Exegese do novo testamento 1

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Exegese do Novo Testamento

Introdução aos Estudos Diacrônicos

Rev. Evaldo Beranger

Professor Exegese do NT

O problema da historicidade de Jesus a partir do séc. XVII.

O testemunho dos Evangelhos possui valor histórico?

É Possível chegar a Jesus de Nazaré através dos evangelhos?

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O Jesus histórico

“Visando a encontrar uma solução para o problema, que caracteriza grande parte da pesquisa bíblica desde o fim do sec XVIII até aos nossos dias, tem-se procurado estabelecer teoricamente o método crítico e aplicá-lo sistematicamente no estudo dos Evangelhos” ( Autenticidade Histórica dos Evangelhos – F. Lambiasi –

Paulinas)

A concepção tradicional

Desde Papias de Hierápolis (Pai da Igreja) até metade do século XIX, os dados dos evangelhos eram unanimemente aceitos, porque eram pacificamente considerados provenientes de testemunhas oculares ou dos seus discípulos.

Características da concepção tradicional

Estrita aceitação da autenticidade dos escritos Ausência de crítica interna Cada escrito é atribuido a um autor determinado –

Um apóstolo ou pessoa muito próxima a um apóstolo

Toda prova de credibilidade é centrada em elementos de crítica externa: autor, data, tradição...

Crítica Moderna - Cronologia

1638-1712 – R. Simon – Humanismo – O problema da Composição

1774 e 78 Publicação dos fragmentos póstumos de H.S.Reimarus( 1694-1768) – Introduziu o problema do Jesus Histórico e procurou distinguir o que é histórico e o que é apostólico nos evangelhos

“Reimarus”

O Jesus histórico era um judeu revolucionário que fracassou na tentativa de fundar um reino messiânico terrestre, ao passo que o Cristo apostólico, ressuscitado e esperado para o fim dos tempos, é uma invenção dos discípulos para acobertar o furto de seu corpo, que eles mesmos perpetraram, tirando-o do túmulo.

Escola Liberal

Considera os sinóticos como documentos para reconstruir a vida de Jesus.

Considera os sinóticos como “fonte” para explicar valores universais: Amor, fraternidade, honestidade, etc...

Buscava uma justificativa para a seguinte afirmação: O valor da pessoa humana à luz da paternidade de Deus, capaz de instaurar uma fraternidade universal entre os homens.

Pressupostos da Escola LiberalConforme A von Harnack (1851-1930)

A autenticidade histórica dos evangelhos é vista sob uma dimensão tríplice:– Confiabilidade dos dados biográficos.– Possibilidade de extrair deles

ensinamentos universais.– Necessidade de eliminar tudo aquilo que a

razão não consegue controlar, como os episódios de milagres.

Estes pressupostos reduzem Jesus a um pregador de religião e Moral.

Cronologia da crítica moderna

1808 – 1873 – D.F. Strauss – “Vida de Jesus“ (1835).”não é importante saber o que Jesus foi historicamente (Jesus é personagem mitológico); para nós o que interessa é a mensagem profunda do Cristianismo

1838 – C.H. Wiss e C.G. Wilke – descobrem dois documentos na base da tradição evangélica: Marcos e Logia Teoria das 2 fontes

Crítica das fontes

Desenvolvimento da Crítica interna. J. Weiss – encontra elementos subjacentes de Pedro em Marcos. Wellhausen –descobre fontes aramaicas das quais derivam os sinóticos

Os evangelistas deixam de ser “repórteres” e indivíduos isolados e passam a ser vistos como “porta-vozes” da tradição.

Segunda metade do sec. XIX

Teoria das duas fontes – dogmas Cristológicos

Escola Liberal Leben-Jesu-Forchung – Biografias “históricas de Jesus”

Jesus Histórico é diferente do Dogma Cristológico da Igreja

Resultado: Substituição do Cristo da Igreja por um Jesus da teologia liberal e

racionalista.

A Escola Escatológica

Esta investigação “otimista” dos liberais sobre o Jesus da História recebeu um golpe mortal principalmente com a obra de Albert Schweitzer, Geschichte der Leben-Jesu-Forschung (1906) e antes ainda com Das Messiasgeheimnis in den Evangelien (1901) de W . Wrede, para quem o evangelho de Marcos não é uma biografia histórica e, sim, a ...

Escola Liberal X Escola Teológica

...interpretação teológica do significado de Jesus; o segredo messiânico seria uma perspectiva posterior, introduzida nos fatos para explicar a incredulidade dos judeus e dos discípulos antes da ressurreição.

A Escola Escatológica

Uma consciência mais apurada do mundo greco-romano – descobertas arqueológicas e papirológicas.

Os Evangelhos apresentam Jesus com uma consciência escatológica, isto é, ele se dizia o cumprimento de uma expectativa escatológica.

Mais do que um pregador de valores universais, ele era o pregoeiro de uma iminente vinda do Reino de Deus.

Escola Escatológica – Pressupostos.

Jesus se apresentava como o pregador do Reino de Deus.

Jesus se apresentava como o vencedor do mal

Jesus se apresentava como o Filho do Homem de Daniel 7:13-14

Re-leitura pós-pascal.

Isto era uma interpretação posterior da igreja para explicar a incredulidade dos discípulos diante da pessoa de Jesus. Esta “compreensão” aconteceu depois da morte de Jesus e é fruto de uma re-leitura pós-pascal da comunidade.

“Os evangelhos são narrativas da paixão, com uma longa introdução. O Jesus da história é diferente do Cristo que se prega.”

Estas idéias e atitudes acabaram por confluir na Formgeschite

M. Dibelius; R. Bultmann; K.L. Schimidt e outros...

Reações à Formgeschite – Crítica (história) das formas

Formgeschichte – Tentar reconstruir a história da tradição oral, pré-literária de nossos evangelhos.

Antes da redação o material evangélico já circulava sob a forma de pequenas unidades literárias, que refletem situações vitais (Sitz im Leben) da Igreja Primitiva

Os evangelhos não fornecem informações Sobre a vida de Jesus e sim sobre a vida da Igreja Primitiva.

Redaktionsgeschichte

Concentrava seus esforços na consideração do autor, que, porém, não é considerado como testemunha ocular, mas antes, como “trabalhador de escrivaninha”, redator que reelabora a matéria anterior numa síntese teológica.

Conclusões da Crítica das formas e da redação,

Os evangelhos são coleções de unidades ou “formas”literárias independentes, transmitidas no âmbito da Igreja primitiva.

O escopo da Formgeschichte é a descrição da trajetória percorrida por cada uma dessas perícopes, desde a origem até a última redação.

As formas refletem as condições de vida do ambiente social da primeira comunidade (Sitz im leben Kirche.

A fé cristã não parte do Jesus Histórico, e sim do Querigma apostólico.

Reação

Posição tão radical, que fazia depender

a história dos evangelhos da fé

da Igreja e não vice-versa, como

era tradicionalmente

aceito, teve reações enérgicas!

Ernest Käseman – discípulo de Bultmann

O caminho traçado por Käseman está entre uma “teologia da vida de Jesus”, de cunho liberal e uma “teologia do Querigma” de cunho bultmaniano.

É impossível separ o “Jesus da História” do “Jesus do Querigma e da fé”

O Cristo da fé e o Jesus da história são uma só e idêntica pessoa.

Esta é fundamentalmente a posição assumida pela igreja primitiva.

O Jesus terrestre pode ser compreendido unicamente à luz da páscoa, mas..

A páscoa não pode ser compreendida sem radicação (enraizar-se) nos fatos que a precederam e sem referência a eles.

Pontos fundamentais da Posição de Käseman

Se não houver conexão entre o Cristo da fé e o Jesus da História, o cristianismo torna-se um mito.

Se a igreja Primitiva não tinha interesse algum na história de Jesus, não se explica porque os evangelhos foram escritos.

Nossa própria fé exige a certeza da identidade entre o Jesus terrestre e o Cristo glorificado.

Critérios para se chegar a Jesus

As normas aplicadas ao material evangélico, que oferecem a

possibilidade de demonstrar a fundamentação histórica dos

relatos e emitir um juízo sobre a autenticidade ou não de seu

conteúdo.

Vorverständnis ou pré-compreensão

Deve se aproximar dos Evangelhos com a pressuposição de que se pode encontrar as próprias palavras de Jesus – A Ipssíssima vox.

Devemos considerar como verdadeiro o que os Evangelhos dizem , a menos que haja provas em contrário.

Os trechos curtos, no mundo antigo, têm a tendência de permanecer inalterados

Critérios “modernos” para descobrir a ipsíssima

vox de Jesus nos Evangelhos.

1. Depoimento múltiplo

2. Descontinuidade

3. Conformidade

4. Explicação necessária

5. Estilo de Jesus

1- Depoimento múltiplo

Um dado evangélico remonta a Jesus se estiver presente em várias fontes.– Fontes primárias – Marcos e Q– Informações próprias de Mateus e Lucas– Depoimentos dos demais escritos do NT

Descontinuidade

Descontinuidade significa que o pensamento de Jesus é novo, que ele assinala um rompimento com a tradição judaica e também com aquilo que a igreja primitiva desempenhará nessa ligação com situação diversa.

Tradição judaica Jesus Igreja primitiva

Continuidade ou Conformidade

As passagens que refletem uma conformidade com o ambiente característico da geografia e ambiente histórico de Jesus demonstram autenticidade. Este critério completa o anterior sobre a descontinuidade que faz emergir a unicidade da pessoa e do ensinamento de Jesus.

Explicação necessária

É verdadeira a hipótese capaz de explicar mais satisfatoriamente os dados contrastantes e aparentemente contraditórios das narrativas evangélicas.

Estilo de Jesus

Tudo aquilo que combina ou está de acordo com o estilo de Jesus tem indícios de ser verdadeiro e autêntico.

Este critério é considerado secundários e normalmente é decisivo somente quando associado a outros critérios.

A prova definitiva da autenticidade de uma passagem é dada por vários

critérios convergentes.

1. Depoimento múltiplo2. Descontinuidade3. Conformidade4. Explicação necessária5. Estilo de Jesus

As Buscas pelo Jesus Histórico

“The Third Quest”

Jesus Seminar

A Busca CriteriológicaBultman Kaeseman

A Busca liberal –Escola Escatológica

Jesus SeminarOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O Jesus Seminar (Seminário sobre Jesus) é um projeto de reflexões cristológicas fundado em 1985 pelo falecido Robert Funk e John Dominic Crossan, Sob os auspícios da Westar Institute. 

Um dos Mais ativos grupos de Crítica bíblica, o seminário utiliza métodos histórico para determinar aquilo que Jesus, como uma figura histórica, pode ou não ter dito ou feito. Além disso, o seminário popularizou as investigações sobre o Jesus histórico. O público é convidado a assistir às reuniões duas vezes por ano.

Eles produziram novas traduções de textos do Novo Testamento, além do Evangelho de Tomé para usar como fontes textuais. Publicaram seus resultados em três textos: The Five Gospels (1993), The Acts of Jesus (1998),  e The Gospel of Jesus (1999).

O seminário trata os evangelhos como artefatos históricos, que representariam não só as reais palavras e atos de Jesus, mas também as invenções e elaborações dos primeiros cristãos, da comunidade e dos autores dos evangelhos. E, sem se preocupar com as questões canônicas, afirmaram que o Evangelho de Tomé tem mais fontes matérias de historicidade do que os materiais do Evangelho de João