Post on 30-Mar-2016
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Excesso de Magentacyan 15 | yellow 100 | black o
MúsicaMichael Jackson
EntrevstaMarcelo Damaso
EnsaioPropupla Luplita
GamesNintendo Vs Sony
LiteraturaVinicius de Moraes
4nº
ÍndiceMúsica | pg6
Ensaio | pg22
Games | pg60
Este ano, mais precisamente no dia 25 de junho, Micha-
el Jackson entrou de vez no rol dos mitos eternos da mú-
sica pop. Às vésperas da maior turnê da carreira, o coração
do Jackson mais famoso parou de bater, deixando órfãos
os que viam no cantor-dançarino-compositor bem mais do
que uma fonte inesgotável de assunto para tablóides sensa-
cionalistas. Guto Lobato conta a história do artista Michael
Jackson, um dos melhores que a história recente já viu.
Era pra ser só uma festa, mas acabou se transformando em um
dos melhores festivais independentes do país. Marcelo Damaso,
da Dançum se Rasgum Produciones!, conta, em um bate-papo
com o jornalista Elvis Rocha, a trajetória da produtora que in-
cluiu Belém, de vez, no cenário da música alternativa brasileira.
Beatles x Rolling Stones; Sartre x Camus; Globo x Record...
Em praticamente tudo, a polarização de preferências em al-
gum momento dá as caras. No mundo dos consoles a coisa
não é diferente. Desde que Atari e Odissey viraram lembran-
ça remota de dinossauros, Nintendo e Sony disputam a tapa
quem fi ca com a maior fatia do bolo no mercado de videoga-
mes. Arthur Napoleão apresenta um resumo dessa disputa e
argumentos para fomentar os dois lados dessa guerra.
Michael Jackson
Se Rasgum
Nintendo X Sony
Expediente
Literatura | pg54
Intervalo | pg72
Ensaio | pg40
De poetinha, ele só tinha o apelido. Vinicius de Moraes fez de
tudo em tudo e, nas palavras de Carlos Drummond de Andrade,
foi o único que ousou levar a existência à altura de sua poe-
sia. Mayara Maia faz um tributo ao poeta, cronista, compositor,
diplomata e brasileiro, um homem que multiplicou no espaço
de 67 anos as possibilidades de uma vida, levando-a para onde
apenas os iluminados são capazes de enxergar.
“Bang! Foi o som que antecedeu a queda dramática dele.
Seus olhos percorreram, em movimento circular. A parede
pra qual ele olhava, a interseção da parede com o teto, o
teto, a luz fosforescente presa nele...” É assim que começa,
com um estampido e ritmo alucinante, o texto em que Le-
andro Bender convida o leitor a uma viagem breve, muito
breve, sobre o... Ah, lê aí e me diz.
Editor: André LoretoDiretor de arte: André Loreto Design: André LoretoColaboradores: Arthur Napoleão, Guto Lobato, Mayara Luma, Elvis Rocha, Leandro BenderIlustração: Rodrigo CantalicioRevisão: Elvis RochaFale conosco: excessodemagenta@gmail.com
Excesso de Magenta é uma publicação bimestral.
Bang!
Vinicius de Moraes
CapaDe Loreto
Excesso de Magentacyan 15 | yellow 100 | black o
MúsicaMichael Jackson
EntrevstaMarcelo
EnsaioLuzes
GamesNintendo Vs Sony
LiteraturaVinicius de Moraes
4nº
PropuplaLuplita
Editorial
Parafraseando Humberto Gessinger, já estivemos longe demais das capitais. Era o tempo em
que morar em Belém do Pará significava esperar meses para ouvir o lançamento da banda fa-
vorita, torcer para o amigo bem-nascido voltar das férias carregado de revistas, camisas, vinis e
outros badulaques valiosos para quem morre pelas inutilidade imprescindíveis da cultura pop.
É, ser antenado já foi muito difícil por estes lados.
Se você tem pouco mais de 20 anos, o primeiro parágrafo deste texto talvez não faça o me-
nor sentido, mas os remanescentes da era pré-internet lembram muito bem. Imaginar Belém no
roteiro alternativo do que quer que fosse estava para a realidade assim como Remo e Paysandu
estão para a Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol: simplesmente não rolava.
E não é que, duas décadas depois, estamos aqui, editando uma revista virtual, falando sobre
Michael Jackson, Nintendo , Sony, trocando ideias com o mundo em 140 caracteres, dando vida
a eventos de moda e bolando festivais de música independente?
É com o assombro dos mais velhos e a empolgação dos recém-chegados que a Excesso de
Magenta joga na rede sua quarta edição.
Goste. Desgoste. Ame. Odeie. Opine.
Leia.
Colaboradores
De Loreto
Elvis Rocha
Guto Lobato
Arthur Napoleão
Mayara Luma
Leandro Bender
Rodrigo Cantalicio
MichaelJackson
Músicapg6
MichaelJacksonO consagrado “Rei do pop”, conhecido mais por seus es-cândalos que por suas virtudes, faleceu em 25 de junho, às vésperas de voltar aos palcos com uma turnê de 50 shows. É uma perda difícil de digerir – mas que pode incentivar uma pesquisa aprofundada em sua longeva produção musical.
Por Guto Lobato
Não é exagero afirmar que o
dia 25 de junho de 2009 ficará
marcado na história da música.
Pode ser até que esqueçamos
da data daqui a alguns anos –
em que dia, afinal, morreram
John Lennon, Elvis Presley, Janis Joplin, Jimi Hendrix,
Renato Russo, Cazuza? –, mas do astro que, nela,
deixou o mundo... ah, disso lembraremos. Talvez nem
sempre por suas qualidades artísticas, e sim por sua
extravagância, por suas infindáveis polêmicas. Mas o
fato é que, seja você fã ou não de Michael Jackson, o
cantor-dançarino-produtor-compositor que faleceu sob
circunstâncias duvidosas em sua casa, às vésperas
de iniciar uma megaturnê, vai ser trabalhoso passar
os próximos anos sem ouvir menções, homenagens,
comentários e alusões à sua obra. Não restam dúvi-
das que o so-called “Rei do pop” ficará eternizado no
hall da fama, lado a lado com estrelas do quilate dos
falecidos que citei acima – por seus recordes, por seus
excessos. Nada mais justo para um homem que viveu
da – e para a – música.
Você tem duas opções para guardar a imagem de
Michael Jackson em sua memória: uma delas é aquela
fomentada pela imprensa marrom e pelos escândalos
por ele protagonizados – a do homem excêntrico, lou-
co até, nascido negro e morto branco, afeiçoado por
criancinhas, animais bizarros e pelo sonho de vender
100 milhões de unidades de um único disco. Ou então
fugir dos clichês e mergulhar fundo em um dos artis-
tas mais complexos do século XX, conhecendo a fun-
do suas qualidades, seus altos e baixos. E, acima de
tudo, sua trajetória musical.
A melhor opção é a segunda – se tudo o que você co-
nhece de Michael se resume aos clipes de “Thriller”, “Black
or white” e às imagens que povoaram emissoras de todo
o mundo em junho passado, está na hora de se atualizar.
Pode até ser mórbida essa mania de correr atrás dos discos
depois que o cara morreu, mas para alguma coisa a morte
há de servir, certo? Nem que seja para resolver uma dívida
histórica que tenhamos para com ele.
De menino-prodígio a jovem astro
Definir o “marco zero” da carreira de Michael é, por
si só, um trabalho de desmistificação. Não que pouca
gente saiba que “Off the wall” não é o primeiro álbum
do cantor, mas a tendência em apagar tudo o que ve-
nha antes de 1979 da memória coletiva de fato existe.
A verdade é que olhar para trás e ver aquele garotinho
negro e de olhos penetrantes, vestindo calças boca-
de-sino e levando adolescentes aos gritos no interior
dos Estados Unidos com o Jackson 5, é uma surpresa,
mesmo para os fãs mais experientes. É quase como
enxergar um abismo entre o menino-prodígio e o jo-
vem astro que estourou na MTV anos depois.
Irmão de oito garotos e garotas de inexplicável talento
musical, criado sob rotina rígida na cidade de Gary, no
estado de Indiana, Michael viveu sob as rédeas do pai
Joe Jackson até atingir a maturidade. Junto a alguns
de seus irmãos, o garoto tímido e de poucas palavras
foi levado ainda pequeno até a gravadora Motown e
posto nos moldes – leia-se: vestido e produzido como
um “jovem artista negro para brancos”. A fórmula mu-
sical era simples: soul, bebop – um tipo muito peculiar
de jazz –, disco, funk e até uma pitada de rock, tudo
sob o comando da voz potente e naturalmente afinada
do garoto. No palco, ele era um mini-astro, sorridente e
seguro de si, como rezava a cartilha da Motown, e co-
mandava os irmãos com energia natural. Era tudo que
o mercado americano queria àquela época de intensas
mudanças culturais.
Com o Jackson 5, Michael emplacou alguns suces-
sos entre a segunda metade da década de 1960 e o
ano de 1974. Canções como “I want you back”, “ABC”, »»
foto: mjjpictures.com
“I´ll be there”, “Mama´s pearl”, “Dancing machine” e
“The love you save”, é verdade, têm certo fundo de me-
gaprodução artificial, mas mesmo assim demonstram
o que iria resultar daquela forçação de barra de Joe
Jackson: em segundo plano, o grupo The Jacksons,
criado com a saída de dois dos irmãos e a rescisão do
contrato com a Motown; e, em primeiro, Michael, livre
para fazer o que bem entendesse em carreira solo e
exercitar um de seus muitos defeitos-qualidades: o ob-
sessivo desejo de auto-superação.
Na verdade, Michael já havia há muito decidido fazer su-
cesso sem os irmãos. Pela própria Motown, ele havia lan-
çado “Got to be there” (1971), “Ben” (1972), “Music and me”
(1973) e “Forever, Michael” (1975), uma sequência instável
de quatro discos, mas que bem evidencia as qualidades
artísticas do cantor. Com as faixas-título “Ben” e “Got to be
there”, o artista conquistou os Estados Unidos e chegou,
também, a alguns países europeus. O sucesso, no entanto,
ficou quase que circunscrito ao território norte-americano
– “Foverer Michael”, por exemplo, rendeu dois compactos
nos EUA, mas sequer chegou às lojas europeias.
“Music and me”, um dos melhores desta fase em-
brionária, abre com uma bela canção, “With a child´s
heart”, um soul que em nada deve às influências de
Michael à época. Apesar do jeito Motown de ser, já
dava para sentir o climão diferenciado do mais talen-
toso dos Jackson em faixas como “All the things you
are, are mine” e “Johnny raven”. Aquela voz aguda e
constante, que, futuramente, casaria tão bem com o vi-
sual e os passos meticulosamente calculados do can-
tor, transparecia uma segurança incomum em garotos
adolescentes como ele.
A chegada ao topo
Durante uns três anos, o Michael Jackson capaz de
conquistar as mais variadas gerações e sair do con-
forto do mercado pop dos Estados Unidos foi sendo
montado. A tão celebrada parceria com o produtor
Quincy Jones começou logo após o cantor concretizar
um sonho de infância: o de atuar. A proeza, registra-
da no musical para cinema “The wiz”, de 1978, foi a
única coisa da obra a ser elogiada pela crítica, o que
fez Jackson alimentar por décadas a vontade – jamais
concretizada – de ser rei, também, nas telonas.
A verdade sobre “Off the wall” (1979), o primeiro re-
sultado da parceria Michael-Quincy na gravadora Epic,
é que ele nunca poderia ter soado tão genial sem a
dedicação doentia dos dois à obra. E, também, sem a
colaboração do time de compositores escalados para
compor as dez faixas do disco: Paul McCartney, Stevie
Wonder e Rod Temperton, além do cantor e seu pro-
dutor. São canções que, certamente, transpareciam a
busca do artista por uma verve inovadora.
Soul, funk americano, disco, influências dele desde
os tempos de Jackson 5, unem-se a uma pegada me-
nos acústica e mais intensa que vai da faixa de abertu-
ra, “Don´t stop ´til you get enough” – sabe a vinheta de
abertura do “Video show”, da TV Globo? Pois é... – até
“Get on the floor”, “Off the wall” e “Burn this disco out”,
todas claramente orientadas à pista de dança. E, para
evitar olhares desconfiados, o ar romântico reaparece
em “Rock with you”, “Girlfriend” e “She´s out of my life”,
hits imediatos do disco.
Os louros colhidos pelo trabalho são vários: posi-
ções recorde em solo americano e europeu (o Reino
Unido, sempre antenado, logo abraçou o artista como
se fosse seu), o primeiro Grammy – pela faixa de aber-
tura – e a chance de emplacar o primeiro recorde de
vendas. Até hoje, quase 30 milhões de cópias deste
disco foram vendidas – impulsionadas, em especial,
por uma versão lançada em 2001, com faixas-bônus
e depoimentos de Quincy Jones no final do CD. Os
olhos do mundo já estavam sobre Michael.
Mesmo assim, o cantor se manteve junto aos irmãos »»
no The Jacksons, lançando um álbum em 1980, e ten-
tou se meter em um projeto mirabolante junto a Steven
Spielberg, participando da narração de “E.T. – o ex-
traterrestre”. A ideia foi logo impedida pela Sony, que
entrou na Justiça, no intuito de acelerar o lançamento
do novo disco. O motivo era simples: “Thriller”, o su-
cessor de “Off the wall” que viria a se tornar o álbum
musical mais vendido da história – hoje, dizem por aí,
já passou das 130 milhões de cópias vendidas – e a
obra-prima da música pop, estava demorando demais
para sair no mercado.
O cuidado em torno do trabalho é visível. Ao lado
de Quincy, Michael voltou a buscar compositores de
renome – além dos próprios, que escreveram quatro
faixas – e lapidou uma sonoridade mais crua e intensa,
algo que se vê logo em “Wanna be startin´ somethin´”,
que traz em seu arranjo de baixo sintético os ares da
década de 1980. “This girl is mine”, parceria com Paul
McCartney em que o ex-Beatle até canta, não rendeu
tanto como single, mas é certamente a “baladinha”
mais inspirada de Michael. O dueto dos dois é emocio-
nante, no sentido mais puro da palavra.
O resto do disco é tudo aquilo que você deve ter visto
estrear na TV – se já era nascido à época – ou passar
nas dezenas de programas-tributo posteriores à morte
do cara. “Thriller”, com seu saboroso groove de baixo e
sintetizador e seu clipe megalomaníaco-cinematográ-
fico dirigido por John Landis, fez Michael ser o primei-
ro jovem negro a estourar na MTV. “Billie jean”, que
imortalizou o moonwalk, aquele passo famosíssimo do
cantor que até deu nome a filme e autobiografia, foi a
segunda canção mais tocada nas rádios brasileiras em
1983. E “Beat it”, com sua guitarra hard rock tocada
por Van Halen, acabou premiada pela MTV como me-
lhor canção do ano. As três figuram, até hoje, como as
faixas mais importantes da carreira de Michael. Quer
prova maior da qualidade de “Thriller” que vê-las em
sequência no setlist de um único disco?
Bad”, Neverland, “Dangerous” e o sumiço
Passado o turbilhão, a incerteza em torno do próxi-
mo álbum era grande. Tanto para a crítica quanto para
Michael – a essa época, já atormentado pela mídia por
suas excentricidades e trejeitos bizarros. O incômodo
com a pele negra, junto a um acidente no nariz (que
quebrou em um show ao início da década) e à vitiligo –
doença de pele que causa despigmentação –, fizeram
com que o cantor iniciasse uma série de intervenções
para mudar sua fisionomia. A coisa foi vista com estra-
nheza tanto por sua família quanto pela imprensa, que
se valeu de teorias e “fontes secretas” para reforçar a
imagem de quase-louco do então jovem adulto Micha-
el. Foi assim, logo ao completar 28 anos de idade, já
com os cabelos modificados, as feições andróginas e
a pele clara, que ele lançou no mercado “Bad” (1987),
um trabalho muito criticado pelo flerte pouco ousado
com a música oitentista, mas que mesmo assim ven-
deu como água e rendeu sua primeira turnê mundial
em carreira solo.
O peso de ter chegado ao topo pouco transparece
por aqui, na verdade; o disco continua sendo uma fá-
brica de hits nos moldes de “Off the wall” e “Thriller”.
Fora a faixa de abertura – que, ao contrário do que
disseram à época, é, sim, muito ousada –, há “The way
you make me feel”, “Smooth criminal”, “Man in the mir-
ror” e “Dirty diana” para comprovar isso. Todas saíram
como singles e alcançaram boas posições ao redor do
planeta. A coesão do trabalho, o último em parceria
com Quincy Jones, é resultado de um trabalho cuida-
doso em torno das melodias, que conservaram o jeitão
do funk e do soul, porém com o uso ostensivo de sin-
tetizadores, e das letras, cada vez mais elaboradas.
“Man in the mirror”, com seus versos desafiadores, foi
um sucesso e em muito casou com a política de cari-
dade defendida por Michael na década seguinte. Era o
reflexo de um artista amadurecido, enfim. »»
Maturidade que, infelizmente, só transparecia na mú-
sica. Cada vez mais recluso, Michael se mudou para
Neverland, um rancho de custo quase inestimável feito
sob medida que, para a imprensa, era uma verdadeira
fonte de renda. Bizarra, a residência em que o cantor
se enfurnou por 17 anos era praticamente inacessível
para “gente grande” (vivia sendo visitada por crianças)
e mais parecia um parque de diversões, com incontá-
veis referências à literatura infanto-juvenil – o nome
foi tirado da clássica saga de Peter Pan – e ao mun-
do lúdico de Walt Disney. As entrevistas e coletivas à
imprensa, já raríssimas, encerraram de vez. Enquanto
muito se especulava aqui fora, os dilemas internos de
Michael afloraram em Neverland. Cada vez mais frus-
trado – para ele, “Bad” ter vendido “só” 30 milhões de
cópias àquela época era sinal de fracasso – e nervoso,
ele ficou obcecado com a ideia de seu novo CD ser um
sucesso absoluto e inquestionável.
Não se sabe até que o ponto ele ficou satisfeito, mas
o fato é que “Dangerous” ultrapassou as vendas do
anterior e, em questão de dois anos, já era o segundo
mais vendido de sua carreira. Pouco citado nos revi-
vals de Jackson, este disco é mais lembrado por sua
turnê – a maior da história, interrompida depois de ele
ser acusado pela primeira vez de abusar de um menor
de idade – que por sua bem sacada incursão no som
da década de 1990. O fim da parceria com Quincy Jo-
nes é visível: o produtor Teddy Riley deixou Michael
à vontade para mexer com o que quisesse, contanto
que fosse novidade. O resultado é um CD de ares con-
temporâneos que parece ter sido gravado na semana
passada.
Muito embora ainda estivessem em ascensão, gê-
neros como o rhythm n´blues e o hip hop norte-ame-
ricanos figuram desde a primeira faixa do CD, “Jam”.
A boa lapidação das composições segue com “Why
you wanna trip on me”, “In the closet”, “Remember the
time”, “Give in to me”, “Will you be there”, “Heal the
world” – uma balada pop como há tempos não se via,
que pôs à prova a ainda surpreendente capacidade
vocal do cantor – e “Black or white”, provavelmente o
último megahit de Jackson.
Uma estética ousada, mesclada com referências his-
tóricas e uma superprodução a la “Thriller” marcaram
o clipe desta canção, que saiu à época em que o CD
era entregue nas lojas americanas e logo se tornou
uma das estreias mais assistidas da história das emis-
soras musicais. O investimento em vídeos seguiu com
“Give in to me” – que teve a participação de Slash, do
Guns n´Roses – e “Heal the world”, dois materiais es-
senciais para quem quiser conhecer a fundo a carreira
de Michael. Esta última canção, por sinal, serviu para
que ele desse título à sua campanha de caridade na
“Heal the world foundation”, responsável por arrecadar
milhões de dólares e embolsar mais alguns do próprio
cantor, que não teve medo em investir sua fortuna em
projetos de apoio a crianças de todo o mundo.
O “adeus” de “Invincible”
Nos próximos dez anos, pouco se ouviu falar sobre
a música de Michael Jackson, à exceção da época da
vultosa campanha de divulgação de “HIStory: past,
present and future – Book I” (1995), um CD duplo de
vendagem absurda (30 milhões de cópias, novamen-
te – e Michael ainda estava inseguro de seu sucesso)
que tinha, entre suas trinta faixas, alguns sucessos
remasterizados e canções inéditas. Do álbum, saíram
alguns sucessos como “Earth song”, “They don´t care
about us” – aquela cujo clipe foi filmado no Brasil, no
Rio de Janeiro e em Salvador – e a excelente “Scre-
am”, um dueto-duelo entre Michael e sua irmã mais
nova Janet de sonoridade (e videoclipe) moderníssi-
mos. No mais, o CD ainda motivou uma longa turnê de
ingressos esgotados na Europa, que superou até mes- »»
mo a “Dangerous tour”, com um total de 4,5 milhões de
espectadores.
Somente seis anos depois de “HIStory” os fãs teriam
acesso a material 100% inédito com “Invincible” (2001),
o último lançamento de Jackson (em vida, diga-se de
passagem; tem coisa vindo por aí). O problema é que,
após anos de porradaria com o alto staff da Sony, Mi-
chael acabou tendo a divulgação do disco prejudicada,
o que o fez ter uma vendagem considerada fraca para
seus padrões: “só” 17 milhões. Canções vazaram na
internet, cantor e gravadora não entraram em acordo
sobre que single lançar primeiro, Michael se negou a
gravar clipes para os primeiros compactos; enfim, tudo
deu errado. E este álbum, que certamente não é o me-
lhor de sua carreira, mas ostenta várias qualidades,
acabou indo parar na sombra.
Superados os problemas, uma audição atenta mos-
tra que “Invincible” tinha tudo para dar certo. Em dez
anos, Michael resolveu ousar: gravou sozinho o instru-
mental de várias canções, entre elas “Unbreakable” –
que abre o CD – e a ótima “You rock my world”, suces-
so relativo à época de seu lançamento. Nas parcerias
de composição, o trabalho é, regra geral, interessante:
em “2000 Watts”, o R&B americano dá as caras com
uma falta de sutileza que surpreende. “Invincible” se-
gue na mesma linha, com seus arranjos crus que dão
ênfase à rouquidão do cantor em sua fase madura.
Mas uma coisa é verdade: em faixas como “Cry”,
“Butterflies”, “Break of dawn” e “The lost children”, já
não consta a atmosfera quase etérea das gravações
comerciais anteriores de Michael. Eram apenas músi-
cas de rádio, iguais às que dezenas de outros cantores
e cantoras da indústria americana lançavam de mês
em mês. É por isso, talvez, que a qualidade de “Invin-
cible” tenha sido tão questionada – mesmo a Rolling
Stone, que nunca economizou nos elogios ao cantor,
deu “apenas” três estrelas ao CD. Os efeitos do fim
precoce da divulgação, após a ruptura com a Sony,
resultou em vendas decrescentes: o álbum só chegou
à primeira posição em treze países. No Brasil, nunca
passou do oitavo lugar.
A morte
A decadência daqui em diante você, leitor, provavel-
mente conhece. Mais escândalos envolvendo abusos
sexuais – nunca comprovados – surgiram, obrigando
o cantor a atravessar meses e mais meses enfurnado
no rancho Neverland, longe dos flashes da imprensa.
Dívidas e mais dívidas resultantes de suas quebras de
contrato e compras excêntricas fizeram-no desistir de
alguns projetos milionários – Neverland incluído, logo
após o fim do processo criminal.
Um documentário lançado em 2003 chamado “Li-
ving with Michael Jackson”, feito pelo jornalista Martin
Bashir, mostrou ao mundo o agravo das condições psi-
cológicas do cantor. Suas feições estavam ainda mais
deformadas, resultado das intervenções cirúrgicas
e dos problemas de saúde decorrentes do estresse;
seus filhos só faziam aparições públicas com másca-
ras cobrindo seus rostos. Suas frases não tinham mais
a profundidade de antes. Era um reflexo de que o astro
pop, em sua maturidade, já não se reconhecia naquela
carcaça. Ou então odiava tanto o que via que tentava,
a todo custo, negar a própria identidade e, dela, afas-
tar os próprios filhos.
Mesmo assim, em 2006, Michael foi agraciado com
oito premiações no Guinness, entre elas o recorde de
vendas de “Thriller” – que já passavam das 104 mi-
lhões de unidades – e os postos de primeiro artista a
ganhar mais de cem milhões de dólares em um ano,
a vender mais de 100 milhões de álbuns fora dos Es-
tados Unidos e a acumular uma fortuna aproximada
de 8 bilhões de dólares. Também compareceu a uma
premiação de música no Japão e foi premiado como »»
o artista-mor daquele País. Dois anos depois, ao completar
seus 50 anos, ganharia de presente uma coletânea interativa
– os fãs escolhiam que faixas deveriam entrar – lançada em
vários países, “King of pop”. O mundo ainda o admirava.
O projeto de retornar à mídia seria concretizado em breve
– só não se sabia quando. Michael andava compondo e gra-
vando material novo em estúdios desde que fora absolvido
de seu último escândalo sexual, em 2005. Dizia ter 30, 40, 50
possíveis faixas em mãos. Recentemente, havia aparecido
com um aspecto mais saudável, menos esquálido e com o
rosto menos avariado. Por isso sua morte em junho passado
gerou tanta surpresa, tanto clamor popular, tantas manifesta-
ções e tributos em Londres, em Tóquio, em Nova Iorque, em
Paris, até no Brasil. Ninguém esperava, ninguém queria.
Era neste ano de 2009 – mais precisamente em 10 de agos-
to –, que “Off the wall”, a estreia oficial de Michael no mundo
pop, faria 30 anos. Não por coincidência, era também agora
que o cantor pretendia sair do ostracismo e excursionar, após
uma década sem presentear os fãs dessa forma. Havia im-
pressionantes 50 shows marcados somente em Londres, e a
expectativa era que outra penca de datas surgisse na Euro-
pa, na América e – quem sabe? – no Brasil. Seria uma turnê
fenomenal, como nunca antes em sua carreira. Poderia vir
acompanhada de um novo CD.
Foi triste ver que, para ele, o sonho acabou assim, prova-
velmente à base de um monte de remédios controlados e sob
o estresse dos preparativos de uma turnê desde já estafante,
naquele 25 de junho em Los Angeles. Dezenas de milhões
de fãs, de todas as gerações, etnias, credos e nacionalidades
possíveis, entraram nesta segunda metade de ano com uma
lacuna em suas referências musicais. Lacuna que só pode-
ria ser preenchida por Michael Jackson, o tal “Rei do pop”
que, nas palavras de um crítico da Rolling Stone, subiu como
nenhum outro artista subiu na história da música. E afundou
como ninguém o fez – e provavelmente fará.
“Thriller” (1982)
Classificação: *****
Por que ouvi-lo: É o grande clássico do
cantor. Fora isso, um disco que diz muito
sobre a época áurea da música pop, com
arranjos visionários e que ditavam moda, ao
invés de segui-la.
Melhores faixas:
“Beat it”,
“Billie jean”,
“Thriller”
“Off the wall” (1979)
Classificação: *****
Por que ouvi-lo: Ao invés de recorrer a co-
letâneas e seleções informais na internet,
você pode encontrar algumas das melhores
faixas de Michael neste CD – sua estreia
como artista livre das rédeas do pai.
Melhores faixas:
Don´t stop ´til you get enough”,
“Rock with you”,
“Off the wall”.
Doi
s di
scos
ess
enci
ais
Álbuns solo lançados pela Motown:
1. Got To Be There (1971)
2. Ben (1972)
3. Music and Me (1973)
4. Forever, Michael (1975)
5. The Best Of (1975)
6. One Day in your Life (1981)
7. Farewell my Summer Love (1984)
Álbuns solo:
1. Off the Wall (1979)
2. Thriller (1982)
3. Bad (1987)
4. Dangerous (1991)
5. Invincible (2001)
Coletâneas, semi-coletâneas e edições especiais:
1. Remember The Time (1992)
2. Anthology (1995)
3. HIStory: Past, Present and Future – Book I (1995)
4. Blood On The Dance Floor (1997)
5. The Millennium Collection (2000)
6. Greatest Hits: History - Vol I (2001)
7. Number Ones (2003)
8. The Ultimate Collection (2004)
9. The Essential (2005)
10. Visionary: The Video Singles (2006)
11. Thriller: 25th Aniversary Edition (2008)
12. King Of Pop (2008)
Entrevistapg22
Por Elvis Rocha
desgraçadoUm vício
Marcelo Damaso, da Dançum Se Rasgum Produciones, conta a trajetória da produtora que ajudou a incluir Belém no cenário da música alternativa brasileira.
Eles só queriam uma festa que tocasse as músicas
que amam. Mas de 2003 pra cá, os membros da Dan-
çum Se Rasgum Produciones viram o que era apenas
uma curtição para os mais chegados se transformar
num dos melhores festivais do país, ajudaram a flo-
rescer pelo menos duas gerações de bandas locais
e capitanearam o movimento que transformou Belém
em um dos roteiros para a música alternativa feita no
Brasil.
Às vésperas da quarta edição do Festival Se Ras-
gum, que acontece entre os dias 13 e 15 de novembro,
no African Bar, o jornalista Marcelo Damaso, um dos
cabeças da produtora, bateu um papo com a Excesso
e falou de erros, acertos, pretensões futuras e como
a roda-viva de produção de festas e festivais acabou
se tornando um “vício desgraçado” - do qual ele não
consegue se livrar. Confira.
Queria começar falando sobre como vocês co-
meçaram a Se Rasgum...
Bom, eu morei em Santos, e lá tinha um grupo de
amigos que tinham bandas autorais. E foi mais ou me-
nos nessa época, 2000, 2001, que houve a retomada
do rock nacional. Meus amigos mais próximos tinham
duas bandas: a Drosóphila e o Smiley, e Santos tinha
muito lugar para hardcore, mas não pra outros tipos de
música. Então a gente resolveu fazer uma festa cha-
mada “Pop Santos” aos domingos, num barzinho. Co-
locava três bandas autorais por dia, convidava banda
de São Paulo, panfletava, fazia todo o processo: bolar
a festa, release pra imprensa, flyer, chamar as bandas,
divulgar... Voltei logo depois pra Belém, na metade de
2003, já com essa intenção de fazer alguma coisa
aqui. Sempre tive banda com o Gustavo (Rodrigues).
Temos o Presidente Elvis e sempre fizemos nossas
festas pra banda tocar quando eu vinha de férias a
Belém (fui pra Santos estudar jornalismo). Numa con-
versa em Salinas, bebendo eu, Randy (Rodrigues) e
Gustavo, a gente começou: “A gente podia fazer umas
festas, né? Ia ser foda. Belém não tem lugar pra gente
ouvir o som que a gente gosta. Vamos fazer uma festa
com discotecagem rock.” Aí colamos no Dudu (Panto-
ja) e ficamos nós quatro com a ideia da festa. Um dia a
gente foi ao Café Taverna e pensou: “Dá pra fazer uma
festa aqui.” Soltamos uma notinha na imprensa, cha-
mamos os amigos e deu 70 pessoas na primeira festa:
pagou o som e saiu um troco para cada um. Esse foi o
princípio, no Taverna. Ali foi o começo de tudo.
Aí as festas começaram a tomar corpo...
A partir da segunda festa a gente colocou o Suzana
Flag. Vimos um show deles aqui e colocamos a banda
pra tocar. Deu umas cento e poucas pessoas, lotação
máxima da casa, legal pra caralho. Dudu discotecan-
do, Gustavo começou a fazer flyer, eu mandava re-
lease pra imprensa, começou a pensar a festa junto,
Randy ia receber as pessoas na portaria e assim cada
um começou a assumir sua função. Na festa seguinte
colocamos o Presidente Elvis pra tocar. A partir da ter-
ceira a gente pensou: “Pô, tem muita banda surgindo
em Belém”...
As festas rolavam de quanto em quanto tempo
nessa época?
No começo eram de 15 em 15 dias pra não esgotar
o formato. A gente achava que duas vezes por mês
era legal. O princípio foi isso: a gente queria um lugar
que tocasse rock, um gueto, um inferninho; o negócio
das bandas veio depois, quando a gente percebeu que
tinha banda suficiente pra fazer cada festa com uma
diferente. Daí fomos pra uma casa maior em 2004, em
2005 fechamos um patrocínio: pegava a grana e inves-
tia em passagem. Começamos a trazer banda de fora,
a fazer um link legal com todo mundo que tava tocan- »»
do. Nossa fama era ótima em Belém, porque éramos
uns dos poucos lugares mais distantes do Brasil que
pagava cachê, que pagava tudo.
Queria que falasses um pouco da transição do
Taverna pro Café Com Arte, que foi um passo
adiante na história de vocês...
A gente pensou em fazer uma festa baseada no fil-
me “A festa nunca termina” (“24 Hour Party People” -
2002), que tinha tudo a ver com essa história toda, de
gente que montava sua própria boate pra botar suas
bandas pra tocar, que tocava rock, tinha tudo a ver.
“Vamos fazer uma parceria com o cinema, sortear in-
gressos pra essa festa?”. Só que um grupo de pes-
soas resolveu fazer a mesma coisa. Não foi ninguém
copiando ninguém: eles tiveram a ideia antes, falaram
com a galera que trouxe o filme e fizeram uma festa
no Taverna. “Condenou a nossa. Não tem mais como
fazer. Vamos fazer a nossa no Café com Arte.” Isso
porque a gente tinha ido antes no Café com Arte e por
falta de data no Taverna resolveu fazer lá com a ban-
da Clepsidra, que já tocava na casa. Todo mundo fica
encantado com aquela casa: casarão antigo, bonito,
deu o dobro (de gente) que dava no Taverna e a gente
ficou definitivamente por lá. Fomos adaptando os am-
bientes depois. A gente inventou o porão, o cemitério
indie. Aquela pista da frente a gente criou, galeria pra
show. Era uma festa perfeita, com três ambientes e
num lugar aberto.
Isso também casou com o contexto da época
em Belém, várias bandas surgindo, tocando na rá-
dio...
Foram diversos fatores que construíram a Se Ras-
gum. Isso principalmente. Na época o Ney Messias
era o presidente da Funtelpa (Fundação de Telecomu-
nicações do Pará), e o que a gente ouvia? Guitarrada,
Pio Lobato, Suzana Flag, a nova música pop paraense
tocando junto com Autoramas, Acabou La Tequila e
outras bandas desse nicho. A cidade tava respirando
esse clima. A mentalidade tava mudando e isso foi
ajudando a moldar a Se Rasgum também. E a gente
percebeu depois que começou a dar espaço pra essas
bandas, a pagar cachê, dar um som decente, dezenas
de outras bandas foram aparecendo numa velocidade
muito rápida. Em um ano a gente conseguiu fazer fes-
ta sem repetir banda. Isso pra cidade é maravilhoso.
E até hoje a gente vê isso no festival: toda inscrição
aparecem bandas novas.
Quantas bandas mais ou menos passaram pelas
festas da Se Rasgum?
A gente fez esse cálculo agora pra fazer um histórico
da produtora, mas de cabeça não tenho esse número.
Posso te dizer que foram mais de 50 bandas locais.
Nacionais agora, com o festival, deve bater mais ou
menos nisso aí também.
Depois de um tempo vocês passaram a investir
em bandas nacionais também. Como funcionou
esse esquema?
Eu trabalhava no Diário do Pará e um dia o Victor
Pinto, um amigo nosso, trouxe a capa do caderno
de cultura do Estadão, com o Réu e Condenado. Na
época o Lobão tinha lançado a revista “Outra Coisa”,
eu tava comprando e nela veio o CD da banda. Ouvi,
achei engraçado. Dois caras só. “E aí vamos trazer?
São duas passagens.” Fizemos contato, os caras pira-
ram em vir tocar em Belém. Começou aí, com o Réu e
Condenado, que já nem existem mais como banda.
Quantas bandas nacionais você trouxeram antes
do primeiro festival?
De dois em dois meses a gente trazia uma banda. »»
Nashville Pussy
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Em 2005 trouxemos Réu e Condenado, Drosóphila,
Wander Wildner, Sapatos Bicolores, Nervoso e os Cal-
mantes e Los Pirata.
Essas festas davam dinheiro?
Nessa época a gente ganhou dinheiro. Mas ninguém
enriqueceu com isso. A festa começou a ter um custo
muito alto. Por mais que a gente tivesse um patrocínio
na época, era só pra passagem. A gente sabia que era
isso que dificultava fazer show aqui. A gente pegava
a grana do patrocínio, guardava para comprar passa-
gem de dois em dois meses e trazer banda pra cá. Na
época a gente pagava segurança, flyer, som, cachê
pra banda, pra DJ. Era um custo alto, mas a bilheteria
era toda nossa, então sobrava uma grana legal.
A ideia do festival nasceu exatamente quando?
Começou quando eu e o Gustavo fomos pra décima
edição do Goiânia Noise. A gente viu no mesmo fes-
tival, em palcos intercalados, bandas como Cachorro
Grande, Pata de Elefante, Detetives, Bidê ou Balde,
Relespublica, MQN... uma série de bandas que tavam
brilhando naquele momento. Esse foi o primeiro pas-
so. “Porra, dá pra fazer isso em Belém. Vamos pensar,
vamos ver como a gente consegue fazer.” Paralelo
a isso a gente colou no Marcel (Arede), que trouxe
o Replicantes (pra Belém) na época. Ele e a Renée
(Chalu) deram o primeiro passo pra fazer um projeto
pra Lei Semear. Trabalhamos nesse projeto e ele foi
aprovado. Na verdade, foi porque ele foi aprovado que
aconteceu. Ninguém tava desesperado, com pressa
pra fazer o festival. Aconteceu naturalmente.
Quanto tempo levou pra montar a ideia e fazer ela
chegar perto do que vocês queriam?
Levou tempo. A gente nunca teve ninguém que ensi-
nasse a gente. Era difícil isso: um festival em Belém. A
gente sabia como fazia show. Todo mundo da Se Ras-
gum viajava por aí, via festivais e sabia mais ou menos
como era. É uma logística complicada, principalmente
quando tu tás trabalhando com 30 bandas, metade de
fora, e tem que ter transporte, alimentação, hotel pra
todos. Tem que colocar a banda no palco, tirar. Ima-
gina: são trinta shows durante dois, três dias. A gente
começou a virar a noite mesmo, queimando pestana,
pensando pra caramba como íamos fazer. Chegamos
ao formato e escolhemos o Parque do Igarapés, um
lugar ideal pra um festival na Amazônia, na floresta. E
aquele festival colou. A gente trouxe imprensa: a Re-
vista da MTV deu um gás legal pro festival, a Rolling
Stone, a Folha de São Paulo deu página dupla no Fo-
lhateen. Nós conseguimos fazer que várias bandas
viessem se bancando. A gente teve Vanguart e Los
Porongas, que hoje em dia estão fazendo sua grana
por aí, mas vieram se bancando pro Se Rasgum.
E vocês apanharam muito durante o festival?
Muito. No primeiro festival eu tive um problema de
stress, minha barba começou a cair, meu triglicerídios
dispararam. Todo mundo teve problema de saúde.
Gustavo fez o primeiro festival com hepatite. A gente
apanhou muito, muito, muito, mas conseguimos dever
pouco: pegamos um rombo de 13 mil reais no primeiro
festival.
Quanto ele custou?
A gente tinha 70 mil da carta da Lei Semear e o resto
conseguiu com poucos apoios. Ele custou em média
120 mil reais.
As festas de vocês marcaram uma época no Café
com Arte. Mas logo depois do primeiro festival vo-
cês saíram de lá. O que foi que aconteceu?
A gente começou a ter uma certa projeção na cida- »»
de. E outros grupos se espertaram e passaram a fazer
festas também. Pra gente isso foi excelente. O que
eu queria quando comecei com essa história de festa
era que todo final de semana tivesse opção em Belém
pra quem escuta um tipo de música diferente e não
tá acostumado com jabá de rádio. Depois de 2004,
2005, começou a ter. 2004 foi um ano excelente pra
Se Rasgum, porque foi um ano que a gente se estabe-
leceu, ganhou grana, curtiu pra caramba. E a imprensa
começou a dar moral, abanar o carvão e começaram
a aparecer outras produtoras: muitos shows, muitas
bandas, a galera começou a se profissionalizar. Isso
tirou um pouco do nosso espaço, o que era natural.
Foi uma questão de negociação que fez a gente mudar
pro Armazém Santo Antônio, que é uma grande casa,
mas não pegou, não sei a razão. A galera talvez tenha
se acostumado com o Café com Arte mesmo. Hoje a
gente faz festa em vários lugares. Tem uns que colam
e outros que não.
Vocês passaram quanto tempo no Armazém?
Seis meses. Fizemos lá o Primeiro Grito Rock, um
festival que rola no Carnaval, idealizado pela galera do
Fora do Eixo, lá de Cuiabá. Fizemos umas festas no
Armazém inesquecíveis, com 700, 600 pessoas, um
público que comportava no Café com Arte, mas aper-
tado. O Armazém tava até rolando legal, só que che-
gou uma época que o Café com Arte tava concorrendo
com a gente e essas outras produtoras começaram a
fazer festas exatamente no mesmo formato. Depois
que acabou o Santo Antônio, a gente passou um tem-
po sem fazer festa, quis dar um tempo, e depois ne-
gociamos uma volta ao Café com Arte, e faz festa até
hoje lá. Cara, o Café com Arte é a minha vida aqui em
Belém. É o lugar em que eu gosto de fazer festa. Hoje
em dia a gente faz uma festa lá que é só pra se divertir,
sem dor de cabeça.
Aí veio o segundo festival...
O segundo festival foi um baque pra gente. A gen-
te conseguiu uma projeção muito foda no primeiro,
com imprensa, com banda, todo mundo falando bem.
O Mundo Livre S/A fez um show histórico em Belém.
Porra, pra gente, encerrar um festival daquela forma
foi mágico. Naquela hora eu achei que tinha nascido
pra fazer aquilo (risos), apesar do rombo que a gente
tomou. No segundo, a gente se inscreveu na Lei Se-
mear, colocamos toda a clipagem, só que a Fundação
Tancredo Neves resolveu fazer o seu festival. “E aí,
a gente tem um festival. Vamos concorrer ou vamos
juntar as forças?” Decidimos juntar, mas a Lei Semear
não foi nada generosa com a gente. Aprovou menos
do que tinha aprovado no ano anterior...
Quanto?
Aprovou 60 mil. No ano anterior tinha aprovado 70
mil pra um festival que nem existia. Quando o festival
ganhou corpo, que era pra captar mais, já tinha força
de captação, aprovaram menos. Foi engraçado, mas
na verdade foi falta de comunicação lá dentro, gente
que talvez não soubesse o que tava fazendo quando
aprovou o valor. A gente resolveu fazer com os R$ 60 »»
nononononononon
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: Thi
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mil mesmo. Só que na hora a verba do governo teve
um corte de 90%, a grana que a gente achava que ia
contar furou. Desatrelamos e fizemos independentaço
o segundo festival, que foi onde mais aprendemos.
Vocês saíram do Parque dos Igarapés. Qual foi
a razão?
Saímos do Parque por uma questão de logística. O
Parque é um lugar maravilhoso mas não dava pra fa-
zer o festival lá. Era longe, tinha gente que pulava, que
sabia o esquema de entrar sem pagar. Isso pra gente
foi complicadíssimo. Era estranho ver três mil pesso-
as no show do Cachorro Grande e saber que metade
daquelas pessoas não pagou. Por isso a gente foi pro
African. Funcionou e tá funcionando até hoje. Resol-
vemos fazer em dois dias. 17 bandas num dia e 16 no
outro. Atraso de três horas no primeiro dia. A última
banda entrou 5h30 no palco. Isso foi onde a gente real-
mente tomou ferro. Engraçado porque tomou ferro de
aprendizado, porque foi o único festival que se pagou.
No segundo festival trouxemos banda internacional: a
Nashville Pussy. Mas a gente apanhou. Começou tar-
de, terminou tarde. A partir do ano passado, o terceiro,
foi perfeito, mas pelo que a gente aprendeu em 2007.
Qual a estrutura pra um evento desses funcio-
nar? Quantas pessoas trabalham pra fazer o festi-
val acontecer?
Não sei dar um número exato, mas contando com
bandas imagina só: uma média de 30 bandas com cin-
co integrantes cada. Já soma só aí 150 pessoas. De
equipe umas 70 pessoas...
E essas pessoas trabalham como voluntários ou
recebem pra isso?
Algumas pessoas são voluntárias, trabalham na raça
mesmo. Outras a gente paga.
Como funciona o pagamento de cachês pras
bandas locais?
Aí elas abraçaram a causa. Todas abriram mão de
cachê. A gente vê o festival como uma vitrine, saca?
Ele não é salvação das bandas. É onde tu vais en-
contrar gente de outras bandas circulando, jornalista
e produtor vendo tua banda. A gente tem diversos re-
sultados legais e tem muita banda consciente disso. A
gente abre a inscrição e lá tem contrato e regulamento.
No primeiro festival a gente só pagou cachê pras três
headliners: Mundo Livre, Cachorro Grande e Wander
Wildner. De resto não pagamos pra mais ninguém,
nem pra banda de fora. Esse ano vai ter cachê. Ano
passado não teve.
E todas aceitaram numa boa isso de não rece-
ber?
Não. De jeito nenhum. Tem banda que nem se ins-
creve mais por isso. É natural, eu acho. Tá todo mundo
se profissionalizando. O festival dá essa opção e acei-
ta quem quer. Esse ano por exemplo não se inscreveu
banda que a gente queria que estivesse no festival,
paciência, as condições são essas. No regulamento
diz que cada músico tem direito a um convite, passa-
porte pra todos os dias e se não tiver transporte a gen-
te consegue, mas não tem cachê, então a banda se
inscreve se quiser. A gente trabalha com essa ideia de
vitrine, porque acha que é isso que compensa de fato.
Os festivais pelo Brasil funcionam assim?
Todos funcionam dessa forma. Falando sinceramen-
te, eu queria remunerar todas as bandas. Acho que
todas merecem. Se o negócio é profissionalizar acho
que é o próximo passo: pagar todo mundo. Infelizmen-
te a gente ainda não tem grana pra isso.
Ano passado vocês ficaram devendo quanto?
R$ 60 mil. Festival é muito caro. Custa R$ 120, 170 »»
mil supostamente, mas se for colocar na ponta do lá-
pis, cada festival custou 300, 400 mil. Cada um de nós
arcou com um pedaço da dívida. Eu vendi meu carro,
Renée fez empréstimo, Marcel e Gustavo colocaram
grana...
Já zeraram essas dívidas?
Nada. A gente espera zerar esse ano.
O perfil do festival mudou com o passar dos anos.
Começou como um festival de rock, mas depois foi
abrindo pra outros ritmos e ano passado teve até
tecnobrega. Como é que rolou isso? (Após essa en-
trevista foi confirmada para a quarta edição a presença
de Pinduca, Rei do Carimbó, e da banda Tecnoshow,
da diva do brega Gabi Amarantos)
A gente amadureceu. Achou que um festival só de
rock não ia mostrar tudo que Belém tem. Aqui a gente
tem um dos maiores exemplos de independência na
música hoje em dia, que é o brega e o tecnobrega.
Além disso, um grupo de carimbó, por exemplo, pro-
move uma festa legal, é bacana trazer pro festival. O
hip hop entrou ano passado. Partiu (a mudança) tam-
bém do nosso gosto pessoal: a gente não tava mais
ouvindo só rock e achou mais democrático tirar o “no
rock” e deixar só Festival se Rasgum. A essência ain-
da é rock, mas a ideia é abraçar outros estilos.
O retorno foi bacana?
Perfeito. A gente percebeu que o nosso público não
é cabeça dura. Que o público que ouve rock hoje em
Belém tá aí pra farra. Se tocar um brega, todo mundo
vai dançar, se tiver hip hop vão prestar atenção nas
rimas. As seletivas mostraram isso esse ano.
Achas que o público de vocês também mudou
com a passagem do tempo?
Acho que o público se conscientizou mais. Tem os
cabeças dura como tem em todo lugar. Tem cara cha-
to, que reclama de tudo, mas eu vejo uma galera que
tá muito aberta a conhecer novidades e a proposta do
festival é essa: mostrar novidades.
Existe um modelo de festival que vocês se espe-
lhem pra produzir o Se Rasgum?
Não. São vários. A gente circula muito por aí pra pe-
gar ideia de vários. Eu acho até que o Se Rasgum já
conseguiu construir uma identidade própria.
Qual é?
Diversidade. A gente não coloca mais só banda de
rock. A gente abre pra todos os estilos e tenta fazer
uma programação legal, abraçando tudo que a gente
puder e mostrando o que Belém tem. A nossa identi-
dade é ligada à cultura daqui, não tem como ser dife-
rente. Não vou ter como fazer um festival sem colocar
guitarrada, carimbó, talvez um tecnobrega. Acho isso
fundamental pra uma cena, essa mistura.
Vocês se filiaram recentemente à Associação
Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin). O
que isso significa em termos práticos?
São vários produtores, vários festivais com interes-
ses em comum, todo mundo discutindo as mesmas
coisas, políticas públicas, patrocínio, leis de incentivo.
Não sei se facilita com grana, mas a gente tá no meio
que pensa as mesmas coisas, que tem os mesmos
objetivos.
Esse ano vocês promoveram seletivas como uma
das maneiras de escolher as bandas que vão par-
ticipar do festival. O que levou vocês a adotarem
esse tipo de avaliação?
Primeiro: muitas bandas novas. A gente chegou à
conclusão que não queria repetir as mesmas bandas
sempre. Então chamou cinco jurados de fora, três lo-
cais, abrimos inscrições e esses jurados escutaram
as mais de cem bandas que se inscreveram e foram
dando notas. Dentro das 24 bandas que eles escolhe-
ram a gente decidiu que algumas não precisavam da
Seletiva porque queríamos elas no festival, as que ti- »»
Wander Wildner
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s
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: Luc
iana
Dav
id
nham recebido maior nota dos jurados, inclusive. Pro.
eFX, Delinquentes, Clube de Vanguarda Celestial, Ae-
roplano, Trio Manari, The Baudelaires, Dharma Burns,
Ataque Fantasma e Jonhy Rockstar. Pra Seletiva fo-
ram 24 bandas muito diversificadas. Rock, hip hop, ou-
tros estilos. Foi muito legal. Fechou com um show do
Móveis Coloniais (de Acaju). O melhor dessa seletiva
foi que a gente colocou essas cem bandas pra gente
de fora ouvir. Dono de selo, jornalista, produtor. Teve
gente que falou que ano que vem quer participar só
das Seletivas, não quer mais o festival. Foi um esque-
ma muito legal. Duas músicas por banda, batalha de
bandas, foi divertido. Foi legal ver o público votando,
os jurados, ver as bandas dando de tudo pra conse-
guir sua vaga. Funcionou como uma primeira parte do
festival. Eu não considero que as bandas que não pas-
saram das seletivas estejam fora do festival. Acho que
elas participaram também.
Há quem diga que é mais fácil ser astronauta do
que roqueiro em Belém. O que pensas disso?
Hoje em dia quem toca rock toca porque gosta. Tem
que levar isso como tesão: se der certo, beleza. Se
não der, paciência. Pelo menos vai se divertir. Nosso
amigo Vlad Cunha diz que Belém não tem vocação
pro rock. Eu acho que tem. Belém tem muita banda
legal. O que eu acho é que o rock de forma geral não
tem muito espaço hoje em dia. Com toda a crise, com
as gravadoras quebrando, com o mp3 tomando conta,
eu não consigo ver alternativa de bandas como as da
década de 80, que viviam disso.
Recentemente duas bandas foram tentar a sorte
em São Paulo: Madame Saatan e Euterpia. O cami-
nho é esse mesmo: o aeroporto?
Belém é longe, né? É complicado. Eu fui em Reci-
fe recentemente e vi que as bandas circulam muito
melhor por ali. Três horas tu estás em Natal, não sei
quantas em Maceió, vai pra Aracaju, Salvador, tudo
ali perto. No Nordeste as coisas funcionam legal por-
que as bandas estão sempre circulando e tem chão
pra isso. Aqui não tem. Se quiser fazer fusão, é com
o Maranhão e com os estados aqui do Norte. É difícil
se manter num circuito assim. Eu sei que a Madame
Saatan tá conseguindo. Não tenho notícias da Euter-
pia e não sei como andam as coisas, mas talvez pra
eles tenha sido a decisão certa na hora certa. É aquilo:
quem quer viver de música tem que saber os passos
que vai dar.
E aqui em Belém poucas bandas conseguem
manter uma sequência de trabalho em termos de
gravação. São poucas as que chegaram ao segun-
do, terceiro disco. Tem o Stereoscope que tá lan-
çando o terceiro aí...
O lance do Stereoscope é que eles têm um selo (Se-
nhor F Discos, de Brasília) que aposta neles. A gen-
te tá no meio de um colapso da indústria fonográfica.
Hoje a gente sabe qual é o caminho da música. Tem
muita gente que insiste nisso de disco, a gente é con-
sumidor e sabe disso, mas é minoria. Acho que falta
gente pra investir em continuidade, em estúdio, selo.
O Ná Figueiredo, por exemplo, é o maior incentivador
daqui. É um cara que lança todo mundo, mas não é
muito fácil nem barato lançar um álbum. Também tem
muito da banda insistir, né? Tem que acreditar no seu
som. O Stereoscope acredita, tá lançando o terceiro
disco, tem um selo que aposta neles e isso é legal. Os
caras tão na deles. Bacana isso.
Já pensaste em desistir?
Desde o primeiro festival eu tento desistir e não con-
sigo (risos). Fico ouvindo um monte de banda legal,
imaginando show delas em Belém, e penso principal-
mente na resposta do público, das bandas que vêm
de fora, das bandas daqui, e fica cada vez mais difícil
largar essa vida. É um vício desgraçado.
Móveis Coloniais de Acaju
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Confira a escalação do Festival Se Rasgum 2009:
Sexta – 13 de novembro
Nação Zumbi (PE)
Tecnoshow (PA)
Bonde do Rolê (PR)
Gork (SP)
Juca Culatra & Power Trio (PA)
Pro.eFX c/ Arcanjo Ras (PA/SP)
Dead Lovers Twisted Hearts (BH)
Cérebro Eletrônico (SP)
Trio Manari (PA)
Ataque Fantasma (PA)
The Baudelaires (PA)
Sábado – 14 de novembro
Pato Fu (MG)
Música Magneta – DJ Dolores, Pio Lobato e Mestre Vieira (PA/PE)
Comunidade Nin-Jitsu (RS)
Digital Dubs com BNegão e Ras Bernardo (RJ)
Pinduca (PA)
Marku Ribas (MG)
Milocovik (SP)
Johny Rockstar (PA)
Radiotape (MG)
Dharma Burns (PA)
Aeroplano (PA)
Domingo – 15 de novembro
Velhas Virgens (SP)
Stress (PA)
Matanza (RJ)
Delinquentes (PA)
Hablan Por La Espalda (URU)
AMP (PE)
Retrofoguetes (BA)
Inverso Falante (PA)
Sincera (PA)
Godzilla (AP)
Clube de Vanguarda Celestial (PA)
*Ordem inversa de apresentação
Ensaiopg40
Por Leandro Bender
PropuplaLuplita
Literaturapg36
ViniciusdeMor aes
Literaturapg54
Poeta e diplomata.O branco mais preto do Brasil.
Não conheço todos os poetas que
já passaram pela história brasi-
leira, mas posso dizer que, dos
que conheço, Vinicius de Mora-
es é o maior. Dizem que mais
vale o poeta que escreveu algu-
mas poucas coisas boas do que aquele que passou
a vida a publicar um apanhado de grandes porcarias.
Mas Vinicius não é nem um nem outro. Vinicius é tão
grande porque quase tudo – ou tudo, até diria – que se
dedicou a realizar o fez de forma extraordinária. Vini-
cius não sabia ser pouco e nem metade. Vinicius só se
aceitava sendo tudo. Era, como todo poeta, um grande
exagerado.
Vinicius nasceu em uma família de artistas – sua
mãe, Lydia, era pianista, o pai, Clodoaldo, era poeta.
Tinha um tio quase famoso: era o cronista, folcloris-
ta e também poeta Mello Moraes Filho. Mas, apesar
de tudo, decidiu-se por estudar direito, entrou para o
Itamaraty, conseguiu se tornar um grande diplomata.
Cumpria com seus compromissos profissionais, sabia
exercer a diplomacia como poucos, viajava daqui a ali
com a simpatia que lhe era nata. Mas a alma de poeta
falava sempre mais alto. Vinicius não sabia viver de
forma estável. Vinicius queria a ardência da paixão e
a aventura.
Por preferir a inconstância e seguir pelos caminhos
incertos dos labirintos da vida, há quem diga que Vi-
nicius foi um bon-vivant. Não, não foi. Vinicius tinha
um estilo próprio de vida, um estilo diferente, é verda-
de. Vinicius escolheu, como na poesia de seu amigo
Drummond, ser gauche na vida. E foi reconhecido pelo
mesmo amigo como o único que realmente teve vida
de poeta: gostava de viver na companhia de mulheres,
nos bares. Gostava de álcool, de falar palavrões e de
escrever. A grande verdade é que, para Vinicius, era
melhor viver do que ser feliz.
E viveu. Viveu tudo o que havia para viver. Ousou viver
sob o signo da paixão, da poesia em estado natural. Não
queria passar por essa vida, uma forma encarnada de fic-
ção, sem nada deixar, sem nenhum amor amar, sem nenhu-
ma paixão para lembrar, sem nenhum filho para perdurar. »»
Por Mayara Luma
Vinicius, em sua vida, foi tão apaixonado que chegou a
perguntar: “Quem pagará o enterro e as flores se eu morrer
de amores?”. E, com certeza, galanteador que foi, não falta-
riam mulheres para abraçarem-se consigo, jogarem-se de
bruços a soluçar tantos soluços, e nem amigos para dele
dizer: “Nunca fez mal... foi um doido amigo”.
Mas Vinicius não morreu de amores; pelo contrário, vi-
veu de amores. Durante seus 67 anos de vida, vividos qua-
se todos na restrita primeira metade do século XX, o poeta
se casou nove vezes e, apesar de ter dito: “Filhos, melhor
não tê-los”, teve cinco – quatro mulheres e apenas um
homem. O combustível da vida de Vinicius sempre foram
as paixões. E, para viver neste estado de amores, Vinicius
cultivava raízes como a fumaça. Casar-se com ele era uma
loteria, uma aventura, um dia se ganhava, no outro dia,
perdia-se. Um dia, Vinicius não tardava, no outro, simples-
mente, não aparecia.
Para viver com Vinicius era preciso ter em mente
que o amor jamais seria imortal, posto que é chama,
mas que – como se isto servisse de consolação - seria
infinito enquanto durasse. Era ter a certeza de que, de
repente, não mais que de repente, uma mulher feita
de música, luar e sentimento poderia fazer do riso o
pranto; das bocas unidas, a espuma; e da vida, uma
aventura errante. E era assim, pois Vinicius somente
era fiel à lei de cada instante, era desassombrado, doi-
do, delirante. Era uma paixão de tudo e de si mesmo.
O tempo de Vinicius era quando.
Vida artística
Apesar de estar fortemente ligado à bossa nova,
Vinicius começou na vida artística bem antes do nas-
cimento desta nova onda musical. Ainda no colégio,
criança, Vinicius já demonstrava que tinha algo de po-
ético em suas veias. Cantou no coro da escola, juntou-
se a dois amigos para escrever “Os acadêmicos”, um
épico escolar de inspiração camoniana. Na adolescên-
cia, participou de um conjuntinho musical e compôs
»»
suas primeiras canções, já inspirado pelos primeiros
amores que teve com as amigas de sua irmã, Laetitia.
Aos 20 anos, em 1933, publicou seu primeiro livro, “O
caminho para a distância”. Desde então, seu eu poéti-
co nunca mais o deixou.
Antes de enveredar pelos palcos ao lado de Tom
Jobim, Toquinho, Bethania, Baden Powell e tantos ou-
tros, Vinicius escreveu e muito. Deste período prece-
dente à sua aventura musical datam alguns de seus
melhores poemas, como “A mulher que passa”, “A
morte”, “Elegia ao primeiro amigo”, entre tantos, tan-
tos outros. Isso sem falar nos sonetos. Vinicius foi um
exímio sonetista. Soube se aproximar dos temas coti-
dianos na mesma medida – ou até mais – que os mo-
dernistas, mas não deixou de lado as regras formais e
a rima métrica. Fez da fidelidade, do carnaval, da vés-
pera, da despedida, da separação, da intimidade, da
lua, da contrição, da intimidade, de agosto e de maio,
do maior amor e do amor total e até da simplicidade
tema para seus sonetos.
Mas, se como o próprio Vinicius disse em entrevista
à Clarice Lispector: “cantei antes de falar”, seu futuro
nos palcos já estava selado. Em 1956 se une a Tom
Jobim, logo depois a João Gilberto e tem início o que
é, pelos menos para mim, o melhor movimento musi-
cal de todos os tempos e em todo o mundo: a bossa
nova. Como o branco mais preto do Brasil, as canções
de Vinicius são verdadeiras odes aos afrodescenden-
tes que, àquela época, sofriam tanto com o precon-
ceito. A trajetória musical de Vinicius é apaixonante e
incrivelmente envolvente.
Em seu primeiro LP, Vinicius transformou uma his-
tória grega em uma tragédia brasileira, era “Orfeu da
Conceição”, a trilha sonora do espetáculo de mesmo
nome que adaptava para as cores verde e amarela
o mito de Orfeu e Eurídice. O segundo álbum com
canções suas (parcerias com Tom Jobim), lançado
em 1958 e interpretado por Elizeth Cardoso, mudou
a história da música brasileira. Era o intitulado “Can-
ção do amor demais”, que trazia a música “Chega
de Saudade” como seu carro-chefe. Vinicius era
apaixonado demais para cantar as tristezas que se
ouvia no rádio naquela época. Por isto, decidiu que
ninguém mais poderia sofrer e que iria “acabar com
este negócio de você viver sem mim”.
“Chega de saudade” foi uma verdadeira revolução
cultural. Era o fim dos melosos e antiquados boleros
que se ouvia e se dançava até então. Vinicius falou
das decepções amorosas, mas sempre com o ritmo
alegre do samba e com a esperança de um dia não
ser mais triste, não. E antes de chegar à Garota de
Ipanema, Vinicius lançou, em parceria com Baden
Powell, um álbum só de afro-sambas, no qual está o
maravilhoso “Canto de Ossanha”. Depois, em 1966,
veio “Vinicius: poesia e canção”, gravado ao vivo,
que traz “Samba da bênção”, talvez o samba de letra
mais linda já feito na história do Brasil.
Aí, então, entramos na fase “Garota de Ipanema”.
Se no início a bossa nova demorou a ser aceita, esta
é a fase da redenção. O sambinha da menina que
vem e que passa rodou o mundo, ganhou interpreta-
ções em inúmeros idiomas e conquistou o Rio de Ja-
neiro, em especial, a mulher carioca, linda demais, a
paz que Vinicius e Tom sonhavam. Daí para ganhar
o mundo foi um passo. Vinicius abandonou o Itama-
raty e seguiu pelo mundo fazendo shows com seus
eternos parceiros, Bethania, Toquinho, Tom, entre
outros. Foi aclamado na Europa, na Argentina, aqui,
por todo o lugar. Mas a verdade era que já não havia
mais muito tempo.
Em 1979, voltado de uma viagem à Europa, Vi-
nicius teve um derrame cerebral em pleno voo. No
ano seguinte, depois de fazer música como os mais
belos harmônicos da natureza, como o som do vento
numa enorme harpa plantada no deserto, como o
voo de uma gaivota na aurora de novos sons, mor-
reu como um pássaro que descreveu: deixando uma
nota lancinante no ar.
Vinicius virou música, uma música que começa
sem começo e termina sem fim.
Vinicius em pedaços:“E cada verso meu será/ Pra te dizer/ Que eu sei que vou te amar/ Por toda a minha vida.”
“Mas pra fazer um samba com beleza/ É preciso um bocado de tristeza/ Senão, não se faz um samba não.”
“A tristeza é o samba que balança/ E a tristeza tem sempre uma esperança/ De um dia não ser mais triste não.”
“Ah, jovens putas das tardes/ O que vos aconteceu/ Para assim envenenardes/ O pólen que Deus vos deu?”
“Fez-se do amigo próximo o distante/ Fez-se da vida uma aventura errante/ De repente, não mais que de repente.”
“Dos homens, ai! dos homens/ Que matam a morte/ Por medo da vida.”
“Quem sabe a morte, angústia de quem vive/ Quem sabe a solidão, fim de quem ama”
“Que é tanto pura como devassa/ Que bóia leve como a cortiça/ E tem raízes como a fumaça.”
“A morte chegou pelo interurbano em longas espirais metálicas”
“Com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia eu fiz o cimento da minha poesia”.
Para ler, ver e ouvir:http://www.viniciusdemoraes.com.br/ - site com as obras musical e poética de Vinicius completas.
“Vinicius” - Documentário sob a direção de Miguel Faria Jr. e participação dos atores Camila Morgado e Ricardo Blat.
Livro de Sonetos – Companhia de Bolso, 2006
Nova antologia poética – Companhia das Letras, 2003
Garôta de Ipanema – Filme do diretor Leon Hirszman, lançado em 1967, com trilha sonora de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
Gamespg60
O primeiro ataque
O mercado de videogames hoje vive em uma
acirrada rivalidade. Se por um lado, o controle sen-
sor de movimentos do Wii torna a experiência de
jogar mais imersiva, os gráficos em alta definição do
PlayStation 3 e do Xbox 360 enchem os olhos dos
jogadores.
Mas nem sempre foi assim. Até poucos anos
atrás, esta corrida armamentista que divide jogado-
res, controles e pixels era bem polarizada, para o
lado da Sony.
Considerando que a Microsoft só ganhou um lugar
ao sol ao lado dos videogames de sucesso recentemen-
te – ocupando a cadeira cativa da SEGA, que saiu do
mercado de consoles após o fracasso do seu Dreamcast
– a Sony tem apenas a Nintendo como concorrente per-
manente, desde que entrou no mercado há 15 anos.
E, se olharmos um pouco mais para trás, veremos
que a Sony chegou aonde está porque, na verdade, a
Nintendo deixou.
O ano era 1990. A Nintendo planejava uma ex-
pansão para o Super Nintendo para jogos em CD-
ROM. A Sony, que criou o chip de áudio do SNES,
foi escolhida por estar trabalhando com a Phillips
em um novo modelo de CD, que processava dados
em alta velocidade, e seria ideal para videogames.
Mas o projeto não saiu do papel. A Sony queria
fazer seu próprio console, e a Nintendo, cheia de si
com o sucesso do SNES sobre o Mega Drive (da
SEGA), exigiu que o console da Sony tivesse “ports”
de seus jogos.
Após vários desentendimentos, a Nintendo fechou
uma parceria com a Phillips e a Sony decidiu lançar seu
videogame independentemente, e o PlayStation foi lan-
X
Por Arthur Napoleão
çado no Japão em 3 de dezembro de 1994 e em 9 de
setembro de 95 nos Estados Unidos.
Usando CD-ROMs, que tinham (bem) maior ca-
pacidade de armazenamento que os cartuchos
da Nintendo, e um processador mais poderoso, o
PlayStation tinha jogos maiores, com vídeos e gráfi-
cos 3D, um marco para a época.
O videogame foi um enorme sucesso. Mais de
102 milhões de cópias foram vendidas até 2006,
quando o videogame deixou de ser produzido.
O PlayStation foi berço também de muitas fran-
quias campeãs de vendas, como Resident Evil,
Tomb Raider, Gran Turismo e Metal Gear Solid.
A primeira má ideia
A Nintendo, assistindo às vendas do seu SNES des-
pencarem com a chegada do PlayStation, tratou de
desenvolver um videogame à altura do seu rival. Não
conseguiu.
O Nintendo 64 foi lançado em 23 de junho de 96
no Japão e em 29 de setembro nos EUA, mas a
estratégia da Nintendo em manter cartuchos como
mídia padrão provou-se um grande erro.
Muitas desenvolvedoras grandes, como a Cap-
com e a Square-Enix, encerraram seus contratos
com a Nintendo porque, simplesmente, não conse-
guiam fazer jogos para o console.
Mesmo com processamento de dados melhor e bem
mais rápido que o PlayStation (o N64 praticamente não
apresentava as intermináveis “telas de loading”) os car-
tuchos não tinham capacidade de memória para jogos
mais extensos, sem falar que a programação de um
jogo nesta mídia é mais complicada e – é claro – o custo
de produção de um cartucho é bem mais alto que de
um CD.
Apesar das dificuldades, o Nintendo 64 teve muitos
X»»
jogos e acessórios memoráveis. Seu jogo de estreia, Su-
per Mario 64, foi considerado o melhor jogo de todos os
tempos, até ser superado por The Legend of Zelda: Oca-
rina of Time, apenas dois anos depois. Entretanto, ape-
nas cerca de 33 milhões de unidades foram vendidas.
O videogame foi o primeiro a ter uma alavanca
analógica no (esquisito) controle e também função
de vibração. Entretanto, logo a Sony fez melhor,
com a criação do Dualshock, ainda para o PS1, con-
siderado por muitos – e por este que vos escreve –
o melhor e o mais confortável controle já feito.
Pisando na ferida
Anunciado em 1998, lançado no Japão em março
de 2000 e no ocidente em outubro do mesmo ano,
o PlayStation 2 se tornou o console mais vendido
da história, com mais de 140 milhões de unidades
vendidas até hoje.
Com um potencial gráfi co impressionante até para
os padrões de hoje, o console, que rodava a maioria dos
seus jogos em DVD, era totalmente retro compatível
com os jogos do PS1 (contanto que você também tives-
se o Memory Card dele).
O console também reproduzia DVDs de fi lmes, e
até lançou um controle remoto exclusivo para isso.
Com uma marca forte no mercado, e com exce-
lentes jogos como Guitar Hero, Okami, Grand Theft
Auto, Winning Eleven e – mais pra frente – God of
War, o PS2 ainda consegue se manter fortemente
no mercado, concorrendo até com o seu sucessor,
o PlayStation 3.
Um festival de más idéias
Somente um ano depois de a Sony anunciar o
PS2, a Nintendo anunciou o seu Gamecube. Pen-
sado como um “anti-PlayStation 2”, o aparelho foi
lançado em 14 de setembro de 2001 no Japão (sim,
três dias depois dos ataques terroristas, o que lhe
causou péssimas vendas) e em 18 de novembro
nos EUA.
Quando todos esperavam que a Nintendo fosse
finalmente mudar a mídia para discos digitais, a gi-
gante japonesa surpreende ao utilizar mini-DVDs,
ou seja, com jogos menores e sem playback de
DVDs normais.
Além disso, o design do videogame foi criticado
por diversas fontes especializadas por “parecer um
brinquedo” e o controle como algo feio, desconfor-
tável e nada ergonômico, principalmente no que diz
respeito à posição dos botões.
Os poucos jogos de destaque se limitavam, basica-
mente, aos da própria Nintendo, como Metroid Prime,
Pikmin, The Legend of Zelda: Wind Waker e Super Smash
Bros. Melee. Mas até bons títulos como Luigi’s Mansion
e Super Mario Sunshine estavam longe de ser o suces-
sor de Mario 64, que era esperado.
Felizmente, alguns contratos de exclusividade
foram cruciais para a vida do Gamecube, como os
remakes dos Metal Gear Solid e Resident Evil origi-
nais, além de Resident Evil Zero e, durante vários
meses, Resident Evil 4.
A virada que começou no bolso
Em 2004, paralelamente à disputa entre o tijolo
preto e o cubo azul, a Nintendo, cansada de criar
novas versões para o seu Game Boy (todas as ver-
sões venderam, juntas, mais de 80 milhões de có-
pias), lançou o Nintendo DS.
O DS apresenta duas telas – sendo a de baixo
sensível ao toque –, microfone embutido, a configu-
ração de controles do SNES e a capacidade gráfica
do N64, mas com menor resolução.
A mídia básica do DS são cartuchos, e ele é retro
compatível com todos os jogos do Game Boy Ad-
vance. Hoje, as três versões do portátil, incluindo o
original, o Lite e o DSi somam mais de 108 milhões
de unidades vendidas).
Mesmo com uma qualidade gráfica praticamen-
te obsoleta, a variedade dos jogos e as inúmeras
possibilidades em termos de jogabilidade populari- »»
zaram o aparelho.
Apenas um mês depois, a Sony lançou o seu PSP.
Mais caro, mas com um design mais arrojado e uma
ampla tela widescreen de alta luminosidade, o PSP
possui (basicamente) a mesma disposição de botões
do DS, com a adição de um botão direcional analó-
gico.
Sua mídia principal, o UMD (Universal Media Disc)
é usada amplamente para, além dos jogos, reproduzir
filmes e séries de TV neste formato.
Mesmo com um potencial gráfico equivalente ao
PS2, mas com uma menor resolução, o portátil, que
tem excelentes jogos como Monster Hunter, LocoRo-
co, Patapon e até seu próprio God of War, vendeu
somente pouco mais de 54 milhões de cópias mun-
dialmente, entre todas as suas versões.
Alta resolução...
Em novembro de 2006, o Xbox 360 já estava há um
ano no mercado, com vendas razoáveis e jogos em
HD-DVD. Ele precisava de um concorrente de peso.
No dia 11 deste mês, a Sony lançou no Japão o
seu PlayStation 3. Grande e robusto, o console roda
Blu-Rays (que acabou ganhando a briga pela hege-
monia do mercado de discos de alta capacidade) e
traz seu próprio HD interno.
A capacidade gráfica de alta definição do PS3 é tão
notável que certos jogos lançados (e anunciados) nos
últimos meses são exclusivos para o console porque
só ele é capaz de reproduzi-los.
Um dos grandes destaques do PS3 é o seu servi-
ço unificado de jogos online, a PlayStation Network
(PSN), com loja virtual para download de jogos, servi-
dor para partidas multiplayer via internet e uma comu-
nidade com rankings e recordes dos jogadores.
Mesmo com um visual impressionante e a manu-
tenção do DualShock como controle, as vendas do
PS3 somam apenas cerca de 25 milhões de unida-
des. Espera-se que este número cresça com o lan-
çamento recente do PS3 Slim, que chega com preço
reduzido.
... contra alta movimentação
Apenas nove dias depois, a tempo do Natal, a Nin-
tendo lança no Japão o seu Wii. Com uma capacida-
de gráfica só um pouco melhor que a do Gamecube,
o console investe no seu controle de captura de mo-
vimentos, o Wii Remote, e em jogos de abordagem
mais simples, para toda a família.
Com esta política, o Wii, que roda DVDs comuns,
mas não reproduz filmes, abocanhou uma bela fatia
do mercado, vendendo hoje mais de 54 milhões de
unidades.
Seu jogo de estreia, o Wii Sports – com versões
simplificadas de tênis, golfe, baseball, boliche e boxe
– se tornou rapidamente o jogo mais vendido da his-
tória.
A principal crítica é que poucos jogos realmente
exploram a (limitada) capacidade gráfica do console,
e há poucos jogos mais sérios e maduros para os jo-
gadores mais hardcore.
Entretanto, similar à PSN, a Nintendo criou o Virtual
Console, para jogos de videogames anteriores, como
NES, SNES e N64, além de Master System, Mega
Drive, TurboGrafx e arcades.
Especula-se que um novo ciclo de consoles come-
ce em 2012. Veremos então se a guerra continuará
entre um PlayStation 4 e um Wii 2.
Ilustrapg44
Por Rodrigo Cantalício
Todas asformas
Intervalopg72
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Bang! Foi o som que antecedeu a queda dramática
dele. Seus olhos percorreram, em movimento circular.
A parede pra qual ele olhava, a interseção da pare-
de com o teto, o teto, a luz fosforescente presa nele.
Nessa fase, permaneceu um pouco mais de tempo,
notando que a luz se afastava rapidamente.
Sentiu um forte impacto nas costas. Fitou a luz por
mais alguns milésimos de segundo. Seus olhos per-
correram outro caminho, agora para a direita. O teto,
a interseção teto e parede, a parede e o roda-pé de
madeira, de mais ou menos 9 centímetros, localizado
na interseção parede e chão.
Sentiu dor, primeiro achou que vinha das costas, de-
pois percebeu que havia uma sensação aguda e muito
mais dolorosa na parte de trás da cabeça. Percebeu
que estava molhado, imaginou que o chão deveria es-
tar sujo. Sentiu um leve odor, diferente daqueles que
tinha conhecimento. Imaginou que o chão estava real-
mente sujo e com um cheiro que não lhe agradara.
Se perguntou porque havia caído e porque ainda
não se levantara. Olhando fixamente pro roda-pé de
madeira, se deu conta de que não conseguia se mover
e que estava vivendo aquela sensação. Estava morto.
Já estivera assim algumas vezes, lembrou-se bem
quando morreu de frio, de quando pulou da ponte nas
férias passadas e morreu de medo; quando viu seu
pai trair sua mãe com a melhor amiga, morreu de rai-
va; quando trabalhou até mais tarde durante dois dias
seguidos, morreu de cansaço e os vários momentos
que morreu de fome. Mas, dessa vez era diferente.
Não tinha motivo e não percebera nada que pudesse
justificar isso. Estava molhado de sangue, sabia que o
cheiro era de sangue, sabia que o sangue jorrava da
parte atrás da cabeça, justamente o local onde sentia
a maior dor, era só o que ele entendia. Piscou uma
vez, duas vezes, três vezes.
Bang!
Por Leandro Bender
Ilust
raçã
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