Post on 21-Jan-2016
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CULTURA
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POR QUE DISCUTIR A TEMÁTICA?
Atualmente, o debate sobre o tema cultura e a busca por uma definição do termo têm-se mostrado inesgotável nas Ciências Humanas e Sociais.
Qual a razão disso?
Como ela é assimilada, reproduzida, transformada e transmitida pelos indivíduos e
pelos grupos? A cultura influencia na construção de
significados e valores na sociedade moderna?
Qual a importância da cultura nas análises da Teoria Educacional atual?
Qual seu impacto e repercussão na concepção de escola e educação?
Por que a cultura é um aspecto central de tantas discussões no momento?
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Em certos aspectos, a cultura sempre foi
importante, porém, a forma como ela foi definida e utilizada
sofreu alterações com o passar do tempo.
Além disso, entendemos que estes
esclarecimentos poderão aproximar os
pressupostos da pedagogia crítica e pós-crítica dos objetivos do componente curricular
para uma prática transformadora das
relações na sociedade.
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A polêmica tem início pelo paradoxo do uso do termo cultura
É comum nas observações "o sujeito não tem
cultura", "tal país tem mais cultura que outro",
como é possível separar a construção dos pensamentos mais elaborados dos gestos mais comuns dos fazeres
diários? Como explicar as evoluções políticas, econômicas e tecnológicas a partir das atividades mais rudimentares
de diversos grupos humanos?
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Determinismo biológico e geográfico
Atribui capacidades específicas inatas a diferentes povos, em função da "raça" ou do ambiente
físico nos quais se originaram, indexando certas expressões pejorativas a determinados grupos, como imigrantes, negros, índios, entre outros, e valorizando um etnocentrismo que se estende
para outros povos marcados pelas ações de seus representantes.
Este fato demonstra o pensamento preconceituoso que realça a pseudo-superioridade de
determinado grupo social sobre outro.
ETNOCENTRISMO
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CONCEITO DE CULTURA PARA OS PCNS
Um conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis pelo grupo: neles o indivíduo é formado desde o momento de sua concepção; nesses mesmos códigos, durante a sua infância, aprende os conhecimentos e valores do grupo; por eles é mais tarde introduzido nas obrigações da vida adulta, da maneira como cada grupo social as concebe. (p.27)
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ORIGEM DO TEMPO CULTURA
LATIM
Significa ação ou maneira de explorar
certas produções naturais, cuidado com o campo e criação de
animais.
Cícero (106-43 a.C.), pensador romano,
Estende o conceito para a cultura da alma (Bracht, 1997),
uma ação que conduz à plena realização das potencialidades de algo ou de alguém, libertando o homem
de seu estado natural.
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IDEIAS ATRELADAS À CULTURA
CULTIVAR
Ideia de plantar e visando a colheita, no
sentido figurado de gerar, crescer, cuidar, ou seja, uma ação em busca de algo a ser alcançado, a busca da perfeição do ser
CULTUAR
Ideia de veneração, de conservação, e valoriza o
desenvolvimento do indivíduo para alçar a sua própria transcendência,
isto é, cultuar a alma.
Ou seja, o ser humano cultiva e cultua suas ações, suas produções, seus comportamentos e seus modos de viver para garantir a sobrevivência e, porque não dizer, a perpetuação da espécie humana transmitindo seus
conhecimentos de geração a geração.
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"(...) à soma dos saberes acumulados e transmitidos pela humanidade, considerada como totalidade, ao longo de sua história"
Nesta perspectiva, a expressão "cultura" está de acordo com a ideologia do iluminismo, por estar associada à idéia da razão, da educação e da evolução, um progresso intelectual e espiritual tanto no âmbito pessoal como no social.
cultura atrela-se à idéia de produção humana, e esta produção, no sentido coletivo, fica a cargo de "civilização", ou seja, o progresso de uma nação.
"cultura" e "civilização" homem situado no centro do universo
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INTELECTUAIS E VANGUARDA X NOBREZA
"ser civilizado" passa a ser visto, como refinamento superficial, aparência fútil, enquanto cultura, como enriquecimento intelectual e espiritual, consagrado pelas ciências, artes e filosofia.
Cultura seria tudo aquilo que produzissem e que os diferenciassem do resto do mundo, as ações que pudessem ter sentido como responsáveis pelo progresso local e, conseqüentemente, a própria contribuição para o desenvolvimento humano. Como os povos mais simples não têm acesso a esse conhecimento, era importante a idéia de irradiar a cultura alemã às sociedades desprovidas destes valores.
No século XIX, a noção alemã de kultur tende a um caráter particularista das diferenças nacionais, constituindo-se em único modelo a ser atingido pelas outras sociedades, em oposição à noção francesa universalista de "civilização"
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Surge então, duas concepções de cultura
Para os intelectuais alemães, cada povo tem sua "cultura", e esta se constitui no patrimônio de uma nação com um destino determinado a ser realizado.
Para os franceses, "cultura", no sentido coletivo, é antes de tudo a "cultura da humanidade" (Elias, 1990).
Em qualquer uma destas, o que permanece em comum é a perspectiva mono cultural, isto é,uma única cultura entendida como certa.
desta discussão parte a oposição entre alta cultura e baixa cultura, ou cultura erudita e cultura popular.
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Nesta direção, a educação seria o caminho para se atingir o grau "culto".
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A palavra cultura foi introduzida na língua inglesa a partir da expressão colere, que em latim significava "habitar" - surgem daí palavras como colono e colônia - com sentido preservado em "culto" e "cultivar", atribuindo a idéia de cuidar.
A cultura seria o fator de coesão social, afastando-se da esfera política e da prática. Nessa lógica, a difusão e a conservação da cultura seria da responsabilidade de pessoas instruídas, que dão sentido ao folclore, à cultura da nação e às obras realizadas por indivíduos sensíveis, ou seja, as produções artísticas expressas na pintura, na literatura e na música erudita, que representava o desenvolvimento humano perante as bruscas mudanças sociais ocorridas durante a Revolução Industrial.
A idéia de que nenhuma classe social teria condições de se libertar dos preceitos liberais e utilizar a cultura para a busca da perfeição interna.
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UTILIZAÇÃO DO TERMO CULTURA
como algo que distingue os grupos humanos que estão em estado intelectual avançado na escala evolutiva
como modo de produção que diferencia uma classe que dispõe de conhecimento superior à outra classe social.
como a produção de uma nação que a coloca acima das demais
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Diante dos fatos descritos, percebemos que a definição do termo está atrelada à sua evolução histórica e à busca de seu significado que, na verdade, configuram lutas sociais que estruturam relações de força e concedem sentido às questões sociais que as fundamentam. A análise cultural fornece condições para explicar as lógicas simbólicas em jogo na atualidade, o que torna necessário um esforço para compreender os seus significados.
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“cultura" não é um conceito, mas sim vários, cada qual profundamente
marcado por uma vertente teórica, atuando, porém,
simultaneamente no âmbito da análise do
homem e da sociedade.
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O conceito de cultura
EDWARD B. TYLOR -“um conjunto complexo, que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, o direito, os costumes e as outras capacidades ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade” - TYLOR TINHA A IDEIA DE QUE A CULTURA ACONTECIA POR ESTÁGIOS.
FRAZ BOAS - afirmando o relativismo cultural, pensamento que aponta a diversidade das culturas, e que toda cultura atua em relação a um local e espaço de tempo determinado, como também ao seu contexto sócio-histórico. A cultura aparece como um conjunto de traços e padrões de comportamento, cada qual dotada "estilo próprio", que a todo tempo influencia os indivíduos. CULTURAS: ENTIDADES SEPARADAS QUE NÃO PODEM SER JULGADAS POR OUTRAS. PESQUISA IN SITU - ETNOGRAFIA
BRONISLAW MALINOWSKI - Cada cultura constitui um todo, onde todos os elementos de um sistema cultural se relacionam de maneira harmônica o que faz desses sistemas estruturas funcionais e equilibradas, conservando as culturas idênticas a si mesmas – OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE.
EMILE DURKHEIM - apresenta uma idéia essencial de cultura e desenvolve a teoria de consciência coletiva que se apóia nas representações coletivas pertencentes a todos os indivíduos de uma mesma sociedade. As sociedades corporificam suas formas de organização social e modos de vida, criando símbolos e expressando-as em rituais (RITO DO PÃO)
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MARCEL MAUSS - A sociedade escreve no
corpo os seus costumes sociais -
Cultura, compreendida como um sistema
autocontido de crenças e valores, com o social superando o individual. É a forma que explica o rito, a
magia, os fatos, enfim, todas as práticas
sociais, constituindo-se pelo conjunto das
relações que uma sociedade estabelece.
LÉVI-STRAUSS - TEORIA PSÍQUICA
DA MENTE HUMANA - A cultura é um
sistema simbólico, originado na
mente humana e que se desenvolve
como sistemas estruturais.
CLIFFORD GEERTZ –Antropologia interpretativa,
fundamentada no paradigma
hermenêutico - os símbolos e os
significados não estão nas cabeças das
pessoas, mas sim são partilhados por elas,
pois, para ele: "A cultura é pública
porque o significado o é” , teia de significados
tecida pelo homem, na qual ele se encontra amarrado, preso. Para
o sucesso de uma abordagem
interpretativa da cultura, é necessário
apoiar-se no ponto de vista dos
representantes daquela cultura para
acessar àquele mundo e poder conversar com os sujeitos envolvidos
em seu universo simbólico.
IÚRI LOTMAN - A cultura se
apresenta como um conjunto de textos e tem o
sentido de "informação não
hereditária, adquirida,
preservada e transmitida por vários grupos da
humanidade“, um texto é a "unidade
mínima da cultura, capaz de
gerar novos significados, mas,
também, de preservar a
memória de seus contextos
anteriores"
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Os quatro conceitos de cultura amplamente antagônicos entre si
Cultura relativizada ao seu contexto
histórico, única e específica
Cultura como estrutura auto-
reguladora
Cultura como sistemas
estruturais fruto da consciência
social
Cultura como conjunto de significados
Apontam concepções teóricas totalmente
diferentes e provocam análises práticas diversas.
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O papel da cultura na constituição da vida social
RAYMOND WILLIANS - RICHARD HOGGART E
EDWARD P. THOMPSON -
questionamentos gerados a partir do
predomínio dos meios de
comunicação na veiculação e influência na
divulgação da cultura - Hoggart funda o Centro de Estudos
Culturais Contemporâneos da
Universidade de Birmingham, na
Inglaterra.
FOUCAULT DELEUZE DERRIDA
ESTUDOS CULTURAIS
Os Estudos Culturais concebem a cultura como campo de luta em torno da significação social
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A cultura é um campo de produção de significados no qual os diferentes grupos sociais, situados em distintas posições de
poder, lutam pela imposição de seus significados à sociedade mais ampla (Hall , 1997). O que está centralmente envolvido
nesse jogo é a definição da identidade cultural e social dos diferentes grupos. Cultura é um campo onde se define não
apenas a forma que o mundo deve ter, mas também a forma como as pessoas e os grupos devem ser. A cultura é um jogo de poder. Sinteticamente, poder-se-ia dizer que os Estudos
Culturais estão preocupados com questões que se situam na conexão entre cultura, significação, identidade e poder.
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OS INTERESSES DOS ESTUDOS CULTURAIS
os Estudos Culturais tomam
claramente o partido dos grupos em desvantagem
nessas relações. Os Estudos Culturais
pretendem que suas análises
funcionem como uma intervenção na vida
política e social.
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A VIRADA CULTURAL
A "virada cultural", segundo Hall (1997), diz respeito à abordagem da análise social contemporânea que passou a conceber a cultura como uma condição constitutiva da vida social, ao invés de uma "variável dependente" na análise social ou apenas um elo para a integração do sistema.
VALORIZAÇÃO DE ÁREAS DO CONHECIMENTO : ARTES E LINGUAGEM
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STUART HALL sugere que o ser humano utiliza variados sistemas de significados para definir o que as coisas significam, e, por meio desses significados, pode regular e organizar todas as relações sociais.
Nessa perspectiva, toda ação social é cultural, e todas as práticas sociais expressam ou comunicam um significado, sendo, nesse sentido, práticas de significação.
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O SENTIDO DO DISCURSO PARA A CULTURA
Os discursos e as práticas discursivas influenciam a maneira pela qual vivemos nossas vidas, pois somente por meio do discurso e da linguagem é que os significados são validados, e podemos conferir sentido à realidade social. Segundo Foucault, essa definição da atuação e importância do discurso mostra-nos que a verdade depende mais de estratégias de poder e de práticas de significação do que qualquer critério ou questão epistemológica.
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O ponto importante que enfocamos é que
a validação da Ciência, das
narrativas históricas, da justiça da moral do método, entre outros, fica atrelada ao poder
de significar a experiência humana,
sendo, nesse contexto estabelecida
a identidade e a marcação da diferença.
Esse processo é realizado por aqueles que detém o poder
de definir quem está dentro - o idêntico, a norma - e quem
está fora - o diferente.
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Comumente pensa-se que as tradições populares constituem-se na maior forma de resistência ao modo como a reforma do povo pode ser pensada.
A cultura popular, há tanto tempo, está associada à questão da tradição de ritos, cultos e outras formas culturais e também é por isso que esse tradicionalismo é constantemente mal interpretado como produto retrógrado ou conservador.
Conseqüentemente, os comportamentos destas classes são entendidos como barreiras para alcançar estágios "desenvolvidos”. Ao refletirmos sobre estes posicionamentos, verificamos que a cultura popular transmite a idéia de luta e resistência, mas também de apropriação e expropriação.
Formas culturais são símbolos e práticas sociais pelas quais a cultura se manifesta, expressa-se. A música, a religião, as roupas, as brincadeiras, os esportes e a educação, entre tantos, são exemplos de formas culturais. As formas culturais se desenvolvem para os grupos sociais darem sentido às suas vidas.
O popular é comumente desconsiderado em relação ao erudito
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POPULAR
O popular, pautado no debate cultural, é entendido como categoria de oposição àquilo que é erudito, o que pertence às elites. O que é de domínio do povo não pode ser um conteúdo das classes dominantes (Ball, 2003). Esse pensamento mostra uma possibilidade de compreensão das mudanças das coisas, pois, de tempos em tempos, certas produções populares são elevadas na categoria cultural, ao passo que outras são rebaixadas das classes dominantes para o consumo das massas, como destacamos anteriormente o papel da gênese e divulgação do esporte.
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O que vale é a tensão permanente de
relacionamento, influência, oposição e resistência da cultura popular versus a
cultura dominante.
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TRADIÇÃO
a idéia de tradição e valorização do que é popular em determinada época não passa de estratégia de poder, algo para fazer valer a afirmação de imutável, inteiro e autêntico. Muito do que se diz de tradição surgiu no período denominado Modernidade.
Precisamos estar atentos a quem interessa vincular a idéia de "tradição". Ao analisarmos algumas formas da cultura corporal, percebemos o conceito em questão.
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EXPANSÃO CULTURAL ATUAL
Vivemos em um momento sócio-histórico em que os riscos
de homogeneização cultural, fruto da expansão constante da
lógica capitalista, são permanentes, porém não tão simples como possa parecer,
afinal toda relação social implica força e luta.
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A cultura é o terreno onde as transformações são agenciadas e realizadas.
A cultura é um campo permanente de contenção e resistência.
A cultura é um campo de conflito pela transformação ou manutenção dos objetivos das classes populares,
de moralização das classes trabalhadoras e de desqualificação dos pobres e a conseqüente e
imprescindível reeducação do povo pelos grupos dominantes.
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Diz respeito à forma que a cultura penetra em cada recanto da vida social contemporânea, atuando e mediando tudo na organização da
sociedade moderna, atribuindo-lhe dois fatores: um substantivo - "que diz respeito ao lugar da cultura na
estrutura empírica real e na organização das atividades,
instituições e relações culturais na sociedade, em qualquer momento
histórico particular";
e um outro fator, de aspecto epistemológico, que se refere "à posição da cultura em relação às
questões de conhecimento e conceitualização
em como a cultura é usada para transformar
nossa compreensão, explicação e modelos
teóricos de mundo"( p.15).
CENTRALIDADE DA CULTURA
Hall (1997)
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REALIDADEescola
família
partido político
vizinhança
práticas corporais
DIVERSOS TEXTOS
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RELAÇÃO DE PODER ENTRE CULTURAS
CULTURA
DOMINADA
CULTURA
DOMINANT
E
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HIBRIDIZAÇÃO
não ocorre a soma das culturas, nem a simples substituição de uma pela outra,
mas sim a criação de uma outra forma de prática social nova, um terceiro espaço
(Bhabha, 1999).(discurso político produzido no Brasil )
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CONTROLE SOCIAL
A cultura é definida como produção estética e assume posição central no processo de
dominação. No jogo de distinção social, a capacidade de produzir cultura é restrita à classe social dominante, fazendo as classes dominadas
atribuirem sua situação social à sua suposta incapacidade de produzir cultura. Para este
sociólogo, a escola tem papel importante nesse processo, pois reproduz a relação de dominação
cultural. Bourdieu (1996).
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Em primeiro lugar, a crise entre cultura e as estruturas de relações sociais dentro da constituição de classe, gênero e idade que geram
formas variadas de dependência e opressão.
Em segundo, a cultura deve ser analisada como forma de produção por meio da qual os diferentes grupos em suas relações
dominantes ou subordinadas estabelecem e realizam suas metas através de relações assimétricas de poder.
Por último, a produção, a legitimação e a circulação dos bens culturais produzidos pelos diversos grupos são áreas centrais de
conflito.
PONTOS DE ANÁLISE PARA A COMPREENSÃO DA LÓGICA POLÍTICA E SOCIAL
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CULTURA E EDUCAÇÃO FÍSICA
como devemos tratar os modos pelos quais são produzidas,
mantidas, contestadas e transformadas as desigualdades sociais nas práticas culturais da
escola e da Educação Física.