Post on 07-Apr-2018
8/6/2019 consciencia transdiciplinaridade
1/14
REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
CONSCINCIA E TRANSDISCIPLINARIDADEJeverson Rogrio Costa Reichow1
ResumoEste artigo tem como objetivo estabelecer relaes entre a viso deConscincia da Psicologia Transpessoal e a Transdisciplinaridade a partirde conceitos e pesquisas importantes relacionadas aos dois temas.Primeiramente so apresentados os conceitos relativos Conscincia, tais
como Estados Ampliados de Conscincia, Conscincia de Unidade eConscincia, Crebro e Realidade. Num segundo momento sodesenvolvidos alguns conceitos relacionados com a Transdisciplinaridade,a saber, o conceito de Nveis de Realidade, de Lgica do Terceiro Includoe o conceito de Complexidade. Enquanto os conceitos so desenvolvidosso estabelecidas algumas relaes entre os dois temas. Por ltimo serapresentada a concluso, ressaltando o nvel de complementaridade queos dois temas possuem entre si e a importncia de se aprofundar essasrelaes.Palavras-chave: Conscincia, Transdisciplinaridade, Psicologia
Transpessoal.
INTRODUO
O objetivo deste artigo estabelecer relaes entre a viso da Conscincia
oriunda da perspectiva da Psicologia Transpessoal e a Transdisciplinaridade. Para
tanto, sero desenvolvidos e relacionados conceitos e algumas pesquisas referentes
aos dois temas citados buscando pontos de convergncia, demonstrando que as
experincias de ampliao da conscincia levam a uma nova percepo da
realidade e tambm a uma compreenso do sentido de totalidade que vai aoencontro da viso transdisciplinar.
Primeiramente sero apresentados conceitos relacionados Conscincia e,
em segundo lugar conceitos relacionados Transdisciplinaridade. Durante a
apresentao dos conceitos sero estabelecidas relaes entre os dois temas. Por
ltimo ser apresentada a concluso.
1 Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC, Mestre em Educao Universidade Federaldo Rio Grande do Sul UFRGS; Psiclogo graduado pela Universidade Catlica de Pelotas UCPEL; Coordenador do Curso de Psicologia da UNESC.jrr@unesc.net
8/6/2019 consciencia transdiciplinaridade
2/14
2REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
Entre os conceitos importantes relacionados com a Conscincia, a partir da
perspectiva da Psicologia Transpessoal est o conceito de Estados Ampliados de
Conscincia, o conceito de Conscincia de Unidade e de Conscincia, Crebro e
Realidade. E, entre os conceitos relacionados com a Transdisciplinaridade temos o
conceito de Nveis de Realidade, de Lgica do Terceiro Includo e o conceito de
Complexidade.
Como mencionado anteriormente, a viso da Conscincia apresentada neste
artigo decorrente da Psicologia Transpessoal, a qual tem como objeto de estudo
os Estados de Conscincia. Segundo Weil (1999, p. 9), a Psicologia Transpessoal
um ramo da Psicologia especializada no estudo dos estados de conscincia; ela lida
mais especialmente com a experincia csmica ou os estados ditos superiores ou
ampliados da conscincia.
A Psicologia Transpessoal influenciada por diferentes ramos da psicologia
ocidental, diferentes mtodos orientais ou disciplinas da conscincia e por outras
cincias como a Fsica, a Sociologia, a Antropologia, a Hipnologia, a Psiquiatria, a
Neurologia e, mais recentemente, das Neurocincias. A seguir sero apresentados
alguns destes conceitos.
ESTADOS AMPLIADOS DE CONSCINCIA
O conceito de Estados Ampliados de Conscincia apresentado por vrios
autores. Krippner (1997) faz uma relao dos diferentes estados alterados de
conscincia. Para este trabalho ser adotado o conceito de Estados Ampliados deConscincia para diferenciar de estados alterados de conscincia, uma vez que,
todo o Estado Ampliado de Conscincia tambm um estado alterado, mas nem
todo o estado alterado de conscincia necessariamente um estado ampliado.Tart
(1995, p.227) define um Estado Ampliado de Conscincia como uma alterao
qualitativa no padro de funcionamento mental na qual a pessoa que o experimenta
sente que a sua conscincia funciona de maneira radicalmente distinta do seu modo
comum de operao.
8/6/2019 consciencia transdiciplinaridade
3/14
3REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
As pesquisas da Psicologia Transpessoal mostraram que, alm do estado de
conscincia de viglia, o ser humano capaz de experimentar outros estados de
conscincia durante os quais sua percepo da realidade transforma-se muito em
relao aquilo que entendemos como real. Dentre essas transformaes, algumas
so muito importantes para este trabalho, a saber, o desaparecimento das fronteiras
entre sujeito-objeto ou entre o eu que vive e a experincia vivida, a construo de
novos significados do real a partir destas vivncias e o conhecimento descontnuo,
isto , que transcende meios fsicos de propagao e o prprio tempo. Outro
aspecto fundamental dessas experincias a tomada de conscincia de si como um
ser multidimensional, um ser fsico, energtico, emocional, mental e espiritual.
Durante as experincias em estados ampliados de conscincia a pessoa se percebe
com um ser total em que corpo, energia, emoes, mente e esprito so aspectos
diferentes deste ser que , em essncia, um ser espiritual. E, mais ainda, este ser
total se percebe profundamente conectado com a natureza, com o planeta e com o
cosmos conforme Walsh (1995).
Quando so superadas as limitaes da percepo humana a realidade
parece completamente diferente da realidade cotidiana. De maneira geral, segundoWalsh (1995, p. 253), as seguintes caractersticas definem a realidade do universo
descrita pelas disciplinas da conscincia, pela fsica quntica e por algumas reas
das neurocincias:
no-dualista, em oposio a dicotmico;um todo unitivo, em oposio a partes no relacionadas entre si;interligado, em oposio a formado por componentes estanques eseparados;antes dinmico e em contnuo movimento ou fluxo, em oposio a esttico;impermanente e efmero, em oposio a duradouro e permanente;vazio (constitudo em larga medida pelo espao vazio no-slido) em vez deslido;acausal(mas no anticausal), isto , transcende os modelos tradicionais decausalidade, visto que todo componente entra na determinao de todos oseventos (onideterminismo);sem base exterior e autoconsciente, na medida em que, como todos oscomponentes e mecanismos so interligados e interdependentes, nenhum, em ltima anlise, mais fundamental do que os outros. Por conseguinte,no se pode explicar o universo em termos de um nmero limitado demecanismos fundamentais;estatstico e probabilstico em lugar de certo;paradoxal, e no, em ltima anlise, compreensvel, codificvel e exprimvelem termos intelectuais;ligado inextricavelmente com o observador.
8/6/2019 consciencia transdiciplinaridade
4/14
4REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
De acordo com a psicologia budista existem diferentes nveis de Conscincia
ou da Mente. Os nveis mais elevados permitem funes mentais abstratas e os
nveis mais densos levam a impulsos instintivos e a funes da memria. Para
Humphrey (1989, p. 22):
A psicologia budista tambm nos oferece um modelo alternativo da mente eda matria. Segundo ela, o prprio universo nada mais do queconscincia, dividida em nove planos: os seis primeiros so a conscinciaessencial da viso, da audio, do olfato, do paladar, do tato e dopensamento. Esses seis planos compreendem, juntos a conscinciaindividual, que nasce e morre. Os stimo, oitavo e nono planos no seacabam com a morte. O stimo plano a conscincia da autopercepo. O
oitavo plano, a conscincia alaya relativa, que recebe todos os dadossensoriais reunidos nos seis primeiros planos. Eles so aqui coligidos eregistrados com absoluta preciso. Essas impresses ocasionam a prximaao, colocando em movimento um constante ciclo de atividades. O nonoplano, a conscincia alaya absoluta, a pura autoconscincia sem forma daNatureza-Verdade.
Em sua dissertao de mestrado, Reichow (2002), faz importantes relaes
entre os Estados Ampliados de Conscincia e o acesso informao, sugerindo que
possvel atingir outros Nveis de Realidade a partir de experincias induzidas de
ampliao de conscincia.Como se pode perceber, diferentes disciplinas do conhecimento humano
construram vises bastante semelhantes sobre os diferentes estados de
conscincia que podem ser experienciados. Entre esses estados est o Estado de
Conscincia de Unidade.
CONSCINCIA DE UNIDADE
O conceito de Conscincia de Unidade encontrado em diferentes correntes
de pensamento, no s cientfico como tambm filosfico e em diversas tradies
sapienciais da humanidade. Saldanha (1999, p. 42) refere-se Unidade como a
propriedade de no estar dividido. Quando abordamos a unidade csmica, referimo-
nos ao fim da dualidade, das polaridades. o todo, o absoluto, a plena luz. Nesse
nvel, inexiste tempo e espao. um eterno agora, um eterno ser-nico, indivisvel.
Weil (1999) salienta que a Unidade uma das caractersticas da Conscincia
Csmica. Entende-se por Conscincia Csmica um estado de conscincia no qual o
8/6/2019 consciencia transdiciplinaridade
5/14
5REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
ser humano percebe a si e a realidade de uma maneira bem diferente da percepo
comum, se sentido conectado com a totalidade do Universo. Segundo Weil (1999, p.
10), as principais caractersticas da experincia csmica so:
Unidade: o desaparecimento da percepo dual Eu-Mundo.Inefabilidade: a experincia no pode ser descrita com a semntica usual.Carter notico: um senso absoluto de que o que vivido real, s vezesmuito mais real do que a vivncia quotidiana comum.Transcendncia do espao-tempo: as pessoas entram numa outradimenso; o tempo no existe mais e o espao tridimensional desaparece.Sentido de sagrado: o senso de que algo grande, respeitvel e sagrado estacontecendo.Desaparecimento do medo da morte: a vida percebida como eterna,
mesmo se a existncia fsica transitria.Mudana do sistema de valores e de comportamento: muitas pessoasmudam os seus valores no sentido dos valores B de Maslow (Beleza,Verdade, Bondade, etc.). H uma subestimao progressiva dos valoresditos materiais e do apego ao dinheiro. O Ser substitui o Ter.
O conceito de Unidade fundamental dentro do estudo da Conscincia
porque resgata a unidade fundamental de todas as coisas, a qual foi perdida com a
fragmentao do conhecimento decorrente da aplicao do paradigma cartesiano na
cincia moderna.
CONSCINCIA, CREBRO E REALIDADE
As descobertas da fsica quntica, atravs de experimentos que comprovaram
a dualidade onda-partcula, desvendaram dimenses da realidade at ento
desconhecidas para a cincia. No entanto, estes mesmos experimentos revelaram
algo mais intrigante, que a conscincia do observador interfere no objeto observado.
Dito de outra maneira, a conscincia influncia na manifestao da partcula
subatmica a qual, dependendo de como realizado o experimento, manifesta-se
como matria (partcula) ou como energia (onda). Os fsicos como Goswami (1998)
e Wolf (2003) constataram a nvel microcsmico que a conscincia do pesquisador
interfere no resultado da pesquisa. Morin (1996, p. 185), Tambm confirma esse fato
na seguinte passagem:
[...] o problema do observador no est limitado s cincias antropossociais;a partir de agora o problema relativo s cincias fsicas; assim, oobservador altera a observao microfsica (Heinsenberg); [...] enfim, acosmologia reintroduz o homem, ao menos, no princpio chamado de
8/6/2019 consciencia transdiciplinaridade
6/14
6REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
antrpico- no de entropia, mas de antropo segundo o qual a teoria daformao do universo precisa explicar a possibilidade da conscinciahumana e, obviamente, da vida (Brandon Carter).
Para Morin, nas cincias antropossociais, o observador influencia o objeto
observado mesmo no nvel macrocsmico, mas os experimentos de Jahn e Dunne
(1987), realizados na Universidade de Princeton no PEAR (Princeton Engineering
Anomalies Research), sugerem a influncia da conscincia do sujeito (operador) em
experimentos envolvendo mquinas mecnicas e geradores de nmeros binrios
(zeros e uns).
Em outro experimento realizado em Washington D. C. entre sete de junho e
trinta de julho de 1993 o mesmo fenmeno de interferncia atingiu dimenses ainda
mis amplas. Este experimento reuniu um grupo de aproximadamente 4000
participantes no Programa de Meditao Transcendental do Yogue Maharishi
Mahesh. A hiptese levantada era a de que, de acordo com Hagelin (1993), os
nveis de crimes violentos no distrito de Columbia cairiam substancialmente durante
o perodo mencionado acima, como conseqncia do efeito do grupo de aumentar a
coerncia e diminuir o stress na conscincia coletiva dos habitantes do distrito. Os
resultados do experimento mostraram uma reduo dos nveis dos crimes violentos
prxima a 25%.
Outras pesquisas envolvendo Estados Ampliados de Conscincia esto
sendo realizadas Richard Davidson e sua equipe na Universidade de Wisconsin.
Davidson est pesquisando os efeitos da meditao sobre os estados emocionais
negativos e constatando que meditadores freqentes tm menos emoes negativas
como raiva, dio, clera e inveja.Alm disso, tambm est ficando evidenciado que
a meditao altera a neuroplasticidade cerebral, alterando as redes de conexes
sinpticas. De acordo com Davidson (2003), os resultados demonstram que um
pequeno treino em meditao produz efeitos demonstrveis no crebro e na funo
imunolgica. Estes resultados sugerem que a meditao pode modificar o crebro e
a funo imunolgica de maneiras positivas e pontuam a necessidade de se fazer
pesquisa adicional. Em outro estudo recente, Cayuon (2005) conclui em suas
observaes clnicas, que o treinamento em meditao promove o aumento da
habilidade perceptual pela plasticidade do crebro na regio pr-frontal e parietal,tendo como resultado graus maiores de auto-compreenso e de auto-controle.
8/6/2019 consciencia transdiciplinaridade
7/14
7REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
Percebe-se assim que as experincias em Estados Ampliados de Conscincia
apontam para uma viso de realidade que comea a ser repetidamente comprovada
dentro e fora dos laboratrios, ficando evidenciado que preciso rever o conceito de
realidade.
NVEIS DE REALIDADE
O conceito de Nveis de Realidade est intimamente associado revoluo
quntica na fsica. De acordo com Nicolescu (1999, p. 31):
Deve-se entender por nvel de Realidade um conjunto de sistemasinvariantes sob a ao de um nmero de leis gerais: por exemplo, asentidades qunticas submetidas s leis qunticas, as quais estoradicalmente separadas das leis do mundo macrofsico.
Assim, as leis que empregamos para descrever o Nvel da Realidade
macrofsica no podem ser utilizadas para descrever a realidade microfsica ou
subatmica. Da mesma maneira, as leis que utilizamos para descrever comofunciona nossa conscincia e percepo da realidade quando estamos em estado
de conscincia de viglia no podem ser utilizadas para descrever a realidade
percebida durante Estados Ampliados de Conscincia, pois, como vimos, a
percepo do que real durante esses estados completamente diferente daquilo
que estamos acostumados a perceber como real. Weil, DAmbrosio e Crema (1993)
dizem ainda que a vivncia do real uma funo do estado de conscincia
VR=(f)EC. Para Walsh (1995, p. 249),
Essa viso pode ser alcanada por meio de todas as modalidadesepistemolgicas de aquisio de conhecimento: a percepo sensria, aanlise conceitual intelectiva ou a contemplao(...).Mas pouco importa oseu modo de obteno; o aperfeioamento da sensibilidade num grausuficiente revela uma ordem de realidade diferente daquela que nos familiar. Alm disso, as propriedades assim reveladas sero essencialmentemais fundamentais e verdicas do que costuma acontecer e vo apresentarum maior grau de semelhana interdisciplinar. Por isso, medida que sedesenvolvem e se tornam mais sensveis as disciplinas empricas, pode-seesperar que revelem fenmenos e propriedades que assinalam osfundamentos comuns e os paralelos entre disciplinas e entre nveis.
8/6/2019 consciencia transdiciplinaridade
8/14
8REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
Numa viso de mundo materialista, as experincias subjetivas foram e ainda
so, muitas vezes, associadas com fantasias e/ou patologias. A realidade interior de
um indivduo tambm vista como um mero epifenmeno do crebro. No entanto, a
prpria fsica nos mostra que energia e matria so, em essncia, a mesma energia
ondulando em freqncias diferentes. Podemos pensar ento que nossos
pensamentos ou imagens mentais so energia mental atuando sobre ou junto com
os impulsos eltricos de nosso crebro. Percebe-se assim que, mesmo numa
realidade dita subjetiva, existe uma relao entre energia e matria.
Outro aspecto importante da realidade subjetiva que, como mencionado
anteriormente nas caractersticas da conscincia csmica, as experincias
vivenciadas naquele nvel de realidade ou de conscincia tm um profundo carter
notico, isto , so sentidas como absolutamente reais pelo sujeito.
LGICA DO TERCEIRO INCLUDO
A Lgica do Terceiro Includo, de Lupasco, refere-se tambm aos nveis de
Realidade. Nicolescu (1999, p. 32-33) diz que:
Para se chegar a uma imagem clara do sentido do terceiro includo,representamos os trs termos da nova lgica A, no-A e T e seusdinamismos associados por um tringulo onde um dos ngulos situa-se aum nvel de Realidade e os dois outros a um outro nvel de Realidade. Sepermanecermos num nico nvel de Realidade, toda manifestao aparececomo uma luta entre dois elementos contraditrios (por exemplo: onda A ecorpsculo no-A). O terceiro dinamismo, o do estado T, exerce-se num
outro nvel de Realidade, onde aquilo que parece desunido (onda oucorpsculo) est de fato unido (quantum), e aquilo que parece contraditrio percebido como no-contraditrio.
Esse estado T de terceiro includo, um terceiro unificador que, de acordo
com Nicolescu (2001) une A e no-A, e no pode ser compreendido sem a noo de
nveis de Realidade. A Figura 1 exemplifica esse conceito.
8/6/2019 consciencia transdiciplinaridade
9/14
9REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
Figura - 1
Em se tratando da Conscincia humana, certos tipos de experincias que so
consideradas impossveis no estado de conscincia de viglia, tornam-se
plenamente possveis em Estados Ampliados de Conscincia. A psicopatologia
clssica sempre considerou estes estados como patolgicos por considerar a
existncia de apenas um estado de conscincia como normal ou saudvel e
qualquer outra experincia da conscincia era vista como patolgica. Mais
recentemente, pesquisas como nos exemplos mencionados anteriormente,
comeam a desvendar outros Nveis de Realidade acessados durante experinciasem Estados Ampliados de Conscincia. Como exemplo disso, temos o xamanismo
em suas diferentes manifestaes no mundo inteiro, como bem mostra Eliade
(2002).
COMPLEXIDADE
De acordo com Silva (2005), a Complexidade vem sendo proposta por
Nicolescu como um dos pilares da Transdisciplinaridade. A apropriao deste
conceito neste trabalho importante sob o ponto de vista da multidimensionalidade
do conhecimento. Para Morin (1996, p. 176-177):
Num sentido, o pensamento complexo tenta dar conta daquilo que os tiposde pensamento mutilante se desfaz, excluindo o que eu chamo desimplificadores e por isso ele luta, no contra a incompletude, mas contra a
mutilao. Por exemplo, se tentarmos pensar no fato de que somos seresao mesmo tempo fsicos, biolgicos, sociais, culturais, psquicos eespirituais, evidente que a complexidade aquilo que tenta conceber aarticulao, a identidade e a diferena de todos estes aspectos, enquanto o
T
ANo-A
8/6/2019 consciencia transdiciplinaridade
10/14
10REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
pensamento simplificante separa esses diferentes aspectos, ou unifica-ospor uma reduo mutilante. Portanto, nesse sentido, evidente que aambio da complexidade prestar contas das articulaes despedaadas
pelos cortes entre disciplinas, entre categorias cognitivas e entre tipos deconhecimentos. De fato, a aspirao complexidade tende para oconhecimento multidimensional.
Por essa passagem de Morin fica clara a importncia de uma viso de
Complexidade que percebe a multidimensionalidade humana e da realidade por
meio de um olhar transdisciplinar. O termo Complexidade refere-se neste sentido a
uma viso sistmica da realidade e da Conscincia.
A viso da Conscincia humana decorrente da Psicologia Transpessoal ,
neste sentido, complexa, pois, na vivncia transpessoal a autopercepo e a
autoconscincia se ampliam, abrangendo outras dimenses do humano, pouco
conhecidas e valorizadas. Durante a experincia transpessoal da conscincia da
Unidade, o ser se percebe inteiro, sem divises entre sensaes, sentimentos,
pensamentos e intuies. Essa viso inteira e integrada, juntamente com o
desaparecimento da separatividade entre eu e o mundo, bem como a
transcendncia do espao-tempo linear, leva a um novo tipo de conhecimento dos
Nveis de Realidade. Tambm DAmbrsio (1998, p. 21) traz essa viso ampliada aoreferir-se a autopercepo de um indivduo como:
uma realidade individual, nas dimenses sensorial, intuitiva, emocional,racional;
uma realidade social, que o reconhecimento da essencialidade dooutro;
uma realidade planetria, o que mostra sua dependncia do patrimnionatural e cultural e sua responsabilidade na sua preservao;
uma realidade csmica, levando-o a transcender espao e tempo e aprpria existncia, buscando explicaes e historicidade.
Este ser que se percebe inteiro tambm percebe o mundo de uma maneira
completamente diferente, sentindo-se sujeito que cria a sua prpria realidade -
colapso quntico (GOSWAMI, 1999) e, sendo assim, assumindo novos valores e
responsabilidades frente a sua prpria existncia, sociedade onde vive, ao planeta
e ao Cosmos. Perceber-se e perceber o mundo dessa maneira inteira, leva criao
de novos significados a partir das vivncias em Estados Ampliados de Conscincia.
A fsica j demonstrou que matria e energia tm a mesma essncia (E=mc2) e que
matria energia em forma densa. Goswami (1999), com sua teoria da Criatividade
Quntica, demonstra que toda a manifestao (atualizao na linguagem quntica)
8/6/2019 consciencia transdiciplinaridade
11/14
11REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
se d do nvel mais sutil para o nvel mais denso. Nossa realidade mental, intuitiva e
emocional (sentimentos), mais sutil do que o nvel fsico, mas a partir destes
nveis sutis que criamos nosso mundo fsico. As experincias em Estados Ampliados
de Conscincia revelam a teia invisvel que une todos esses nveis e torna possvel
sua interao, isto , revela a Complexidade do Real.
A apreenso da realidade muito mais do que um ato do pensar. Assim, o
ato cognitivo envolve o ser inteiro, em suas mltiplas dimenses. Capra (1997)
salienta a cognio inclui a linguagem, o pensamento e todos os outros atributos da
Conscincia humana.
Isso tudo nos remete a idia de rede, trazida pela viso sistmica. Capra
(1997, p. 48) faz importantes colocaes a respeito dessa nova viso do
conhecimento e da realidade nos seguintes trechos:
No novo pensamento sistmico, a metfora do conhecimento como umedifcio est sendo substituda pela da rede. Quando percebemos arealidade como uma rede de relaes, nossas descries tambm formamuma rede interconectada de concepes e de modelos, na qual no hfundamentos. (...) os fenmenos descritos pela fsica no so maisfundamentais do que aqueles descritos, por exemplo, pela biologia ou pela
psicologia. Eles pertencem a diferentes nveis sistmicos, mas nenhumdesses nveis mais fundamental que os outros. (...) Outra implicaoimportante da viso da realidade como uma rede inseparvel de relaesrefere-se concepo tradicional de objetividade cientfica. No paradigmacientfico cartesiano, acredita-se que as descries so objetivas isto ,independentes do observador humano e do processo de conhecimento. Onovo paradigma implica que a epistemologia a compreenso do processode conhecimento precisa ser explicitamente includa na descrio dosfenmenos naturais.
Novamente percebe-se que o ato de observar, como mencionado
anteriormente, interfere na percepo do objeto observado. Alguns fsicos, como
Goswami (1998), afirmam que no h fenmeno se no h um observador.
CONCLUSO
A Conscincia humana deve ser estudada de maneira transdisciplinar, indo
alm das disciplinas do conhecimento, mas tambm integrando conhecimentos dedisciplinas como a psicologia e, particularmente, a Psicologia Transpessoal, as
8/6/2019 consciencia transdiciplinaridade
12/14
12REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
neurocincias, a fsica quntica, e das grandes tradies sapienciais, como o
budismo, o hindusmo, o taosmo, o zen e o xamanismo. Cada uma das vises tem
uma importante contribuio ao estudo da conscincia. Alm disso, a
Transdisciplinaridade pode contribuir com importantes fundamentos tericos para o
estudo da Conscincia. Por outro lado, as experincias da Conscincia
proporcionam o experienciar de diferentes Nveis de Realidade, como os descritos
na cosmoviso xamnica, ou nos diferentes modelos de cartografias da Conscincia
descritos a partir das pesquisas da Psicologia Transpessoal.
A cincia ocidental construiu seu conhecimento a partir do estado de
conscincia de viglia, no qual a realidade percebida como fragmentada e, por
isso, criou tantas disciplinas e reas, perdendo muitas vezes a viso do Todo. O
aporte Transdisciplinar da Conscincia possibilita perceber que existem diferentes
Nveis de Conscincia. Ao contrrio da viso disciplinar que classifica e cria
categorias que, no caso da Conscincia, separam o que normal daquilo que
patolgico. Essa uma viso ainda bastante comum em algumas correntes
psicolgicas.
Desta maneira, a viso Transdisciplinar tem muito a contribuir para o estudoda conscincia e este, por sua vez tem muito a acrescentar Transdisciplinaridade.
So reas de estudo que detm entre si alto nvel de complementaridade. Nestes
tempos em que tanto se fala em mudana de paradigma cientfico, o
aprofundamento destas relaes pode ser profundamente fecundo para a Cincia.
Para finalizar, importante lembrar que o conhecimento nunca est dado nem
acabado e manter a abertura para o novo e no esquecer que a cincia deve estar a
servio do bem coletivo.
Referncias
BADESCU, Horia (Org.). Stphane Lupasco: o homem e a obra. So Paulo: Triom,2001. 340 p.
CAYOUN, Bruno A. From co-emergence dynamics to human perceptualevolution: the role of neuroplasticity during mindfulness training. Psychology Centre(TAS) & University of Tasmania, 2005. Disponvel em:
8/6/2019 consciencia transdiciplinaridade
13/14
13REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
Acessado em 21 dejunho de 2006.
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreenso cientfica dos sistemasvivos. So Paulo: Cultrix, 1997. 256 p.
DAMBROSIO, Ubiratan. Conhecimento e conscincia: o despertar de uma novaera. In: GUEVARA, Arnoldo Jos de Hoyos et al. Conhecimento, cidadania e meioambiente. So Paulo: Peirpolis, v. 2, 1998. p. 11-46.
DAVIDSON, Richard J., PhD. et al. Alterations in Brain and Immune FunctionProduced by Mindfulness Meditation. 2003. Disponvel em: Acessado
em 24 de junho de 2006.
ELIADE, M. O xamanismo e as tcnicas arcaicas do xtase. So Paulo: MartinsFontes, 2002. 559 p.
GOSWAMI, Amit; REED, Richard E.; GOSWAMI, Maggie. O universoautoconsciente: como a conscincia cria o mundo material. Rio de Janeiro: Rosados Tempos, 1998. 357 p.
GOSWAMI, Amit; GOSWAMI, Maggie. Quantum creativity: waking up to ourcreative potential. New Jersey: Hampton Press, 1999. 320 p.
GROF, Stanislav. A aventura da autodescoberta. So Paulo: Summus, 1997. 285p.
HAGELIN, John S. et al. Effects of Group Practice of the TranscendentalMeditation Program on Preventing Violent Crime in Washington, D.C.: Results ofthe National Demonstration Project, June-July 1993. Disponvel em: Acessado em 20 de junho de 2006.
HUMPHREY, Naomi. Meditao: o caminho interior. 2. ed. So Paulo: Ground,1989. 169 p.
JAHN, Robert. G.; DUNNE, Brenda. J. Margins of reality: The role of consciousnessin the physical world. New York: Harcourt Brace, 1987. 432 p.
JUNG, Carl Gustav (Org.). O homem e seus smbolos. Rio de Janeiro: NovaFronteira, 1977. 316 p.
MORIN, Edgar. Cincia com conscincia. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.350 p.
8/6/2019 consciencia transdiciplinaridade
14/14
14REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.
KRIPPNER, Stanley. Estados alterados de conscincia. In: WHITE, John (Org.). Omais elevado estado da conscincia. So Paulo: Cultrix/Pensamento, 1997. 381
p.NICOLESCU, Basarab. O manifesto da transdisciplinaridade. So Paulo: Triom,1999. 167 p.
REICHOW, Jeverson Rogrio Costa. Processos de significao em estadosampliados de conscincia dentro de uma abordagem transdisciplinar holstica:estudo de caso com crianas de uma escola pblica de Porto Alegre. 2002, 124 f.Dissertao (Mestrado em Educao) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul,Porto Alegre.
SALDANHA, Vera. A psicoterapia transpessoal. Rio de Janeiro: Record/Rosa dosTempos, 1999. 154 p.
SILVA, Daniel Jos da. O complexo como uma episteme transdisciplinar. In:FRIAA, Amncio (Org.) et. al. Educao e transdisciplinaridade III. So Paulo:Triom, 2005, p. 47 72.
TABONE, Mrcia. A psicologia transpessoal: introduo nova viso daconscincia em psicologia e educao. So Paulo: Cultrix, 1992. 191 p.
TART, Charles. Estados de conscincia e cincias dos estados especficos. In:
WALSH, Roger N., M.D., Ph.D.; VAUGHAN, Frances, Ph.D. (Org.). Alm do ego:dimenses transpessoais em psicologia. So Paulo: Cultrix/Pensamento, 1995. p.226-239.
WALSH, Roger N., M.D., Ph.D.; VAUGHAN, Frances, Ph.D. (Org.). Alm doego: dimenses transpessoais em psicologia. So Paulo: Cultrix/Pensamento,1995. 305 p.
WEIL, Pierre; DAMBROSIO, Ubiratan; CREMA, Roberto. Rumo novatransdisciplinaridade: sistemas abertos de conhecimento. So Paulo:Summus, 1993.
WEIL, Pierre. A conscincia csmica. 7. ed. Petrpolis: Vozes, 1999. 87 p.
WILBER, Ken. O espectro da conscincia. 9. ed. So Paulo: Cultrix, 1999, 292p.
WOLF, Fred Alan. A conexo entre a mente e matria: uma nova alquimia dacincia e do esprito. So Paulo: Cultrix, 2003, 198p.