Post on 09-Jan-2019
Poupança para a VidaCrescer em númeroe ganhar hábitosde poupança: doisreptos para o futuroPoupança e demografia são dois temas-chave para o futuro da sociedade e economianacionais. Estiveram em debate na Fundação Champalimaud, na semana passada.
SUSANA TORRÃO
redacao@dinheirovivo.pt
Poupança e demografia foram os
principais temas em debate nopassado sábado, dia 13 de outubro,na Fundação Champalimaud, emLisboa. A conferência Uma Pou-
pança para a Vida, uma iniciativaconjunta da Real Vida Seguros,Dinheiro Vivo, TSF e Diário de No-tícias, trouxe para junto do Tejo adiscussão em torno de problemá-ticas como o atual défice demográ-fico nacional, envelhecimento e
longevidade - e respetivas conse-
quências na sustentabilidade doatual sistema da Segurança Social- ou a necessidade de incentivar a
poupança para garantir não ape-
nas uma velhice segura e confor-tável como o próprio dinamismoda economia do país.
ElizaFilby, especialista britânicaem história e comportamento ge-racional, deu o pontapé de saída nodebate com a comunicação "O fu-turo do país e a sua demografia".Partindo da análise das quatro ge-rações que hoje coexistem na so-ciedade - baby boomers, geração X,millennials e geração Z - Filby tra-
çou as expectativas sobre a vida e
o comportamento em relação às fi-
nanças e à poupança dos quatrogrupos.
Antecipando cenários, Filby es-timou que a população portugue-sa com 80 anos ou mais pode vir a
duplicar até 2060 e deixou um
alerta: se o nível de poupança nãoaumentar - e tendo em conta os
14% do PIB atualmente canaliza-dos para o pagamento de pensões-, é de esperar que os reformadosdo futuro venham a receber me-
nos 20% do que os atuais pensio-nistas.
Perante esta situação - e tendoem conta os fracos hábitos de pou-pança das gerações X e millennial-é necessário não só fomentar a
poupança como preparar os jovensde hoje para o mercado de trabalhodo século XXI, no qual a educaçãoao longo da vida, a agilidade e a tec-
nologia vão desempenhar um pa-pel cada vez mais fundamental.
No debate que se seguiu, TeimoFrancisco Vieira, coordenador doObservatório da Natalidade e En-velhecimento, Jorge Malheiro,geógrafo do Instituto de Geografiae Ordenamento do Território da
Universidade de Lisboa, Maria Fi-lomena Mendes, presidente da As-
sociação Portuguesa de Demogra-fia e Fernando Ribeiro Mendes,vice-presidente do think tarik Ci-dadania Social, puseram a tónicano atual défice demográfico portu-guês - desde 1982 que os nasci-mentos não são suficientes parafazer a reposição de gerações -, noenvelhecimento da população enas respetivas consequências nofuturo da economia e sistema de
pensões público, sublinhando anecessidade de fomentar hábitosde poupança junto das famílias.
Foi também esta a tónica prin-cipal da segunda oradora da ma-nhã, Jasmine Britles, jornalista e
especialista em temáticas finan-ceiras e de negócios. Traçando o
paralelo entre as realidades portu-guesa e britânica, a jornalista sub-linhou a necessidade prementede incentivar a poupança nos dois
países. Para Jasmine Britles, o
atual modo de gestão do sistemade pensões público assemelha-se
a um esquema de Ponzi, em que o
dinheiro entra e sai sem que sejafeito investimento. Assim, talcomo nos esquemas de Ponzi, adi-vinha-se que mais tarde ou maiscedo o sistema se torne insusten-tável.
A necessidade da aposta na li-terária financeira e uma atuaçãodo Estado que fomente a poupan-ça das famílias foram dois aspetossublinhados por Britles, que deuainda como exemplo o sistema
que entrou em vigor no ReinoUnido em 2012 dirigido aos traba-lhadores por conta de outrem.No referido sistema - que poderiadepois ser adaptado à realidadedos trabalhadores independentes-, a partir do momento em que é
contratado, cada trabalhador pas-sa a descontar de forma automáti-ca para um fundo de poupança.Para Jasmine Britles, é a situaçãomais fácil em países com uma fra-ca taxa de poupança, já que esta éautomática e, de certa forma, im-percetível.
No debate, Luís Laginha de
Sousa, administrador do Banco de
Portugal (BdP), Fernando Alexan-dre, professor associado da School
of Economics and Managementda Universidade do Minho, e o
economista João Duque refleti-ram sobre as alterações dos hábi-tos de poupança nacionais ao lon-go das últimas décadas, em parti-cular nos anos da crise. Laginhade Sousa explicou a forma comoas atuais recomendações do BdP -embora criadas para asseguraruma maior estabilidade do siste-ma financeiro - podem ser refle-tidas positivamente nos hábitosde poupança individuais. João
Duque alertou para as conse-quências da ausência de poupan-ça na economia nacional - que, a
longo prazo, se torna cada vezmais dependente do capital e in-vestimento externos, levando a
que a riqueza produzida saia do
país. Por seu turno, Fernando Ale-xandre lembrou o facto de muitasfamílias portuguesas não teremsequer o rendimento necessário
para, depois de suprir as necessi-dades quotidianas, constituirpoupança, estando o aforro con-centrado numa faixa muito redu-zida da população.
A conferência foi encerrada porJorge Braga de Macedo, ex-minis-tro das Finanças e professor daNova School of Business & Econo-mics, que também sublinhou a
importância da poupança das fa-mílias para o futuro da economianacional.
A poupança entrou no vocabulário dos portugueses e dos europeus, depois de muitos anos em que as palavrasde ordem eram consumo e crédito. Em Portugal, poupa-se pouco e os indicadores revelam que apenas 20%
das famílias são responsáveis por cerca de 80% da poupança. Poupar para a vida deve ser um desígnionacional e o Dinheiro Vivo e a TSF juntam-se à Real Vida Seguros neste projeto editorial para sensibilizar
os portugueses para a necessidade de fazerem poupança para o futuro.
1 400 pessoas encheram o au-ditório da Fundação Champali-maud para ouvir debates sobre
poupança, moderados porRosália Amorim (DV).2 Os economistas FernandoAlexandre e João Duque à con-versa sobre as dificuldadesde poupar em Portugal.3 Gonçalo Pereira Coutínho,presidente da Real Vida Segu-ros.
4 Jorge Braga de Macedo,
professor da Nova SBE e antigoministro das Finanças.5 Oaniet Proença de Carvalho,chairman do Global Media
Group.FOTOS: FILIPA BERNARDO/GI
12 medidaspara 100 milnascimentos
Observatório
para a Natalidadee Envelhecimento
quer que a natalidadeaumente para cem milnascimentos anuais.
Mais creches, redução ou flexi-bilização do horário de trabalhodos pais durante os primeirostrês anos de vida da criança,abono de família universal e a
gratuitidade dos manuais esco-lares do primeiro ao quarto anodo primeiro ciclo de escolarida-de são algumas das 12 medidas
propostas - e quantificadas -pelo Observatório para a Natali-dade e Envelhecimento em Por-
tugal. O objetivo é potenciar anatalidade em Portugal, cujo ín-dice de fertilidade realizada não
ultrapassa os 0,84% (muito lon-
ge dos 2,14 filhos por mulhernecessários para repor a popula-ção) e alcançar os cem mil nas-cimentos por ano - um númeroque atenuaria o défice demográ-fico, mas não o suficiente para o
reverter.Estas medidas vêm no segui-
mento de um estudo realizadopelo observatório ao longo dedois anos, o qual contou com1173 questionários validados,respondidos por indivíduos deambos os sexos, com idades en-tre os 18 e os 59 anos, residentesnas cidades de Lisboa, Évora,Coimbra e Faro. O inquérito re-velou que 15% dos inquiridosnão planeia ter filhos - dois ter-ços dos quais apontam "opçõespessoais de vida" como motivopara não procriar - e 75% dos
que já são pais não querem termais filhos.
As medidas apresentadas cor-
respondem às iniciativas maisvalorizadas pelos participantesdo estudo. E se a maioria é diri-
gida especificamente às famí-lias - aumento do número de
berçários e creches disponíveis;aumento de vagas no ensinopré-escolar; abono de famíliauniversal ou o alargamento da
licença de maternidade -, da lis-ta também constam medidas
dirigidas às empresas, como umprémio anual para aquelas quetenham na sua gestão práticasde apoio à natalidade.
Para deixar claro quanto é
que a passagem à prática destasmedidas custaria ao erário pú-blico, o observatório quantifi-cou o custo individual de cadauma. Assim, uma maior dispo-nibilidade de creches e berçá-rios, caso fosse apoiado a 100%
pelo Estado, implicaria um in-vestimento de 215 milhões deeuros anuais; já o abono de fa-mília universal (calculando 75euros por criança até ao segun-do filho e cem euros a partir do
terceiro) necessitaria de 43 mi-lhões de euros/ano e o alarga-mento da licença de maternida-de para os 180 dias mais 64 mi-lhões de euros.