Post on 29-May-2020
II JORNADA DISCENTE DO PPHPBC (CPDOC/FGV)
INTELECTUAIS E PODER
Simpósio 5 | Arquivo, história e política
A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO SOB A AVALIAÇÃO DOS USUÁRIOS: UM ESTUDO DE CASO DO SERVIÇO DE REFERÊNCIA DO CPDOC E DA BASE DE DADOS
ACCESSUS
Renan Marinho*
O presente trabalho propõe um estudo sobre a utilização dos recursos de
pesquisa disponibilizados pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História
Contemporânea do Brasil para seus usuários. Pretende-se construir conhecimentos sobre
a forma que os usuários do centro de informação histórica interagem com os recursos
informacionais, de pesquisa além de construir um conhecimento sobre quais pontos
demandam por aperfeiçoamento. O estudo, inevitavelmente, procurará conhecer os
diferentes tipos de usuários e discutir, à luz da Ciência da Informação, os conceitos de
organização, representação e recuperação da informação. Assim sendo, a base de dados
Accessus servirá de estudo de caso para a concretização deste projeto. A base de dados
Accessus é o sistema utilizado pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História
Contemporânea do Brasil para organização e disponibilização de seu acervo. Criado em
2000, teve sua primeira grande revisão em 2009 e está disponível na internet, o que
possibilita aos pesquisadores realizar pesquisas tanto local quanto virtualmente. O
sistema fora desenvolvido exclusivamente para atender as demandas que o Centro
possuía no tocante à organização e disponibilização de seu acervo.
* Bibliotecário do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas; aluno do Mestrado Profissional em Bens Culturais e Projetos Sociais CPDOC/FGV
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Conhecer e, conseqüentemente indicar aos pesquisadores os melhores caminhos
no desenvolvimento de uma pesquisa em um determinado acervo constitui uma das
principais missões do bibliotecário de referência no trabalho com informação histórica
de modo especial. Esse aspecto é denominado na área da Ciência da Informação como
‘serviço de referência’. O serviço de referência compreende o processo de
direcionamento da demanda pela informação à sua localização. Por isso, parte do
conhecimento consiste em saber onde encontrar a informação através de suas fontes e
assim podemos reconhecer que o conhecimento das fontes de informação constitui um
importante ramo do saber (Grogan, 1995).
As fontes para a informação histórica são, tradicionalmente, especializadas. Essa
característica reforça a importância de o profissional ser um sensível conhecedor das
fontes de informação histórica existentes, já que isso irá influenciar significativamente
na trajetória de pesquisa do usuário. Os acervos arquivísticos, por sua vez, possuem
diversas particularidades e por isso não tendem a seguir uma estrutura de organização,
disponibilização e acessibilidade homogênea como acontece nos casos dos tradicionais
acervos bibliográficos. Numa afirmação enfática, Grogan (1995) diz que a experiência
indica, freqüentemente, o caminho para a solução de um problema. Ainda conforme o
autor, os usuários desses centros de informação terão melhores condições de otimizar o
aproveitamento de um determinado acervo se assistidos por um bibliotecário (Grogan,
1995).
No recorte do estudo, que se dedicará a um Centro de informação com acervo
específico na área de História, essa característica ganha corpo. Em sua maioria, os
acervos de informação especializada valem-se de determinadas particularidades em sua
metodologia de organização que podem tornar mais complexo o trabalho de busca do
usuário. Por isso, a pesquisa acaba por requerer destes usuários a necessidade de uma
maior capacitação para o acesso aos determinados acervos com seus respectivos
recortes históricos, recaindo assim sobre o profissional da informação a atribuição de
responder questões típicas do atendimento de referência, como os tradicionais “Eu
quero saber tudo o que tem no acervo sobre x (x é um tema ou fato histórico
hipotético)”. Situações como essa compreendem demandas por informação com as
quais os profissionais que trabalham em serviços de informação se deparam
freqüentemente. Todavia, se nos dedicarmos a uma breve reflexão perceberemos que
uma resposta para essa pergunta seria impossível.
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Aos profissionais que trabalham como mediadores do acesso à informação cabe
promover uma interação com a respectiva demanda e traduzir essa percepção em uma
linguagem apropriada para a realização da busca. Dessa forma, os profissionais
orquestram as demandas de usuários com os caminhos que ele deve percorrer para obter
maior chance de êxito. Por isso, o diálogo com o usuário é fundamental, uma vez que
tudo aquilo que esse usuário consegue explicitar e verbalizar traduz-se como
necessidade de informação. Quando isso não ocorre, cabe ao profissional bibliotecário
identificar essa necessidade não explicitada e agir de maneira adequada. Para Grogan
(1995) um dos principais pontos do serviço de referência é a experiência do profissional
já que para ele não existe substituto para essa qualidade.
Além dos fazeres tradicionais, os profissionais da informação se utilizam de
recursos importantes, principalmente os desenvolvidos pelas tecnologias da informação,
que servem como ferramentas de facilitação desse serviço de organização e
disponibilização da informação. Tais ferramentas foram sendo incorporadas à realidade
dos centros de informação e assim, tornaram-se personagens fundamentais nos arquivos
e unidades de informação em geral. Nesse contexto, podemos afirmar que as bases de
dados são a maior expressão da aplicação das tecnologias da informação aos serviços de
organização e disponibilização de informação nos centros de documentação. É sobre
essa ferramenta que recairá o estudo proposto neste projeto. Mais especificamente, o
foco é interação dos usuários do Centro de Pesquisa e Documentação de História do
Brasil com a respectiva base de dados do Centro – Accessus, bem como a informação é
representada através de sua indexação já que essa metodologia diz respeito aos pontos
de acesso à informação organizada.
O fenômeno mais notável ocorrido nas três décadas de idade da indústria da informação foi a emergência e a popularidade do produto de informação conhecido como bases de dados. Pode-se dizer que as atividades relacionadas ao ciclo de produção de bases de dados criaram as bases da indústria da informação como ela é hoje conhecida” (SAYÃO, 1994: .1)
Para Sayão (1994) esse foi um processo relativamente lento que teve sua
explosão na década de 90, mas já em fins dos anos 60 e início dos 70 se podia
contabilizar no mundo desenvolvido um número já extraordinário de bases. Para ele um
marco importante da utilização de técnicas para a recuperação da informação, que se
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pode caracterizar como base de dados, se deu em 1951 quando U.S. Bureau of the
Census teve de processar o censo realizado nos Estados Unidos no ano anterior. No
processamento das informações desse censo o autor diz que “uma base numérica cujo
suporte físico era um deck de cartões perfurados”. O marco da preocupação em fazer
parte desse novo padrão informático pela Ciência da Informação no Brasil foi a criação,
em fins da década de 80 da LINCE. A Linguagem Comum de Recuperação de
Informações em Linha foi desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Ciência e
Tecnologia como uma maneira de criar uma linguagem de consulta padronizada para os
sistemas brasileiros para ser adotado como linguagem padrão do SPA – Serviço Público
de Acesso a Base de Dados. A partir daí foi apenas uma questão tempo para que esse
tipo de ferramenta de recuperação da informação começasse a fazer parte, mesmo que
timidamente, das pesquisas nos centros de informação. Pouco a pouco ao longo dessa
década, as bases de dados foram substituindo os catálogos de fichas bibliográficas ou
inventários arquivísticos na busca pelas informações de um determinado acervo. A
partir da expansão do ambiente web na década seguinte esse movimento se aproximou
dos recursos do ambiente virtual e explorou a capacidade de disponibilização em
servidores remotos, passando a estar presente também em diversos pontos
simultaneamente. Portanto a disponibilização remota foi apenas um segundo passo já
que atualmente alguns sistemas de recuperação de dados deixaram de agregar somente a
disponibilização de bases de dados on line. Ainda na primeira década desse novo
século, os padrões meramente online, que permitiam o acesso ao caminho para
localização da informação propriamente dita, passam também a oferecer a consulta
efetiva à informação desejada. Ou seja, os usuários podiam acessar apenas as
referências bibliográficas ou códigos de classificação que os remetiam ao efetivo texto,
livro, documento ou conteúdo de modo geral (Marcondes e Sayão, 2001). Agora a
tecnologia se aplica de maneira ainda mais abrangente e com a digitalização dos
suportes da informação possibilita que o conteúdo informacional também esteja
acessível. Atualmente com os recursos tecnológicos nas pesquisas em bases de dados
pode, além de proporcionar acesso à localização da informação, disponibilizar
efetivamente o conteúdo através das formas digitais dos registros informacionais. Na
abordagem proponho uma periodização da evolução dos sistemas de recuperação da
informação em arquivos desde o momento mais simples considerando em termos de
acesso local até sua capacidade colaborativa.
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Não menos importante é explorar também nesse contexto a questão dos
profissionais que trabalham com essas ferramentas de pesquisa, já que quanto mais
complexas elas se apresentam mais será exigido destes personagens que servem de
mediadores entre a informação, o acesso e o usuário. Cada vez mais esse processo
exige, principalmente dos bibliotecários, a percepção de um modelo de usuário
particular que Sayão (1994) denomina de ‘modelo cognitivo’ que se apresenta baseado
no valor da informação. Para o autor,
Neste modelo, a percepção do valor da informação é uma variável que está em função dos vários papéis que o usuário pode assumir no processo de transferência de informação e do seu quadro comportamental face à informação eletrônica e o sistema de informação. (SAYÃO, 1994: 16)
O aperfeiçoamento dos sistemas informatizados de recuperação da informação é
importante porque, de acordo com Marcondes e Sayão (2001) o uso convergente de
tecnologias de comunicação e de conteúdos em formato digital, cujo paradigma é a
Internet, tem contribuído para criar um novo ambiente de acesso, disseminação,
cooperação e promoção do conhecimento.
Enquanto que oferecer acesso aos documentos originais autênticos para todos que os peçam nas salas de leitura dos arquivos tornou-se uma atividade corriqueira nos últimos 150 anos, o desafio de hoje é trazer o conhecimento sobre o conteúdo dos arquivos via internet para as mesas das pessoas em seus lares. [...] Esse é o impacto mais fundamental em nossa profissão e nossas instituições. (BRUEBACH, 2007: 40)
No contexto desse estudo, meu objetivo é trazer essa discussão para a realidade
da área arquivística, que devido a peculiaridade deste acervo, percebe-se uma carência
de sistemas apropriados para informações arquivísticas. Cada vez mais as bases de
dados se voltam para disponibilização online além de, inspiradas no conceito web 2.0,
se basearem no princípio colaborativo. Os sistemas de informação tendem a se amparar
no constante aperfeiçoamento, já que abrem a possibilidade de modificação ou
contribuição por parte dos indivíduos que usam o serviço, explorando a capacidade
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colaborativa dos indivíduos. Essas iniciativas ainda são modestas no campo da Ciência
da Informação, mas já começam a ser aplicadas. Por estar sendo apresentado ao mundo
virtual como um novo padrão de uso, o princípio da colaboratividade tende a se
disseminar rapidamente na área da Ciência da Informação. Estas características se
apresentam como motivos contundentes para aceitação desta ferramenta por parte dos
profissionais que trabalham com organização da informação e principalmente da
Arquivologia, isso porque esses acervos têm características sempre muito complexas,
que tornam especialmente peculiar os processos de organização e representação da
informação em softwares informatizados. Diferentemente de como acontece no caso dos
acervos bibliográficos, os acervos arquivísticos não possuem pacotes desenvolvidos
para gerenciamento de bibliotecas, por exemplo. A ausência desses sistemas para gestão
arquivística pode ser explicada principalmente pela peculiaridade de cada acervo
composto por arquivos. Essa é uma importante observação que inspira o
desenvolvimento do trabalho, já que a maioria das bases de dados para informação
arquivística tende a ser iniciativa particular das instituições, como no caso do Accessus.
Vale ressaltar que serão consideradas as opiniões das duas modalidades de
usuários: tanto aquele usuário que demanda por informação – usuário externo, quanto
aquele que alimenta as informações e trabalha no processo técnico das instituições –
usuário interno. Para o segundo tipo de usuário o estudo poderá usufruir do processo de
atualização do Accessus que foi realizado no ano de 2009. Esse processo levou em
consideração a opinião de todos os profissionais que trabalham na organização do
acervo e que alimentam a base. Essa atualização levou em conta basicamente as
questões de avaliação sobre o que deveria ser modificado e o que deveria ser
incrementado. Foram ouvidas as demandas do bibliotecário e dos analistas de
documentação, que em cada caso, sugeriram através de relatórios o que deveria ser
incorporado, atualizado, adicionado ou até mesmo excluído. Por isso o resultado dessa
consulta pode servir para produzir reflexões importantes sobre a própria base. Perceber
a partir daí quais são quais são as características convergentes e divergentes de cada
ferramenta. Além disso, trazer também para o debate a tendência da web 2.0, que dá
conta de uma participação mais colaborativa por parte daqueles que utilizam qualquer
serviço de interação humana. Um exemplo dessa tendência se confirma na nova versão
do Accessus pela criação do recurso ‘Comente!’, que convida aos utilizadores a
enviarem informações complementares ou discrepantes daquelas informadas na base.
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A explosão informacional favorecida principalmente pelas tecnologias da informação e
comunicação tem colocado os profissionais da área diante de um grande desafio. Além
de organizar o conhecimento produzido, através da aplicação dos métodos tradicionais
de tratamento técnico, os profissionais da Ciência da Informação empenham-se em se
apropriar de meios tecnológicos para a disseminação de toda essa informação
organizada. Através do uso de tecnologias, a Ciência da Informação promoveu grandes
transformações em seus fazeres, aperfeiçoando principalmente as formas de acesso à
informação. Para Fonseca (2005) a Ciência da Informação percebeu ao longo dos
últimos 20 anos na Europa e América do Norte, e no Brasil na última década, que seu
caráter científico de ciência social é interdisciplinar por natureza. Esse processo impacta
a área da Ciência da Informação e a coloca em reação a essas novas exigências da
explosão informacional. Para a autora a área inicia seus primeiros esforços na
sistematização de informações bibliográficas, até a chegada do que é conhecido
atualmente como era da ciência da informação. Assim, podemos destacar esses aspectos
como principais do ponto de vista da Ciência da Informação: a organização da
informação e sua disponibilização ou disseminação. De um lado a primeira idéia
apresenta-se como óbvia se levarmos em consideração que toda a informação produzida
tem no seu potencial de geração de novos conhecimentos a preocupação com sua
organização, que objetiva sempre sua disponibilização. De nada serviria a acumulação
do conhecimento se este não pudesse ser recuperado da melhor maneira possível.
Igualmente inútil seria implementar dispendiosos esforços para organização e
tratamento técnico das informações contidas em acervos se este procedimento não
apresentasse como pressuposto a criação de condições para disponibilização desse
conhecimento. Foi motivada por essas demandas que a área tendeu a se aproximar do
uso de tecnologias, e hoje a utilização desses recursos baseados na tecnologia da
informação e comunicação encontra-se presente em grande parte das áreas arquivística e
biblioteconômica. Neste aspecto podemos encontrar um forte argumento para
compreender a crescente incorporação dos sistemas automatizados de recuperação de
informação por parte da Ciência da Informação.
A facilitação do acesso é dada pelo uso, cada vez mais aperfeiçoado, das bases
de dados – uma das expressões mais sensíveis do papel exercido pela tecnologia nas
rotinas de pesquisa. Características como essa, aliada à explosão informacional, também
ajudam na proliferação desses sistemas de bases de dados. Mas, mesmo diante desse
cenário, ainda não existe de acordo com Mesquita et al (2006), na realidade brasileira,
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da parte dos profissionais envolvidos na aplicação prática desses sistemas como
bibliotecários e arquivistas, uma contrapartida relacionada à avaliação sistemática
dessas bases de dados junto ao usuário final. Para os autores, esses profissionais deviam
dedicar mais atenções ao funcionamento das bases de dados aplicadas à realidade dos
serviços de informação e à escassa literatura da área que trate do assunto.
Como recuperar tem como premissa disseminar, há o esforço dos profissionais da
informação para divulgação de seus acervos. Alguns meios podem ser utilizados para
tornar um acervo conhecido para um determinado público e podemos perceber que as
políticas de facilitação do acesso são a principal fonte divulgadora de um determinado
acervo. As tecnologias proporcionaram novas e eficazes maneiras de promoção de
informações, e a internet é a maior prova delas. É nesse cenário que se apóiam as
iniciativas de disponibilização de sistemas de recuperação da informação no meio
virtual. A simples disponibilização de uma base de dados na internet, por exemplo, gera
uma divulgação de acervos e instituições até então inimaginável. E é nesse panorama
que as ferramentas de bases de dados proliferaram e continuam se apresentando como
fundamentais em realidades de demanda por informação. Esse processo leva as
demandas por informação a se tornarem cada vez mais virtuais, modificando padrões
tradicionais, fazendo assim com que surjam novas formas de acesso, formas essas que
modificam completamente os perfis dos usuários. Assim, a virtualização do acesso
pressupõe um outro ou novo perfil de usuário, sendo, portanto também, um fator de
exclusão deixando de fora aqueles incapazes de acompanhar essas transformações.
A Ciência da Informação incorporou o uso da tecnologia aos seus métodos e fazeres,
propiciando uma verdadeira revolução eletrônica nas metodologias tradicionais e a
transformação de suportes habituais da informação em mídias digitais catalogadas e
disponibilizadas por sistemas informatizados. Suporte esse que concede mais
flexibilidade, tanto ao acesso quanto à preservação de acervos de informação nos seus
suportes tradicionais. Esses novos suportes levam a reflexões importantes, como por
exemplo, os debates acerca da custódia dos arquivos. A relativização deste aspecto tem
provocado novos debates, principalmente sobre a relativização da custódia, que são
provenientes principalmente do advento do documento eletrônico, que passa a existir
virtualmente. Para Rondinelli (2005) esses debates podem ser analisados sob o ponto de
vista das implicações tecnológicas que envolvem a guarda de documentos eletrônicos. A
autora afirma que essa relativização se dá no ambiente eletrônico, no qual as instituições
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arquivísticas não tem mais que assumir a custódia física dos documentos para cumprir
seu papel arquivístico de controle e proteção dos documentos.
Os avanços proporcionados pela tecnologia possibilitaram e continuam possibilitando
que as unidades de guarda de informação tenham em sua gama de prestação de serviços
formas mais diversificadas de atendimento aos usuários. Um dos mais relevantes
significados dessa revolução eletrônica está expresso na disponibilização da informação
on line. Configura-se, portanto, como um dos impactos mais fundamentais da revolução
eletrônica para os profissionais da informação e suas instituições na atuação das
unidades de informação.
A transformação trazida pela informatização das técnicas tradicionais impacta
fortemente a área e consequentemente esses fazeres são colocados sob avaliação. A
partir da percepção da ausência de preocupação com o usuário, no contexto a ser
estudado, é que o trabalho se propõe a avaliar a base Accessus e seus recursos sob o
ponto de vista dos utilizadores do serviço. No campo da Biblioteconomia, por exemplo,
práticas como a catalogação foram atingidas diretamente com a aplicação de sistemas
informáticos de recuperação da informação na realidade das bibliotecas e, assim,
decretaram o fim das formas de catalogação. O que me leva a concluir que uma prática
primordial desenvolvida nas bibliotecas está atualmente resumida à alimentação das
bases de dados sob as regras do Código de Catalogação Anglo-Americano. Já na área
arquivística novas situações surgiram e hoje fazem parte da discussão, como por
exemplo a questão da custódia. A custódia dos arquivos sempre foi uma característica
muito marcante já que a qualidade da unicidade dos acervos concede à instituição
detentora de tais acervos status e responsabilidade. Com a disponibilização das bases na
web, e em alguns casos, do próprio documento, tem levado debates a respeito da
relativização da custódia. Ainda no tocante às transformações temos, no serviço de
referência, as técnicas praticadas tanto nos acervos bibliográficos quanto arquivísticos,
uma grande mudança nas relações diretas entre profissionais da informação e seus
usuários. Foi com a informatização das unidades de informação que os emails passaram
a fazer parte do serviço de referência, bem como a idéia de se acostumar a mediar o
acesso dos usuários por intermédio de outras tecnologias como a internet e o telefone:
um novo usuário acabara de surgir. Pela primeira vez aquele usuário que estava passível
de ter sua demanda interpretada ou traduzida não estava mais diante do bibliotecário.
A percepção da importância que esse cenário impõe à área da Ciência da Informação
pode ser entendida na afirmação de Bruebach (2007) uma instituição que não esteja
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presente na web literalmente não existe: à regra ‘publique ou pereça’ juntou-se a ‘esteja
na rede ou desapareça’, e ainda como lema: presença na web ou nada (BRUEBACH,
2007, p.40). A aceleração do tempo, a febre de memória e a revolução tecnológica no
manejo dos registros documentais redundaram em uma espécie de fetiche da
digitalização.
A disponibilização da informação em bases de dados on line possibilita novas
formas de relacionamento entre as instituições e os pesquisadores. Se antes os usuários
necessitavam dispor de tempo equivalente ao horário de atendimento das instituições
detentoras da custódia, agora sequer precisa informar a intenção de pesquisa ou agendar
uma consulta. Com apenas alguns cliques, um usuário estará pesquisando todo o acervo
da instituição além de, se for o caso, acervos digitais. O usuário pode ter disponível a
informação desejada na tela de seu computador doméstico às 3 horas da madrugada, por
exemplo. Assim como numa loja virtual, em que não há necessidade de vendedores, a
disponibilização de ferramentas de pesquisa na internet possibilita o uso relativamente
indiscriminado e irrestrito dessa informação, que se obriga a dispor de ferramentas
amparadas na tecnologia da informação para no mínimo saber acerca da utilização
desses serviços, como por exemplo, a utilização dos cadastros de login. Favorecendo e
ampliando assim as condições de acesso, através da expansão da capacidade de
abrangência de determinado centro de informação. Esse novo ambiente nos permite
identificar que a presença virtual de uma determinada instituição de pesquisa, com suas
respectivas ferramentas e serviços, colocam em questão todo o serviço de referência que
assume um novo perfil, exigindo dos bibliotecários novas formas de interação com seus
usuários e fontes de pesquisa. Assim sendo, as atenções devem se voltar para a
observação do que está sendo oferecido em meio virtual, bem como praticar uma
preocupação com esse universo. Torna-se fundamental, portanto, desenvolver e
implementar meios de análise sobre os recursos, além de permitir formas de conseguir o
feedback dos usuários destas ferramentas.
O estudo se motivará pela inovação proposta pelas novas tendências ancoradas
no conceito web 2.0 de possibilitar a customização do software. Trarei o debate sobre os
recursos desse novo padrão da internet focado na colaboratividade. Neste conceito
podemos perceber que o novo padrão para o ambiente virtual se baseia num constante
aperfeiçoamento por parte daqueles que utilizam esse ambiente para assim desenvolvê-
los e torná-los cada vez melhores. O conceito não se aplica exclusivamente à internet,
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mas a todo o universo informático. O constante aperfeiçoamento está, cada vez mais,
ganhando espaço e importância. Softwares de computador ganham visibilidade
exatamente pelo fato de serem dotados da possibilidade de criação de versões melhores
a partir de sua codificação aberta. Exemplos desse conceito podem ser observados em
alguns softwares, que se apresentam em diversas versões criadas pelos próprios
utilizadores dispostos a corrigir, aperfeiçoar, inovar, gerando novos sistemas mais bem
identificados com o público e com a atualidade. Esse novo comportamento surge no
bojo da web 2.0, que extrapola as fronteiras virtuais e atinge grande parte da cadeia
produtora de bens e serviços ligados à tecnologia.
Nesse contexto, a área da Ciência da Informação se volta para essa tendência e deve
se preocupar com esse novo padrão de usuário, aproveitando-se do conceito
colaborativo em processos de avaliação eficazes não somente das bases de dados
informatizadas oferecidas aos usuários dos serviços de informação, mas também sobre
como esses usuários interagem com essas ferramentas. Esse pode ser considerado um
processo cognoscível absolutamente particular, se considerarmos principalmente as
técnicas de representação das informações organizadas nas bases de dados.
Dessa maneira o presente projeto pretende estudar as questões de linguagens a
serem utilizadas em mecanismos de recuperação informatizada da informação e sua
receptividade junto ao usuário. Assim, explorando os conceitos de organização da
informação, representação, padronização de linguagens e problemas de revocação e
precisão que são as medidas mais comuns para avaliar a qualidade de um sistema de
busca e recuperação de informação.
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