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SBDG – Caderno 134 Estilos de liderança na análise do filme... 1
Curso de Pós-Graduação em Dinâmica dos Grupos desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Dinâmica dos Grupos – SBDG
em parceria com as Faculdades Monteiro Lobato – FATO Coordenação: Samara Maria M. F. Costa e Silva
e Carmem Maria Sant’Anna
Estilos de liderança na análise do filme “Coach Carter – Treino para a vida”
Rejane T. Schneider Helena Sodré Dantas
Andreia Damasceno Freitas Fatima Cristina Martinelli Manfrin
Resumo – Este trabalho visa analisar os estilos de liderança, exercido pelo treinador Carter adotando como campo de investigação a história que se passa no filme “Treino para a vida”. O filme mostra como o técnico comanda sua equipe e, através de sua atuação, os jovens conseguem vencer os desafios e assim mudar a sua realidade. O técnico encarou os problemas, mesmo tendo que lidar com a desconfiança e a má vontade da comunidade escolar, fez com que ele pudesse treinar o time e, ao mesmo tempo, quebrar as barreiras criadas, promovendo a integração da equipe, permitindo, dessa forma, que o grupo pudesse chegar às vitórias. O enredo do filme evidencia os comportamentos dos liderados e o aprendizado que adquiriram ao longo dos treinamentos e da convivência. Palavras-chave – Contrato grupal. Coesão. Liderança. Abstract – This paper aims to analyze the styles of leadership exercised by Coach Carter, adopting the field of investigation the story happens in the movie “Training for life”. The film shows how the coach runs his team and, through their actions, young people can overcome the challenges and thereby change your reality. The coach looked at the problems, despite having to deal with the mistrust and unwillingness of the school community, made him the team could train and at the same time, break the barriers created by promoting the integration of the team, allowing thus that the group could get to the victories. The movie’s plot shows the behavior of the followers and the knowledge acquired during the training and living together. Key words – Contract. Group cohesion. Leadership.
INTRODUÇÃO
Os filmes em geral descrevem aspectos da realidade que podem ajudar a
diferentes análises sobre o comportamento das pessoas e suas diversas interações.
Com base na assertiva acima para a realização deste trabalho foi utilizado à
observação e análise do filme “Coach Carter – Treino para a vida”, com o propósito de
identificar os processos grupais através de cenas do filme que evidenciam a conduta dos
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jogadores de um time de basquete e o aprendizado que eles adquirem ao longo dos
treinos e da convivência.
Visando a alcançar seus objetivos o técnico encara os problemas, mesmo tendo
que lidar com a indiferença da comunidade escolar e com a má vontade dos jogadores.
Treina o time e, ao mesmo tempo, quebra as barreiras, promovendo o desenvolvimento
da equipe e a mudança cultural e social em um bairro de periferia da Califórnia, nos
Estados Unidos.
A escolha do filme deu-se por entender que o mesmo oferece um excelente
laboratório de estudo, visto que os personagens interagem de maneira intensa e as
situações de grupo são reforçadas justamente pelo envolvimento de papéis em conjunto
com outros grupos formalmente instituídos.
Diversas são as cenas que nos permitem observar a formação do grupo, o
crescimento pessoal gerado pela interação, e principalmente, à transformação de um
grupo de pessoas diferentes, distantes, sem esperança e motivação em uma equipe capaz
de realizar tarefas em comum e de voltar a sonhar. Dentre os diversos componentes que
envolvem os processos grupais este trabalho privilegia como foco, o contrato grupal,
coesão e a liderança.
Na sequência este trabalho está organizado em: um breve relato do filme,
identificação e análise dos processos grupais, no qual são descritas as cenas relacionadas
às questões levantadas como objeto de estudo. Na análise, como abordagem teórica,
utilizaremos as teorias abordadas por Fela Moscovici, abordagens e análises de, David
Zimerman e pesquisa de Cartwright e Zander.
1 RELATO DO FILME
“Coach Carter – Treino para a vida”, uma produção em parceria dos EUA e
Alemanha, do ano de 2005, dirigida por Thomas Carter e protagonizada por Samuel
Jackson. Tem como pano de fundo os fatos que ocorrem na Escola Reymond, localizada
em um bairro muito pobre e violento, do Estado da Califórnia, nos EUA.
O treinador, Sr. White (Mel Winkler) ao aposentar-se, convida Sr. Carter (Samuel
Jackson), ex-aluno da escola para assumir como treinador do time de basquete em que
havia sido jogador. Quando jovem, obtivera no time várias vitórias, com inúmeros
recordes, os quais até então não haviam sido quebrados.
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O desafio do novo técnico era grande. O time na última temporada ganhara apenas
4 jogos, perdendo 22. Os jogadores eram briguentos, sem nenhuma disciplina e regras.
Porém Carter acreditava que podia transformar aqueles alunos em pessoas comprome-
tidas, utilizando como ferramenta o esporte e a educação. A partir deste momento começa
um processo de mudança cultural que atinge os jogadores, toda a comunidade escolar e o
bairro.
Para Carter o basquete não deveria ser um pretexto para estar na escola, mas uma
conquista dos alunos que obtivessem boas notas e fossem assíduos nas aulas. Dessa
forma, o treinador decide impor certas regras, estas, a princípio deixam alunos, pais,
professores e a diretora assustados, alguns até inconformados. Mas ele não se deixa
afetar, pois sabe o que precisa fazer para chegar onde deseja.
Dentre as regras elaboradas o treinador exige ser chamado cerimoniosamente por
“Sr. Carter”, exige também a assinatura de um contrato firmado entre jogadores e
treinador. Neste contrato explicitam-se as regras que os devem ser seguidas por todos os
jogadores: rendimento escolar adequado, frequência regular às aulas, uso frequente do
terno. Caso essas regras não sejam compridas o time ficaria suspenso de todos os jogos
até que as metas fossem alcançadas.
Para Carter, o time era formado por “alunos atletas”, o que significava para ele,
que o mais importante é ser um bom aluno. Tornar aqueles jovens estudantes empe-
nhados sempre foi grande objetivo do treinador. Tinha como meta proporcionar a eles a
oportunidade de ingressarem na Universidade, mostrando ao time a importância dos
estudos como meio de se livrar do mundo do crime e das drogas.
Fica evidente logo no início do filme os conflitos, pois alguns membros do time
não tinham disciplina. Entretanto com o tempo, os atletas dedicam-se aos treinos e o time
de basquete supera as expectativas. Começa uma série de vitórias para o time de
Richmond, mas os atletas esquecem um aspecto importante do contrato firmado: seguir
todas as regras do treinador.
Os alunos obtiveram ótimo rendimento nas quadras, mas péssimo desempenho
acadêmico. As notas de alguns caíram e outros nem frequentavam as aulas. Frente ao
ambiente adverso, o treinador toma uma medida drástica que choca tanto os alunos
quanto a comunidade de Richimond: tranca o ginásio de esporte e cancela todos os jogos
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do time de basquete, até que os alunos cumpram as regras determinadas pelo contrato
firmado entre eles.
Carter ao testar os jogadores, começa a colocá-los nas posições mais adequadas, e
pode exigir resultados, pois sabe que é possível. Afinal, ele também fora aluno daquela
escola, passara pelas mesmas situações daqueles garotos. Sendo um jogador com
recordes, e isso proporcionou a ela acesso à boas universidades e bons resultados na vida.
Agindo desta forma Carter faz com que esses garotos comecem a visualizar o
pertencimento a um mundo diferente, com a possibilidade de irem para a universidade,
deixando para trás o mundo que muitos de seus pais e amigos fazem parte: o mundo das
drogas e do crime. Enfim, o treinador abre para os jovens a possibilidade de se tornarem
verdadeiros cidadãos e profissionais.
2 IDENTIFICAÇÃO DOS ASPECTOS DO PROCESSO GRUPAL
Analisado sob o ponto de vista dos processos grupais e baseando-se, nos aspectos
de comportamentos decorrentes das interações interpessoais, apesar do filme trazer outras
possibilidades de estudo, conforme dito anteriormente este trabalho tem como foco:
contrato grupal coesão e liderança.
O filme reúne elementos para exemplificar o papel e o estilo de liderança exercido
pelo treinador, que prepara os garotos para saírem da marginalidade e das drogas, por
meio do esporte e da educação.
Nesse sentido, a abordagem explora a liderança exercida pelo treinador, com o
objetivo de mudar a vida dos garotos que estavam habituados a jogar apenas para passar
de ano, sem frequentar a sala de aula. Os jogadores são desafiados a aprender e entender
a vida como um treino para atingir resultados permanentes e não apenas um jogo com
vitória.
2.1 Contrato grupal
Segundo Fela Moscovici (2002), todos os grupos possuem três principais áreas de
interesse: o próprio grupo com seus membros e suas dinâmicas interna e externa; os
meios e métodos usados pelo grupo e os fins para os quais o grupo está orientado.
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A estrutura grupal define-se pelo padrão de relacionamento interno do grupo e seu
arranjo ou desenho. Representa a maneira pela qual as pessoas e seus papéis podem
estabelecer esse relacionamento no plano formal e informal.
Zimerman afirma que:
uma importante recomendação de técnica grupolística é o estabeleci- mento de um enquadre e a necessidade de preservação do mesmo, conceituando-o como a soma de todos os procedimentos que organizam normatizam e possibilitam o funcionamento grupal, resultando em conjunto de regras, atitudes e combinações como local de reuniões, horários, periodicidade, honorários, número de participantes, etc., os quais formam um setting – forma de estabelecer uma necessária delimitação de papéis e posições, direitos e deveres, e limites [...] entre o que é desejável e o que é possível (1997, p. 35).
De um modo geral podemos conceituar normas sociais como sendo padrões ou
expectativas de comportamentos partilhados pelos integrantes de um grupo, que utilizam
estes padrões para julgar a propriedade ou adequação de suas análises, sentimentos e
comportamentos. Todo grupo, não importa o tamanho, necessita estabelecer normas para
poder funcionar adequadamente.
Retomando o filme a questão do contrato grupal pode ser visivelmente ilustrada
no momento em que o treinador Carter estabelece a assinatura de um contrato onde se
explicitam as regras que devem ser seguidas por todos os jogadores: rendimento escolar
adequado, frequência regular às aulas, uso frequente do terno. A quebra destas regras leva
a suspensão dos jogos.
As normas sociais facilitam a vida dos membros de um grupo. Elas não são
necessariamente explícitas, mas partilhadas, conhecidas e seguidas pelos integrantes do
grupo. Geralmente, quem não aceita as normas é isolado pelos demais participantes do
grupo.
Outro exemplo da questão do contrato grupal pode ser observado quando o
personagem Cruz ao discordar das normas estabelecidas pelo treinador exclui-se e
abandona o time.
Neste conjunto, o técnico ofereceu conduta dominadora, atribuindo condições
para quem quisesse continuar no time e estabelecendo novas regras, onde todos os
jogadores deveriam aceitar suas deliberações.
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2.2 Coesão
Para Cartwright e Zander (1967, p. 90), “a coesão de um grupo é a resultante de
todas as forças que atuam sobre os membros a fim de que permaneçam no grupo”. Assim,
coesão é um conceito que se refere a qualidade de um grupo e que inclui orgulho
individual de seus membros, comprometimento, gregariedade e aptidão para contornar
crises e ser duradouro.
Segundo Cartwright e Zander, a coesão é um elemento que torna um grupo
“vigoroso”, energizado. Faz com que os componentes trabalhem com mais ardor, se
disponham a maiores sacrifícios pelo grupo, celebrem as virtudes, sintam-se mais felizes
juntos, promovam a interação com mais frequência e busquem “acordos” com maior
empenho.
Ainda pode-se dizer que um grupo coeso poderia ser caracterizado como aquele
em que todos os seus membros trabalham reunidos para um objetivo comum, em que
estão prontos para aceitar a responsabilidade pelo trabalho coletivo (CARTWRIGHT;
ZANDER, 1967, p. 84).
Os autores também inferem que a disposição do grupo para suportar dor ou
frustração e para defender o grupo das críticas e ataques externos, também são indicações
de maior ou menor grau de coesão no grupo.
No filme observa-se nitidamente a coesão no momento em que os alunos se
recusam a jogar as correntes da porta do ginásio trancada por Carter, são cortadas sem o
seu consentimento. Mas ao entrar no ginásio o treinador se surpreende já que os alunos ao
invés de treinarem, estudam na quadra. É o momento em que a equipe percebe o quanto o
treinador se importava com ela e o quanto as atitudes dele eram pensadas para o bem dos
alunos.
Na cena em que aparece um conflito entre os jogadores e a comunidade local, há
uma cobrança para que cumpram suas funções e mudem seus estilos frente aos estudos.
Constatamos que o comportamento dominante do técnico, acabou influenciando a
atuação dos alunos e professores, proporcionando crescimento.
Outro momento importante do filme que enfatiza a coesão é quando um dos
jogadores (Cruz) não consegue fazer a quantidade exigida exercícios (flexões e
suicídios), e os colegas do time se propõem a cumprir a quantidades de exercícios
estipulados, demonstrando desta forma espírito de equipe e cooperação. Para melhor
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entendermos a importância da coesão para um grupo transcrevemos a fala de um dos
jogadores: “Uma pessoa luta, todos lutam, um jogador vence, todos vencem. Numa
equipe, o sacrifício deve ser de todos, assim como as vitórias repartidas”.
2.3 Liderança
Durante décadas acreditou-se na figura do líder nato, que apresentava as seguintes
características: inteligência, criatividade, persistência, autoconfiança e sociabilidade. É
certo que muitas destas características ajudam o indivíduo a desenvolver o potencial de
liderança, mas não se pode afirmar que um indivíduo será líder por apresentar estas
credenciais. É fundamental que estes e outros aspectos sejam harmonizados como os
objetivos perseguidos pelo grupo.
No filme o treinador e líder Carter gosta das pessoas e acredita que todas podem
desenvolver seu potencial, promovendo atividades de autoconhecimento, desafiando seus
jogadores a chegarem ao limite do corpo, da mente da alma. Sua comunicação é clara e
objetiva sua atitude absolutamente transparente, não ficando com medo de melindrar, de
revolucionar, de perder seus atletas. Na liderança o treinador trabalha o processo de
feedback de forma brilhante, “o que você faz bem… o que você não faz e como pode
fazer”.
Segundo Moscovici (2002, p. 129), o embasamento conceitual mais moderno das
teorias situacionais denomina-se de trilha-meta de liderança. Essa teoria utiliza o modelo
de expectativa da teoria motivacional de processo, na tríade entre liderança, motivação e
poder, que são elementos entrelaçados para as mudanças na liderança e consequen-
temente das necessidades do grupo.
Nosso enfoque será neste momento é para liderança situacional. Segundo
Moscovici (2002, p. 129), os fatores situacionais de um contexto-tempo passaram a ser
encarados com a mesma importância ou talvez maior, que os fatores pessoais e
interpessoais dos modelos de traços e de grupo.
Para Fela Moscovici (2002, p. 131), a trilha-meta procura explicar o comporta-
mento do líder sobre a motivação, a satisfação e o desempenho dos membros do grupo,
ou seja, os esforços do líder são no sentido de tornar o caminho para os objetivos o
melhor possível para os liderados.
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De acordo com essa teoria outros estilos de liderança são descritos, levando-se em
conta que as mudanças são parte integrante da construção dos grupos.
Liderança diretiva ou autoritária em que os liderados aceitam as ordens sem
modificar;
Este estilo de liderança pode ser observado na cena em que Carter se mantém
firme diante das suas regras e normas. Tranca a quadra com cadeado e marca encontro
com os alunos na biblioteca.
A conduta do técnico neste momento é de um líder autocrático, que determina e
não dá abertura a sua equipe para contribuir com outras estratégias, permanecendo e
fortalecendo a postura de liderança ora estabelecida.
Acreditamos que o estilo diretivo é completamente aplicável, uma vez que o
grupo precisa de limites. O estilo autoritário em nossa percepção se refere ao poder
coercitivo.
E, segundo afirma Moscovici (2002, p. 136),
O poder coercitivo consiste na capacidade de aplicar punições ou fazer ameaças de punições, frequentemente associado ao poder legitimo. Ameaças de retirada de afeto, de reconhecimento ou consideração, censuras, afastamento, diminuição de atenção e de comunicação cons- tituem exemplos de poder de coerção nas relações interpessoais.
No caso em questão percebe-se que foi imperativo ao técnico uma liderança em
um primeiro momento autocrática, e até autoritária onde as regras eram impostas, pois
somente desta forma haveria controle sob as atitudes hostis do grupo que necessitava de
limites.
Liderança de apoio em que existe a amizade do líder e preocupação com os
liderados;
Um bom exemplo da liderança de apoio vê-se na cena quando o jogador Cruz,
após o assassinato de seu primo, procura o treinador no meio da noite em sua residência e
é acolhido com apoio emocional.
Liderança participativa em que o líder solicita opinião dos liderados, embora seja
ele quem toma as decisões;
A cena que nos remete a este estilo de liderança pode ser observada no momento
em que o treinador se reúne com os atletas na biblioteca e busca com eles, qual a
alternativa melhor para que obtenham os seus objetivos que é estudar para jogar.
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Liderança orientada para realização em que o líder demonstra confiança na
capacidade dos liderados.
Na cena em que há a probabilidade do time ser derrotado no campeonato, o
técnico motiva os jogadores os jogadores deixando claro em sua fala valor individual,
considerando assim os jogadores como vencedores, os melhores. Esta atitude faz com que
o time fique mais unido e desempenhe todo seu potencial para ganhar o jogo apesar das
dificuldades encontradas.
Assim nas diversas situações, grupo e líder se influenciam; pois liderança engloba
o líder, o grupo e a situação.
O verdadeiro líder é um transformador de pessoas e do ambiente em que vive. Por
isso precisa buscar seu autoconhecimento e conhecer as pessoas com quem se relaciona
para ajudá-las no seu desenvolvimento e fazer com que elas brilhem e saibam lidar com
isso. No momento em que cada um encontra seu caminho e sabe que para obter um
melhor resultado (um brilho maior) precisa de outras pessoas, o líder consegue formar
uma verdadeira equipe.
Podemos ver claramente esta situação nas cenas em que Carter questiona Cruz
sobre seus medos. Após passar algum tempo, Cruz encontra a resposta para esta pergunta
– Qual seu maior medo?
Temos medos do nosso próprio brilho. Nosso maior medo não é sermos inadequados. O nosso maior medo é sermos infinitamente poderosos é nossa própria luz e não nossa escuridão que nos amedronta. Sermos pequenos não engrandece o mundo. Não há nada de transcendente em sermos pequenos, pois assim os outros não se sentirão inseguros ao nosso lado. Todos estamos destinados a brilhar, como as crianças. Não apenas alguns de nós, mas todos. E, enquanto irradiamos a nossa admirável luz interior, inconscientemente estamos a permitir aos outros fazer o mesmo. E, quando nos libertamos dos nossos próprios medos a nossa presença automaticamente libertará os medos dos outros. (Nelson Mandela, no discurso de posse como presidente da África do Sul. Adaptado)
Fela Moscovici (2002, p. 126) salienta que existe uma diferença entre “líder” e
“liderança”. Líder é a pessoa no grupo à qual foi atribuída, formal ou informalmente, a
função de dirigir e coordenar as atividades relacionadas à tarefa. Já “estilos de liderança”
é o modo como uma pessoa, no momento em que está em uma posição de líder,
influencia os outros membros do grupo.
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Podemos registrar “estilos de liderança” através de Fela (2002, p. 126), na qual
“estudar liderança, o foco é a relação, o comportamento interpessoal entre líder e
liderados, entre a pessoa que influencia e as pessoas que são influenciadas”.
O poder consiste na capacidade de uma pessoa conseguir que outra pessoa ou
grupo aja da forma desejada pela primeira, ocorrendo mudança de comportamento, ou
seja, a pessoa com o poder atribuído modifica o comportamento dos outros, os influencia
com seus exemplos. Neste sentido, são os próprios influenciados que atribuem poder ao
influenciador, pelo processo da percepção em decorrência de múltiplos fatores cognitivos
e emocionais. A autoridade é o poder legitimado socialmente, ou seja, uma pessoa que
recebe a incumbência formal/legal de manejar a equipe. Carter era um líder que
influenciava e manejava os atletas pelo seu exemplo de vida e determinação, tendo o
direito reconhecido de exigir certas normas e condutas por ele estabelecidas para
obtenção do resultado.
O papel do líder é dar a direção, mostrar que é possível e que está com a equipe
em todo o processo, caso oposto, a autoridade do líder começa a cair e seus liderados não
o seguem. É raro, pois o líder que reveste o poder que lhe é conferido como uma atitude
de fazer com que as pessoas o sigam espontaneamente baseado apenas na sua influência
pessoal.
Percebemos que isso acontece na cena em que Carter conta sua história de vida,
que veio da mesma comunidade e que superou os mesmos obstáculos que os jogadores.
O modelo apresentado sugere que vários estilos podem ser usados pelo mesmo
líder em diferentes situações. A eficácia de um estilo de liderança, autocrático ou
participativo, depende de vários fatores situacionais, incluindo a natureza da tarefa, a
estrutura de recompensas e o clima da organização, as habilidades, personalidade e
expectativas do líder e dos membros do grupo.
A situação e o grupo influenciam o estilo de liderança, encorajando mais um estilo
que outro. O líder precisa ter certa flexibilidade para usar estilos diferentes, sem chegar a
extremos de incongruência, da mesma forma como atende às expectativas de diferentes
papéis sociais, desempenhando-os com comportamentos mais ou menos adequados
resultantes de sua flexibilidade, motivação e experiência. “Nós nos comportamos
diferentemente de acordo com papéis e situações, sem deixarmos de ter consistência
interna ou de sermos “nós mesmos” (MOSCOVICI, 2002, p. 131).
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Uma teoria abrangente de liderança tem que englobar, necessariamente, o líder o
grupo e a situação ou o contexto (idem, p. 132).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise nos gerou várias reflexões, mas o aspecto que mais nos chamou atenção
foi à influência do técnico Carter sobre o time, desencadeando vários efeitos no
funcionamento e estrutura do grupo, gerando mudanças na vida dos jogadores/alunos.
Podemos considerar que as mudanças que partiram do time, produziram também
transformações na escola, no bairro e cidade, havendo superação do preconceito e da
violência.
Diante das teorias, acreditamos que a liderança exercida pelo técnico, passando
por variados estilos de liderança representa o ponto forte do líder bem como a motivação
gerada para a transformação da realidade até então vivida.
A liderança exercida assim usando o estilo apropriado para cada momento que o
grupo atravessa, ajuda também na formação de novos líderes, conforme podemos
evidenciar no filme.
REFERÊNCIAS
CARTWRIGHT, D.; ZANDER, A. (Org.). Dinâmica de grupo: pesquisa e teoria. São Paulo: E.P.U., 1975.
MOSCOVICCI, Fela. Equipes dão certo: a multiplicidade do talento humano Rio de Janeiro: José Olympio, 1996.
______. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 12. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: José Olympio, 2002.
ZIMERMAN, D. E. Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre Artes Médicas, 1997.
Leituras recomendadas
CASTILHO, A. (Org.). Filmes para ver e aprender. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003.
______. A dinâmica do trabalho de grupo. 2. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1994.