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Arquitetura em bambu,Centro de Cultura Max Feffer
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REVISTA LABVERDE
V. II - N 2
LABVERDE - Laboratrio VERDE
FAUUSP - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Universidade de
So Paulo
JUNHO 2011ISSN 2179-2275
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Ficha Catalogrca
Servio de Biblioteca e Informao da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP
Revista LABVERDE, v.II, N 2
LABVERDE- Laboratrio Verde
Rua do Lago, 876 - Cidade Universitria, Bairro do Butant
CEP: 05508-900 So Paulo-SPTel: (11) 3091-4535
Capa: Mariana Oshima Menegon
Assunto: Centro Cultural Max Feffer, arquitetura em bambu, autoria de Leiko Hama Motomura, da
Amima Arquitetura de Mnimo Impacto sobre o Meio Ambiente
e-mail: labverde@usp.br
Home page: www.usp.br/fau/depprojeto/revistalabverde
REVISTA LABVERDE/ Universidade de So Paulo. Faculdade de Arquitetura e Urba-
nismo. Departamento de Projeto. LABVERDE- Laboratrio Verde v.2, n.2 (2010)- .
So Paulo: FAUUSP, 2010
Semestral
v.: cm.
v.2, n.2, jun. 2011
ISSN: 2179-2275
1. Arquitetura Peridicos 2. Planejamento Ambiental 3. Desenho Ambiental 4. Sus-
tentabilidade I. Universidade de So Paulo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Departamento de Projeto. LABVERDE. II. TtuloCDD 712
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n 02 | So Paulo, Junho de 2011
Revista LABVERDE
Junho - 2011
ISSN: 2179-2275
Universidade de So Paulo
Joo Grandino Rodas (Reitor)
Hlio Nogueira da Cruz (Vice-Reitor)
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Marcelo de Andrade Romero (Diretor)Maria Cristina da Silva Leme
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Colaboradores
Antonio Franco
Oscar Utescher
Desenvolvimento de web
Edson Moura
Mariana Oshima Menegon
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Revista LABVERDE
SUMRIO
1. EDITORIAL
Maria de Assuno Ribeiro Franco
2. ARTIGOS
OS ATERROS SANITRIOS DESATIVADOS E O SISTEMA DE REAS
VERDES DA CIDADE DE SO PAULO: POSSIBILIDADE DE INTEGRAO
The Disabled Landlls And Green Areas System Of So Paulo City: The
Integration Possibility
Monica Machado Stuermer, Prola Felipette Brocaneli e Maria Elena Merege
Vieira.
REDUTOS RURAIS: ESTRATGIA DE RESILINCIA E INFRAESTRUTURA
VERDE URBANA. ESTUDO DE CASO EM VALINHOS, SP - BRASIL
Rural Remains: Strategy of Resilience and Urban Green Infrastructure.
Case Study in Valinhos, SP BrazilLa Yamaguchi Dobbert, Larissa Leite Tosetti, Sabrina Mieko Viana
SISTEMA DE INFORMAO COMO INSTRUMENTO DE GESTO DA
QUALIDADE AMBIENTAL
Information System As An Instrument Of Environmental Quality Mana-
gement
Patricia Helen Lima
A EVOLUO DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL URBANA E AS IN-
TERFERNCIAS DA TICA
The Evolution of the Urban Environmental Sustainability and the Ethics
Interferences
Deize Sbarai Sanches Ximenes
007
010
030
045
061
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ARQUITETURA DA COMPLEXIDADE: DESIGNA SERVIO DA VIDA EM
UM ESTUDO DE CASO NO SUL DE MINAS GERAIS
Architecture of Complexity: Design Aimed at Serving Life in a Case Stu-
dy in the South of Minas Gerais
Evandro de Castro Sanguinetto
OIKOS: REINTEGRANDO NATUREZA E CIVILIZAO
Oikos: Reintegrating Nature and Civilization
Jos Otvio Lotufo
3. ENTREVISTA
BETTY FEFFER
Centro Max Feffer: um centro de referncia em cultura e sustentabilidade no
Polo Cuesta, Pardinho, SP.
4. DEPOIMENTOS
BIA GUERRA
Instituto Jatobs: atuao na cultura e valores de sustentabilidade junto
comunidade de Pardinho.
CATHARINA PINHEIRO
Em Pauta o Cdigo Florestal
5. COMUNICADOS
Normas para Apresentao de Trabalhos
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134
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1. EDITORIAL
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EDITORIAL
Na Revista LABVERDE N 2 foram reunidos seis artigos, uma entrevista e dois de-
poimentos sob o tema Projetos Sustentveis. O leitor observar, no entanto, que
todos os textos aqui apresentados discutem, de uma maneira ou de outra, a susten-
tabilidade ligada a uma nova tica, denominada tica ambiental ou ecolgica que, na
verdade, poderia ser tratada, tambm, como temtica deste nmero.
O primeiro artigo apresenta uma interessante proposta de recuperao de aterros
sanitrios desativados do municpio de So Paulo, transformando-os em parques p-
blicos, que, segundo as autoras Stuermer, Brocaneli e Vieira, uma vez interligados aosdemais parques, por meio de corredores verdes, podero aumentar consideravelmen-
te o ndice de reas verdes por habitante em nossa Cidade.
Dobbert, Tosetti e Viana, no segundo artigo, despertam a ateno para a questo da
conservao e recuperao de redutos rurais como estratgia de resilincia e infra-
estrutura verde diante do processo de urbanizao e apresentam o caso de redutos
rurais de interesse ambiental, histrico e cultural na cidade de Valinhos, SP.
O terceiro artigo, apresentado por Lima, ressalta a importncia da adoo, por parte
do setor pblico, de novas tecnologias ligadas aos Sistemas Geogrcos de Informa-
o para a formulao e gesto de polticas pblicas, especialmente no nvel local,
para a promoo da qualidade ambiental e a sustentabilidade urbana.
O artigo de Ximenes, o quarto, discute a questo da evoluo da tica nas vises
antropocntrica e biocntrica e suas implicaes nos problemas sociais e ambientais
da atualidade, tratando o problema da sustentabilidade, antes de tudo, como um pro-blema tico.
No quinto artigo, Sanguinetto apresenta um interessante experimento de uma casa
ecolgica integrada ao lote, ao ecossistema e paisagem local no municpio de Piran-
guinho, no sul de Minas Gerais.
Lotufo, no sexto artigo, preocupa-se em incorporar os princpios ecolgicos ao ato
de projetar o edifcio e a cidade, discutindo o problema como reexo de uma lgica
mercadolgica mecanicista, distanciada das leis naturais que regem o funcionamento
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Revista LABVERDE
dos ecossistemas. O texto aponta a possibilidade de uma nova maneira de projetar
tanto edifcios quanto o espao urbano, que incorpore os processos ecossistmicos,
no caminho da sustentabilidade.
A entrevista com Betty Feffer revela uma experincia indita, na cidade e municpio
de Pardinho, feita por uma organizao no governamental, atrelada ao Projeto Plo
Cuesta1, com a criao do Instituto Jatobs e posteriormente o Centro Max Feffer
-Cultura e Sustentabilidade, que rene diversas atividades de cunho social visando a
implantao do modelo Ecopolo de Desenvolvimento Sustentvel. A sede do Centro
Max Feffer, de autoria da arquiteta Leiko Hama Motomura e da empresa Amima Ar-
quitetura de Mnimo Impacto sobre o Meio Ambiente, cuja foto capa desta edio,
tornou-se uma referncia regional e nacional em arquitetura sustentvel.
Dois depoimentos completam esta edio: o da Professora da FAUUSP Catharina P.
Cordeiro Lima, sobre os recentes embates sobre as implicaes do Novo Cdigo Flo-
restal Brasileiro e o de Bia Guerra, coordenadora das atividades do Centro Max Feffer,
cujas atividades esto centradas na educao para a sustentabilidade.
Tenham uma boa leitura!
Maria de Assuno Ribeiro Franco
Editora da Revista LABVERDE
1 O Plo Cuesta um projeto de iniciativa da Secretaria de Turismo do Estado de So Paulo,
com foco em turismo sustentvel, iniciado em 2001. O projeto est em desenvolvimento, envolvendo
dez cidades do interior de So Paulo, na regio de Botucatu. So elas: Anhembi, Areipolis, Bofete,
Botucatu, Conchas, Itatinga, Paranapanema, Pardinho, Pratnia e So Manuel.
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ARTIGO N1
OS ATERROS SANITRIOS DESATIVADOS E O SISTEMA DE REAS VERDES
DA CIDADE DE SO PAULO: POSSIBILIDADE DE INTEGRAO
The Disabled Landlls And Green Areas System Of So Paulo City: The
Integration PossibilityMonica Machado Stuermer, Prola Felipette Brocaneli e Maria Elena Merege Vieira.
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OS ATERROS SANITRIOS DESATIVADOS E O SISTEMA DE REAS VERDES
DA CIDADE DE SO PAULO: POSSIBILIDADE DE INTEGRAO
Monica Machado Stuermer
Prola Felipette Brocaneli
Maria Elena Merege Vieira
Engenheira civil, Doutora em Geotecnia Ambiental pela Escola Politcnica da USP. Leciona na
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
E-mail: mstuermer@mackenzie.br
Arquiteta e Urbanista pela FAU Mackenzie. Doutora em Paisagem e Ambiente pela FAU-USP.
Leciona na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
E-mail: perola@mackenzie.br
Arquiteta e Urbanista pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Doutora em Paisagem e
Ambiente pela FAU USP Leciona na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Presbiteriana Mackenzie. E-mail: mariaelena@mackenzie.br
Resumo
O trabalho aqui apresentado tem por objetivo estudar os aterros sanitrios desativa-
dos do municpio de So Paulo e sua relao com as reas verdes, da cidade, apre-
sentando algumas idias para interveno e insero dos mesmos na malha verde
urbana, de forma a contribuir para a melhora a qualidade ambiental do municpio de
So Paulo e de seus habitantes, atravs do aumento das reas verdes municipais esuas conexes.
Palavras Chaves: Aterro sanitrio, reas verdes de uso restrito, revitalizao am-
biental urbana, ecologia da paisagem, corredores verdes.
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THE DISABLED LANDFILLS AND GREEN AREAS SYSTEM OF SO PAULO
CITY: THE INTEGRATION POSSIBILITY
Abstract
This work aims to study the disabled sanitary landlls of the city of So Paulo and their
relation with the green areas, presenting some ideas for intervention and insertion of
them in the urban green mesh, of form to improve the ambient quality of the city of So
Paulo and its inhabitants, through the increase of the municipal green areas and its
connections.
Key-words: Sanitary Landll, Green Areas of Restricted Use, Urban EnvironmentalRevitalization, Landscape Ecology, green corridors.
1.INTRODUO
Grande parte dos problemas urbanos atuais do Municpio de So Paulo decorrem do
vertiginoso crescimento ocorrido a partir da sua industrializao, que ocasionou tanto
a sua riqueza como sua pobreza e seus maiores problemas ambientais.
J na dcada de 1960, a cidade j apresentava problemas em con-
seqncia da no aplicao de uma poltica urbana ambiental a m-
dio e longo prazo. A partir da dcada de 70 comearam as discus-
ses sobre questes ambientais urbanas, onde os principais pontos
eram a carncia de reas verdes, a poluio atmosfrica e dos re-
cursos hdricos e a destinao dos resduos slidos, entre outros.
Nos anos 80 difundiu-se o paradigma ambiental pela sociedade, deforma generalizada e nos anos 90, este passa a dominar a noo
de interdependncia planetria, questes que transparecem direta-
mente na cidade de So Paulo, permeando a elaborao do Plano
Diretor Estratgico, em 2002.
A diferena de temperatura entre as regies centrais e os bairros arborizados e Par-
ques, dentro da Mancha Urbana, chega a 5C, e entre as regies perifricas ainda
recobertas por vegetao, esta diferena atinge at 10 C em um mesmo momento,
fenmeno conhecido como Ilha de Calor, (Atlas Ambiental de So Paulo, 2002) .
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O mesmo documento demonstra que as reas mais quentes da cidade so aquelas
onde h a menor concentrao de verde, maior impermeabilizao do solo e os maio-
res ndices de poluio atmosfrica.
Os espaos verdes suprem os quarteires adjacentes a reas verdes com ar mais
fresco. Deneke e Grey (1992) colocam que o efeito da vegetao na temperatura do
ar ser mais signicativo quando ela for plantada em reas totalmente desprovidas de
vegetao. As Ilhas de Calor, tambm podem ser amenizadas pelo adensamento do
verde, acrescentando-se ainda que as pesquisas indicam que a vegetao quando
plantada de forma dispersa, isto , no concentrada em grandes manchas verde, fun-
ciona de forma mais eciente para absoro dos poluentes.
O sistema de reas verdes de uma cidade deve incluir remanescentes expressivos de
vegetao nativa, protegidos em Unidades de Conservao, trechos marginais arbori-
zados (como as reas de domnio de rodovias, encostas de barreiras etc.), reas parti-
culares e pblicas de uso restrito (stios, quintais, jardins etc.), alm dos parques, pra-
as, e jardins municipais, de uso pblico. Cada modalidade de rea verde exerce um
papel importante na qualidade ambiental das cidades. O projeto de paisagismo deve
valorizar a natureza, recompondo a vegetao nativa, propondo espaos contempla-
tivos que sirvam de atrativo fauna silvestre, notadamente avifauna, objetivando abiodiversidade; deve ter como ponto de partida o aproveitamento das qualidades que
a natureza proporciona, trazendo tona a demonstrao do conceito de preservao
ambiental. A paisagem, tendo fundamentalmente uma conotao espacial e traduz na
sua sionomia as interaes dos fatores naturais e antrpicos que estruturam e modi-
cam o funcionamento dos sistemas ambientais por ela congurados. Outro fator con-
siderado na elaborao do projeto est associado s funes microclimticas da rea
em questo, cuja melhoria advm das sombras e reteno de umidade proporcionada
pelas rvores, permitindo o contato do usurio com elementos naturais. A implantaode coberturas vegetais distintas cria uma srie de ambientes diferenciados em uma
rea que, de outra maneira, poderia ser um grande e inspito descampado, funcio-
nando como estruturadoras de espao; estas causam impacto positivo, respeitando
as caractersticas naturais da rea, inserindo o empreendimento dentro do contexto
regional. Alm disso, a cobertura vegetal p0ode recuperar reas degradadas, como
aterros sanitrios.
Os aterros sanitrios provocam diversos impactos ambientais, no s em sua fase de
implantao e funcionamento, mas tambm quando de seu fechamento e desativa-
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o, provocando, muitas vezes, a degradao da rea local e do entorno. Estes locais
necessitam de tratamento diferenciado ao de outras reas degradadas, devido a fato-
res como a liberao de gs metano que representa um dos maiores limitantes para a
implantao de vegetao, dos riscos de exploso, do recalque diferencial do terreno,
problemas de drenagem e compactao da camada supercial do solo utilizado no
preenchimento do terreno (MATA E ANDRADE: 2000; SILVA: 2001).
As reas de solo remanescentes dos aterros sanitrios urbanos podem ser considera-
das como reas degradadas. Segundo a NBR 10703 (ABNT: 1989) a degradao do
solo denida como:
alterao adversa das caractersticas do solo, em relao aos seus diversos usospossveis, tanto os estabelecidos em planejamento quanto os potenciais. A mesma
norma dene recuperao do solo como: processo de manejo do solo no qual so
criadas condies para que uma rea perturbada ou mesmo natural seja adequada a
novos usos.
Na cidade de So Paulo so gerados aproximadamente 15 milhes de toneladas de
lixo por ano. Os resduos slidos se apresentam, ento, como um grande desao
para a sociedade, exigindo recursos tcnicos, nanceiros e administrativos munici-pais para o seu manejo adequado. Uma das formas de disposio destes resduos
o aterro sanitrio, um sistema controlado que minimiza os impactos da disposio
dos mesmos e considerado o sistema mais eciente para a disposio dos resduos
slidos domsticos. No entanto ao trmino da vida til dos aterros, um programa de
recuperao destas reas pode auxiliar a suprir a falta de reas verdes do municpio,
reintegrando-as na forma de parques, criando no uma massa verde pontual, mas um
sistema integrado.
A proposta do presente trabalho a criao de uma rede verde na cidade (corredores
verdes) interligando reas verdes (parques e reas verdes signicativas) e as franjas
das reas dos aterros sanitrios desativados, com o intuito de ampliar as possibilida-
des de trnsito da biodiversidade da fauna e ora na escala da cidade.
2. AS REAS VERDES NO MUNICPIO DE SO PAULO
O municpio de So Paulo apresenta um ndice mdio de reas verdes/habitante de
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cerca de 4,9 m2/hab (SVMA, 2008), valor muito abaixo do mnimo recomendado pela
OMS (Organizao Mundial da Sade) de 12 m/habitante.
Observa-se que este um problema histrico no municpio, que nunca apresentou
taxas de reas verde elevadas, conforme demonstra a tabela 1 a seguir:
Ano reas Verdes Populao ndice
Anterior a 1860
1860-1890
1890-1920
1920-1950
1950-1980
1980-1996
143.428
143.428
326.527
13.933.627
26.680.135
37.084.581
31.385
64.934
579.033
2.189.096
8.493.226
10.220.783
4,57
2,21
0,56
6,37
3,14
3,63Tabela 1:Evoluo das reas verdes no Municpio de So Paulo (KOHLER et al,
2000).
Para efeito de comparao com grandes cidades, Buenos Aires apresenta ndice de
9 m2/hab, Curitiba, 16 m2/hab, Londres, 71 m2/hab e Los Angeles, 111 m2/hab (EM-
PLASA, 2000).
Os parques municipais apresentam realidades bastante diversas, variando em ex-tenso, vegetao, equipamentos e contexto social. Alm das atividades de lazer de-
senvolvidas diariamente pelo pblico usurio, outras atividades complementares so
promovidas pelas diferentes divises do DEPAVE, Secretarias Municipais, outras ins-
tncias governamentais e entidades civis, tais como: investigao cientca, educa-
o ambiental, cursos, produo de mudas, atendimento mdico-veterinrio, eventos
artsticos e culturais (KOHLER et al, 2000).
Entre os parques municipais, o maior deles o Parque Anhanguera, na regio nortedo municpio, ocupando 9.500.000m2. A maior parte de sua rea reorestada com
eucaliptos. A seguir aparece o parque do Carmo, na zona leste, com 1.500.000 m2,
localizado dentro de rea de Proteo Ambiental. O parque possui remanescente de
mata ciliar e mata atlntica nativa. O Parque do Ibirapuera localizado na regio sul do
Municpio o parque mais popular da cidade, com 1.584.000 m2 (SVMA, 2008).
Entre os parques estaduais, a maior rea pertence ao Parque Estadual da Serra do
Mar com 44.322.946m2. Este parque abrange diversos municpios de So Paulo, com
rea total de 309.938 hectares. A vegetao de Mata Atlntica tpica de encosta e
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compreende o cinturo verde sobre a Serra do Mar. O Parque Estadual da Cantareira,
com rea de 40.519.593 m2, faz parte da Reserva Estadual da Cantareira e tem co-
bertura orestal em praticamente toda sua extenso, que considerada de preserva-
o permanente, formada principalmente pela Mata Atlntica. Estas duas reas ainda
no esto englobadas pela malha urbana. As demais reas verdes estaduais situam-
se dentro da rea urbana. (KOHLER et al, 2000).
Em relao s reas privadas, KOHLER et al,(2000) observam que os maiores ndices
de reas verdes e de arborizao em propriedades particulares se do nos bairros
onde predominam a populao de mdia e alta renda. Os autores colocam que, se as
reas verdes particulares fossem somadas s reas pblicas, ter-se-ia um valor de
ndice de reas verdes de 12,42 m2/hab, atendendo ao valor mnimo recomendadopela OMS.
Observa-se, no entanto, a m distribuio destas reas verdes no espao urbano.
Algumas regies so muito bem servidas e outras completamente nuas de vegetao.
Segundo dados da SVMA (2000), a regio do Itaim Paulista, Santa Ceclia e Brs
apresentam taxas de vegetao/habitante prximas de zero, enquanto a regio da
Capela do Socorro apresenta taxa de 162 m2/habitante.
Em 2012, a prefeitura pretende atingir a marca dos 100 parques municipais, um au-
mento considervel de reas verdes, passando de 9.000.000m para aproximada-
mente 50.000.000 m na cidade de So Paulo, nmero que no inclui os parques
estaduais e nem mesmo as APAs (reas de Proteo Ambiental). Atingindo esta meta,
a cidade passar a contar com um total de 86.130542 m de reas verdes pblicas.
Adotando-se uma populao de 11,0 milhes no municpio para 2012 (projeo SE-
ADE, 2003), a taxa de rea verde passar dos atuais 4,9 m2/hab para 7,8 m2/hab,
o que ser um feito extraordinrio. (Neste total no esto contabilizadas as praas edemais reas verdes).
Os novos parques, locados de forma mais equilibrada pelo territrio urbano, segundo
mostra o mapa 2, buscam reduzir o desequilbrio na distribuio de reas verdes do
municpio (PMSP, 2008) .
No entanto, atingir o valor mnimo recomendado pela Organizao Mundial da Sade
de 12 m2/habitante parece distante, em uma cidade j densamente ocupada, onde
so poucas e pequenas as reas livres que podem ser destinadas a parques e praas
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sem a necessidade de desapropriaes.
Mapa 1:Localizao dos Parques Municipais na Regio Metropolitana de So Paulo.
http://ww2.prefeitura.sp.gov.br/mapa_verde/asp/home.asverde/
reas degradadas podem vir a suprir a falta de reas verdes se reintegradas ao mu-
nicpio na forma de parques. A recuperao de uma rea degradada no representa
a volta s condies iniciais existentes, mas sim uma nova destinao de uso darea, de forma sustentvel, atravs de uma estratgia de utilizao em conformidade
com valores ambientais, estticos e sociais. Majer (1989, apud Oliveira, 2005) utili-
za o termo reabilitao para a recuperao da rea, podendo esta reabilitao ser
condicional, onde as aes antrpicas direcionam os fenmenos naturais, como no
caso de plantaes e pastagens; ou ento, uma reabilitao auto-sustentvel, onde as
aes humanas agem at um determinado ponto, a partir do qual a prpria natureza
caminha para um equilbrio sustentvel, como no caso de um reorestamento. Desta
forma apesar de no ser possvel a recuperao original da rea, pode-se obter um
ecossistema alternativo, auto-sustentvel.
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Mapa 2:Projeto dos 100 Parques propostos no Municpio de So Paulo Fonte: DE-
PAVE, PMSP
3. OS ATERROS SANITRIOS NO MUNICPIO DE SO PAULO
Segundo a norma NBR 8149 da Associao Brasileira de Normas Tcnicas ABNT
(1987):
Aterro sanitrio de resduos slidos urbanos consiste na tcnica de
disposio de resduos slidos no solo, sem causar danos ou riscos
sade pblica e a segurana, minimizando os impactos ambien-
tais, mtodo este que utiliza princpios de engenharia para connar
os resduos slidos menor rea possvel e reduzi-los ao menor
volume permissvel, combinando-os com uma camada de terra na
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concluso de cada jornada de trabalho e em intervalos menores se
necessrios.
O inventrio de resduos slidos do Estado de So Paulo de 2000 CETESB (2002)
mostra que os aterros sanitrios vm melhorando suas caractersticas de disposio
dos resduos, tomando lugar dos lixes. Ainda assim, os possveis impactos ambien-
tais so bastantes crticos, tais como: liberao de gases e material particulado, ge-
rao de rudo, produo de vetores de doenas, degradao do solo e da paisagem
do local, degradao da fauna e ora e ainda a possvel contaminao do solo e das
guas superciais e subterrneas pelo chorume percolado. O primeiro aterro sanitrio
regular da cidade, o de Lauzane Paulista - situado na vila Santa, surgiu somente em
1974, (KAHTOUNI,2004). Os primeiros aterros no apresentavam a estrutura sani-tria dos aterros atuais. A partir da dcada de setenta, com a exploso populacional
na Regio Metropolitana de So Paulo foi necessria a estruturao da disposio e
destino nal dos resduos urbanos.
A tabela 3 relaciona os principais aterros sanitrios existentes na cidade, todos desati-
vados (aqui esto relacionados aqueles que foram localizados junto Limpurb, rgo
responsvel pelos aterros do municpio).
ATERRO
Lauzane
Paulista
Jardim
Damasceno
Eng. Goulart
Raposo Tavares
Santo Amaro
Vila So
Francisco
Vila.Albertina
Carandir
Pedreira Itapu
Sapopemba
Vila Jacu
So Mateus
LOCALIZAO
Av. Dr. Francisco Raniere x Av. Adolfo Coelho zona
norte
R. Feliciano Malabia alt. N. 500 zona norte
Pq. Ecolgico do Estado zona norte
Rod. Raposo Tavares, km 14,5
Av. Naes Unidas x Av. Interlagos zona sul
Av. Imperador x Av. gua Haia zona leste
R. Jos Aguirre de Camargo zona norte
Av. Zachi Narchi zona norte
Av. Lder x R. Agostinho de Faria zona leste
Av. Sapopemba zona leste
Av. Mimo do Vnus zona leste
Marg. Esquerda do crrego Fazenda Velho zona
leste
FUNCIONAMENTO
02/1974 11/1974
02/1975 12/1975
04/1975 01/1976
07/1975 08/1979
04/1976 02/1995
06/1976 07/1976
03/1977 - 1993
01/1977 03/1977
12/1978 11/1979
11/1979 02/1984
03/1981 08/1988
02/1984 01/1986
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Tabela 3: aterros sanitrios na cidade de So Paulo. Fonte : Limpurb/PMSP 2006.
O mapa 3 apresenta a localizao esquemtica dos mesmos:
ATERRO
Bandeirantes
Stio So Joo
LOCALIZAO
Rod. Bandeirantes, km 26,5 zona noroeste
Estr. Sapopemba, km 33 zona leste
FUNCIONAMENTO
09/1979 11/2007
12/1992 11/2007
Mapa 3:Localizao esquemtica dos aterros desativados no Municpio de So Pau-
lo. Fonte: Departamento de Planejamento Secretaria Municipal de reas Verdes e
Meio Ambiente.
Os aterros se localizam, em sua maioria na zona leste e nas bordas da cidade, uma
vez que, quando da implantao dos mesmos, estas eram as reas menos ocupadas
do municpio. No entanto, quase todas as reas ocupadas por aterros sanitrios, se
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encontram hoje em regies com densa urbanizao e escassez de vegetao, vias
pouco arborizadas e carncia de praas e jardins pblicos.
Alm disso, alguns destes aterros vm sendo ocupados de forma ilegal, sendo que
alguns deles j apresentaram problemas pela urbanizao irregular. A ocupao da
rea do aterro de Lauzane Paulista uma das citadas pela secretaria do Meio Am-
biente da cidade de So Paulo como das mais inadequadas.
Na zona norte, o aterro do Jardim Damasceno, aps desativao foi transformado em
rea de esportes, mas foi invadido e hoje virou uma favela. Os moradores contam que:
Quando os nibus ou caminhes descem a rua, minha casa balana. Deve ser por
causa do lixo embaixo da terra e tambm observam que no podem cavar dois me-tros de fossa por causa do perigo com o gs do lixo. Outros relatam que: o piso da
casa vive rachado, no tem jeito de consertar, mas isso comum por aqui. (Folha de
So Paulo, 09/12/2001)
O aterro Carandir tambm encontra-se tomado por ocupaes irregulares e a favela
instalada neste local j sofreu quatro incndios, sem causa denida (Folha de So
Paulo, 09/12/2001). Especula-se que os gases liberados pelo aterro possam ser res-
ponsveis pelos incndios.
No entanto, essas reas que no fazem parte da lista das reas de ateno perma-
nente da prefeitura, e no sofrem avaliao do potencial de risco, tais como: incn-
dios, exploses, rachaduras e desabamentos por instabilidade do solo e reacomoda-
o da massa de lixo. Como a maior parte dessa ocupao resultado de invases,
ou ocorreu h muito tempo, no passaram por nenhum tipo de anlise ambiental.
De Leo (2006) arma que mesmo tendo sido desativados h quase vinte anos, osaterros sanitrios da cidade de So Paulo ainda continuam contaminando as reas
vizinhas e expondo a populao a riscos, em funo do chorume e do gs metano pro-
duzido pela decomposio do lixo. Segundo o autor, os cinco aterros potencialmente
poluidores dentro de So Paulo so o da Vila Albertina, na Zona Norte, o de Santo
Amaro, Zona Sul, e os de Sapopemba, Vila Jacu e So Mateus, na Zona Leste.
Cada aterro tem suas particularidades e riscos. No aterro da Vila Albertina, Santo
Amaro e no de Sapopemba o pesquisador constatou maior incidncia de leptospirose
do que em outras regies da cidade. Segundo o gegrafo, o aterro de Sapopemba
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o que mais oferece riscos ambientais e sociais. J o aterro em melhores condies
seria o da Vila Jacu.
Esta mais uma razo para se dar destino adequado s reas de disposio de
resduos quando de sua inativao. Bitar (1997) arma que o planejamento do uso
ps-fechamento do aterro em reas urbanas j deve ser contemplado quando do pla-
nejamento do aterro em si, exigindo solues compatveis com a destinao futura do
local, com as caractersticas de uso e ocupao de solo e com a demanda social da
cidade.
O mapa 4 apresenta uma sobreposio das reas verdes e dos aterros anitrio desa-
tivados, ou seja, a sobreposio dos mapas 2 e 3.
Mapa 4:Localizao dos aterros no municpio de So Paulo, com superposio dos
Parques Municipais.
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4. A REINTEGRAO DO ATERRO SANITRIO NA PAISAGEM
O uso ps fechamento de um aterro bastante restrito, e a edicao sobre estas
reas no recomendada, em funo da instabilidade do macio e da formao de
gases que produz riscos de exploso. Por outro lado, a demanda por reas verdes
dentro de centros urbanos direciona a recuperao das reas atravs do processo de
revegetao, destinando-as aos mais diversos usos, tais como preservao ambiental
ou lazer. Estas reas verdes podem servir para campos de jogos, jardins pblicos,
entre outros, alm da possibilidade de implantao de uma usina de biogs.
Como exemplo de ocupao adequada, tem-se o Parque Raposo Tavares. Criado em
1981, com rea de 195.000 m2 o Parque Raposo Tavares destaca-se como o primei-ro parque da Amrica do Sul a ser construdo sobre um aterro sanitrio. Apresenta,
por isso, caractersticas peculiares: seu solo formado por camadas de lixo e terra
compactados, sendo revestido por uma camada de argila para diminuir a emanao
de gases, e por outra de terra que serve de substrato vegetao. Localizado junto
rodovia Raposo Tavares, o Parque homenageia o bandeirante de mesmo nome.
A vegetao existente no local totalmente introduzida e tem a vida dicultada pelo
fato de crescer em cima de um aterro sanitrio. No parque so encontradas reasajardinadas com arbustos, herbceas ornamentais, gramneas, bosques baixos e le-
guminosas. A existncia de aves favorecida pela vegetao: joo-de-barro, chopim,
rolinha, sabi-do-campo, bico-de-lacre, bem-te-vi, pica-pau-do-campo, quero-quero,
sanhao e outras. H ainda alguns rpteis inofensivos, como cobras no venenosas e
mamferos, como gambs e pres. O parque funciona das 7 s 18 horas e possui es-
tacionamento, acesso para cadeirantes, sanitrios, pista de cooper, trilhas para cami-
nhadas, aparelhos de ginstica, quadra de campo, quadra poliesportiva,play-ground
e rea de estar.
Outro caso de ocupao de um antigo lixo encontra-se em Salvador, Bahia; entre
1974 e 1997 o local recebeu todo o lixo produzido pela capital baiana e era um dos
smbolos de degradao da cidade; foi transformado num parque socioambiental pio-
neiro no Pas, inaugurado pela Prefeitura de Salvador em parceria com o governo do
Canad.
Um antigo lixo de Salvador, que entre 1974 e 1997 recebeu todo
o lixo produzido pela capital baiana e era um dos smbolos de de-
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gradao da cidade, foi transformado num parque socioambiental
pioneiro no Pas, inaugurado pela Prefeitura de Salvador em parce-
ria com o governo do Canad . (www.estadao.com.br e http://www.
crea-rs.org.br/crea/jornal/04/novidades.asp)
A rea foi urbanizada, com a construo de parques, reas para a prtica de esportes
e outros equipamentos que esconderam, sob a terra, as toneladas de lixo acumuladas
ao longo de duas dcadas. O complexo capaz de produzir energia eltrica a partir
de biogs e manter uma usina de triagem de detritos, uma unidade de compostagem
para produo de adubos, outra de reciclagem de entulho para fabricao de tijolos e
uma escola-ocina.
Outra proposta ambiental de ocupao nasceu conjuntamente com o Plano Integrado
de Melhoria Ambiental na rea de Mananciais da Billings, com seis intervenes prio-
ritrias, duas de responsabilidade da Companhia de Saneamento Bsico do Estado
de So Paulo (Sabesp) e outras quatro da prefeitura de So Bernardo. O aterro sani-
trio do Alvarenga funcionou no perodo de 1974 a 1986 e era utilizado pelos munic-
pios de So Bernardo e Diadema. Para remediar o problema, sero adotadas aes
como drenagem de gases e gua de chuva, aterro de uma rea de aproximadamente
25 hectares, tanque de conteno e tubulaes para captao do chorume Tambmsero construdos Poos Subterrneos para Monitoramento Ambiental, um Centro de
Estudo e Experimentao Ambiental e um Centro de Gerenciamento de Qualidade de
gua. O Centro de Estudo e Experimentao Ambiental ter como mais importantes
funes: promover a educao ambiental, difundir a conscincia ambiental, consoli-
dar o intercmbio de informaes e dar apoio e cooperao as atividades feitas pela
populao do entorno. O Centro de Gerenciamento de Qualidade de gua ter como
diretrizes principais a divulgao dos dados de monitoramento da gua da represa e
administrao conjunta com os municpios que fazem parte da bacia.(http://www.estado.com.br/editorias/2007/03/28).
Observa-se que o plano de encerramento e respectivos projetos de recuperao am-
biental e eventual uso seqencial da rea utilizada, deve ser especco para cada
aterro, e considerar as particularidades do compartimento ambiental e as condies
de sua implantao e operao.
A proposta de uso futuro da rea deve considerar que os resduos aterrados ainda
permanecem em processo de decomposio aps o encerramento das atividades por
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perodos relativamente longos, que podem ser superiores h 10 anos (FEAM, 1995).
Assim, independente do encerramento das atividades de recuperao do aterro, os
sistemas de drenagem supercial de guas pluviais e de tratamento dos gases e
lquidos percolados devam ser mantidos por um perodo de cerca de 30 anos. Este
perodo padro (default) adotado por ser considerado suciente para o macio de
lixo alcanar as condies de relativa estabilidade (ALBERTE et al., 2005).
Para uso futuro dos aterros indicada a implantao de reas verdes, com equipa-
mentos comunitrios como praas esportivas, campos de futebol e reas de convvio,
nos casos de aterros prximos a reas urbanizadas. Em todos os casos, a requalica-
o do aterro deve integrar a rea ao seu entorno, considerando-se, principalmente,
as necessidades da comunidade local, suprindo os anseios e expectativas da popula-o diretamente afetada.
5. A INTEGRAO DOS ATERROS DESATIVADOS S REAS VERDES DA
CIDADE
A recuperao dos aterros j uma realidade em nosso Municpio, mesmo que ainda
de forma incipiente. No entanto, um tratamento de forma integrada, organizando-seum sistema de reas verdes que concentre as funes de melhoria da qualidade do
meio e a recuperao de reas degradadas, uma viso que se pretende alcanar
com uma interligao entre as reas de aterros sanitrio desativados nas cidades.
Estudos realizados por Volpe-Filik et al (2007) demonstram que o aterro de Sapopem-
ba, por exemplo, na zona leste, por se tratar de uma extensa rea (38 ha) encravada
em rea totalmente ocupada por populao, aps sua recuperao, pode formar um
corredor verde, interligando o Morro do Cruzeiro, Sapopemba, Mau e Baixada San-tista.
As reas dos aterros desativados no Municpio de So Paulo possuem caracters-
ticas prprias; conforme a Teoria dos Ecossistemas (DRAMNSTD, OLSOM e FOR-
MAN,1996) trata-se de um meio ambiente bastante diferenciado e signicativo, carac-
terizando uma ocupao antrpica especica, bastante comprometida, aqui denida
como lixo desativado.
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Para a revitalizao destas reas fragmentadas, propem-se, neste trabalho, duas
ocupaes diferenciadas:
1. Recuperao da rea interna, aqui denominada rea Ncleo (AN), de acordo
com a Lei 13.564 de 20034, referente ao Passivo Ambiental. Esta rea ter ocupao
respeitando propostas especicas j utilizadas em outros aterros, conforme exemplos
expostos, onde, em grande parte prope-se equipamentos edicados;
2. Recuperao da franja deste territrio, aqui denominada rea de Recomposio
Ambiental (ARA), de forma a integr-la s reas verdes conectivas da cidade, na
forma de corredores verdes, objetivando uma forma de recolonizaro ecolgica. Na
maior parte das vezes, parte desta franja ocupada por favelas e outras habitaes
de baixa renda que necessitam ser desocupadas para garantir sua recomposioambiental.
Para melhor classicao foram estabelecidas as seguintes siglas:
ARA 1 rea de Recomposio Ambiental (Classe 1): apresentando solo conta-
minado, com obrigao de remediao.
ARA 2 reas de Recomposio Ambiental (Classe 2): apresentando poluiodas guas superciais, com obrigao de tratamento de euentes; perda de espcies
de fauna e ora, perda de patrimnio cultural, com obrigao de recomposio ou
compensao.
4 Lei 13.564 de 24/4/2003 - Dispe sobre a aprovao de parcelamento de solo, edicao ou instala-
o de equipamentos em terrenos contaminados ou suspeitos de contaminao por materiais nocivos
ao meio ambiente e sade pblica, e d outras providncias.
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os interesses humanos como os processos naturais; considera-se ainda que esse
corredor ser espao permevel para a percolao da gua e servir tambm, como
armazenador de certa quantidade de gua.
7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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ARTIGO N2
REDUTOS RURAIS: ESTRATGIA DE RESILINCIA E INFRAESTRUTURA VERDE
URBANA. ESTUDO DE CASO EM VALINHOS, SP - BRASIL
Rural Remains: Strategy of Resilience and Urban Green Infrastructure. Case
Study in Valinhos, SP BrazilLa Yamaguchi Dobbert, Larissa Leite Tosetti, Sabrina Mieko Viana
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REDUTOS RURAIS: ESTRATGIA DE RESILINCIA E INFRAESTRUTURA VER-
DE URBANA. ESTUDO DE CASO EM VALINHOS, SP BRASIL
La Yamaguchi Dobbert1
Larissa Leite Tosetti2
Sabrina Mieko Viana3
1Arquiteta, mestre em Recursos Florestais pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da
Universidade de So Paulo, Piracicaba SP. E-mail: leadobbert@yahoo.com.br
2Engenheira Agrnoma, mestranda em Recursos Florestais pela Escola Superior de Agricultura Luiz
de Queiroz da Universidade de So Paulo, Piracicaba SP. E-mail: laletosetti@usp.br3
Biloga, doutoranda em Recursos Florestais pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da
Universidade de So Paulo, Piracicaba SP. E-mail: smieko@usp.br
Resumo
O presente estudo ressalta a importncia da preservao e/ou requalicao dos re-dutos rurais na cidade de Valinhos (SP), como referncias culturais que devem ser
mantidas no processo de urbanizao do municpio. Da coleta de dados apresen-
tao das informaes, um quadro da atual situao dos redutos rurais traado no
mapa da cidade a m de contribuir para a educao e a informao da populao como
tambm do poder pblico sobre os valores histrico, cultural e social de tais redutos
rurais inseridos na malha urbana de Valinhos. Ao enfatizarem-se os valores culturais
desses redutos rurais, visa-se integrar a arquitetura residencial e o desenvolvimento
econmico preservao do patrimnio cultural singular da regio. Apresentam-se,como propostas, possveis intervenes de infraestrutra verde, orientando a dinmica
de crescimento do local seguindo um desenho ambiental sustentvel, com base numa
anlise dos redutos rurais, avaliados como ordenadores do espao e do territrio lo-
cal, encontrados na malha urbana da cidade de Valinhos no Estado de So Paulo.
Palavras-chaves: patrimnio cultural, redutos rurais, desenvolvimento urbano, desenho
ambiental, resilincia, infraestrutura verde.
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RURAL REMAINS: STRATEGY OF RESILIENCE AND URBAN GREEN INFRAS-
TRUCTURE. CASE STUDY IN VALINHOS, SP - BRAZIL
Abstract
The present study highlights the value of preserving and / or upgrading rural remains
in ValinhosSP-Brazil, cultural landmarks that should be preserved in the process of
urbanization of the city. From the data collection to the presentation of information, a
picture of the current situation of rural remains is designed on the city map to help to
educate and inform the public about the historical values. Cultural and social effects of
these remains inserted in the urban and rural areas of Valinhos emphasize the valuesof cultural and rural remains that aims at integrating the residential architecture and
economic development to preserve the natural heritage of the region. Proposals are
presented like possible interventions on the green infra structure, guiding the dynamic
local growth. Following a sustainable environmental design, based on an analysis of
rural remains and evaluated as space and the local area orientation, found in the urban
landscape of Valinhos city of So Paulo State.
Key words: cultural heritage, rural remains, urban development, environmental de-sign, resilience, green infrastructure.
INTRODUO
O processo da urbanizao pode ser abordado sob vrios ngulos: do urbanismo, no
que diz respeito ao planejamento e paisagismo desse espao; da percepo, no que
concerne aos sentimentos, valores e atitudes dos habitantes em relao ao espaovivenciado, ou, ainda, do estudo das conexes entre as formas espaciais e a estrutura
social. No caso brasileiro, a urbanizao aconteceu atrelada herana rural, como
esclarece Ribeiro (1995), processo que se manifesta nas simples habitaes constru-
das em meados do sculo XX, que vo congurando a forma urbana.
A crena de que o espao mais urbanizado melhor frequentemente utilizada
como uma evocao ao nvel de desenvolvimento econmico de uma regio, entre-
tanto, esse pensamento quase sempre dissociado do nvel cultural e social de seu
povo e at mesmo em termos de sustentabilidade. Considerando que o desenvolvi-
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mento das cidades brasileiras adotou modelos orientados para maior produtividade
econmica e lucratividade, constitudas sobre interesses privados em detrimento dos
coletivos, o planejamento do meio fsico foi praticamente inviabilizado acarretando
em cidades, incapazes de oferecer uma boa qualidade de vida aos seus habitantes
(LOMBARDO, 2003).
A preservao do espao rural, tanto fsica como culturalmente, tem se mostrado salu-
tar em razo dos inmeros benefcios que tal preservao proporciona, como: presen-
a de reas verdes, reas permeveis que evitam fenmenos semelhantes s ilhas
de calor, manuteno da biodiversidade, melhora na qualidade do ar, conforto trmi-
co, entre outros. Do mesmo modo, a implantao ou enriquecimento da infraestrutura
verde, que deve estar associada a esses espaos existentes, podem aperfeioar odesenvolvimento da cidade, visando o crescimento dos espaos naturais em redes
capazes de desempenhar servios ambientais e maximizar a qualidade ambiental. A
infraestutura verde denida por Franco:
Podemos considerar infraestrutura verde como sendo reas urba-
nas permeveis ou semi-permeveis, plantadas ou no que pres-
tam servios cidade eapresentam algum grau de manejo e geren-
ciamento pbico ou privado. Das reas pertencentes infraestruturaverde de uma cidade destacamos os seguintes servios prestados:
1- Melhora da qualidade do ar promovendo a sade humana; 2- Se-
qestro de carbono da atmosfera; 3- Amortizao do balano clim-
tico entre temperaturas baixas e altas no microclima urbano entre
dia-noite e as estaes do ano; 4- Proteo, conservao e recupe-
rao da biodiversidade da ora e fauna na rea urbana; 5- Conten-
o da eroso; 6- Promoo de atividades contemplativas, esporti-
vas e de lazer; 7- Promoo da importncia da paisagem como fatordeterminante da esttica urbana; 8- Incremento dofator permeabili-
dade do solo urbano permitindo a percolao da gua e portanto a
reduo de enchentes; 9- Articulao e conectividade entre espaos
verdes; 10- Promoo da seguridade urbana; 11- Proteo de reas
de fragilidade ecolgica; 12- Promoo de reas de alto valor ima-
gtico, icnico e de identidade de lugares e stios urbanos.
(FRANCO, 2010, p. 143)
A cidade de Valinhos, assim como boa parte das cidades brasileiras, sofre presses
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diversas do mercado imobilirio que vem se estendendo em direo s reas rurais.
A urbanizao corporativa guiada pelo interesse de grandes empresas e pela espe-
culao imobiliria deixa de lado, na maioria das vezes, os compromissos e gastos
sociais, culturais, ambientais, voltando-se somente para o maior ganho possvel de
lucros. (SANTOS, 2008) Dentro desse contexto, Argollo (2004) alerta que a urba-
nizao do campo no deveria signicar transform-lo em cidade, e sim resgatar e
valorizar a memria e a cultura de um povo, baseado nas condies rurais, sem dar a
esse processo de transformao uma conotao folclrica ou jocosa, reconhecendo
o potencial dos novos empreendimentos que, segundo o estudioso, alm de prover
sustentabilidade scio-econmica, contribuem no s para a preservao ambiental,
mas tambm para os valores culturais de um pas ou regio.
Observa-se muitas vezes, porm, que esse objetivo ao se urbanizar o campo no
atingido, pois o que ocorre, na realidade, o fato de empresrios do ramo imobili-
rio apresentarem maiores vantagens aos proprietrios para que estes se desfaam
de suas propriedades, onde sero construdos grandes edifcios, condomnios hori-
zontais, dentre outros tipos de empreendimentos. A urbanizao causa, ento, for-
tes impactos, muitas vezes irreversveis, regio alm de impossibilitar a prtica de
atividades consideradas tipicamente rurais. Infelizmente, atrados por tais propostas,
o homem com razes no campo acaba por ceder presso do mercado, perdendo aidentidade, a liberdade e a referncia de sua origem.
Para Kayser (1990:13), o rural um modo particular de utilizao
do espao e de vida social. Seu estudo supe, portanto, a compre-
enso dos contornos, das especicidades e das representaes do
espao rural, entendido, ao mesmo tempo, como espao fsico (re-
ferncia ocupao do territrio e aos seus smbolos), lugar onde
se vive (particularidades do modo de vida e referncia de identida-de) e lugar de onde se v e se vive o mundo (a cidadania do homem
rural e sua insero nas esferas mais amplas da sociedade
(WANDERLEY, 2000, p.88)
Atividades consideradas tipicamente rurais, praticadas e desenvolvidas nas cidades,
encontram-se, muitas vezes, encobertas por incrementos urbanos, sendo, ainda as-
sim, consideradas redutos rurais. Os costumes das pessoas, geralmente de origem
rural, manifestam-se na cidade em pequenos espaos por meio de diversas ativida-
des exercidas, como pequenas criaes, plantio de hortas, ou mesmo a prtica de
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costumes tipicamente rurais, que integram o que se pode denominar de um modo de
vida, expresso, portanto, em sua habitao como herana rural.
O caipira foi vtima de um traumatismo cultural marginalizado pelo
despojo de suas terras, resistente ao engajamento no colonato e
ao abandono compulsrio de seu modo tradicional de vida..
(RIBEIRO, 1995, p.387)
Manterem-se vivos os costumes e as crenas do homem do campo, o caipira,
o mesmo que no se deixar apagar a memria de um povo, cuja identidade no
pode ser desprezada, assumindo-se, pois, a importncia de sua herana cultural, bem
como de suas referncias.
Nesse sentido, Argollo (2004) reconhece que o patrimnio arquitetnico, juntamente
com o patrimnio industrial existente no meio rural, compe um conjunto ainda mais
rico: o patrimnio cultural rural. Patrimnio que, inserido na malha urbana, vem denir
a cultura e a paisagem da cidade:
O papel da arquitetura rural no processo de resgate e valorizao
da memria e cultura local fundamental para o desenvolvimentorural sustentvel, uma vez que eles (memria e cultura locais) so
a base para o reconhecimento e anlise das paisagens culturais de
uma determinada regio
(ARGOLLO, 2004, p.8).
A palavra reduto, segundo Houaiss (2004), so espaos fechados ou recintos demar-
cados; sendo assim, redutos rurais urbanos podem ser denidos como espaos rurais
fechados remanescentes inseridos na malha urbana.
Trabalhos de pesquisa que reconheam a relevncia de tais redutos so decisivos
para propor a devida valorao e estmulo de preservao do rural. Por meio de in-
centivos scais, resgate da cultura local e apoio cultural, o Estado pode viabilizar o
convvio harmnico entre urbanizao e espao rural. Muitas vezes a conteno do
crescimento de uma cidade pode trazer vrios benefcios populao que habita a
regio.
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Numa outra perspectiva, Herzog e Rosa (2010), retomando outros autores, defendem
o desenvolvimento da ecologia da paisagem na ecologia urbana, como decisiva para
a compreenso da interao homem-natureza, ao proporcionar uma mudana positi-
va no planejamento e adaptao das cidades. O mapeamento dos redutos rurais, ou
remanescentes naturais, na rea urbana podem ser de grande valia como auxiliares
no diagnstico e no planejamento urbano, visando a um desenho ambiental, denido
por Franco (2008 p.212), como a arte e a cincia dedicada valorizao da qualidade
de vida das cidades....
Esse mapeamento pode ser realizado com o uso de vrias ferramentas, como os
sistemas de informao geogrca (SIG), de imagens ou fotograas areas obtidas
atravs de sensores remotos, dentre outros. Entretanto quando se trata de reas oumunicpios de pequeno porte (segundo IBGE, com 500 a 100.0000 habitantes), o
levantamento dos dados pode ser feito em campo, com a vantagem de se possibili-
tarem levantamentos especcos quanto s estruturas arquitetnicas e s condies
naturais (reas verdes, parques, rvores, APPs urbanas).
Assim, conhecer os redutos rurais presentes em Valinhos (SP), estimular sua preser-
vao e valorizao, e utilizar esses espaos como resgate cultural e social, como
oportunidade de presena do natural no urbano, como espaos educadores que apro-ximam os cidados de um conhecimento histrico e patrimonial, uma alternativa de
incluso das pessoas em um pensamento holstico no desenvolvimento das cidades,
visando sempre o crescimento que integra as diversas reas do saber.
OBJETIVO
O presente estudo teve como objetivo apresentar um quadro dos redutos rurais, in-seridos na malha urbana da cidade de Valinhos no Estado de So Paulo. O enfoque
principal foi dado aos espaos pblicos, s antigas sedes de fazendas e capelas, com
o intuito de captar o modus vivendis rural, valorizando-se, assim, costumes e crenas
a serem preservados, e realando caractersticas da cultura rural local, sua histria e
seus valores. Compreende-se que a valorizao desses redutos pode ser de grande
valia no desenho ambiental urbano, auxiliando no desenvolvimento sustentvel da ci-
dade e, at mesmo, como forma de se levarem seus habitantes e gestores a reetirem
sobre formas alternativas de crescimento do espao rural no cotidiano das cidades.
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MATERIAIS E MTODOS
Valinhos localiza-se a 22 5814 de latitude sul e 465945 de longitude oeste, com
altitude de 660 metros. Municpio criado em 1953, pertence regio Metropolitana de
Campinas (RMC) e possui uma rea de 148,96 km (gura 1). Conhecida com popu -
lao tipicamente de origem rural, hoje ainda conhecida como capital do go roxo.
Figura 1. Localizao de Valinhos a partir dos mapas do Brasil, do Estado de So Paulo e
da regio metropolitana de Campinas (ilustrao: Sabrina Mieko Viana).
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Durante o ms de janeiro de 2007, realizou-se um mapeamento dos redutos rurais na
malha urbana de Valinhos, por meio de levantamento de dados em campo, consulta
a livros de registro, coleta (informal) de relatos de moradores locais, alm de registro
fotogrco.
Para se encontrarem as razes de tal herana importante que se conhea a histria
da cidade e de seus habitantes com o intuito de se compreender a origem desses cos-
tumes e da tradio rural. Para tanto, fez-se um levantamento bibliogrco referente
histria da cidade de Valinhos, alm da conversa informal com moradores locais.
Um estudo bibliogrco realizado anterior aos levantamentos de campo pde auxiliar
na compreenso do termo redutos rurais, denindo quais elementos da infraestruturaurbana entrariam nesse mapeamento.
RESULTADOS E DISCUSSO
A anlise dos dados obtidos em pesquisa de campo indicia que os redutos encon-
trados dentro da malha urbana de Valinhos no esto adequados cultura rural da
regio, levando-se em conta uma viso ecossistmica, em que a diversidade tantodo ponto de vista biolgico, ecolgico, social e cultural essencial na construo de
cidades mais saudveis e equilibradas (FRANCO, 2008).
H necessidade, portanto, de se proporem novos modelos de gesto urbana, adequa-
dos cultura local, que ressaltem a importncia da preservao e ou requalicao
dos redutos rurais arquitetnicos e culturais com a nalidade de que as referncias
culturais prevaleam, inclusive com a insero destas nos planos de gesto do muni-
cpio de Valinhos.
O levantamento dos redutos rurais pode ser observado na gura 2.
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Figura 3:
a)Antiga fazenda Dois crregos, atual Condomnio residencial Reserva Colonial (Foto:
La Yamaguchi Dobbert, 2007)
b)Antiga fazenda So Bento, atual clube de campo Vale Verde (Foto: La Yamaguchi
Dobbert, 2007)c)Antiga fazenda Santana, atual condomnio residencial Visconde Village do Itamara-
c (Foto: La Yamaguchi Dobbert, 2007)
d)Antiga fazenda Macuco, atual Pousada Fazenda Joapiranga (Foto: La Yamaguchi
Dobbert, 2007)
H tambm antigas construes rurais como,por exemplo, algumas casas de colonos
que se encontram atualmente sem utilizao, expostas ao vandalismo devido ao des-
caso das autoridades locais (gura 4).
Figura 4: a)e b)Antigas casas existentes ao lado da Estao Ferroviria
a b
c d
a b
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Outro aspecto importante a ser considerado ao se diagnosticarem e conhecerem os
redutos rurais em Valinhos o que se pode chamar de resilincia cultural e urbana,
denida por Franco (2010) como a capacidade que um determinado grupo social tem
em resistir a mudanas provocadas pelo choque com culturas diferentes, preservando
seu patrimnio cultural.
A presso do mercado imobilirio, conforme relato de alguns moradores de pequenas
casas de colonos de antigas fazendas, fez com que muitos destes moradores se re-
dessem as propostas sedutoras de tais empreendedores, abrindo mo no apenas de
seus imveis, mas de sua tradio, memria e histria.
Neste sentido, Menezes e Tavares (2003), destacam a importncia de se respeitara histria urbana e social com seus signicados, sentidos e valores simblicos, por
meio da conservao da imagem urbana. Ao preservar os redutos rurais de Valinhos,
no se impede o desenvolvimento da cidade com as mudanas esperadas, mas, an-
tes, garante-se que certos cdigos simblicos sejam mantidos naquela comunidade,
valorizando-se, assim, a cultura local em meio s inuncias culturais exticas e s
presses imobilirias.
A capacidade de resilincia em um municpio bem empregada quando utilizada paraamenizar impactos antropognicos, como esclarece Franco (2010). Assim, a proposta
de parques lineares com funes de corredores verdes, que conectam os redutos ru-
rais ao espao urbano, permite um desenvolvimento mais harmnico do municpio ao
assegurar a seus moradores e visitantes possibilidades variadas de lazer, locomoo
e contato com a histria e a cultura da cidade. Respeita-se, assim, a sobrevivncia da
cultura rural de Valinhos.
Em conjunto com esta proposta, sugere-se tambm que a populao seja educadapara reconhecer o valor histrico, cultural, social e ecolgico, de tais redutos rurais
inseridos na malha urbana de Valinhos. Neste contexto pode-se pensar nestes lugares
tambm sob o conceito dos espaos e estruturas educadoras, ou seja, como locais
onde se possa trabalhar e discutir, com a populao, alternativas para a sustentabili-
dade, por meio do estmulo realizao de atividades conjuntas, alm do reconheci-
mento da necessidade de se educar (BRANDO, 2005).
Qualquer espao no cotidiano das cidades pode ter caractersticas educadoras, entre-
tanto para que isso se concretize, de fato, necessrio que haja uma intencionalidade
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Conhecer, enm, em profundidade o municpio. O processo do planejamento deve ser
dinmico e exvel, alm de efetivamente participativo contando com representantes
de todos os segmentos da sociedade que sero afetados pelo projeto. necessrio
identicar os anseios e os problemas trazidos pela comunidade quando se buscam
novas idias que devem nascer como fruto da vivncia e da experincia no lugar
pesquisado. O engajamento dos usurios nas fases do planejamento e do desenvol-
vimento do projeto essencial para que a infraestrutura verde seja sustentvel em
longo prazo (RIBEIRO, 2001; BOUCINHAS, 2007; COSTA et al., 2007). O diagnstico
inicial ir indicar quais as oportunidades e as limitaes da rea.
Urge, portanto, a necessidade de um estudo quali-quantitativo mais aprofundado e
com maiores especicidades, que possibilite confeccionar um banco de dados con-tendo todos os redutos rurais e suas caractersticas para que se possa propor um
mtodo de catalogao e controle de preservao do patrimnio cultural rural da ci-
dade de Valinhos (SP). Ao se propor tambm a conectividade entre esses redutos e
a urbanizao por meio de parques lineares ou corredores verdes, uma rota turstica
se fortalece com funo ambiental, proporcionando um desenvolvimento urbano do
municpio associado implantao de infraestruturas verdes e a uma logstica que
facilite essas estruturas como espaos educadores.
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ARTIGO N3
SISTEMA DE INFORMAO COMO INSTRUMENTO DE GESTO DA QUALIDA-
DE AMBIENTAL
Information System As An Instrument Of Environmental Quality Management
Patricia Helen Lima
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SISTEMA DE INFORMAO COMO INSTRUMENTO DE GESTO DA QUALIDADE
AMBIENTAL
Patricia Helen Lima
Mestre em Projeto Sustentvel pela FAUUSP
Coordenadora da Seo de Informao e Qualidade Ambiental da Prefeitura de SBC
E-mail: patricia.helen.lima@hotmail.com
Resumo
Este trabalho discute mecanismos de formulao e gesto de polticas pblicas, so-
bretudo no nvel local, abrangendo seus contedos temticos (poltica social, ambien-
tal e econmica), procurando entender sua evoluo e seus resultados em termos da
participao popular, dos interesses ambientais, econmicos e globais, apresentando
alternativas que possam atender as necessidades contemporneas em crescente mu-
dana, numa sociedade em transio cultural.
Para interferir diretamente nesse processo, procuramos apresentar as diculdades e
limites da atual prtica, e apresentar caminhos para se construir propostas articuladas
de polticas de desenvolvimento integrado, sistematizado e sustentvel.
Palavras-chaves:Qualidade Ambiental, Sistema de Informao, Polticas Pblicas,
Meio Ambiente, Planejamento Ambiental.
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Estado, a ser exercida com a cooperao dessas esferas de poder, pela transferncia
de recursos, ou pela cooperao tcnica.
Por ser Poltica pblica, seu processo de elaborao submetido ao debate pblico, o
que a diferencia das Polticas governamentais, embora sejam estatais. Como o poder
uma relao social que envolve vrios atores com interesses diferenciados e at
contraditrios, h a necessidade de mediaes sociais e institucionais, para que se
possa obter um mnimo de consenso e, assim, as polticas pblicas possam ser legiti-
madas e obter eccia (TEIXEIRA, 2002).
As polticas urbanas iniciadas no Estatuto das Cidades e nos Fruns Ambientais
Globais abriram caminhos para mudanas signicativas na funo social, seguido deparmetros para nortear a atividade produtiva dentro de um ambiente sustentvel,
englobando diferentes lgicas, que buscam um entendimento e que estabelecem re-
laes que remontam s questes da sustentabilidade. Analisar tais questes no es-
pao urbano e seus impactos sobre os ecossistemas acarreta na reviso do processo
das polticas pblicas, que ir compor o projeto urbanstico no cumprimento de seu
objetivo nal (LIMA, 2009).
A condio na qual a ideologia sobre as questes ambientais e sociais se produz emnossa poca -e que abrem possibilidades novas- encontra barreiras no mundo da
economia global, onde as idias se desligam da sua correspondncia de origem,
determinando a formao social e decorre da um entendimento apenas parcial da
realidade, nem sempre atrelado s culturas locais.
A globalizao, um fenmeno que est predominado em todo mundo se manifesta
de forma excludente e gera vrios tipos de violncia, causando danos econmicos-
sociais e ambientais. Vale salientar que a presso da globalizao com fora merca-dolgica cria a necessidade do governo buscar alternativas novas do contato direto
com o cidado superando o ortodoxo de fazer poltica. De igual maneira, a cidadania
conscientemente organizada necessita criar mecanismo de contato e controle de pol-
ticas estatais, democratizando-as. Isso demanda novos experimentos de participao
poltica direta de maior nmero possvel de cidados. Assim, um dos maiores desao
da globalizao a discusso profunda e ampla a cerca de uma poltica da condio
social humana global (CRUZ, 2009).
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Partindo da observao deste contexto de relaes globalizadas, da hegemonia do
capital aliado s questes sociais urgentes, possvel um exerccio de anlise das
transformaes ocorridas, onde se percebe que os esforos para a verdadeira com-
preenso dos novos conceitos tm sido depositados em aes para solues con-
juntas, para no corrermos o risco de sermos engolidos pela banalidade do contexto
atual.
A criao de estruturas adequadas para a realizao de um mecanismo comum, que tro-
que as experincias de cada setor pela atuao que propicie poderes decisrios amplos,
com mltiplas competncias, com instrumentos que permitam ultrapassar obstculos e
que dem segurana e compreenso necessrias o caminho que entendemos possvel
para novas aes e que permitiro a transparncia das informaes para um meso nvelde conhecimento.
MEIO AMBIENTE NO PROCESSO DE GLOBALIZAO
A expanso das foras globais sobre o espao, a sociedade e as aes locais trouxe
reexes sobre a lgica que pauta este caminho. A interveno do setor nanceiro na
lgica do espao urbano e rural e na sua produo mostrou que as lgicas coexisteme se inter-relacionam, porm, quando includa a lgica ambiental, nos deparamos com
novos desaos.
Com o objetivo de explorar diferentes dimenses, escalas e relaes, buscamos para
exemplicar o conceito atual de rea urbana e rural. O mundo rural secular ope-se
claramente ao mundo urbano, em suas funes, atividades, grupos sociais e paisa-
gens. Nos anos 80 assistiu-se uma nova realidade: o mundo rural no agrcola. Esta
perspectiva introduziu elementos novos no modo de encarar os mundos rural e urba-no, em si e na forma como se relacionam (RGO FILHO, 2007). As decises sobre as
questes agrcolas tomadas no urbano e a submisso da ideologia dos padres rural
ao urbano, marcou uma viso de dominao urbana.
A idia do mundo rural no agrcola trouxe em si transformaes sociais. A ausncia
de movimentos signicativos que apiem os desenvolvimentos locais, a valorizao
simblica atribuda ao mundo rural e a fora do mercado alteraram denitivamente as
relaes entre urbano e rural.
Os aspectos hipervalorizadosda conservao e proteo da natureza, a mercantiliza-
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odas paisagens transformou o mundo rural, crescentemente reduzido, em espaos
multifuncionais ou parques naturais sem expresso signicativa. Com o crescente au-
mento da populao urbana e a diminuio na qualidade da vida destes, surge o papel
cada vez mais contrastante entre a imagem do rural buscado pela populao urbana
como prximo da natureza e a fuga da vida urbana. O rural de hoje, entendido neste
contexto, no traduz o rural do passado, ou seja, a relao da sociedade rural com
o espao e seu registro local, no conjunto social. O sistema de valores da populao
rural de antes substitudo pelo individualismo que transformou o homem e a terra
em mercadoria.
Enfrentamos agora novas questes sobre limites do urbano e do rural, que se encon-
traram sicamente, com a extenso do tecido urbano. Nesta nova relao urbano-ru-ral, importante frisar, que uma nova relao urbano-rural ter que ser desenvolvida
com um novo olhar sobre os espaos, de forma sinrgica em suas relaes.
Estas relaes pressupem garantir o funcionamento de processos ecolgicos bsi-
cos, como medida de preservao de ecossistemas. Signica garantir oferta pblica
de mobilidade, cultura e aprendizado s populaes. Signica garantir que polticas
de ordenamento do territrio e preservao da natureza sejam complementares e re-
sultem no desenvolvimento adequado s novas redes que se criam.
O custo ambiental se associar sua diversidade natural e complexidade da pro-
blemtica social, o que representar grande potencial para o seu desenvolvimento,
envolvimento e troca. A proximidade de indstrias com fontes de energia e matria
prima no mudar a geograa econmica, mas alterar seu papel diante do mercado
consumidor.A gura de rede substituir a da Linha de produo (RGO FILHO, 2007).
Este o estgio atual do processo de globalizao, onde se tornam indispensveis ainterao e a considerao entre os nveis local, regional, nacional e global, o que sig-
nica sobrepor diferentes estruturas que comportam complexidades desiguais ante-
riores, como uma ordem prxima (de vizinhana) e uma ordem distante (da sociedade
como um todo), que regem a produo e o consumo, da escala global.
A reviso do tamanho populacional dos municpios, sua densidade demogrca e
sua localizao sero obrigatrias tanto em conceitos como em normas legais, para
a verdadeira compreenso da nova situao. As microrregies so essenciais para a
caracterizao dos ecossistemas, ainda que articializada pela ao urbana e nesse
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sentido, o campo no poder ser concebido apenas como complementar a cidade e
paisagem a ser consumida, mas como estruturador de um novo espao, que contribua
na valorizao e reconhecimento dos seus saberes e potenciais locais, sem a condi-
o de subordinao, envolvendo reais culturas.
Nasce a idia de novas geograas que sero identicadas com sua espacialidade
e suas marcas. Esta espacialidade ter que desenvolver e comportar a participao
dos atores locais que desenvolvero e produziro inuncias particulares. A escala
de ao denir as interaes espaciais e a informao se construir no conjunto dos
atores e da gesto da proteo ambiental. Este processo ser capaz de direcionar
aes que busquem a qualidade da informao e das intervenes.
TECNOLOGIA DA INFORMAO E CONHECIMENTO
preciso recuperar temas que permitam a construo de um quadro de prticas ur-
banas e rurais e que considerem os processos histricos e naturais, que no iludam,
mas que inuenciem aes mais abrangentes e cautelosas, uma produo do espao
que seja condio e meio para o processo da construo do territrio, considerando
a espacialidade do processo social como intrnseca anlise territorial (LIMA, 2009).
A tecnologia avanada possibilita uma leitura conjunta de fatores que envolvem infor-
maes de diferentes fontes e que analisadas no todo representam uma ferramenta
de gesto em que diversos atores podem usufruir e produzir um novo espao, sob
novas condies de realizao e que possuam a potncia de transformar a prtica
scio-espacial. O desao explorar o desenvolvimento tecnolgico para um objetivo
de tornar as cidades sustentveis.
SANTOS, equipara o desenvolvimento da histria com o desenvolvimento das tcni-
cas, dizendo que A cada evoluo tcnica, uma nova etapa histrica se torna poss-
vel. (SANTOS, 2005). Em nossa poca, o que representativo do sistema de tcni-
cas a tecnologia da informao, do conhecimento e dos modelos digitais, permitindo
todos os lugares convergirem os momentos e as aes desejadas, usufruindo das
questes locais e globais e dos atores locais e globais.
Dispomos de um sistema de tcnicas, com informaes que se agrupam ao mesmo
tempo e em qualquer lugar. Podemos ter uma viso detalhada da terra, observada por
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satlites, redes de infra-estrutura e rede social que as suportam, enm, passamos a
conhecer todos os lugares, funes, relaes e produes e observ-los em sua evo-
luo. Como sntese constitui-se em uma viso integrada, altamente elucidativa do
conjunto interligado dos fatores fsicos, biticos e socioeconmicos responsveis pela
realidade e suas relaes (Fig.1).
Fig.1 -sistemas geogrcos de informao.
Muitas representaes digitais do ambiente so extremamente teis para o conjunto
destas informaes. So exemplos os mapeamentos temticos e os bancos de da-
dos. Estas representaes podem ser integradas em uma estrutura que permita a
investigao de relaes entre as entidades fsicas representadas e os impactos que
as aes representam. Este cruzamento das informaes cria modelos conceituais
que representam diferentes facetas da realidade.
O sentido que tm todas estas ferramentas so a correta interpretao de tudo o que
existe e que temos acesso e as possveis intervenes no processo, para que sejam
revistas as aes. Estamos buscando construir uma losoa das tcnicas e das aes,
que seja uma forma de conhecimento amplo e concreto do mundo tomado como um
todo e das particularidades dos lugares, que incluem condies fsicas, naturais ou
articiais e condies polticas. Conhecer todo o processo das intervenes no territ-
rio, suas relaes e abrangncia uma necessidade de princpio para qualquer ao.
Por exemplo, diversas atividades s so possveis pela existncia de recursos que
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no so produzidos ou extrados em seu local e podem ser sentido em sua vizinhana.
Nas cidades, os recursos naturais que utilizamos no dia-a-dia, o lixo que geramos, o
solo que impermeabilizamos, o ar que polumos chegam ao meio rural e podem no
ser percebido na cidade, mas causam impacto.
O estudo das bacias hidrogrcas, por exemplo, como uma unidade ambiental de
anlise um caminho para uma investigao do meio, pois possvel analisar altitu-
des de terrenos ao longo da bacia, regular o fornecimento de gua, preservar os solos
frteis, aes humanas, a densidade demogrca e as razes econmicas, entender
a drenagem, o uxo dos cursos dgua, a distribuio das chuvas, o grau de imperme-
abilizao, interpolando com o clima, estudar a funcionalidade do fornecimento, enm,
todos os componentes das bacias hidrogrcas encontram-se interligados e os riosso os veculos dessa integrao.
Devido a essa interligao natural, as bacias hidrogrcas so excelentes unidades
de planejamento e gerenciamento e constitui um sistema natural bem delimitado do
espao, composto por um conjunto de terras integradas e portanto mais facilmente
interpretveis.
O gerenciamento por Bacia hidrogrca exigir um conhecimento que ultrapasse li-mites administrativos, mas que entenda os uxos, que permita um diagnstico da
realidade, e mais ainda, permita requalicar reas entre tantas situaes que impossi-
bilitam as decises autnomas. Todas estas questes remetem tecnologia atual na
busca da qualicao do meio.
necessrio envolver diferentes setores permitindo um nvel de entendimento entre
atores para tomada de deciso cada vez mais transparente. Um sistema como par-
metro para induzir maiores mudanas, juntando-se a uma cidadania participativa paralidar com a especicidade dos problemas urbanos, criaro polticas pblicas para re-
solver questes de ambientes especcos.
medida que aumenta a conscientizao da interdependncia e medida que o
conhecimento e a informao mostram os problemas de forma cada vez mais clara e
rpida, pode haver cooperao e apoio em diferentes estgios na busca de um novo
equilbrio entre sociedade, cidade e natureza. Esta a fora motriz que constri uma
sociedade sustentvel.
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QUALIDADE AMBIENTAL
Em relao s questes que permeiam as informaes relativas qualidade ambien-
tal, vale apresentar sucintamente a importncia das informaes sistematizadas no
desenvolvimento de um planejamento ambiental, que representa um salto de qualida-
de na observao e interpretao do meio.
comum surgirem questes sobre a lgica utilizada na seleo dos dados que so
utilizados na anlise do meio e que critrios denem este conjunto de dados para que
sejam sistematizados e interpretados.
Todo planejamento que visa denir polticas requer conhecimento sobre os compo-nentes que formam o espao. O dado a base da informao, a medida, a quanti-
dade ou o fato observado e pode ser apresentado na forma de nmeros, descries,
caracteres ou mesmo smbolos. Este dado quando passa a ter uma interpretao se
torna uma informao. Por sua vez, quando a informao uma propriedade cuja
variao deve alterar a interpretao do fenmeno que representa, sem lhe alterar a
natureza, chamada de parmetro, que pode apresentar diversos valores, conforme
a circunstncia (Fig.2). Lembrando que para cada dado, informao, parmetro ou
varivel obtido em um planejamento, deve-se reconhecer a temporalidade e o espaode abrangncia (SANTOS, 2004).
O importante observar a ocorrncia desses nveis, a relao que se pretende es-
tabelecer entre eles, os dados que so representativos, comparveis e de fcil in-
terpretao, para construir uma base slida de informaes. Estas informaes so
apresentadas como indicadores, que tm a capacidade de descrever um estado ou
uma resposta dos fenmenos que ocorrem no meio. A gura seguir caracteriza o
parmetro como indicador.
Fig. 2 Caracterizao de parmetro como indicador. Baseado em SANTOS, 2004.
No existe consenso sobre qual o conjunto ideal de indicadores a ser adotado. Num
planejamento ambiental o nmero de indicadores normalmente est associado es-
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cala e espao fsico que se est trabalhando e para cada dimenso h indicadores
especcos. Normalmente comum priorizar os indicadores do meio natural e poste-
riormente os que expressam aspectos sociais, culturais e econmicos, cando claro
que a seleo dos dados populacionais e socioeconmicos est orientado segundo
sua relao direta com os subsistemas ambientais naturais.
Importante perceber que o agrupamento dos indicadores auxilia no processo de
planejamento de diferentes maneiras, podendo expressar as condies de qualidade
ou estado do meio, reetir as polticas setoriais, outro grupo pode reetir presses ou
impactos das atividades humanas sobre o meio, outro pelas relaes sociais, e assim
por diante.
A forma mais usual de organizar os indicadores, principalmente quando o planeja-
mento fundamenta-se em princpios de desenvolvimento sustentvel, por meio da
estrutura da OECD (Organization for Economic Co-Operation and Development), que
adota trs grupos de indicadores: estado, presso e resposta.
TEMTICAS E TEMAS
Outra questo a ser a ser considerada em relao ao planejamento ambiental so seus
mltiplos aspectos como um todo contnuo no espao, que englobam dados ligados a
diversas disciplinas. Na sistematizao das diferentes disciplinas necessrio considerar
dois nveis de informao: o das temticas e o dos temas.
Cada tema um ncleo prprio de dados, por exemplo: o clima, a geologia, a vegeta-
o, o uso da terra, educao, entre outros, que podem ser subdivididos em subtemas
e podem ser derivados, ou seja, abranger dois ou mais temas. Temtica um conjuntode temas, que quando associados permitem uma anlise que a sntese de uma fra-
o particular do meio (SANTOS, 2004).
Os planejadores precisam reetir que a compreenso sobre a com-
plexidade do meio e a forma como se d a integrao entre seus
diversos temas deve, primeiramente, passar pelo relaciona