Consultório na Rua: história, memórias, possibilidades

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Consultório na Rua:

história, memórias, possibilidades...

Tatiana Ferraz de Araújo Alecrim

Ribeirão Preto, 17 de fevereiro de 2020

2011: Consultório na Rua

“Saúde como direito de todos e dever do Estado”

Descentralização Atendimento Integral Participação da Comunidade

Universalidade Integralidade Equidade

A população em situação de rua (PSR)...

ONU: BRASIL: Escravos libertos e seus descendentes...

(BURSZTYN, 2000; BRASIL, 2012; FONSECA, Z.; TEIXEIRA, M.; 2015)

“shelterless” “homeless”

PSR - Grupo populacional heterogêneo:

pobreza extrema.

vínculos familiares interrompidos ou fragilizados.

inexistência de moradia convencional regular.

utiliza logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de

sustento.

unidades de acolhimento para - centros de acolhidas.

(CASTELL, 1997; BURSZTYN, 2000; BRASIL, 2012; FONSECA, Z.; TEIXEIRA, M.; 2015) (Decreto Nacional nº 7.053, 23 de dezembro de 2009)

Pesquisa Nacional (MSD – 2008):

71 cidades = 31.922 adultos

São Paulo: 2015 - 15.905

2020 - 24.344

(QCT, 2019; FIPE, 2015; BRASIL, 2013; CVE, 2012; SÃO PAULO, 2011)

1970 – 1980: Pastoral do Povo da Rua SP e BH

1999 – 2006: Antônio Nery Filho BA

2002: BH primeira ESF específica PSR

2004: “A gente na Rua” PACS – TB

2008: ESFe

(BURSZTYN, 2000; PREUSS, 1997; BRASIL, 2008; BRASIL, 2012; FIPE, 2015; BRASIL, 2013; CVE, 2012; SÃO PAULO, 2011)

Populações mais

vulneráveis

Risco de

adoecimento:

TB

Indígenas 3x maior

Privados de liberdade 28x maior

Pessoas que vivem

com HIV/ Aids

28x maior

Pessoas em

Situação de Rua

67x maior

Consultório DE

Rua

SAÚDE MENTAL

Equipes de

Saúde da

Família

ESF SEM

DOMICÍLIO

Redução de Danos: Antônio Nery Filho (1999 – 2006)

(OLIVEIRA, 2009; Portaria N0 122, de 25 de Janeiro de 2011)

ATENÇÃO BÁSICA

MODALIDADE I – 4 Profissionais ( 2 Nível superior ) + ( 2 Nível

Médio), exceto profissional médico. R$ 9.500,00/ mês

MODALIDADE II – 6 Profissionais ( 3 Nível superior ) + (3 Nível

Médio), exceto profissional médico. R$ 13.000,00/ mês

MODALIDADE III – MODALIDADE II + Profissional médico R$18.000,00/mês

Profissionais – enfermeiro; auxiliar ou técnico de enfermagem; psicólogo; assistente social; terapeuta

ocupacional; médico; cirurgião dentista; profissional/professor de educação física; profissional com

formação em arte e educação; agente social e agentes comunitários de saúde.

(Portaria nº 1.029, de 20 de maio de 2014)

Novo modelo de financiamento do SUS

Incentivo para Ações Estratégicas

Mantido: eCR

(Portaria nº 3.270, de 11 de Dezembro de 2019)

Cálculo número de equipes...

Cálculo do número eCR = censos populacionais.

eCR: 80 a 1.000 pessoas em situação de rua.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. DAB. Departamento de ações programáticas estratégicas de área técnica de saúde mental. Nota técnica conjunta/2012. Coordenadores estaduais e municipais de saúde mental e atenção básica. Brasilia, DF: 2012

Carga horária mínima de 30

horas semanais

Diurno e/ou noturno e em qualquer dia

da semana

Ampliar o acesso

Ofertar in locu a atenção integral a saúde

Utilizar as instalações Unidades Básicas de Saúde (UBS)

(BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria N0 122, de 25 de Janeiro de 2011. Brasilia, DF: Ministério da Saúde, 2011; BRASIL, 2013)

Transporte...

UBS...

Problemas clínicos mais comuns...

Problemas nos pés

Infestações

Tuberculose DST, HIV e AIDS

Gravidez de alto risco

Doenças crônicas

Álcool e droga

Saúde bucal

BRASIL. Mnistério da Saúde. Manual sobre 0 Cuidado à Saúde junto a População em Situação de Rua. Brasilia, DF: 2012.

Atuação... Abordagem

Cadastro – mudança de olhar, conceitos, valores:

• Território

• Visita domiciliária

• Família

Adequação da linguagem

Articulação com as equipes das UBS

Atuação...

BRASIL. Ministério da Saúde. Manual sobre 0 Cuidado à Saúde junto a População em Situação de Rua. Brasilia, DF: 2012.

Articulação com a rede de saúde

Articulação intersetorial

Desenvolver atividades de educação em saúde

Registro com histórico do atendimento - prontuário

Caracterização do cuidado...

Ausência de paredes, a inexistência da mesa, o encontro em locais em movimento, o sol, o

vento, o frio, o calor, a chuva, não poucas vezes acompanhados da sujeira e o forte odor.

Conversar sobre saúde em meio à cena de drogas, encontrar-se com histórias de vida de/em

contextos angustiantes, são acontecimentos que exigem um exercício singular marcado pela

construção e desconstrução de valores.

(Londero, Ceccim, Bilibio, 2014)

Como...

BRASIL. MInistério da Saúde. Manual sobre 0 Cuidado à Saúde junto a População em Situação de Rua. Brasilia, DF: 2012.

Busca ativa: Atividades coletivas

Como...

BRASIL. MInistério da Saúde. Manual sobre 0 Cuidado à Saúde junto a População em Situação de Rua. Brasilia, DF: 2012.

Procedimentos que não demandem maior privacidade

Como...

BRASIL. MInistério da Saúde. Manual sobre 0 Cuidado à Saúde junto a População em Situação de Rua. Brasilia, DF: 2012.

Orientação e promoção de saúde

Curativos

Atendimentos/avaliações clínicas

Como...

BRASIL. MInistério da Saúde. Manual sobre 0 Cuidado à Saúde junto a População em Situação de Rua. Brasilia, DF: 2012.

Planejamentos, discussão de casos Elaboração e acompanhamento de PTS

Prontuário

Enfermeir@ eCR

Conhecer o território;

Supervisão Auxiliar de Enfermagem e Agente de Saúde;

Avaliar e discutir os dados de registro do trabalho;

Planejar as ações da equipe;

Supervisionar o fechamento da produção mensal dos

Agentes de Saúde e Auxiliares de Enfermagem;

Articular as ações com a rede intersetorial do território;

Realizar busca ativa das gestantes em situação de rua

promovendo o pré-natal responsável;

Acompanhar regularmente as crianças menores de1 ano,

adolescentes, portadores de tuberculose, DST/HIV/AIDS e

outras doenças infecto–contagiosas, portadores de

transtornos mentais e usuários de álcool, crack e outras

drogas

Realizar a organização das buscas ativas coletivas de

tuberculose no território de responsabilidade da equipe;

Realizar o acompanhamento do tratamento dos casos de

tuberculose;

Realizar atividades educativas no território de sua

responsabilidade;

Realizar aconselhamento e testagem rápida de HIV,

sífilis e Hepatites dentro da UBS e in loco,

Garantir o monitoramento pós-tratamentos casos de

sífilis;

Acompanhar os casos de HIV/Aids em conjunto com a

vigilância epidemiológica;

Estabelecer fluxos de integração junto a Rede de

Assistência à Saúde;

Realizar visitas na rua e nos equipamentos sociais de

acordo;

Discutir casos em reuniões técnicas com a rede de

serviços;

Articular reuniões sistemáticas com equipe de Serviço;

Realizar Consulta de Enfermagem preferencialmente na

UBS de referencia ou “in loco”;

Participar ativamente dos processos de educação

permanente.

A rua que acolhe, a rua que cura:

equipe de Consultório na Rua como

estratégia para atenção à pessoa

com tuberculose

Análise de Discurso de matriz francesa (AD)

Referencial teórico - metodológico

(ORLANDI, 2015; GREGOLIN, 1995)

Linguística: linguagem/

pensamento/mundo.

Marxismo: materialismo

histórico no qual o homem

é o responsável por fazer

história.

Psicanálise: simbólico na

história estudando o modo

como o inconsciente e a

ideologia afeta o sujeito.

Posição discursiva

que o sujeito

ocupa

História

Ideologia

Psicologia

Invisível, desconhecido “...nunca imaginei que pudesse trabalhar com essa população, nem sabia que existia, pensava em outro tipo de população, é o tipo de coisa que você aprende fazendo”

Ausência de capacitação e treinamento prévio “passei pelo processo seletivo, não tivemos nenhum treinamento de início e fomos direto já atuar na área de abrangência da Cracolândia...”

Preconceito e a exclusão social “...as dificuldades dos outros colegas em atender né as pessoas por conta do humor, por conta de trato, por conta de questões pessoais. Não são as pessoas mais fáceis do mundo para dialogar, para conversar, para negociar, então tem muita gente que põe de castigo, deixa pra ser o último, ou atende mal”.

(ORLANDI, 2015; BRASIL, 2014)

Cuidar do cuidador: Suporte emocional institucional

“...uma outra angústia é isso, a gente começar a levantar fazer um monte de diagnóstico, para trabalhar com

a palavra [...] Puxa vida, queria mais recurso concreto, né? Mais recurso concreto para poder trabalhar, mais

supervisão institucional, sabe”

(MARTINS et al., 2014; RUTTER, 2013)

“[...] doença na vida dele é uma dimensão que pode ser muito pequena, que pode ser

irrisória, porque as prioridades da vida dele são muitas outras [...] Ele vai ter que dar

conta disso já que a gente não consegue, o Estado não consegue suprir isso para que ele”

(SURNICHE, 2015)

Subjetividades

adoecer:

Dificulta a Adesão

Doença:

Magnitude x

Insignificância

Melhorar a qualidade de vida

persistência, linguagem compreensível, respeito à liberdade de escolha

Encontro transformador “Então a gente tenta valorizar quais são os ganhos desse encontro, eles não podem ser tão claros como os

indicadores de saúde são, tenho isso, consegui isso, né? Mas que a gente valorize as pequenas mudanças, mudanças

que são importantes pro outro, né?”

“(...) facilitar a agenda é uma forma de facilitar o acesso, não deixar hora marcada. Se o cara não consegue se organizar para vir, aí o agente comunitário vai lá e busca”.

(ALVAREZ; ALVARENGA; DELLA RINA, 2009; ACSELRAD, 2000; TRIGUEIRO et al., 2011;

TEIREIXA, 2001; Ayres, 2004).

Integral como cidadão de direitos “É bem diferente da estratégia convencional, eu acho que o contato, a forma de lidar acaba sendo algo mais integralizado eu acho que a gente consegue olhar de uma outra forma”

Trabalho em Equipe “[...] o consultório na rua é a grande mudança do modelo da Atenção Primaria neste país... não só pela forma na qual o cuidado ele é realizado, mas principalmente de como a concepção deste cuidado, a equipe que é ampliada, o número reduzido de pacientes, a possibilidade de você ter uma clínica um pouco mais diferenciada”

(ALMEIDA; MISHIMA, 2001)

Garantia de Direitos

Violação do direito Mulher

“(...) tinha uma mulher assim ficou um tempão para essa mulher conseguir vaga, porque aí tinha

vaga, mas não tinha vaga para a mulher com tuberculose”.

(ROSA; BRETAS, 2015; RUFFINO- NETTO, 2002)

Território...

Abordagens...

Sensibilidade do momento certo

Duplas

Estar sempre nos mesmo locais e horários

Disposto a ouvir não e a ser procurado

Dificuldade de abordagem;

Resistência ao cadastramento; Vinculação frágil;

Estado de Saúde prejudicado;

Preconceito e exclusão social;

Desafios ...

Dificuldade de primeiro atendimento e vínculo; Medo da UBS;

Fornecer o verdadeiro nome; Demandas sociais x demandas de saúde;

Apoio x Violência policial.

Construções... Acompanhamento de paciente pelo ACS no primeiro atendimento na UBS; Cartão SUS; Garantia do atendimento breve; Visita à pontos turísticos;

Oficinas de desenhos;

Tratamento Supervisionado/ Medicação Assistida; Controle de SR; Encaminhamentos; Parcerias;

Assistência Farmacêutica

Brinquedoteca...

Cinemateca; Atividades lúdicas na copa;

“Cracolândia”

“Cracolândia”

Atividades lúdicas e orientações sobre higiene bucal e cidadania

Realização de ginástica acompanhada por educadora física, fisioterapeuta e ACS à adolescentes usuários de crack.

Oficina de desenhos

Visita à Pinacoteca do Estado de SP

Depoimento de um dos adolescentes: “Dormi tantas vezes aqui na porta e não sabia como era aqui dentro”

Paissandu

Consulta Enfermagem

Luz

Luz

Luz

Conselho Gestor

• Profissionais com perfil: processo seletivo especifico para o território; • Educação permanente; • Cuidar de quem cuida.

Necessário...

Ações de saúde ampliada:

Todo o ciclo da vida/ morte - Cidadania “... a gente consegue resgatar, consegue levar ele de volta para sua terra natal, ... aquele que

vai a óbito e que a equipe consegue enterrá-lo sem ser como indigente, aqui a equipe faz esse

trabalho também, embora para muitos isso não se considere uma ação de saúde, o Consultório

na Rua consegue dar”

(COVRE, 1991; MARSHALL, 1967)

O cuidado na despedida...

“A todo o pessoal ..., principalmente aqueles que tive privilégio de conhecer pessoalmente.

Vai através destas poucas linhas o meu singelo agradecimento.

Por todo o trabalho que vocês fizeram e ainda fazem em lugares que muitos não ousariam nem ao menos

passar.

Ajudando pessoas em condições precária, como eu, que já estive morando na rua, doente e sem esperança de

vida, na qual por várias vezes fui socorrido por vocês...

...Muitas vezes, vocês deixaram filhos em casa, pra vir em socorro daqueles que necessitavam da vossa ajuda,

sendo muitas vezes até maltratadas e xingadas, porém o mais importante disso tudo... o amor que vocês

expressam e a preocupação em ajudar e auxiliar os que tanto necessitam.

Quero lembrar que sem a participação de você não teríamos encontrado o Mumu, por isso agradeço muito a

vocês.

Esse fato marcou muito a minha vida, saber que meu amigo não foi enterrado como indigente.

Assim finalizo, peço que Deus continue abençoando todos que fazem este trabalho, um grande ato de Amor.

Um imenso abraço... J.A

Bibliografia...

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria N0 122, de 25 de Janeiro de 2011. Brasilia, DF: Ministério da Saúde, 2011. Disponível em http://portal2.saude.gov.br/saudelegis/leg_norma_pesq_consulta.cfm. Acesso em 17.03.2019

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Pesquisa nacional sobre a população em situação de rua. Brasília, 2008.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. Departamento de Atenção Básica. Departamento de ações programáticas estratégicas de área técnica de saúde mental. Nota técnica conjunta/2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Manual sobre o cuidado à saúde junto à população em situação de rua. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico volume 46 n0 9 – 2015. Brasilia, DF: Ministério da Saúde, 2015.

FONSECA, Z.; TEIXEIRA, M. org 2015. Saberes e Práticas na atenção à saúde : cuidado À população em situação de rua e usuários de álcool, crack e outras drogas. 1. Ed. Hucitec, São Paulo, 2015.

RUFINO-NETTO, A. Tuberculose: a Calamidade negligenciada. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 35 (1): 51-58, jan-fev, 2002.

SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Boletim TB 2011. São Paulo, 2011. Disponível em http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/chamadas/boletim_tuberculose_2011_1335464303.pdf Acesso em 15.10.2013 e 17.03.2019

SOUSA, M.F., HAMANN, E.M. Programa Saúde da Família no Brasil: uma agenda incompleta? Ciência & Saúde Coletiva, v. 1, n. 14, p. 1325-1335. 2009.

OBRIGADA!

tatienf@gmail.com