Post on 20-Nov-2018
FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
Título: As possíveis leituras em contos literários
Autor Rita de Cássia Lechinhoski Camilo de Souza
Escola de Atuação Colégio Estadual “São José’
Município da escola Lapa
Núcleo Regional de Educação Área Metropolitana Sul
Orientador Professor Doutor Ubirajara Inácio de Araújo
Instituição de Ensino Superior Universidade Federal do Paraná
Disciplina/Área (entrada no PDE) Ensino e Aprendizagem de leitura
Produção Didático-pedagógica Unidade Didática
Relação Interdisciplinar
(indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)
Público Alvo
(indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...)
Alunos do Ensino Médio do Colégio Estadual “São José” da Lapa.
Localização
(identificar nome e endereço da escola de implementação)
Colégio Estadual “São José”, Rua Barão do Rio Branco, número 1453, centro, Lapa, PR.
Apresentação:
(descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no
Incentivar os jovens a ler e a se expressar de maneira que tenham competência para interpretar qualquer mensagem em língua portuguesa é o grande desafio para os professores. Nesse sentido, pretende-se com o
máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)
presente estudo observar as possíveis leituras nos contos incentivando a leitura literária e buscando os sentidos explícitos e implícitos nas obras de Machado de Assis. Este trabalho visa, também, contribuir para a valorização da leitura como elemento eficaz na formação do leitor/cidadão crítico, sendo ela fundamental para que o sujeito tenha a capacidade de pensar na sua consciência cidadã.
Serão analisados os contos “Flor Anônima”, “ideias do Canário” e “Apólogo” de Machado de Assis. As atividades estão relacionadas ao ensino e aprendizagem de leitura e o público objeto da intervenção será o aluno do Ensino Médio.
Palavras-chave ( 3 a 5 palavras) Leitura; Contos; Machado de Assis.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSuperintendência da Educação
Diretoria de Políticas e Programas Educacionais Programa de Desenvolvimento Educacional
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR
RITA DE CASSIA LECHINHOSKI CAMILO DE SOUZA
AS POSSÍVEIS LEITURAS EM CONTOS LITERÁRIOS
CURITIBA2011
RITA DE CASSIA LECHINHOSKI CAMILO DE SOUZA
AS POSSÍVEIS LEITURAS EM CONTOS LITERÁRIOS
Unidade Didática apresentada por Rita de Cássia
Lechinhoski Camilo de Souza como atividade do
segundo período do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE 2010–2012.
Área: Língua Portuguesa.
Orientador: Prof. Dr. Ubirajara Inácio de Araújo –
UFPR
APRESENTAÇÃO
“A leitura é um processo de criação e descoberta, dirigido ou guiado pelos olhos perspicazes do escritor.”
Ezequiel Theodoro da Silva
Esta Unidade Didática apresenta atividades relacionadas ao ensino e aprendizagem
de leitura para os alunos do Ensino Médio, fundamentadas nas possíveis leituras dos
contos ‘Apólogo’, ‘Ideias do Canário’e ‘Flor Anônima’ de Machado de Assis, visando
incentivar os jovens a ler e a se expressar de maneira que tenham competência para
interpretar qualquer mensagem na Língua Portuguesa e contribuindo na valorização da
leitura como elemento eficaz na formação do leitor/cidadão crítico sendo ela
fundamental para que o sujeito tenha capacidade de pensar na sua consciência cidadã.
Objetiva-se, também, não perder de vista a dimensão do texto literário como produção
artística e cultural, o que implica procedimentos de interpretação que valorizem e
explorem adequadamente sua especificidade.
Como saber ler significa um mundo de oportunidades, faz-se necessário repensar o
ensino da leitura na escola, para que a sala de aula se torne um lugar realmente de
contato com os textos, formando bons leitores, participantes e críticos no mundo de
forma que possam intervir positivamente na dinâmica social.
Trabalhar com contos em sala de aula é uma alternativa que auxilia a prática da
leitura, visto que são textos curtos, de fácil acesso, compatíveis com a realidade
financeira da escola, são significativos e devido à sua extensão, não intimidam o leitor,
mesmo os machadianos utilizados nessa unidade.
Como afirma Ezequiel Theodoro da Silva (2005), a boa leitura é aquela que,
quando terminada, produz aprendizagem, propõe comportamentos e reflete valores,
estimulando, impregnando, aprimorando as maneiras de o leitor perceber e sentir a vida.
Nesse sentido, os contos citados anteriormente contribuem para que o aluno reflita sobre
o seu cotidiano e o mundo em que vive, produza conhecimentos, torne-se um sujeito
crítico e atuante na sociedade. Vale lembrar também, que há muitas ligações entre o
mundo de Machado de Assis e o nosso, como, por exemplo, os conflitos existentes em
nossas relações, visões de mundo e lembranças.
Esta Unidade Didática procura auxiliar os professores de Língua Portuguesa na
difícil tarefa de incentivar a leitura no Ensino Médio, bem como aproximar o leitor
jovem dos textos machadianos, muitas vezes tidos como difíceis e inatingíveis.
A LITERATURA E A ESCOLA“Modernamente, o único reduto onde a leitura
ainda tem a chance de ser desenvolvida é a escola.” Ezequiel Theodoro da Silva
O ensino da Literatura exige que se pensem também as contradições, as diferenças
e os paradoxos do quadro complexo do mundo contemporâneo. Embora vivamos em
uma época que possibilita acesso rápido às informações, convivemos com o índice
crescente de analfabetismo funcional, o aluno não compreende o texto que lê, muitas
vezes devido ao desinteresse pela leitura em geral e ao fato de não vislumbrar o
verdadeiro alcance e importância social da leitura, deixando de entender que ela pode
ser uma fonte de informação e de conhecimento. Ela possibilita o acesso às informações
necessárias para o cotidiano e aos mundos criados pela literatura. Nesse sentido, Wellek
e Warren (1995, p.117) afirmam que “a literatura representa a vida e a vida é, em larga
medida, uma realidade social”. Dessa maneira, a literatura traz consigo um imenso
potencial revolucionário e de transformação, pois dá acesso ao leitor à conscientização
de sua situação social, uma vez que mostra os mecanismos de superioridade e opressão
que atingem as personagens em um conto, por exemplo.
É preciso que a escola seja um espaço que promova, por meio de textos com
diferentes funções sociais, o letramento do aluno, para que ele se envolva nas práticas
de uso da língua.
Nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná, destaca-se que o
letramento vai além da alfabetização. Soares (1998) refere-se ao indivíduo que não só
sabe ler e escrever, mas usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita,
posiciona-se e interage com as exigências da sociedade diante das práticas de
linguagem, demarcando a sua voz no contexto social.
O professor de Língua Portuguesa precisa, então, propiciar ao educando a prática,
a discussão, a leitura de textos diversos, assim ele terá mais possibilidades de entender o
texto, seus sentidos, suas intenções e visões de mundo. A ação pedagógica referente à
linguagem, portanto, precisa pautar-se na interlocução, em atividades planejadas que
possibilitem ao aluno a leitura, bem como, a reflexão e o uso da linguagem em
diferentes situações de comunicação.
Como produção humana, a literatura está intrinsecamente ligada à vida social.
Para Candido (1972), a literatura tem três funções: a psicológica, a formadora e a social.
A primeira, função psicológica, atribui ao homem a fuga do real, quando passa do
estado de consciência para a inconsciência, ou seja, sai da realidade e passa para o
mundo da fantasia onde prevalece a irrealidade, possibilitando-lhe momentos de
reflexão, reconhecimento e purificação. Na segunda, afirma que a literatura por si só faz
parte da formação do homem, a qual age como instrumento do conhecimento, ao
mostrar realidades não retratadas pela ideologia dominadora. Por sua vez, a função
social, traduz-se no modo como a literatura expõe os diferentes segmentos sociais,
sendo a representação social e humana.
O homem, desde a antiguidade, tenta se expressar por palavras de maneira a
ultrapassar sua realidade, produzindo narrativas e heróis. Assim, o trabalho com contos
favorece o retrato da realidade de maneira direta, o sujeito se reconhece na história,
mesmo fazendo parte de outro contexto. Ele cria possibilidades e automaticamente
reflete sobre suas ações e seu mundo, por meio da fantasia.
Para Sigmund Freud, o pai da psicanálise, a leitura de um texto literário faz
despertar no leitor uma “constelação mental”, ele deposita no texto uma elevada carga
de emoção quando ativa sua capacidade de pensar. Para o psicanalista, o escritor, da
mesma forma que uma criança brincando, cria mundos, altera a percepção da realidade,
tornando-a intensa através da imaginação.
Já na versão de Karl Marx, teórico que fundamentou o chamado materialismo
histórico, a literatura estabelece com a realidade social envolvida uma relação dialética:
de um lado essa relação é comercial, isto é, a literatura tornou-se, com o passar dos
anos, mais um produto a ser consumido, de acordo com as regras do mercado; por outro
lado, a literatura traz consigo um potencial revolucionário enorme e transformador, pois
faz com que o sujeito tenha plena consciência de sua situação social, uma vez que
mostra o processo de funcionamento do exercício exagerado de poder e força que
atingem os personagens de um conto, por exemplo.
A literatura tem cumprido diversas funções ao longo da história. Destaca-se, entre
elas, a função de registrar a realidade, atraindo com delicadeza de sentimentos as
transformações pelas quais passam as sociedades. Em sua modalidade escrita, o texto
literário também já foi um divisor de classes, de um lado uma elite culta e letrada, de
outro uma parte da população que não tinha acesso à escrita. Hoje, a literatura está ao
alcance de todas as classes sociais, principalmente depois de ter entrado nos ambientes
virtuais.
Enfim, a literatura pode ser vista como uma atividade de extrema importância para
o homem, pois por meio da leitura de uma obra, é possível fazer uma reflexão sobre
quem somos e como somos, às vezes nos reconhecemos nos textos artísticos, mudamos
comportamentos, compreendemos a realidade de maneira lúdica, amenizamos
obstáculos cotidianos, o mundo atual confunde-se com a ficção de maneira prazerosa.
Observando o comportamento dos personagens refletimos sobre os nossos.
AS POSSÍVEIS LEITURAS NOS CONTOS DE MACHADO DE ASSIS“É preciso ler isto, não com os olhos, mas com a memória e a imaginação”
Machado de Assis.
O professor deverá instigar os alunos, em conversa informal, sobre a relação
existente entre leitura e vida levando-os a refletirem a respeito de seu mundo e de outras
pessoas a seu redor, as histórias reais que acontecem na sociedade, que muitas vezes
parecem ter saído de um livro, haja vista tamanha originalidade. Deixar comentarem
suas experiências. Algumas questões poderão ser abordadas, tais como:
a) Qual a importância da leitura em sua vida?
b) Você sabia que enquanto Machado de Assis, um mestre da literatura, escrevia
sua obra no século XIX descobriu-se que mais de 80% dos brasileiros não sabiam ler
nem escrever?
c) Atualmente, essa situação mudou? Como?
d) Você conhece alguém não alfabetizado? Como é o cotidiano dessa pessoa?
e) A leitura consegue transformar a vida das pessoas e contribui para a formação
integral do sujeito?
f) Você acredita que bons leitores têm a chance de escrever bem?
g) Você já leu ou ouviu alguma história que poderia ter acontecido na vida real?
Atividade 1
Visita cultural
Feitas as discussões sobre leitura e vida, o próximo passo será levá-los à biblioteca
da escola a fim de inteirarem-se com o ambiente, visto que a maioria não costuma
frequentá-lo. Deve-se pedir a eles que observem, manuseiem os livros, tirem suas
dúvidas com a bibliotecária sobre empréstimos, horário de atendimento, acervo, público
frequentador, entre outras. A seguir, levá-los à Biblioteca Pública seguindo o mesmo
roteiro anterior para que tenham conhecimento de que a leitura pode ser feita não
somente na escola, que existe um espaço público extraescolar para toda a comunidade
usufruir.
Vale ressaltar que nem todos os alunos costumam frequentar bibliotecas e os que o
fazem sentirão satisfação em compartilhar com os colegas as suas preferências. É
importante aproveitar o momento e deixar efetuarem leituras voltadas a seus interesses.
É importante, também, que os alunos façam registros de suas impressões a
respeito das visitas, bem como das outras atividades para posterior criação de um
“portfólio” cuja confecção tratarei em sugestões para os professores.
Atividade 2
Ao terminar a visita cultural, o próximo momento será recordar as características
do conto, sinalizando a unidade de ação e a brevidade do enredo, que logo se encaminha
para o clímax e o desenlace. Faz-se necessário, também, lembrá-los que existem
histórias verídicas e histórias criadas pela nossa imaginação, ou seja, histórias fictícias,
as narrativas de ficção. Chamadas assim, porque as narrativas imaginadas são
admissíveis, verossímeis, não aconteceram, mas poderiam ter acontecido. Uma história
possível nos conta sobre o mundo. Mesmo criadas pela imaginação, nos falam muitas
coisas sobre nosso cotidiano.
A ficção transpõe a realidade para o plano da imaginação. Vemos o mundo e nós
mesmos por meio da história, ampliamos a nossa capacidade de percepção da realidade
e de dar sentidos ao mundo, transformamos a nossa vida, nos enxergamos no lugar do
personagem e também refletimos a respeito da época em que foi escrito o texto, o modo
de pensar das pessoas, os costumes. Por meio das atitudes dos personagens repensamos
as nossas atitudes.
Atividade 3
Falar a respeito de Machado de Assis, sua vida, sua condição de mulato numa
época de escravidão, o interesse a curiosidade despertada nos leitores, devido à
originalidade e o espetacular domínio sobre a narrativa. Ressaltar a importância de sua
produção a qual provoca estudos, análises e interpretações. Sinalizar também, o uso do
humor corrosivo muitas vezes presente em suas obras. Nelas o autor costuma dirigir-se
ao leitor, às vezes para agradá-lo ou criticá-lo. Lembrá-los sobre o contexto histórico
vivido por Machado de Assis, naquela época valorizava-se o poder supremo do
dinheiro, o culto à imagem e a exploração do fraco, problemas esses que o autor soube
criticar como ninguém.
Segundo o Professor Domínio Proença Filho em entrevista à Revista Na ponta do
lápis, ano VI - número 8, edição especial, os contos e romances machadianos têm como
temática a luta entre o absoluto e o relativo, o jogo da verdade e da mentira, o amor, a
morte, o ciúme, a cobiça, a vaidade, a ligação entre o ser e o parecer, a ditadura da
aparência, entre outros. Como se percebe, os temas citados continuam bastante atuais,
em especial, o jogo de poder das relações humanas, a máscara social e a ditadura da
aparência sofrida pelos adolescentes contemporâneos nos diversos segmentos da
sociedade. Vale também lembrar as características do Realismo, nesse momento. Os
alunos poderão, também, assistir ao vídeo produzido pela TV Escola- Série Mestres da
Literatura- Machado de Assis- Um mestre na periferia.
Na sequência, pode-se sugerir aos alunos uma pesquisa sobre a vida cotidiana no
Brasil do século XIX. Pedir para trazerem gravuras sobre a vestimenta, os hábitos,
meios de transporte, entre outros. Depois de recolhido o material, poderá ser feita uma
exposição a respeito da época em que viveu o escritor, visando à aproximação do
mundo do escritor com o do aluno.
Atividade 4
O próximo procedimento será reunir os alunos em grupos de três ou quatro
componentes e entregar uma cópia xerocopiada do conto abaixo para que façam a
leitura juntamente com o professor.
Flor anônima
Manhã clara. A alma de Martinha é que acordou escura. Tinha ido na véspera a
um casamento; e, ao tornar para casa, com a tia que mora com ela, não podia encobrir a
tristeza que lhe dera a alegria dos outros e particularmente dos noivos.
Martinha ia nos seus... Nascera há muitos anos. Toda a gente que estava em casa,
quando ela nasceu, anunciou que seria a felicidade da família. O pai não cabia em si de
contente.
— Há de ser linda!
— Há de ser boa!
— Há de ser condessa!
— Há de ser rainha!
Essas e outras profecias iam ocorrendo aos parentes e amigos da casa.
Lá vão... Aqui pega a alma escura de Martinha. Lá vão quarenta e três anos, — ou
quarenta e cinco, segundo a tia; Martinha, porém, afirma que são quarenta e três.
Adotemos este número. Para ti, moça de vinte anos, a diferença é nada; mas deixa-te ir
aos quarenta, nas mesmas circunstâncias que ela, e verás se não te cerceias uns dois
anos. E depois nada obsta que marches um pouco para trás. Quarenta e três, quarenta e
dois, fazem tão pouca diferença...
Naturalmente a leitora espera que o marido de Martinha apareça, depois de ter
lido os jornais ou enxugado do banho. Mas é que não há marido, nem nada. Martinha é
solteira, e daí vem a alma escura desta bela manhã clara e fresca, posterior à noite de
bodas.
Só, tão só, provavelmente só até a morte; e Martinha morrerá tarde, porque é
robusta como um trabalhador e sã como um pero. Não teve mais que a tia velha. Pai e
mãe morreram, e cedo (....)
Machado de Assis
Texto Fonte:Obra Completa, de Machado de Assis.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, V. II, 1994.
1) Depois de feita a leitura, mediada pelo professor, fazer comentários a respeito do
vocabulário, aspectos da narrativa, características do conto, entre outras.
2) Em seguida, solicitar aos alunos a leitura em equipe do conto para que a história
seja representada para os colegas da escola por meio de mímica. O objetivo
dessa atividade é levar o educando a se perceber coautor da obra e entrar em
contato com outras interpretações que talvez nem tenha percebido.
3) Observar as diferentes leituras realizadas pelas equipes.
4) Os alunos poderão registrar as impressões observadas em cada equipe. O
professor enquanto mediador do processo poderá fazer as seguintes indagações:
a) Uma das principais características machadianas é dirigir-se ao leitor, seja para
agradá-lo ou criticá-lo. Indique uma passagem do texto em que apareça tal
característica.
b) Por que o autor usou a antítese clara /escura na frase “Manhã clara. A alma de
Martinha é que acordou escura”? A que se deve essa escuridão?
c) O autor pergunta de quem é a culpa da solidão de Martinha. É do destino ou
dela? Posicione-se a respeito.
d) O título do conto é significativo e adequado à obra? Por quê?
e) A história se passa em 1897, e fala sobre as relações amorosas na juventude e
sobre o poder do dinheiro encobrindo os sentimentos verdadeiros. Atualmente,
existem pessoas como as citadas pelo autor?
f) Comente as reflexões de Martinha ao abrir a gaveta.
g) O texto nos faz refletir o verdadeiro valor do ser humano. Fale sobre isso.
Atividade 5
Para iniciar essa atividade e instigar a curiosidade, o professor poderá levar para a
sala de aula uma caixa de costura e levantar hipóteses sobre a finalidade dos objetos.
Logo após, comentar que aqueles objetos, tão comuns em nosso cotidiano, foram usados
como personagens principais no conto Apólogo, cujo título significa uma pequena
história que revela uma lição de sabedoria, um ensinamento. Entregar o conto
xerocopiado para que, juntamente, com o professor façam a leitura.
Um apólogo
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que
vale alguma coisa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar
insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem
cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se
com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os
cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os
cose sou eu, e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou
feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você,
que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo
adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que
prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse
que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não
andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha,
enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo
pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os
galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta
distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela,
unidinha a eles, furando abaixo e acima ( ...) Machado de Assis
1) Por que foi dado o título Apólogo a esse conto?
2) Por que o professor é citado no conto como “professor de melancolia”? Existe
essa disciplina?
3) Quem são os personagens do conto?
4) Caracterize o lugar em que transcorre a ação.
5) Qual dos personagens tem maior importância? Por quê?
6) Ao apresentar os personagens o autor faz uma análise da própria sociedade.
Atualmente a sociedade mudou? Estamos menos individualistas?
7) O texto apresenta uma sociedade colaborativa ou individualista?
8) Que visão do ser humano transparece nas atitudes da linha?
9) O “professor de melancolia” encerra o conto afirmando: “Também eu tenho
servido de agulha a muita linha ordinária”. Explique o significado das palavras
agulha e linha na frase acima.
10) Atualmente, existem muitas costureiras em nossa cidade? Você costuma solicitar
os serviços delas?
11) Esse conto nos faz refletir questões importantes. Fale sobre isso.
12) Produção textual.
O professor citado nos texto mostra-se bastante pessimista em relação a seus
alunos e o ambiente escolar. Hoje, a situação de muitas escolas continua a
mesma retratada por Machado de Assis, encontramos muitos professores
desanimados e desmotivados. O que você responderia ao professor de
melancolia? E para aqueles que, atualmente, sentem-se melancólicos na escola?
Elabore um bilhete com sua resposta, não há necessidade de identificar-se e
muito menos citar o nome de algum professor. Poderia iniciar assim:
Com os textos produzidos pelos alunos, poderá ser feito um mural confeccionado
com tecido, adornado com pontos grandes de costura, tendo no centro o título e autor do
conto e logo abaixo a frase que encerra a obra. Uma das finalidades da exposição seria
elevar a autoestima dos colegas da escola.
Atividade 6
DE: Fulano de talPARA: Professor de melancolia
Para essa atividade será utilizado o conto “Idéias do Canário” de Machado de
Assis.
Ideias do Canário
Um homem dado a estudos de ornitologia, por nome Macedo, referiu a
alguns amigos um caso tão extraordinário que ninguém lhe deu crédito. Alguns
chegam a supor que Macedo virou o juízo. Eis aqui o resumo da narração.
No princípio do mês passado, — disse ele, — indo por uma rua, sucedeu que
um tílburi à disparada, quase me atirou ao chão. Escapei saltando para dentro de
uma loja de belchior. Nem o estrépito do cavalo e do veículo, nem a minha
entrada fez levantar o dono do negócio, que cochilava ao fundo, sentado numa
cadeira de abrir. Era um frangalho de homem, barba cor de palha suja, a cabeça
enfiada em um gorro esfarrapado, que provavelmente não achara comprador. Não
se adivinhava nele nenhuma história, como podiam ter alguns dos objetos que
vendia, nem se lhe sentia a tristeza austera e desenganada das vidas que foram
vidas.
A loja era escura, atulhada das coisas velhas, tortas, rotas, enxovalhadas,
enferrujadas que de ordinário se acham em tais casas, tudo naquela meia
desordem própria do negócio. Essa mistura, posto que banal, era interessante.
Panelas sem tampa, tampas sem panela, botões, sapatos, fechaduras, uma saia
preta, chapéus de palha e de pêlo, caixilhos, binóculos, meias casacas, um florete,
um cão empalhado, um par de chinelas, luvas, vasos sem nome, dragonas, uma
bolsa de veludo, dois cabides, um bodoque, um termômetro, cadeiras, um retrato
litografado pelo finado Sisson, um gamão, duas máscaras de arame para o
carnaval que há de vir, tudo isso e o mais que não vi ou não me ficou de memória,
enchia a loja nas imediações da porta, encostado, pendurado ou exposto em caixas
de vidro, igualmente velhas. Lá para dentro, havia outras coisas mais e muitas, e
do mesmo aspecto, dominando os objetos grandes, cômodas, cadeiras, camas, uns
por cima dos outros, perdidos na escuridão.
Ia a sair, quando vi uma gaiola pendurada da porta. Tão velha como o resto,
para ter o mesmo aspecto da desolação geral, faltava-lhe estar vazia. Não estava
vazia. Dentro pulava um canário. A cor, a animação e a graça do passarinho
davam àquele amontoado de destroços uma nota de vida e de mocidade. Era o
último passageiro de algum naufrágio, que ali foi parar íntegro e alegre como
dantes. Logo que olhei para ele, entrou a saltar mais abaixo e acima, de poleiro em
poleiro, como se quisesse dizer que no meio daquele cemitério brincava um raio
de sol. Não atribuo essa imagem ao canário, senão porque falo a gente retórica;
em verdade, ele não pensou em cemitério nem sol, segundo me disse depois. Eu,
de envolta com o prazer que me trouxe aquela vista, senti-me indignado do
destino do pássaro, e murmurei baixinho palavras de azedume.
— Quem seria o dono execrável deste bichinho, que teve ânimo de se
desfazer dele por alguns pares de níqueis? Ou que mão indiferente, não querendo
guardar esse companheiro de dono defunto, o deu de graça a algum pequeno, que
o vendeu para ir jogar uma quiniela?
E o canário, quedando-se em cima do poleiro, trilou isto:
— Quem quer que sejas tu, certamente não estás em teu juízo. Não tive dono
execrável, nem fui dado a nenhum menino que me vendesse. São imaginações de
pessoa doente; vai-te curar, amigo (...)
Disponível em WWW.dominiopublico.gov.br
Quebra-cabeça do conto
O professor deverá entregar o conto aos alunos, em equipe, xerocopiado e
recortado em quantas partes desejar. Cada equipe deverá receber o texto integral, porém
fragmentado e embaralhado. Os alunos deverão reconstruir a sequência das ações
montando o texto do modo que acharem convenientes.
Discorrido um tempo, o professor expõe os fragmentos do texto no quadro e,
juntamente com os educandos, levanta hipóteses sobre quais partes deverão ser
anexadas, até que o texto seja finalizado com coerência.
Terminada a tarefa, deve-se fazer a leitura do conto, pausadamente, debater as
questões pertinentes e para finalizar os alunos poderão ilustrar as diferentes visões de
mundo do canário, assim como, a visão de mundo de cada um.
Solicitar aos alunos uma pesquisa sobre reportagens atuais sobre os temas
trabalhados nos contos para que se faça uma análise contextualizada dos assuntos
abordados.
Atividade 7
Encerrado o trabalho com os contos, sugerir a leitura de outras obras do escritor
Machado de Assis e de outros autores, a fim de criar no aluno o desejo de ampliar suas
experiências como leitor.
Materiais necessários
Os recursos utilizados no decorrer da intervenção pedagógica serão: cópias dos
contos, folhas, caderno, lápis de cor, recortes de jornais e revistas, lápis, borracha,
internet, giz e quadro-negro.
Avaliação
A avaliação das atividades será um processo de conhecimento contínuo e dará
prioridade à qualidade da leitura e ao desempenho do aluno no decorrer dos trabalhos.
Na oralidade, o professor verificará a participação dos educandos nos diálogos, relatos,
a transparência mostrada na exposição de ideias, a fluência da fala e também a posição
deles diante dos textos orais e contemporâneos com que convivem. Na leitura será
avaliada a reflexão a partir do texto, as maneiras utilizadas para chegar ao seu
entendimento do texto, o significado construído, a verificação dos resultados de humor e
ironia nos contos lidos, a localização dos sentidos explícitos e implícitos nos textos,
entre outros. Também é importante considerar o conjunto de experiências dos alunos e
as muitas leituras de mundo trazidas por eles, avaliando dessa maneira o aumento do
horizonte de expectativas.
Para tanto é muito importante a participação do professor como mediador do
processo, respeitando as diferenças e promovendo um fazer pedagógico de qualidade a
todos.
Orientações aos professores
Outra sugestão de atividade é a criação informal de um “portfólio” (caderno
contendo coleção de todo trabalho em andamento) com os registros de todas as
atividades realizadas, estimulando a originalidade, reflexão e a criatividade individual.
Vale lembrar que se o professor optar por tal atividade deverá direcioná-la já no início
da visita cultural citada na Atividade2.
Proposta de avaliação do material didático
Após a implementação do trabalho o professor deverá verificar se a proposta
pedagógica tratou da leitura, questão relevante do ensino de língua materna. Explorou o
texto literário buscando os sentidos explícitos e implícitos do texto, confrontou
diferentes visões de mundo, o que exige uma postura leitora que se funda em atividades
cognitivas mais complexas. Também, se as atividades representaram aos educandos um
ganho significativo no que diz respeito ao conhecimento de mundo e ao domínio de
estratégias de leituras mais significativas, entre outras.
Referências
BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura e formação
do leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.
CANDIDO, Antonio. A literatura e a formação do homem. Ciência e Cultura.
São Paulo, vol.4, n.9, pp. 803-809, set/1972.
Época, Revista. Fascículo Guia do Futuro, Literatura 11, Qual o papel da
literatura? Sistema COC de ensino, pp 170-176.
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da
Educação Básica. 2008.
REVISTA, Na ponta do lápis. Olimpíada de Língua Portuguesa. Escrevendo o
futuro. Ano IV- número 8. Ed. Especial. 2008.
SILVA, Ezequiel Theodoro Da. A produção da leitura na escola. 2. ed. Editora
Ática, 2005.
WELLEK, René e WARREN, Austin. Literatura e sociedade. In: Teoria da
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