Post on 07-Apr-2016
DINHEIRO, AMOR E VIRTUDEA Caminho de um Ideal Imaginado
1.ª ConversaReflexão sobre Dinheiro, Amor e Virtude
Lisboa, 10 Novembro 2015Maria José Pereira
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Desafios
• Económico• Ecológico• Tecnológico• Político• Social
• Vivemos tempos difíceis!• Crise?• Ou oportunidade?
Ratio e Intellectus
• Não há conhecimento que seja completo sem dois componentes vitais
• Ratio – razão
• e
• Intellectus – contemplação
• Indispensável num mundo a grande velocidade e interligado
O Ser Humano e a Sociedade
• Qual o ponto de partida... A visão pela qual organizamos a sociedade?
• O ser humano:
• Egoísta? Manipulador?• Freud, Hobbes, Mandeville
• Compassivo e com capacidade de ser altruísta?• Hoffman, Nussbaum, E.O. Wilson
Thomas Hobbes (1588-1679)
• De Cive• “O homem para o homem é como Deus.”• “O homem para o homem é um lobo malvado.”• Visão amoral: “Os homens…emergem da terra como
cogumelos…sem qualquer obrigação de uns para os outros.”
• Leviatã• O contrato social: a submissão voluntária ao Estado e
à Lei com o fim de se proteger contra a violência• O ser humano é motivado pelo medo, é defensivo
Bernard Mandeville (1670-1733)
• Fábula das Abelhas: Vícios Privados e Benefícios Públicos• Alegoria de uma colmeia para demonstrar que
• Desonestidade e egoísmo, manifestado pelo desejo de proveito pessoal, conduzem à prosperidade
• Com a honestidade e a virtude, e sem a motivação da ganância, a actividade estagna
• “Voaram para uma árvore oca, contentes com a sua honestidade.”
Tudo acontece para satisfazer desejos egoístas.Mesmo o altruísmo serve para gratificar a vaidade.
Freudiano: Advento do Consumo
• Técnicas de marketing desenvolvidas por• Edward Bernays• Ernest Dichter
A manipulação da psicologia (ego e desejo) para promover o consumo“As necessidades e desejos nas pessoas têm de ser continuamente instigados.” (Dichter)
Introdução do crédito ao consumo
O Ser Humano e a Sociedade
• Qual o ponto de partida... A visão pela qual organizamos a sociedade?
• O ser humano:
• Egoísta? Manipulador?• Freud, Hobbes, Mandeville
• Compassivo e com capacidade de ser altruísta?• Hoffman, Nussbaum, E.O. Wilson
John Locke (1632-1704)
• Dois Tratados de Governo
• Contrato social expansivo, não defensivo• Unidade: a cidadania implica formação de um “corpo
vivo” pelos seres separados• Simetria na consideração mútua: cada um possui
virtude que tem o outro em conta (other regarding)
• O contrato e a confiança: os dois pilares da sociedade civil
Martin Hoffman
• Empatia e Desenvolvimento Moral• “Os humanos não podiam ter sobrevivido como espécie se
cada um só se preocupasse consigo mesmo.”• “As pessoas fazem sacrifícios por outras.”
• Os bebés nascem inconscientes da sua separação de outros e gradualmente desenvolvem o sentido cognitivo de outros
• A estrutura pró-social e moral é interiorizada na infância• Pela disciplina e responsabilização• Com cuidado e de maneira justa (amor e virtude)
A empatia, reforçada pela reciprocidade, activa princípios morais
Martha Nussbaum
• “Sobressaltos do Pensamento: A Inteligência de Emoções”
• Empatia: • Compreender os sentimentos e sofrimentos dos outros -
um guia para a actuação
• Compaixão: Compreender os sentimentos e sofrimentos dos outros e desejar aliviar a sua dor
Martha Nussbaum
• “Uma sociedade compassiva… é aquela que mede a totalidade de danos que atingem os cidadãos sem ser devido às suas próprias acções; por isso, a compaixão fornece um motivo para assegurar todo o apoio que irá sustentar e proteger a dignidade humana.”
Source: Upheaval of Thoughts: The Intelligence of Emotions (Sobressaltos do Pensamento: A Inteligência de Emoções)
E. O. Wilson
• “A Conquista Social da Terra”• Em defesa da evolução conducente ao altruísmo
Pesquisa em insectos: eussociabilidade (verdadeira condição social)
• Os insectos cuidam uns dos outros, através de gerações e para além do parentesco imediato
Os seres humanos são mais desenvolvidos – possuem a língua• Evolução da mente, desenvolvimento da cultura, e
estabelecimento do sistema moral
A moral contribui para a selecção natural induzindo um comportamento que promove a sobrevivência da espécie.
Competição vs. Cooperação
• Darwin – Sobrevivência do mais apto: competição
• Darwin mais tarde: cooperação
• As pessoas possuem “instintos sociais... que se tornam mais delicados e amplamente difundidos, até se estenderem a todos os seres sencientes.”
• “Logo que esta virtude é honrada e praticada por alguns de nós, propaga-se aos mais novos através da instrução e do exemplo e acaba por ficar incorporada na opinião pública.”
A sobrevivência compreende igualmente cooperação, simbiose e reciprocidade
Neurociência: António Damásio
• O cérebro está ligado ao corpo através do sentimento• O ser primordial sente dor e prazer• O ser nuclear (core self) impele à acção• O ser autobiográfico é o ser social e espiritual
• A mente reflexiva e consciente• Afeiçoada pelo sentimento• Guiada pela memória
• Procura o bem-estar do• Próprio indivíduo • Da sociedade• > regras morais e leis e sistema justo
A Pessoa na Sociedade
• Quem é a pessoa?• Material: ego (necessidades primárias)• Espiritual/cultural: capaz de generosidade
• A pessoa na sociedade• Cada pessoa como parte do todo (contribui e recebe)• Interdependente (cada uma tem impacto na outra e no todo)
• O bem comum• Não só o conjunto de bens públicos (bens e serviços)• Mas incorpora a soma da consciência cívica
• Liberdade como a imagem reflectida do outro• Sentido do ético
Dinheiro, Amor eVirtude
Economia e Dinheiro
• Economia• Gestão das necessidades materiais em sociedade
• Foco deveria ser não só no dinheiro, mas também na pessoa colocada no centro da economia
• Dinheiro• Sangue (life-blood) da economia
• Monges franciscanos• Quesnay: economista e médico de Luís XV
• Leva nutrientes, mas também toxinas
Aristóteles (384-322 a.C.)
• Oiko-nomus: gestão da casa – economia
• Mercado: lugar de troca – dinheiro
• Harmonia na polis >• Uma vida bem vivida: eudaimonia ou felicidade
• Requer-se• Philia: amizade, “a coroa da vida e a escola da virtude”• Virtude
• Justiça, a mais importante, porque permite todas as virtudes• Proporcionalidade ou equilíbrio
Felicidade: O Equilíbrio
• Aristóteles
• “nem uma andorinha, nem um dia faz a primavera; do mesmo modo, nem um dia, nem um tempo breve torna o homem abençoado e feliz”
Harmonia: O Equilíbrio
• Confúcio (551-479 a.C.)• Para atingir a harmonia, requer-se
• Li (relações justas)• Yue (arte ou beleza)
• Não há li sem virtude• Não há yue sem amor
• Nem li nem yue pode coexistir com a fome
Eudaimonia
• Para os gregos, a harmonia, ou equilíbrio, permite a felicidade
• Sem virtude, não há justiça• Sem amizade, a virtude é mais difícil de realizar• Sendo seres materiais, não podemos viver sem
dinheiro
• As três condições necessárias para eudaimonia
• Dinheiro, amor e virtude
A Sociedade Boa
• A Sociedade Boa necessita de humanismo
• Empatia e colaboração (amor)• Confiança e justiça (virtude)• Visão a longo-prazo e integral • Liberdade/autonomia: a liberdade de cada um depende da
imagem reflectida do outro – mirror image (Sartre e Ricoeur)
• Bem comun: bens materiais/serviços e consciência cívica • Relações interpessoais/reciprocidade: recurso económico
O Segundo Iluminismo
• Repensar o Iluminismo no contexto de um mundo diferente Martha Nussbaum
• 3 critérios importantes hoje:• Autonomia e pensamento crítico: reflexão• O que represento eu? Aristotélica
• Sentido de cidadania global: acção cívica• Interesse genuíno sobre a pluralidade do mundo,
combinado com respeito pela dignidade humana• Empatia
• Capacidade de pensar, pondo-se na pele do outro
Dinheiro, Amor e Virtude
• Dinheiro• Indispensável para seres que têm necessidades materiais• Torna possível a liberdade
• Amor• O motor do ser emocional e espiritual• Manifesta fraternidade e inspira virtude
• Virtude• A garantia de um sistema justo• Assegura liberdade, igualdade e fraternidade
• Em conjunto harmonioso, o dinheiro, o amor e a virtude permitem felicidade.
Próximas Conversas
2.ª Conversa – 17 Novembro 2015Dinheiro: Sustenta ou Destrói?
3.ª Conversa – 24 Novembro 2015
Amor e Virtude
4.ª Conversa – 4 Dezembro 2015
Painel de discussão:Filomena MolderJoão Lobo AntunesRui Vilar