Post on 07-Jul-2020
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ESVETILANE APARECIDA RAITZ
MAGALI CARIN SEIBERT
EDENTULISMO EM INDIVÍDUOS IDOSOS RESIDENTES EM
BRUSQUE(SC): LEVANTAMENTO EPIDEMIOLÓGICO E
PERCEPÇÕES DOS SUJEITOS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de cirurgião-dentista do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí.
Orientador: Profª. Luciane Campos
Itajaí (SC), 2006
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AGRADECIMENTOS
Agradecemos primeiramente à Deus que nos deu saúde, paz e perseverança para concluirmos este trabalho.
Aos nossos pais por terem nos acompanhado durante esta caminhada
com tanto amor, paciência e carinho. À professora Luciane Campos que com toda a atenção nos auxiliou e
nos guiou para que o nosso projeto inicial se tornasse um trabalho de conclusão de curso. Obrigada pelo imenso carinho e pela amizade que nos une.
Ao setor de apoio a pesquisa por ter nos acompanhado desde a fase
inicial deste trabalho, sempre trazendo valiosas contribuições. Aos idosos que fizeram parte da amostra, sem eles esta pesquisa não
existiria. Obrigada pela atenção e pela experiência de vida que adquirimos por meio de sua sabedoria.
Enfim, agradecemos a todos que estiveram ligados a nós durante o
desenvolvimento deste trabalho. Temos a certeza de que isto só foi possível graças a generosidade constante de muitos, a quem queremos deixar aqui expresso o nosso imenso agradecimento.
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EDENTULISMO EM INDIVÍDUOS IDOSOS RESIDENTES EM BRUSQUE(SC): LEVANTAMENTO EPIDEMIOLÓGICO E PERCEPÇÕES DOS SUJEITOS Acadêmicas: Esvetilane Aparecida RAITZ Magali Carin SEIBERT Orientadora: Profª Luciane CAMPOS Defesa: setembro de 2006 Resumo: A condição de saúde bucal da população brasileira, mais especificamente dos idosos, ainda se encontra deficiente. A importância da valorização da saúde bucal, nos idosos, tem sido enfatizada atualmente, principalmente em função dos levantamentos epidemiológicos realizados por instituições governamentais e não governamentais. Considerando-se que a cidade de Brusque (SC) não integrou a população amostral para o levantamento efetuado pelo Projeto SB Brasil, vê-se a necessidade de uma investigação entre os indivíduos de terceira idade residentes nesta cidade. Sendo assim, desenvolveu-se um levantamento epidemiológico do índice de edentulismo em idosos e avaliou-se a autopercepção destes sujeitos com relação a sua saúde bucal. Integraram a pesquisa 306 idosos com 60 anos ou mais, pertencentes a sete grupos de convivência. Para a coleta de dados do levantamento epidemiológico foi utilizado o índice CPO-D, levando-se em conta os critérios da OMS para o edentulismo. Para a autopercepção, adotou-se um questionário, com base no Índice Geriatric Oral Health Assessment Index (GOHAI). Verificou-se que 69,60% dos sujeitos da pesquisa eram edêntulos totais, 28,44% edêntulos superior, 0,33%, edêntulos inferior e 1,63% não apresentavam edentulismo apesar de utilizarem prótese parcial removível ou prótese fixa. No que diz respeito ao índice GOHAI, 40,19% dos sujeitos classificaram sua saúde bucal como boa, 20,26% relataram ter saúde bucal regular e 39,54% saúde bucal precária. Verificou-se também que as questões que mais influenciaram no resultado do índice GOHAI foram as relacionadas à função mastigatória o que revelou que o conforto e a qualidade da adaptação e estabilidade das próteses totais têm influência significativa na autopercepção de saúde bucal dos idosos. Acreditamos que se faz necessária uma mudança de comportamento cultural, ética, sociológica e científica no que tange aos cirurgiões-dentistas, principalmente, que precisam adotar conhecimentos, recursos e estratégias em busca da promoção e educação em saúde para o controle e tratamento das doenças bucais. Palavras-chave: odontogeriatria, saúde do idoso, epidemiologia
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EDENTULISM IN ELDERLY INDIVIDUALS RESIDENT IN BRUSQUE (SC) : EPIDEMIOLOGIC SURVEY AND SELFPERCEPTIONS Academic: Esvetilane Aparecida RAITZ Magali Carin SEIBERT Adviser: Profª Luciane CAMPOS Defense: September of 2006 Summary: The condition of oral health of the Brazilian population, more specifically of the elders, still deficient. The importance of the valorization of the oral health, in the elderly, has been emphasized at present, mainly in function of the epidemiologic survey carried out by not governmental and governmental institutions. Considering itself that the city of Brusque (SC) did not integrate the amostral population for the survey performed by the Project SB Brazil, we see the need of an inquiry between the individuals of third resident age in this city. Being like this, developed a epidemiologic survey of the index of edentulousness in elders and evaluated itself to selfperception of these subjects regarding its oral health. They integrated research 306 elders with 60 years or more, belonging to seven groups of elderly people. For the fact-gathering of the epidemiologic survey was utilized the index CPO-D, leading itself in count the criteria of the OMS for the edentulousness. For the selfperception, we adopted a questionnaire, on the basis of the Index Geriatric Oral Health Assessment Index (GOHAI). It verified that 69,60% of the subjects of the research were totally edentulousness, 28,44% upper edentulousness, 0,33%, lower edentulousness and 1,63% did not present edentulouness despite of the were utilizing partial prosthesis. In what concerns the index GOHAI, 40,19% of the subjects classified its oral health as good, 20,26% related to have regular oral health and 39,54% a precarious oral health. It verified itself also that the questions that more influenced in the result of the index GOHAI were that ones related to the function, fact that revealed that the comfort and the quality of the adaptation and stability of the total prosthesises have significant influence in the selfperception of oral health of the elders. We believe that is necessary a change of cultural behavior, ethics, sociological and scientific in the surgeons dentists, mainly, that are going to adopt knowledge, resources and strategies in search of the promotion and education in health for the control and handling of the oral illnesses. Keywords: gerontology/ dental geriatric, health of the elder, epidemiology
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................... 07
2 REVISÃO DE LITERATURA............................................................... 2.1 Envelhecimento: aspectos históricos.......................................... 2.2 O processo de envelhecimento.................................................... 2.3 Edentulismo na terceira idade...................................................... 2.4 Estudos com populações de idosos............................................ 2.5 O idoso e a autopercepção sobre saúde bucal.........................
10 10 13 16 18 21
3 PROCEDIMENTOS DA PESQUISA.................................................. 25
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS................... 4.1 Levantamento epidemiológico..................................................... 4.2 Autopercepção sobre saúde bucal dos sujeitos avaliados.......
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................... 42
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1 INTRODUÇÃO
Apesar de ser uma inverdade, a perda total de dentes, com o avanço da
idade, é aceita pela sociedade e pelos dentistas como algo natural. A
valorização da saúde bucal como sendo importante para a saúde geral do
indivíduo só entrou em foco a partir do final da década de 70 com o despertar
do senso da prevenção. No entanto, a condição de saúde bucal da população
brasileira, mais especificamente dos idosos, ainda encontra-se em situação
deficiente. (ROSA et al., 1992)
Dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) demonstram o crescente número de idosos, em nosso país que em
escala inversa, tem um número de dentes cada vez menor. Também vários
estudos regionalizados têm relatado que a maior parte desta parcela da
população é desassistida em relação ao atendimento odontológico. (SILVA et
al., 2002; SILVA et al., 2005)
A necessidade da valorização da saúde bucal, nos idosos, tem sido
enfatizada atualmente, principalmente em função dos levantamentos
epidemiológicos realizados por instituições governamentais e não
governamentais. Os dados do Projeto SB Brasil 2002-2003 (BRASIL, 2004)
demostram que, na Região Sul, 68,20% dos idosos usam prótese superior e
25,91% inferior e quanto à necessidade de prótese nesta mesma região tem-se
7,95% para superior e 14,44% para inferior.
Considerando-se que a cidade de Brusque (SC) não integrou a
população amostral para o levantamento efetuado pelo Projeto SB Brasil, vê-se
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a necessidade de execução de uma investigação entre os indivíduos idosos
residentes nesta cidade.
É difícil estimar a futura condição de saúde bucal e as necessidades de
tratamento da próxima geração de idosos por meio de dados epidemiológicos
da população idosa de hoje, pelo fato de existirem mudanças significativas,
principalmente devido ao contato com o flúor, pelo uso de dentifrícios e água
de abastecimento público. Porém, é preciso conhecer o estado de saúde bucal
desse grupo etário, como também obter dados epidemiológicos que sirvam de
subsídios para o desenvolvimento de programas direcionados a essa
população, que ainda são praticamente inexistentes no Brasil. (COLUSSI;
FREITAS, 2002)
Acreditamos que o estudo da autopercepção do idoso é bastante
relevante, porque demonstra como a pessoa percebe sua condição bucal, a
importância que dá a este fato e o seu comportamento relativo a isto, pois, o
idoso só procura auxílio odontológico quando percebe a importância ou até
mesmo a sua necessidade. (BORTOLI et al., 2003; RODRIGUES et al., 2005;
SANTOS, 2001; SILVA, 1999)
Isto é muito importante, pois para que um estudo tenha seus resultados
aplicados na prática, é necessário que haja uma conscientização por parte da
população estudada, pois se não houver esta percepção não haverá procura
pelo serviço ou até mesmo a busca pela saúde pessoal. Assim, a combinação
de pesquisa epidemiológica com o questionário avaliando a autopercepção
leva a um melhor levantamento da situação da população estudada, bem como
a um planejamento mais efetivo e a forma de melhor atingir a população alvo.
(RODRIGUES et al., 2005; SILVA,1999)
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Desta forma entende-se que a partir da pesquisa epidemiológica sobre o
edentulismo e a análise da percepção dos indivíduos, o Poder Público no
município estudado poderá organizar programas e ações específicas para a
assistência desta população, bem como para a promoção de saúde a fim de
que nas próximas décadas a situação de saúde bucal da população estudada
esteja cada vez melhor.
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2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Envelhecimento: aspectos históricos
O envelhecimento é uma preocupação constante do homem em todos
os tempos. Em nossa sociedade o homem não aceita o envelhecimento, não
se conformando também com suas conseqüências, sendo que algumas vezes
a terceira idade pode despertar sentimentos negativos, como piedade, medo,
constrangimento, ineficácia, dentre outros. (PUCCA JÚNIOR, 2002)
A eterna juventude e a imortalidade são sonhos do homem. A eterna
juventude está sempre relacionada com a felicidade plena; sendo que, a
procura da fonte da juventude é assunto nos mais antigos escritos. A maioria
dos povos apelou para a fantasia quando procuravam a fonte da juventude:
pensaram encontrar a juventude em longínquas ilhas; em rios caudalosos; em
extratos especiais de testículos de cães; em ser a longevidade dependente de
uma vida reta e disciplinada. (AZEVEDO, 1998)
No Ocidente, o primeiro texto referindo à velhice encontra-se no Egito, no ano 2.500 A.C. quando a beleza física e o vigor eram cantados e exaltados. Ptah-Hotep filósofo e poeta, afirmou o seguinte sobre a velhice: Quão penoso é o fim do ancião! Vai dia a dia enfraquecendo: a visão baixa, seus ouvidos se tornam surdos, o nariz se obstruí e nada mais pode cheirar, a boca se torna silenciosa e já não fala. Suas faculdades intelectuais se reduzem e torna-se impossível recordar o que foi ontem. Doem-lhe todos os ossos. A ocupação a que outrora se entregara com prazer, só a realiza agora com dificuldade e desaparece o sentido do gosto. A velhice é a pior desgraça que pode acontecer a um homem. (BEAUVOIR, 1990) p.114
Muitos poetas gregos escreveram sobre a longevidade: Hesíodo (poeta
grego que viveu no oitavo século A.C.) descreveu uma raça dourada,
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constituída por um povo que vivia centenas de anos sem envelhecer e que
morria dormindo quando chegasse o seu dia; os gregos acreditavam existir um
povo que vivia em terras longínquas ao norte cuja vida durava milhares de
anos; Aristóteles (filósofo grego) e Galeno (médico grego) descreviam que
cada pessoa nascia com quantidade limitada de calor interno, que iria se
dissipando com o passar dos anos, considerando então a terceira idade o
período final desta dissipação de calor. Por este motivo Aristóteles (384 - 322
A.C.), o mais influente filósofo do pensamento do mundo ocidental, sugeria o
desenvolvimento de meios/práticas que evitassem a perda de calor, o que
prolongaria a vida, dando certo cunho científico ao problema. Já Sócrates,
entendia que o envelhecimento era natural, e, para um ser humano bem
preparado, esta fase da vida não lhe representaria nenhum pesar, mas sim um
grande sentimento de libertação e paz. (AZEVEDO, 1998; SANTOS, 2001)
Chegado o século XVI começaram a aparecer os primeiros trabalhos
científicos que estudavam a terceira idade. A partir de então passaram a surgir
inúmeros tipos de poções e dietas especiais que prolongariam a vida.
Cientistas famosos como Descartes, Bacon e Benjamim Franklin acreditavam
que a terceira idade seria "vencida" pelo desenvolvimento científico.
O primeiro trabalho científico sobre a terceira idade foi escrito por um médico
francês no século XIX, com o nome de "Estudo Clínico sobre a Senilidade e
Doenças Crônicas". Este autor já não se preocupou mais com a imortalidade e
sim procurou destacar a importância de se estudar o processo de
envelhecimento, suas causas e suas conseqüências sobre o
organismo. (AZEVEDO, 1998; SANTOS, 2001)
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No século XVI, muitas foram as substâncias que se tornaram famosas
por pretenderem ter o poder de diminuir o processo de envelhecimento. O
Gerovital (à base de novocaína e ingredientes secretos) foi conhecido
mundialmente graças ao trabalho desenvolvido pela médica romena Ana Aslan.
Outros métodos foram desenvolvidos, como o transplante de testículo de
macaco ou de carneiro para o homem, a injeção de células de embrião de
carneiro, até mesmo técnicas de resfriamento do corpo para estancar o
processo de envelhecimento ou manter-se o corpo congelado até o dia da
descoberta de uma "cura" para a terceira idade. (AZEVEDO, 1998; SANTOS,
2001)
Outro método foi o da quelação o qual, através de determinadas reações
químicas provocadas pelo uso do EDTA introduzido no organismo, retiraria
substâncias que aceleram o processo de envelhecimento. A Medicina
Ortomolecular é outro método; ela se baseia na eliminação de radicais livres
como um meio de desacelerar o processo de envelhecimento. Para tanto, usa
doses elevadas de substâncias químicas, principalmente as vitaminas A e C
associadas à utilização de hormônios do crescimento e da glândula adrenal.
No entanto, nenhum destes métodos terapêuticos teve sua eficácia
comprovada cientificamente. Recentemente, trabalhos científicos sugerem que
processos que diminuem a velocidade do metabolismo do organismo poderiam
desacelerar o processo de envelhecimento. (AZEVEDO, 1998)
Segundo Cabrera (2004), as teorias mais aceitas, atualmente, com
relação ao envelhecimento biológico são: a teoria dos radicais livres, a teoria
da glicolisação e a teoria da reparação do DNA. A teoria dos radicais livres
sugere que produtos reativos provenientes do metabolismo oxidativo podem
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reagir com componentes celulares importantes, tais como proteínas, DNA e
lipídios, gerando moléculas disfuncionais que interferem na função celular. A
teoria da glicolisação defende que a glicolisação não enzimática leva a um
acúmulo de proteínas e outras macromoléculas modificadas, gerando
disfunções. A diminuição da ingestão calórica tende a menores taxas de
glicose e conseqüentemente menor deposição de produtos da glicolisação,
retardando assim o processo do envelhecimento. E, por fim, a teoria da
reparação do DNA afirma que quanto maior a capacidade dos mecanismos de
reparação do DNA, maior será a expectativa de vida de um indivíduo.
2.2 O processo de envelhecimento
Estamos em meio a um processo evolutivo caracterizado por uma
progressiva queda da mortalidade em todas as faixas etárias e um
conseqüente aumento da expectativa de vida da população. Atualmente, a
expectativa média de vida da população ao nascer é de 69 anos para os
homens e 72 para as mulheres. A análise do crescimento populacional de
diferentes faixas etárias mostra que o grupo de idosos, com 60 anos ou mais, é
o que mais está crescendo no país. De 1980 a 2000, o contingente entre 0-14
anos teve um aumento de 14% enquanto o grupo de pessoas idosas cresceu
107%. (COMARCK, 2002)
Conforme dados do IBGE, em 1982, a expectativa de vida da população
brasileira era, em média, de 62,5 anos elevando-se para 71, em 2002. Em
1960, a população idosa representava 4,8% do total da população brasileira,
em 1980, passou para 6,2% e em 1999 atingiu 8,7%. (CABRERA, 2004).
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Segundo Campos (2003), até 2025 o Brasil será a sexta maior população idosa
do mundo, com mais de 30 milhões de indivíduos, representando 15% da
população total do país, sendo que hoje esta população é de 14,5 milhões de
pessoas.
Para descrever os processos de envelhecimento no ser humano, a
literatura subdivide este fenômeno em dois conceitos, que são: senescência e
senilidade. A senescência refere-se às transformações biológicas inevitáveis e
irreversíveis, de caráter progressivo ocorridas nas células humanas, que geram
transformações tornando o idoso mais vulnerável, porém, não mais frágil. E, a
senilidade é o processo de senescência combinado a processos patológicos,
tais como doenças crônicas degenerativas, processos autodestrutivos,
traumáticos, bem como alterações sociais e psicológicas. (CABRERA, 2004)
Para Santos (2001), o envelhecimento é um processo universal, que não
afeta só o ser humano, mas a sua família, sua comunidade e sociedade de
modo geral. Segundo o autor o envelhecimento é um processo normal,
dinâmico e não uma doença, sendo que são notórias as desigualdades e
especificidades, nesse contingente populacional que se refletem na expectativa
de vida, na morbidade, na mortalidade prematura, na incapacidade e na má
qualidade de vida.
Também para Dias et al. (2006), o envelhecimento deve ser entendido
não apenas como um processo fisiológico/natural, mas acrescido de uma
transformação sociohistórica. A chegada da velhice, além de não ser um
processo homogêneo, também, varia entre as pessoas, pelo fato de que cada
ser humano teve experiências, cultura, fatos físicos, sociais e econômicos
diferentes dos demais.
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Para Brunetti et al. (2002), é inegável o fato de que alterações
fisiológicas acontecem neste período. Sentidos como o da visão, audição,
olfato e gustação sofrem declínio com o decorrer dos anos, acabando por
interferir até na nutrição do idoso, pois ele perde a sensação de prazer
proporcionada pela mastigação/alimentação o que pode acarretar a perda de
qualidade de vida.
No que diz respeito à saúde bucal do idoso, esta também expressa
cuidados e agravos ao qual foi submetido durante a sua vida. Durante o
processo de envelhecimento, observa-se uma diminuição da espessura do
epitélio oral, a resiliência da mucosa local, a diminuição, ou até mesmo a
ausência, da saliva, a mudança de sua viscosidade, atrofia das papilas
filiformes do dorso da língua, dentre outras alterações. A mucosa bucal torna-
se mais fina, lisa e seca, há uma perda da elasticidade e um aumento da
susceptibilidade a lesões, além da sensação de queimação e alteração do
paladar. (BRUNETTI et al., 2002; CABRERA, 2004; DIAS et al., 2006) Já, para
Cormack (2002), não há alterações no epitélio oral relacionadas com a idade.
As alterações ocorrem na submucosa, a qual revela uma diminuição de
celularidade e assim torna-se um tecido mais fibroso.
Com relação à condição periodontal do idoso, Lindhe (2005) explicou
que ocorre uma migração do tecido gengival para apical em função da
reabsorção óssea das corticais vestibular e lingual. Também pode estar
associado um aumento na mobilidade dentária provocado pela diminuição da
inserção periodontal, que lesa as fibras do ligamento periodontal, descalcifica o
cemento radicular e provoca a reabsorção do osso de suporte dentário.
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As alterações fisiológicas da cavidade bucal decorrentes do processo de
envelhecimento permitem ou facilitam o aparecimento de patologias tais como
cáries de evolução rápida, candidíase, gengivites e periodontites, além do fato
de causarem desconforto ao mastigar, dificuldade na adaptação de próteses e
alteração na percepção gustativa. (BRUNETTI et al., 2002; CORMACK, 2002)
Várias adaptações fisiológicas na dentição também são observadas, tais
como a mesialização de dentes provocadas por forças oclusais; alterações de
cor; atrições provocadas por hábitos nocivos ou pela própria mastigação;
mineralização dos canalículos dentinários provocados pela deposição
constante e progressiva de dentina em seu interior, o que leva à redução de
permeabilidade e aumento do limiar de sensibilidade dental; redução do volume
da câmara pulpar, também provocada pela constante deposição de dentina nas
paredes internas da câmara. (CORMACK, 2002; DIAS et al., 2006)
2.3 Edentulismo na terceira idade
Durante muito tempo admitiu-se que a perda de dentes seria uma
conseqüência natural do envelhecimento, comparado à naturalidade do
embranquecimento dos cabelos e o enrugamento da pele. O edentulismo não
pode ser considerado uma conseqüência natural do envelhecimento, pois
quando bem tratados e cuidados, os dentes naturais podem permanecer em
funcionamento por toda a vida, desde que somados a condições sistêmicas e
locais favoráveis. (DIAS et al., 2006; PUCCA JÚNIOR, 1998)
A descoberta da importância da placa bacteriana como importante fator
etiológico de doenças como a cárie e a doença periodontal, bem como da
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eficácia das medidas preventivas tais como o controle sobre dietas, uso correto
da escova e fio dental e, sem dúvida alguma, a utilização regular de flúor, em
suas diversas apresentações, levou à maior conservação da dentição natural.
(MONTENEGRO, 2005)
Para Pucca Júnior (2002), o edentulismo leva à conseqüências físicas e
fisiológicas importantes, tais como: redução do tônus da musculatura,
produzindo deformação da face, dificuldades com a fala, deglutição e
mastigação, o que, por sua vez, compromete o início do processo digestivo.
O edentulismo deve ser considerado como resultado de traumas e
doenças bucais, combinados a deficiências na higiene oral, alimentação
inadequada e doenças sistêmicas. Suas causas mais comuns são a cárie
dental e a doença periodontal, as quais podem ser perfeitamente prevenidas,
graças à tecnologia e estudos atuais. (BRUNETTI et al., 2002; CAMARGO,
2000; CAMPOS, 2003; CABRERA, 2004; DIAS et al., 2006; LELLES et al.,
1998; PUCCA JÚNIOR, 2002, PUCCA JÚNIOR, 1998; REIS et al., 2005;
SILVA, 1999; SILVA et al., 2005;).
As causas do edentulismo, também, estão relacionadas a situações
psicológicas, sociais e econômicas muito mais abrangentes, como: a falta de
programas de saúde bucal direcionados à população adulta e idosa,
características socioeconomicoculturais, acesso aos serviços de saúde bucal e
atitude em relação aos cuidados dentários. (LELES et al., 1998; SILVA et al.,
2005; REIS et al, 2005)
Dados do Projeto SB 2000 demonstram que o edentulismo está
presente, em média, no Brasil, na faixa etária de 35 e 44 anos. E, na região
Sul, o número de pessoas que utilizam próteses totais é de 37% (31,40% para
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arcada superior e 6,78% para arcada inferior) da população pesquisada nesta
faixa etária, salientando-se que este dado exclui indivíduos que não utilizam
nenhum tipo de prótese e aqueles que fazem uso de prótese parcial removível
ou prótese fixa. Para a população de 65 a 74 anos, na Região Sul, 68,2%
utilizam prótese total superior e 39,63% inferior. (BRASIL, 2004)
No entanto, apesar das melhorias técnico-científicas, a saúde bucal do
idoso brasileiro, atualmente, tem sido relegada ao esquecimento. A perda de
dentes (edentulismo) é considerada como algo normal, natural e inerente à
idade e não como um reflexo da falta de programas preventivos de saúde
voltados para a população adulta para que desta forma estes indivíduos
possam manter seus dentes até uma idade mais avançada. (AZEVEDO, 1998;
COLUSSI; FREITAS, 2002)
É de fundamental importância o conhecimento dos aspectos de saúde
bucal e saúde geral no atendimento ao idoso em todos os níveis de atenção,
tais como na promoção de saúde, prevenção específica ou na reabilitação.
Esta ação envolve não apenas a equipe de profissionais, mas também a família
do idoso, ele próprio, bem como autoridades e a comunidade em geral, pois a
troca de informações entre estas pessoas leva a uma atenção que preenche de
forma integral as necessidades reais do idoso. (SHINKAI; DEL BEL CURY,
2000)
2.4 Estudos com populações de idosos
Guerra et al. (2000) analisaram os aspectos pessoais, hábitos de
freqüentar o dentista, freqüência e técnica de escovação em 50 indivíduos da
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terceira idade atendidos no Serviço de Geriatria do Hospital Universitário
Osvaldo Cruz, que foram selecionados aleatoriamente. Para tanto utilizaram
entrevista associada ao exame clínico da cavidade oral. Através da análise
estatística descritiva (média de tendência central, dispersão e proporção) das
informações, observou-se que a média de idade foi 70,4 anos, sendo 56% do
gênero masculino e 44% do gênero feminino. De todos os idosos participantes
da pesquisa apenas 25% por cento apresentavam dentes naturais, fazendo-se
uma média de oito dentes por indivíduo, sendo que o maior número de dentes
encontrava-se na arcada inferior e apenas 30% na arcada superior. Verificou-
se também que 85,7% não tinham hábito de ir ao dentista; 75% eram
edentados totais, desses 56% usavam prótese total, sendo que 42,9% usavam
apenas a prótese superior. Quanto ao hábito de higienização, 45% faziam
escovação duas vezes ao dia e desses apenas 16% escovavam a língua.
Concluíram que há necessidade do fortalecimento da conscientização e
valorização da saúde bucal por parte do idoso para que ele freqüente com
maior periodicidade o cirurgião-dentista, como parte de um programa de saúde
geral.
Silva e Fernandes (2001) avaliaram a autopercepção das condições de
saúde bucal de idosos e analisaram os fatores clínicos, subjetivos e
sociodemográficos que interferem nessa percepção. Participaram do estudo
201 pessoas dentadas com 60 anos ou mais, funcionalmente independentes,
que freqüentavam um centro de saúde localizado em Araraquara (SP). Foi
aplicado um questionário e realizou-se exame clínico para determinar a
prevalência das principais doenças bucais. A partir deste estudo, foi
identificado que os indicadores subjetivos não devem ser usados para
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diagnosticar doenças ou no lugar do exame clínico, que fornece sinais objetivos
das doenças, mas devem ser usados como um instrumento auxiliar de
avaliação que complementa as informações clínicas e possibilita identificar
pessoas ou populações que necessitam de ações curativas, preventivas ou
educativas.
Silva et al. (2002) verificaram a prevalência de cárie e de doença
periodontal, o uso e necessidade de próteses totais e o edentulismo em idosos
freqüentadores de grupos de terceira idade em Piracicaba (SP). A amostra de
61 idosos foi examinada por dois pesquisadores calibrados de acordo com os
critérios da OMS. Houve 60,65% de edentulismo; em média os idosos tinham
cinco dentes presentes; o CPO-D foi de 29,5 e a condição periodontal mais
presente foi o cálculo. A amostra apresentou perda de inserção periodontal
entre 0 a 3mm. Foi identificado que 5% dos indivíduos necessitavam de
prótese total inferior. O percentual de idosos que usavam prótese total superior
e inferior foi de 80% e 57%, respectivamente. Diante destes resultados, foi
recomendada a implementação de programas específicos de saúde bucal para
idosos em Piracicaba.
Silva et al. (2005) estudaram a prevalência de cárie, edentulismo, uso e
necessidade de próteses totais em idosos e adultos no município de Rio Claro
(SP). A amostra foi de 202 indivíduos, sendo 101 idosos (65 a 74 anos) e 101
adultos (35 a 44 anos). Os exames foram realizados por quatro examinadores,
calibrados de acordo com critérios da Organização Mundial da Saúde. A
porcentagem de edêntulos foi de 74,25% para os idosos e 8,91% para os
adultos, sendo a média de dentes presentes de 3,19 e 22,10, respectivamente.
O CPO-D foi de 31,09 e 22,86 para os idosos e adultos, respectivamente. O
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maior componente do índice CPO-D no grupo de idosos foi dentes perdidos
(92,64%); para os adultos, foram dentes restaurados (57%), seguido de dentes
perdidos (40,54%). Somente 1% dos adultos necessitava de próteses totais
superiores e inferiores, já para os idosos estas necessidades foram de 48,5% e
45,5%, respectivamente. Mediante tais resultados, há necessidade de
programas preventivos e educativos, tanto para idosos como para adultos, a
fim de que estes adultos cheguem à terceira idade com uma condição de
saúde bucal melhor que a constatada atualmente.
2.5 O idoso e a autopercepção sobre saúde bucal
A odontologia, tradicionalmente, prioriza a utilização de recursos clínicos
para diagnosticar as condições de saúde bucal. Esses achados, porém, são
limitados, pois não informam o impacto que a condição bucal gera na qualidade
de vida destes indivíduos. Desta forma, além da pesquisa epidemiológica, o
estudo da autopercepção do idoso é considerado bastante relevante, pois
demonstra como a pessoa percebe sua condição bucal, a importância que dá a
este fato e o seu comportamento relativo a isto. Isto porque o idoso só procura
auxílio odontológico quando percebe a importância ou até mesmo a
necessidade do mesmo. (BORTOLI et al., 2003; RODRIGUES et al., 2005;
SANTOS, 2001; SILVA, 1999)
A autopercepção de saúde bucal está relacionada a alguns fatores
clínicos, como o número de dentes cariados, restaurados e perdidos, e a
alguns subjetivos, como sintomas das doenças, a capacidade de sorrir, falar e
mastigar, além de ser influenciada por fatores como classe social, idade, renda
22
e sexo. De modo geral, estudos mostram que os idosos conseguem, de certa
forma, perceber sua condição bucal, principalmente em casos de dor e/ou
comprometimento da estética. (SANTOS, 2001; SILVA, 1999)
Para o estudo da autopercepção, pode-se fazer uso de dois diferentes
meios: a entrevista e o questionário. Para ambos os meios de estudo, vários
fatores podem interferir nas respostas, tais como ansiedade, dificuldade de
entendimento das perguntas ou não percepção de seu estado de saúde (sinais
e sintomas). (SILVA, 1999)
Nos países mais desenvolvidos, observa-se que a população idosa
apresenta uma condição de saúde bucal melhor, principalmente, em virtude da
existência de programas preventivos destinados a esta população, o que
demonstra uma preocupação maior com a saúde bucal dos idosos. No Brasil,
o Estatuto do Idoso foi instituído pela Lei nº 10.741/2003, que entrou em vigor a
partir de 1º de janeiro de 2004. Este Estatuto define que família, comunidade,
sociedade e Poder Público devem assegurar ao idoso, com absoluta
prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à educação, à cultura, ao
esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito
e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 2003)
Porém, como destacou Pucca Júnior (2006), atualmente, ainda há
ausência de programas de promoção à saúde do idoso nos setores públicos.
Além disso, freqüentemente, são disponibilizados para a população idosa
apenas atendimentos emergenciais o que faz com que as necessidades de
tratamento deste grupo populacional se acumulem, atingindo níveis altíssimos.
A capacitação de cirurgiões dentistas na área de odontogeriatria é muito
importante para proporcionar uma atenção especial à população idosa,
23
principalmente àquela que apresenta incapacidade ou necessidade específica
(senilidade). Contudo, o que ocorre, freqüentemente, é que o idoso chega ao
local de atendimento e o profissional, julgando-se incapaz de atender à
necessidade de saúde deste indivíduo, recusa-se a atendê-lo, o que piora cada
vez mais o estado de saúde bucal do idoso. (SHINKAI; DEL BEL CURY, 2000)
Para melhoria da situação atual, seria necessária, no serviço público,
uma reformulação, direcionando ações específicas aos problemas dos idosos,
dentre os quais se situa o edentulismo. Além de projetos educativos e
preventivos, dever-se-ia pensar em medidas reabilitadoras para os idosos
edêntulos. A implementação de um serviço de prótese dentária no setor público
é uma medida viável e que deveria ser encarada como preventiva, uma vez
que a falta de dentes acarreta outros problemas de saúde, agravando os já
existentes e piorando a qualidade de vida da população idosa brasileira.
(COLUSSI; FREITAS, 2002)
Um fato bastante relevante para a atenção à saúde bucal do idoso foi a
criação dos Centros de Especialidades Odontológicas, que são unidades de
saúde, participantes do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde -
CNES, classificadas como Clínica Especializada ou Ambulatório de
Especialidade. Estes centros são uma das frentes de atuação do Programa
Brasil Sorridente. O tratamento oferecido nos Centros de Especialidades
Odontológicas é uma continuidade do trabalho realizado pela rede de atenção
básica e no caso dos municípios que estão na Estratégia Saúde da Família,
pelas equipes de saúde bucal. (BRASIL, 2005)
Os Centros de especialidades Odontológicas estão preparados para
oferecer à população: diagnóstico bucal, com ênfase no diagnóstico e detecção
24
do câncer de boca, periodontia especializada, cirurgia oral menor dos tecidos
moles e duros, endodontia, atendimento a portadores de necessidades
especiais, além da implantação de Laboratórios Regionais de Prótese Dentária
(unidades próprias do município ou unidades terceirizadas credenciadas para
confecção de próteses totais ou próteses parciais removíveis). (BRASIL, 2005)
25
3 PROCEDIMENTOS DA PESQUISA
Esta pesquisa foi desenvolvida nos meses de julho e agosto de 2006 e
realizada em duas etapas. Na primeira etapa foi realizado um levantamento
epidemiológico de edentulismo, nos idosos pertencentes a sete grupos de
convivência de indivíduos de terceira idade, da cidade de Brusque, Santa
Catarina. A segunda etapa, foi constituída por um questionário com o objetivo
de identificar a percepção destes sujeitos com relação a condição clínica que
apresentaram.
Segundo a OMS, a faixa etária para estudos epidemiológicos para saúde
bucal em indivíduos idosos é a partir de 60 anos. Assim, a população alvo
desta pesquisa foi composta por idosos de 60 ou mais anos de idade, que
participavam dos sete grupos de convivência mencionados acima.
O total destes sujeitos, segundo dados da Prefeitura de Brusque, é de
365 idosos. Para a primeira etapa da pesquisa, que foi o levantamento
epidemiológico, a amostra foi constituída pela totalidade de 306 indivíduos
presentes no dia da coleta de dados e que, por livre e espontânea vontade,
aceitaram participar da pesquisa. Desta forma, obteve-se uma amostra
acidental. Para determinar o número de participantes na segunda etapa, foi
obtida uma amostra onde todos aqueles que se dispuseram (n=306), foram
questionados em relação à sua percepção de saúde bucal. Os dados foram
coletados no local de reunião de cada grupo de convivência.
Para o levantamento epidemiológico, dois examinadores foram
calibrados de acordo com os critérios da Organização Mundial da Saúde
(OMS) para coleta de dados. Tendo em vista a importância do diagnóstico,
26
tornou-se necessária a padronização dos critérios de diagnóstico, visando uma
constância da avaliação de cada examinador e, também, dos examinadores
entre si. A interconcordância entre os examinadores deveria abranger valores
mínimos de concordância em 90% dos casos. A constância de diagnóstico de
cada operador também deve aproximar-se destes valores sendo que, se não
ocorrer de tal maneira, o examinador deveria rever os seus critérios de
diagnóstico e realizar novos testes de calibragem posteriormente.
Na primeira etapa da pesquisa, para avaliar a situação de cada
componente da amostra, foi feito exame clínico em cada um dos participantes
com espátula de madeira. Para todos os procedimentos, foram consideradas
rigorosamente todas as normas de biossegurança, buscando assim proteger
tanto os sujeitos da pesquisa quanto os examinadores.
Os índices utilizados para o levantamento epidemiológico foram o CPO-
D (sendo de interesse apenas o índice P, referente a dentes perdidos), o índice
de necessidade de prótese e o de uso de prótese. No índice CPO-D, foi
considerado edêntulo o indivíduo que possuiu “P” igual ou superior a 28. Os
dados obtidos nesta etapa, com relação ao edentulismo, foram anotados em
uma tabela produzida pelas pesquisadoras (apêndice A), na qual cada
indivíduo examinado foi identificado apenas pela sigla relativa ao seu nome.
Para a segunda etapa da investigação, a coleta de dados foi efetuada
mediante realização de questionário fazendo uso do Índice Geriatric Oral
Health Assessment Index (GOHAI). Este índice faz uma avaliação ampla das
condições de saúde bucal de pessoas idosas, através de perguntas com
relação a três funções básicas: física (fala, deglutição e alimentação);
psicológica (cuidados e autoconsciência em relação à sua saúde bucal,
27
insatisfação com a aparência, relação social mediante sua situação
odontológica); dor ou desconforto (incluindo uso de medicamentos que aliviem
dores provenientes de problemas bucais). (ATCHISON; DOLAN, 1990)
Este questionário é composto por 12 perguntas fechadas (anexo A), tendo
como alternativas de respostas: “sempre”, “algumas vezes”, “nunca”, recebendo
os escores 1, 2, ou 3 respectivamente. Os escores correspondentes às questões
3, 5, 7 e 9 foram feitos inversamente, ou seja, 1 para “nunca”, 2 para “algumas
vezes” e 3 para “sempre”. Assim, para a determinação do índice soma-se o
escore de cada questão, podendo variar em cada indivíduo entre 12 e 36, sendo
que quanto mais alto seu valor melhor condição de percepção bucal. Valores
entre 34 a 36, correspondem a “Saúde Bucal Boa”, valores entre 31 a 33 a
“Saúde Bucal Regular” e valores iguais ou menores que 30 a uma “Saúde Bucal
Precária”.
A análise dos dados foi feita com o auxílio do programa Excel da Microsoft,
sendo verificada as freqüências relativa e absoluta dos resultados da pesquisa.
Tratando-se de uma pesquisa envolvendo seres humanos acreditamos
ser imprescindível considerar os princípios éticos. Por este motivo, esta
pesquisa, ainda em fase de projeto, foi submetida à Comissão de Ética em
Pesquisa da Universidade do Vale do Itajaí, sendo aprovada com o número
068 / 2006.
Para garantir os direitos dos participantes do estudo, tivemos alguns
cuidados de modo a manter o bom relacionamento e confiança entre todos.
Assim, um de nossos primeiros cuidados foi o de enviar ao Setor de Serviço
Social da Prefeitura Municipal de Brusque um ofício solicitando autorização
para a realização desta pesquisa. Além disso, foram realizadas previamente à
28
coleta de dados explanações para os participantes acerca das características e
finalidades da pesquisa, sendo que após estas explanações foi solicitada sua
participação no trabalho, através de sua assinatura no Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (apêndice B), deixando claro que o não
consentimento para tal não implicaria em restrições ou prejuízos para nenhum
dos indivíduos. Outro cuidado foi o da preservação da identidade dos
participantes. Para tal, optamos por codificar o nome de cada participante.
O retorno dado à população investigada foi efetuado mediante palestras
educativas realizadas pela equipe de pesquisadores.
29
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A importância da valorização da saúde bucal, nos idosos, tem sido muito
enfatizada atualmente. Sendo assim, desenvolveu-se este trabalho com o
objetivo de realizar um levantamento epidemiológico do edentulismo em
idosos, bem como avaliar a autopercepção destes sujeitos com relação a sua
condição bucal.
O grupo avaliado tinha uma idade média de 69,5 anos, sendo que o
número de mulheres (89,54%) presentes no momento da pesquisa foi maior
que o de homens. Apesar da expectativa de vida da mulher ser maior que a do
homem, numa relação de 72 para 69 (CORMACK, 2002), este fator não pode
ser considerado, isoladamente, em nossa pesquisa, pois entre os grupos de
idosos avaliados, há alguns restritos a mulheres e outros que se limitavam a
desenvolver atividades pelas quais os homens pouco se interessam. A
existência de um maior número de mulheres em relação ao número de homens
também é apontada em estudos como o de Lelles et al. (1998)
Moreira (1998) justifica a feminilização do envelhecimento devido ao fato
do grande número de óbitos entre os homens mais jovens, por mortes
violentas, como homicídios e acidentes e, na idade adulta, pelo fato de que as
doenças cardiovasculares acometem muito este sexo, por volta dos 45 anos de
vida.
4.1 Levantamento epidemiológico
30
Com relação ao edentulismo, entre os sujeitos de nossa pesquisa,
encontramos 98,35% de edêntulos. A distribuição dos tipos de edentulismo
detectados, bem como o uso de prótese totais destes sujeitos, constam nos
gráficos 1, 2, 3 e 4.
70,80%
28,90%
0,30%0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Edêntulos totais Edêntulo superior Edêntulo inferior
Gráfico 1: Distribuição de freqüência relativa quanto ao diagnóstico de edentulismo total, superior ou inferior, dentre os sujeitos edêntulos.
95,75%
60,13%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Prótese total superior Prótese total inferior
Gráfico 2: Distribuição de freqüência relativa quanto ao uso de próteses superior e inferior pelos sujeitos da pesquisa
31
85,45%
14,55%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
Prótese total superior e inferior Prótese total superior
Gráfico 3: Distribuição de freqüência relativa quanto ao uso de prótese total pelos sujeitos diagnosticados como edêntulos totais.
91,95%
8,05%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Prótese total superior Não faz uso de prótese total
Gráfico 4: Distribuição de freqüência relativa quanto ao uso de prótese total pelos sujeitos diagnosticados como edêntulos superiores.
Durante muito tempo admitiu-se a perda de dentes como uma
conseqüência natural do envelhecimento, comparado à naturalidade do
embranquecimento dos cabelos e o enrugamento da pele. (PUCCA JÚNIOR,
1998). O edentulismo não pode ser considerado uma conseqüência natural do
envelhecimento, pois quando bem tratados e cuidados, os dentes naturais
32
podem permanecer em funcionamento por toda a vida, desde que somados a
condições sistêmicas e locais favoráveis. (DIAS et al., 2006)
Consideramos alarmante o fato de que 98,35% da população examinada
apresentou edentulismo e inferimos que esta condição esteja intimamente
ligada à prática de uma odontologia fortemente vinculada ao paradigma
cirúrgico restaurador. Segundo Elderton (1997), o modelo tradicional da
Odontologia, no qual o cirurgião-dentista limita-se a tratar as seqüelas das
doenças bucais, tem se mostrado ineficiente para devolver a saúde da maioria
da população e acaba levando ao inevitável aumento da complexidade dos
problemas bucais dos pacientes sem, contudo, levar a soluções definitivas. Isto
ocorre porque a mera realização de restaurações e outros tratamentos
odontológicos curativos com o intuito de solucionar um problema complexo
como, por exemplo, a cárie dental (causado não somente pela interação de
fatores relacionados à microbiota, à dieta e à susceptibilidade individual do
hospedeiro, mas também por fatores relacionados às condições
socioeconomicoculturais de vida) leva, na maior parte dos casos, a um
agravamento do quadro patológico que apresenta como resultado a
manutenção da doença e a “re-restauração” do dente. Amplia-se, assim, a
complexidade e a gravidade das intervenções do profissional o que leva, com o
passar do tempo, à perda do elemento dentário.
É premente que o modelo cirúrgico restaurador que, ainda, é praticado
por alguns profissionais da Odontologia seja definitivamente substituído por um
modelo baseado na promoção da saúde e que os profissionais da Odontologia
dediquem uma parcela maior do seu tempo às atividades educativo-preventivas
33
de modo a prevenir as doenças bucais e suas conseqüências como, por
exemplo, o edentulismo.
Acreditamos que se faz necessária uma mudança de comportamento
cultural, ético, sociológico e científico, principalmente, dos cirurgiões-dentistas,
que precisam adotar conhecimentos, recursos e estratégias em busca da
promoção e educação em saúde para o controle e tratamento das doenças
bucais.
Durante a aplicação dos questionários, ouvimos de alguns idosos o
relato de que, no passado, eram feitas extrações em massa quando eles ainda
eram muito jovens e que se optava pela prótese total muito facilmente, pois,
esta trazia a perspectiva de não haver mais incômodos, dor ou desconforto em
relação aos dentes, como por exemplo, cáries, gastos, dentre outros. Poucos
foram os pacientes que relataram ter extraído os dentes por problemas mais
graves ou estéticos.
Estes relatos demonstram que, muitas vezes, a opção pela extração de
todos os dentes pode partir do próprio paciente o que denota a pouca ou
nenhuma valorização dos dentes, na medida em que as pessoas não se
importam e até mesmo consideram vantajoso extrair seus dentes. A pesquisa
realizada por Pinto (2003), também relata que a opção por próteses totais se
faz por ser uma reabilitação barata e de fácil aplicação.
Segundo Pinto (1997), o aumento dos índices de cárie, freqüentemente
após os 30 anos de idade, quando as pessoas já se submeteram ao tratamento
odontológico e os problemas não diminuem, leva a extrações dentárias em
larga escala, em virtude dos custos cada vez maiores do tratamento
odontológico. Desta forma, as extrações dentárias se constituíram na solução
34
mais prática e econômica, tanto para o paciente como para profissional, pois,
este último acaba tendo a compensação financeira dos ganhos relativos às
próteses.
Em nossa pesquisa, dos 213 indivíduos diagnosticados como edêntulos
totais, 85,45% (n=182) utilizavam prótese total superior e inferior e 14,55%
(n=31) só faziam uso da prótese total superior (gráfico 3). Dos 87 indivíduos
edêntulos superiores, 91,95% (n=80) faziam uso de prótese total superior e
8,05% (n=7) deles não utilizavam a prótese total superior (gráfico 4).
Os dados obtidos no presente estudo mostram que, possivelmente, no
passado foram poucos os programas preventivos e ações voltadas para esta
população. O alto grau de mutilação dentária presente na população idosa
justifica o número de indivíduos que usam e necessitam de próteses, o que
também evidencia o caráter sociocultural de extrações dentárias, ainda
dominante em muitas áreas do Brasil.
Geralmente opta-se pela prótese total por medo de demonstrar uma
boca “desdentada”, o que de certa forma cria uma imagem de fragilidade,
doença, descuido, feio e velho. (DIAS et al., 2006, BORTOLI et al., 2003).
Outro motivo que leva a grande opção pelo tratamento com próteses totais é
pela quantidade de tempo que os pacientes vão utilizar esta prótese, sem que
precisem ter maiores preocupações. (LELLES et al., 1998)
Esta prática precisa ser desmotivada, intensificando-se as ações de
promoção à saúde, aumentando a oferta de cuidados clínicos básicos e
medidas preventivas de controle das doenças bucais mais prevalentes desde o
nascimento, passando pela idade adulta até a terceira idade.
35
Segundo Campos (2005), é premente a necessidade de desenvolver
e/ou incrementar programas de educação permanente de modo a capacitar os
trabalhadores de saúde para a promoção de saúde. Além disto, é importante se
firmar uma política de mudança nos cursos de graduação na área da saúde
que induzam as universidades a cumprirem seu papel social de modo a formar
profissionais integralmente aptos, não somente do ponto de vista técnico, mas
também como promotores de saúde para a população alvo de seus cuidados.
Observou-se, também, que 8,05% dos edêntulos superiores não usavam
suas próteses totais superiores (gráfico 4), relatando dor, falta de adaptação da
prótese ou do próprio idoso àquele aparelho reabilitador. Montenegro (2005)
relatou que, quando há uma prótese total mal adaptada, ou que esteja ferindo a
mucosa ao mastigar, o paciente, como num ato reflexo, vai mastigar em um
hemiarco onde não haja desconforto, ou até mesmo descartar o uso da
prótese.
O uso apenas da prótese total superior no caso de edêntulos totais, se
dá por uma melhor adaptação proporcionada pela prótese superior (palato,
rebordo e músculos da mastigação); já a prótese inferior foi o maior alvo de
reclamações, devido à má adaptação (músculos da mastigação, língua, lábios,
saliva etc.), problemas na fonação. Muitos indivíduos relataram que a usam
apenas para sair e se alimentar e que não conseguem se adaptar com a
prótese total inferior apesar de terem a prótese total superior bem adaptada há
mais de 10 anos (por exemplo).
Segundo Turano e Turano (1998) e Tamaki (1988), a prótese inferior
assenta-se sobre a mandíbula, que é um componente móvel do sistema
estomatognático, sendo mais difícil a sua estabilidade. Outro fator de
36
instabilidade é a presença da língua, cuja atividade pode deslocar a prótese. Já
a prótese total superior é mais estável e melhor tolerada pelos pacientes,
devido a sua extensão basal ser maior e contar com auxílio da abóbada
palatina. Outro fator de grande relevância para a estabilidade e retenção da
prótese total é manter a dimensão vertical de oclusão, a correta relação
maxilomandibular e a adaptação adequada entre a base da prótese e a
mucosa oral. (MARCHINI et al., 2001)
Dados do SB Brasil demonstram que, na região Sul, temos 68,20% de
sujeitos fazendo uso de prótese total superior e 25,91% de prótese total
inferior. Necessitando prótese total superior são 7,97% e 14,44% de prótese
total inferior. Para o Brasil, como um todo, 57,91% de pessoas fazem uso de
prótese total superior e 24,84% de prótese total inferior, 16,15% necessitam
prótese total superior e 23,81% prótese total inferior. (BRASIL, 2004)
Verifica-se que, apesar de a Região Sul ter um maior número real de
sujeitos portadores de próteses totais superiores e inferiores, ela tem uma
menor necessidade de próteses totais, tanto superiores quanto inferiores.
Assim, subentende-se que o maior número de indivíduos usando prótese total,
na Região Sul, pode ser devido ao fato que estes foram atendidos quanto a sua
necessidade. Tal inferência se faz tomando por base o relato de Lelles et al.
(1998), de que a maior demanda por tratamento com próteses totais pode ser
considerada, em alguns países em desenvolvimento, como o Brasil, um sinal
de progresso na Odontologia.
Dados da pesquisa realizada, na cidade São Paulo SP), por Rosa et al.
(1992) demonstram que 65% dos indivíduos examinados em domicílio e 84%
dos institucionalizados eram edêntulos totais, 76% utilizavam prótese total
37
superior e 30% prótese total inferior. Pucca Júnior (1998), investigando uma
população de idosos do município de São Paulo (SP), encontrou 54,9% de
edêntulos e 86,3% usuários de prótese.
Um estudo realizado por Lelles et al. (1998) relatou que 77,4% dos
pacientes atendidos pela disciplina de prótese total da Faculdade de
Odontologia de Araraquara (SP), já utilizavam próteses bimaxilares e 20,6%
não utilizavam nada. Silva et al. (2004) identificaram, na cidade de Araraquara
(SP), entre os idosos, 74,25% edêntulos, dos quais 52,48% utilizavam prótese
total superior e 65,64% total inferior.
No levantamento efetuado por Reis et al. (2005), no município de
Goiânia (GO), 69,2% dos idosos eram totalmente desdentados, sendo que
35,6% faziam uso de prótese total e destes, 45,33% utilizavam a prótese total
superior e 24,57% a inferior.
Confrontando-se os dados de nossa pesquisa com os levantamentos
acima indicados, apesar de serem grupos-alvo diferentes, podemos afirmar que
na população de Brusque há maior número de edêntulos, bem como maior
número de portadores de próteses.
4.2 Autopercepção sobre saúde bucal dos sujeitos avaliados
Com relação à autopercepção dos idosos quanto à sua saúde bucal,
temos os próximos dois gráficos ilustrando a situação destes indivíduos.
38
40,19%
20,26%
39,54%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
Saúde bucal boa Saúde bucal moderada Saúde bucal ruim
Gráfico 5- Distribuição de freqüência relativa quanto à autopercepção (GOHAI) pelos sujeitos da pesquisa.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
PERGUNTAS
MÉDIA DAS RESPOSTAS
Saúde Bucal BOA
Saúde Bucal MODERADA
Saúde Bucal PRECÁRIA
Gráfico 6- Distribuição das médias das 12 questões componentes do (GOHAI), quando este é classificado em Bom, Moderado ou Precário.
A média encontrada para o índice de GOHAI, na população investigada,
foi de 31,13, sendo que 40,19% (n=123) classificaram sua saúde bucal como
boa, 20,26% (n=62) relataram ter saúde bucal moderada e 39,54% (n=121)
saúde bucal precária. Esta média de 31,13 (classificada como uma saúde bucal
regular) foi semelhante às obtidas nos estudos de Bortoli et al. (2003), Haikal
(2004), Jones et al. (2006), Leal (2001), Silva et al. (2005)
39
Apesar do fato de termos uma grande concentração de indivíduos com
percepção de saúde bucal boa e outra grande parcela com percepção precária,
na média obtida pelo total dos questionados, resultou-se em uma classificação
da percepção sobre saúde bucal como moderada. A análise etária em relação
ao resultado encontrado não teve significado estatístico. Desta forma,
acreditamos que obtivemos estes resultados em nossa pesquisa por este
índice ter sua forma de classificação e divisão dos resultados muito severos.
Analisando-se as médias das respostas emitidas pelos sujeitos da
pesquisa, percebe-se que as perguntas que mais influenciaram negativamente
para a definição de uma saúde bucal boa foram as perguntas de número 1, 2,
5, 8, 9. As perguntas 2 e 5 exerceram influencia para o padrão de saúde bucal
moderada e as questões 1, 2, 5 e 9 para um padrão de saúde bucal precária.
Isto nos leva a constatar que as perguntas 2 e 5 (Anexo A) foram as que mais
influenciaram; estas questões relacionam-se à questão funcional de
mastigação.
O maior problema bucal, citado pelos idosos que integraram o estudo de
Montenegro (2005), é a perda da eficiência mastigatória. Esta condição é
decorrente da perda de muitos dentes naturais ou por próteses com adaptação
inadequada, sendo um reflexo da existência de poucos programas preventivos
em saúde bucal e da falta de uma política odontológica dirigida, de forma
constante e abrangente, em nível nacional.
Rodrigues et al. (2003) relataram que indivíduos cujas próteses
causavam desconforto, raramente, compareciam ao consultório para ajustá-las
e que continuavam usando-as, ou melhor suportando-as, por questões
40
estéticas, apesar do desapontamento em relação à adaptação e/ou conforto do
aparelho protético.
Ao cruzar os dados para identificar relações entre a condição clínica
bucal dos idosos com sua autopercepção, não obtivemos nenhum dado de
relevância. Unfer et al. (2006) afirmaram que, nos estudos sobre a
autopercepção de saúde e o estado clínico dos indivíduos, não existe uma
relação direta entre o que as pessoas sentem ou vêem e o estado clínico de
seus dentes e/ou boca.
Isso ocorre, pois percepção que as pessoas têm de uma determinada
realidade pode ser alterada pelo conhecimento, motivação, estado emocional e
por outras condições fisiológicas. A organização perceptual muitas vezes
reflete os fatores pessoais do indivíduo, tais como suas necessidades,
emoções, atitudes e valores. A extensão com que isso ocorre depende da
intensidade e da forma como estes fatores influenciam o indivíduo. Desta
forma, a compreensão científica dos processos de motivação e emoção
abrange estudos da maneira pela qual os estados de motivação podem influir
na percepção, por exemplo uma pessoa amedrontada tem uma consciência
mais nítida de cada pequeno ruído, na casa solitária, do que uma sem medo,
enfim, dependendo da motivação, as percepções podem ser modificadas. Há
também influências fisiológicas nas percepções encontradas, como em estados
excepcionais associados à doença, à gravidez, à menstruação, entre outros
fatores. (BORTOLI et al., (2003); DUNKERSON (1998); RODRIGUES et al.,
(2003); RODRIGUES et al., (2005); ROSA et al., (1992); SILVA (1999);
VECCHIA et al., (2005); BALLONE (2003))
41
Na população que avaliamos, foram poucas as queixas quanto à estética
e convívio social. Vários dos sujeitos demonstraram uma percepção positiva
sobre sua saúde bucal por não terem dentes cariados e usarem prótese.
Montenegro (2005) afirmou que o idoso, geralmente, não tem a mesma
pretensão estética que os mais jovens; para o idoso, ter dentes é o suficiente
para alimentar-se de maneira adequada e ter uma aparência compatível com
sua idade, para poder manter seu convívio social.
42
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A importância do estudo epidemiológico, combinado à percepção da
saúde bucal e seu impacto sobre a vida dos idosos, se deve à necessidade de
se conhecer melhor os aspectos sociais e emocionais que interferem na saúde
deste grupo populacional.
Este conhecimento permitirá aos profissionais da Odontologia uma
melhor compreensão quanto ao processo de envelhecimento, que deve ser
entendido não, apenas, como um processo fisiológico/natural, mas acrescido
de uma transformação sociohistórica. É fundamental que tenhamos clareza de
que a chegada da velhice, além de não ser um processo homogêneo, também,
varia entre as pessoas, pelo fato de que cada ser humano teve experiências,
cultura, fatos físicos, sociais e econômicos diferentes dos demais.
Considerando-se que, no Brasil, ainda, são poucos os serviços voltados
especificamente aos idosos, defendemos a idéia de que os estudos de
autopercepção podem ser a chave para a formulação e implementação de
ações educativas, específicas para esta população de tão rico valor. Nos
países mais desenvolvidos, observa-se que a população idosa apresenta uma
condição de saúde bucal melhor, principalmente, em virtude da existência de
programas preventivos destinados a esta população, o que demonstra uma
preocupação maior com a saúde bucal dos idosos.
O idoso do terceiro milênio poderá ter restrições, mas deverá estar
inserido em sua família e em sua comunidade, desfrutando de um convívio
pleno. A triste e velha imagem de um ser retraído com severa deformidade
43
facial, resultado da ausência de seus dentes e, muitas vezes, pela intolerância
de aparelhos protéticos totais terá que se tornar um quadro do passado.
Aos cirurgiões-dentistas cabe fazer uma revisão e ampliação de seus
conceitos e conhecimentos, com o objetivo de preencher esta importante e
inevitável lacuna social, já uma realidade para colegas dos países
desenvolvidos e um fator a pensar e agir efetivamente neste novo século em
nosso país. Deve ser este o compromisso da Odontologia Brasileira com um
novo tempo para que estas pessoas vivam na plenitude de saúde e função de
seu Sistema Mastigatório.
44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXO A
Índice de Determinação da Saúde Bucal Geriátrica (GOHAI)
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE ODONTOLOGIA
ESVETILANE APARECIDA RAITZ
MAGALI CARIN SEIBERT
“Quão Seguido Você”: 1-Limita o tipo ou a quantidade de alimentos que come devido a problemas com seus dentes ou próteses? ( )sempre ( )algumas vezes ( )nunca 2-Tem problemas mordendo ou mastigando alimentos como carne sólida ou maçã? ( )sempre ( )algumas vezes ( )nunca 3-Foi capaz de engolir confortavelmente? ( )sempre ( )algumas vezes ( )nunca 4-Seus dentes ou prótese (s) o impediram de falar da maneira como queria? ( )sempre ( )algumas vezes ( )nunca 5-Foi capaz de comer qualquer coisa sem sentir desconforto? ( )sempre ( )algumas vezes ( )nunca 6-Limitou seus contatos com outras pessoas devido às condições de seus dentes ou prótese? ( )sempre ( )algumas vezes ( )nunca 7-Sentiu-se contente ou feliz com o aspecto de seus dentes ou próteses? ( )sempre ( )algumas vezes ( )nunca 8-Usou medicamentos para aliviar dor ou desconforto relativos à boca? ( )sempre ( )algumas vezes ( )nunca 9-Preocupou-se ou teve cuidados com os seus dentes, gengivas ou próteses? ( )sempre ( )algumas vezes ( )nunca 10-Sentiu-se nervoso ou tomou consciência de problemas com seus dentes, gengivas ou próteses? ( )sempre ( )algumas vezes ( )nunca 11-Sentiu desconforto ao alimentar-se em frente a outras pessoas devido a problemas com seus dentes ou próteses? ( )sempre ( )algumas vezes ( )nunca 12-Teve sensibilidade nos dentes ou gengivas ao contato com calor, frio ou doces? ( )sempre ( )algumas vezes ( )nunca
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APÊNDICE A
TABELA PARA COLETA DE DADOS NO EXAME CLÍNICO
Edêntulo Parcial
Uso de prótese
Nº
Identificação
Idade
Sexo
Edêntulo total
Sup Inf Sup Inf
Participante qualitativo
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APÊNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu,_____________________________________________________________
___ RG número__________________________, declaro que concordo
plenamente com os termos da pesquisa “Edentulismo em indivíduos idosos
residentes na cidade de Brusque: levantamento epidemiológico e percepções
dos sujeitos”, da qual serei voluntário, conforme explicações que me foram
fornecidas pelas pesquisadoras.
Informo, outrossim, que estou ciente dos procedimentos de coleta de dados,
que se constituem de um exame clínico bucal e de um questionário. Fui
informado de que, sem que haja identificação, os dados coletados poderão ser
usados no Trabalho de Conclusão de Curso, apresentados em plenários e,
eventualmente, publicados em periódicos da área.
Tendo compreendido plenamente os propósitos e a forma de coleta dos dados
da pesquisa, é de livre e espontânea vontade que consinto em participar da
mesma.
E, para tornar válido o presente instrumento, assino-o.
Itajaí SC,_______/_______/_______
Participante:
Endereço:
Orientador: Luciane Campos
Acadêmico: Esvetilane A. Raitz
Acadêmico: Magali Carin Seibert