COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO MUSCULAR E...

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RICARDO CAVALCANTE OLIVEIRA SANTOS COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO MUSCULAR E PROPRIOCEPTIVO EM JOGADORAS DE VOLEIBOL E NÃO ATLETAS SÃO PAULO 2010 Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID. Orientadora: Profª. Drª. Cristina Maria Nunes Cabral.

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RICARDO CAVALCANTE OLIVEIRA SANTOS

COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO MUSCULAR E PROPRIOCEPTIVO EM JOGADORAS DE VOLEIBOL E NÃO

ATLETAS

SÃO PAULO

2010

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID. Orientadora: Profª. Drª. Cristina Maria Nunes Cabral.

RICARDO CAVALCANTE OLIVEIRA SANTOS

COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO MUSCULAR E PROPRIOCEPTIVO EM JOGADORAS DE VOLEIBOL E NÃO

ATLETAS

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

UNICID

SÃO PAULO

2010

Dissertação apresentada como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Fisioterapia junto à Universidade Cidade de São Paulo - UNICID, sob a orientação da Profª. Drª. Cristina Maria Nunes Cabral.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente à Deus pela vida e saúde proporcionada.

Aos meus pais Uilson e Cleide pelo exemplo de bons pais que me deram por

muitos anos e apoio financeiro sempre presente em minha carreira de estudos.

Às minhas maravilhosas filhas Milena e Marcela pela alegria vista em simples

sorrisos. E a minha querida esposa Luana pelo apoio em todos os momentos

da vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à Profª Drª Cristina M.N. Cabral pela ajuda e orientação do

trabalho. Aos professores do programa de mestrado em Fisioterapia por de

alguma forma terem participado desta formação, e aos professores da banca

pela ajuda no fechamento do trabalho. Aos professores Fabio Navarro Cyrillo e

Sérgio de Souza Pinto pela ajuda no aprendizado dos aparelhos utilizados

neste trabalho. As participantes do estudo que prontamente aceitaram fazer

parte desta etapa. Ao treinador Silvio, do clube de voleibol Guarulhos, por toda

disposição em colaborar com este estudo na obtenção dos resultados. Aos

amigos que auxiliaram na realização dos testes: Marcus Vinicius, Alessandra

Cabistrano, Ed Wilson, Pâmela Peyneau, Thalissa.

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SUMÁRIO

Resumo .............................................................................................................. 6

1 Introdução...................................................................................................... 8

2 Objetivos ...................................................................................................... 19

2.1 Geral .................................................................................................................................. 19 

2.2 Específicos ......................................................................................................................... 19 

3 Métodos........................................................................................................ 20

3.1 Tipo do estudo................................................................................................................... 20 

3.2 Sujeitos .............................................................................................................................. 20 

3.3 Procedimento.................................................................................................................... 21 

3.4 Análise dos dados.............................................................................................................. 24 

4 Resultados ................................................................................................... 26

5 Discussão .................................................................................................... 29

6 Conclusão .................................................................................................... 35 

7 Referências Bibliográficas ......................................................................... 36 

Apêndice 1 ...................................................................................................... 41

Anexo 1 ........................................................................................................... 43

6

Resumo

Introdução: A propriocepção é uma variação especializada de uma

modalidade sensorial e atualmente é dividida em sensação de posição articular

(SPA) e cinestesia. Existe uma deficiência na literatura consultada de estudos

que relacionem o desempenho muscular de atletas de esportes que envolvem

membros superiores com a avaliação proprioceptiva. Esse tipo de avaliação é

importante, já que o equilíbrio da atividade muscular é considerado um

componente na prevenção de lesão em atletas. Objetivo: Comparar o

desempenho muscular e proprioceptivo do ombro de jogadoras de voleibol com

mulheres não atletas. Metodologia: Participaram do estudo 40 mulheres,

sendo 20 atletas de voleibol entre 15 e 22 anos e 20 não atletas, as quais

foram avaliadas de três formas. A primeira avaliação envolveu a avaliação da

SPA, na qual as participantes reproduziram dois ângulos alvo – 450 de rotação

medial e 750 de rotação lateral - após reposicionamento passivo. A segunda

avaliação foi da detecção de movimento em duas diferentes posições – sem

rotação do ombro e a 750 de rotação lateral - e na direção da rotação medial e

lateral, em que a angulação entre o início do movimento e a percepção pela

participante foi anotada. Por fim, foi realizada a avaliação isocinética do torque

concêntrico dos músculos rotadores mediais e laterais em duas velocidades:

60º/seg e 180º/seg com cinco repetições intervaladas em 10 segundos.

Resultados: Foi observada diferença estatisticamente significante na

comparação de idade, peso e altura das participantes (p<0,05), de forma que

as atletas eram mais jovens e apresentaram maior peso e altura do que as não

atletas. Também houve diferença significante do torque concêntrico a 180º/seg,

em que as atletas geraram menor torque para ambos os grupos musculares

avaliados – rotadores mediais (p=0,0443) e laterais (p=0,0156). Conclusão: As

participantes avaliadas apresentaram diferença na resposta muscular dos

rotadores do ombro em velocidades mais altas, porém não apresentaram

diferença na resposta proprioceptiva, provavelmente em razão do trabalho

muscular ao qual as atletas são submetidas.

Palavras chave: Propriocepção, Torque, Voleibol, Ombro.

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Abstract Introduction: The proprioception is a specialized variation of a sensorial

modality and is divided into two modalities: joint position sense (JPS) and

kinesthesia. The relation between shoulder proprioception and muscular

performance has not been extensively studied in athletes participating in upper

extremity sports. This evaluation should be important, since muscle activity

balance is considered one component of the injury prevention in athletes.

Purpose: To compare the muscular performance and shoulder proprioception

between volleyball players and a control group. Methods: Twenty volleyball

players aged between 15 and 22 years and twenty women non athletes were

evaluated in three different ways. The first evaluation assessed the JPS, in

which the participants should reproduce two target angles – 450 of medial

rotation and 750 of lateral rotation – after a passive positioning. The second

evaluation was the detection of passive motion in two different positions -

shoulder neutral rotation and 750 of lateral rotation – and in direction to medial

and lateral rotation. In this evaluation, the angular dislocation between the

beginning of the movement and the perception was considered as the variable.

The isokinetic concentric peak torque was the last evaluation, performed with

five repetitions and a rest period between sets of 10 seconds. This evaluation

considered two different velocities: 600/sec and 1800/sec and was performed in

both lateral and medial rotators. Results: A significant difference was shown in

the age, body mass and height between the participants (p<0.05). The

volleyball players were younger, higher and had more body mass than the non

athletes. Concentric peak torque at 1800/sec showed a significant difference,

since the torque of the volleyball players was lower for both muscle groups –

medial rotators (p=0.0443) and lateral rotators (p=0.0156). Conclusion: The

participants evaluated showed difference in the muscular response of shoulder

rotators in high velocities, although this was not observed in the proprioceptive

response, maybe because the muscular training imposed to the athletes.

Key words: Proprioception, Torque, Volleyball, Shoulder.

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1 Introdução

A propriocepção é caracterizada por aferências neurais cumulativas

originadas de mecanorreceptores localizados nas cápsulas articulares,

ligamentos, músculos, tendões e pele com destino ao sistema nervoso central.

É dividida em três sub-modalidades: consciência estática da posição articular;

consciência cinestésica, que detecta o movimento e sua aceleração; e resposta

reflexa eferente, necessária para regulação do tônus e da atividade muscular

(Lee et al., 2003; Voight e Cook, 2003). Mais recentemente, a nomenclatura

adotada para suas sub-modalidades é: a sensação de posição articular (SPA),

ou seja, a capacidade de um indivíduo para identificar a posição do membro no

espaço, que está relacionada com a mensuração do movimento ativo; e a

cinestesia ou detecção de movimento (DM), que é a capacidade de detectar a

movimentação do membro, relacionada com a mensuração do movimento

passivo (Lephart et al., 2002; Suprak et al., 2006; Whiteley et al., 2008). A

diferença básica entre essas sub-modalidades é que a SPA reflete a habilidade

do indivíduo em detectar a posição da articulação em relação a outras

estruturas corporais enquanto a cinestesia é a habilidade do sujeito em sentir o

movimento e a sua direção (Janwantanakul et al., 2001).

Segundo a Classificação Internacional de Funcionalidade, a função

proprioceptiva pode ser definida como as funções sensoriais que permitem

sentir a posição relativa das partes do corpo (Buchalla, 2003).

Outra perspectiva classifica a propriocepção em consciente ou voluntária

e inconsciente ou reflexa, sendo essenciais para o bom funcionamento articular

nas atividades funcionais, esportivas e para a estabilização reflexa (Lephart e

9

Fu, 2000; Andrews et al., 2000). A propriocepção consciente libera estímulos

por meio dos mecanorreceptores que partem do corno posterior da medula

rumo ao córtex cerebral pelo funículo posterior através do fascículo grácil,

responsável pela condução dos estímulos dos membros inferiores e metade

inferior do tronco. A outra porção surge do funículo posterior através do

fascículo cuneiforme, responsável pela condução dos estímulos dos membros

superiores e metade superior do tronco. Chegam ao córtex cerebral na região

da área somestésica, sendo responsáveis pelos sentidos de posição e

movimento (Lephart e Fu, 2000).

Na propriocepção inconsciente, os estímulos liberados por meio dos

mecanorreceptores atingem a medula espinal, regulando a ação reflexa

muscular (arco reflexo miotático). Portanto, quanto melhor e mais rápida for a

velocidade da resposta neuromuscular perante os estímulos, mais eficiente

será a estabilização reflexa (Lephart e Fu, 2000; Kandel et al., 2003).

Os mecanorreceptores são estruturas terminais especializadas, cuja

função é transformar a energia mecânica da deformação física (alongamento,

compressão e pressão) em potenciais de ação nervosos que geram as

informações proprioceptivas. Estas informações de posição e movimento

articular são originadas através de um feedback sensorial aferente dos

receptores que se projetam diretamente para as vias reflexas e corticais. Os

potenciais de ação gerados são classificados de acordo com a velocidade de

descarga sensorial, sendo assim divididos em receptores de rápida adaptação,

que cessam a emissão de descarga logo após o início de um estímulo, e

receptores de lenta adaptação, os quais continuam a emissão de descarga

enquanto o estímulo estiver presente. Os mecanorreceptores de adaptação

10

rápida são responsáveis por proporcionar sensações cinestésicas conscientes

e inconscientes em resposta ao movimento ou aceleração articular enquanto os

mecanorreceptores de adaptação lenta proporcionam feedback contínuo, ou

seja, informam a posição em que a articulação se encontra no espaço (Voight e

Cook, 2003).

Estes mecanorreceptores, em geral, podem gerar um reflexo

proprioceptivo que tem como função primária ajustar a eferência motora de

acordo com o estado biomecânico do corpo e dos membros. Isso garante um

padrão coordenado da atividade motora durante a realização de um movimento

e fornece um mecanismo que compensa a variabilidade intrínseca da eferência

motora (Kandel et al., 2003).

O papel dos mecanismos proprioceptivos na manutenção da

estabilidade articular é essencial para o desempenho coordenado de tarefas

funcionais de vida diária bem como para as mais exigentes habilidades

atléticas. Essa característica é especialmente importante para a articulação do

ombro, em que a estabilidade é sacrificada por uma grande amplitude de

movimento (ADM) (Kandel et al., 2003).

Mesmo que vários músculos participem da manutenção da mobilidade e

estabilidade dinâmica da articulação do ombro, a baixa estabilidade da mesma

é devido à pequena congruência óssea e relativa ineficiência das restrições

mecânicas fornecidas pela cápsula articular e ligamentos em condições

dinâmicas (Nordin e Frankel, 2001; Herrington et al., 2008). Tem sido postulado

que sinais aferentes decorrentes da articulação do ombro e seus

mecanorreceptores permitem que o sistema nervoso central mantenha a

estabilização muscular e a coordenação sobre a articulação e auxilie na

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produção de movimentos suaves enquanto minimiza a possibilidade de lesão

articular (Suprak et al., 2006).

A articulação do ombro é uma das mais utilizadas em esportes que

envolvem arremesso. Ainda que o voleibol não seja um desses esportes, os

movimentos esportivos realizados envolvem grande ADM de ombro. A

evolução física, técnica, tática e psicológica desta modalidade acompanhou o

ritmo e as necessidades do próprio voleibol, evitando maior número de erros

em suas ações (Wang e Cochrane, 2001). Concomitante a esse

aprimoramento da prática esportiva, vem aumentando o número de lesões por

overuse, já que os movimentos repetidos em ADM extrema e com alta

velocidade são comuns. Assim, essas lesões representam 23% do total de

lesões no voleibol (Rokito et al., 1998).

Considerando o número de lesões envolvidas na prática esportiva,

diversos autores têm se preocupado em pesquisar as respostas musculares de

atletas mediante diferentes estímulos. Uma dessas respostas está relacionada

à avaliação da propriocepção.

Nesse sentido, Dover et al. (2003) determinaram as diferenças na SPA

entre atletas colegiais de softbol e atletas de outro esporte que não utilizavam a

articulação do ombro em seus esportes. Para isso, foram selecionadas 100

participantes, sendo 50 atletas de softbol e 50 atletas que não realizavam

movimentos com os membros superiores em suas atividades esportivas. As

atletas ficaram em supino com ombro abduzido e cotovelo fletido a 90º. A SPA

foi avaliada com um inclinômetro em dois ângulos alvo: 82º de rotação lateral e

62º de rotação medial, que representavam 90% da ADM total de rotação

observada entre as participantes. Foi realizado o posicionamento passivo pelo

12

avaliador em cada ângulo alvo com tempo de percepção de 3 segundos e, em

seguida, solicitado o reposicionamento ativo, com os dois membros superiores

(dominante e não dominante) e três tentativas para cada movimento. Os

resultados demonstraram que as atletas de softbol obtiveram um erro

significantemente maior no movimento de rotação lateral, independente da

dominância de membro superior, variando de 3,5º em atletas que não usam o

membro superior para 5º em atletas de softbol. Esse erro maior foi justificado

pela presença de frouxidão capsulo-ligamentar em algumas atletas. Por fim, os

autores afirmam que há uma deficiência na literatura em relação a estudos que

avaliem a SPA em atletas do gênero feminino.

Safran et al. (2001) realizaram um estudo com o objetivo de comparar a

SPA do membro dominante e não dominante de jogadores de beisebol.

Selecionaram 21 atletas colegiais de beisebol sem histórico de lesão nos

ombros, os quais foram posicionados em supino com 90º de abdução e flexão

de ombro e cotovelo, em um equipamento especificamente montado para este

estudo, composto por um miniprocessador digital, um dispositivo de

compressão pneumática e um motor. Os testes foram realizados passivamente

a uma velocidade de 0,5º/seg, devendo partir da posição inicial descrita acima,

para o ângulo alvo de 75º de rotação lateral e outro que representava 75% da

rotação lateral máxima do ombro analisado. O tempo para percepção do

ângulo alvo foi de 10 segundos e após, os sujeitos deveriam reposicionar o

membro superior por três tentativas. Os autores não encontraram diferença

significante em nenhuma comparação entre os membros dos jogadores

analisados.

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Também avaliando atletas, Allegrucci et al. (1995) fizeram um estudo

com objetivo de verificar a diferença na DM entre membro dominante e não

dominante em duas posições, a interação entre as variáveis dominância de

membro superior e posição adotada pelo atleta no teste e a relação entre

rotação medial e lateral através da DM. Para isso, foram selecionados 20

atletas de beisebol do gênero masculino entre 18 e 21 anos de idade e quatro

jogadores de tênis com média de 10 anos de prática esportiva. A avaliação da

ADM passiva de rotação lateral e medial foi mensurada com os atletas em

posição supino e 90º de abdução de ombro com um goniômetro. Para a DM, foi

reproduzido um aparelho montado anteriormente por Lephart et al. (2002), o

qual contém um motor, painel de controle, dispositivo de compressão

pneumática e um microprocessador digital. Os participantes foram colocados

em posição supino com 90º de abdução de ombro e flexão de cotovelo, sendo

utilizadas duas posições iniciais: 0º e 75º de rotação lateral. Os sujeitos

deveriam apertar um botão assim que sentissem o movimento do braço,

realizando um total de 12 tentativas, considerando rotação medial e lateral. Os

resultados apontaram que o membro dominante teve uma perda

estatisticamente significante da propriocepção quando comparado com o

membro não dominante, assim como a diferença entre posição e dominância

de membro superior e uma propriocepção diminuída durante a rotação lateral

quando comparada com a rotação medial. Os autores concluíram que os

atletas possuem um déficit cinestésico entre membro dominante e não

dominante.

Pensando na fadiga muscular, Lee et al. (2003) investigaram os efeitos

desta na SPA do ombro. Para isso, selecionaram 11 homens com idade média

14

de 27 anos, os quais foram posicionados em supino no dinamômetro

isocinético Con-Trex com 90o de abdução e rotação lateral de ombro e 90o de

flexão de cotovelo no plano escapular. Os ângulos alvo avaliados foram 45o de

rotação medial e 75o de rotação lateral (nesse caso, a posição inicial foi de 30o

de rotação lateral e 90o de abdução de ombro e 90o de flexão de cotovelo), com

os sujeitos realizando reposicionamento ativo a uma velocidade de 2o/seg e

reposicionamento passivo a 0,5o/seg em três tentativas. Foi realizada uma

avaliação pré-fadiga; em seguida, o indivíduo realizou o teste de fadiga com

cinco repetições de contração muscular máxima, e após três minutos, foi

realizado o teste pós-fadiga. Na análise dos resultados, verificou-se diferença

significante apenas na comparação pré e pós-fadiga do reposicionamento ativo

da rotação lateral de ombro, com os autores concluindo que, somente neste

movimento, a fadiga muscular tem uma interferência direta sobre a acuidade

proprioceptiva.

Com o mesmo objetivo do estudo anterior, Carpenter et al. (1998)

selecionaram 20 indivíduos sem histórico de lesão musculoesquelética nos

ombros. O limiar de DM foi avaliado em equipamento especialmente preparado

para o estudo, com o indivíduo sentado, ombro em 30º de adução horizontal no

plano escapular, 90º de flexão de cotovelo, de abdução e rotação lateral de

ombro. A uma velocidade de 1º/seg, o equipamento realizou aleatoriamente o

movimento de rotação lateral ou rotação medial e foi solicitado que o voluntário

indicasse o exato momento em que percebia o movimento e a sua direção.

Esse procedimento foi repetido por 10 vezes. Em seguida, a uma velocidade de

180º/seg, os sujeitos realizaram movimentos de rotação medial e lateral do

ombro até que o pico de torque da rotação medial representasse 50% do obtido

15

no início dos exercícios. Após a indução de fadiga, foi realizado novamente o

teste de DM. Verbalmente os indivíduos relataram apresentar fadiga muscular

após os testes, mas os resultados não evidenciaram diferença estatisticamente

significante entre os membros, concluindo que essa fadiga induzida não

interferiu na propriocepção dos indivíduos.

Para verificar os efeitos da realização de exercícios físicos sobre a

propriocepção, Björklund et al. (2006) avaliaram a influência do alongamento

muscular na SPA. Para isso, selecionaram nove homens e nove mulheres sem

lesão musculoesquelética, os quais foram divididos em três grupos: controle,

grupo que realizou alongamento de músculos denominados como agonistas

(bíceps braquial, coracobraquial, deltóide fibras claviculares e peitoral maior) e

grupo que realizou alongamento dos músculos antagonistas (deltóide fibras

acromiais e manguito rotador) por sete dias, sendo os músculos alongados ao

menos duas vezes por dia. Antes e após o alongamento, os participantes foram

posicionados sentados em um aparelho construído exclusivamente para este

estudo, iniciando os testes com o ombro a 90º de flexão e adução horizontal de

45º. Os ângulos alvo avaliados foram de 30º e 15º de adução horizontal, com

um tempo de percepção de 5 segundos em cada ângulo a uma velocidade de

10º/seg. Foram realizadas seis tentativas de reposicionamento em cada ângulo

alvo. Os resultados apontam que houve uma diferença entre os testes antes e

depois do alongamento, maior no grupo dos músculos antagonistas e no

ângulo alvo de 15º. Porém, em nenhum deles, essa diferença demonstrou

significância estatística, sendo possível concluir que o alongamento muscular

não interferiu na resposta proprioceptiva.

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Com objetivos diferentes, Aydin et al. (2001) investigaram a SPA de 44

indivíduos, divididos em grupo controle (24 sujeitos sem lesão

musculoesquelética) e grupo experimental (20 pacientes após procedimento de

reparação cirúrgica no ombro). Os testes foram realizados no dinamômetro

isocinético Cybex, ficando os sujeitos com olhos vendados na posição supino

com 90º de flexão de cotovelo e abdução de ombro, no plano sagital. Foi

realizado o posicionamento passivo no ângulo alvo de 20º de rotação lateral

tanto com o membro dominante como com o não dominante, permanecendo na

posição por 10 segundos. Em seguida, foi solicitado o reposicionamento ativo

por três tentativas. Os autores verificaram que não houve uma diferença

estatisticamente significante entre os grupos, visto que no grupo controle houve

uma variabilidade de 1,16º a 1,57º e no grupo experimental de 1,22º a 1,46º.

Dessa forma, foi possível concluir que a lesão e o reparo cirúrgico não

interferiram na propriocepção desses sujeitos.

Por fim, Cuomo et al. (2005) visaram avaliar a propriocepção de ombro

como um todo, avaliando-a em pacientes com osteoatrose (OA) e participantes

sem patologia no ombro e determinando as mudanças ocorridas na

propriocepção após uma artroplastia total de ombro. Participaram de sua

pesquisa 40 indivíduos com média de idade de 69 anos, sendo 20 com OA e

20 sem patologia, chamados de sem OA. A mensuração da SPA e da DM foi

feita com goniômetro, eletrogoniômetro e dinamômetro isocinético em três

movimentos: flexão, abdução e rotação lateral do ombro, uma semana antes e

seis meses após a cirurgia. Os ângulos alvo avaliados tanto para SPA quanto

para DM foram 10o de flexão, 50o de abdução, 10o de rotação medial e 20o de

rotação lateral de ombro, sendo a posição para percepção em SPA mantida por

17

4 segundos e realizada a uma velocidade de 2o/seg, por três tentativas. Notou-

se que só houve diferença estatisticamente significante quando comparada a

SPA do ombro não afetado e ombro afetado com OA antes da cirurgia. Na DM,

não houve diferença estatisticamente significante.

Observando os estudos descritos anteriormente, pode-se constatar que o

dinamômetro isocinético é rotineiramente utilizado para avaliar a SPA e DM por

ser de fácil manuseio e fornecer precisão em relação à velocidade aplicada e

posicionamento do voluntário (Chandler et al., 1992; Codine et al., 1997; Cools

et al., 2005).

Outros estudos encontrados na literatura abordam a avaliação

isocinética dos músculos rotadores do ombro com o objetivo de verificar o

desempenho muscular. Assim, Wang et al. (2000) compararam o torque dos

músculos rotadores de ombro do membro dominante e não dominante em 10

atletas do gênero masculino de voleibol, em duas diferentes velocidades:

60º/seg e 120º/seg, com ADM de 50º de rotação lateral para 50º de rotação

medial, com três repetições e 10 segundos de intervalo entre cada repetição e

30 segundos de intervalo entre as velocidades. Foi observada diminuição de

ADM de rotação medial e desequilíbrio do torque muscular entre os membros,

da seguinte forma: na velocidade de 60º/seg, foi verificada diferença

estatisticamente significante em contração concêntrica e excêntrica, sendo o

torque maior no membro dominante tanto para rotadores mediais quanto

laterais; e a 120º/seg apenas na contração concêntrica, sendo o torque maior

no membro não dominante em ambas as rotações.

Semelhantemente, Cingel et al. (2006) fizeram um estudo com 35 atletas

de voleibol do gênero masculino, comparando torque dos músculos rotadores

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do ombro em três diferentes velocidades: 60º/seg, 180º/seg e 300º/seg no

dinamômetro isocinético Cybex com três a cinco repetições intervaladas em 30

segundos e ADM de 50º de rotação lateral para 50º de rotação medial. Foi

observada diferença estatisticamente significante em todas as velocidades

quando comparado o torque do membro dominante com o não dominante,

obtendo um valor de torque maior no movimento de rotação medial no membro

dominante.

Contudo, nenhum estudo encontrado na literatura consultada avalia o

desempenho muscular de atletas de esportes que envolvem membros

superiores juntamente com a avaliação proprioceptiva. Esse tipo de avaliação

seria importante, já que o equilíbrio muscular é considerado um componente na

prevenção de lesão em atletas.

A literatura possui diversos estudos comparando membro dominante com

não dominante (Safran et al., 2001; Alegrucci et al., 1995; Aydin et al., 2001),

porém há a necessidade de mais estudos que comparem atletas com não

atletas, já que foi encontrado apenas um estudo na literatura consultada que

realizou esse tipo de avaliação (Dover et al., 2003), observando uma alteração

na SPA. Enquanto isso, outros estudos que compararam membro superior

dominante com não dominante apresentam resultados controversos. Assim,

esse dado pode ser inconclusivo visto a falta de mais estudos nessa área,

especialmente com atletas do gênero feminino.

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2 Objetivos

2.1 Geral

Comparar o desempenho muscular e proprioceptivo do ombro de

jogadoras de voleibol com mulheres não atletas. A hipótese é que as atletas

não terão diferença na resposta proprioceptiva, mas terão uma diferença na

resposta muscular decorrente do treinamento físico realizado.

2.2 Objetivos Específicos

• Comparar a sensação de posição da articulação do ombro de forma

ativa em dois diferentes ângulos alvo;

• Comparar o limiar de detecção de movimento de ombro em duas

diferentes posições de rotação;

• Obter os valores do pico de torque de forma isocinética.

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3 Material e Métodos

3.1 Tipo de estudo: transversal

3.2 Sujeitos

Para participar do estudo foram selecionadas 40 mulheres, divididas da

seguinte forma:

• Grupo experimental (GE): 20 praticantes de voleibol das categorias

infanto, juvenil e adulto, com idade entre 15 e 22 anos, com pré-

avaliação de altura, peso e índice de massa corporal (IMC), submetidas

a um treinamento físico similar. Os critérios de inclusão foram tempo

mínimo de prática esportiva de dois anos e treino semanal de 6 horas.

Foram realizados os testes no membro que realiza o gesto esportivo,

seja ele dominante ou não.

• Grupo controle (GC): 20 mulheres sem prática esportiva regular

envolvendo os membros superiores.

Os critérios de exclusão para os grupos foram frouxidão capsulo-

ligamentar no ombro, lesões ou cirurgias em membros superiores que

impediram a praticante de participar das atividades esportivas por mais do que

duas semanas nos últimos 12 meses e também lesão cervical que limitou a

função nos últimos 12 meses. Caso a participante relatasse dor, esta era

mensurada por uma escala visual analógica (Allegrucci et al., 1995; Barros

Filho e Lech, 2001; Barden et al., 2004).

21

Antes de participar do estudo, as participantes foram esclarecidas em

relação ao protocolo experimental da pesquisa e assinaram um termo de

consentimento livre e esclarecido se a idade fosse superior a 18 anos. Caso

contrário, o termo foi assinado pelo treinador da equipe feminina de voleibol da

cidade de Guarulhos ou pelos pais das participantes do GC. Este projeto foi

aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNICID – protocolo número

13348722 (Anexo 1).

Todos os testes foram realizados na Clínica de Fisioterapia da UNICID,

onde o dinamômetro isocinético (Cybex 6000) está disponível.

3.3 Procedimentos

Os testes foram realizados 24 horas após o treino das jogadoras a fim

de evitar a influência da fadiga muscular na avaliação. A ordem das avaliações

foi a mesma da descrição dos procedimentos abaixo.

Inicialmente, as participantes dos dois grupos foram avaliadas em

relação aos critérios de inclusão e exclusão, por meio de um questionário de

caracterização do sujeito e aplicação de testes especiais (Apêndice 1) (Barros

Filho e Lech, 2001. Nas voluntárias do GC, além dos dados pessoais, foram

realizadas as questões e testes referentes aos itens 6 a 11 do questionário.

3.3.1 Avaliação da SPA

A voluntária foi posicionada no dinamômetro na posição supino com

membro superior em 90º de abdução de ombro e 90º de flexão de cotovelo e

em posição neutra para rotação de ombro (Figura 1).

22

Figura 1 – Posicionamento inicial para avaliação de SPA e DM com rotação

neutra.

A avaliação da SPA foi realizada em dois diferentes ângulos alvo,

escolhidos de forma aleatória, por sorteio: 45º de rotação medial e 75º de

rotação lateral. O membro superior da voluntária foi posicionado a 0º de

rotação para avaliação do ângulo alvo de 45º de rotação medial (figura 1) e

posicionado a 30º de rotação lateral para a avaliação do ângulo alvo de 75º de

rotação lateral. A uma velocidade de 2º/seg, o dinamômetro posicionou

passivamente o ombro no ângulo alvo sorteado e permaneceu nessa posição

por 10 segundos para a percepção. Após esse tempo, o membro superior

retornou passivamente para a posição inicial. Foi solicitado que a voluntária

fizesse o reposicionamento ativo do ombro na posição que considerava como

ângulo alvo por três vezes, sendo esse valor anotado como ângulo estimado.

As participantes utilizaram venda afim de que não recebessem nenhum

estímulo visual (Lee et al., 2003; Ulkar et al., 2004).

23

3.3.2 Avaliação da DM

A voluntária permaneceu deitada no dinamômetro. Para esta avaliação,

foram utilizadas duas posições iniciais de rotação do ombro, escolhidas de

forma aleatória, por sorteio. A primeira posição foi a neutra para rotação de

ombro (Figura 1) e a segunda de 75º de rotação lateral. Em ambas, o membro

foi movimentado passivamente a uma velocidade de 0,5º/seg por três vezes

em cada direção – rotação medial e rotação lateral, devendo o participante

relatar quando sentia o membro se movimentando e a direção em que o

movimento estava ocorrendo. O limiar de DM passivo foi mensurado pelo

deslocamento angular entre a posição inicial e a posição em que o movimento

foi detectado. As atletas utilizaram venda afim de que não recebessem nenhum

estímulo visual (Allegrucci et al., 1995; Lee et al., 2003).

3.3.3 Avaliação isocinética

Foi realizada no dinamômetro isocinético, tomando como base o mesmo

posicionamento dos testes anteriores, em duas diferentes velocidades – 60º/s e

180º/s. Todas as participantes fizeram um aquecimento prévio de três

repetições submáximas (50-75% do pico de torque). O teste foi iniciado a uma

velocidade de 60º/s, sendo realizadas cinco repetições máximas de contração

concêntrica dos rotadores mediais e laterais em ambas as velocidades,

continuando com a velocidade de 180º/seg, com intervalo de 10 segundos de

descanso entre as repetições e intervalo de 30 segundos entre as velocidades

(Baltaci et al., 2004; Gozlan et al., 2005). Em ambas as velocidades, a ADM foi

de 50º de rotação lateral para 50º de rotação medial (Cingel et al., 2006; Wang

et al., 2000).

24

3.4 Análise dos dados e estatística

Para a avaliação da SPA, foram analisadas as angulações reproduzidas

pelos participantes em relação aos ângulos alvo. Para cada valor observado,

foram analisados o direcionamento e o valor do erro, sendo possível

estabelecer em graus o valor do erro e determinar se o alvo foi ultrapassado,

atingido ou não alcançado. Dessa forma, a variável erro relativo foi definida

pela diferença aritmética entre o ângulo alvo e o ângulo estimado. O erro

relativo é representado pela acurácia direcional, ou seja, se a resposta for

subestimada o valor fica negativo, mas se for superestimada terá um valor

positivo. Por exemplo, partindo da posição neutra para um ângulo alvo de 45º,

se o participante alcançar 40º, o erro relativo irá apontar -50, porém se o

participante chegar a 47º, o erro relativo será de 20 sem sinal negativo. Já o

erro absoluto foi determinado apenas pela diferença média entre o ângulo alvo

e o ângulo estimado após as três tentativas (Baker et al., 2002).

Para a avaliação da DM, o limiar do movimento passivo foi mensurado

pelo deslocamento angular entre a posição inicial e a posição em que o

movimento foi detectado. Também foi considerado o direcionamento do

movimento referido pelo voluntário (Alegrucci et al.,1995).

Na avaliação isocinética, foi analisada a relação pico de torque/massa

corporal, em porcentagem, nas duas velocidades testadas (Cingel et al., 2006).

Após a coleta de dados, foi realizada a análise estatística. Inicialmente

foi testada a normalidade pelo teste de Shapiro Wilk. Os dados que

apresentaram distribuição normal – idade, torque a 180º/seg para rotadores

mediais e laterais, erro relativo da SPA com ângulo alvo de 45º de rotação

25

medial e lateral - foram comparados entre os grupos pelo teste t para amostras

independentes. Por outro lado, as variáveis peso, altura, IMC, torque a 60º/seg

para rotadores mediais e laterais, erro absoluto da SPA com ângulo alvo de 75º

de rotação medial e lateral e detecção de movimento em todas direções e

ângulos, sem distribuição normal, foram comparadas pelo teste de Mann

Whitney. Toda a análise estatística foi realizada com 5% de significância.

26

4 Resultados

A Tabela 1 apresenta os dados de caracterização das participantes com

os dados antropométricos de cada grupo e dados relacionados a critérios de

elegibilidade para o GE. Houve diferença estatisticamente significante entre os

grupos em três itens: idade, peso e altura (p<0,05).

Tabela 1 – Caracterização das participantes.

GE (n=20) GC (n=20) p

Idade (anos) 17,45 (1,76) 20,25 (1,16) <0,0001*

Peso (kg) 66,52 (10,77) 59,35 (8,68) 0,0038*

Altura (m) 1,71 (0,14) 1,68 (0,03) 0,0034*

IMC (kg/m2) 23,14 (5,90) 21,08 (3,18) 0,1017

Membro testado (%) 95 - Direito

5 - Esquerdo

90 - Direito

10 - Esquerdo

---

Tempo de categoria (anos) 2,05 (0,76) --- ---

Horas de treino por dia (h) 3,38 (1,06) --- ---

Lesão no ombro (%) 15 0 ---

Dor (%; cm) 35

4,14 (2,41)

0 ---

* Diferença estatisticamente significante entre os grupos (p<0,05)

A Tabela 2, por sua vez, apresenta os erros absolutos e relativos da

SPA e o limiar de DM, comparando o GE com o GC. Não foi observada

diferença significante dessas variáveis entre os grupos (p>0,05). Uma das

participantes, do GE, ao realizar o teste de DM partindo da posição neutra para

a rotação lateral, errou a direção do movimento nas três tentativas, relatando

achar que o movimento passivo estava sendo realizado na direção da rotação

medial. Não houve nenhum outro relato de erro na direção do movimento.

27

Tabela 2 – Erros relativos e absolutos da SPA e o limiar de DM, em graus,

observados nos grupos avaliados.

GE (n=20) GC (n=20) p

Erro Relativo SPA 45º RM (º) 3,95 (2,39) 0,55 (3,05) 0,2366

Erro Absoluto SPA 45º RM (º) 8,12 (1,99) 7,28 (3,03) 0,7868

Erro Relativo SPA 75º RL (º) -2,28 (2,46) -5,57 (2,34) 0,2851

Erro Absoluto SPA 75º RL (º) 8,32 (2,23) 8,90 (1,95) 0,6073

DM 0º RM (º) 2,4 (0,3) 1,4 (0,29) 0,0834

DM 0º RL (º) 2,0 (0,5) 2,1 (1,27) 0,0935

DM 75º RM (º) 1,8 (0,7) 1,4 (0,57) 0,2340

DM 75º RL (º) 2,0 (0,7) 1,5 (0,44) 0,1719

* Diferença estatisticamente significante entre os grupos (p<0,05)

(RM: Rotação Medial; RL: Rotação Lateral; DM: Detecção de Movimento)

Na Figura 2, estão apresentados os valores do torque concêntrico dos

músculos rotadores de ombro nos dois grupos avaliados. Foi observada

diferença estatisticamente significante no torque avaliado a 180º/seg tanto para

os músculos rotadores mediais (p=0,0443) quanto para os rotadores laterais

(p=0,0156).

28

05

1015202530354045

Torque RM60º/s

Torque RL60º/s

Torque RM180º/s

Torque RL180º/s

%

GE

GC

Figura 2 – Torque concêntrico dos músculos rotadores mediais e laterais

avaliado a 600/s e 180/s, em %.

* Diferença estatisticamente significante entre os grupos (p,0,05)

(RM: Rotação Medial; RL: Rotação Lateral)

* *

29

5 Discussão

Um dos primeiros estudos a analisar a propriocepção de ombro foi

realizado por Hall e McCloskey (1983), e ao longo dos anos esta articulação

tem sido estudada por diversos autores. Leparth et al. (1994) concluíram que a

dominância de membro não interfere na resposta proprioceptiva, opinião esta

que posteriormente foi complementada por outros autores, que afirmam que o

alongamento, a fadiga e o reparo cirúrgico também não interferem na

propriocepção. Esses trabalhos incluíram exclusivamente atletas da mesma ou

de diferente modalidade esportiva (Aydin et al., 2001; Björklund et al., 2006;

Carpenter et al., 1998; Safran et al., 2001).

Sendo assim, optou-se neste trabalho em realizar um estudo

comparando atletas com não atletas. Na realização dos testes, utilizou-se um

dinamômetro isocinético porque o objetivo deste estudo era não só a análise

proprioceptiva pela SPA e DM, mas também uma análise do torque, o que não

seria possível caso optássemos pela construção de um aparelho exclusivo para

este estudo, com ocorreu com Alegrucci et al. (1995). Outros estudos

encontrados na literatura também utilizaram um dinamômetro isocinético para a

avaliação do torque em atletas (Wang et a.l, 2000; Cingel et al., 2006).

De acordo com a Tabela 1, podem ser notadas algumas diferenças

significantes entre os grupos testados neste estudo, sendo que as participantes

do GE são mais jovens, possuem maior peso corporal e maior altura. Poucos

são os trabalhos encontrados na literatura que realizaram uma avaliação

comparativa entre um grupo de atletas com não atletas. Dentre os que

realizaram, não há uma análise estatística comparando os dados

30

antropométricos. Assim, Dover et al. (2003) avaliaram um grupo de atletas de

softbol com outro grupo de atletas que não realizam atividade com o membro

superior e observa-se uma diferença de peso corporal entre os dois grupos de

aproximadamente 7kg. Porém, não é possível concluir se essa diferença entre

os valores é estatisticamente significante pela ausência de comparação

estatística.

Por outro lado, Aydin et al. (2001) avaliaram dois grupos de pacientes

com uma diferença média de três anos de idade, não sendo possível

novamente concluir se a mesma era significante, pela ausência de comparação

estatística. Nesta mesma perspectiva, Cuomo et al. (2005) compararam um

grupo de pacientes com OA com outro grupo de pacientes sem a patologia,

pareando a amostra de forma minuciosa. Assim, não foi observada diferença

entre os grupos.

Neste estudo, também pretendíamos parear a amostra, mas isso não foi

possível. O GC seria a princípio formado por atletas sem utilização de membro

superior em seu esporte, selecionadas no mesmo clube das atletas de voleibol,

mas não pudemos ter acesso a essas atletas. Assim, o GC foi formado por

universitárias da área da saúde e houve diferença entre as variáveis

antropométricas, o que constitui uma limitação de nosso estudo.

Já na Tabela 2, pode ser observada diferença no torque avaliado a

180º/seg tanto para os músculos rotadores mediais quanto para os laterais,

sendo que o GE apresentou valores menores do que o GC. Isto provavelmente

ocorreu porque as atletas possuem um peso corporal maior, visto que os

valores médios do torque estão divididos pela massa corporal. Scheinder et al.

(2004) afirmam que com o teste realizado em uma velocidade mais alta no

31

dinamômetro isocinético, os resultados tendem a ser consideravelmente

maiores, obtendo assim um valor de torque estatisticamente significante.

Para a propriocepção, a literatura afirma não haver influência da

dominância de membro (Aydin et al., 2001; Björklund et al., 2006; Carpenter et

al., 1998; Safran et al., 2001; Leparth et al. 1994). Porém para o torque parece

haver influência. Assim, Wang et al. (2000) avaliaram 10 jogadores de voleibol

do gênero masculino, comparando membro dominante com não dominante,

utilizando tempo de intervalo semelhante ao nosso estudo (10 segundos entre

os testes e 30 segundos entre as velocidades) e encontraram diferença

estatisticamente significante do torque entre músculos rotadores mediais e

laterais na velocidade de 60º/seg em ambos membros, enquanto a 120º/seg foi

observada diferença no torque no membro não dominante. Levando em

consideração que este membro não dominante das atletas pode possuir uma

semelhança com o membro dominante de não atletas, já que estes não são

treinados da mesma forma como é o membro dominante da atleta, isso pode

justificar o fato de nosso estudo ter encontrado um torque maior em não

atletas.

Cingel et al. (2006) avaliando e comparando membro dominante e não

dominante de atletas de voleibol do sexo masculino com idade média de 24

anos, 90kg de massa corporal e 1,99m de altura, com treino semanal de 20 a

30 horas, encontraram diferença estatisticamente significante no torque dos

músculos rotadores mediais quando comparada com os laterais, nas mesmas

velocidades de 60º/seg e 180º/seg, e também na outra velocidade avaliada,

300º/seg. Apesar de nosso estudo ter avaliado o torque na mesma ADM, o

tempo de intervalo entre uma contração e outra é diferente. Enquanto nós

32

utilizamos o mesmo tempo de intervalo de Wang et al. (2000), este estudo

utilizou 30 segundos de intervalo entre os testes. Provavelmente este estudo

encontrou diferença em velocidades que não encontramos, porque em todos

dados antropométricos, estes atletas possuem valores superiores ao das

atletas de nosso estudo.

Porém esses estudos foram realizados apenas com um grupo de atletas,

sem comparação com grupo controle. Em nosso estudo, não foi apontada

diferença entre os grupos na velocidade de 60º/seg, diferentemente dos dois

anteriores, que realizaram uma comparação entre membro dominante e não

dominante. Essa diferença em relação ao nosso estudo também pode ter

ocorrido porque avaliamos sempre o membro superior dominante nos dois

grupos, que segundo Fernandez et al. (1999) tende a ser mais forte que o não

dominante, tendo ainda um grau de força maior nos músculos rotadores

mediais do que nos laterais, sendo que os rotadores laterais representam 63%

da força dos rotadores mediais.

Outra variável analisada sem significância estatística, a SPA foi avaliada

através do erro relativo e erro absoluto, mas ambos os valores não tiveram

diferenças significantes entre grupos.

Nesse sentido, a literatura é bem controversa. Lee et al. (2003)

avaliaram 11 homens não atletas, usando a mesma metodologia do nosso

estudo em velocidade e ângulo alvo, e assim notaram diferença no

reposicionamento ativo, porém, diferentemente do nosso estudo, avaliaram

SPA pré e pós-fadiga. Safran et al. (2001) ao avaliarem SPA de 21 atletas de

beisebol com a velocidade de 0,5º/seg com ângulo alvo de 75º de RL e outra

de 75% da RL máxima, encontraram diferença entre atletas e não atletas, mas

33

justificam essa diferença pela tendinite das atletas avaliadas. Podemos

relacionar o fato deste estudo ter encontrado diferença, o que não ocorreu em

nosso estudo, pela prática esportiva ser diferente e o gesto esportivo ser

puramente realizado com arremesso e rebatida, acontecendo com ADM abaixo

de 90º de abdução de ombro, enquanto no voleibol, o gesto esportivo ocorre

acima dessa amplitude.

Por outro lado, Cuomo et al. (2005) em sua avaliação de 40

participantes, sendo 20 com OA e 20 sem lesão de ombro, usaram um tempo

de 4 segundos de percepção na SPA, mas com a mesma velocidade do nosso

estudo (2º/seg), mas não observaram diferença entre os grupos avaliados.

Talvez isso tenha ocorrido porque foram avaliadas participantes com uma

determinada patologia. Barden et al. (2004), avaliando 12 sujeitos com

instabilidade de ombro e outros 12 sujeitos sem lesão de ombro, realizada

através de uma vídeo câmera 3D, também não encontraram diferença

estatisticamente significante no movimento de rotação. Porém sabe-se que

este tipo de recurso avaliativo não demonstra com exatidão o posicionamento

do ângulo alvo, limitando o resultado do estudo.

O fato da percepção do ângulo ter sido realizada com movimentação

passiva pode ter influenciado nos resultados encontrados durante a reprodução

ativa, pois as características fisiológicas e a ativação dos receptores e

mecanorreceptores são diferentes. Teoricamente, na percepção passiva, os

receptores do tendão, sensíveis à ativação muscular encontram-se com menor

ativação, inclusive no momento da percepção do ângulo alvo, o que certamente

pode influenciar na resposta ativa (Lephart e Fu, 2000; Kandel et al., 2003).

34

Carpenter et al. (1998) avaliaram 20 indivíduos sem histórico de lesão de

ombro a uma velocidade de 1º/seg, com 10 repetições. A fadiga foi induzida a

180º/seg, e após a realização do teste de DM não evidenciaram diferença

estatisticamente significante entre os membros, porém isso pode estar

relacionado com o teste de fadiga.

Diferentemente de Allegrucci et al. (1995) que usou a mesma

metodologia este trabalho, verificaram em seus 24 atletas, sendo 20 atletas de

beisebol e quatro atletas de tênis, um déficit proprioceptivo, relacionado por

eles pela instabilidade de ombro. Mas este estudo, como outros citados,

realizam estes testes com atletas do gênero masculino e em outro esporte.

Sugerimos a realização de outros estudos, em que haja uma tentativa de

parear as participantes do grupo controle com as atletas e também em que seja

realizada uma avaliação comparativa entre membro dominante e não

dominante.

35

6 Conclusão

De acordo com a metodologia utilizada e a amostra estudada, as

participantes avaliadas apresentaram diferença na resposta muscular dos

rotadores do ombro em velocidades mais altas, porém não apresentaram

diferença na resposta proprioceptiva, provavelmente em razão do trabalho

muscular ao qual as atletas são submetidas.

36

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41

Apendice 1

Questionário de Caracterização do Sujeito

Nome:__________________________________________________________

Idade:_____ Data de Nascimento:___/___/______

Peso:________Altura:_______ Telefone:________________________

Clube:_____________________________

Categoria:___________________ Tempo de Categoria:___________________

1. Posição de jogo:

( ) meio ( ) ponta ( ) oposto ( ) levantadora ( ) libero

2. Membro Dominante: ( ) Direito ( ) Esquerdo

É o mesmo membro que utiliza para o ataque? ( ) sim ( ) não

3. Preferência de ataque: ( ) paralelo ( ) diagonal

4. Quantos dias treina por semana?___________________________________

5. Quantas horas por dia?_________________________________________

6. Já sofreu alguma lesão no ombro? ( ) sim ( ) não

Qual? ( ) Direito ( ) Esquerdo

Qual lesão?___________________ Há quanto tempo?___________

Fez cirurgia?_____________________

Ficou afastada devido à lesão? ( ) sim ( ) não Por quanto tempo?______

7. Atualmente sente dor em ombro? ( ) sim ( ) não

Qual? ( ) Direito ( ) Esquerdo

Nenhuma dor A maior dor possível

42

8. Já sofreu outra lesão? ( ) sim ( ) não

Onde?___________________ Há quanto tempo?__________

Fez cirurgia? ( ) sim ( ) não

Ficou afastada devido à lesão? ( ) sim ( ) não Por quanto tempo?_____

9. Apresenta alguma doença? ( ) sim ( ) não

Qual?_______________________

Faz acompanhamento médico? ( ) sim ( ) não

Faz uso de medicamentos? ( ) sim ( ) não

Qual?______________________

10. Faz uso de outro tipo de medicamento? ( ) sim ( ) não

Qual?_________________________________

Testes especiais para avaliar frouxidão de ombro

1. Sinal do Sulco ( ) positivo ( ) negativo

2. Apreensão ( ) positivo ( ) negativo

3. Instabilidade Posterior ( ) positivo ( ) negativo

4. Gaveta Anterior ( ) positivo ( ) negativo

5. Gaveta Posterior ( ) positivo ( ) negativo