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CONGREGAÇÃO SANTA DOROTÉIA DO BRASIL FACULDADE FRASSINETTI DO RECIFE – FAFIRE
CURSO DE PEDAGOGIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
FILIPE WAGNER FREITAS DE MIRANDA A CONTRIBUIÇÃO DO ENSINO DA FILOSOFIA PARA AS TURMAS DO 5º ANO
DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA POSSIBILIDADE DE BUSCAS.
Recife, 2010
FILIPE WAGNER FREITAS DE MIRANDA
A CONTRIBUIÇÃO DO ENSINO DA FILOSOFIA PARA AS TURMAS DO 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA POSSIBILIDADE DE BUSCAS.
Esta monografia foi desenvolvida e apresentada pelo graduando Filipe Wagner Freitas de Miranda com finalidade de se obter o título de graduado no Curso de Pedagogia no ano/semestre de 2010.2 na Faculdade Frassinetti do Recife – FAFIRE. Orientador (a): Profª. MS. Shalimar Michele Gonçalves
Recife, 2010
Dedico este trabalho a Deus, à minha família e em especial para meus avós, Jadir Freitas e Maria Amélia – in memorian – onde eles não estiveram aqui na Terra para presenciarem mais uma vitória de seu neto.
Agradeço a Deus, meus pais, amigos e aos meus professores em especial à Profª Ms. Shalimar Michele Gonçalves da Silva e ao Profº Ms. Fábio Medeiros que pôde me apoiar nesta árdua batalha de elaboração da monografia.
Filosofar
Filosofar é a arte de pensar,
Refletir de forma simples
Os acontecimentos, isso é pensar,
A verdadeira forma de estudar.
O olhar através do pensamento
Nutre o coração da gente,
Faz o sonhar virar realidade,
Que nos traz a felicidade.
A filosofia nos traz o saber:
Refletir, cuidar, pensar, imaginar, ler,
Interpretar a realidade da vida.
Enfim, saber viver!
Reviver o passado e o presente,
Buscando formas diferentes de se chegar ao entendimento.
Esclarecendo a vida em sua plenitude,
Mudando assim nossas atitudes.
Paola Caruano – 5º ano
RESUMO EM LÍNGUA VERNÁCULA
O presente trabalho tem como prerrogativa básica destacar o ensino de filosofia e sua
contribuição em turmas do 5º ano do ensino Fundamental tendo como foco e ponto de partida
um olhar acerca da história da filosofia e de seu ensino. No que diz respeito aos seus objetivos
específicos e problematização buscamos relatar através de bases teóricas a contribuição da
filosofia para a construção ética e moral dos alunos. Através da análise e compreensão desta
área na teoricamente, buscamos seu entendimento conforme sua as estruturas do
conhecimento acerca da temática para o melhor entendimento desta área do conhecimento.
Em síntese, este trabalho analisa como se caracteriza como papel importante na discussão da
implementação da filosofia no Ensino Fundamental e buscamos atrelados aos teóricos uma
analise de um material didático para efeito de compreensão prática na possibilidade de se ter a
filosofia como uma área importante no ensino. Diante disto, ao caminharmos pelo trabalho,
fizemos uma reflexão sobre o papel do ensino desta disciplina nas escolas, sejam elas públicas
ou privadas.
Palavras-chave: Filosofia. Ensino. Programa de Filosofia. Ensino Fundamental.
RESUMO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA
Este trabajo tiene la prerrogativa de poner de relieve la enseñanza básica de la filosofía y su
contribución en las clases en el 5 º año de la escuela primaria con un foco y punto de partida
para una mirada sobre la historia y la filosofía de la enseñanza. Con respecto a los objetivos
específicos que buscamos para informar y ser interrogado por la contribución de la filosofía
teórica a la construcción de desarrollo ético y moral de los estudiantes. A través del análisis y
la comprensión de esta área, en teoría, buscamos su comprensión como sus estructuras de
conocimiento sobre el tema a una mejor comprensión de esta área del conocimiento. En
resumen, este estudio analiza cómo se caracteriza el papel tan importante en la discusión de la
aplicación de la filosofía en la escuela primaria y buscar atado a un análisis teórico de un
material didáctico con el fin de comprender la posibilidad práctica de la filosofía que tiene
como un área importante en la educación . Teniendo en cuenta esto, mientras caminábamos a
través del trabajo, se reflexiona sobre el papel de la enseñanza de la asignatura en las escuelas,
tanto públicas como privadas.
Palabras clave: Filosofía. La educación. La filosofía del programa. Escuela Primaria.
SUMÁRIO
Introdução...................................................................................................................09
CAPÍTULO 1
A História da filosofia, seu ensino, o programa de Filosofia no Ensino Fundamental,
a prática reflexiva e metodologia do programa..........................................................12
1.1. Historiando a Filosofia..........................................................................14
1.2. Filosofia no Ensino Fundamental: o programa de Matthew
Lipman..................................................................................................16
1.3. Construção do pensamento reflexivo: a busca do
pensamento..........................................................................................20
1.4. Contribuição da Filosofia na prática reflexiva da criança......................23
1.5. Procedimentos metodológicos da Filosofia para crianças de Matthew
Lipman..................................................................................................25
CAPÍTULO 2
Uma abordagem metodológica de trabalho...............................................................29
2.1 Metodologia: discussão acerca da realização da
pesquisa.....................................................................................................................29
CAPÍTULO 3
Análise e discussão....................................................................................................32
3.1 Análise de dados: estudo de aplicabilidade de livro paradidático de
filosofia no 5º ano do Ensino Fundamental................................................................32
Considerações finais..................................................................................................36
Referências................................................................................................................37
Anexos........................................................................................................................40
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INTRODUÇÃO
O estimulo ao pensamento crítico-reflexivo em crianças do 5º ano do Ensino
Fundamental contribui na estrutura de um pensamento consciente que viabiliza o
processo de formação moral e ética das mesmas. Frente a esta necessidade,
buscamos a abordagem da filosofia e do seu ensino, focalizando na sua contribuição
para uma “educação para o pensar”.
Entendemos que a filosofia vem a ser caracterizada como um questionamento
de si e das coisas materiais e imateriais e, com isso, devemos fazer com que os
alunos possam se questionar e questionar as coisas que lhes rodeiam até mesmo as
coisas banais. O estudo dessa temática está organizado na relevância do ensino da
filosofia em turmas de Ensino Fundamental e em particular, nas turmas de 4ª série,
mostrando qual o sentido da filosofia para as crianças dentro e fora de sala de aula.
Esse estudo surgiu também com a necessidade de poder caracterizar o
campo da filosofia, compreendendo assim sua história, suas características e seus
processos de ensino para as crianças e fazendo com que se possa nortear a
formação ética e moral das mesmas. Ele está estruturado em três partes onde a
primeira está caracterizada na necessidade de fazer uma análise do campo da
filosofia a partir de referenciais teóricos, mostrando historicamente o processo do
pensamento filosófico do homem enquanto ser humano, tendo em vista que nenhum
ser pode deixar de pensar, de questionar as coisas por mais subjetivas que possam
ser.
Buscamos então a partir do estudo histórico da filosofia e seu ensino, mostrar
os procedimentos didáticos para que esta ciência seja ensinada no Ensino
Fundamental com bases no programa do filosofo Matthew Lipman e certificar que
para o ensino desta disciplina se faz necessário que o educador tenha uma
capacitação e um domínio tanto didático quanto dos conteúdos filosóficos a serem
abordados. Assim, diante da analise sobre a reflexão da contribuição do ensino da
filosofia, deve-se caracterizar como ocorre à filosofia para criança, analisando
pontos positivos e negativos – se houverem – para esta área do conhecimento. E
queremos também mostrar quais os meios de encarar os questionamentos e
pensamentos das crianças em decorrência de suas vidas cotidianas. Ao analisar
10
esses caminhos, pretendemos refletir sobre estes pontos de partida para daí
compreendê-los quando e como são organizados os “problemas” em que as
crianças se deparam, isto é, como lidar com os questionamentos próprios da faixa
etária dos 10 a 11 anos.
Será necessário ainda analisar outra parte na qual se refere á construção do
pensamento filosófico da criança a partir do contexto sócio-cultural que a mesma
está inserida e sendo afixada no processo dentro do espaço escolar. Buscamos
entender também as contribuições dessa prática reflexiva no cotidiano dos alunos.
Diante dessas perspectivas, percebe-se que a filosofia ao ser ensinada para as
crianças têm uma função que vai além de poder fazer com que os alunos do Ensino
Fundamental possam levantar hipóteses e questionamentos quaisquer, mas que
sejam embasados de conceitos e realizados com criticidade. Para tanto se torna
importante que para se ensinar a filosofia nas escolas deva estar claro que o
professor deverá ser alguém que esteja capacitado para fazer com que as crianças
sejam iniciadas no processo de “reflexão filosófica”. Essa capacitação refere-se ao
entendimento e ao domínio relevante do processo filosófico em que o docente deve
possuir e assim saber como construir em seus alunos a consciência crítica.
Objetivamos aqui levantar uma análise da contribuição da filosofia para
crianças e mostrar que o ato de questionar, de filosofar faz parte de todo ser
humano que se torna humano. Por isso, é intrinsecamente importante fazer com que
crianças da faixa etária dos 10 anos possam construir gradativamente esse
processo de questionamento de si, construindo valores e pensamentos relacionados
a seu cotidiano, isto é, fazer com que elas construam o próprio processo moral e
ético para viver em sociedade tendo em vista também o início do processo do
pensamento abstrato das crianças. Assim, é por meio de atividades ligadas ao
cotidiano e ao processo de interação social que pretende-se neste estudo fazer com
que as crianças possam a ser encaminhadas para uma reflexão filosófica de mundo.
Então a atividade do pensar crítico – do educar para o pensar – deverá ser contínuo
em todas as fases da vida, mas é na infância que devemos introduzir esse tipo de
pensar.
Para tanto, buscar-se-á perceber tanto na teoria quanto na prática a seguinte
problemática: Em que medidas o ensino de Filosofia para os alunos do 5º ano do
Ensino Fundamental contribuirá na formação moral e ética das mesmas na visão
11
dos docentes? É a partir disto que enquadramos nossos objetivos a fim de exprimir
com detalhamento o nosso foco de estudo. Para tal, o objetivo gerador e delimitador
da pesquisa estão em verificar a contribuição da filosofia como disciplina para as
turmas do 5º ano.
Serão abordadas aqui as principais características da filosofia na história,
identificando seus processos de ensino para o Ensino Fundamental com ênfase nas
turmas do 5º ano. Queremos também ofertar quais são os processos de ensino da
disciplina no Ensino Fundamental buscando contribuir com o processo da formação
ética e moral das crianças. Queremos mostrar uma análise da contribuição do
ensino de Filosofia na construção do pensamento reflexivo das crianças do 5º ano.
E, por fim, e não menos importante, buscamos uma análise prática acerca da
metodologia do programa de Filosofia para Crianças (FpC) através da análise de um
livro paradidático.
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CAPÍTULO 1
A HISTÓRIA DA FILOSOFIA, SEU ENSINO, O PROGRAMA DE FILOSOFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL, A PRATICA REFLEXIVA E METODOLOGIA DO
PROGRAMA.
Para inicio de conversa, querer-se-á aqui retratar que parece ser impossível
ao ser humano viver sem fazer questionamentos, sem se perguntar qual o sentido
de sua vida, sem viver levantando perguntas sobre todas as coisas. Em algum
momento iremos fazer isso, mesmo que não percebamos ou que não queiramos,
mas fazemos. Quando questionamos, buscamos uma forma de compreender o
sentido da vida, do trabalho ou daquilo que queremos ter alguma compreensão.
Desde a antiguidade, o homem busca refletir sobre a vida de forma a compreender o
mundo físico e o mundo abstrato havendo uma mudança de postura diante das
coisas cotidianas da vida. Revelar a si mesmo algo que está no inconsciente de sua
mente.
Devemos analisar aqui que a filosofia tem um caráter formativo; formar para
viver em sociedade, ou seja, é “tornar os indivíduos cidadãos do mundo, da
humanidade, eis o sonho da filosofia.” (CUNHA, 2002; p. 29). É, portanto, a busca
do humano em ser humano, isto é, nos formarmos como cidadãos humanos que
podem transformar a sociedade. Sendo este o grande objetivo da filosofia, podemos
dizer que é aqui em nossas vidas que diariamente afirmamos ou negamos,
desejamos ou recusamos as pessoas, as coisas e até mesmo certas situações que
passamos. Valemos de que a filosofia é uma manifestação e expressão dos
problemas e de várias questões na sociedade, em cada época. Essas questões que
o homem coloca para si mesmo são questões que ainda não foram compreendidas,
não respondidas, enfim, é a indagação do novo.
A partir disto, queremos e buscamos fazer compreender o pensamento
filosófico e aqui introdutoriamente analisar historicamente a filosofia, o pensar
filosófico do homem através das sociedades para se ter uma compreensão de como
se deu o pensar em diversos momentos da nossa história e a partir disto, buscar
analisar o processo de ensino da filosofia ontem e hoje. É buscar o entendimento do
pensamento reflexivo e crítico sobre todas as coisas e perpassar esse pensamento
através do ensino da filosofia.
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Queremos também a partir da compreensão deste ensino, abordar o processo
didático da filosofia no ensino fundamental buscando a interpretação didático-
metodológico para as turmas do 5º ano do Ensino Fundamental. Ousamos aqui a
instigar os profissionais da educação a se comprometerem com o ensino da filosofia
para ter cidadãos críticos na sociedade e apresentar o programa do filósofo Matthew
Lipman de filosofia para crianças, pois ele é um aparato para a formação critico-
reflexivo dos alunos e onde somos os mediadores na construção do pensamento e
não apenas para serem desenvolvidas certas habilidades inatas. Por isso o
educador deve ter em mente que “os processos do pensamento crítico e da reflexão
tendem a tornarem-se fins em si mesmos” (GAZZARD, 20091). Devemos assim,
saber fazer com que a criança construa esse pensamento crítico e reflexivo. Para
tanto, analisaremos o programa de filosofia para crianças em todos os seus
aspectos, indo desde a sua formulação até a sua metodologia, perpassando pelos
objetivos e características para o processo do pensamento da criança em sala de
aula.
Vemos que Matthew Lipman veio contribuir significativamente quando propôs
esse programa, pois veio instigar um processo de discussão do ensino da filosofia
nas séries iniciais, tendo em vista que as crianças podem e devem ter uma prática
crítico-reflexiva. Entretanto, nos valemos de mostrar e comentar todo o processo do
processo de ensino da filosofia e de sua história, mostrando que nessa história, a
filosofia passou a ter algumas transformações de caráter significativo para se buscar
o seu compreendimento para a sociedade, bem como apresentar o programa de
filosofia para crianças, mostrando como surgiu e em que momento a história.
Todavia queremos antes de abordar historicamente a filosofia viemos aqui para
abordar uma questão levantada por Chauí (2001), “afinal, para que filosofia?” e
ainda iremos mais além, para que a filosofia para crianças? E é do ponto da história
da filosofia é que iremos iniciar a nossa jornada do conhecimento da filosofia e com
o decorrer da análise sobre o processo histórico desta área do conhecimento
estaremos buscar a finalidade da filosofia.
1 Artigo extraído da internet e não contém paginação.
14
1.1 Historiando a Filosofia
Para analisarmos historicamente a filosofia, queremos aqui mostrar
primeiramente o significado do termo Filosofia. O vocábulo filosofia tem origem
grega derivada de dois termos: filo (philia) significa amizade e sofia (sophia) significa
sabedoria. Portanto, a filosofia que conhecemos desde a Grécia vem significar
“amigo da sabedoria” ou “amigo do saber” e para Chauí (2001) a “filosofia significa,
portanto amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber” e ainda seguindo a
diante podemos afirmar que o filósofo é o “amigo da sabedoria é aquele que usa o
saber em proveito do homem [...] para a melhoria do mundo” (CHALITA, 2009; p. 92).
E sempre que nos questionamos que falamos da filosofia, a primeira coisa na
qual nos vem à cabeça são os pensadores da Grécia antiga e revivemos com esse
pensar a história do homem - ou seja - a nossa própria história, bem como muito se
diz que a filosofia é tão somente o pensar abstrato não estando condizente com a
realidade de cada indivíduo e isto se retrata muito bem na tradução de sua palavra.
É lembrar também dos pensadores que estiveram à frente de seu tempo com o
pensar reflexivo, filosófico.
Todavia, esse pensamento “filosófico” surgiu nas sociedades orientais antes
do surgimento do pensamento na sociedade grega. Tal pensamento “filosófico”
estava associado às investigações científicas de cunho matemático e astronômico
diretamente ligado às tradições religiosas das sociedades como a sociedade egípcia
e as sociedades asiáticas onde estas estavam sob o domínio grego. Com o passar
do tempo a Grécia começou a juntar os pensamentos do oriente e a partir de então a
filosofia começou a ter a “forma” na qual conhecemos hoje, a filosofia propriamente
dita do questionar, do poder reflexivo através da razão. Todas as reflexões acerca
das crenças orientais foram aproveitadas pelos gregos. Podemos afirmar que “todo
ello fué aprovechado por los griegos, que habian de elevar la reflexión a la categoria
2 Artigo Vivendo a filosofia. Revista Construir Notícias. Nº 46.
15
de racional y sistemática, haciendo surgir así a la filosofia propriamente dicha”3
(ALVAREZ,1957, p. 23).
Assim, a filosofia para os gregos tem um caráter racionalista e onde há uma
sistematização do pensamento crítico.
Vale salientar que a filosofia na Grécia „surgiu‟ diante de alguns fatores como
viagens marítimas ao oriente, a invenção do calendário e a invenção da moeda e
posteriormente fora sendo utilizada pelos filósofos em outros campos como a
astronomia e a matemática. É aqui que vemos os sofistas, nos quais são filósofos
que expunham seus pensamentos para as pessoas em praças utilizando-se da
oratória para „distorcer‟ a verdade. Os seus “ensinamentos” estavam a disposição
para todos que dispunham ao ar livre, mesmo para as crianças. Para os filósofos
gregos, os sofistas eram „falsos‟ filósofos por se utilizarem da oratória maquiada, isto
é, de usar a palavra em benefício próprio.
Nesse período, a filosofia fora dividida em outros períodos, nos quais foram
essenciais para a investigação filosofia na antigüidade. Esses períodos foram: I –
Período pré-socrático (Cosmológico), caracterizado por pensadores que
antecederam Sócrates o “pai” da filosofia; II – Período Socrático (Antropológico),
onde Sócrates e seus contemporâneos começam a investigação das questões
humanas; III – Período sistemático, que caracterizava a filosofia como a reunião da
cosmologia e do pensamento socrático; por fim o IV – Período Helenístico, onde a
filosofia já alcançava Roma e já possuía os pensamentos dos padres da igreja e que
eles se ocupavam com questões éticas e de conhecimento humano. Essa divisão
ocorreu durante toda a antigüidade e que compreendeu o pensamento filosófico da
Grécia e de Roma.
Após o grande período da antigüidade onde a filosofia teve sua expansão
através dos pensamentos gregos, o pensar filosófico, a filosofia em si assim como a
história, se divide em períodos. Os períodos que vieram após a filosofia na
antigüidade com o pensamento grego foram: Filosofia Patrística que se
caracterizava pelas idéias cristãs sobre a ética e estava intrinsecamente ligada à
tarefa religiosa e pela defesa da religião cristã e neste período a igreja impunha os
3 “Todo ele foi aproveitado pelos gregos que haviam de elevar a reflexão à categoria de racional e
sistemática, fazendo surgir assim a filosofia propriamente dita.” Tradução nossa.
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dogmas religiosos, que eram caracterizados como verdades absolutas, e o que se
passava eram as crenças religiosas para as gerações futuras.
Diante desta divisão da Filosofia na história podemos afirmar que ela, a
filosofia, se liga diretamente aos acontecimentos históricos sendo retratada através
dos questionamentos acerca do que se é vivida.
1.2 A Filosofia no Ensino Fundamental: o programa de Matthew Lipman.
A filosofia no ensino fundamental tem uma grande importância no processo
de formação cidadã da criança, pois vem iniciá-la e incitá-la a perceber o quanto
podemos ter um olhar diferente sobre as coisas que nos cercam. O ensino da
filosofia para as turmas do ensino fundamental tem o intuito de fazer com que essas
crianças possam ter um direcionamento de seus questionamentos e tendo nisto uma
posição crítica e reflexiva sobre o seu cotidiano sobre o banal.
Faz-se necessário que se tenha em mente que a filosofia ao ser ensinada
para as crianças, tenha como necessidade primordial fazer com que elas possam
aprender a pensar melhor e por si mesma. Isto fará com que se instigue o processo
reflexivo e de autocorreção, pois assim a criança poderá discernir e respeitar os
diferentes pensamentos e opiniões.
Para tanto, podemos aqui retratar um programa específico para o ensino de
filosofia para as crianças que surgiu na década de 1970 com o filósofo Matthew
Lipman, onde ele considera essencial a formação do pensamento crítico-reflexivo
nas crianças. Abordaremos aqui seu programa para entendermos melhor como
funciona e como podemos usá-lo nas turmas do fundamental e damos o
direcionamento desse programa para turmas do 5º ano do fundamental.
O programa pensado por Lipman visa à filosofia ensinada para as crianças
como base para a educação para o pensar. E este programa possui objetivos que se
complementam e se relacionam para o ensino da filosofia que se refere
primeiramente à iniciação filosófica das crianças, onde as próprias crianças colocam
questionamentos para si próprios que possam demandar um esforço explicativo
acerca de sua realidade auxiliando na constituição dos sentidos de sua realidade
tendo em vista que esses sentidos alimentam historicamente a vida do homem. O
segundo objetivo é propriamente a educação para o pensar, onde se realiza o
17
aprimoramento do pensar critico-reflexivo e criativo da criança. É exercitar o
pensamento diante das questões cujo estão envolvidos diretamente para a
construção dos significados sociais, tendo a preocupação de desenvolver as
interações sociolingüísticas nas quais devem ser orientadas pelo educador. Por fim,
o terceiro objetivo primordial desenvolvido por Lipman na década de 1970 diz
respeito à preparação para uma cidadania responsável.
Aqui podemos nos perguntar, como assim uma cidadania responsável? A
filosofia desenvolvida para as crianças pode contribuir na formação cidadã da
criança no que concerne na formação do pensamento coletivo e da participação
dentro de uma comunidade de investigação. A formação da criança para uma
cidadania responsável perpassa por elementos importantes para o processo de
exercício democrático. Alguns elementos são: o respeito ao ponto de vista dos
outros; respeito às regras combinadas; a compreensão de que todos da comunidade
são dignos de respeito; bem como que todos os que fazem parta da comunidade
são iguais.
Mas não adianta compreendermos seus objetivos se não entendermos a
historia do programa de filosofia para crianças. Na década de 60 o filosofo norte-
americano Matthew Lipman se preocupou com o desempenho insuficiente dos
alunos e decidiu elaborar um programa que pudesse “cultivar o desenvolvimento das
habilidades cognitivas mediante discussões de temas filosóficos e visando, com tais
discussões, a iniciação filosófica de crianças e jovens”.4
Deste modo, o cultivo das habilidades cognitivas colaborará para o
pensamento apurado acerca de temas filosóficos, tendo em vista a sua contribuição
na formação cidadã e ética das crianças. O pensar crítico deve ser estimulado e
reforçado a partir de uma percepção sobre o que é descobrir; inventar; interpretar e
criticar (LIPMAN apud ALMEIDA5, 2009).
Para tanto, durante a década de 70, Lipman desenvolveu o programa de
filosofia para crianças onde o filósofo demonstrou que tal programa teria uma
abordagem promissora onde se desenvolveria as habilidades cognitivas destas
crianças. Lipman acredita ainda que a filosofia possa favorecer o desenvolvimento
4 CBFC. Artigo disponível em http://www.cbfc.org.br/stc_filosofiacrianca.asp
5 Tanny P. Marques de Almeida. Pensamento e filosofia. Artigo disponível em:
http://www.cbfc.org.br/mod_biblioteca.asp?passos=Artigo&ArtigoID=58
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das crianças para desenvolver atitudes éticas, de terem pensamentos reflexivos,
bem como de fazerem juízos logicamente corretos.
Atualmente, o programa se espalha pelo mundo abrangendo cerca de 50
países, onde está incluído o Brasil. Aqui em nosso país, o programa começou a se
desenvolver apenas na metade da década de 80 a partir da fundação do Centro
Brasileiro de Filosofia para Crianças (CBFC). Vemos que ao longo do tempo, o
programa de filosofia se aperfeiçoou e foi largamente disseminado a partir de 1998
quando a UNESCO se prontificou a ajudar na divulgação de tal programa
apresentando seus objetivos, pensamentos, metodologia e sua contribuição para a
cidadania.
Partimos então, depois deste breve histórico do programa, para a
amostragem da metodologia do programa de filosofia para crianças, tendo em vista
como se dá o processo metodológico da construção do pensar em si mesmo da
criança e de como ela pode realizar e efetivar o pensamento crítico-reflexivo. A
concepção metodológica do programa “criado” por Lipman não visa o produto da
investigação e sim, a ensinar os procedimentos investigativos para se chegar a esse
produto final.
Mas perguntamos aqui, como realizar e ensinar esses procedimentos
investigativos? Lipman nos mostra que um fator preponderante para que isto ocorra
é a ocorrência do diálogo em sala de aula.
É o diálogo que, por um lado, motiva o exercício de um pensar criterioso, criativo, autocorretivo, sensível ao contexto e, por outro, ensina o exercício de cidadania enquanto respeito ao outro, às opiniões divergentes, à diversidade cultural.
6
É o diálogo que Lipman presa para contribuir na criticidade e formação dos
valores sociais, tendo em vista que os diálogos acerca dos temas filosóficos estejam
próximos das discussões filosóficas do cotidiano dessas crianças a partir do
processo educacional do filosofar.
6 CBFC. Artigo disponível em http://www.cbfc.org.br/stc_filosofiacrianca.asp
19
Diante deste fato educacional – o diálogo – há um recurso importante usando
metodologicamente por Lipman no processo de dialogação que são os textos
narrativos (novelas filosóficas), onde estes ajudarão às crianças reconhecerem os
valores éticos e sociais vivenciados em sua comunidade de investigação. Essas
novelas filosóficas trazem os conteúdos com uma linguagem onde os jovens possam
compreender os seus significados. E as questões clássicas da filosofia são
abordadas de forma lúdica e é um exercício fascinante de descoberta de mundo.
Por isso,
A metodologia específica do Programa de Filosofia para Crianças, fundamentada na investigação dialógica, e o uso de um material estruturado permitem o uso de estratégias de intervenção educativa intencionais visando o desenvolvimento das habilidades cognitivas, que são instrumentos necessários do bem pensar.
7
Com isso, vemos que a metodologia desenvolvida por Matthew Lipman tem
uma causalidade especifica acerca dos conteúdos filosóficos a serem ensinados
para as crianças do Ensino Fundamental.
Mas nos valemos aqui, salientar sobre o pensamento crítico e criativo a serem
desenvolvidos nas crianças do Ensino Fundamental. Vemos que Lipman avalia
esses dois pensamentos com origem etimológica comum, possuindo características
comuns como o ajuizamento e seguindo critérios que se diferenciam. Tais critérios
se distinguem no seguinte, o pensamento crítico tem seu critério a partir da verdade
e o criativo é a partir do significado. Percebemos também que as orientações desses
pensamentos se diferenciam. Para o pensamento criativo a criança é orientada a
partir do contexto e no pensamento crítico esta criança se orienta a partir de critérios
singulares.
Deste modo, o pensamento da criança para o programa de filosofia para
crianças é o ponto de partida para se ter a construção da criticidade e da autonomia
desta criança. Diante disto, o programa vem sendo configurado um dos alicerces
para se ter uma proposta educacional onde se possa atender “aos anseios de uma
sociedade multiculturalista e com transformações econômicas e sociais dinâmicas”8.
7 CBFC. Artigo disponível em http://www.cbfc.org.br/stc_filosofiacrianca.asp
8 CBFC. Artigo disponível em http://www.cbfc.org.br/stc_filosofiacrianca.asp
20
Conquanto, o que se pode concluir acerca do programa de filosofia para
crianças é que o pensar filosófico vem coincidir com o bem pensar, legitimando a
proposta de envolver educador e educandos neste tipo de exercício segundo
Almeida9.
Assim, diante da abordagem do processo histórico da filosofia, analisando o
seu ensino e o que está caracterizando o programa de filosofia para crianças do
Filósofo Matthew Lipman na filosofia contemporânea, estaremos aqui neste capítulo
analisando toda a construção do pensamento filosófico e como se dá essa
construção em sala de aula para as crianças dos 10 aos 11 anos. Nessa
perspectiva, podemos afirmar que essa construção vem a ser de suma importância
para o processo de apropriação do conhecimento através do diálogo contínuo e da
conscientização acerca do problema a ser discutido. Mas qual seria esse problema?
Seria o problema do cotidiano dos próprios alunos, onde eles possam levantar
questionamentos de sua realidade e o pensar sobre ela.
Mas antes de mais nada, queremos mostrar aqui que para pensar o
problema, se faz necessário que o aluno aprenda a aprender, pois a filosofia está
caracterizada como a atividade do pensamento e por isso é que devemos trabalhar
com as crianças a construir a prática do perguntar, pois essa é a melhor forma de
pensar as coisas.
1.3 Construção do pensamento reflexivo: as buscas do pensamento.
Para entendermos o processo do diálogo na construção do pensamento a
partir da vivência do cotidiano, se faz necessário que o docente entenda e colabore
com o processo de construção do pensamento do aluno, um pensar reflexivo diante
da vivência para a compreensão dos valores sócio-culturais.
É necessário que possamos entender sumariamente, que esse processo de
construção do pensamento parte do entendimento de que a atividade do
pensamento reflexivo (a filosofia) deve ser constante e ser – fundamentalmente –
entendida como parte da formação reflexiva do aluno. Ressaltamos aqui, antes de
9 PENSAMENTO E FILOSOFIA. Artigo em:
http://www.cbfc.org.br/mod_biblioteca.asp?passos=Artigo&ArtigoID=58
21
seguirmos adiante, acerca da noção de reflexão. Essa reflexão “é, pois, um re-
pensar, ou seja, um pensamento em segundo grau” (SAVIANI, 2002, p. 16). Esse
pensamento é o constante diálogo entre a razão e a emoção que é encontrada em
todos os homens. Mas para que haja esse diálogo, é preciso “alimentar” a mente
dos alunos com informações de si mesmos e dos outros, de seus desejos e de suas
necessidades.
Para que se realize essa construção faz-se importante que o aluno aprenda a
filosofar – que aprenda a pensar com criticidade tudo o que lhe é analisado e
investigado, pois é sabido que “o processo do pensamento é próprio da „natureza
humana‟, ou seja, o homem naturalmente pensa” (Almeida, 2009)10. Para tanto,
devemos elucidar que esse pensar deve ocorrer de forma sistemática e crítica
acerca de um referencial concreto. Deve-se ter no que diz respeito a esse referencial
concreto, os acontecimentos cotidianos dessas crianças. Proporcionar que as
mesmas busquem em suas relações sociais, questões nas quais favoreçam um
pensamento crítico e uma relação dialógica que abarquem a consciência do seu
existir e acerca de seus atos como um todo.
Por isso, instigar os alunos a dialogarem é fazer com que os mesmos possam
caminhar para uma busca constante sobre as múltiplas possibilidades de soluções
dos acontecimentos cotidianos e assim proporcionar as trocas de informações e de
saberes entre as crianças, possibilitando que elas possam também aprender a ouvir
e a respeitar o posicionamento do outro, pois é sabido que “o diálogo é este
encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se
esgotando, portanto na relação eu-tu” (FREIRE, 1982, 93). Com efeito, essas
relações de troca e de possibilidades de solucionar os problemas cotidianos, nos
quais são construídos com as crianças, são bases para se aprender a filosofar,
aprender a cuida do seu pensamento e de seus hábitos, visando à “construção” do
sujeito.
Porém, antes de mais nada, devemos nos valer que para essa construção do
sujeito, é necessário que se tenha a concepção de que devemos perceber o aluno
como sujeito transformador do mundo, em suas especificidades. Não somente
perceber este fato é fazer valer as suas relações nas quais são inerentes a todo o
ser humano. Por isso, a relação dentro e fora de sala de aula deva ser desafiadora e
10
Artigo extraído da internet e não contém paginação
22
investigativa. Desafiadora pelo fato de fazer com que o aluno compreenda suas
relações e a dialogicidade; investigativa ao ponto de perceber as ligações dessas
relações e refleti-las.
Todavia, para que haja essa constante investigação e se fazer valer da
constante relação dialógica em que eles estão vivenciando, se faz necessário que
esses alunos sejam movidos por algo extremamente inquietante. E vemos isto
quando as crianças se mostram curiosas a “descobrirem” o novo. Chegamos ao
ponto que é crucial para proporcionar o diálogo crítico na criança. É instigar a
mesma a exercitar a sua curiosidade, pois a partir dela, que se pode construir o
pensamento reflexivo. Mas ressaltamos aqui que devemos saber que é importante
que exista a autonomia para exercer essa curiosidade para se obter as relações de
dialogicidade.
Essa autonomia não pode ser confundida com um tipo de ser indivualizado,
com o pensar indivualizado, mas essa autonomia pode e deve ser instigada na
criança como um modelo de reflexão da realidade com o exercício da curiosidade e
assim obter com as relações dialógicas o desenvolvimento de argumentos
importantes para a formação desse pensar reflexivo da criança.
Entretanto, sabemos que ainda é difícil proporcionar essa autonomia dentro e
fora de sala de aula, pois ainda percebemos e ratificamos que
a autonomia, infelizmente, é freqüentemente associada com um tipo de individualismo acentuado: o pensador crítico independente enquanto um tipo de macho cognitivo auto-suficiente, protegido por um guarda-sol de argumentos insuperávelmente poderosos. (LIPMAN, 2008; p. 36)
É efetivamente instigante fazer com que se possam criar situações de
autonomia para que as relações sociais e dialógicas sejam uma fase de crescimento
tanto no âmbito individual, quanto no coletivo. No âmbito individual no que se refere
à “construção” de sua identidade, isto é, o conhecer a si mesmo; e no coletivo, no
que concerne à relação de conhecer o outro e perceber esse outro como sujeito
ativo e de investigação de suas curiosidades e estabelecer relações dialógicas que
configuram na formação do processo educativo dos alunos.
Verificamos que o dialogo é o ato de se perceber como um ser ativo e
reflexivo e que reconhece no outro também um ser reflexivo e capaz de proporcionar
23
a aquisição de valores, crenças, princípios e ideologias bem como realizar
julgamentos críticos acerca de suas percepções. Notoriamente a aquisição desses
valores e dessas crenças engloba duas esferas: a família e a escola. Diante disso, o
que devemos buscar é a compreensão da aquisição desses fatores abordados para
podermos também criar situações de diálogo com esses fatores e
conseqüentemente fazer com que a criança, em sua autonomia, possa realizar um
julgamento reflexivo.
Para compreendermos como se dará esse processo de julgamento reflexivo
como resultado da abordagem acerca dos valores; crenças; princípios e ideologias
vêem a necessidade de caracterizá-lo aqui de uma maneira mais geral. “[...] a
capacidade de julgamento é o resultado dos princípios ou da prática. Julgamentos
baseados em princípios são aqueles orientados por padrões, critérios e razões”
(LIPMAN, 2008, p 235).
Esses julgamentos de maneira geral são os que orientam a sociedade para
um bem estar e um convívio social aceitável. Entretanto, por outra ótica, podemos
analisar que o julgamento pode ter outra significação, a de ser um produto de uma
ou mais experiências vividas. Lipman (2008, p. 235) também nos mostra esse outro
lado do julgamento nos afirmando que “julgamentos baseados na prática, [...], são
produtos de experiência e espera-se que os alunos adquiram habilidade através do
aproveitamento das suas experiências à medida que gradualmente são capazes de
fazer julgamentos cada vez melhores”.
Enfim, toda a construção do diálogo vem ser precedida da curiosidade e da
autonomia da criança para a busca do pensamento reflexivo em sua vida social,
para a construção do pensar sine qua non11 seria intrinsecamente favorável ao
aprender a pensar – aprender a filosofar.
1.4 Contribuição da Filosofia na prática reflexiva da criança. Vemos então que o processo do pensar reflexivo para os alunos possuem
algumas variáveis nas quais norteiam a construção de uma visão acerca da
11
Expressão do latim, “sem a qual não”
24
comunidade investigativa. Com isso, o pensar filosófico é uma ferramenta essencial
para a construção da formação educativa da criança enquanto ser humano.
A esse respeito, o ensino da filosofia é de fundamental importância para essa
construção do pensamento e da relação dialógica, possuindo um caráter de
razoabilidade acerca da vivência e de suas relações na contemporaneidade. A
filosofia visa uma reflexão acerca dos saberes positivos e suas contribuições para a
práxis reflexiva dos alunos, uma vez que ela – a filosofia – bem como as crianças
possui uma finalidade especifica se assim podemos dizer que é a de questionar
todas as coisas existentes.
Não simplesmente o questionamento, mas a filosofia contribui com
questionamentos acerca da representatividade da realidade humana e social
buscando envolver não só os conhecimentos nos quais se caracterizam na
apreciação de circunstâncias, mas também obter a disposição de um determinado
modo de agir que esteja em acordo com esses conhecimentos (GAZZARD, 200912).
O que procuramos é fazer com que a filosofia deixe de ser vista apenas como
um estado mental de reflexão intelectual, onde por vezes se busca nela apenas
análises conceituais e que possa a ser vista e entendida como uma análise concreta
da realidade com o pensar filosófico e como conseqüência disto se obter os
“melhores” julgamentos como fora visto anteriormente. Por isso, seu ensino visa a
construção do habito de pensar tornando o aluno um ser que possa construir e fazer
com que os alunos tenham o domínio do conhecimento e que sua construção seja
de forma autônoma e crítica sobre a realidade.
A filosofia nos traz fundamentalmente, possibilidades de construirmos as
nossas visões da realidade com base nos “edifícios teóricos” existentes na
contemporaneidade e este fato podem ser abarcados em sala de aula com as
crianças, onde elas possam se familiarizar com as ferramentas conceituais
existentes na filosofia contemporânea, bem como se trata de uma oportunidade de
se familiarizar com passado através do diálogo em sala de aula.
Podemos ainda ressaltar que a filosofia vem contribuir significativamente na
prática reflexiva da criança quando afirmamos que ela – a filosofia – potencializa as
habilidades inatas de cada criança, tornando-as mais atentas a refletirem acerca dos
processos concretos da contemporaneidade. Ressaltamos aqui, que não queremos
12
Ano de acesso ao documento.
25
tornar a filosofia como referencia absoluta no processo reflexivo da criança, mas que
é ela parte indispensável para resgatar no aluno todas as inquietações que foram
“engolidas” e “massacradas” pela sociedade, fazendo com que a criança deixasse
de lado o seu poder de indagar e de poder ter a curiosidade para construir seus
conceitos a partir da realidade na qual vivência.
Diante disso, salientamos que a filosofia ao ser ensinada para as crianças
deva ser um misto de incentivo ao amor pelo conhecimento e pelo significado, mas
também de incentivo do desejo aos significados da vida cotidiana. Por isso, a
filosofia deve ter essa abordagem, já que a sociedade contemporânea está cada vez
menos preocupada com essa vida cotidiana e sendo mais preocupada com o ter, e
assim sendo, supúnhamos que a filosofia busque resgatar a atividade intelectual a
favor do cotidiano e a práxis reflexiva em sala de aula é um começo para se tornar
isso possível.
1.5 Procedimentos metodológicos da filosofia para crianças de Matthew Lipman.
Destacamos aqui, uma parte de fundamental importância para o
entendimento do ensino de filosofia para crianças nas turmas do 5º ano do Ensino
Fundamental. Tal parte é a metodologia do programa de filosofia para crianças
(FpC) do filósofo Matthew Lipman. Primeiramente queremos mostrar que o objetivo
primordial da base metodológica deste programa está no cultivo das habilidades
cognitivas ou habilidades de pensamento das crianças que em outras palavras se
trata da “educação para o pensar” e mais ainda como uma “educação de ordem
superior” segundo o próprio Lipman (2008).
Tal cultivo das habilidades cognitivas se divide em quatro grandes eixos. A
saber: Habilidade de Raciocínio: onde a criança estabelece conclusões a partir de
conhecimentos adquiridos; Habilidade de formação de conceitos: onde se analisa e
identifica os iguais e os diferentes para o cumprimento das coisas cotidianas;
Habilidade de investigação: no qual se relaciona ao caminho traçado pelo aluno para
chegar às soluções sem ter que esperar por respostas prontas; e por fim a
Habilidade de tradução: onde o aluno reproduz tudo o que foi trabalhado sem fugir
26
do significado original do discurso. Aqui afirmamos ainda que tais habilidades se
retratem como o pensar de ordem superior, uma “educação para o pensar”.
Estruturalmente a filosofia se divide em alguns campos onde se interligam e
que podem ser trabalhados em sala de aula com as crianças das turmas do 5º ano
do Ensino Fundamental. São elas: Ética, Estética, Lógica, Metafísica. Evidentemente
que não estaremos a trabalhar esses campos a partir prioritariamente dos conceitos
das teorias gregas e outras teorias, mas associá-las à vida cotidiana dos alunos de
forma simples e dialógica. Ao ensino de filosofia, devemos saber que podem surgir
diversas questões filosóficas desde à vida cotidiana até assuntos que teoricamente
são ensinados ao adultos como a metafísica. Para isso devemos compreender que o
processo metodológico da FpC13 – mesmo com suas falhas – colabora para o
caminhar da rotina de sala de aula.
Convém salientarmos que a base da metodologia do programa de Lipman é o
diálogo e que é perfeitamente vista pelo fato de “que a educação não deve mais
estar voltada para a transmissão de conhecimentos, mas sim, para o ensino do
„pensar bem‟” (SILVEIRA, 2001; p 63). Devemos perceber que não é importante se
trabalhar dentro de sala de aula “em que” se pensa, mas o “como” se pensa. Não
queremos dizer aqui que os conteúdos sejam inúteis dentro da escola, mas que eles
sejam passados em segundo plano e que possamos recorrê-los para nos
subsidiarmos em sala de aula. Mas prioritariamente se faz valer que, quando nos
referimos aos conteúdos, devemos ter em vista que os alunos possam aperfeiçoar o
pensamento através do conhecimento de fatos tornando-os “competentes em
descobrir evidências”.
O programa de FpC prioriza o diálogo na Comunidade de Investigação (C.I.)
pelo uso adequado dos materiais didáticos – meios educativos – que conduzem o
aprendizado do pensar de ordem superior e diante disso se justifica na proposta de
redução do material escolar a ser trabalhado em sala de aula. Percebemos que
“Com efeito, é no diálogo que as crianças conseguem internalizar determinadas atitudes mentais (de interrogação, de escuta, de respeito mútuo, de autoconfiança, de auto-correção, entre outros) típicas do „pensar excelente‟ ou „pensar de ordem superior‟.” (SILVEIRA, 2001; p 66)
Diante disto destacamos que a internalização possa ser fruto de um constante
incentivo ao diálogo e a uma busca constante sobre os questionamentos da vida
13
Sigla referente à Filosofia para Crianças.
27
cotidiana que abordam questões éticas e morais. Todavia, levantemos aqui um
questionamento importante a ser realizado. Como o diálogo pode favorecer na
internalização das atitudes mentais? Citamos aqui alguns exemplos como: o
exercício da fala articulada; o exercício do raciocínio lógico; respeito ao tema em
discussão; organização do pensamento; respeito aos diversos saberes; aquisição do
hábito de ouvir o outro e saber quando falar.
Contudo, para que isso ocorra se faz necessário transformar a sala de aula
em uma Comunidade de Investigação, isto é, que a sala se torne um ambiente onde
todos estejam comprometidos com os mesmos objetivos. Tocando em miúdos, essa
C.I. será um espaço onde haja um diálogo filosófico que busque êxito comum a
partir das idéias e opiniões divergentes dos alunos não havendo prevalência de um
determinado ponto de vista acerca de temas cotidianos sobre a moral e a ética.
Salientamos ainda que nessa comunidade não exista o certo e o errado, mas
existe “a construção coletiva de um conhecimento maior sobre o tema em debate,
submetendo as opiniões individuais à apreciação do grupo com vistas ao
esclarecimento de todos” (SILVEIRA, 2001; p 69). Assim sendo, podemos afirmar
categoricamente, que a C.I. é de fundamental importância e que ela “é a condição
necessária para o desenvolvimento das habilidades cognitivas dos alunos, ou seja,
para o aprendizado do pensar” (SILVEIRA, 2001; p 70). Indo mais além, podemos
afirmar que além de desenvolver as habilidades cognitivas, podemos também
afirmar que desenvolve habilidades comportamentais, em relação aos costumes e
as regras (ética e moral).
Em relação ao Programa de Lipman podemos perceber a sua crítica em
relação aos materiais didáticos existentes, pois ele nos mostra materiais específicos
para se trabalhar diversos conteúdos filosóficos em sala de aula. Lipman trabalha
primordialmente com romances filosóficos nos quais retratam as relações cotidianas
das crianças e dos jovens e onde cada romance está adequado a uma faixa etária e
a um determinado campo de debate. Esse material é uma crítica aos materiais
didáticos convencionais, tento em vista que estes não condizem com a realidade
social dos alunos. Podemos afirmar ainda que Lipman criou textos adequados ao
estímulo do pensamento de ordem superior, o „pensar bem‟. Esses textos são –
como anteriormente vimos – os romances nos quais compõem o currículo do FpC,
cada qual direcionado a uma faixa etária e afirmamos ainda que a partir desses
romances as crianças têm um “pensamento de ordem superior”.
28
A partir desses romances, as crianças terão um “aprendizado das habilidades
do pensamento” que ocorrem basicamente por imitação das crianças reais a partir
dos exemplos das personagens existentes nas histórias. Ainda salientamos que
Lipman vem oferecer verdadeiros modelos de comportamentos nos quais discutem o
cotidiano e expõem as suas idéias.
Sabemos que os procedimentos metodológicos das C.I. são considerados
universais não carecendo de nenhuma adaptação, mas salientamos que a
metodologia do filósofo Mattheuw Lipman no seu programa não pretende ser
afirmações categóricas e nem tampouco de ter a pretensão de ser verdades
absolutas no ensino de filosofia.
29
CAPÍTULO 2
UMA ABORDAGEM METODOLÓGICA DE TRABALHO
Aqui nesta etapa de nosso trabalho, abordamos a metodologia que nós
utilizamos na pesquisa deste trabalho. Retrataremos-nos aqui, de como foi realizada
a pesquisa classificando-a a partir de um aporte teórico-metodológico, fazendo com
que o leitor possa se situar no tempo e no espaço no que se refere à elaboração do
trabalho que fora estudado.
Abordamos questões estruturais de como a elaboração do conteúdo fora
trabalhado e de como fora feita à escolha de todo o material que nos utilizamos para
compor este trabalho monográfico. Para tanto, foi necessário que nós pudéssemos
ter em mente que todo o trabalho obtivesse uma seqüência de pesquisa.
Diante disto, fornecemos aqui todas as condições para a compreensão e
mostramos toda a seqüencia do nosso trabalho de como foi estudado ao longo de
uma incansável, instigante e desafiadora pesquisa. Desde já queremos possibilitar
total suporte na leitura deste trabalho.
2.1 Metodologia: discussão acerca da realização da pesquisa.
Primeiramente viemos aqui, no que concerne à abordagem metodológica,
afirmar que nos utilizamos nesta pesquisa a técnica de documentação indireta – isto
é – se caracteriza na fase de levantamentos de dados com o intuito de que
pudéssemos recolher informações prévias (MARCONI & LAKATOS; 2008 p. 176).
Sendo assim, essa técnica possuiu um caráter bibliográfico na qual se desenvolveu
a partir de materiais já existentes segundo Gil (1996; 48). Os materiais da pesquisa
foram as fontes secundárias, nas quais, “abrange toda bibliografia já tornada pública
em relação ao tema de estudo” (MARCONI & LAKATOS, 2008, p. 185).
Essas fontes secundárias se caracterizam do tipo “imprensa escrita”
(MARCONI & LAKATOS; 2008, p. 185) e dentre elas estão enquadradas as revistas
especializadas; livros; artigos; nos quais consistiram na base teórica na construção
da pesquisa, pois, foram a partir deles que buscamos a compreensão teórica acerca
30
da temática geradora, tendo em vista a análise teórico-metodológica diante do
trabalho apresentado. Vemos que é com base na teoria que nos servirmos de
conhecimentos necessários para a organização das proposições, dos objetivos
propostos para posterior análise. Verificamos que diante disto,
a teoria é um conhecimento de que nos servimos no processo de investigação como um sistema organizado de proposições, que orientam a obtenção de dados e a análise dos mesmos, e de conceitos, que veiculam seu sentido. (MINAYO, 2000; 19)
Para tanto, nos valemos de afirmar aqui que a teoria em
caminha todo o processo investigativo de todo e qualquer trabalho monográfico.
Assim, partimos aqui nesta etapa de uma teoria para buscar uma compreensão
acerca de como esta estruturada a pesquisa.
Durante o processo de pesquisa, levantamos diversos dados bibliográficos
para um maior esclarecimento teórico acerca da temática abordada tendo em vista a
que viemos mostrar à importância de se ensinar a filosofia para o Ensino
Fundamental e sua contribuição para a formação do cidadão, tendo em vista que
nas escolas ainda não existem a disciplina de filosofia em seu currículo escolar.
Diante disto, foram realizadas diversas leituras dos materiais já levantados e citados
anteriormente tendo em vista a sua análise.
Em termos de classificação as leituras utilizadas nesta pesquisa foram: a
leitura exploratória, que consiste em consultar os materiais para verificar se interessa
à pesquisa; a leitura seletiva, que se caracteriza na determinação do material a ser
utilizado com caráter mais profundo, porém não definitivo e por fim a leitura analítica,
que consiste na leitura critica dos textos selecionados de acordo com Gil (1996; 67-
68).
Nossas leituras exploratórias tiveram o intuito de aprimorar nossas idéias e
familiarizarmo-nos com o nosso tema. Corroborando com isso Faria; Cunha & Felipe
(2010; p.31) nos diz que a pesquisa exploratória “têm como objetivo principal o
aprimoramento das idéias, a familiarização com o problema proposto, ou seja, a
tomada do conhecimento a ser estudado. Possuem muita flexibilidade [...]”.
31
Diante disto, temos a consciência de que este tipo de pesquisa foi o início
para o desenvolvimento de todo o nosso trabalho e para pensarmos a melhor forma
de nos aprofundarmos em nossa pesquisa.
Abrimos um parêntese aqui para afirmarmos de que termos a consciência que
ainda não existe a disciplina de filosofia nas Séries Iniciais, o que se pode observar
nas escolas é ainda o ensino da ética atrelada com outras disciplinas do currículo
sem ter um profissional capacitado para ensinar a filosofia e fazer com que as
crianças possam pensar com criticidade e refletir sobre suas atitudes.
Fazemo-nos valer aqui, a explicitação dos sujeitos abordados neste trabalho.
Tais sujeitos são pesquisadores de diversas localidades, onde estes puderam
favorecer um novo olhar para a construção e reestruturação desta pesquisa. Viemos
enfaticamente relembrar o caráter da pesquisa deste trabalho, que consiste em
pesquisas bibliográficas.
Essas pesquisas bibliográficas são caracterizadas como a parte fundamental
de nosso trabalho, pois consiste em toda a nossa base teórica que podemos
fundamentar nosso trabalho e discorrer sobre nossa temática para favorecer uma
ampla construção e um novo “conceito” sobre a mesma. Salientamos aqui uma
conceituação importante sobre este tipo de pesquisa.
Para tanto, realizamos revisões diversas das referências para fazer compreender o papel da filosofia dentro do currículo escolar, o seu ensino e sua importância para a formação das crianças e, além disso, realizaram-se discussões com os orientadores para novas posições e novos olhares acerca do tema. (FARIA; CUNHA & FELIPE, 2010 p. 32)
Diante destes fatos abordados sobre nossa pesquisa, buscamos realizar
diversas revisões com o intuito de obter outros olhares que por ventura surgiram ao
longo da pesquisa, pois sempre temos a necessidade de compreender a temática
trabalhada visto que nenhum conhecimento estará pronto e acabado.
Concomitantemente a este trabalho de pesquisa com os mais diferentes
sujeitos, buscamos nos aprofundar na temática realizando uma análise documental
de um livro paradidático de uma filósofa e discorrer – em linhas gerais – acerca das
temáticas trabalhadas no livro e fazer correlações com a teoria e com todo o nosso
trabalho estudado. Buscamos também através desse estudo discorrer sobre a
coerência dos temas abordados e se o mesmo possa ser adequado ao ensino de
Filosofia para as turmas do 5º ano do Ensino Fundamental.
32
CAPÍTULO 3
ANÁLISE E DISCUSSÃO
Após vermos como é constituída nossa pesquisa, analisamos e discutimos
aqui um livro paradidático escolhido por nós para podermos entender como é visto o
ensino de filosofia tendo como intuito de abordar a ética e a moral nas ações
cotidianas e a relevância deste material para a formação crítica dos alunos e
analisarmos também se a leitura é de fácil compreensão para os alunos.
Vemos também se o material se adéqua no programa de Filosofia para
Crianças do filósofo Norte-Americano Matthew Lipman e quais os aspectos que se
enquadram no programa difundido a partir da década de 1970 e que ainda hoje é
muito estudado e de extrema importância para a formação dos cidadãos numa
sociedade tão globalizada.
3.1 Análise de dados: estudo de aplicabilidade de livro paradidático de Filosofia no
5º ano do Ensino Fundamental.
Nesta última etapa buscamos entrar em uma questão muito importante, que
se refere à abordagem prática do que o programa de Filosofia para Crianças de
Matthew Lipman analisando um livro paradidático específico para as turmas do 5º
ano. O livro a ser analisado chama-se “Eu e os outros: as regras de convivência” da
Maria Helena Pires Martins, formada em Filosofia e que ensina esta disciplina com
alunos do Ensino Fundamental.
Primeiramente destacaremos aqui os principais pontos abordados neste livro,
nos quais estão diretamente ligados a um tema gerador no qual são as regras
morais. A partir desse tema gerador o livro vem abordar questões do cotidiano como
a convivência e suas regras; as obrigações de cada um na sociedade; a valorização
do outro. O livro ainda aborda questões do que é certo ou errado; as regras da
obediência (a quem devo obedecer); e por fim mostra como viver em sociedade.
33
A partir desses pontos a autora nos mostra com exemplos do cotidiano cada
aspecto citado acima, analisando os fatos e suas conseqüências que poderão
acarretar nas nossas vidas. Percebemos que o livro remete sempre à moral social
que se desmembrada veremos que se abordam as regras sociais dentro da família,
na escola, no trabalho dentre outros ambientes sociais. Os diálogos existentes no
livro paradidático são espontâneos e explicitam categoricamente a contextualização
da vida cotidiana corroborando com a idéia do filósofo Norte-Americano Matthew
Lipman acerca da importância diálogo para construção da moral social e do estimulo
ao “pensamento de ordem superior”.
Podemos traçar uma análise deste livro com o que Lipman nos afirma acerca
do estímulo ao diálogo quando se trabalhado em sala de aula, nas Comunidades de
Investigação14 tendo uma proposta ética “desenvolvendo a capacidade de
cooperação e de interlocução tolerante entre os membros dessa comunidade”
(BIGHETO & INCONTRI, 2009; p. 33).
Quando tratamos da interlocução, estamos nos referindo às conversas e aos
diálogos entre os alunos estimulando-os a se expressarem e com isso terem o poder
de diálogo fora das Comunidades de Investigação (C.I.), ou seja, em casa, com os
amigos e etc., todavia, devemos salientar que esses diálogos se tornem autênticos,
os alunos deveram ter ciência de que o outro existe e que não há o dialogo sem o
outro.
Os diálogos existentes na história “eu e os outros” são freqüentes e que
devemos dar um tratamento essencial para a realização desta atividade – o dialogo
– tendo em vista que sua estrutura há a existência do outro e que existe a
composição de formação de valores e de comportamentos assimétricos. Nesta
amplitude, nos fazemos valer de que esses diálogos supostamente fictícios possam
ser pensados, refletidos e confirmados pelas próprias crianças na vida cotidiana.
“Eu e os outros” é um livro que traz para as crianças um entendimento acerca
do respeito às regras sociais como base para a constituição da moral humana na
qual perpassa por vários campos da vida cotidiana. Tais regras influenciam e
orientam os nossos julgamentos perante a sociedade. Lipman (2008, p. 197-198)
nos afirma que “as regras nos ditam, nos comandam e nos estimulam a julgar em
conformidade com as mesmas.”.
14
Trataremos as comunidades de investigação pela sigla C.I.
34
Assim, com isso, o livro vem defender alguns pontos primordiais para a moral
social como proteção e a organização. Aquela vem referir à preservação da
integridade humana e o respeito pelo próximo e esta – a organização – nos remete
ao fato de que se deve ter consciência de que tudo tem seu lugar, desde pequenos
objetos até cargos ocupados em nossa sociedade.
Devemos salientar que, com esses pontos acerca da moral social, devemos
lembrar que há ainda que citarmos as virtudes e que elas são vistas no livro através
das atitudes exigidas pela sociedade. Maria Helena15 retrata que determinadas
atitudes não são aceitáveis perante a sociedade e questiona o porquê não são
aceitas e instiga o aluno/leitor a se perguntar quais são as atitudes que o mesmo
deve ter e em que circunstâncias são necessárias que não siga essas atitudes tidas
como regras na sociedade.
Todavia, tendo como pressuposto de que a criança sempre traz uma
bagagem de conhecimentos, a autora instiga o leitor a confrontar o que o mesmo
absorveu de valores e o que o livro traz de novo para ele, fazendo com que o aluno
tenha uma reflexão crítica das regras e mais amplamente da moral social. Por isso
salientamos aqui que a
filosofia para crianças tem que se basear numa concepção otimista de que o ser humano já traz em si as potencialidades de reflexão crítica e aplicação prática das virtudes morais e de que basta desenvolvê-las com uma orientação pedagógica adequada. (BIGHETO & INCONTRI, 2009; p. 34)
Com isso, a filosofia traz como contribuição o exercício do ato reflexivo e o
programa de Filosofia para Crianças (FpC) de Matthew Lipman ressalta esse ato
preservando e instigando o aluno a ter novos questionamentos. A historia acerca
das regras sociais de Maria Helena trata esse fato de questionar com louvor e traz
indagações e dúvidas próprias da faixa etária de 10 e 11 anos nas quais estão
relacionadas à vida cotidiana.
Diante das regras morais vistas na prática através de Eu e os outros, nos
valemos destacar ainda que o mesmo aborda a questão dos desejos existentes em
nós e que eles não estão ligados ao desejo comum. Por isso, há no livro essa
questão de fazer a criança refletir o que é desejo próprio e o desejo social e faz com
15
Autora do livro eu e os outros: as regras de convivência
35
que o aluno possa discutir e discorrer sobre quais as reais necessidades sociais e
aprende assim a ter outro ponto de fundamental importância que se destaca no livro:
o respeito a si e ao próximo.
Não podemos finalizar sem destacar um ponto de fundamental importância
abordado no livro de forma simples e direta que é o tratamento ao próximo. Este
tratamento é o reconhecer o outro e que esse outro se faz percebido pela sociedade
em que vive. Podemos resumir esse tratamento em uma palavra: gentileza. A
gentileza é o viver bem em sociedade e citando o político e escritor inglês Philip
Dormer Stanhope nos afirmou que “a verdadeira gentileza é perfeito conforto e
liberdade. Ela simplesmente consiste em tratar os outros exatamente como você
adoraria ser tratado”.16
E para corroborar com o que discutimos aqui sobre a contribuição da filosofia
na moral e na ética dos alunos, destacamos que o livro analisado por nós tem uma
grande importância ao ser trabalhado em sala com os alunos do 5º ano do Ensino
Fundamental e está em consonância com o que propõe a metodologia do programa
de Filosofia para Crianças de Matthew Lipman. Com este fato encaminhamos em
anexo uma história em quadrinhos sobre o mito da caverna de Platão, adaptado por
Maurício de Souza e que, além de tratar questões como conhecer a si mesmo, trata
de questões nas quais são a importância de perceber o outro na sua essencialidade
e não ter um julgamento parcial das coisas, das pessoas e da vida social.
16
Frase extraída da Revista Construir Notícias nº 47, ano 08; julho/agosto de 2009.
36
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do estudo realizado acerca da filosofia, sua história; seu ensino; suas
contribuições e a metodologia do programa de filosofia para crianças podem afirmar
que nosso trabalho tem uma grande importância no campo educacional, tendo em
vista que ainda é desconhecido de grande parte dos educadores o ensino da
disciplina de filosofia para as Séries Iniciais.
É notório que percebemos tão somente o ensino desta disciplina no Ensino
Médio e quando percebemos no Ensino Fundamental só ocorre a partir do 8º ano.
Por isso, consideramos que esta pesquisa possa se tornar o inicio de muitas
pesquisas – por parte dos futuros pedagogos – na área do ensino de filosofia nas
Séries Iniciais para que não se tenha uma defasagem e dificuldades por parte dos
alunos quando se depararem com esta disciplina.
Todavia, não podemos desconsiderar que nós – como pedagogos – também
temos que nos conscientizarmos de que precisamos nos capacitar para o exercício
da docência na área de filosofia para as Séries Iniciais do Ensino Fundamental ou
até mesmo na Educação Infantil.
Com efeito, o nosso estudo acerca do ensino de filosofia e sua contribuição
para a formação ética e moral dos alunos buscou manifestar o anseio de se ter –
mesmo que seja utópico – este ensino nas escolas e acima de tudo de se ampliar os
conhecimentos científicos dentro do campo da Educação e mais especificamente da
atuação do pedagogo nas escolas no que concerne a se habilitar no ensino da
filosofia e facilitar futuros pensamentos críticos dos futuros cidadãos.
37
REFERÊNCIAS
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<http://www.cbfc.org.br/mod_biblioteca.asp?passos=Artigo&ArtigoID=58>. Acesso
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BIGHETO, Alessandro Cesar; INCONTRI, Dora. Filosofia e ética para crianças: uma
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FARIA, Ana Cristina de; CUNHA, Ivan da; FELIPE, Yone Xavier. Manual prático
para elaboração de monografias: trabalhos de conclusão de curso, dissertações e
38
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Associados, 2001.
40
ANEXOS
41
ANEXO A
42
História em quadrinhos adaptada da turma da Mônica, As sombras da vida com
Piteco, de Maurício de Souza retirada da revista Construir Noticias Nº 46 ano 08. A
versão original dessa história encontra-se em www.turmadamonica.com.br.