM foi
feita com goniômetro, eletrogoniômetro e dinamômetro isocinético em três
movimentos: flexão, abdução e rotação lateral do ombro, uma semana antes e
seis meses após a cirurgia. Os ângulos alvo avaliados tanto para SPA quanto
para DM foram 10o de flexão, 50o de abdução, 10o de rotação medial e 20o de
rotação lateral de ombro, sendo a posição para percepção em SPA mantida por
17
4 segundos e realizada a uma velocidade de 2o/seg, por três tentativas. Notou-
se que só houve diferença estatisticamente significante quando comparada a
SPA do ombro não afetado e ombro afetado com OA antes da cirurgia. Na DM,
não houve diferença estatisticamente significante.
Observando os estudos descritos anteriormente, pode-se constatar que o
dinamômetro isocinético é rotineiramente utilizado para avaliar a SPA e DM por
ser de fácil manuseio e fornecer precisão em relação à velocidade aplicada e
posicionamento do voluntário (Chandler et al., 1992; Codine et al., 1997; Cools
et al., 2005).
Outros estudos encontrados na literatura abordam a avaliação
isocinética dos músculos rotadores do ombro com o objetivo de verificar o
desempenho muscular. Assim, Wang et al. (2000) compararam o torque dos
músculos rotadores de ombro do membro dominante e não dominante em 10
atletas do gênero masculino de voleibol, em duas diferentes velocidades:
60º/seg e 120º/seg, com ADM de 50º de rotação lateral para 50º de rotação
medial, com três repetições e 10 segundos de intervalo entre cada repetição e
30 segundos de intervalo entre as velocidades. Foi observada diminuição de
ADM de rotação medial e desequilíbrio do torque muscular entre os membros,
da seguinte forma: na velocidade de 60º/seg, foi verificada diferença
estatisticamente significante em contração concêntrica e excêntrica, sendo o
torque maior no membro dominante tanto para rotadores mediais quanto
laterais; e a 120º/seg apenas na contração concêntrica, sendo o torque maior
no membro não dominante em ambas as rotações.
Semelhantemente, Cingel et al. (2006) fizeram um estudo com 35 atletas
de voleibol do gênero masculino, comparando torque dos músculos rotadores
18
do ombro em três diferentes velocidades: 60º/seg, 180º/seg e 300º/seg no
dinamômetro isocinético Cybex com três a cinco repetições intervaladas em 30
segundos e ADM de 50º de rotação lateral para 50º de rotação medial. Foi
observada diferença estatisticamente significante em todas as velocidades
quando comparado o torque do membro dominante com o não dominante,
obtendo um valor de torque maior no movimento de rotação medial no membro
dominante.
Contudo, nenhum estudo encontrado na literatura consultada avalia o
desempenho muscular de atletas de esportes que envolvem membros
superiores juntamente com a avaliação proprioceptiva. Esse tipo de avaliação
seria importante, já que o equilíbrio muscular é considerado um componente na
prevenção de lesão em atletas.
A literatura possui diversos estudos comparando membro dominante com
não dominante (Safran et al., 2001; Alegrucci et al., 1995; Aydin et al., 2001),
porém há a necessidade de mais estudos que comparem atletas com não
atletas, já que foi encontrado apenas um estudo na literatura consultada que
realizou esse tipo de avaliação (Dover et al., 2003), observando uma alteração
na SPA. Enquanto isso, outros estudos que compararam membro superior
dominante com não dominante apresentam resultados controversos. Assim,
esse dado pode ser inconclusivo visto a falta de mais estudos nessa área,
especialmente com atletas do gênero feminino.
19
2 Objetivos
2.1 Geral
Comparar o desempenho muscular e proprioceptivo do ombro de
jogadoras de voleibol com mulheres não atletas. A hipótese é que as atletas
não terão diferença na resposta proprioceptiva, mas terão uma diferença na
resposta muscular decorrente do treinamento físico realizado.
2.2 Objetivos Específicos
• Comparar a sensação de posição da articulação do ombro de forma
ativa em dois diferentes ângulos alvo;
• Comparar o limiar de detecção de movimento de ombro em duas
diferentes posições de rotação;
• Obter os valores do pico de torque de forma isocinética.
20
3 Material e Métodos
3.1 Tipo de estudo: transversal
3.2 Sujeitos
Para participar do estudo foram selecionadas 40 mulheres, divididas da
seguinte forma:
• Grupo experimental (GE): 20 praticantes de voleibol das categorias
infanto, juvenil e adulto, com idade entre 15 e 22 anos, com pré-
avaliação de altura, peso e índice de massa corporal (IMC), submetidas
a um treinamento físico similar. Os critérios de inclusão foram tempo
mínimo de prática esportiva de dois anos e treino semanal de 6 horas.
Foram realizados os testes no membro que realiza o gesto esportivo,
seja ele dominante ou não.
• Grupo controle (GC): 20 mulheres sem prática esportiva regular
envolvendo os membros superiores.
Os critérios de exclusão para os grupos foram frouxidão capsulo-
ligamentar no ombro, lesões ou cirurgias em membros superiores que
impediram a praticante de participar das atividades esportivas por mais do que
duas semanas nos últimos 12 meses e também lesão cervical que limitou a
função nos últimos 12 meses. Caso a participante relatasse dor, esta era
mensurada por uma escala visual analógica (Allegrucci et al., 1995; Barros
Filho e Lech, 2001; Barden et al., 2004).
21
Antes de participar do estudo, as participantes foram esclarecidas em
relação ao protocolo experimental da pesquisa e assinaram um termo de
consentimento livre e esclarecido se a idade fosse superior a 18 anos. Caso
contrário, o termo foi assinado pelo treinador da equipe feminina de voleibol da
cidade de Guarulhos ou pelos pais das participantes do GC. Este projeto foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNICID – protocolo número
13348722 (Anexo 1).
Todos os testes foram realizados na Clínica de Fisioterapia da UNICID,
onde o dinamômetro isocinético (Cybex 6000) está disponível.
3.3 Procedimentos
Os testes foram realizados 24 horas após o treino das jogadoras a fim
de evitar a influência da fadiga muscular na avaliação. A ordem das avaliações
foi a mesma da descrição dos procedimentos abaixo.
Inicialmente, as participantes dos dois grupos foram avaliadas em
relação aos critérios de inclusão e exclusão, por meio de um questionário de
caracterização do sujeito e aplicação de testes especiais (Apêndice 1) (Barros
Filho e Lech, 2001. Nas voluntárias do GC, além dos dados pessoais, foram
realizadas as questões e testes referentes aos itens 6 a 11 do questionário.
3.3.1 Avaliação da SPA
A voluntária foi posicionada no dinamômetro na posição supino com
membro superior em 90º de abdução de ombro e 90º de flexão de cotovelo e
em posição neutra para rotação de ombro (Figura 1).
22
Figura 1 – Posicionamento inicial para avaliação de SPA e DM com rotação
neutra.
A avaliação da SPA foi realizada em dois diferentes ângulos alvo,
escolhidos de forma aleatória, por sorteio: 45º de rotação medial e 75º de
rotação lateral. O membro superior da voluntária foi posicionado a 0º de
rotação para avaliação do ângulo alvo de 45º de rotação medial (figura 1) e
posicionado a 30º de rotação lateral para a avaliação do ângulo alvo de 75º de
rotação lateral. A uma velocidade de 2º/seg, o dinamômetro posicionou
passivamente o ombro no ângulo alvo sorteado e permaneceu nessa posição
por 10 segundos para a percepção. Após esse tempo, o membro superior
retornou passivamente para a posição inicial. Foi solicitado que a voluntária
fizesse o reposicionamento ativo do ombro na posição que considerava como
ângulo alvo por três vezes, sendo esse valor anotado como ângulo estimado.
As participantes utilizaram venda afim de que não recebessem nenhum
estímulo visual (Lee et al., 2003; Ulkar et al., 2004).
23
3.3.2 Avaliação da DM
A voluntária permaneceu deitada no dinamômetro. Para esta avaliação,
foram utilizadas duas posições iniciais de rotação do ombro, escolhidas de
forma aleatória, por sorteio. A primeira posição foi a neutra para rotação de
ombro (Figura 1) e a segunda de 75º de rotação lateral. Em ambas, o membro
foi movimentado passivamente a uma velocidade de 0,5º/seg por três vezes
em cada direção – rotação medial e rotação lateral, devendo o participante
relatar quando sentia o membro se movimentando e a direção em que o
movimento estava ocorrendo. O limiar de DM passivo foi mensurado pelo
deslocamento angular entre a posição inicial e a posição em que o movimento
foi detectado. As atletas utilizaram venda afim de que não recebessem nenhum
estímulo visual (Allegrucci et al., 1995; Lee et al., 2003).
3.3.3 Avaliação isocinética
Foi realizada no dinamômetro isocinético, tomando como base o mesmo
posicionamento dos testes anteriores, em duas diferentes velocidades – 60º/s e
180º/s. Todas as participantes fizeram um aquecimento prévio de três
repetições submáximas (50-75% do pico de torque). O teste foi iniciado a uma
velocidade de 60º/s, sendo realizadas cinco repetições máximas de contração
concêntrica dos rotadores mediais e laterais em ambas as velocidades,
continuando com a velocidade de 180º/seg, com intervalo de 10 segundos de
descanso entre as repetições e intervalo de 30 segundos entre as velocidades
(Baltaci et al., 2004; Gozlan et al., 2005). Em ambas as velocidades, a ADM foi
de 50º de rotação lateral para 50º de rotação medial (Cingel et al., 2006; Wang
et al., 2000).
24
3.4 Análise dos dados e estatística
Para a avaliação da SPA, foram analisadas as angulações reproduzidas
pelos participantes em relação aos ângulos alvo. Para cada valor observado,
foram analisados o direcionamento e o valor do erro, sendo possível
estabelecer em graus o valor do erro e determinar se o alvo foi ultrapassado,
atingido ou não alcançado. Dessa forma, a variável erro relativo foi definida
pela diferença aritmética entre o ângulo alvo e o ângulo estimado. O erro
relativo é representado pela acurácia direcional, ou seja, se a resposta for
subestimada o valor fica negativo, mas se for superestimada terá um valor
positivo. Por exemplo, partindo da posição neutra para um ângulo alvo de 45º,
se o participante alcançar 40º, o erro relativo irá apontar -50, porém se o
participante chegar a 47º, o erro relativo será de 20 sem sinal negativo. Já o
erro absoluto foi determinado apenas pela diferença média entre o ângulo alvo
e o ângulo estimado após as três tentativas (Baker et al., 2002).
Para a avaliação da DM, o limiar do movimento passivo foi mensurado
pelo deslocamento angular entre a posição inicial e a posição em que o
movimento foi detectado. Também foi considerado o direcionamento do
movimento referido pelo voluntário (Alegrucci et al.,1995).
Na avaliação isocinética, foi analisada a relação pico de torque/massa
corporal, em porcentagem, nas duas velocidades testadas (Cingel et al., 2006).
Após a coleta de dados, foi realizada a análise estatística. Inicialmente
foi testada a normalidade pelo teste de Shapiro Wilk. Os dados que
apresentaram distribuição normal – idade, torque a 180º/seg para rotadores
mediais e laterais, erro relativo da SPA com ângulo alvo de 45º de rotação
25
medial e lateral - foram comparados entre os grupos pelo teste t para amostras
independentes. Por outro lado, as variáveis peso, altura, IMC, torque a 60º/seg
para rotadores mediais e laterais, erro absoluto da SPA com ângulo alvo de 75º
de rotação medial e lateral e detecção de movimento em todas direções e
ângulos, sem distribuição normal, foram comparadas pelo teste de Mann
Whitney. Toda a análise estatística foi realizada com 5% de significância.
26
4 Resultados
A Tabela 1 apresenta os dados de caracterização das participantes com
os dados antropométricos de cada grupo e dados relacionados a critérios de
elegibilidade para o GE. Houve diferença estatisticamente significante entre os
grupos em três itens: idade, peso e altura (p<0,05).
Tabela 1 – Caracterização das participantes.
GE (n=20) GC (n=20) p
Idade (anos) 17,45 (1,76) 20,25 (1,16) <0,0001*
Peso (kg) 66,52 (10,77) 59,35 (8,68) 0,0038*
Altura (m) 1,71 (0,14) 1,68 (0,03) 0,0034*
IMC (kg/m2) 23,14 (5,90) 21,08 (3,18) 0,1017
Membro testado (%) 95 - Direito
5 - Esquerdo
90 - Direito
10 - Esquerdo
---
Tempo de categoria (anos) 2,05 (0,76) --- ---
Horas de treino por dia (h) 3,38 (1,06) --- ---
Lesão no ombro (%) 15 0 ---
Dor (%; cm) 35
4,14 (2,41)
0 ---
* Diferença estatisticamente significante entre os grupos (p<0,05)
A Tabela 2, por sua vez, apresenta os erros absolutos e relativos da
SPA e o limiar de DM, comparando o GE com o GC. Não foi observada
diferença significante dessas variáveis entre os grupos (p>0,05). Uma das
participantes, do GE, ao realizar o teste de DM partindo da posição neutra para
a rotação lateral, errou a direção do movimento nas três tentativas, relatando
achar que o movimento passivo estava sendo realizado na direção da rotação
medial. Não houve nenhum outro relato de erro na direção do movimento.
27
Tabela 2 – Erros relativos e absolutos da SPA e o limiar de DM, em graus,
observados nos grupos avaliados.
GE (n=20) GC (n=20) p
Erro Relativo SPA 45º RM (º) 3,95 (2,39) 0,55 (3,05) 0,2366
Erro Absoluto SPA 45º RM (º) 8,12 (1,99) 7,28 (3,03) 0,7868
Erro Relativo SPA 75º RL (º) -2,28 (2,46) -5,57 (2,34) 0,2851
Erro Absoluto SPA 75º RL (º) 8,32 (2,23) 8,90 (1,95) 0,6073
DM 0º RM (º) 2,4 (0,3) 1,4 (0,29) 0,0834
DM 0º RL (º) 2,0 (0,5) 2,1 (1,27) 0,0935
DM 75º RM (º) 1,8 (0,7) 1,4 (0,57) 0,2340
DM 75º RL (º) 2,0 (0,7) 1,5 (0,44) 0,1719
* Diferença estatisticamente significante entre os grupos (p<0,05)
(RM: Rotação Medial; RL: Rotação Lateral; DM: Detecção de Movimento)
Na Figura 2, estão apresentados os valores do torque concêntrico dos
músculos rotadores de ombro nos dois grupos avaliados. Foi observada
diferença estatisticamente significante no torque avaliado a 180º/seg tanto para
os músculos rotadores mediais (p=0,0443) quanto para os rotadores laterais
(p=0,0156).
28
05
1015202530354045
Torque RM60º/s
Torque RL60º/s
Torque RM180º/s
Torque RL180º/s
%
GE
GC
Figura 2 – Torque concêntrico dos músculos rotadores mediais e laterais
avaliado a 600/s e 180/s, em %.
* Diferença estatisticamente significante entre os grupos (p,0,05)
(RM: Rotação Medial; RL: Rotação Lateral)
* *
29
5 Discussão
Um dos primeiros estudos a analisar a propriocepção de ombro foi
realizado por Hall e McCloskey (1983), e ao longo dos anos esta articulação
tem sido estudada por diversos autores. Leparth et al. (1994) concluíram que a
dominância de membro não interfere na resposta proprioceptiva, opinião esta
que posteriormente foi complementada por outros autores, que afirmam que o
alongamento, a fadiga e o reparo cirúrgico também não interferem na
propriocepção. Esses trabalhos incluíram exclusivamente atletas da mesma ou
de diferente modalidade esportiva (Aydin et al., 2001; Björklund et al., 2006;
Carpenter et al., 1998; Safran et al., 2001).
Sendo assim, optou-se neste trabalho em realizar um estudo
comparando atletas com não atletas. Na realização dos testes, utilizou-se um
dinamômetro isocinético porque o objetivo deste estudo era não só a análise
proprioceptiva pela SPA e DM, mas também uma análise do torque, o que não
seria possível caso optássemos pela construção de um aparelho exclusivo para
este estudo, com ocorreu com Alegrucci et al. (1995). Outros estudos
encontrados na literatura também utilizaram um dinamômetro isocinético para a
avaliação do torque em atletas (Wang et a.l, 2000; Cingel et al., 2006).
De acordo com a Tabela 1, podem ser notadas algumas diferenças
significantes entre os grupos testados neste estudo, sendo que as participantes
do GE são mais jovens, possuem maior peso corporal e maior altura. Poucos
são os trabalhos encontrados na literatura que realizaram uma avaliação
comparativa entre um grupo de atletas com não atletas. Dentre os que
realizaram, não há uma análise estatística comparando os dados
30
antropométricos. Assim, Dover et al. (2003) avaliaram um grupo de atletas de
softbol com outro grupo de atletas que não realizam atividade com o membro
superior e observa-se uma diferença de peso corporal entre os dois grupos de
aproximadamente 7kg. Porém, não é possível concluir se essa diferença entre
os valores é estatisticamente significante pela ausência de comparação
estatística.
Por outro lado, Aydin et al. (2001) avaliaram dois grupos de pacientes
com uma diferença média de três anos de idade, não sendo possível
novamente concluir se a mesma era significante, pela ausência de comparação
estatística. Nesta mesma perspectiva, Cuomo et al. (2005) compararam um
grupo de pacientes com OA com outro grupo de pacientes sem a patologia,
pareando a amostra de forma minuciosa. Assim, não foi observada diferença
entre os grupos.
Neste estudo, também pretendíamos parear a amostra, mas isso não foi
possível. O GC seria a princípio formado por atletas sem utilização de membro
superior em seu esporte, selecionadas no mesmo clube das atletas de voleibol,
mas não pudemos ter acesso a essas atletas. Assim, o GC foi formado por
universitárias da área da saúde e houve diferença entre as variáveis
antropométricas, o que constitui uma limitação de nosso estudo.
Já na Tabela 2, pode ser observada diferença no torque avaliado a
180º/seg tanto para os músculos rotadores mediais quanto para os laterais,
sendo que o GE apresentou valores menores do que o GC. Isto provavelmente
ocorreu porque as atletas possuem um peso corporal maior, visto que os
valores médios do torque estão divididos pela massa corporal. Scheinder et al.
(2004) afirmam que com o teste realizado em uma velocidade mais alta no
31
dinamômetro isocinético, os resultados tendem a ser consideravelmente
maiores, obtendo assim um valor de torque estatisticamente significante.
Para a propriocepção, a literatura afirma não haver influência da
dominância de membro (Aydin et al., 2001; Björklund et al., 2006; Carpenter et
al., 1998; Safran et al., 2001; Leparth et al. 1994). Porém para o torque parece
haver influência. Assim, Wang et al. (2000) avaliaram 10 jogadores de voleibol
do gênero masculino, comparando membro dominante com não dominante,
utilizando tempo de intervalo semelhante ao nosso estudo (10 segundos entre
os testes e 30 segundos entre as velocidades) e encontraram diferença
estatisticamente significante do torque entre músculos rotadores mediais e
laterais na velocidade de 60º/seg em ambos membros, enquanto a 120º/seg foi
observada diferença no torque no membro não dominante. Levando em
consideração que este membro não dominante das atletas pode possuir uma
semelhança com o membro dominante de não atletas, já que estes não são
treinados da mesma forma como é o membro dominante da atleta, isso pode
justificar o fato de nosso estudo ter encontrado um torque maior em não
atletas.
Cingel et al. (2006) avaliando e comparando membro dominante e não
dominante de atletas de voleibol do sexo masculino com idade média de 24
anos, 90kg de massa corporal e 1,99m de altura, com treino semanal de 20 a
30 horas, encontraram diferença estatisticamente significante no torque dos
músculos rotadores mediais quando comparada com os laterais, nas mesmas
velocidades de 60º/seg e 180º/seg, e também na outra velocidade avaliada,
300º/seg. Apesar de nosso estudo ter avaliado o torque na mesma ADM, o
tempo de intervalo entre uma contração e outra é diferente. Enquanto nós
32
utilizamos o mesmo tempo de intervalo de Wang et al. (2000), este estudo
utilizou 30 segundos de intervalo entre os testes. Provavelmente este estudo
encontrou diferença em velocidades que não encontramos, porque em todos
dados antropométricos, estes atletas possuem valores superiores ao das
atletas de nosso estudo.
Porém esses estudos foram realizados apenas com um grupo de atletas,
sem comparação com grupo controle. Em nosso estudo, não foi apontada
diferença entre os grupos na velocidade de 60º/seg, diferentemente dos dois
anteriores, que realizaram uma comparação entre membro dominante e não
dominante. Essa diferença em relação ao nosso estudo também pode ter
ocorrido porque avaliamos sempre o membro superior dominante nos dois
grupos, que segundo Fernandez et al. (1999) tende a ser mais forte que o não
dominante, tendo ainda um grau de força maior nos músculos rotadores
mediais do que nos laterais, sendo que os rotadores laterais representam 63%
da força dos rotadores mediais.
Outra variável analisada sem significância estatística, a SPA foi avaliada
através do erro relativo e erro absoluto, mas ambos os valores não tiveram
diferenças significantes entre grupos.
Nesse sentido, a literatura é bem controversa. Lee et al. (2003)
avaliaram 11 homens não atletas, usando a mesma metodologia do nosso
estudo em velocidade e ângulo alvo, e assim notaram diferença no
reposicionamento ativo, porém, diferentemente do nosso estudo, avaliaram
SPA pré e pós-fadiga. Safran et al. (2001) ao avaliarem SPA de 21 atletas de
beisebol com a velocidade de 0,5º/seg com ângulo alvo de 75º de RL e outra
de 75% da RL máxima, encontraram diferença entre atletas e não atletas, mas
33
justificam essa diferença pela tendinite das atletas avaliadas. Podemos
relacionar o fato deste estudo ter encontrado diferença, o que não ocorreu em
nosso estudo, pela prática esportiva ser diferente e o gesto esportivo ser
puramente realizado com arremesso e rebatida, acontecendo com ADM abaixo
de 90º de abdução de ombro, enquanto no voleibol, o gesto esportivo ocorre
acima dessa amplitude.
Por outro lado, Cuomo et al. (2005) em sua avaliação de 40
participantes, sendo 20 com OA e 20 sem lesão de ombro, usaram um tempo
de 4 segundos de percepção na SPA, mas com a mesma velocidade do nosso
estudo (2º/seg), mas não observaram diferença entre os grupos avaliados.
Talvez isso tenha ocorrido porque foram avaliadas participantes com uma
determinada patologia. Barden et al. (2004), avaliando 12 sujeitos com
instabilidade de ombro e outros 12 sujeitos sem lesão de ombro, realizada
através de uma vídeo câmera 3D, também não encontraram diferença
estatisticamente significante no movimento de rotação. Porém sabe-se que
este tipo de recurso avaliativo não demonstra com exatidão o posicionamento
do ângulo alvo, limitando o resultado do estudo.
O fato da percepção do ângulo ter sido realizada com movimentação
passiva pode ter influenciado nos resultados encontrados durante a reprodução
ativa, pois as características fisiológicas e a ativação dos receptores e
mecanorreceptores são diferentes. Teoricamente, na percepção passiva, os
receptores do tendão, sensíveis à ativação muscular encontram-se com menor
ativação, inclusive no momento da percepção do ângulo alvo, o que certamente
pode influenciar na resposta ativa (Lephart e Fu, 2000; Kandel et al., 2003).
34
Carpenter et al. (1998) avaliaram 20 indivíduos sem histórico de lesão de
ombro a uma velocidade de 1º/seg, com 10 repetições. A fadiga foi induzida a
180º/seg, e após a realização do teste de DM não evidenciaram diferença
estatisticamente significante entre os membros, porém isso pode estar
relacionado com o teste de fadiga.
Diferentemente de Allegrucci et al. (1995) que usou a mesma
metodologia este trabalho, verificaram em seus 24 atletas, sendo 20 atletas de
beisebol e quatro atletas de tênis, um déficit proprioceptivo, relacionado por
eles pela instabilidade de ombro. Mas este estudo, como outros citados,
realizam estes testes com atletas do gênero masculino e em outro esporte.
Sugerimos a realização de outros estudos, em que haja uma tentativa de
parear as participantes do grupo controle com as atletas e também em que seja
realizada uma avaliação comparativa entre membro dominante e não
dominante.
35
6 Conclusão
De acordo com a metodologia utilizada e a amostra estudada, as
participantes avaliadas apresentaram diferença na resposta muscular dos
rotadores do ombro em velocidades mais altas, porém não apresentaram
diferença na resposta proprioceptiva, provavelmente em razão do trabalho
muscular ao qual as atletas são submetidas.
36
7 Referências Bibliográficas
Allegrucci M, Whitney SL, Leparth SM, Irragang JJ, Fu FH. Shoulder
kinesthesia in healty unilateral athletes participating in upper extremity
sports. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy 1995;21(4):220-
225.
Andrews JR, Harrelson GL, Wilk KE. Reabilitação Física das Lesões
Desportivas. São Paulo: Elselvier 3ª ed; 2005.
Aydin T, Yildiz Y, Yanmis I, Yildiz C, Alyon TA. Shoulder proprioception: a
comparison between the shoulder joint in healthy and surgically repaired
shoulders. Archives Orthopedic Trauma Surgery 2001;121:422-5.
Baker V, Bennell K, Stillman B, Cowan S, Crossley. Abnormal knee joint
position sense in individuals with patellofemoral pain syndrome. Journal of
Othopaedic Research 2002;20:208-214.
Baltaci G, Tunay VB. Isokinetic performance at diagonal pattern and shoulder
mobility in elite overhead athletes. Scandinave Journal Medicine and
Science Sports 2004;14:231-238.
Barden JM, Balyk RB, Raso J, Moreau M, Bagnall K. Dynamic upper limb
proprioception in multidirectional shoulder instability. Clinical Orthopedic
2004;420:181-9.
Barros Filho TEP, Lech O. Exame físico em Ortopedia. 2ª ed. São Paulo:
Sarvier; 2001.
Bjorklund M, Djupjobacka M, Crenshaw AG. Acute muscle stretching and
shoulder position sense. Journal Athletic Training. 2006;41:270-4.
37
Buchalla, C.M. Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF),
Incapacidade e Saúde. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo;
2003.
Carpenter JE, Blasier RB, Peliizon GG. The effects of muscle fatigue on
shoulder position sense. Am Journal Sports Medicine. 1998;26(2):262-5.
Chandler TJ, Kibler WB, Stracener EC. Shoulder strength, power, and
endurance in college tennis players. Am Journal Sports Medicine.
1992;20:455-8.
Cingel RV, Kleinrensink G, Stoeckart R, Aufdemkampe R, Bie R, Kuipers H.
Strength Values of Shoulder Internal and External Rotators in Elite Volleyball
Players. Journal Sport Rehabilitation. 2006;(15) :237-245.
Codine P, Bernard PL, Pocholle M. Influence of sports discipline on shoulder
rotator cuff balance. Medicine and Science Sports Exercise. 1997;29:1400-
5.
Cools AM, Witvrouw EE, Mahieu NN. Isokinetic scapular muscle performance in
overhead athletes with and without impingement symptoms. Journal Athletic
Training. 2005;40:104-9.
Cuomo F, Birdzell MG, Zuckerman JD. The effect of degenerative arthritis and
prosthetic arthroplasty on shoulder proprioception. Journal Shoulder Elbow
Surgery. 2005;14:345-8.
Dover G, Kaminski T, Meister K, Powers ME, Horodyski M. Assessment of
shoulder proprioception in the female softball athlete. Archives of Physical
Medicine and Rehabilitation. 2003;31(3):431-7.
38
Fernandez TBF, Shinzato GT. Avaliação isocinética de rotadores externos e
internos do ombro de atletas sobre cadeira de rodas e indivíduos
sedentários – estudo comparativo. Acta Fisiátrica 6(1): 40-44, 1999.
Gozlan G, Bensoussan L, Coudreuse JM, Fondarai J, Gremeaux V, Viton JM,
Delarque A. Isokinetic dynamometer measurement of shoulder rotational
strength in healthy elite athletes (swimming, volleyball, tennis): comparison
between dominant and nondominant shoulder. Annales de réadaptation et
de medicine physique. 2006; 49:8-15.
Hall LA, Mc Closkey DI. Detections of movements imposed on finger, elbow and
shoulder joints. Journal Physiology. 1983; 335: 519–533
Herrington L, Horsley I, Whitaker L, Roll C. Does a tackling task affect shoulder
joint position sense in rugby players? Physical Therapy in Sport. 2008;9:67-
71.
Janwantanakul P, Magarey M, Jones M, Dansie B. Variation in shoulder
position sense at mid and extreme range of motion. Archives Physical and
Medicine Rehabilitation. 2001;82(6):840-4.
Kandel ER, Schwartz JH, Jessel TM. Principios da Neurociência. Barueri SP:
Manole 4a. ed; 2003.
Lee HM, Liau JJ, Cheng CK, Tan CM, Shih JT. Evaluation of shoulder
proprioception following muscle fatigue. Clinical Biomechanics.
2003;18:843-7.
Lephart SM, Fu FH, Proprioception and neuromuscular control in joint stability.
USA: Human Kinetics 1ª ed; 2000.
39
Lephart S, Myers J, Bradley J, Fu F. Shoulder proprioception and function
following thermal capsulorraphy. Journal Arthroscopic Related Surgery.
2002;18(7):770-8.
Nordin M, Frankel VH. Biomecânica Básica do Sistema Musculoesquelético. 3ª
ed. Guanabara Koogan: 2001; 278-294.
Rokito AS, Jobe FW, Pink MM, Perry J, Brault J, Calif I. Electromyographic
analysis of shoulder function during the volleyball serve and spike. Journal
Elbow Surgery. 1998;(7):256-263.
Safran MR, Borsa PA, Lephart SM, Fu FH, Warner JJP. Shoulder
Proprioneption in baseball pitchers. Journal Shoulder Elbow Surgery.
2001;(10):438-444.
Schneider P, Benetti G, Meyer F. Força muscular de atletas de voleibol de 9 a
18 anos através da dinamometria computadorizada. Revista Brasileira de
Medicina do Esporte. 2004; 10(2):85-91.
Suprak D, Osterning L, Donkelaar P, Karduna A. Shoulder joint position sense
improves with elevation angle in a novel, unconstrained task. Journal
Orthopedic Res. 2006;24:559-68.
Ulkar B, Kunduracioglu B, Çetin C, Guner RS. Effect of positioning and bracing
on passive position sense of shoulder joint. British Journal Sports of
Medicine 2004;38:549–552.
Voight ML, Cook G. Controle neuromuscular deficiente: treinamento de
reativação neuromuscular. In: Prentice WE, Voight ML, editor. Técnicas em
reabilitação musculoesquelitica . 1nd ed. Porto Alegre: ArtMed; 2003. p.91-
118.
40
Wang H K, Cochrane T. A descriptive epidemiological study of shoulder injury in
top level english male voleibol players. Int Journal Sports Medicine.
2001;22(2):159-63.
Whiteley RJ, Adams RD, Nicholson LL, Ginn KA. Shoulder proprioception is
associated with humeral torsion in adolescent baseball players. Physical
Therapy in Sport. 2008;(9):177-184.
41
Apendice 1
Questionário de Caracterização do Sujeito
Nome:__________________________________________________________
Idade:_____ Data de Nascimento:___/___/______
Peso:________Altura:_______ Telefone:________________________
Clube:_____________________________
Categoria:___________________ Tempo de Categoria:___________________
1. Posição de jogo:
( ) meio ( ) ponta ( ) oposto ( ) levantadora ( ) libero
2. Membro Dominante: ( ) Direito ( ) Esquerdo
É o mesmo membro que utiliza para o ataque? ( ) sim ( ) não
3. Preferência de ataque: ( ) paralelo ( ) diagonal
4. Quantos dias treina por semana?___________________________________
5. Quantas horas por dia?_________________________________________
6. Já sofreu alguma lesão no ombro? ( ) sim ( ) não
Qual? ( ) Direito ( ) Esquerdo
Qual lesão?___________________ Há quanto tempo?___________
Fez cirurgia?_____________________
Ficou afastada devido à lesão? ( ) sim ( ) não Por quanto tempo?______
7. Atualmente sente dor em ombro? ( ) sim ( ) não
Qual? ( ) Direito ( ) Esquerdo
Nenhuma dor A maior dor possível
42
8. Já sofreu outra lesão? ( ) sim ( ) não
Onde?___________________ Há quanto tempo?__________
Fez cirurgia? ( ) sim ( ) não
Ficou afastada devido à lesão? ( ) sim ( ) não Por quanto tempo?_____
9. Apresenta alguma doença? ( ) sim ( ) não
Qual?_______________________
Faz acompanhamento médico? ( ) sim ( ) não
Faz uso de medicamentos? ( ) sim ( ) não
Qual?______________________
10. Faz uso de outro tipo de medicamento? ( ) sim ( ) não
Qual?_________________________________
Testes especiais para avaliar frouxidão de ombro
1. Sinal do Sulco ( ) positivo ( ) negativo
2. Apreensão ( ) positivo ( ) negativo
3. Instabilidade Posterior ( ) positivo ( ) negativo
4. Gaveta Anterior ( ) positivo ( ) negativo
5. Gaveta Posterior ( ) positivo ( ) negativo