Intertextualidade A arte de cruzar textos. Ler é (re)(des)construir sentidos Segundo Kristeva...

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Intertextualidade

A arte de cruzar textos

Ler é (re)(des)construir sentidos

Segundo Kristeva (1974, p. 60), “qualquer texto se constrói como um mosaico de citações e é a absorção e transformação de um outro texto”.

Kristeva (1969, p.85), é um recurso potencializador dos sentidos que se tecem e se (re)significam na trama de fios plurais, pois “Tout texte se construit comme mosaïque de citations, tout texte est absorption et transformation d‟um autre texte.”

É nessa mesma linha de pensamento que Greimas (1974) afirma:

“O texto redistribui a língua. Uma das vias dessa reconstrução é a de permutar textos, fragmentos de textos que existiram ou existem em redor do texto considerado, e, por fim, dentro dele mesmo; todo texto é um intertexto; outros textos estão presentes nele, em níveis variáveis, sob formas mais ou menos reconhecíveis”.

Há vários tipos de intertextualidades. Vamos nos ater a estas:

• Intertextualidade temática;

• Intertextualidade estilística;

• Intertextualidade explícita;• Intertextualidade implícita.

Intertextualidade temática

Um texto narrativo;

Um texto fílmico;

Um texto musical;

Um texto poético.

Oração dos Programadores Sistema operacional que estais na memória,

Compilado seja o vosso programa,

Venham à tela os vossos comandos,

Seja executada a nossa rotina,

Assim na memória como na impressora.

Acerto nosso de cada dia, rodai hoje

Informai os nossos erros,

Assim como nós informamos o que está corrigido.

Não nos deixeis cair em looping,

Mas livrai-nos do Dump,

Amém.

Intertextualidade estilística

Intertextualidade Estilística

Pintura e propaganda

Intertextualidade moderníssima

Intertextualidade explícita

A intertextualidade será explícita quando, no próprio texto, é feita menção à fonte do intertexto, isto é, quando um outro texto ou um fragmento é citado, é atribuído a outro enunciador; ou seja, quando é reportado como tendo sido dito por outro ou por outros generalizados (“Como diz o povo...”, “segundo os antigos...”). É o caso das citações, referências, menções, resumos, resenhas e traduções; em textos argumentativos, quando se emprega o recurso à autoridade; e, em se tratando de situações de interação face-a-face, nas retomadas do texto do parceiro, para encadear sobre ele ou contraditá-lo, ou mesmo para demonstrar atenção ou interesse na interação (...)

• Como dizia o grande, o vulgo, o profeta

• “Penso, logo existo”

• “Penso, logo hesito” ( Luís Fernando Veríssimo, “Mínimas”)

• Penso logo, desisto.

Intertextualidade implícita

Quando se introduz, no próprio texto, intertexto alheio, sem qualquer menção explícita da fonte, com o objetivo quer de seguir-lhe a orientação argumentativa, quer de contraditá-lo, colocá-lo em questão, de ridicularizá-lo ou argumentar em sentido contrário.

No primeiro caso, verificam-se paráfrases (...): é o que Sant’Anna (1985) denomina ‘intertextualidade das semelhanças’ e Grésillon & Maingueneau (1984) chamam de captação; no segundo, incluem-se enunciados parodísticos e/ou irônicos, apropriações, reformulações de tipo concessivo, inversão da polaridade, afirmação/ negação, entre outros (intertextualidade das diferenças, para Sant’Anna, 1985; subversão, para Grésillon & Maingueneau, 1984).

Nos casos de intertextualidade implícita, o produtor do texto espera que o leitor/ouvinte seja capaz de reconhecer a presença do intertexto, pela ativação do texto fonte em sua memória discursiva, visto que, se tal não ocorrer, estará prejudicada a construção do sentido, mais particularmente, é claro, no caso da subversão. Também nos casos de captação, a reativação do texto primeiro se afigura de relevância; contudo, por tratar-se de uma paráfrase, mais ou menos fiel, do sentido original, quanto mais próximo o segundo texto for do texto-fonte, menos é exigida a recuperação deste para que se possa compreender o texto atual (embora, é claro, tal recuperação venha incrementar a possibilidade de construção de sentidos mais adequados ao projeto de dizer do produtor do texto).

O que realmente interessa em Intertextualidade Implícita

Sub.ver.ter vtd 1. Revolver, voltar de baixo para cima; 2. destruir, arruinar; 3. confundir, desorganizar; 4. perverter; 5. revolucionar; vp 6. submergir-se, afundar-se, arruinar-se.

(Amora, Antônio Soares. 1917 – 1999. Minidicionário da Língua Portuguesa)

Paráfrases, sátiras...

Contos de fadas modernosEra uma vez, numa terra muito distante, uma linda

princesa independente e cheia de autoestima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades ecológicas, se deparou com uma rã.

Então, a rã pulou para o seu colo e disse: - Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito,

mas uma bruxa má lançou-me um encanto e eu transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir um lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias as minhas roupas, criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para sempre...

E então, naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava: “ Nem fo....den...do!”

Inferências cotidianas

De modo geral, nós sempre estamos inferindo informações em nossas leituras diárias.

Tudo a nossa volta é um texto e interpretamos o tempo inteiro. Pois, para reconhecermos, ou para validarmos uma leitura temos que possuir algum conhecimento prévio, e nosso conhecimento de mundo, permitir-nos-á fazê-las.

As capas da veja

Primeiro texto

Segundo Koch (2003) apud Medeiros (2011) explica a intertextualidade sob 2 perspectivas:

• sentido amplo: “se faz presente em qualquer texto, uma vez que sempre terá um já-dito, sendo elemento constituinte da memória social de uma coletividade.”

• Sentido restrito: “pode se constituir explícita (ocorre citação da fonte) ou implicitamente (não há indicação da referência e o leitor deve recuperá-la através dos conhecimentos prévios, como nas paródias, alusões etc).

Em linhas gerais, como expõe Laurent Jenny, a intertextualidade deve se entnedida como uma

• máquina perturbadora, que trata de colocar o sentido no desassossego para evitar o triunfo do clichê, por meio de uma atividade de transformação: “[...] Se, com efeito, a reminiscência cultural alimenta qualquer texto, ela também o ameaça constantemente de se atolar, logo que ceda ao automatismo das associações e se deixe paralisar pela irrupção de estereótipos, sempre mais avassaladores.” (JENNY, 1979, p. 44).

Em linhas gerais, como expõe Laurent Jenny, a intertextualidade

A intertextualidade, segundo apontamentos de Carvalhal (2006), é profícua ao comparatista no estudo das relações literárias, pois, com base nas contribuições de Julia Kristeva, a partir de Mikhail Bakhtin, absorve e transforma um tempo em outro, autorizando que a linguagem poética seja lida, ao menos, como dupla.

Bibliografia AMORA, Antônio Soares. 1917 – 1999. Minidicionário da Língua Portuguesa / Antônio Soares Amora. – 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

DAUM, Rodrigo Donizete. Projeto Identidade – Intertextualidade Temática. Fundação Educacional de Fernandópolis; Março, 2011.

DAUM, Rodrigo Donizete. Intertextualidade: a arte de cruzar textos. Aula ministrada na UNICASTELO de Fernandópolis; Março, 2012.

DIAS, Elen. Literatura: background necessário para estabelecer e desenvolver as intertextualidades e os hipertextos dos mapas mentais. Mesa Redonda no II Simpósio de Literatura para Cirnaças e Jovens. 05/04/2012.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Unicamp / CNPq. Conferência ministrada pela Professora Doutora Ingedore Grunfeld Villaça Koch. Dialogismo, Intertextualidade e Argumentação. 55º Seminário do G.E.L. – Franca/2007.

Bibliografia MEDEIROS, Juliana Pádua Silva. Navegar é preciso: O leitor contemporâneo e os desafios da leitura hipertextual em Abrindo Caminho e A maior flor do mundo / Juliana Pádua Silva Medeiros; orientador Maria Zilda da Cunha. – São Paulo, 2011. 192 f.