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SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL – SENAC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO A DISTÂNCIA
ESPECIALIZAÇÃO EM ARTES VISUAIS: CULTURA E CRIAÇÃO
Conrad Rodrigues Rosa
PRESERVAÇÃO URBANA DA RUA DA AREIA:
Representação fotográfica em catálogo
João Pessoa/PB
2009
CONRAD RODRIGUES ROSA
PRESERVAÇÃO URBANA DA RUA DA AREIA:
Representação fotográfica em catálogo
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
como requisito parcial para a obtenção do
título de especialista em Artes Visuais: cultura
e criação do Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial - Senac/PB.
Orientadora: Prof. Drª Marcele Trigueiro de Araújo Morais
João Pessoa/PB
2009
CONRAD RODRIGUES ROSA
R694p 38 ROSA, Conrad Rodrigues
Preservação urbana da rua da areia: representação
fotográfica em catálogo. _ João Pessoa : [s.n.], 2009.
38 f. Il.
Especialização em Artes Visuais: cultura e criação.
SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial/
CETEC - Centro de Educação para o Trabalho e Cidadania.
1. Artes visuais 2. Fotografia 3. Preservação urbana
I. Título
CDD: 778.98133
CONRAD RODRIGUES ROSA
PRESERVAÇÃO URBANA DA RUA DA AREIA:
Representação fotográfica em catálogo
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
como requisito parcial para a obtenção do
título de especialista em Artes Visuais: cultura
e criação do Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial - Senac/PB.
Aprovado em:16/05/2009
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Profª. Drª. Marcele Trigueiro de Araújo Morais
Orientadora
__________________________________________
Profª. Ms. Ilka Maria Soares Campos
Examinadora
__________________________________________
Prof. Dr. José David Campos Fernandes
Examinador
AGRADECIMENTOS
A confecção deste trabalho foi possível pela interação de pessoas que acreditaram que
preservar o patrimônio tangível é também preservar a cultura, e assim não deixar desfalecer
uma parte importante da cidade.
Agradecemos então ao SENAC, nas pessoas de Márcia Sandra, Ilka Campos e Carla Jeane.
À Carolina e Marcele, que através das discussões acerca da arte como representação social e
urbana me fizeram compreender a cidade enquanto palco de profusão de elementos
originadores do processo artístico.
Especialmente à Profa. Maria Nilza Rosa, por te-me conduzido através dos corredores da
semiótica, tema tão complexo e ainda tão distante de ser atingido por mim, mostrando- me a
cidade não pelo ponto de vista urbano, mas sim pela ótica da representação.
À orientadora Marcele Trigueiro, que antes de tudo dissipou os conceitos equivocados que eu
tinha sobre os diversos processos de organização do patrimônio histórico e arquitetônico.
Ao Prof. Paulo Rosa, que em discussões e debates acerca do real e de sua representação pude
aprender a ser sensível às emanações desprendidas pelas coisas, assim podendo buscar o
conhecimento. Mesmo que o caminho ainda não esteja totalmente traçado, pude dar meus
primeiros passos.
À organização do “Folia de Rua”, na pessoa de Clóvis Jr e Thaís Figueiredo, que cederam
fotografias sobre o carnaval de rua. À Rosana, funcionária do IPHAEP, que gentilmente e
com tamanha paciência me apresentou os arquivos sobre a rua da Areia.
Ao Pablo Rosa, que através de discussões sobre técnicas e experimentações fotográficas pude
estudar mais sobre essa linguagem. À Liése Carneiro, que por acreditar e valorizar meu
trabalho fotográfico sempre me incentivou a me jogar de cabeça nesse mundo iconográfico. A
Ivonaldo por empreender algumas discussões acerca das imagens e das ruas em tempos
antigos.
E, ao imprescindível apoio de Geraldo Costa da Silva, Geógrafo que me guiou nos meandros
dos bares e pessoas em tão pitoresca Rua.
Quando você vê tudo o que é possível exprimir através
da fotografia,
descobre tudo o que não pode ficar por mais tempo
no horizonte da representação pictural.
Picasso num diálogo com Brassai (citado em
Dubois, 2008)
ROSA, Conrad Rodrigues. PRESERVAÇÃO URBANA DA RUA DA AREIA:
representação fotográfica em catálogo. 2009. Xx p. Monografia (Especialização em Artes
Visuais: cultura e criação). Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – Senac/PB.
RESUMO
Observar uma fotografia é sempre um retorno ao passado, independente do momento em que
tenha sido produzida. Esse retorno é sempre um apelo à memória. Em João Pessoa, os
primeiros fotógrafos registraram muitas edificações que cederam espaço a uma arquitetura
mais moderna. Ao ver esse registro percebe-se que a cidade passou por mudanças
substanciais. No caso específico da rua da Areia, as reflexões apresentadas neste trabalho
visam a esboçar à catalogação da documentação urbanística das edificações ali contidas a
partir de marcos significativos para a história cultural e social da Paraíba. Os marcos
significativos selecionados permitiram entrever a situação atual da rua da Areia, suas
edificações, sua dinâmica noturna e o comércio que ali se encontra, definindo-a como espaço
urbano, capaz de revelar a sua importância para compor um perfil da cultura urbana
pessoense. A ideia posterior é transformar este acervo fotográfico da rua da Areia em acervo
digital, com a finalidade de preservar e fomentar o acesso ao público interessado.
Palavras-chave: Artes visuais. Fotografia. Preservação urbana.
ROSA, Conrad Rodrigues. PRESERVAÇÃO URBANA DA RUA DA AREIA:
representação fotográfica em catálogo. 2009. Xx p. Monografia (Especialização em Artes
Visuais: cultura e criação). Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – Senac/PB.
ABSTRACT
When we look at a photo, always it is a journey to the past, regardless of the time that the
photo has been take. This return it is always a call to the memory. In João Pessoa, the first
photographers recorded many buildings, what gave a modern architecture in the each epoch
evolution. When we see this photos, is seen that the city has undergone substantial changes. In
the case of RUA DA AREIA, a historical street, portrayed in this work, some reflections
presented in this paper aimed sketch the documentation of urban buildings into a RUA DA
AREIA, from a significant social and cultural landmarks. The significant landmarks selected
to this work assured the current situation of RUA DA AREIA, as its buildings, as its dynamic
nightlife and their commerce, defining it as urban space, capable of revealing its importance
to compose a profile of urban culture, especially the culture pessoense. For to the future, the
idea it is make a digital photo collection of the RUA DA AREIA, with the aim to preserve and
promote access to the interested public to the multimedia database.
Key words: Visual arts. Photography. Urban preservation.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 - Mapa da área de preservação e tombamento do centro histórico de
João Pessoa
18
Figura 02 - Teatro Coliseu Paraibano (1831) 20
Figura 03 - Grupo Escolar Tomás Mindelo 20
Figura 04 - Rua da Areia 23
Figura 05 - Vista da rua da Areia, sentido rua Peregrino de Carvalho – Varadouro 24
Figura 06 - Paisagem da rua da Areia ao anoitecer 25
Figura 07 - Paisagem da rua da Areia por volta do meio-dia 25
Figura 08 - Paisagem da rua da Areia ao amanhecer 26
Figura 09 - Boate, fechada durante o dia 27
Figura 10 - Boate em funcionamento 27
Figura 11 - Patrimônio arquitetônico em processo de declínio 28
Figura 12 - Ruína 28
Figura 13 - Antigo Teatro Coliseu Paraibano (abandonado) 29
Figura 14 - Folia de Rua, bloco carnavalesco Cafuçu 30
Figura 15 - Comemoração ao “dia da prostituta” 31
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 10
1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA 10
1.2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS 11
1.2.1 Fotografia: a arte subvertida 11
1.2.2 O registro fotográfico 13
1.2.3 Arte, cultura e patrimônio intangível 14
1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 15
2 DESENVOLVIMENTO PRÁTICO E TEÓRICO 17
2.2 APRESENTAÇÃO DO OBJETO CRIADO 17
2.2.1 Da imagem fotográfica ao caminho da memória visual 17
2.2 APRESENTAÇÃO DAS INFORMAÇÕES LEVANTADAS 21
2.3 COMPOSIÇÃO 22
3 CONCLUSÃO 32
REFERÊNCIAS 34
ANEXO
10
1 INTRODUÇÃO
1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA
A concepção sobre a arte modificou-se bastante com a chegada das técnicas de
reprodução. Hoje se fala muito em arte gráfica, um trabalho artístico destinado à
reprodução gráfica, como o desenho, a fotografia, a montagem de gravuras, entre outras.
As questões sobre arte artesanal e industrial passam a fazer parte dos debates acerca da
arte, imprimindo o conceito de arte artesanal como criação e arte industrial como
(re)produção.
O conceito de criar sempre foi considerado atribuição dos intelectuais e o
consumidor dessa arte é a elite cultural que aprecia objetos criados (BENJAMIN, 1983).
Por outro lado, as dezenas, centenas de objetos copiados de modelos existentes são
consumidos pelas classes populares, confirmando-lhes certo status. Desse modo, o
conteúdo e a função da arte deixam de ter significado e a forma passa a ser bastante
valorizada. Nessa ótica, é a forma que vai definir o que é arte.
Walter Benjamin, ao estudar o fenômeno da cultura de massa, expressa que as
novas condições criadas pelas técnicas de reprodução possivelmente deixem intacto o
conteúdo da obra de arte, porém desvalorizam o seu hic et nunc, isto é, a sua
singularidade (ela e só ela é única), pois “o que caracteriza a autenticidade de uma coisa é
tudo aquilo que ela contém e é originalmente transmissível desde sua duração material,
até seu poder de testemunho histórico” (BENJAMIN, 1983, p. 7).
Portanto, há que se preservar e conservar as mais singulares e, ao mesmo tempo,
múltiplas expressões artísticas ao nosso dispor. Pensando assim, este trabalho elege como
objeto de estudo a rua da Areia em João Pessoa, com o intuito de debater a situação atual
de preservação da rua, ao lado de uma política de conservação da cultura fortalecendo a
sua inserção na história popular artística.
A rua da Areia foi escolhida para a experiência de campo, considerando-se a
perfomance das casas que abrigam algumas residências, do comércio, dos bares onde a
prostituição é visível, e ainda do carnaval de rua através dos blocos populares Cafuçu,
Anjo Azul e Picolé de Manga, e ainda recebe no dia 02 de junho a comemoração pelo
“dia da prostituta”.
11
É esse percurso, da imagem fotográfica ao caminho da memória visual, que este
trabalho propõe-se tratar, reforçando sua característica urbana de elemento não só
funcional – artéria viária, mas também de elemento cultural na cidade de João Pessoa.
Por isso, indaga-se sobre o tempo durante o qual as construções da rua da Areia têm
acolhido as residências e os prostíbulos bem como o carnaval de rua; sobre o tipo de
paisagem em que predominam as (ir)regularidades das formas e das cores, fruto de uma
proposta para seduzir, surpreender, assustar ou maravilhar as pessoas que ali transitam; e
sobre as singularidades históricas e artísticas que a diferencia de outras ruas.
1.2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Os processos que evocam o tempo, nos meandros da memória são, entre outros, a
representação iconográfica, desenhos, fotografias, pinturas enfim, uma série de elementos
que dão suporte ao ato de registrar. Nesse sentido, a arte é uma das formas de
entendimento do mundo, tanto para o artista que cria obras concretas e lhes atribui
significados quanto para o espectador que lê os significados nela depositados. É essa
percepção por parte do espectador que vai servir de mediadora entre a presença do objeto
e sua representação, ampliando assim o campo do real percebido, preenchendo-o de
outros sentidos. No caso da fotografia, Dubois (2008, p. 25) ressalta que “a foto é
percebida como uma espécie de prova, ao mesmo tempo necessária e suficiente, que
atesta aquilo que mostra”.
Neste capítulo, traça-se um breve percurso histórico das diversas posições
apresentadas no decorrer da história pelos críticos e teóricos do tema.
1.2.1 Fotografia: a arte subvertida
Os meandros não racionais da arte nos permitem descobrir e percorrer diversos
caminhos e nos sintonizarmos com eles, podendo nos aproximar do nível da recepção
crítica, da análise intelectual da obra, do julgamento de seu valor. No entanto, só a
convivência não basta, é necessário o conhecimento histórico dos estilos, da linguagem
de cada arte, além de um conhecimento da cultura que gerou cada obra. Nessa ótica, se
pode dizer que a arte é a percepção da realidade na medida em que cria formas sensíveis
12
que interpretam o mundo. A atitude perante a arte está fundada sobre o conceito de
mimesis, normalmente traduzido por intuição, porém esta palavra comporta outros
sentidos, como representação, construção. Assim, a arte, enquanto poíesis, isto é,
construção, imita a natureza no ato de criar (ARISTÓTELES, 1993).
Na concepção de Aristóteles, a arte vem do prazer intelectual de reconhecer a
coisa representada através da imagem. Com a revolução estética, cujas raízes estão no
século XVIII na Inglaterra, a apreciação estética passou a ser o único valor das obras de
arte. Na observação de Malraux citado em Osborne (1970, p. 248), “a metamorfose mais
profunda principiou quando a arte já não tinha outra finalidade senão ela mesma”.
É essa independência da obra de arte tanto em relação à intuição do autor quanto a
valores e propósitos não propriamente estéticos que vai caracterizar a produção, fins do
século XIX e início do século XX. Assim, a obra de arte adquire um estatuto próprio de
arte, isto é, ela não tem por função representar nenhum aspecto da realidade exterior, pois
ela é a própria realidade considerada obra de arte. No caso da fotografia, “o efeito de
realidade ligado à imagem fotográfica foi a princípio atribuído à semelhança existente
entre a foto e seu referente” (DUBOIS, 2008, p. 26), isto é, a fotografia como imitação
mais perfeita da realidade.
Desde o surgimento da fotografia, “os artistas pressentiram a aproximação de uma
crise que ninguém poderá negar. Eles professaram „a arte pela arte‟, ou seja, uma teologia
da arte”. Através desse pensamento, terminava-se por conceber “uma arte pura, que
recusa desempenhar não apenas qualquer papel essencial, mas até submeter às condições
impostas por uma matéria objetiva” (BENJAMIN, 1983, p. 10).
Pode-se dizer que os artistas trabalham contra o domínio crescente da indústria
técnica na arte. No tocante a isso, Dubois (2008, p. 28) argumenta que:
os artistas reagem contra o afastamento da criação e do criador; contra
a fixação no sinistro visível‟ em detrimento das „realidades interiores‟,
e isso justamente no momento em que a perfeição imitativa aumentou
e objetivou-se.
Com a fotografia, o valor de exibição começa a empurrar o “valor de culto” para
segundo plano. O valor de culto não cede sem resistência, sua meta final é o rosto
humano. Não se trata de um acaso,
se o retrato desempenhou papel central nos primeiros tempos da
fotografia. Dentro do culto da recordação dedicada aos seres queridos,
afastados ou desaparecidos, o valor de culto da imagem encontra o seu
13
último refúgio. [...]. Mas, desde que o homem está ausente da
fotografia, o valor de exibição sobrepõe-se ao valor de culto
(BENJAMIN, 1983, p.13).
Desse modo, considera-se o papel da fotografia não apenas o de conservar as
marcas do passado. Cabe também a ela a função documental, a referência, o concreto, o
conteúdo, a pintura, a busca formal, a arte, o imaginário a origem da fotografia, portanto,
como afirma Dubois (2008, p. 35), está na “relação de contiguidade momentânea entre a
imagem e seu referente, no princípio de uma transferência das aparências do real para a
película sensível”.
Com efeito, a abordagem de Dubois reforça a idéia de fotografia como espelho do
real, como transformação do real e como traço de um real. Para esse autor, as questões
relativas à significação das mensagens fotográficas são, de fato, determinadas
culturalmente. Assim, ele argumenta que a fotografia deixa de aparecer como “inocente e
realista por essência” e vai se tornar “reveladora da verdade interior, não empírica”, pois
a imagem não pode “representar o real empírico uma vez que não haveria realidade fora
dos discursos que falam dela, mas apenas uma espécie de realidade interna
transcendente” (DUBOIS, 2008, p.36),
1.2.2 O Registro fotográfico
O registro fotográfico é a representação mais perfeita do real, pois traz em si um
resultado objetivo, onde o produto é a semelhança com aquilo que é percebido pelos
olhos. Porém, como contraposição ao registro fotográfico enquanto produto
representativo do real, Dubois (2008, p. 38) afirma que “se observarmos concretamente a
imagem fotográfica, ela representa muitas outras falhas a sua representação
pretensamente perfeita do real”.
Nessa perspectiva, pode-se obter um registro fotográfico como objeto de
transformação do real, assim o fotógrafo se torna um filtro cultural, pois a partir de sua
realidade, sua ideologia e seu estado de espírito o objeto representado terá um tratamento
estético, uma organização dos detalhes (KOSSOY, 2001), e o objeto será registrado de
maneira que transmita uma mensagem que o fotógrafo queira informar.
14
Assim, eleger como objeto de registro a cidade é um desafio. Na perspectiva de
Teixeira (2000), praticamente as cidades já se transformaram em imagens, com o advento
da fotografia amadora em que todos podem registrar, aparentemente não há mais nada a
ser registrado, sendo esse um efeito colateral da produção e reprodução de imagens. O
autor salienta que é necessário buscar nesse intricado mundo da representação do registro
fotográfico urbano os segredos que ainda devam haver na arquitetura, nos traçados, no
comportamento das pessoas, no cotidiano da cidade. Enfim, buscar aquilo que se quer
fotografar, ou, nas palavras de Baudrillard citado em Teixeira (2000, p. 02) “você pensa
que está fotografando uma coisa por prazer, mas na verdade é a coisa que quer ser
fotografada”.
1.2.3 Arte, cultura e patrimônio intangível
As concepções da memória e sua implicação na apreensão e elaboração da
realidade abrem o caminho para uma leitura possível sobre a rua da Areia como espaço
urbano na construção histórica artística e cultural da Paraíba.
Como observa Magalhães (2002, p. 04), “a valorização cultural está ligada a uma
tendência mundial de utilização da cultura como dinamizadora de projetos de recuperação
urbana [...] e requalificação de áreas degradadas”. Assim, é possível entender a
necessidade de requalificação, para entender a necessidade de reimplantação de antigas
funções, não sendo necessariamente sua função inicial, mas sim uma função condizente
com a edificação e localização espacial à qual está subordinada e também com os
processos culturais ali desenvolvidos.
As manifestações culturais surgem em um povo a partir do sentimento de
valorização sobre os objetos e símbolos que representem sua cultura, assim tais objetos e
símbolos formam respectivamente o patrimônio intangível, e o patrimônio material,
ambos formadores da memória cultural coletiva.
Desta forma, concorda-se com Volkmer (2001, p.2) ao afirmar que, “abstraindo-se
a materialidade imanente aos bens culturais tangíveis, o homem tem a virtude de imantá-
los de conteúdos imateriais”, ou seja, os valores intangíveis cumprem um papel
importantíssimo no desenvolvimento cultural do povo, pelo significado e pelas aspirações
dos grupos sociais.
15
Valorizar os bens patrimoniais, como a arquitetura, não é somente valorizar a
estética, mas sim valorizar a história que se desenrolou neste espaço, pois é possível que
ela tenha auxiliado a formar a cultura. Preservar um bem é também preservar a cultura
intangível que ali se criou e que, muitas vezes a partir da decadência do bem imóvel,
terminou por se degradar. Outrossim, o processo de decadência da cultura leva a subtrair
da memória um momento histórico na formação social da cidade.
É possível então perceber que, os espaços urbanos nos seus traçados bem como a
arquitetura formam lugares simbólicos, pois como diz Scocuglia (2006) esses espaços
estão na memória coletiva, através dos valores sociais e da economia local. Portanto, é
necessário pensar num processo de preservação dos patrimônios intangíveis e tangíveis a
partir dos valores cotidianos dos seus habitantes, de forma que a função tanto do imóvel
quanto da rua a serem preservados possam resguardar de fato a memória a eles associada.
1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Ao se cultivar uma postura investigativa, já se está indicando um método. Muitas
vezes o objeto é que nos indica o método. Concorda-se com Pedro Demo (1999, p. 17),
ao afirmar que “pesquisar toma contornos próprios e desafiadores, a começar pelo
reconhecimento de que o melhor saber é aquele que sabe superar-se”.
Assim, a metodologia adotada neste trabalho propõe a criação de um catálogo
fotográfico, representativo da rua da Areia, na capital paraibana em sua arquitetura, festas
populares, e também no seu cotidiano pautado na proposta de fotografia documental.
Segundo Vieira (2001) o catálogo é um prospecto ou publicação que serve para
divulgar determinados conteúdos escritos ou imagéticos, sua estrutura é bastante variada
dependendo do tipo de material e informação que se queira transmitir e materializar.
Existem dois tipos básicos de catálogo: o analítico e o sumarizado. Este último traz
apenas as informações sem muitos aprofundamentos e nem se utiliza de recursos
remissivos. Enquanto que no primeiro, os documentos são descritos pormenorizadamente
e unitariamente, ou em pequenos agrupamentos, desde que absolutamente homogêneos.
Sua estrutura deverá conter elementos explicativos que determinam a forma e opção
estrutural do catálogo (VIEIRA, 2001).
16
As fotos que constituem o catálogo foram obtidas em trabalho em campo, bem
como em visitas a acervos públicos e privados. As fotos de campo foram efetuadas
usando equipamento digital Nikon D60, com lentes 18 – 55 mm e 55 – 200 mm, algumas
das fotos foram registradas no modo automático, devido à praticidade em obter o registro,
haja vista o risco de assalto que há na área. Outro equipamento utilizado foi Casio –
Exilim, e Olympus SP-350 equipamentos amadores, porém de grande valia por serem
pequenas e não chamar a atenção de quem passa pelo local. Alguns registros puderam ser
mais bem trabalhados, de maneira que fosse possível obter resultados diversos utilizando-
se o equipamento em modo manual, para se ter domínio maior sobre a técnica da
fotografia, no intuito de alcançar um registro fotográfico que se apresentasse visualmente
atraente, mesmo que o objeto fotografado nos parecesse decadente.
Foram feitas seis visitas à rua da Areia em turnos variados: manhã, tarde e noite,
procedendo-se aos registros fotográficos após determinarem-se algumas diretrizes:
a) Primeiramente, buscou-se período de menor trânsito sendo então o domingo o
dia escolhido para fotografar as fachadas das edificações. Fotografou-se pela manhã, as
fachadas que ficam orientadas para o lado Leste dando assim maior visibilidade à
arquitetura por conta da luz natural e no período da tarde, as fachadas orientadas para o
lado Oeste.
b) Depois, realizaram-se visitas aos acervos públicos tais como: IPHAEP –
Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico do Estado da Paraíba; IPHAN –
Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional; NDIHR/UFPB – Núcleo de
Documentação e Informação Histórica e Regional/UFPB; e, Arquivo Público do Estado
da Paraíba, para se obter informações sobre fotografias, fichas prediais indicando a
função do prédio e o estado de conservação e ainda o mapa da zona de tombamento.
c) Para confecção do catálogo, as fotografias escolhidas foram diagramadas sem
se alterar qualquer informação, seja ela de natureza contextual ou técnica. No que se
refere ao contexto, tratou-se de alterar imperfeições ou detalhes no objeto fotografado.
Quanto à técnica, afirma-se que não houve alterações na luminosidade da fotografia,
brilho/contraste, ou aplicações de recursos computacionais que pudessem alterar o
registro.
17
2 DESENVOLVIMENTO PRÁTICO E TEÓRICO
2.1 APRESENTAÇÃO DO OBJETO CRIADO
O objeto a ser desenvolvido é um catálogo fotográfico impresso, subdividido em
vários tópicos. Citem-se: Capa; Apresentação; Sumário; Introdução – trazendo um
breve esboço do objeto fotografado e o interesse pelo mesmo; Estrutura do catálogo –
que será apresentado aqui em pormenores, ou seja, pela organização tanto das fotos como
do texto que compõe o catálogo fotográfico; Perspectivas do catálogo – onde
mencionaremos o objetivo que se pretende alcançar com a confecção do catálogo;
História e Memória da rua da Areia – parte do catálogo que trará fotos antigas desde o
século XIX até meados de 1985, com a intenção de mostrar a rua da Areia num processo
histórico; Transformações urbanas: Art Déco, Estilo Eclético e Estilo Moderno –
onde serão expostas fotografias que mostrem a arquitetura de cada estilo, assim como
fichas prediais indicando o estado de conservação e a função da edificação;
Transformações culturais: habitação, comércio e bares – tópico que compreenderá
fotografias mostrando as mudanças pelas quais a rua da Areia passou desde que era uma
rua de habitações até o presente, a partir de fotos atuais que demonstrem as características
culturais das edificações; Arquitetura e Decadência – com fotos mostrando o estágio
avançado de decomposição imobiliária e informações textuais sobre cada imóvel
fotografado, no intuito de revelar as peculiaridades de seus habitantes; e, por fim,
Cultura: realidade e ficção – onde fotografias eminentemente de pessoas nas festas
populares e dos transeuntes e demais usuários da rua da Areia poderão ser visualizadas.
2.1.1 Da imagem fotográfica ao caminho da memória visual
A cidade de João Pessoa como outras cidades brasileiras se beneficiam de ter
sobre seu solo áreas de construções seculares ou somente com construções relevantes à
memória do povo, ou seja, são bens culturais materiais ou tangíveis. No intuito de
preservar essa memória, o Brasil estabelece leis de proteção e preservação do patrimônio
cultural através do Decreto-Lei n. 25 de 30 de Novembro de 1937, onde diz que “todo o
conjunto de bens móveis e imóveis com relevância histórica deve ser conservado”. Em
João Pessoa a área de preservação do patrimônio arquitetônico concentra-se no centro da
18
cidade; tentando estabelecer normas para preservação, assim foram tombados imóveis de
valor arquitetônico e cultural, localizados em diversas ruas do centro como mostra a
figura 1. Esses imóveis foram inscritos nos livros de Tombo: Histórico e Arqueológico,
Etnográfico e Paisagístico, seguindo a orientação do Decreto-Lei n. 25, Art. 4º.
Figura 1 – Mapa da área de preservação e tombamento do centro histórico de João Pessoa
Destacada em vermelho a rua da Areia
Fonte:http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=14237&sigla=Institucional
&retorno=detalheInstitucional).
Na intenção de afirmar a rua da Areia como elemento inerente ao patrimônio
histórico da cidade de João Pessoa, buscou-se não só a representação visual do mapa da
área de preservação, mas também a representação em fatos históricos, contados por
pesquisadores em obras já consagradas, a exemplo de Aguiar (1993); Brito e Vidal
(2006). Assim sendo, traz-se abaixo alguns fatos ocorridos na rua da Areia através do
processo de formação da cidade.
O ano de 1859 registra “três artérias [que] detinham o maior número de imóveis:
Convertidas, [hoje rua] Maciel Pinheiro, Direita, [hoje] Duque de Caxias e rua da Areia
[antes Barão de Passagem]”. Nas pinturas das residências usavam-se cores fortes. As três
ruas detinham a maior concentração de moradias (AGUIAR, 1993, p.91-92), e nas
19
palavras de Aguiar, em 1859 a rua da Areia “se embandeirou em arco”, para receber D.
Pedro II.
Era uma rua de famílias ilustres e abastadas, por isso se beneficiava de melhorias
urbanas, tais como calçamento e bondes. Como descreve Cavalcanti (1972 apud BRITO e
VIDAL, 2006) a rua da Areia era pujante em urbanismo e cultura contrapondo-se às
demais ruas que ainda estavam no estado de estagnação urbanística e cultural. O Teatro
Coliseu Paraibano (fig. 2,) - o primeiro teatro privado da capital - e o Grupo Escolar
Tomás Mindelo, construído em 1916 [hoje Teatro Cilaio Ribeiro] (fig.3) são edificações
que revelam o interesse particular dos artistas na época em querer promover as artes.
Pode-se considerar a rua da Areia como uma das ruas que concentraram os primeiros
bondes da capital, ainda à tração animal, e também as festividades coletivas, como o
carnaval de rua e outras festas tradicionais, tendo a rua da Areia como palco desse
espetáculo (BRITO e VIDAL, 2006).
A arquitetura ali existente tem influências Art Déco, porém é possível encontrar
influência da arquitetura industrial, no entanto o que figura mais é o estilo eclético.
Segundo consta em Brito e Vidal (2006) a predominância do estilo eclético se dá pelo
fato das edificações não terem surgido todas de uma só vez, mas sim foram sendo
construídas esparsamente, tanto no espaço quanto no tempo. Assim percebe-se que há
uma dificuldade em manter um único estilo arquitetônico, mesmo porque as mudanças
artísticas na época eram efervescentes. Outro elemento predominante na espacialização
imobiliária da rua da Areia é o formato dos lotes, pois, de influência colonial, os lotes são
estreitos e compridos, tendo as habitações duas águas, tal qual as tradições coloniais, ou
ainda, casas baixas e desprovidas de recuo em relação às vizinhas ( BRITO e VIDAL,
2006).
20
Figura 2 – Teatro Coliseu Paraibano (1831)
Foto: Conrad Rosa, 2009
Figura 3 – Grupo Escolar Tomás Mindelo
Foto: Walfredo Rodriguez, 1920
Fonte:http://www.memoriajoaopessoa.br2.net/acervo/acervo_g/36_grupo_escolar_tomas_mindelo
fotos/foto_02.html, Acessado em: 31/05/2009
21
De acordo com Aguiar (1993, p. 139), a partir dos anos 1940 se instalaram na rua
da Areia “algumas pensões de mulheres, frequentadas por homens de expressão em nossa
vida social e política”. É possível inferir que a mudança de função da rua da Areia, de
residencial para comercial, tenha se dado pela expansão da capital, com o surgimento de
novos bairros, consequentemente novas propostas de urbanização vieram, atreladas a essa
expansão.
No início do século XX, a rua da Areia foi abandonada pelos moradores mais
ilustres, como apontam Brito e Vidal (2006), assim decaiu o status da rua. Um ponto que
está ligado à expansão e que possivelmente tenha contribuído para a decadência da rua é
o fato de novas artérias ligarem a cidade baixa à cidade alta. Como observa Silva (2009),
a rua da Areia foi se transformando em casas de recursos para a iniciação sexual, tendo
seu auge entre os anos de 1950 e 1970. Para Silva, tanto os freqüentadores quanto as
mulheres se produziam, mostrando-se em trajes arrumados que procuravam guardar o
corpo inteiro, os homens com ternos e chapéus, as mulheres com vestidos longos e
“anáguas”. É certo que essa indumentária era usual à época, porém o que se torna
relevante é que o corpo, bem como o trabalho, não tinha conotação vulgar ou promíscua,
ou como diz Silva (2009, p.18), “era uma época nostálgica onde não existia a malícia
nem o banditismo de hoje”
Atualmente, a rua da Areia mantém um comércio ativo que varia de materiais de
eletricidade, gráficas, mercearia, bares, prostíbulos, boate, armeiro, estacionamento,
oficinas mecânicas; associações como Loja Maçônica, Oficina-escola, Ambulatório
Médico da Polícia Militar, residência de estudantes; algumas residências familiares além
de abrigar festas populares, como o carnaval de rua e ainda uma festa em comemoração
ao “dia da prostituta”.
Contudo, a rua da Areia sofre a discriminação da população pessoense, por ser
uma rua em constante desgaste, visível na degradação dos imóveis, na prostituição e no
consumo de drogas; por esta razão torna-se difícil um processo de “sociabilização” entre
os moradores de outros bairros, pois a decadência, visível dos edifícios é também
transposta à cultura.
2.2 APRESENTAÇÃO DAS INFORMAÇÕES LEVANTADAS
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A partir do que se programou, em termos de horário, pôde-se perceber que o
levantamento da rua da Areia em um único turno não é tão adequado, por conta do
movimento de pedestres, de usuários do comércio, usuários dos estacionamentos e
clientes dos bares, uma dinâmica que abrange turnos diferenciados.
Fotos que mostrassem a rua da Areia sobre um plano geral foram obtidas do
terraço do Ed. João Pessoa (comumente conhecido por “18 Andares”), que fica na rua
transversal à rua da Areia, chamada rua Peregrino de Carvalho. Essas fotos foram obtidas
em dia de semana, ao meio-dia, mesmo sendo um horário considerado impróprio para
realizar fotografias, porém nesse dia a nebulosidade auxiliou bastante na difração da luz,
tornando-a mais amena para o registro.
O registro fotográfico do cotidiano da rua da Areia foi dividido então, nas partes
descritas a seguir:
a) decidiu-se fotografar os transeuntes, comerciantes, clientes, bares e bordéis. Os
registros sobre os transeuntes foram obtidos em dias da semana nos horários comuns ao
comércio, bem como em horários incomuns, tais como o alvorecer e de madrugada. Os
comerciantes e seus estabelecimentos foram também registrados no horário comercial.
b) O registro dos bares e bordéis foi mais complexo, pois dependia da autorização
dos donos dos estabelecimentos. Por isso, foi necessário pedir ajuda a um “guia”,
frequentador e usuário dos bares e serviços, conhecedor dos proprietários dos
estabelecimentos, das moças que ali trabalham e também dos clientes. Contou-se com a
ajuda do “guia” no período diurno e noturno, que estabeleceu um papel de mediador entre
o fotógrafo e o que se fotografaria.
Como resultados do trabalho de campo podem ser destacados os seguintes
aspectos: conhecimento da rua da Areia em sua dinâmica cultural noturna e apreensão de
novas leituras da imagem urbana da cidade.
2.3 COMPOSIÇÃO
O catálogo fotográfico foi pensado para mostrar a potencialidade da rua da Areia
enquanto paisagem atrativa de sociabilidade e assim reorganizá-la como “nicho cultural”
a partir da proposta de preservação, tanto arquitetônica como cultural.
Assim, o catálogo foi dividido em uma sequência: Introdução; Estrutura do
Catálogo, que é a metodologia utilizada na obtenção do registro fotográfico, bem como
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na confecção do catálogo em si; Perspectivas onde se tratou da intenção em confeccionar
esse registro e o que se espera atingir com a divulgação do mesmo e, por fim, as partes
que trazem a História, a Transformação, Decadência e Cotidiano da rua da Areia, de
maneira que principia com um histórico escrito e imagético, com textos que descrevem os
acontecimentos da rua da Areia no transcorrer do tempo. Informa-se que as fotos
históricas (fig. 4) foram obtidas em livros e arquivos, com registros em bibliotecas na
cidade.
Figura 4 – Rua da Areia
Foto: Walfredo Rodriguez, 1894
Fonte: Cidade de JP- Álbum de Memória (Acervo Museu W. Rodrigues, 2006
A foto que mostra a rua da Areia sobre um plano geral (fig. 5) foi obtida do
terraço do Ed. João Pessoa, que fica na rua transversal à rua da Areia, a Peregrino de
Carvalho. Essas fotos foram obtidas em dia de semana, mesmo em um horário dito
impróprio para realizar fotografias, pois contava cerca do meio-dia; porém, como já se
disse, contou-se com uma nebulosidade que auxiliou na difração da luz, tornando-a mais
amena para o registro.
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Fig. 5 – Vista da rua da Areia, sentido rua Peregrino de Carvalho – Varadouro
Foto: Conrad Rosa, 2009
Os registros feitos na rua da Areia foram obtidos em dias da semana, nos horários
do anoitecer (fig. 6), meio-dia (fig. 7) e alvorecer (fig. 8). Nesses horários as fotos
buscaram registrar a dinâmica urbana, o movimento que circula em distintos momentos
um único cenário, tentando relativizar a imagem de paisagem árida do ponto de vista
social. Procurou-se desse modo revelar que a decadência não é somente social ou
cultural, mas sim patrimonial, pois a coisa ou objeto, enquanto bem privado não tem os
devidos cuidados por parte dos proprietários, e essa mesma coisa ou objeto, enquanto
remanescente histórico não recebe também o cuidado público.
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Fig. 6 – Paisagem da rua da Areia ao anoitecer
Foto: Conrad Rosa, 21/05/2009
Fig. 7 – Paisagem da rua da Areia por volta do meio-dia
Foto: Conrad Rosa, 12/05/2009
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Fig. 8 - Paisagem da rua da Areia ao amanhecer
Foto: Conrad Rosa, 26/05/2009
O registro nos bares e bordéis (fig. 9) foi mais complicado devido à complexidade
do elemento fotografado. Nosso “guia”, frequentador e usuário dos bares e serviços,
conhecedor dos proprietários dos estabelecimentos e das “garotas”, nos guiou pela noite e
nos introduziu nos bares e boates da rua da Areia (fig. 10), estabelecendo um papel de
mediador entre o fotógrafo e o objeto fotografado. Mesmo com o auxílio do guia,
considera-se que fotografar esse universo, tão inserido na sociedade, é ainda subcultura,
não só por fazer parte da prostituição decadente da cidade, mas, principalmente, por
revelar o papel recorrente na memória pessoense quando se pensa nessa rua. Assim, todo
o cenário da rua da Areia aponta para a decadência, para o abandono e, quem sabe, para o
desprezo por parte de muitos que freqüentaram ou não a área em questão (fig. 11, fig. 12
e fig. 13).
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Fig. 9 – Boate, fechada durante o dia
Foto: Conrad Rosa, 2009
Fig. 10 – Boate em funcionamento
Foto: Conrad Rosa, 2009
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Fig. 11 – Patrimônio arquitetônico em processo de declínio
Foto: Conrad Rosa, 26/05/2009
Fig. 12 – Ruína
Foto: Conrad Rosa, 12/05/2009
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Fig. 13 – Antigo Teatro Coliseu Paraibano (abandonado)
Foto Conrad Rosa, 26/05/2009
O registro da rua da Areia, em momentos de descontração econômica e social,
onde todas as pessoas aparentemente e num determinado instante se encontram no
mesmo nível socioeconômico e cultural, como ocorre nos blocos de folia de rua (fig. 14)
no período carnavalesco, confere ao momento um aspecto de igualdade, seja em tempos
remotos, seja em tempos atuais ou em outras festas como a da comemoração ao dia da
prostituta (fig. 15).
Isso demonstra que é possível haver um processo de sociabilidade em um
ambiente onde a cultura flui espontaneamente, sendo transmitida de geração em geração
por processos de vivência. O que se quer dizer é que, nesse palco, a cultura não é
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memória, mas sim um elemento vivo nos habitantes das diversas áreas da cidade de João
Pessoa que ali se encontram, pela manhã ou no fim da tarde, sentados em bares, no
comércio ou ainda no carnaval.
Portanto, compreender este universo patrimonial tangível e intangível é propor sua
inserção ao processo de sociabilidade urbana como um ponto relevante à cultura da
cidade. Essa inserção não deve mudar nem sua forma nem seu caráter principal, por ser
considerada uma rua pitoresca no imaginário coletivo, mas sim mudar seu aspecto visual
no tocante à preservação patrimonial e cultural.
Fig. 14 –Folia de Rua, bloco carnavalesco Cafuçu
Foto: Mano de Carvalho, 2006
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3 CONCLUSÃO
A ideia de se criar um catálogo fotográfico sobre a rua da Areia vem formalizar
através de imagens a necessidade de se promover um processo de preservação da
arquitetura e da cultura dessa rua, de maneira que se busca construir um trabalho de
fotografia documental que ajudará a contar a história de um tempo. Assim, documenta-se
a rua da Areia como espaço geográfico, com as relações sociais ali existentes, e como
palco de manifestações culturais que remontam o século XIX.
Desde a década de 1970, a rua da Areia serve como suporte aos cabarés, de
maneira que é vista pela população pessoense como um ambiente nocivo à sociedade, não
apenas por ser um ambiente de prostituição, mas também por constar na memória
coletiva que as famílias que ali moravam foram impulsionadas a abandonarem suas
residências, concorrendo dessa forma para o início de um processo de “deteriorização e
declínio” da rua.
Para fotografar a rua da Areia foi necessário algum envolvimento que não apenas
o de pesquisador, mas também um envolvimento com a memória e com a realidade dessa
rua. Ou seja, fez-se um trabalho etnográfico, no qual o fotógrafo pôde coletar dados
acerca do modo de vida das pessoas e dos problemas que não estão expostos nos adornos
das casas. Foi então necessário buscar a existência de particularidades em cada objeto
fotografado, utilizando-se da lógica de funcionamento do objeto com seu contexto,
transformando assim as fotografias ilustrativas na história da fotografia, como diria
Newhal (1983) citado em Achutti (1997).
É possível afirmar-se que, documentar em fotografias a rua da Areia é estabelecer
uma relação de sociabilidade e um processo de readequação urbana e cultural,
minimizando o preconceito estabelecido pelas pessoas em histórias de decadência. A
partir dessa documentação, mostrou-se que preservar a rua da Areia não é somente
preservar a memória, o passado, mas, principalmente, preservar o presente pensando no
futuro dos que vivem e convivem com essa tão singular rua.
Não se pretendeu esgotar em um trabalho fotográfico um trabalho de muitos. De
gerações. Certamente, a paixão pela arte fotográfica foi o principal motor que
proporcionou a materialização desse catálogo, registrando-se parte da existência da rua da
Areia, hábitos e costumes da evolução urbana, cultural e social.
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Pretende-se continuar este trabalho, quem sabe, no doutorado, com maior
aprofundamento teórico-metodológico, bem como a ampliação de conhecimentos
históricos e dos fatos ali ocorridos, registrando-se a história particular de cada edificação,
documentando em minúcias as peculiaridades da rua da Areia. O que se fez, no momento,
foi o registro da rua em suas preciosidades estéticas, em momentos deserta, em outros,
apinhada de gente e de carros; imagens que guardaram e ainda guardam a essência das
frequentes mudanças arquitetônicas impostas pela expansão urbana da cidade. O que
sobrou é o que ainda se vê nesse pequeno catálogo.
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