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África do Sul x Brasil:quem fará umMundial melhor
Quem é e como viveNelson Mandela
O ranking dasseleções mais caras
EDIÇÃO ESPECIAL
Qualquer que seja o resultado,organizar a Copa do Mundo pelaprimeira vez é um triunfo parao mais pobre dos continentes
A VITÓRIADA ÁFRICA
GRÁTISTabela destacávelda Copa
PAR
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APRESENTAÇÃO
4 > época , 24 de maio de 2010
as últimas Copas do Mundo foram marcadaspela padronização. De tal forma a Fifa – aFederação Internacional de Futebol – profis-
sionalizou a organização do evento que lhe pertenceque, seja nos Estados Unidos, seja na Coreia do Sul ouna Alemanha, todos os torneios se parecem: o mesmoritual saúda a entrada dos times, as mesmas placas depropaganda podem ser vistas em volta do campo e omáximo que se vê de“cor local”é o vídeo de promoçãoturística que antecede a transmissão. Nem sempre foiassim. Os mais velhos certamente se lembrarão da chu-va de papel picado que cobria os (péssimos) gramadosda Copa da Argentina, em 1978, ou da ola que a torcida
mexicana importou dos Estados Unidos – e exportoupara o mundo inteiro na Copa de 1986.
Desta vez, na África do Sul, nem a padronizaçãoimposta pela Fifa impedirá um continente intei-ro de ser uma das estrelas da festa. Soa como umchavão dizer que esta não será uma Copa como asoutras, mas no caso deste mundial não poderia sermais verdade. Uma amostra do que veremos foidada no ano passado, na Copa das Confederações,quando a torcida majoritariamente negra ensur-deceu jogadores, jornalistas e turistas com suasvuvuzelas – nome tão sonoro quanto as cornetasque designam e que entrou imediatamente para o
a África nocentro do mundoTodas as Copas se parecem, mas a primeira edição do torneiono mais pobre dos continentes promete ser diferente das outras
André Fontenelle
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Foto
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24 de maio de 2010, época > 5
vocabulário mundial. Nos 31 dias de Copa, a festapromete ser ainda maior que no ano passado, nãosó pela óbvia diferença de escala – 32 times, contraoito; 64 jogos, ante 16 –, como pela presença de seisseleções africanas, algumas delas muito fortes, naprimeira Copa disputada no continente.
Certo, já se sabe que o número de torcedores daprópria África nas arquibancadas dos dez estádios daCopa será pequeno – houve mais pedidos de ingres-sos do Canadá, país que nem vai disputar o torneio,que da Nigéria ou da Argélia, estes sim classificados.Mas isso se deve mais aos preços dos bilhetes, que foisendo reduzido à medida que ficava evidente quãoproibitivos eram, do que ao desinteresse do torcedor.Nunca uma seleção africana foi além das quartas definal de uma Copa do Mundo. As maiores glórias docontinente no futebol, até hoje, foram os títulos olím-picos da Nigéria, em 1996, e de Camarões, em 2000.
Mesmo assim, em paixão pelo futebol dificilmenteoutro continente rivaliza com a África.
Esta edição especial de ÉPOCA procura contara história da paixão africana pelo futebol. Ela nãopoderia ser mais bem ilustrada que pelo ensaio fo-tográfico das próximas páginas, de autoria de JessicaHilltout, fotógrafa belga. Ela percorreu de carro seispaíses africanos e, em vez de voltar com os clichês deanimais selvagens e paisagens exóticas que apenasreforçam os estereótipos sobre o continente, do-cumentou as raízes da popularidade do futebol naÁfrica – nos campinhos de terra, com bolas de meiae traves improvisadas, que fazem lembrar o Brasil.Outra reportagem compara a África do Sul com opaís sede da próxima Copa do Mundo, em 2014 – oBrasil. É apenas o começo da jornada pelo conti-nente que será o centro do mundo durante um mês.Boa viagem a todos. u
JoiaA forma doestádio de
Soccer City, emJohannesburgo,sede da final da
Copa, lembrauma típica panelade barro africana
pAtroCínio
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SUMÁRIO
12 > ÉPOCA , 24 de maio de 2010
DIRETOR GERAL Frederic Zoghaib KacharDIRETOR DE MERCADO ANUNCIANTE Gilberto CorazzaDIRETOR DE ASSINATURAS Renato Barbosa
DIRETOR DE REDAÇÃO: Helio Gurovitz epocadir@edglobo.com.brREDATOR-CHEFE: David CohenDIRETOR DE CRIAÇÃO: Saulo RibasEDITORES-EXECUTIVOS: André Fontenelle, Guilherme Evelin, Ivan MartinsDIRETOR DE ARTE: Marcos MarquesEDITORES: Alberto Bombig, Alexandre Mansur, Celso Masson, Luís Antônio Giron,Marcos Coronato, Ricardo MendonçaREPÓRTERES ESPECIAIS: Camila Guimarães, Cristiane Segatto, José Fucs,Kátia Mello, Peter MoonEDITORES-ASSISTENTES: Fernanda Colavitti, Juliano Machado, Luciana Vicária,COLUNISTAS: Christopher Hitchens, Fareed Zakaria, Fernando Abrucio, Mauro Halfeld,Marcio Atalla, Max Gehringer, Paulo Guedes, Paulo Moreira Leite, Paulo Rabello de CastroREPÓRTERES: Aline Ribeiro, Ana Aranha, Bruno Ferrari, Francine Lima, Livia Deodato,Marcela Buscato, Mariana Sanches, Mariana Shirai, Rodrigo Turrer,Thiago Cid, Wálter NunesEstagiários: Carlos Giffoni, Daniella Cornachione, Danilo Venticinque,Eliseu Barreira Junior, Julio LamasSUCURSAIS l RIO DE JANEIRO: epocasuc_rj@edglobo.com.brPraça Floriano, 19 – 8o andar – Centro – CEP 20031-050Diretora: Ruth de Aquino; Editora-assistente: Martha MendonçaRepórteres: Nelito Fernandes, Rafael Pereira; Estagiários: Leopoldo Mateus, Maurício Meirelesl BRASÍLIA: epocasuc_bsb@edglobo.com.br SRTVS 701 – Centro EmpresarialAssis Chateaubriand – Bloco 2 – Salas 701/716 – Asa SulChefe: Eumano Silva; Editor: Leandro Loyola; Repórter Especial: Andrei Meireles;Editora-assistente: Isabel Clemente; Repórteres: Juliana Arini, Leonel Rocha, Marcelo Rocha,Murilo Ramos; Estagiária: Naiara LemosFOTOGRAFIA l Editor: André Sarmento; Assistente: Sidinei LopesDIAGRAMAÇÃO E INFOGRAFIA l Editor de Arte: Alexandre LucasChefe de Arte: José Eduardo Cometti; Diagramadores: Daniel Pastori Pereira, DavidMichelsohn, Fernando Pires, Sérgio dos Santos; Estagiária: Nathalia LippoInfografistas: Gerson Mora, Luiz C. D. Salomão, Marco Vergotti, Nilson CardosoSECRETARIA EDITORIAL l Coordenador: Marco Antonio RangelREVISÃO l Coordenadora: Araci dos Reis Rodrigues; Revisores: Alice Rejaili Augusto,Dario da Silva, Elizabeth Tasiro, Gilberto Nunes, Silvana Fernandes, Verginia RodriguesÉPOCA ONLINE l epocaonline@edglobo.com.brEditor: Sérgio Lüdtke; Editora-assistente: Liuca Yonaha; Repórteres: Danilo Casaletti,José Antonio Lima, Laura Lopes, Renan Dissenha Fagundes; Estagiário: André SollittoTecnologia da Informação: Carlos Eduardo GarciaDesenvolvedores: Leandro Paixão, Márcio Espósito, Marcos SixelWeb Designers: Andréia Passos, Daniel Mack, Renato Tanigawa, Valter BicudoCARTAS À REDAÇÃO: Anna Carolina Lementy epoca@edglobo.com.brAssistente-executiva: Jaqueline Damasceno; Assistentes: Ana Cláudia Ribeiro dos Santos,Gisele Felix, Fernando Medrado F. da Silva; Pesquisa: CEDOC/Globopress
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EDITOR: André Fontenelle. REPÓRTERES E EDITORES:Leopoldo Mateus, Letícia Sorg. Colaboradores: TalesTorraga, Valmir Storti. SECRETARIA EDITORIAL: MarcoAntonio Rangel. REVISÃO: Araci dos Reis Rodrigues(coordenadora), Alice Rejaili Augusto, Dario da Silva,Elizabeth Tasiro, Gilberto Nunes, Silvana Fernandes,Verginia Rodrigues. ARTE: Fernando Pires.INFOGRAFIA: Alberto Cairo (diretor) e Marco Vergotti.FOTOGRAFIA: André Sarmento (editor), Sidinei Lopes(assistente) e Mario Alves Marinho.
ÁFRICA DO SUL X BRASIL Qual dos dois países está mais bem
preparado para organizar uma Copa do Mundo? ........................................24
HISTÓRIA Como décadas de racismo impediram que a África do Sul
se tornasse uma potência do futebol .............................................................28
TWITTER A CBF liberou os microposts durante o mundial.
Pode não ter sido uma boa ideia ...................................................................32
QUANTO VALEM OS CRAQUES Uma comparação entre as seleções
mostra que, hoje, a Espanha vale mais que o Brasil .....................................34
ENSAIOA fotógrafa belga Jessica Hilltout percorreu seis paísesda África em busca das raízes do futebol no continente14
O MANDELA REALQuem é o “santo vivo” que,aos 91 anos, ainda ajuda amanter a África do Sul unida
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Fotos: Patrick Swirc/Corbis Outline e Jessica Hilltout
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Umcontinente,Uma
BoLaA Copa na África do Sulpremia a paixão dosafricanos pelo futebol
Jessica Hilltout (fotos)
ENSAIO FOTOGRÁFICO
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Bola de papelO menino Nelito
e sua bola, emNhambonda,
Moçambique.Jessica Hilltout
percorreu a Áfricapara registrar o
futebol “de raiz”
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ENSAIO FOTOGRÁFICO
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ÍdolosMessis de Burkina
Faso, Ronaldossul-africanos, Drogbas
de Gana. O amorpelos craques é
expresso nas costasdas camisas
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ENSAIO FOTOGRÁFICO
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Campoaberto
Um jogo infantilem Golomotti, no
Malauí. “Semprehá um pedaço de
terra plana porperto para jogar”,
diz Jessica
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ENSAIO FOTOGRÁFICO
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improvisoBolas, chuteiras etraves de futebol
de rua de BurkinaFaso, Gana e
Moçambique.“Futebol nãocusta nada”,
afirma Jessica
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ENSAIO FOTOGRÁFICO
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orgulhoOrlando, de
Moçambique (fotomaior), e criançasde Gana, BurkinaFaso e Malauí. As
fotos compõemo livro Amen –
Grassroots football
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24 > ÉPOCA , 24 de maio de 2010
SOCIEDADE
CENA COMUMUma favela
(township) deJohannesburgo.
Dezesseis anosdepois do fim
do apartheid, asdesigualdades
persistem
A DIFERENÇA EM NÚMEROSOs rankings destas páginas comparam o desempenho da sede da últimaCopa (Alemanha) com o das próximas duas (África do Sul e Brasil) em váriosindicadores. Para facilitar a comparação, foram incluídos o melhor e o pior paísem cada índice. Como se vê, nem sempre estamos à frente dos sul-africanos
0,947ALEMANHA
Índice deDesenvolvimentoHumano
IDH
0,683ÁFRICA DO SUL
0,813BRASIL
Índice de Gini*
DESIGUALDADE
Fonte: ONU (2009)*Escala de 0 a 100, emque zero representaa igualdade absoluta Fonte: ONU (2009)
0,971NORUEGA
0,340NÍGER
28,3ALEMANHA
57,8ÁFRICA DO SUL
55,0BRASIL
74,3NAMÍBIA
24,7DINAMARCA
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24 de maio de 2010, ÉPOCA > 25
O rganizar uma Copa do Mundo depois daperfeita edição realizada pelos alemães em2006 seria um desafio para qualquer país.
É uma tarefa ainda mais dura para nações em de-senvolvimento, como a África do Sul e o Brasil. Omundial do próximo mês e o de 2014 mostrarãoaté que ponto nações como essas são capazes dedar conta da tarefa. O último mundial em um paísdo Terceiro Mundo ocorrera no México, em 1986,quando uma Copa ainda não custava os US$ 6 bi-lhões estimados hoje.
O mais provável é que, tanto no caso da África doSul quanto no do Brasil, ocorram problemas de or-ganização, mas que o torneio transcorra sem maioresdificuldades. Realizar 64 partidas de futebol e receber
500 mil turistas no período de um mês, afinal, não che-ga a ser tarefa impossível para dois países desse porte.A Fifa chegou a ameaçar mudar a Copa de país, trêsanos atrás, quando as obras nos estádios sul-africanospareciam quase irremediavelmente atrasadas. Havianisso um pouco de jogo de cena para fazer a Áfricado Sul se mexer. No fim, dos dez estádios, nove fica-ram prontos vários meses antes da partida inaugural.Apenas um, o Mbombela, de Nelspruit, foi terminadopoucas semanas atrás.
Ricardo Teixeira afirmou faz três anos que o sucessode organização da Alemanha não o preocupava tanto,pois a comparação da Copa do Brasil, em 2014, será feitacom a de 2010, na África do Sul, e não com a de 2006.Seria bom,porém,que o presidente da Confederaçãos
Renda per capita anual – em US$PIB
40.874 | ALEMANHA
8.220 | BRASIL
5.823 | ÁFRICA DO SUL
Fonte: FMI (2010)
104.511 | LUXEMBURGO
163 | BURUNDI
Países que menos taxam a populaçãoIMPOSTOS
106,3 | ALEMANHA
84,0 | ÁFRICA DO SUL
126,3 | BRASIL
Fonte: revista Forbes (2009)
12,0 | CATAR
167,9 | FRANÇA
Nota geral para a abertura do país ao mundoGLOBALIZAÇÃO
84,16 | ALEMANHA
60,38 | BRASIL
65,60 | ÁFRICA DO SUL
Fonte: Instituto Federal Suíço de Tecnologia (2010)
92,95 | BÉLGICA
20,69 | MIANMAR
Condições para fazer negóciosLIBERDADE ECONÔMICA
71,1 | ALEMANHA
55,6 | BRASIL
62,8 | ÁFRICA DO SUL
Fonte: The Wall Street Journal Heritage Foundation (2010)
89,7 | HONG KONG
1,00 | COREIA DO NORTE
Soma de requisições entre 1995 e 2008PEDIDOS DE PATENTE
1.545.971 | ALEMANHA
47.337 | BRASIL
15.338 | ÁFRICA DO SUL
Fonte: Wipo
6.648.298 | JAPÃO
Índice globalINOVAÇÃO
4,32 | ALEMANHA
2,97 | BRASIL
3,24 | ÁFRICA DO SUL
Fonte: Insead (2009-2010)
4,86 | ISLÂNDIA
2,13 | SÍRIA
PIORES QUE NÓS?Uma comparação entre o Brasil e a África do Sul mostra que aCopa de 2014 não será necessariamente melhor que a deste ano
André Fontenelle e Letícia Sorg
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26 > ÉPOCA , 24 de maio de 2010
SOCIEDADE
Brasileira de Futebol se preocupasse um pouco mais,pois ao que tudo indica o torneio deste ano será maisbem organizado do que se imaginava.E,ao contrário doque muitos pensam,a África do Sul leva vantagem sobreo Brasil em vários indicadores sociais e econômicos.
Certo, o Brasil tem um Índice de Desenvolvimen-to Humano mais elevado que o da África do Sul. OÍndice de Gini – que mede a desigualdade internade um país – daqui é melhor que o de lá. A rendamédia do brasileiro é superior à do sul-africano. Masna África do Sul há menos interferência do governonos negócios particulares; o país é mais aberto à glo-balização e tem um índice de inovação superior aonosso; a corrupção é um pouco menor, a liberdadede imprensa é maior e investe-se mais na educaçãopública no ensino fundamental (leia quadros nestaspáginas). Isso pode não significar necessariamentemaior competência para organizar uma Copa doMundo. Mas, quando se vê que, à espera das eleiçõesde outubro, as obras para 2014 estão praticamenteparalisadas, há motivos para acreditar que a Áfricado Sul poderá vir a realizar um mundial melhorque o Brasil.
ONDE FICA?Entre os barracos
da Favela daMaré, no Rio
de Janeiro, e ostownships de
Johannesburgo,às vezes é difícil
notar a diferença
Nota atribuída à honestidade nos negóciosCORRUPÇÃO
8,0 | ALEMANHA
3,7 | BRASIL
4,7 | ÁFRICA DO SUL
Fonte: Transparência Internacional (2009)
9,4 | NOVA ZELÂNDIA
1,1 | SOMÁLIA
Grau de ameaça à independência jornalísticaLIBERDADE DE IMPRENSA
3,5 | ALEMANHA
15,88 | BRASIL
8,5 | ÁFRICA DO SUL
Fonte: Repórteres sem Fronteiras (2009)
0 | DINAMARCA
115,5 | ERITREIA
Gastos com educação pública por aluno – em US$ENSINO FUNDAMENTAL
4.837 | ALEMANHA
1.005 | BRASIL
1.383 | ÁFRICA DO SUL
Fonte: ONU (2009)
9.953 | LUXEMBURGO
39 | MIANMAR
Oportunidades para homens e mulheresIGUALDADE DE GÊNEROS
0,7449 | ALEMANHA
0,6695 | BRASIL
0,7709 | ÁFRICA DO SUL
Fonte: Fórum Econômico Mundial (2009)
0,8276 | ISLÂNDIA
0,4609 | IÊMEN
Por 100 mil habitantesMORTE NO TRÂNSITO
Relatório sobre Segurança nas Estradas (OMS) (2009)
Condições e uso de internetTECNOLOGIA
4,16 | ALEMANHA
3,8 | BRASIL
3,78 | ÁFRICA DO SUL
Fonte: Fórum Econômico Mundial (2009-2010)
5,65 | SUÉCIA
2,57 | CHADE
6,0 | ALEMANHA
18,3 | BRASIL
33,2 | ÁFRICA DO SUL
48,4 | ERITREIA
1,7 | ILHAS MARSHALL
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24 de maio de 2010, ÉPOCA > 27
Em alguns itens, a infraestrutura da África do Sul ésuperior à brasileira. Todas as cidades sedes da Copasão interligadas por excelentes estradas. Os aeropor-tos foram ampliados e a maior companhia aérea dopaís, a South African, tem um excelente histórico desegurança. Os maiores temores em relação à Copadizem respeito às sedes menores do mundial, comoBloemfontein e Polokwane, cidades de aeroportosacanhados e modestíssima rede de hotéis.
Se em vários outros indicadores a África do Sul per-de para o Brasil, isso se deve ao legado de décadas desegregação racial. Isso se reflete, sobretudo,na altíssimataxa anual de homicídios, a mais elevada do mundo,segundo a OMS, que faz até o Brasil parecer um paísseguro na comparação. Como era de esperar, a taxaentre a população negra, sobretudo masculina, é maior.De acordo com o equivalente sul-africano do IBGE, osnegros correspondem a 76,7% da população, mas são81% das vítimas de morte violenta entre os homens.Osbrancos são 9,7% da população, mas 4% das vítimas.
A situação é mais grave dentro do contexto de ódioracial motivado pela política do apartheid, que negoudireitos iguais aos negros até 1994. Sob a liderança
de Nelson Mandela, o país pôs um fim no sistema desegregação e deu início a esforços como o BEE (BlackEconomic Empowerment), um programa de incentivoeconômico à população não branca, marginalizadanos anos de apartheid. Embora no Brasil nunca te-nha havido uma política discriminatória semelhante,morrem assassinados proporcionalmente duas vezesmais negros que brancos, mostram dados do Mapada Violência 2010.
Some-se a isso mais de uma década de descaso em re-lação à aids e torna-se fácil explicar por que a expectativade vida na África do Sul é de apenas 51 anos, contra umpouco mais de 72 no Brasil. O país sede da Copa desteano é o que tem o maior número absoluto de casos deaids no mundo. Enquanto o Brasil é considerado umpaís modelo no combate à doença e em seu tratamento,a África do Sul ainda luta para conscientizar a populaçãosobre a prevenção e para oferecer tratamento adequado.O presidente Jacob Zuma, que antes dizia se protegerda doença com duchas íntimas, tem recebido elogiospor seus esforços para mudar de comportamento. Le-vará anos para que isso se traduza numa melhoria doindicador social mais negativo da África do Sul. ◆
Gastos com saúde pública por habitante – em US$SAÚDE
2.533 | ALEMANHA
367 | BRASIL
364 | ÁFRICA DO SUL
Fonte: ONU (2009)
5.233 | LUXEMBURGO
4 | BURUNDI
Por 100 mil habitantesHOMICÍDIOS
1,0 | ALEMANHA
30,8 | BRASIL
69,0 | ÁFRICA DO SUL
Fonte: ONU (2009)
0,5 | JAPÃO
Em anosEXPECTATIVA DE VIDA
79,8 | ALEMANHA
72,2 | BRASIL
51,5 | ÁFRICA DO SUL
Fonte: ONU (2009)
82,7 | JAPÃO
43,4 | ZIMBÁBUE
Em % da população ativaDESEMPREGO
8,2 | ALEMANHA
7,4 | BRASIL
24 | ÁFRICA DO SUL
Fonte: CIA World Factbook (2010)
0 | MÔNACO
95 | ZIMBÁBUE
Nota para as políticas de proteçãoDESEMPENHO AMBIENTAL
73,2 | ALEMANHA
63,4 | BRASIL
50,8 | ÁFRICA DO SUL
Fonte: Universidade Yale (2010)
93,5 | ISLÂNDIA
32,1 | SERRA LEOA
Nota para a competência em receber viajantesTURISMO
5,41 | ALEMANHA
4,35 | BRASIL
4,1 | ÁFRICA DO SUL
Fonte: Fórum Econômico Mundial (2009)
5,68 | SUÍÇA
2,52 | CHADE
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28 > época , 24 de maio de 2010
“brasileiros”No time campeãoda liga negrana ProvínciaOcidental,em 1964, osjogadores tinhamapelidos comoZito, Pepe e Feola
Q uando se sabe que no início deste ano o téc-nico Carlos Alberto Parreira teve de trazer aseleção da África do Sul ao Brasil para um
estágio de aprendizagem, é curioso pensar que umdia os times brasileiros já foram surrados pelos sul-africanos. Foi assim em 1906, quando um combinadode lá atravessou o Atlântico para golear por 4 a 0 umaespécie de precursor da Seleção Brasileira.
É que o futebol começou a ser praticado na Áfricado Sul muito antes de Charles Miller desembarcar
aqui com duas bolas, em 1894. O primeiro jogo deque se tem registro na África do Sul data de 1862, emPort Elizabeth, por coincidência uma das nove sedesda Copa deste ano. Enfrentaram-se dois combina-dos de brancos, um de nascidos na colônia (Colo-nial Born) e outro de nascidos na metrópole (HomeBorn). Note-se que só no ano seguinte as regras do“football association” seriam unificadas na Inglaterra
– ou seja, pode-se dizer que já se jogava futebol naÁfrica do Sul antes mesmo de o futebol existir. Eraum futebol muito diferente do de hoje – nas fotosposadas, registro histórico raríssimo, vê-se que cadatime tinha 18 jogadores – mas a essência do jogo jáera a mesma.
Em muitas coisas o futebol sul-africano precedeuo brasileiro. Em 1892, foi fundada a primeira federa-ção sul-africana de futebol. Em 1897, um forte timeda Inglaterra excursionou à região – curiosamente,
tratava-se dos Corinthians, a mes-ma equipe cuja excursão ao Brasil,13 anos mais tarde, motivaria a fun-dação do homônimo clube paulista.A Guerra dos Bôeres, entre 1899 e1902 – o conflito que é uma espé-cie de “evento fundador” da atualÁfrica do Sul –, contribuiu indireta-mente para a popularização do fu-tebol: os soldados britânicos joga-vam bola nas horas vagas, diante deentusiasmadas plateias de negros e
de imigrantes indianos. Em 1899, um time de negrosviajou para o Reino Unido para disputar uma sériede partidas.“Foram tratados como atração circense ehumilhados em campo”, afirma Lloyd Hill, professorda Universidade de Johannesburgo e pesquisador dotema. Compare-se com o Brasil, onde os jogadoresnegros apareceram por volta de 1906, mas só foramaceitos plenamente na década de 1920.
HISTÓRIA
Um adversáriodifícil de derrotarO racismo foi – e ainda é – o maior obstáculoao desenvolvimento do futebol na África do Sul
André Fontenelle
O futebOl é mais antigOna África dO sul quenO brasil: O primeirO jOgOregistradO data de 1862
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Estaria armado aí o cenário para a África do Sul setornar uma potência do futebol do século XX, nãofossem dois fatores que impediram seu desenvolvi-mento: a concorrência do rúgbi e o racismo. O pri-meiro é explicado, em parte, pelo segundo. O rúgbie o futebol são duas variantes do mesmo conjuntooriginal de regras. Nas escolas inglesas do século XIX,os dois esportes eram rivais. Em algumas triunfouo jogo com as mãos; em outras, aquele jogado comos pés. Na Inglaterra, o rúgbi se tornou um esportede elite; o futebol, o favorito das classes populares.Na África do Sul racista, o rúgbi virou o esporte dosbrancos; o futebol, o dos negros. Aos poucos as esco-
las sul-africanas para brancos baniram o futebol desuas atividades físicas para se dedicar exclusivamenteao rúgbi; o sucesso de equipes sul-africanas (exclu-sivamente brancas) em partidas contra os coloniza-dores ingleses fomentou a associação entre rúgbi enacionalismo africânder.
Enquanto isso, desde a primeira década do séculoXX o futebol espalhou-se rapidamente na populaçãonegra, de início entre os kholwas (negros cristãos) daregião de Durban – por iniciativa de missionáriosamericanos que acreditavam no papel “civilizatório”do esporte – e depois entre os mineiros de Johannes-burgo, cidade que cresceu graças à corrida do ouro.s Fo
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ção
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30 > época , 24 de maio de 2010
HISTÓRIA
Sem poder político na União Sul-Africana (forma-da em 1910), os negros desenvolveram seu futebolafastados dos brancos. Durante décadas o país tevefederações separadas para brancos, negros e mestiços.Quando a Fifa aceitou a filiação da África do Sul, em1958, foi a “federação branca” que ela reconheceu. Opaís já vivia, desde 1948, sob o regime do apartheid.
Foi somente a pressão dos demais países africanosque levou a Fifa, com alguma relutância, a suspendera África do Sul em 1961, por recusar-se a aceitar aformação de equipes inter-raciais.
Por causa da segregação, poucos times de futebolestrangeiros punham os pés na África do Sul. Em1959, a Portuguesa Santista fez uma escala na Cidade
do Cabo, durante uma excursão ao exterior. Seusdirigentes acertaram um amistoso contra uma equi-pe local, formada exclusivamente por brancos. Umadas exigências do contrato era que o time brasileiroalinhasse apenas seus jogadores de pele clara – o queteria ocorrido, não fosse a intervenção de um grupode militantes negros que apelou à diplomacia brasi-
leira. Um telegrama do presidenteJuscelino Kubitschek cancelou oamistoso e evitou que o futebolbrasileiro caucionasse, tacitamen-te, o apartheid.
O vexame seria ainda maior con-siderando-se que, um ano antes, oBrasil fora campeão mundial comuma equipe inter-racial. A plura-lidade étnica dos times do Brasil,em contraste tão evidente com a se-gregação absoluta na África do Sul,contribuiu para a imensa populari-
dade da Seleção Brasileira na África. “Saber que ne-gros, mestiços e brancos podiam jogar juntos e vencerera um tapa na cara da ideologia do apartheid”, diz osul-africano Peter Alegi, professor da Universidade deMichigan, nos Estados Unidos, e autor de um livrosobre a história do futebol em seu país.
Mesmo afastados do intercâmbio internacional, os
pioneirosOs dois timesque, em 1862,disputaram a
primeira partidade futebol na
África do Sul – umda metrópole e
o outro da colônia
em 1959, pOr pOucO um timebrasileirO nãO aceitOujOgar apenas cOm brancOsnuma excursãO aO cabO
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times negros da África do Sul se inspiravam em nossofutebol. No pequeno museu do futebol do estádio deGreen Point, na Cidade do Cabo, uma foto chama aatenção: é o Bafana Football Club, campeão provincialem 1964.Vários jogadores têm apelidos que remetemà Seleção Brasileira então bicampeã mundial: Pepe(reserva daquele time), Vavá, Zito, Dejalma (sic) e atéFeola (o treinador em 1958) e Zezé (o técnico de 1954).Não é o único indício da influência inspiradora doBrasil no futebol sul-africano: um dos principais timessul-africanos, o Mamelodi Sundowns, criado na déca-da de 60 em Marabastad, um bairro racialmente mistode Pretória, adotou a camisa amarela e o calção azulem homenagem à Seleção Brasileira. Por isso e peloestilo de jogo vistoso, os Sundowns são conhecidosna África do Sul como Os Brasileiros.
Só em 1992, quando o apartheid já agonizava, aÁfrica do Sul foi readmitida no seio da Fifa. O futebolcresceu rapidamente, a África do Sul se classificoupara duas Copas do Mundo (1998 e 2002), formouuma liga profissional multirracial e chegou a estarentre as 20 primeiras colocadas do ranking da Fifa.De lá para cá, porém, o futebol sul-africano regrediu.Isso parece ser, em parte, reflexo de problemas maisprofundos que os futebolísticos. A euforia dos pri-meiros anos pós-apartheid, quando Nelson Mandelafoi eleito presidente, e brancos e negros pareciam
integrar-se rapidamente, deu lugar ao desencantodos dois lados. O pacto que mantém a África do Sulunida pode ser resumido assim, grosso modo: a elitebranca abriu mão do poder político em troca de umarelativa manutenção do statu quo. Hoje, porém, amaioria negra se impacienta com a lentidão na redu-ção das desigualdades; e a minoria branca se escondeatrás de muros altos e arame farpado, vista comoestrangeira na terra onde nasceu (na África do Sul,o termo africano é usado em geral para designar osnegros, embora os brancos nascidos ali sejam igual-mente africanos). No futebol, essa crise de identidadese exprime de forma não declarada. A polêmica emtorno das vuvuzelas é um exemplo. As barulhentascornetas são onipresentes nas partidas de futebol –e inexistentes nas de rúgbi. Quando a Fifa cogitouproibi-las na Copa, essa hipótese foi vista como umaofensa à população negra.
Em meio a previsões negativas, porém, a Copa doMundo pode ter um papel unificador na África doSul. Isso depende em boa parte de bons resultadosda seleção local dentro de campo. “Uma Copa me-morável vai gerar algum sentimento de patriotismo edesmentir estereótipos negativos sobre os africanos”,diz Peter Alegi. “Mas qualquer nova identidade sul-africana será efêmera se não for acompanhada demudanças estruturais mais profundas.” u Fo
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TECNOLOGIA
32 > época , 24 de maio de 2010
craques TuiTeirosA menos que o “professor” Dunga controle os posts de seus craques,os microtextos podem se tornar a maior fonte de fofocas do mundial
No Twitter é assim: pensou, escreveu. A ins-tantaneidade não permite muita reflexão.No futebol, isso significa desde presidentes
de clubes anunciando contratações e “cornetando”os rivais até mulheres de jogadores reclamando dasubstituição do marido. Entre os convocados paraa Copa da África, os usuários são Luis Fabiano,Kaká, Júlio César, Gilberto Silva e Grafite. A CBF
liberou o Twitter durante a Copa, desde que não sefale de “assuntos internos”. Mas todos os jogado-res vão entender essa instrução da mesma forma?
Se não for censurado por Dunga, o Twitter deLuis Fabiano promete dar que falar. Ele é o maisespontâneo de todos na Seleção. Conta de suas via-gens, da vida em Sevilha e, claro, de futebol. “Ami-gos, tranquilos que não estou machucado, tratamen-
Leopoldo Mateus
O tamanho dosemicírculo representao número de seguidoresde cada um
A linha representaas conexões entre cadaum. A cor representaquem a pessoa segue
Quem segue quemna rede da SeleçãoKaká é o mais seguido.Luis Fabiano, o mais divertido
O tamanho dosemicírculo representao
A linha representa as
Quem segue quemna rede da Seleção
CBFFUTEBOL52 milseguidores
Veja o perfil dos jogadoresda seleção brasileira quedisputará a Copa do Mundoda África do Sul8:02 PM May 13th via web
CArOLinECELiCO23 milseguidores
Mas nem com o ar ta adian-tando... Que calor.. Nao possoescrever no banco de traz docarro fco enjoada..10:04 AM May 2nd via Tweetie
grAFiTE
4 milseguidores
Estou muito feliz com aconvocação! Agradeço a forçaque todos estão me dando eprometo muito trabalho...7:05 PM May 11th via web
KAKÁ
549 milseguidores
Mais uma vitoria / anothervictory Xerez 0x 3 RealMadrid .. Gloria aDeus .. Thanks Lord !!1:52 PM Feb 13th via UberTwitter
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24 de abril de 2010, época > 33
to preventivo”, postou em 10 de maio. Seu reservaimediato, Grafite, é um de seus seguidores na rede.Assim como o Fabuloso, é um usuário frequente.Comenta o Campeonato Alemão, agradece convoca-ções e até declara torcida por um de seus ex-clubes,o São Paulo. “E feliz pelo Tricolor mais uma vez estarchegando próximo ao topo da America!! Força SP!!!!”.O goleiro Júlio César é um dos seguidos por Grafite,mas seu perfil é recente e não se sabe ainda o queesperar dele.
Gilberto Silva e Kaká, a dupla evangélica do Twitter,não devem render declarações inconvenientes a Dungadurante o torneio. Gilberto posta mensagens de incen-tivo ao Atlético Mineiro, seu ex-clube, conta fatos docotidiano e não se cansa de louvar a Deus. “Fica comDeus galera que estou indo com Ele, abs a todos”, postouem 4 de maio. Kaká, seguidor de Gilberto, é o brasileiro
de maior sucesso na rede. São mais de 500 mil segui-dores. Devido ao elevado alcance do perfil, todos osposts são feitos em inglês e português.As declarações sãobastante parecidas com a de Gilberto. “Gloria a Deus!!Que alegria e privilegio uma convocação para a Copa doMundo”, declarou após a convocação.
Quem pode dar mesmo que falar não está entre os23 de Dunga. Caroline Celico, mulher de Kaká, postao tempo todo, não dá tempo de muita autocensura.E não costuma poupar os técnicos do marido. Em11 de março, quando Kaká foi substituído no RealMadrid pelo técnico Manuel Pellegrini, ela retuitou:“Técnico covarde sempre tira um jogador cobradopara tentar desviar o foco de sua própria incompe-tência”. Esta será a primeira Copa do Twitter e podeser que, virtualmente, ele quebre muitas das barreirasfísicas impostas por Dunga. u
2 milseguidores
Curtindo a família ecarregando as bateriaspra final de domingo.Vamo q vamo!5:36 PM May 13th via web
rOnALdinhOgAúChO49 milseguidores
Quero disputar a Copa de 2014.Ainda sou um jogador válido.Nesta temporada conseguifazer o meu papel9:00 AM May 17th via web
giLBErTOSiLVA19 milseguidores
gente minha net ta uma ben-cao hoje, ate uma tartarugata mais rapida, desculpe senao conseguir responde los3:45 PM Apr 25th via web
LUiSFABiAnO43 milseguidores
na hora do hino no primeirojogo, vai passar pela cabeca oquanto eu lutei ate chegar ali...11:18 AM May 10th via Twitterin reply to profpablorap
júLiOCÉSAr
Arte: Fernando Pires e Marco Vergotti
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MERCADO
34 > ÉPOCA , 24 de maio de 201034 > ÉPOCA , 24 de maio de 2010
QUANTO VALEM OS TIMESCruzando a idade dos jogadores com seu valor de mercado,chega-se a conclusões interessantes sobre os favoritos da Copa
G ráficos costumam assustar quem não gostade matemática, mas quando bem empre-gados eles ajudam a analisar, num só golpe
de vista, dados que numa tabela seriam impossíveisde compreender em seu conjunto. Os gráficos destapágina cruzam dois tipos de informação: o valor demercado dos jogadores (avaliados pelo site alemãoTransfermarkt) convocados para a Copa e suas ida-des. O resultado permite tirar algumas conclusões. Aprimeira é que, ao contrário de outros mundiais, destavez o Brasil não é a equipe mais valorizada. Na soma
dos 23 jogadores, a Espanha e a Inglaterra superam oBrasil. Exagero ou não, essas duas seleções dividemcom a brasileira o favoritismo nos sites de apostas.Outra conclusão é que o time do Brasil, com médiade idade de 29 anos, é mais experiente (ou mais velho,conforme o ponto de vista) que seus principais rivais.A seleção alemã, com média de 25 anos, é uma das maisjovens do mundial. Os gráficos mostram também queos craques argentinos tendem a valer mais no inícioda carreira, enquanto os brasileiros atingem o auge dovalor por volta dos 28 anos, como Kaká. ◆
Valmir Storti
BRASIL
80
70
60
50
40
30
20
10
0
20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
IDADE
A linha vermelha verticalindica a média de idade dosjogadores de cada seleção.
No caso do Brasil,29,2 anos
A linha vermelhahorizontal indica o valorde mercado médio dos
jogadores de cada seleção.No caso do Brasil,
15,35 milhões
VALOR DE MERCADO– EM EUROS
Cada pontinho representaum jogador. Nos gráficosao lado, apenas osprincipais jogadoresforam identificados
Kaká
Daniel AlvesMaicon
Luis Fabiano
Júlio César
Ramires
Júlio Baptista
Juan Lúcio
Gilberto Silva
GilbertoKléberson
Grafite
Josué
Doni
Gomes
LuisãoElano
ThiagoSilva
Nilmar Robinho
Felipe MeloMichel Bastos
50 milhões
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24 de maio de 2010, ÉPOCA > 35Arte: Marco Vergotti e Alberto Cairo Fontes: Transfermarkt.de (valores), Fifa (idades)
ARGENTINA
20
3834302622
40
60
80Média27,3 anos
Média12,8 milhões
IDADE
ITÁLIA
20
40
60
80Média28,3 anos
Média12,9 milhões
ALEMANHA
Média25,2 anos
Média12,1 milhões
ESPANHA
Média26,6 anos
Média24,3 milhões
PORTUGAL
Média28,1 anos
Média12 milhões
INGLATERRA
Média28,2 anos
Média18 milhões
CristianoRonaldo
Liédson
Deco
Messi
Lionel Messi80 milhões
Mario Gomez27,5 milhões
Cristiano Ronaldo75 milhões
De Rossi38 milhões
Xavi65 milhões
Wayne Rooney53 milhões
De Rossi
Rossi
Buffon
Gomez
Özil
XaviIniesta
Fàbregas
Agüero
Tevez
Rooney
GerrardLampard
IDADE
VALOR VALOR
3834302622
3834302622IDADE IDADE 3834302622
3834302622IDADE IDADE 3834302622
VALOR VALOR
VALOR VALOR
20
40
60
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20
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20
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80
20
40
60
80
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LendaMandela em fotode 2001. Hojesuas apariçõespúblicas são raras
BIOGRAFIA
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Frágil, recluso, aos 91 anos, ele ainda é um símbolo quemantém seu país unido. Seu biógrafo mostra o homem real
Richard Stengel
o verdadeiro
Mandela
“Nelson Mandela talvez seja o último herói purodo planeta. É o símbolo sorridente do sacrifício eda integridade, reverenciado por milhões como umsanto vivo. Mas essa imagem é unidimensional. Eleseria o primeiro a lhe dizer que está longe de ser umsanto – e isso não é falsa modéstia.
Nelson Mandela é um homem de muitas contra-dições.
Tem a casca grossa, mas se fere facilmente. É sen-sível ao modo como os outros se sentem, mas comfrequência ignora aqueles que estão mais próximos.É generoso com relação a dinheiro, mas conta os cen-tavos quando dá uma gorjeta. Não pisa um grilo ouuma aranha, mas foi o primeiro comandante do bra-ço armado do Congresso Nacional Africano (CNA).É um homem do povo, mas se deleita na companhiade celebridades. É ávido por agradar, mas não temedizer não. Não gosta de colher louros, mas vai deixá-
lo saber quando deve recebê-los.Cumprimenta todos na cozinha,mas não sabe o nome de todosos seus seguranças.
Sua persona é uma misturade realeza africana e aristocra-cia britânica. É um gentlemanvitoriano em um dashiki de seda.Seus modos são refinados – afi-nal, ele os aprendeu em escolascoloniais britânicas, com direto-res que leram Dickens quandoDickens ainda estava escrevendo.Ele é formal: vai inclinar-se leve-
mente e estender o braço para ceder-lhe a passagem.Mas não é nem um pouco afetado ou certinho – falacom detalhes quase cirúrgicos sobre a rotina dos ba-nheiros na prisão da Ilha Robben ou como se sentiuquando seu prepúcio foi cortado durante o ritual decircuncisão tribal, quando tinha 16 anos. Usa talheresde prata quando está em Londres ou Johannesburgo,mas quando está na sua região natal, Transkei, preferecomer com as mãos, como é o costume local.
Nelson Mandela é meticuloso. Retira lenços de pa-pel de uma caixa e dobra cada um novamente antes decolocá-los no bolso. Eu o vi retirar um dos sapatos du-rante uma entrevista para desvirar uma meia, quandoreparou que ela estava ao contrário. Na prisão, fez umacópia de cada carta que escreveu durante duas décadase manteve uma lista detalhada de todas as cartas querecebeu, com as datas de recebimento e de resposta.Dorme em um dos lados de uma cama king-size, s
d URANTE QUASE TRÊS ANOS, A PARTIR DE1992, o jornalista Richard Stengel – hoje diretorda revista Time – conviveu com Nelson Mandela
para ajudar a preparar sua autobiografia. Tornou-se, apartir dessa época e desde então, um dos maiores conhe-cedores do ex-presidente sul-africano. No livro Os cami-nhos de Mandela – Lições de vida, amor e coragem (EditoraGlobo, tradução de Douglas Kim), Stengel fala do ho-mem por trás do mito – um homem com defeitos e vir-tudes, mas cuja grandeza fica clara neste trecho do livro.
Foto: Patrick Swirc/Corbis Outline
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38 > época , 24 de maio de 2010
enquanto o outro lado permanece intacto e intocado.Levanta-se antes do alvorecer e faz a cama, meticulo-samente, toda manhã, esteja em casa ou em um hotel.
Vi a expressão de espanto de camareiras quando oencontraram fazendo a cama. Odeia atrasos e consi-dera a falta de pontualidade uma falha de caráter.
Nunca conheci um ser humano que consiga ficarparado como Nelson Mandela. Quando está sentadoou ouvindo, não mexe os dedos das mãos, ou os pés,não se move.
Não tem tiques nervosos. Quando eu ajustava
sua gravata, alisava seu terno ou fixava o microfoneem sua lapela, era como mexesse em uma estátua.Quando ele o está ouvindo, é como se você estivesseolhando para uma fotografia dele – mal se repara seestá respirando.
É um espírito encantador e confiante de que iráseduzi-lo, por quaisquer meios possíveis. É atencioso,cortês, cativante e, para usar uma palavra que eleodiaria, sedutor.
E trabalha nisso. Aprenderá o máximo que pudersobre você antes de encontrá-lo. Quando foi solto, liaos artigos dos jornalistas e os elogiava individualmen-te, com detalhes específicos. E, como a maioria dos
grandes sedutores, ele próprio é facilmente seduzido– pode-se conseguir isso ao deixá-lo perceber que opersuadiu.
O encanto é tanto político como pessoal. A políticaé, em última análise, convencer, e ele considera a simesmo não tanto um Grande Comunicador, mas umGrande Convencedor. Ele irá convencê-lo por meioda lógica e do argumento ou por meio do charme –geralmente uma combinação de ambos. Ele sempreirá convencê-lo a fazer algo, em lugar de ordená-lo.Mas, se for necessário, dará ordens para que você
faça algo.Ele necessita que gostem dele.
Gosta de ser admirado.Odeia desapontar. Quer que, de-
pois de encontrá-lo, você vá embo-ra pensando que ele é tudo o quesempre imaginou.
Isso exige uma tremenda ener-gia, e ele se entrega a quase todomundo que encontra. Quase todosveem o Mandela Completo. Ex-ceto quando está cansado. Entãoseus olhos caem a meio mastro eele parece estar dormindo em pé.Mas nunca conheci um homem
que se reanimasse tanto com uma noite de sono.Ele pode dar a impressão de estar à porta da morteàs dez da noite, e então, oito horas depois, às seisda manhã, vai estar lépido e vinte anos mais novo.
Seu charme está em proporção inversa ao quantoele o conhece. É afetuoso com estranhos e frio comos íntimos.
O sorriso caloroso e afável é concedido a cada novapessoa que entra em sua órbita. Mas o sorriso é re-servado para os de fora. Eu o vi muitas vezes com seufilho, suas filhas, suas irmãs – o Nelson Mandela queeles conhecem muitas vezes parece ser um homemsevero e sisudo, que não é indulgente com os pro-
MANDELA CONSIDERAA SI MESMO NÃO UM GRANDECOMUNICADOR, MAS UMGRANDE CONVENCEDOR.ELE NECESSITA QUE GOSTEMDELE. ODEIA DESAPONTAR
BIOGRAFIA
UM deSTinoeXcepcional
1918Nasce RolihlahlaMandela, em Mvezo,vilarejo da provínciado Cabo. O pai eo bisavô paternoforam chefes dopovo thembu.Seu nome debatismo significa“criador de caso”no idioma local
1925Umaprofessora naescola lhe dáo nome inglêsde Nelson.Mandelanunca soubeo motivo daescolha
Filho da elite de uma etnia negrada África do Sul, Mandela sofreucomo poucos a repressão doapartheid, mas seria o homemque poria fim ao regime desupremacia branca
1927Morre o pai deMandela. Umchefe localtorna-se seu tutor
1936Começa apraticar boxe,uma de suaspaixões
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SÍMBOLOMandela, noinício de maio,com a Copa doMundo nas mãos.Ele anunciouque não iráà cerimôniade abertura
blemas deles. É um pai vitoriano/africano, não umpai moderno. Quando você lhe pergunta sobre algode que não quer falar, mantém o rosto com o cenhofranzido de desagrado. Sua boca se transforma emuma caricatura invertida do seu sorriso. Não tenteforçar a questão – ele simplesmente vai ficar impas-sível e desviar a atenção para outro lugar. Quandoisso ocorre, é como um dia ensolarado que de súbitofica nublado.
Mandela é indiferente a quase todos os bens ma-teriais – não conhece ou não se importa com marcasde carros, sofás ou relógios –, mas o vi enviar umsegurança, que teve de dirigir por uma hora, parabuscar sua caneta favorita.
Ele é generoso com seus filhos quando se trata dedinheiro, mas não conte com sua generosidade sevocê é garçom. Uma vez, almoçamos em um restau-rante elegante de um hotel em Johannesburgo, ondeele foi magnificamente servido. A conta chegou amais de mil rands e vi Mandela examinar algumasmoedas em sua mão e deixar uns poucos trocados.Depois que ele foi embora, passei uma nota de cemrands ao garçom. Não foi a única vez que fiz isso.
Ele vai sempre defender o que acredita ser corretocom uma teimosia virtualmente inflexível. Diversasvezes o ouvi dizer: ‘Isso não é certo’. Fosse algo mun-dano ou de importância mundial, seu tom de voz erainvariável. Eu o ouvi dizer tal frase quando a chavede um segurança não abriu seu escritório e o ouvidizer a mesma frase diretamente ao presidente sul-africano F.W. de Klerk, referindo-se às negociaçõesconstitucionais. Usou-a durante anos na Ilha Robben,quando falava com um guarda ou com o diretor daprisão. Isso não é certo. De forma bem básica, essaintolerância à injustiça era o que o instigava. Era omotor da sua insatisfação, seu simples veredicto sobrea básica imoralidade do apartheid. Ele via algo erradoe tentava corrigi-lo.
Via injustiça e tentava repará-la. s
1937Entra para a faculdadede Direito na cidadede Alice, de onde seriaexpulso em 1940
1942Começa a frequentaras reuniões doCongresso NacionalAfricano (CNA)
1944É um dosfundadoresda Liga daJuventude doCNA. Casa-secom Evelyn,com quemteria quatrofilhos
1952Preso e condenadoa nove mesesde prisão comtrabalhos forçados,com sursis. Abre oprimeiro escritóriode advocacia negroda África do Sul,com o amigoOliver R. Tambo
1958Divorcia-se deEvelyn e casa-se comWinnie, com quemteria duas filhas
1960O CNAcai na ilegalidadee Mandelaé detido
Fotos: Nelson Mandela Foundation/AP, Apic/Getty Images e Peter Magubane/AP
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40 > época , 24 de maio de 2010
Nelson Mandela teve muitos professores em suavida, mas o maior de todos foi a prisão. A prisãomoldou o homem que vemos e conhecemos hoje. Eleaprendeu sobre a vida e a liderança a partir de muitasfontes: o pai distante; o rei de Thembu, que o crioucomo filho; seus amigos e companheiros leais, WalterSisulu e Oliver Tambo; figuras históricas e chefes deEstado, como Winston Churchill e Hailé Selassié; aspalavras de Maquiavel e Tolstói. Mas os 27 anos quepassou na prisão tornaram-se o teste que o fortaleceue consumiu tudo o que era insignificante. A prisão en-sinou-lhe autocontrole, disciplina e foco – as qualida-des que considera essenciais à liderança – e ensinou-lhe como se transformar num ser humano completo.
O Nelson Mandela que saiu da prisão aos 71 anosera um homem diferente do que entrou nela aos 44.Vejam essa descrição do jovem Mandela feita pelo seuamigo mais próximo e ex-sócio, Oliver Tambo, quese tornou líder do CNA enquanto Mandela estavana prisão. ‘Como homem, Mandela é entusiasmado,emotivo, sensível, facilmente melindrado ao rancore à retaliação pelo insulto e pela condescendência.’Emotivo? Entusiasmado? Sensível? Facilmente me-lindrado? O Nelson Mandela que saiu da prisão nãoé nenhuma dessas coisas, ao menos aparentemente.Hoje, ele consideraria todos esses adjetivos censurá-veis. Realmente, uma das maiores críticas que ele diri-ge a alguém é que é ‘emotivo’ ou ‘muito entusiasmado’ou ‘sensível’. Repetidamente, as palavras que o ouviusando para elogiar os outros foram ‘equilibrado’,‘ponderado’, ‘controlado’. O elogio que fazemos aosoutros é um reflexo de como nos vemos – e aquelassão precisamente as palavras que ele usaria para des-crever a si mesmo.
Como esse entusiasmado revolucionário tornou-seum homem de Estado ponderado? Na prisão, tinha demoderar suas respostas para tudo. Havia pouco queum prisioneiro pudesse controlar. A única coisa quevocê podia controlar – que você tinha de controlar
– era você mesmo. Não havia lugar para o impulso,a autoindulgência ou a falta de disciplina. Ele nãotinha zona de privacidade.
Quando entrei pela primeira vez na antiga celade Mandela na Ilha Robben, assustei-me. Não haviaespaço para um ser humano, era muito menor que otamanho de Mandela. Ele não podia se esticar quandoestava deitado. Era óbvio que a prisão o tinha molda-do, literal e figurativamente: não havia espaço paramovimento insignificante ou emoção, tudo tinha deser aparado, tudo tinha de ser ordenado. Toda manhãe toda noite ele arrumava cuidadosamente os poucosbens que fora autorizado a ter naquela cela minúscula.
Ao mesmo tempo, tinha de continuar a ser forte,todos os dias, diante das autoridades. Era o líder dos
BIOGRAFIA
1962Libertado,deixa o paísilegalmentepara treinarpara a lutaarmada;preso aovoltar, écondenadoa cincoanos
1963É enviadoà prisãode RobbenIsland
1964Condenadoà prisãoperpétua por“sabotagem”
1982É transferidopara a cadeia dePollsmoor
1985Rejeita oferta delibertação emtroca da renúnciaà luta armada
1988Contraituberculose. Éhospitalizadopor seissemanas etransferidopara outraprisão
Fotos: David Rogers/All Sport, Brian Bahr/Getty Images e Greg English/AP
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24 de maio de 2010, época > 41
UNIÃOMandela entregaa taça pelo título
mundial derúgbi a François
Pienaar, em1995. O gestosimbolizou a
reconciliação
prisioneiros e não podia se degradar; todo mundo viaou percebia instantaneamente quem recuava ou faziaconcessões. Ele se tornou ainda mais consciente domodo como era visto por seus companheiros. Embo-ra tivesse sido isolado do mundo, a prisão era seu pró-prio universo e ele tinha de liderar lá tanto quanto,ou mais, do que quando saiu. E em meio a tudo issotinha tempo – muito tempo – para pensar, planejare aperfeiçoar, e então aperfeiçoar ainda mais.
Durante 27 anos ponderou não somente sobre po-lítica, mas sobre como se comportar, como ser umlíder, como ser um homem.
Mandela não é introspectivo –ao menos, não no sentido de queirá falar sobre seus sentimentos oupensamentos íntimos. Muitas vezesficou frustrado – e, às vezes, irritado– quando tentei que analisasse seussentimentos.
Ele não é fluente nas línguas mo-dernas da psicologia ou da autoa-juda. O mundo no qual foi criadonão foi afetado por Sigmund Freud.Ele medita muito sobre o passado,mas raramente fala sobre ele. Houveapenas um momento de autocomi-seração que presenciei. Estávamosfalando da sua infância e ele ficou olhando para longee disse: ‘Sou um velho que só pode viver no passado’.E isso foi na época em que estava se preparando paraser presidente da nova África do Sul e criar uma novanação – o momento do seu maior triunfo.
Contudo, mais e mais eu lhe perguntava sobrecomo a prisão o tinha transformado. Quanto o ho-mem que tinha saído em 1990 era diferente do quetinha entrado em 1962? Essa pergunta o irritava. Ouele a ignorava, indo direto a uma resposta política, ourecusava a premissa. Finalmente, um dia, disse-me,exasperado: ‘Saí maduro’.
Com maturidade ele queria dizer que aprendeua controlar aqueles impulsos mais juvenis, não quenão fosse mais melindrado, ou magoado, ou que nãoficasse bravo. Não significa que você sempre sabe oque ou como fazer; significa que você consegue com-primir as emoções e as ansiedades que interferem nomodo de ver o mundo como é. Você consegue ver porintermédio delas e ver a si completamente.
Ao mesmo tempo, ele compreendeu que nem todomundo pode ser Nelson Mandela. A prisão o endu-receu, mas destruiu muitos outros. Entender isso otornou mais empático, não menos. Nunca foi senhor
absoluto sobre os que não conseguiram. Nunca cul-pou ninguém por ceder.
Não, nem todo mundo pode ser Nelson Mande-la. Ele lhe diria para ser grato por isso. Felizmente,poucos de nós precisam suportar em nossas própriasvidas o que ele teve de suportar na dele. Mas issonão significa que essas lições não são aplicáveis aonosso dia a dia. Elas são. Sei disso porque a minhavida foi intensificada por causa delas. Para Mandela,a prisão refinou as lições de vida e liderança. Vocêpode aprendê-las por uma fração do que ele teve depagar.” ◆
SÓ PRESENCIEI UM MOMENTODE AUTOCOMISERAÇÃO.
FALANDO DE SUA INFÂNCIA,ELE OLHOU PARA LONGE E
DISSE: “SOU UM VELHO QUE SÓPODE VIVER NO PASSADO”
1990Libertado em 11 defevereiro, é eleitovice-presidentedo CNA
1993Recebe o PrêmioNobel da Pazjunto com FrederikW. de Klerk
1994É eleitopresidenteda Áfricado Sul
1996Divorcia-sede Winnie
1998No diade seus80 anos,casa-secom Graça,viúva doex-presi-dente deMoçambi-que Samo-ra Machel
1999Deixa aPresidênciasem tentara reeleição
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