Homem filmado sob domínio de PMs aparece morto

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Reportagem do Estadão sobre a escalada violência de São Paulo, sobre as mortes no fim de semana entre 9 e 11 de novembro de 2012. A matéria entrou com o selo "Guerra não declarada". Assinam a matéria Adriana Ferraz, Bruno Paes Manso e Breno Pires, especial para o Estado.

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O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2012 Cidades/Metrópole C3

Alckmin diz queviolência ‘estásob controle’

REPRODUÇÃO

Homem filmado sob domínio de PMs aparece mortoImagens mostram cinco policiais buscando em casa servente com antecedentes criminais e logo depois um tiro; envolvidos foram presos

GUERRA NÃO DECLARADA

O governador Geraldo Alckmin(PSDB) voltou a afirmar ontemque a violência em São Paulo es-tá sob controle, apesar de a Re-gião Metropolitana ter registra-do pelo menos 25 mortes entre anoite de sexta-feira e a de ontem– só de sábado para domingo fo-ram 17.

A declaração foi dada na ma-nhã em Carapicuíba, na GrandeSão Paulo. Sem determinar pra-zos, Alckmin ainda disse que apolícia já venceu o crime organi-zado no passado e vai vencer no-vamente.

Ao comentar a onda de violên-cia que assusta São Paulo, o go-vernador pediu que as pessoasconfiem na polícia paulista, queclassificou como a mais bem pre-parada do País.

“Temos a melhor e a maior po-lícia do Brasil, com 135 mil poli-ciais extremamente bem treina-dos. Além de alta tecnologia”,afirmou.

Segundo Alckmin, a parceriaestabelecida com o governo fede-ral – que será oficializada hojecom a assinatura de um protoco-lo de ações com representanteso Ministério da Justiça – deixaráo Estado mais preparado para en-frentar o crime organizado.

Ele listou três medidas queconsidera essenciais para atingiresse objetivo: a remoção de líde-res de facções para presídios fo-ra de São Paulo, a criação de umaagência de inteligência integra-da, que combaterá pontos estra-tégicos do tráfico, e o fortaleci-mento do Instituto de Crimina-lística (IC), para pesquisar o“DNA” da droga que sustenta ocrime organizado.

Sobre os casos de violênciapraticados por policiais milita-res, o governador afirmou que to-dos os episódios serão investiga-dos pela Corregedoria e pelo De-partamento de Homicídios e deProteção à Pessoa (DHPP), queregistra as chamadas “resistên-cias seguidas de morte”.

Engano. Alckmin não quis co-mentar o caso envolvendo o sol-dado Edcarlos Oliveira, que foipreso em flagrante na madruga-da de sábado após ser acusado deassassinar, por engano, dois ho-mens em São Mateus, na zonaleste da capital. Disse apenasque a polícia cumpriu seu papelao prendê-lo.

Para o governador, no entan-to, denúncias sobre a existênciade grupos de extermínio dentroda Polícia Militar merecem cau-tela. “Há muitos aproveitadoresfazendo notícias falsas”, afir-mou sobre supostas ameaças dePMs a jovens que moram na peri-feria da capital.

Ontem, o Estado mostrouque já há mães paulistanas man-dando os filhos para fora da capi-tal paulista por medo de que elessejam assassinados por crimino-sos ou policiais. / A.F. e B.P.,

ESPECIAL PARA O ESTADO

Número de pessoas ligadas ao PCC quase triplicou desde 2006, na pág. C4}

Violência.Vídeo foigravado porvizinho davítima noCampoLimpo emostragritos de‘Pelo amorde Deus,não tenhonada a ver,não, senhor’

A Polícia Militar determinouontem a prisão administrativade cinco policiais suspeitos deexecutar o servente Paulo Ba-tista do Nascimento, de 25anos, na manhã de anteontemno Campo Limpo, zona sul.Imagens exibidas pelo Fantás-tico, da TV Globo, mostramuma viatura da PM parada nafrente da casa da vítima. Elesconduzem Nascimento – quepede “pelo amor de Deus” pa-ra não ser levado – e batem ne-le. Em seguida, ouve-se um ti-ro e alguém dizendo: “Matouo cara, matou o cara”.

No boletim de ocorrência, po-liciais dizem que a morte ocor-reu após perseguição de três ho-mens que teriam atirado contraa viatura. Em nota, o comandan-te da PM, Roberval Ferreira Fran-ça, considerou o caso “lamentá-vel” e disse que a Corregedoriaapura a ocorrência. Essa foi umadas 25 mortes registradas no fim

de semana na Grande São Paulo.Só entre a noite de sábado e a dedomingo, foram 17.

Na Penha, Milton de Oliveira,de 24 anos, foi baleado e mortopor dois encapuzados na frentede um bar – outros dois forambaleados. Em São Mateus, um su-posto ladrão morreu em troca detiros com a polícia. Na zona nor-te, na região de Perus, um moto-queiro morreu em suposta tenta-

tiva de assalto. Na Freguesia doÓ, um ladrão que tentou levar amoto de um policial à paisana foimorto às 15h de ontem. Na zonasul, três homens foram atacadosno Campo Limpo.

A violência chegou até a zonarural – em Marsilac, o agricultorFelício Alves Pires, de 35 anos,foi morto a tiros em seu sítio, noJardim Embura.

Em Guarulhos, quatro pes-

soas morreram e uma foi ferida.Em um dos casos, um homemlavava o carro na rua, entrou emcasa, foi perseguido e morto – as-sim como a mãe dele. No ABC,dois homens foram assassina-dos em suposto tiroteio com po-liciais em Santo André. E, emSão Bernardo do Campo, um ca-sal foi morto em casa. O corpo deum homem de 33 anos ainda foiachado em Itapevi, em um Fit.

Feridos. Além dos mortos, hou-ve pelo menos nove baleados en-tre sábado e domingo. Por voltada 1h de ontem, três adolescen-tes caminhavam para uma festa,na Vila Mazzei, zona norte, quan-do um veículo preto se aproxi-mou e um dos ocupantes orde-nou que eles não olhassem paratrás e corressem. Dois dos jo-vens foram atingidos por tiros,mas escaparam.

Na noite de sábado, em SãoBernardo do Campo, um vidra-ceiro de 24 anos que voltava dacasa da namorada levou sete ti-ros. Outros dois homens forambaleados às 22h de sábado noCampo Limpo. Também na noi-te de sábado, um homem de 57anos foi baleado em Guarulhos. /

ADRIANA FERRAZ, BRUNO PAES

MANSO e BRENO PIRES, ESPECIAL

PARA O ESTADO