Post on 24-Jan-2016
O PAPEL DA MUSICA NAS CERIMÔNIAS MATRIMONIAIS OCIDENTAIS NÃO RELIGIOSAS – DO PLANEJAMENTO À EXECUÇÃO DE CASAMENTOS NA
CIDADE DE SÃO PAULO
SUMARIO
1. IMPORTÂNCIA DAS MÚSICAS NO CASAMENTO
1.1 CONTEXTUALIZAR – MOMENTO, PAÍS, CULTURA
1.2 BREVE HISTÓRICO DA MÚSICA NOS CASAMENTOS1.3 MÚSICA COMO ELEMENTO CONDUTOR DA CERIMÔNIA /
1.4 MÚSICA COMO INDUTOR EMOCIONAL DURANTE A CERIMÔNIA
1.5 IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DE ÁUDIO (acústico? Empresa parceira ou equipamento próprio?)
1.6 OS ERROS MAIS COMUNS E EXEMPLOS QUE PODEM ARRUINAR A FESTA
1.7 RELIGIÃO E MUSICA
1.7.1 Marcha Nupcial
2. PLANEJAMENTO DA MÚSICA NO CASAMENTO
2.1 PRIMEIRA ESCOLHA: MÚSICA AO VIVO OU MECÂNICA
2.2 ESCOLHA DO FORNECEDOR E CONTRATAÇÃO (lembrar de som e coordenação)
2.3 ESCOLHA DA FORMAÇÃO E ESTILO MUSICAL (traje também)
2.4 ROTEIRO MUSICAL, DEFININDO QUANTAS MÚSICAS SERÃO UTILIZADAS
2.5 REPERTÓRIO IDEAL, ATUALZIAÇÃO CONSTANTE
2.6 COORDENAÇÃO MUSICAL. FUNDAMENTAL PARA CRIAR MOMENTOS SINCRONIZADOS
3. PLANEJAMENTO MUSICAL E PRODUÇÃO
3.1 ESCOLHA DOS MÚSICOS
3.2 INSTRUMENTAL OU CANTADO? DEFININDO OS TONS
3.3 ARRANJOS E PARTITURAS
3.4 MARCAÇÃO DE PONTOS CHAVE PARA TERMINAR OU RECOMEÇAR AS MUSICAS3.5 MIXAGEM – TRABALHANDO VOLUME ENTRE LOCUÇÃO E MÚSICA DE FUNDO
4. DA EXECUÇÃO DO EVENTO DO PONTO DE VISTA MUSICAL
4.1 MONTAGEM E TESTE
4.2 PASSAGEM DE SOM
4.3 SALA DE ESPERA
4.4 ENTRADAS
4.5 BENÇÃO DAS ALIANÇAS
4.6 ASSINATURAS E CUMPRIMENTOS
4.7 SAÍDAS
1. A IMPORTÂNCIA DAS MÚSICAS NO CASAMENTO
1.1CONTEXTUALIZAR
Existe atualmente uma enorme diversidade de cerimônias matrimoniais
que ocorrem na cidade de São Paulo, porém é difícil imaginar qualquer um
desses eventos, de diferentes religiões ou nível socioeconômico, sem a
presença de música. Desde a recepção, passando pelas entradas,
cumprimentos até a saída, a música faz parte fundamental de quase todos as
cerimônias matrimoniais conhecidas.
Mesmo procurando delimitar esse trabalho a apenas ao Estado de São
Paulo como foco de estudo, esse universo urbano multifacetado e de cultura
cosmopolita apresenta cerimônias matrimoniais das mais diversas: católicas,
evangélicas, judaicas, espíritas, budistas, umbandistas, candomblecistas,
ecumênicas, não religiosas (celebradas pelos MCs - mestres de cerimônia),
enfim, de todas orientações religiosas e culturais. Acontecem em igrejas,
sinagogas, templos religiosos diversos, residências, e cada vez mais em
espaços de eventos e buffets. Apesar dessa diversidade, a música costuma ter
o mesmo papel e muitas vezes o mesmo roteiro. Ela dá ritmo e condução para
o cortejo e as entradas até o altar, aparece na bênção das alianças, nos
cumprimentos, assinaturas e saídas. Esse padrão parece existir por uma
"cultura do casamento" atual, criada pela mistura do resgate das tradições
ocidentais europeias - em especial da nobreza e realeza - junto com as
necessidades do mercado de eventos de hoje, seus DJs, fornecedores de
música ao vivo e assessores, buffets, igrejas e templos. Assim como outras
tradições ocidentais aplicadas hoje nas cerimônias de casamento, tais como
buquê, vestido branco, alianças, tapete no caminho ao altar, a música também
segue um esse padrão sustentado pelo mercado de eventos. Isso nos permite
observar em São Paulo situações curiosas de mistura cultural, como por
exemplo: uma cerimônia budista com mantras orientais, dentro de um buffet
sem orientação religiosa, com músicas de tradições europeias, assim como
buquê e vestuário de noivos e convidados. Isso é bem mais comum no
mercado do que soluções musicais puristas e tradicionalistas de determinada
cultura ou religião, principalmente devido a demanda e oferta desse mercado
de eventos para casamentos em São Paulo.
Esse estado brasileiro representa o maior número de casamentos do
país, e só vem aumentando de acordo com o SEADE. Grande parte por
desburocratização do divórcio, permitindo novos casamentos, e pela resolução
de 2013 do Conselho Nacional de Justiça que obriga todos os cartórios do país
a celebrar casamentos de pessoas do mesmo sexo. E também por tem o maior
mercado de eventos do país segundo o site investe.sp.gov.br, o que
consequentemente é bem provável que tenha o maior mercado especializado
em cerimônias matrimoniais. Analisando esse o estado paulista, temos um
retrato mais intenso e moderno das tendências do uso da música nas
cerimónias de casamento.
1.2 Breve histórico
Ao tratarmos de música e ritos matrimoniais, não haverá nesse trabalho
pretensão de definir as origens, visto que são manifestações culturais tão
presentes nas mais diversas culturas humanas, que tentar definir o início da
relação entre elas seria quase como discutir a origem de cada cultura. Nesse
capítulo, o foco fica para um episódio em 1858 na Inglaterra, que parece ter
definido uma referência para as cerimônias matrimoniais até hoje,
principalmente nas religiões cristãs, mas também observado em outras
religiões e assim como na ausência de delas.
No caso, o episódio em questão foi um casamento no dia 25 de janeiro
de 1858, na Capela Real do Palácio de St. James em Londres, entre a princesa
Victoria Real da Grã-Bretanha e o príncipe Frederico da Prússia. Foi um
cerimônia que teve grande repercussão e gerou "moda" na época, com
casamentos de outros príncipes, nobres e também burgueses, imitando tanto o
vestido branco de noiva, quanto o repertório musical escolhido. Isso se repete
até hoje, refletindo nossa cultura presente nos casamentos realizados em São
Paulo e também em outras partes do mundo. Os principais motivos da grande
repercussão foram a importância política do casamento e a personalidade forte
e popular da princesa Vitória, que mesmo sendo amor a filha mais velha da
Rainha Vitória da Inglaterra, ela casou-se por amor, em uma época em que os
casamentos eram normalmente arranjados pelos pais dos noivos motivados
por questões políticas e econômicas, principalmente dentro da nobreza, e
muito mais então, na realeza.
A princesa Vitória conheceu seu futuro esposo ao receber, em 1851, na
Inglaterra por duas semanas, a visita da família de Frederico, príncipe da
Prússia. Apesar da diferença de idade - ela tinha apenas 10 anos e ele tinha 17
anos - eles se deram muito bem por esse curto período. Quando o príncipe foi
a Inglaterra pela segunda vez, em 1855, em apenas três dias em companhia da
princesa Vitória, pediu a sua mão em casamento. Os pais da princesa então
pediram que os apaixonados esperassem até que Vitória completasse 17 anos.
E assim foi, o noivado durou 3 anos e acabou no famoso matrimônio de 1858
em Londres, mesmo contra algumas pressões políticas de partes que não se
interessavam pela união que aproximava o Reino da Inglaterra do Império da
Prússia e Alemanha.
Tal personalidade forte da princesa ficou marcada também pela
inovação de casar com vestido branco - até então era mais comum o azul ou
outras cores fortes - e o fato de ter escolhido pessoalmente o repertório da
cerimônia matrimonial: a entrada com a Marcha Nupcial de Wagner e a saída
com a Marcha Nupcial de Mendelssohn. A primeira faz parte da ópera
Lohengin de Wagner e a última foi composta composta por Félix Mendelssohn
para a peça Sonhos de Uma Noite de Verão de William Shakespeare. Ambas
são músicas tocadas durante cerimônias de casamento dentro dos enredos
das peças. Curioso é o fato de que as duas peças tem um caráter tragicômico,
e as músicas não foram compostas pra provocar romantismo ou pompa. Na
ópera Lohengin, Wagner compôs sua famosa marcha nupcial (Bridal Chorus)
para musicar uma cena no final do casamento, em que o noivo assassina cinco
convidados e termina com a morte da noiva por tristeza. Algumas igrejas até
proíbem a execução da Marcha Nupcial de Wagner, principalmente na
Alemanha, por considerarem fazer parte de uma peça que não condiz com os
preceitos cristãos. Alguns judeus a proíbem nos casamentos por Wagner ter
mostrado uma postura antissemita em vida.
Ainda assim, ambas obras persistem contra o tempo e ainda são
algumas das músicas mais escolhidas e sugeridas nos casamentos. Hoje,
mesmo quando uma noiva procurar inovar e escolher uma música atual ou da
moda, muitas vezes acaba optando por uma canção presente em uma cena de
um casamento de filme ou musical contemporâneo, imitando assim, mesmo
que sem querer, a Princesa Vitória, que optou por músicas de peças em cartaz
na época, ao invés de simplesmente seguir tradições.
1.3 "papel" da música na cerimônia
Independente da cultura ou religião da cerimônia matrimonial, a música
sempre se faz presente e desenvolve duas principais funções: serve como
condutor na progressão do andamento da cerimônia e como indutor emocional
para cada um dos momentos definidos.
Os ritos cerimoniais vão mudando com o passar dos anos, e parece que
a quantidade de músicas e momentos para elas está cada vez aumentando.
Antigamente era comum o noivo entrar junto com o cortejo principal, ou então,
já esperar do altar. Hoje, o mais comum é ter separado as entradas dos
padrinhos, do noivo, da daminha e/ou pagem, da noiva e das alianças, cada
uma delas com uma música diferente. A saída que antes era única, agora
quase sempre separa saída dos pais e padrinhos, e dos noivos. O que define o
início e o final de cada momento é a música.