Comunicação pública em mídias sociais: há espaço para o humor?

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Comunicação pública em mídias sociais: há espaço para o humor?

MURILO PINTO

ALBA, SALVADOR – NOV.2015 slideshare.net/murilopinto

murilo.pinto@outlook.com

Preâmbulo

“Talvez a maior função do humor seja nos afastar de nosso mundo do bom e do mal, de perdas e ganhos, e nos permitir uma visão em perspectiva.

O humor nos livra da vaidade, de um lado, e do pessimismo, de outro, ao nos manter maiores do que somos, maiores do que o que possa nos acontecer.”

Editorial, American Journal of Psychology, 1907

Profissão de féRápida introdução à perspectiva discutida

De que falamos quando falamos de comunicação pública

• Não falamos de marketing, nem mesmo o político

• Não falamos de advocacy

• Não falamos de propaganda

PolíticaPromoção de um agente, marketing político, interesse eleitoral. Comunicação instrumental.

Governamental

Prestação de contas, lobby estatal (advocacy, convencimento quanto a uma política pública), propaganda, institucional. Comunicação instrumental.

PÚBLICA

Esclarecimento dos cidadãos sobre temas de interesse público, para deliberação informada e participação política em questões coletivas.Dialógica e horizontal, não defende decisões, mas esclarece suas razões.

Comunicação estatal

Comunicação pública

Vetor de empoderamento e participação da sociedade

no Estado

Riso e humorO que é, suas funções na linguagem e críticas

Críticas ancestrais

Vício, violência, ignorância,

malícia, proibido a homens livres

República, Retórica, Ética a

Nicomaco, As leis, Filebo

Platão

Violação do autocontrole

Epíteto

Estoicos

Regras monásticas

puniam com até 6 chibatadas o

riso

Violência, ridicularização

2 Reis, 2:23-24; Salmos, 2:4-5; 1

Reis, 18:27

Bíblia

Puritanos proibiam comédia

Protestantes

Riso vem da comparação com

defeitos de outros; é

pusilânime

Hobbes

Riso é surpresa e alegria ao notar em outro o mal

odiado

Descartes

Tomás de Aquino

Quem não é nunca divertido e bem humorado

age contra a razão, tendo, portanto, um vício.

Um ponto comum às críticas

Parece claro que essas críticas se destinam a um tipo específico de humor, baseado no exercício de preconceito, desprezo, opressão e humilhação. Bullying, em resumo.

Na psicologia, é a chamada

Teoria da Superioridade

Um contraexemplo

• Um sujeito encontra um andarilho austríaco (c. 1900/Europa = polonês/EUA = português/Brasil) solitário e diz:

“- Você gosta de caminhar sozinho? Eu também gosto.

- Então vamos juntos.”

• Piada citada por Schopenhauer.

• Traz um traço de superioridade.

• Mas, mesmo suprimida a nacionalidade, ainda é uma piada, em razão do jogo de ideias.

Outras visõesTeoria do alívio

• Abandonada atualmente

• Riso é uma válvula de escape (literalmente, dos fluidos e gases corporais)

• Freud

• Revisão e superação dos aspectos biológicos e “hidráulicos”

• Manutenção da liberação de pressão psicológica

• Energia destinada a suprimir uma emoção, articular um raciocínio ou antecipada diante de uma situação torna-se supérflua com a piada/reviravolta, sendo liberada na forma de riso.

Teoria do jogo

• Animais simulam situações reais com jogos

• Primeiro tipo de jogo a evoluir foi a falsa agressão (típica de certo tipo de humor)

• Primatas indicam se tratar de jogo com duas expressões associadas ao riso nos humanos:

• Dentes expostos e gengivas retraídas

• Boca frouxa, expandida e expiração ritmada

• Jogos exercem função de sociabilidade e harmonia

• 30% mais de chance de rir em grupo

• Humor ajuda no desenvolvimento cognitivo, social e empático, além de benefícios de saúde

Teoria da incongruência

•Dominante

• Kant, Schoppenhauer, Kierkegaard

• Riso é resultado da percepção de violações de padrões mentais e expectativas

• Depende do repertório e decodificação pelo público

Kierkegaard

“Humor é o último estágio de

percepção existencial antes da fé”

(1941)

Aristóteles

• “A vida inclui, assim como atividades, descanso, e nisso se inclui o divertimento e o lazer”

• Excesso de divertimento = “bufões vulgares”

• Excesso de seriedade = “grosseiro e rude”

Eutrapéliaa virtude de ter bom humor,na hora e local adequados

Linguagem “adequada”Sim, não ou como?

Humor como linguagem

Agressivo, sarcástico, ridicularizante

Pode ser como forma de isolamento e censura

Humor como linguagem

Agressivo, sarcástico, ridicularizante

Pode ser usado de forma positiva contra políticos, chefes, poderes e poderosos

Mas não precisa ser agressivo ou ridicularizante

E, feito por órgãos públicos,

NÃO PODE

ser agressivo nem

ridicularizante

Apocalipse zumbiCDC (equivalente americano da Fiocruz, responsável pelo controle de epidemias), publicou um post sobre o assunto em seu blog

Além de discutir de onde vêm os zumbis e porque gostam tanto de cérebros, a CDC informava como sobreviver a ataques e à expansão da “contaminação”

Ao tratar dos zumbis, também dava informações sobre como se portar em casos de emergências e epidemias reais

Resultado: mais de 1.200 comentários, tanto sobre a “cultura” zumbi quanto sobre a preparação para emergências

Hoje, a seção é fixa e continua a ser atualizada: blog, material para professores, cartazes, kits, cartões postais e até uma graphic novel

Também não precisa ser insosso ou desconectado do que se passa na comunidade

O que é adequado?

O que é adequado?

Linguagem como poder político

• Escolher (e praticar) uma linguagem é posicionar-se ideologicamente

• É dizer, ou intencionar dizer, o lugar que ocupa na sociedade e como se relaciona com os outros

•O Estado já detém uma força, real e simbólica, enorme

Por que oprimir e dominar também pela linguagem?

O que é adequado?

“Afigura-se até mesmo ignominioso o emprego da liturgia instrumental, especialmente por ocasião de solenidades presenciais, hipótese em que a incompreensão reina. A oitiva dos litigantes e das vestigiais por eles arroladas acarreta intransponível óbice à efetiva saga da obtenção da verdade real.”

Rodrigo Collaço, presidente da AMB, 2007

Exagero

Patrimônio

Alheio

Escolaridade

Casos reaisNo julgamento de P. S., grávida de cinco meses aos 19 anos e acusada de roubo, ela se depara com a seguinte pergunta:

— A senhora vive do ataque ao patrimônio alheio?

— O que é isso? — responde a ré, olhos arregalados em busca de ajuda do defensor público antes de desabar num choro ruidoso. P. foi condenada a cinco anos e quatro meses em regime semiaberto.

O mesmo programa apresentou a audiência de D. M., 28 anos, que ficou quatro meses presa à espera de julgamento, sob acusação de furto.

— Qual a sua escolaridade? — perguntou o juiz.

— Não sei — respondeu a ré, assustada

Reprodução/Profissão Repórter, 2012, via Jornal do Senado

A perspectiva do outro (seu “público”)

• Público assume o papel de uma audiência ativa e autônoma

• As necessidades da audiência em relação à mensagem predominam sobre as necessidades do produto ou da imagem da marca

“Necessidade da audiência”

Qual a necessidade de linguagem de um cidadão diante do Poder Público?

• Acreditar que tem direito a se expressar

• Que sua opinião tem valor (influência) e é respeitada

• Sentir-se à vontade para se manifestar

Inclusive em termos de linguagem e temas: informalidade, coloquialismo, acontecimentos factuais,

pessoalidade e humanismo

Sentir-se próximo

Função fática: abrir conversação e manter contato

•Postagens informais sobre temas não específicos da instituição geram proximidade e familiaridade

•Proximidade e familiaridade abrem possibilidades de diálogos mais profundos e civilizados

Relacionamento Reputação Autoridade

COMUNICAÇÃO PÚBLICA

Adaptado de Murilo Gun

https://www.youtube.com/watch?v=nHcQOY-Rews

Mas não adianta ser hipócrita

Nem pro Porta dos Fundos, quanto mais pra um órgão público

Humor e participação

Bem aplicado, o humor pode ser um vetor à participação, ao reduzir barreiras de linguagem e proporcionar um senso de pertencimentono público.

Sisudez não é sinônimo de seriedade, nem transmite autoridade real, principalmente no contexto das redes.

Na sociedade em rede, seu interlocutor é tão ou mais relevante que você, sua marca ou instituição.

Referências

• Revista Organicom n. 22: Redes Sociais: Usos Corporativos

• http://www.revistaorganicom.org.br/sistema/index.php/organicom/issue/view/24/showToc

• Usos e Significados do Conceito Comunicação Pública

• http://j.mp/ComunicaçãoPúblicaBethBrandão

• Murilo Gun

• http://pt.slideshare.net/murilogun/3-usos-prticos-do-humor-para-quem-no-trabalha-com-humor

• The Stanford Encyclopedia of Philosophy

• http://plato.stanford.edu

• Apocalipse Zumbi

• http://www.cdc.gov/phpr/zombies.htm

• Estrela da Morte

• http://j.mp/ObamaDeathStar

• Bibliotecas

• https://twitter.com/pickeringpublib/status/656920406259953664?s=03

• http://www.blogto.com/sports_play/2015/10/kansas_city_library_waging_twitter_war_with_jays_fans/

• https://twitter.com/KCLibrary/status/657298889037352960?s=03

• Cemitérios

• https://www.facebook.com/cemiteriojardim.ressurreicao.7

• https://www.facebook.com/cemiterioecrematorioparquedosipes/

• Seattle Hemp Festival

• http://mashable.com/2013/08/17/seattle-tweet-hempfest-doritos

• “Termos rebuscados atrapalham a compreensão de sentenças judiciais e textos do Direito” –Jornal do Senado, jun/2012

• http://www12.senado.gov.br/jornal/edicoes/2012/06/26/termos-rebuscados-atrapalham-a-compreensao-de-sentencas-judiciais-e-textos-do-direito

• Portas Abertas

• https://www.facebook.com/portasabertasaline/photos/a.577334345624784.1073741828.577332428958309/1054968407861373/?type=3&ref=notif&notif_t=like

• Blog do Planalto

• http://blog.planalto.gov.br/acabou-a-tensao-pre-sal/

• O riso dos outros (documentário)

• https://www.youtube.com/watch?v=uVyKY_qgd54

• Ibope

• http://www.kantaribopemedia.com/

• Prefs

• http://geekpublicitario.com.br/especial/prefrescura-de-curitiba-os-perigos-de-uma-administracao-descolada-demais/

• http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/04/1612756-prefeitura-de-sao-paulo-alfineta-leitores-em-respostas-no-facebook.shtml

• http://www.buzzfeed.com/alexandreorrico/prefeitura-de-sao-paulo-comeca-a-dar-respostas-engracadinhas

• https://www.facebook.com/prefrescuradecuritiba/