concepção sociointeracionista no ensino

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Profa. Dra. Nádia Dolores Fernandes Biavati

A concepção dialógica e interacionista da linguagem e sua contribuições para o

ensino

A Interacão na vida humana

A interação simbólica é tão antiga quanto o homem. Acontece como forma de construção da realidade, através das várias mídias disponíveis ao longo da história. Antes da assunção da linguagem verbal, ainda no estágio não-verbal, o homem já dispunha de meios simbólicos de construção, interação e interpretação da realidade.

Objetivos

Observar o dialogismo e o interacionismo como condição natural humana.

Apresentar o pensamento de Bakhtin, cujos conceitos de signo, texto e discurso se estabelecem orientados dialogicamente.

Estabelecer contribuições da concepção dialógica e interacionista de linguagem para o ensino de Língua Portuguesa.

Linguagem- “lugar” da relação com outroPela linguagem há encontros, desencontros

e confrontos de posição.Linguagem como espaço da interlocução-

espaço de produção de linguagem e de constituição dos sujeitos (GERALDI, 2003)

Lugar da interação:- Língua não pronta- Sujeitos se constituem interagindo-

linguagem como trabalho social (GERALDI, 2003; BAKHTIN, 2000).

Em que consiste o interacionismo?

O Interacionismo concebe a vida social como interações mediadas simbolicamente. O simbólico não é resultado da interação do sujeito consigo, nem do sujeito com o objeto, mas do sujeito constituído e do sujeito projetado pela linguagem. O sujeito está em si e está no outro em interação, construindo a realidade.

O sentido individual é fundado na construção de um “nós” (PRINCÍPIO PARA O DIALOGISMO). A linguagem é construção interativa, por ela se estabelecem redes de significação na prática social.

Concepção interacionista e dialógica de linguagem Conforme postulam Geraldi (2003), a linguagem não

serve apenas para transmitir informações de um emissor a um receptor, mas é vista como lugar de interação humana. Isso porque, ao falar, o sujeito da enunciação não transmite apenas informações, mas age sobre o seu interlocutor, construindo vínculos que não existiam antes do ato verbal.

É uma concepção de linguagem que preconiza uma escrita que demanda do leitor um trabalho dialógico de reconhecer as atividades informacionais, que nem sempre estão explícitas no texto. A escrita é uma atividade que demanda, dentro da concepção interacional, conforme postulam Koch e Elias (2011, p. 34) um conjunto de estratégias.

O gênero como construção dialógica

Concepção interacionista e dialógica de linguagem Visão de linguagem que pressupões

ativação de conhecimentos sobre componentes da situação comunicativa, como participantes, tópico desenvolvido, configuração do texto adequada à interação,

Seleção, organização e desenvolvimento de ideias, que garantem o reconhecimento de uma continuidade do tema e sua progressão,

Balanceamento de informações implícitas e explícitas, entre “dado” e “novo”, considerando-se objetivo de escrita e informações compartilhadas.

Alguns interacionismos Interacionismo Simbólico de George Hebert Mead (1863-1931):O ser humano é sujeito e agente, pois interpreta e simboliza.Interacionismo de Blumer (Escola de Chicago-1937): agimos com relação às coisas na base dos sentidos que elas tem para nós; o sentido é derivado da interação social que estabelecemos com os outros; os sentidos são manipulados e modificados através do processo interpretativo que usamos ao tratar as coisas que encontramos.

Sócio- Interacionismo DiscursivoSócio-Interacionismo discursivo de

BRONCKART( 1999)- o texto é um produto sócio-histórico em constante interação com a realidade subjetiva, com os gêneros de textos disponíveis historicamente.

Eficácia- compreende a abordagem textual cuja estrutura e composição temática possibilitam a realização da ação de linguagem intencionada numa dada situação comunicativa. (c.f. BRONCKART, 1999, cap. 2)

Mikhail BakhtinDurante toda sua vida, Bakhtin foi fiel ao

desenvolvimento do conceito de dialogismo (PALMA, 2012). A natureza dialógica da linguagem se dá como embrião dos diversos aspectos do seu pensamento teórico sobre o conhecimento linguístico: a polifonia, o dialogismo, os gêneros.

O dialogismo é a condição do sentido do discurso: a interação verbal entre o enunciador e o enunciatário do texto, e a intertextualidade no interior do discurso são dois aspectos principais da concepção dialética do autor. O discurso é, pois, uma construção obtida a partir da matéria-prima oferecida por outros discursos do presente e do passado, portanto o textual é sempre intertextual, polifônico.

Gêneros como herança do interacionismo discursivohomem como ser social historicamente

constituído. O texto, produção humana complexa,

continua desafiando os estudiosos estruturalistas, constituindo-se também de conteúdos simbólicos do não-verbal, em gêneros multimodais, por exemplo. Do símbolo linguístico evolui-se para o signo semiótico. As fronteiras de significação ampliaram-se, desdobraram-se.

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A ESCRITA no processo virtual ,conforme afirma Santos (2005, p. 157) tem um funcionamento próprio, o qual deve ser repeitado se essa prática de escrita acontece no ambiente virtual, informal. Os rearranjos se dão desde o nível sintático, morfossintático com uso de vocábulos informais, até à representação de recursos paralinguísticos de expressões no ambiente virtual, como risos, expressões faciais por meio de emoctions, uso de marcadores conversacionais, passagem e tomada de turnos, repetições, etc.

O gênero como construção dialógica

Dialogismo de Mikhail Bakhtin“tudo que é dito, tudo que é expresso por um falante, por

enunciador, não pertence só a ele. Em todo discurso são percebidas vozes, às vezes infinitamente distantes, anônimas, quase impessoais, quase imperceptíveis, assim como as vozes próximas que ecoam simultaneamente no momento da fala. ”(BAKHTIN, 2000)

Dialogia foi o termo mais usado por Bakhtin para descrever e analisar a vida e o mundo da produção e das trocas simbólicas: mundo composto de signos, textos, discursos, onde as vozes se cruzam e entram em interação constituindo novos discursos, novas representações, em que os sentido e a significações reconstroem a realidade. O processo é sempre de construção dialógico-dialética.

M BakhtinTexto importante- O problema dos gêneros

do discurso (1952/1953).Enunciado= ato singular, irrepetível,

concretamente situado e emergindo de uma atitude valorativa em relação a determinado estado de coisas.

Bakhtin não propõe um método.Falar ou escrever sobre algo= atitude

frente a um objeto/evento.

Gêneros do discursoOs gêneros, enquanto formas de atividade

discursiva, atuam nas variadas esferas do agir humano.

Têm conteúdo temático, organização composicional e estilo próprios correlacionados às condições específicas e às finalidades de cada esfera de atividade. A linguagem, portanto, é atividade humana e é concebida como o lócus dos sujeitos, no processo de interação.

São tipos de dizer que emergem, se estabilizam e evoluem no interior da atividade humana.

Gêneros do discursoCombinam estabilidade e mudança.Alguns podem ser bastante

estandardizados e outros mais adaptáveis.Ora são padronizados, ora se hibridizam

conforme as necessidades dos falantes. Por isso, a estabilidade é relativa.

Não são apenas formas.Comportam similaridades na prática

discursiva, mas nunca mantêm natureza rígida.

Contribuições concepção dialógica e interacionista de linguagem ao ensino

Os parâmetros curriculares do ensino médio e fundamental, concebidos sob orientação do pensamento de Bakhtin, propõem que o ensino da Língua Portuguesa se dê na interação das várias linguagens, que se tomem as novas tecnologias e as façam dialogar. O diálogo entre as formas de linguagem é importante para orientar a visão sobre discurso e gênero, tão necessária ao ensino.

Pensar a linguagem como interação é deixar de delegar todo o trabalho de compreensão a quem produz o texto ou mesmo ao leitor, fazendo com que seja compartilhada essa complexidade no processo de interlocução.

Contribuições concepção dialógica e interacionista de linguagem ao ensinoNa medida em que o caráter dialógico da

linguagem invoca varias perspectivas aos textos, atribui-se o papel crítico e responsável a todos envolvidos nas relações com os gêneros, com outros textos, outros discursos, outras realidades.

O pensamento sócio-discursivo comporta concepção de linguagem como prática social: elementos como dialogismo e polifonia passam a ser vistos como importantes para compreender aspectos que subjazem aos gêneros, objeto de ensino preconizado .

Considerações Finais A força do poder simbólico é considerável, como poder de

construir a realidade, fazer ver, fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão de mundo. Com isso, os pesquisadores das ciências da linguagem reconhecem que estão tratando da realidade como um discurso simbólico, significações que emergem pela linguagem.

A concepção interacionista e dialógica de linguagem é crucial para o entendimento da nova abordagem preconizada para o ensino.

A Filosofia da Linguagem, a Análise de discurso, a Semiótica Social, a Pragmática e tantas outras áreas operam com pressupostos do interacionismo, uma vez que própria natureza humana é linguístico-dialógica.

A visão de M Bakhtin, como enfoque aos gêneros do discurso é base para o ensino atual de Língua Portuguesa, norteando, inclusive, a visão sobre linguagem considerada pelo documento dos PCN.

ReferênciasBAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo:

Martins Fontes, 2000. BRAID, B. As vozes bakhtinianas e o diálogo

inconcluso. In: BARROS, D.; FIORIN, J. L. (Org.) Dialogismo, polifonia e intertextualidade. São Paulo: Edusp, 2003.

BRONKCART, Jean-Paul . Atividade de linguagem, textos e discursos. Por um interacionismo socio-discursivo. São Paulo: EDUC. 1999.

GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem. 4ªed. São Paulo: Martins Fontes, 2003

KOCH, Ingedore G Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e Escrever : estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2011.

ReferênciasPALMA, Glória Maria. O interacionismo nas

investigações linguísticas: características e procedimentos. Disponível em:http://www.sepq.org.br/IIsipeq/anais/pdf/mr1/mr1_4.pdf. Acesso em 20-08-12.

XAVIER, Joelma Rezende. O Interacionismo Sociodiscursivo em produção de texto no processo seletivo de Vestibular. Belo Horizonte, UFMG: Faculdade de Letras, 2006.