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STUDIUM THEOLOGICUM Afiliado à Pontifícia Universidade Lateranense de Roma
APARECIDA DE LOURDES ROMANI
O ITINERÁRIO DA SANTIDADE NOS ESCRITOS DO PAPA JOÃO
PAULO II
CURITIBA
2012
APARECIDA DE LOURDES ROMANI
O ITINERÁRIO DA SANTIDADE NOS ESCRITOS DO PAPA JOÃO
PAULO II
Monografia apresentada ao curso de Bacharelado em Teologia no Studium Theologicum, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Bacharel em Teologia.
Orientador: Prof. Ms. Roberto Agostinho
CURITIBA 2012
AGRADECIMENTOS
Ao término desse curso sinto-me impelida por uma profunda gratidão a
expressar meus agradecimentos.
Primeiramente a Deus, Autor de todas as verdades da fé. Pela oportunidade
de crescimento espiritual, por meio das reflexões teológicas, com as quais pude
conhecê-Lo de forma mais profunda.
Ao Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, na pessoa da
Superiora Geral, Ir Mary Clare Millea e Superiora Provincial, Ir Maria de Lourdes
Castanha, por esse privilégio de terminar o curso de Teologia.
À comunidade da Sede Provincial e principalmente, a minha comunidade do
noviciado, pelo incentivo e o tempo que me proporcionaram para que eu pudesse
concluir esse trabalho.
Aos meus colegas de turma, pelo incentivo, amizade e pelo companheirismo
durante os anos de estudos.
Agradeço imensamente ao Pe. Roberto Agostinho, pela sua disponibilidade
em orientar-me nesse trabalho de conclusão de curso. Obrigada e que Jesus seja
sua própria recompensa.
A minha gratidão se estende a todos que direta ou indiretamente contribuíram
para a realização desse trabalho, que João Paulo II interceda por todos junto ao
Coração de Jesus.
RESUMO
Diante da uma sociedade pós moderna em suas estruturas, dotada de avanços técnicos e científicos, o qual ofusca o sentido do transcendente, dando a impressão de que a santidade tornou-se algo passado, esta pesquisa aponta como referência de santidade a pessoa de Jesus. Ele é o caminho que conduz a santificação. Este trabalho recorda que a santidade é uma potencialidade que todo cristão batizado traz dentro de si, no desejo de realizar sempre o bem e crescer na união com Deus. Convicta da importância de estudar e aprofundar a temática da santidade, no contexto atual, a presente pesquisa monográfica pautou-se em aprofundar o itinerário que cada cristão é chamado a trilhar, a partir do seu batismo. Para alcançar a plena união com Cristo; assim se define a santidade. João Paulo II, ícone de santidade apresentado ao mundo atual pela Igreja, respondendo ao apelo do Concílio Vaticano II no documento Lumen Gentium, o qual exorta a todos os cristãos a corresponderem ao chamado à santidade, recordando que esta, consiste em viver o ordinário do cotidiano de forma extraordinária, percebendo nas atividades simples as inúmeras oportunidades de santificação.
Palavras- chave: Santidade. Itinerário. Vocação. Batizado. João Paulo II
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................6
1. A SANTIDADE NA SAGRADA ESCRITURA: PARTICIPAÇÃO NA VIDA DE
DEUS............................................................................................................................8
1.1. O Conceito de Santidade no Antigo Testamento..................................................9
1.2. A SANTIDADE NO NOVO TESTAMENTO........................................................10
1.2.1. O Título “Santo” dado a Jesus no Novo Testamento.......................................11
1.3. Jesus é Modelo de Santidade na Vida dos Fiéis.................................................12
1.4. O Espírito Santo é o Princípio Gerador De Toda Santidade...............................13
2.A SANTIDADE NA TRADIÇÃO DA IGREJA ...................................................... 16
2.1.ESTADO DE PERFEIÇÃO NA VIDA CRISTÃ, SEGUNDO SANTO AGOSTINHO
E SÃO TOMAS DE AQUINO. ...................................................................................16
2.2.CONCÍLIO VATICANO II: TODO O POVO DE DEUS É CHAMADO À
SANTIDADE..............................................................................................................19
2.2.1.Todos os Batizados são Chamados à Santidade.............................................20
2.2.2. Correspondência ao Dom da Santidade..........................................................21
3. A VOCAÇÃO À SANTIDADE NOS ESCRITOS DO PAPA JOÃO PAULO II.......24
3.1. Santidade de Todos os Cristãos em Geral..........................................................24
3.2. Santidade dos Fiéis Leigos.................................................................................26
3.3. Santidade dos Bispos e Sacerdotes....................................................................29
3.4 A Santidade dos Religiosos e Consagrados........................................................32
4. O ITINERÁRIO DA SANTIDADE NOS ESCRITOS DE JOÃO PAULO II........ ....33
4.1 A Palavra de Deus................................................................................................33
4.2. A Oração.............................................................................................................35
4.3. A Conversão........................................................................................................36
4.4. Ascese.................................................................................................................37
4.5 O Quotidiano da Vida...........................................................................................38
4.6 O Amor.................................................................................................................41
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................43
REFERÊNCIAS .........................................................................................................44
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por finalidade fazer emergir a importância
fundamental da vocação à santidade. João Paulo II faz um apelo dizendo que é
urgente que os cristãos sejam santos.
Na realidade atual, na qual se presencia não uma época de mudanças, mas
sim, uma mudança de época, o cristianismo, como não poderia ser de forma
diferente, está inserido no mundo da globalização, do secularismo, que condiciona
as buscas do indivíduo, dissolvendo assim, o desejo de santidade que todo batizado
traz dentro de si.
A mensagem que a sociedade envia a todo instante pelos meios de
comunicação, pela mídia é que a santidade tornou-se algo do passado. A impressão
que se dá é que não há espaço para a santidade no mundo pós moderno.
Sensível aos apelos do Concílio Vaticano II que na Exortação Apostólica
Lumen Gentium convoca a todos os cristãos a buscarem a santidade, juntamente
com o apelo de João Paulo II, esse trabalho, quer recordar que a santidade é a
primeira vocação à qual todo cristão batizado é chamado a corresponder. E que a
essência da vontade de Deus em nossa vida é a santificação.
No primeiro Capítulo abordar-se-á a definição de santidade vista na dimensão
filosófica com Kant, assinalando o conceito da mesma dentro da lei moral. De forma
mais profunda abordar-se-á o tema na dimensão teológica, na qual vários autores
indicarão a essência da santidade.
Na Sagrada Escritura aprofundar-se-á a raiz do termo santidade, que significa
o separado. Constatar-se-á que o A.T. afirma que a fonte de toda santidade é Deus,
e que o NT apresenta a pessoa de Jesus Cristo, como ponto de referência para a
santidade.
Dentro da teologia espiritual abre-se um vasto horizonte de definições sobre o
conceito de santidade e todos convergem para a mesma meta, ou seja, a santidade
consiste fundamentalmente em uma profunda união com Cristo na busca da
realização de sua vontade.
No segundo capítulo apresentar-se-á a santidade, a partir da tradição,
visando alguns pensamentos de Santo Agostinho e São Tomas de Aquino, que
apontam como meio de crescimento no caminho de santidade, a práxis da caridade
em relação à Deus e aos próximo. Abordar-se-á ainda no mesmo capítulo a
santidade no contexto do Concílio Vaticano II, especificamente na Constituição
Lumen Gentium, a qual se preocupou em insistir sobre a importância da vocação à
santidade, para o povo de Deus,.
No terceiro capítulo contemplar-se-á a santidade por meio da mente e do
coração de João Paulo II, que reforçando o que o Concílio já havia mencionado,
exorta a todos os cristãos em geral e a cada um em particular, dentro do estado de
vida abraçado, meios de como viver a vocação à santidade, apontando o próprio
Jesus, como caminho fundamental para alcançá-la.
O Papa traz como uma novidade ao mundo pós moderno a afirmação de que
a santidade não é algo extraordinário, mas que deve ser vivida na simplicidade da
vida quotidiana. O referido capítulo, traz presente também o ponto culminante no
qual João Paulo II apresenta meios, que num conjunto, forma um itinerário para
alcançar a santidade. O primeiro ponto a ser apresentado é a meditação da Palavra
de Deus. Juntamente com o método da Lectio divina, pela qual a Palavra de Deus é
transferida para nossa vida. A Lectio divina realizada na escuta humilde e com amor,
torna-se um elemento fundamental na formação espiritual.
Outro ponto é a oração, que quando é autentica, torna-se uma forma de
identificação com a vontade de Deus, levando a uma profunda união com a Pessoa
de Cristo. É verdadeira, na medida em que não se busca a si mesmo, mas
unicamente ao Senhor.
Automaticamente, a oração conduz à conversão, que significa mudança de
mentalidade. O processo de conversão exige do individuo a rejeição do modo de
pensar e agir do mundo.
Apresentar-se-á também a ascese, que tem como objetivo, purificar o
coração de todas as paixões, que consequentemente, nos impede de amar a Deus.
A ascese vivida no quotidiano, é apresentada, por João Paulo II, como oportunidade
de união com Deus e de cumprimento de sua vontade, tornando-se assim, matéria
de santificação. Por fim, como núcleo da santidade o Papa aponta o amor. Tendo
Jesus como modelo que amou doando a própria vida.
Os meios apresentados conduzem à santidade, consistindo em profunda
intimidade com Cristo. Vale a pena trilhar esse itinerário para como Paulo dizer: “já
não sou eu quem vivo, mas é Cristo que vive em mim”. ( Gl 2,20).
I CAPÍTULO
1. A SANTIDADE NA SAGRADA ESCRITURA: PARTICIPAÇÃO NA VIDA DE
DEUS
Para aprofundarmos o tema da santidade, antes de abordá-la na Sagrada
Escritura, faz-se necessário, uma imersão nos escritos de alguns autores, que
buscam definir em que consiste. Visando assim, vários ângulos de onde se pode
contemplar o seu conceito.
Iniciemos com uma definição de caráter filosófico de Kant, embora muitos
filósofos não concordem com a sua teoria em relação à lei moral, Kant afirma que a
santidade de Deus não é igual a santidade da lei moral1; nesta, ao contrário daquela,
existe um dever. O autor define a santidade como: “a completa conformidade com a
lei moral. No estado de santidade é impossível transgredir a lei moral pela própria
natureza da vontade, e não em virtude de um esforço realizado com o propósito de
ser moralmente bom".2
Por outro lado, em uma visão teológica, Barreiro assegura que: “a santidade
dos cristãos decorre de sua união com Cristo, através da fé e do batismo”.3 O
batismo nos torna verdadeiros filhos de Deus e consequentemente, “participantes da
sua natureza divina, e por isso mesmo, realmente santos”.4 A santidade é, sobretudo
um dom de Deus, o dom de seu Espírito Santo, na vida do crente, é especialmente
uma responsabilidade viver de tal maneira, que esse dom se estenda até abraçar
toda a sua existência. 5 É fundamental na vida do cristão, descobrir o segredo de
como viver a santidade. O segredo consiste na “conformidade à vontade de Deus,
expressa no contínuo e exato cumprimento do dever generoso e constante”.6
Chevrot, por sua vez, afirma que “o cume da santidade consiste em realizar a
vontade de Deus”.7 No entanto, “santidade é acolher os apelos de Deus, as
1 Lei Moral - Segundo Immanuel Kant é uma lei universal das ações que manda agir de acordo com o que a
vontade quer que se torne uma lei válida para todos. Em outras palavras, cada indivíduo, portador de uma boa
vontade, saberia escolher, dentre suas regras particulares, aquela que pudesse valer para todos os demais
.Cessado em 20/02/2012 http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_moral 2 MOURA, F. J. Dicionário de Filosofia, 2001, p. 633-634.
3 BARREIRO, Álvaro. Povo Santo e Pecador, 2001. p. 87.
4 RODRÍGUEZ A, A., CASAS J. C., Dicionário Teológico da vida consagrada, 1994, p.804.
5 Cf. TAIZÉ, J. de La Aventura Della Santidad, 1997, p.132.
6 MACHADO, O. G. A santidade Ontem e Hoje, 1995, p.15.
7 CHEVROT. G. Em Segredo, 1991, p.97.
novidades do Espírito, sem alienação, subterfúgios ou coisa parecida”.8 O verdadeiro
santo é aquele que vive sua vida em plenitude, que é entusiasmado, disponível, sem
deixar de ser realista. É capaz de unir liberdade e responsabilidade, para atuar
diretamente nos destinos da história, causando transformações no mundo e na
sociedade. 9 Na Sagrada Escritura se compreende que o autor da santidade e o
primeiro a ser santo, é o próprio Deus.
1.1. O CONCEITO DE SANTIDADE NO ANTIGO TESTAMENTO
A palavra “santo”, no Antigo Testamento, na raiz hebraica KDSH, tem o
significado basilar de separado.10 Analisando a raiz etimológica hebraica da palavra
“santo” (qados) e de “santidade” (qodes), encontramos o mesmo significado,
“separar”. Do latim, sanctitas, “santidade”, tem como raiz etimológica, sancire, que
quer dizer, sancionar, tornar inviolável, subtrair ao uso comum.11
A santidade, enquanto prerrogativa de Deus [...] quer acentuar a grande diferença entre o criado e o divino. Já a própria raiz hebraica kdsh, usada para designar “o santo”, cujo significado essencial e o de ser separado, mostra bem essa realidade. Deus é Deus. Ele é essencialmente kdsh, isto
é, separado, totalmente outro.12
Um grande estudioso Rudoff Otto, analisando a natureza da santidade
segundo o conceito bíblico, afirma tratar-se “de uma categoria exclusivamente
religiosa, distinta de qualquer outra”.13 . Identifica a palavra “santo“ com o
‘numinoso’, a qualidade misteriosa do divino, que ele O descreve como ‘inteiramente
outro’. “O efeito do numinoso e paradoxal: Ele é tremendo, espantoso e assim
distancia, mas ao mesmo tempo é ‘fascinante’, atrai o homem”.14
É na fragilidade humana que Deus se revela “inteiramente outro”, não
obstante a pequenez do povo (Is 41,14) e suas faltas, Deus concede proteção,
misericórdia e graça, no decorrer de toda historia humana.15 Deus é totalmente o
8 OLIVEIRA, J. L. M. de. Nossa resposta ao amor, 2001.p.24.
9 Cf. Ibid. p.25.
10 Cf. MACKENZIE J. L. Dicionário bíblico, 1984, pp. 847-850.
11 Cf.BARREIRO. Álvaro, Igreja, Povo Santo e Pecador, 2001. p. 84.
12 OLIVEIRA, J. L. M. de. Nossa resposta ao amor, 2001.p.26.
13 MOURA. F. J. Dicionário de Filosofia, 2001, p. 633-634.
14 MACKENZIE J. L. Dicionário bíblico, 1984, p. 847-850.
15 Cf. BAUER. J. B. Dicionário de teologia bíblica, 1988, p.1052.
outro, no sentido que Ele é na sua essência, diferente do homem. Em Oséias, Ele se
mostra como aquele que age de forma diversa do homem: “porque eu sou Deus e
não homem, sou o Santo no meio de ti (Os 11,9)”.16
A qualidade misteriosa do divino, impede que uma outra realidade que não
esteja a seu nível, se aproxime. O que o ser humano consegue ver e perceber não é
a santidade de Deus em si, mas a glória de Deus, ou seja, a manifestação da sua
santidade.17 O homem não tem acesso à santidade divina. Ele só a reconhece na
medida em que Deus se revela como santo, manifestando sua glória, que é a
máxima expressão de sua santidade.18
No entanto, Deus comunica santidade ao homem e o torna participante da
mesma, ou seja, de seu próprio ser.19 Sendo Ele a única fonte de toda santidade,
santifica o homem e toda criação que entra em relação com Ele.20
1.2. A SANTIDADE NO NOVO TESTAMENTO
Tanto no Antigo Testamento, como no Novo Testamento, está descrito que
quem santifica é Deus.21 São poucas as referências, nas quais se emprega o
qualificativo “santo”, aplicando a Deus Pai. Em alguns dos textos do NT Deus é
qualificado, principalmente por Jesus, como ‘Pai santo’ (Jo 17,11; 1Pd 1,15).22
O pedido da oração do Senhor (Mt 6,9; Lc11, 2) para que o nome divino seja santificado é feito nos termos do AT; o nome deve ser santificado pelo reconhecimento da divindade de Deus. O título ‘ Pai santo’ é empregado em Jo 17, 11, e Deus é chamado de santo em 1Jo 2,20; Senhor santo em Ap
6,10; e três vezes santo de Is 6,3 é citado em Ap 4,8.23
No Novo Testamento, “Deus se revela como Trindade e na dimensão
escatológica, realiza a santificação de seu povo por meio de seu Filho Jesus e pelo
16
Deus não é condicionado pela conduta humana: sua santidade pode-se manifestar perdoando, convertendo e salvando. SCHÖKEL. Luís Afonso, Bíblia do Peregrino, 2002. p. 2189 17
Cf. MACKENZIE J. L. Dicionário bíblico, 1984, p. 847. 18
Cf.OLIVEIRA, J. L. M. de. Nossa resposta ao amor, 2001.p.26. 19
Cf.OLIVEIRA, J. L. M. de. Nossa resposta ao amor, 2001.p.27. 20
Cf. BARREIRO. A., Igreja, Povo Santo e Pecador, 2001. p. 84-85 21
Cf.ROSSANO, P. A santidade é própria de Deus e não pode ser conferida senão por Ele. “Meditações sobre São Paulo Vol. I, 1966, p.163. 22
Cf. RODRÍGUEZ A. A., CASAS J. C., Dicionário Teológico da vida consagrada,1994, p.805. 23
MACKENZIE J. L. Dicionário bíblico, 1984, p. 849.
Espírito Santo”.24 São Paulo afirma que desde a criação do mundo, Deus nos
escolheu em Jesus Cristo, para sermos santos por seu amor.25 Em outra passagem
lemos: “Fostes santificados, fostes justificados em nome do Senhor Jesus e pelo
Espírito Santo”.26
1.2.1. O Título “Santo” dado a Jesus no Novo Testamento
No que se refere à pessoa de Jesus, o termo santo é pouco mencionado e
não procede do Antigo Testamento. Na comunidade primitiva, é dado a Jesus o
título de o ‘santo servo Jesus’ ( At 4,30).27 Em outro contexto, no Apocalipse, Jesus
é mencionado como “o santo, o verdadeiro”.28
Jesus é chamado de santo de Deus29
, o servo santo de Deus ( At 4,27.30). O título ‘o santo’ sugere a designação de Iahweh no AT e é uma profissão tácita da divindade de Cristo...Ele é santo num grau único e comunica santidade à Igreja”.
30
A santidade de Jesus, conforme o Novo Testamento é sempre vista na
perspectiva da filiação divina. A glória que Ele recebeu do Pai é fonte e origem de
toda santidade (cf. Jo 1,14).31 Em outras palavras, Jesus como Filho, participa da
mesma vida do Pai. “O que antes era reservado somente a Javé, passa a ser
atribuído a Jesus, reconhecido pela comunidade como sendo o verdadeiro ‘Filho de
Deus’( Mc 16,39), ‘o Filho do Deus vivo’”.32
1.3. JESUS É MODELO DE SANTIDADE NA VIDA DOS FIÉIS
Na comunidade Filipense, cada cristão era convidado a ter em si, os mesmos
sentimentos de Cristo, isso vale igualmente, para os cristãos de hoje. Jesus nos
24
BARREIRO. A., Igreja, Povo Santo e Pecador, 2001, p.85. 25
Cf. Ef. 1,4. 26
I Cor 6,11 27
Cf. OLIVEIRA, J. L. M. de. Nossa resposta ao amor, 2001.p.27. 28
Cf. Isto diz o santo, o veraz, que tem a chave de Davi, aquele que abre e ninguém fecha, fecha e ninguém abre. (Ap 3,7) 29
Cf., por exemplo, Mc1,24; Lc1,35; 4,34; Jo,69; At 3,14; Ap 3,7. 30
MACKENZIE J. L. Dicionário bíblico, 1984, p. 849. 31
Cf. TEIXEIRA, V. A. R., Convergência, Vocação à santidade: dom, compromisso e profecia, Ano XLIV – n 420 – abril, 2009, p.229. 32
OLIVEIRA, J. L. M. de. Nossa resposta ao amor, 2001.p.27.
exorta a viver a essência da santidade, da qual Ele mesmo é o modelo: ‘Aprendei
de mim que sou manso e humilde de coração’(Mt 11,29). Cristo é o protótipo daquilo
que cada pessoa humana é chamada a ser.33 É um modelo vivo e dinâmico que
restaurou a dignidade da pessoa humana, e tal restauração não equivale a uma
reparação, mas trata-se de uma verdadeira recriação. Como Mediador entre a
Trindade e o Homem, restabelece a comunhão entre ambos. Portanto, se tornou o
modelo perfeito de toda pessoa. É o próprio ser de Jesus, no seu modo de viver e
encarar a realidade, que se transforma em modelo para todos nós.34
Jesus é o modelo por excelência de nossa santidade. Cada um de nós pode encontrar nele um traço a imitar. “Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna e nós cremos e reconhecemos que és o Santo de Deus”(Jo
6,68-69).35
No entanto, em Cristo temos todos os traços e as virtudes que seguramente
podem ser imitadas. Na carta aos Filipenses encontramos várias virtudes, que
impelem os cristãos a realizarem este itinerário de santidade, nas pegadas de Jesus
Cristo. Entre outras, as virtudes da humildade e da obediência, são fundamentais em
um caminho espiritual. 36 A humildade de Cristo encontra-se, sobretudo, na sua
Kenosis, pois, embora sendo Deus, desceu, fez-se um de nós, dando-nos o exemplo
de esvaziamento de si.37
No Sermão da montanha Jesus exorta à santidade quando diz: “Sede
perfeitos38 como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48).39 Com isso, Jesus quer dizer
que “a imitação do Pai, implica correspondência ou sintonia no homem, com sua
condição de imagem ou filho de Deus”.40 Ser perfeito como o Pai celeste, para o
33
Cf. OLIVEIRA, J. L. M. de. Teologia da vocação, 1999, p.153. 34
Cf. Ibid. 35
ALDAY S. C. O Espírito Santo em nossa vida, 1991, p.17. 36
Cf. Fl. 2,6-8 37
Cf.HUGHES. T., Confêrencia, Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus, 2009, XLIV, n. 419, p.169. 38
Cf.O texto que a precede o logion do Sermão da Montanha, com o qual está ligado pela partícula de conseqüência ouv mostra que a “perfeição”pela qual os discípulos se devem guiar, consiste, antes de mais nada, no amor sem limites que em Deus tem sua medida e que no amor aos inimigos se mostra como “ultrapassando a medida corrente”( ) BAUER J. B. Dicionário de Teologia bíblica, 1988,
p. 854-863. 39
Cf. ALDAY S. C. O Espírito Santo em nossa vida, 1991, p.10. 40
RODRÍGUEZ A. A., CASAS J. C., Dicionário Teológico da vida consagrada, 1994, p.807.
cristão, importa reproduzir vitalmente o Pai.41 Ao mesmo tempo o cristão deve
configurar-se com Cristo,como membro de seu corpo místico.
Não virá de fora, como imitação mimética, e sim de dentro, isto é, enquanto Cristo mesmo deve viver seu mistério nos membros de seu corpo místico, e eles, por sua vez, devem viver Cristo em sua existência pascal. “A razão de sermos chamados à santidade é que somos da família de Deus, devemos
ser como Deus; e ele é santo, três vezes santo (Is 6,3)”.42
Tendo em vista este contexto, os cristãos participam da santidade de Cristo,
pois Deus santificou seu Filho, enviando-O ao mundo.43 Sendo Jesus o “santo de
Deus”, torna-se portador do Espírito de santidade e a comunicas aos fiéis.44
Por fim, podemos afirmar que Jesus é modelo de santidade, na vida do
cristão porque foi um ser humano perfeito, passando ‘pelas mesmas provações que
nós, com exceção do pecado’(Hb 4,15) nos apontou o caminho que devemos
percorrer para o encontro com Deus. 45
1.4. O ESPÍRITO SANTO É O PRINCÍPIO GERADOR DE TODA SANTIDADE
Visando a dimensão pneumatologica, constata-se que o Espírito Santo
acompanha e anima a missão de Jesus. É Ele quem forma os discípulos em seu
dinamismo (At 1,2), para que possam compreender a Revelação através de Jesus.
Por meio do Espírito, Jesus convida todos os seus seguidores à participação na
santidade de Deus. 46
Ao Espírito Santo, atribui-se a santificação das comunidades do Novo Povo
de Deus. Diferente do Povo do Antigo Testamento, as comunidades cristãs não
estão demarcadas pelos confins de uma nação, ou pelo sangue, nos tempos
messiânicos a efusão do Espírito é universal: “Sucederá nos últimos dias, diz o
Senhor, que derramarei o meu Espírito sobre toda carne” (cf. At 2,16-18). 47 Todo o
41
Cf. Ibid. 42
ALDAY S. C. O Espírito Santo em nossa vida 1991, p.10. 43
Cf.Jo 10,36. 44
Cf. RODRÍGUEZ A. A., CASAS J. C., Dicionário Teológico da vida consagrada,1994, p.805. 45
Cf. OLIVEIRA, J. L. M. de. Teologia da vocação, 1999, p.151. 46
Cf. Convergência, Revista mensal da conferência dos religiosos do Brasil – CRB, TEIXEIRA, V. A. R. Vocação à santidade: dom, compromisso e profecia, Ano XLIV – n 420 – abril, 2009, p.229. 47
Cf. BARREIRO.A., Povo Santo e Pecador, 2001, p.88.
Novo Povo de Deus é chamado à vocação da santidade, e isso é tão claro que são
denominados “os santos”.48
Os cristãos são santos, por terem sido chamados à santidade, não o são por
natureza, mas por vocação, por eleição, porque Deus os escolheu em Cristo ( Rm
1,7; 1Cor 1,2; cf. Ci 3,12; Ef 1,4; 2Tm1,9).49
No texto da segunda carta aos Tessalonicenses, encontramos esta
afirmação: ‘Deus vos escolheu desde o princípio para a Salvação, mediante a ação
santificadora do Espírito...’(2 Ts 2,13).50 Em outro contexto lemos que é o Espírito
Santo, quem opera a santificação dos fiéis, como afirma Paulo na carta aos
Coríntios: “aos fiéis santificados em Cristo Jesus(I Cor 1,2)”. 51
Em relação aos cristãos, Piero Rossano, em seu comentário sobre a carta de
Paulo aos Coríntios afirma que:
Foram santificados e são santos, com um dever de santificação que os urge por toda vida, até à transfiguração gloriosa do fim. Não sem particular intenção, Paulo enfatiza, logo no cabeçalho da carta, o estado de santidade ao qual foram elevados os cristãos... note-se que a santidade não aparece aqui, prevalentemente, como convite ou mandamento e muito menos como uma espécie de busca, cheia de tropeços, de um fim longínquo, quase inatingível, sancionado, por fim, com um diploma de canonização. A santidade é antes de tudo um dom; os cristãos são santos a partir do dia em que Deus colocou sua mão sobre eles e deles tomou posse. Para Paulo é evidente que todos os cristãos ingressaram na santidade no instante em que, tendo crido, receberam o batismo e o dom do Espírito Santo.
52
Enfim, podemos concluir, assegurando que as três pessoas da Santíssima
Trindade, são fonte e origem de toda vocação. No congresso Internacional das
Vocações que aconteceu em Roma em 1981, afirmou-se que: “Cada vocação está
ligada ao desígnio do Pai, à missão do Filho e à obra do Espírito Santo. Cada
vocação é iluminada e fortalecida à luz do mistério de Deus”.53 No entanto, a vida
divina é trinitária, da mesma, procede todo o dinamismo da vocação.54
48
Cf. Ibid. 49
Cf. Ibid. 50
Cf. RODRÍGUEZ A. A., CASAS J. C. Dicionário Teológico da vida consagrada, 1994, p.805. 51
Cf.BARREIRO.A., Povo Santo e Pecador, 2001, p.88. 52
ROSSANO P. Meditações sobre São Paulo Vol. I,1966, p.163. 53
OLIVEIRA, J. L. M. de. Teologia da vocação, 1999, p.26. 54
Cf. Ibid.
II CAPÍTULO
2. A SANTIDADE NA TRADIÇÃO DA IGREJA
2.1. ESTADO DE PERFEIÇÃO NA VIDA CRISTÃ, SEGUNDO SANTO
AGOSTINHO E SÃO TOMAS DE AQUINO.
Santo Agostinho em seus argumentos, dizia que fomos chamados por Deus
para sermos, por sua graça santos. E não que Deus nos chamou à santidade porque
previu que seríamos santos55.
Portanto, não porque seríamos, mas para sermos. Assim, pois, isto é certo e evidente: seríamos santos e irrepreensíveis pelo fato de nos escolher, predestinando-nos para sermos pela sua graça. Por isso, nos abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo. Nele ele nos escolheu antes a fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo. Prestai atenção ao que acrescenta em seguida: conforme a decisão de sua vontade, para que em tão sublime dom da graça, não nos gloriássemos como se fosse obra de nossa vontade.
56
No entanto, somos chamados ao estado de perfeição, dentro da nossa
liberdade. São Tomás busca definir, em que consiste o estado de perfeição ao qual
somos chamados. Para São Tomás “estado”, significa à condição de liberdade ou de
servitude. Na dimensão espiritual essa liberdade ou servitude tem dupla luz: quanto
à ação interna e quanto à externa. ‘ O homem vê o que está evidente, mas o Senhor
olha para o coração’. Com isso, Tomás afirma que “é da disposição interior do
homem, que resulta a condição espiritual do seu estado, relativamente ao juízo
divino”. Dos seus atos externos, diz ele, “resulta o seu estado espiritual. 57
São Tomás, ao falar do estado de perfeição em geral, afirma que a perfeição
da vida cristã, a vida de santidade, se funda especialmente na caridade. Assegura
55
Santo Agostinho afirma isso em combate aos pelagianos que argumentavam que Deus sabia de antemão os que
se santificariam e permaneceriam sem pecado pelo uso de sua liberdade. Por isso escolheu-os antes da criação do
mundo em sua presciência, mediante a qual previu que seriam santos. Portanto, escolheu-os antes que o fossem,
predestinando como seus filhos aqueles que sabia em sua presciência que seriam santos e irrepreensíveis. Mas
não foi ele que os fez santos e irrepreensíveis, e nem os faria, mas apenas previu que o seriam. AGOTINHO,
Santo, Bispo de Hipona, A Graça (II); tradução Agustinho Belmonte. São Paulo: Paulus, 1999. p.196-197. 56
AGOTINHO, Santo, Bispo de Hipona, A Graça (II); tradução Agustinho Belmonte. São Paulo: Paulus, 1999.
p.196-197. 57
Cf. AQUINO, Tomas de. Suma Teológica. Tradução de Alexandre Corrêa. 2 Ed. Caxias do Sul: Livraria
Julina, 1980. p. 3370.
que um ser é considerado perfeito quando atinge o fim próprio, que é a sua última
perfeição. Diz ainda que:
Ora, pela caridade nós nos unimos a Deus, fim último da alma humana, pois, aquele que permanece na caridade permanece em Deus, como diz a Escritura. Logo, é especialmente na caridade que se funda a perfeição da vida cristã.
58
Entretanto, São Fulgêncio afirma que a “caridade é a fonte de todos os bens.
Quem caminha na caridade não pode errar nem temer”. 59 Ressalta ainda, alguns
benefícios da caridade: dirige, protege, leva a bom termo. O autor exorta aos irmãos
dizendo: “Já que Cristo nos deu a escada da caridade, pela qual todo cristão pode
subir ao céu, conservai fielmente a caridade verdadeira, exercitai-a uns para com os
outros e, subindo por ela, progredi sempre mais no caminho da perfeição”. 60
No entanto, é pela caridade que nossa alma se une a Deus, ou seja, o dom da
caridade leva os homens à comunhão com Deus.61
Diante da questão: será que podemos ser perfeitos nesta vida? São Tomás
mencionando uma frase de Aristóteles, define o perfeito, como aquilo a que nada
falta. E afirma, “Ora, ninguém há nesta vida a quem não falte alguma coisa,
conforme a Escritura, todos nós tropeçamos em muitas coisas”. Mencionando outro
texto bíblico, Tomás afirma: “Os teus olhos me viram quando era imperfeito. Logo,
ninguém é perfeito nesta vida”62.
São Tomás alega que o nosso amor ao próximo é imperfeito, logo, parece
que ninguém pode ser perfeito nesta vida. Mas em seguida, trazendo presente o
texto evangélico que diz: “Sede perfeito como também o vosso Pai Celestial é
perfeito”, afirma: “Logo, parece possível sermos perfeitos nesta vida”. 63 Com isso
distingue três formas de perfeição:
58
AQUINO, Tomas de. Suma Teológica. Tradução de Alexandre Corrêa. 2 Ed. Caxias do Sul: Livraria Julina,
1980. p.3364-3365. 59
Cf. Dos Sermões de São Fulgêncio de Ruspe, bispo. Liturgia das Horas. Vol I. Rio de Janeiro: Editora Vozes,
1995. p.1083. 60
Ibid. 61
Cf. Dos Sermões de São Fulgêncio de Ruspe, bispo. Liturgia das Horas. Vol I. Rio de Janeiro: Editora Vozes,
1995.p.83. 62
Cf. AQUINO, Tomas de. Suma Teológica. Tradução de Alexandre Corrêa. 2 Ed. Caxias do Sul: Livraria
Julina, 1980. p. 3365. 63
Cf. AQUINO, Tomas de. Suma Teológica. Tradução de Alexandre Corrêa. 2 Ed. Caxias do Sul: Livraria
Julina, 1980. p. 3366.
Uma absoluta, fundada numa totalidade, não só por parte do amante, mas também por parte do ser amado, i. é, a pela qual Deus é amado tanto quanto é amável. Ora, essa perfeição a nenhuma criatura é possível, mas cabe só a Deus, que é o bem integral e essencial. Outra é a perfeição fundada na totalidade absoluta por parte de quem ama; i. é, quando é o seu afeto, com todas as suas forças,tende sempre e atualmente para Deus. E essa perfeição não é possível nesta vida, mas haverá na pátria. A terceira é a perfeição não fundada na totalidade por parte do ser amado nem da totalidade por parte do amante, pela qual este buscaria a Deus sempre e atualmente. Mas é a que exclui o movimento do amor que leva para Deus; assim, diz Agostinho, que o veneno da caridade é a cobiça, sendo a perfeição a ausência de toda cobiça.
Ora, essa perfeição podemos tê-la nesta vida.64
São Tomás considera que não existe amor ao próximo sem caridade, “de
modo que não depositemos o nosso afeto, em nada de contrário ao amor do
próximo”. 65 Em relação a esse assunto, Francisco de Sales no Tratado do amor de
Deus, diz que “amar o próximo por caridade é amar a Deus no homem, ou o homem
em Deus; é amar só a Deus por amor dele mesmo, e a criatura por amor de Deus”.66
Sobre a questão: podemos ser perfeitos nesta vida? Efésios narra que Deus
nos escolheu em Jesus Cristo, antes mesmo da criação do mundo, para sermos
santos:
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo. Nele ele nos escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante dele o amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo, conforme a decisão de sua vontade, para louvor e glória de sua
graça com a qual ele nos agraciou no Amado. 67
Enfatiza ainda, que “pelo crescimento do corpo, o homem progride no
atinente à natureza e assim alcança o estado da natureza”. Também pelo
crescimento espiritual interior alcançamos o estado de perfeição”. 68
2.2.CONCÍLIO VATICANO II: TODO O POVO DE DEUS É CHAMADO À
SANTIDADE
64
Ibid. 65
Ibid.,p3367. 66
SALES, Francisco De. Tratado do Amor de Deus. São Paulo: Editora Vozes. 1955. p 527. 67
Ef. 1,3-12. 68 Cf. AQUINO, Tomas de. Suma Teológica. Tradução de Alexandre Corrêa. 2 Ed. Caxias do Sul: Livraria
Julina, 1980. p. 3366.
O Concílio Vaticano II, na Constituição Lumen Gentium, fez uma síntese de
toda a doutrina bíblica da “vocação universal à santidade”, impelindo aos cristãos a
serem santos, como Deus é santo. O documento, dá uma definição de santidade e
afirma que a mesma consiste, “na plenitude da vida cristã e na perfeição da
caridade”. 69 A santidade consiste, sobretudo, em viver a vida centrada em Cristo,
em levar à plenitude a vida de Cristo, que nos foi comunicada pelo Espírito Santo no
batismo, e em praticar os preceitos supremos do amor (Jo 3,5; Tt, 5; 2 Pd 1,4; Mc
12,30; Jo 13,34). 70
Sendo assim, guiados pelo Espírito de Deus, nos diversos gêneros de vida e
nas diferentes profissões, todos cultivam a mesma santidade. Cada um, no Estado
de vida abraçado, “segundo os dons e as funções que lhe foram confiados, deve
enveredar sem hesitação pelo caminho da fé viva, que excita a esperança e opera
pela caridade”. 71
Antes do Concílio a temática das vocações específicas, não era algo claro.
Houve uma época em que havia uma distinção entre estados de vida; a vida
consagrada foi demasiada ressaltada, sendo apresentada como a única forma de
vida perfeita, era considerada como superior, causando assim uma depreciação do
estado de vida leiga.72
No entanto o Concílio Vaticano II foi decisivo, para superar a mentalidade que
foi difusa por muito tempo, de que a santidade é privilégio somente do clero e
religiosos. 73 “A santidade não é um privilégio desse ou daquele grupo, dessa ou
daquela classe, mas em imperativo, dirigido a todas as pessoas: ‘Sejam santos,
porque eu, Javé, o Deus de vocês, sou santo’ (Lv 19,2)”.74 Neste sentido, isso não
deve ser mal entendido.
A igualdade, na qual o Concílio insiste, em relação os gêneros de vida, não
significa nivelamento das vocações. Não se pode negar as diferenças. 75 “Isso
mostra que é necessário, em vista do conjunto das propostas conciliares, entender
que o chamado divino é único à santidade e manifesta-se de diversas maneiras”. 76
69
Cf. ALDAY S. C. O Espírito Santo em nossa vida, 1991, p.13. 70
Cf. Ibid. 71
Cf. Lumen Gentium n.41. 72
Cf. OLIVEIRA, J. L. M. de. Nossa resposta ao amor, 2001.p.11. 73
Cf. RODRÍGUEZ A. A., CASAS J. C., Dicionário Teológico da vida consagrada, 1994, p.1166. 74
OLIVEIRA, J. L. M. de. Evangelho da Vocação: Dimensão vocacional da evangelização, 2003, p.66. 75
Cf. OLIVEIRA, J. L. M. de. Nossa resposta ao amor, 2001.p.46. 76
OLIVEIRA, J.L.M.de. Nossa resposta ao amor, 2001.p.46.
Manifesta-se dentro daquilo que somos e daquilo que temos a obrigação de realizar,
isto é, a santidade acontece “no assumir concretamente, a forma de vida para qual
fomos chamados pelo Senhor”. 77
O Pós Concílio, fez com que os leigos adquirissem uma configuração
teológica própria. Os fiéis passaram a serem considerados não mais em relação ao
fato institucional, e sim, em relação a Cristo. Como afirma o documento Lumen
Gentium, “passou a ser qualificado por sua participação na missão de Cristo”.
Segundo o documento, todo batizado é chamado à santidade.78
2.2.1.TODOS OS BATIZADOS SÃO CHAMADOS À SANTIDADE.
O título de todo batizado, antes de tudo, é o de ser cristão. No entanto, é
necessário ajudar os cristãos a se conscientizarem de que são chamados a serem
santos: “Todos os que, movidos pelo Espírito de Deus, obedecem à voz do Pai e O
adoram, em espírito e verdade, cultivam, nos vários gêneros de vida e ofícios uma
única santidade”(LG,41).79
O Concílio Vaticano II preocupou-se em insistir “sobre a importância da
vocação à santidade, para o povo de Deus”80, levando-os a uma nova compreensão,
afirmando que: “Esta vocação baseia-se na iniciação batismal, que introduz o cristão
na própria vida de Cristo, e exige dos membros do Corpo, uma vida conforme a da
cabeça”. 81
A dignidade fundamental da vida cristã provém do batismo, e não de um
estado específico de vida ou de outro, como por equivoco, às vezes se entende. Não
podemos sobrepor as vocações específicas à vocação fontal, reduzindo o chamado
à santidade universal, a privilégio ou exclusividade, deste ou daquele modo de viver
o Batismo. 82
O batizado é designado por Deus a uma vocação específica, essa por sua
vez, é um meio concreto que a pessoa encontra para viver o chamado universal à
santidade. Portanto, para que as pessoas busquem descobrir e assumir a própria
77
Cf. Ibid. 78
Cf.SECONDIN B., GOFFI T. Curso de Espiritualidade, 1994, p.394. 79
Cf. OLIVEIRA, J.L.M.de. Evangelho da Vocação: Dimensão vocacional da evangelização, 2003, p.66. 80
MATELET G. Santidade da Igreja e da Vida Religiosa, 1968, p.09. 81
Ibid. 82
Cf. Convergência, Revista mensal da conferência dos religiosos do Brasil – CRB, TEIXEIRA, V. A. R.
Vocação à santidade: dom, compromisso e profecia, Ano XLIV – n 420 – abril, 2009, p.236.
vocação, é necessário que tenham consciência que sua vocação é o caminho para a
santidade.
“O cristão, pela sua fé, penetra na esfera da santidade, através da palavra e,
sobretudo, através do batismo (Ef 5,26), tornando-se, assim, alguém separado para
Deus (Ef 1,1), cuja glória nele resplandece (2 Cor 3,18)”. 83 Como vemos no AT
“todo povo foi escolhido por Deus, o Santo (Is 1,4), e é incluído nesse processo de
santificação (Lev 20,26), ao qual pertence todo aquele que foi inscrito no livro da
vida (Is 4,3)”. 84
2.2.2. CORRESPONDENCIA AO DOM DA SANTIDADE
A santidade não é para o cristão uma posse pacífica, pois ele é inserido
dentro da dinâmica da mesma. 85 A pessoa vai crescendo gradualmente, no
caminho de santidade, segundo a sua correspondência a graça.
A santidade é, por conseguinte, vocação de cada homem, como desenvolvimento de um germe já inserido indestrutivelmente na humanidade global. E como cada personalidade pode atingir seu próprio grau de desenvolvimento, segundo suas possibilidades originárias, assim ocorre também no âmbito espiritual: cada homem atinge aquele grau de participação na santidade de Deus que lhe é possível atingir, utilizando os instrumentos colocados à disposição (catequese, sacramentos, ascese
etc.)86
Por outro lado, em alguns textos do NT, em geral, se fala da santificação na
voz passiva, porque no conceito cristão não existe auto-santificarão. A santidade só
acontece a partir do momento em que somos “chamados”, “escolhidos” por Deus. 87
Os cristãos são eleitos por Deus, para serem santos segundo a santidade divina:
A santidade dos cristãos, que tem sua origem na eleição de Deus (Rm 1,7; 1Cor 1,2), exige deles rompimento com o pecado e com os costumes dos pagãos (Ts 4,3), tem de ser realizada eticamente numa vida santa, vivida segundo o imperativo: “Sede santos porque eu sou santo” (Lv 11,44s; 17,1; 19,2; 20,7. 26; cf. 1Pd1, 16; 1Jo 3,3). Os cristãos devem proceder nas suas vidas ‘segundo a santidade e a pureza que vêm de Deus e não segundo
83
BAUER J. B. Dicionário de Teologia bíblica, 1988, p. 1054. 84
Ibid., p. 1051. 85
Cf. Ibid., p. 1054. 86
SECONDIN B., GOFFI T., Curso de Espiritualidade, 1994, p.527 87
Cf.1Cor 1,2; Rm 1,7; 1Cor1,24; Cl3,12.
uma sabedoria carnal’ (2Cor 1,12; cf. 1Cor 6,9ss.; Ef 4,17-6,9; Tt 3,4-7; Rm
6,19). 88
Portanto, Deus é “santo”, e deseja que todo o seu povo eleito seja santo:
“Sede santo, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Lv 19,1). Este imperativo
se intensifica quando é assumido como convite à realização humana, pois toda
vocação se consolida na função entre a iniciativa gratuita de Deus e a adesão
consciente e livre do ser humano: “Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir”
(Jr 20,7). A tradição bíblica, chamou essa participação na santidade divina, de
consagração ou pertença. 89
A tradição bíblica revela que o ser humano amadurece como pessoa, na
medida em que se abre ao dinamismo do amor divino, testemunhando, assim, sua
perene vocação à santidade. 90 Em outras palavras a grande vocação à qual, todos
são chamados, consiste em imitar a forma de ser e agir de Deus.
O caráter dinâmico da vocação consiste no chamado ‘a santidade, isto é: à maturidade e plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade (1Cor 13,11; Rm 12,9-16; Hb 5,11ss) como algo que pode e deve ser alcançado, passo após passo. A grande vocação, que confere rumo e valor a todas as vocações, consiste em agir e ser como o Pai age e é: santo (Lv19, 2), perfeito (Mt 5,48), misericordioso (Lc6, 36). Deus é santo porque ama e acolhe as pessoas, especialmente os pequenos e excluídos (Is41, 14). A pessoa humana é chamada a participar da santidade divina (1Pd 1,5-16; 2,9-10). A santidade, como aperfeiçoamento progressivo no amor (Ef 1,4),
pede um contínuo crescimento. 91
A santidade é algo a ser cultivado na vivencia dos deveres assumidos, no
que condiz ao estado de vida abraçado, em outras palavras, no engajamento
concreto, nas realidades ditas temporais. 92 João Paulo II faz emergir está realidade
em vários de seus escritos, quando exortando a todos os cristãos para que
busquem a santidade, relembra que a mesma não se vive no extraordinário, mas
sim, no ordinário da vida cotidiana.93
88
BARREIRO. A., Povo Santo e Pecador, 2001, p.90. 89
Cf. Convergência, Revista mensal da conferência dos religiosos do Brasil – CRB, TEIXEIRA, V. A. R.
Vocação à santidade: dom, compromisso e profecia, Ano XLIV – n 420 – abril, 2009, p.227. 90
Cf. Ibid. 91
TOMASI, F. L. M. de, Ouro testado no fogo: acompanhamento psicoespiritual entre mistério e
seguimento, 2007, p.30. 92
Cf. OLIVEIRA, J. L. M. de. Nossa resposta ao amor, 2001.p.49. 93
Cf. JOÃO PAULO II. Alucução do Angelus A santificação dos leigos 04/10/1987 L’ Osservatore Romano
11/10/1987 p. 15 (519).
III CAPÍTULO
3. A VOCAÇÃO À SANTIDADE NOS ESCRITOS DO PAPA JOÃO PAULO II
3.1. SANTIDADE DE TODOS OS CRISTÃOS EM GERAL
João Paulo II não fez um tratado sobre a temática da santidade, mas
podemos comprovar na leitura de seus escritos, que ele sempre faz alusão à
santidade. Aponta como ponto de referência no caminho de santidade, Jesus
Cristo94, “Cristo é o homem perfeito, e a vida cristã procura alcançar nele, a plena
estatura do homem, criado à imagem de Deus e recriado para a salvação na
perfeição do amor”. 95
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6). Com estas palavras,
Jesus mostra-se como o único caminho que conduz à santidade96. “É modelo a ser
imitado”. 97 O próprio Jesus nos ensina que o núcleo da santidade é o amor, um
amor que dá a vida pelos demais (Jo 15,13). A santidade, afirma o Papa, baseia-se
no mandamento do amor. “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros,
como eu vos amo” (Jo 10,12). “Se guardardes os Meus mandamentos,
permanecereis no Meu amor, como também Eu guardei os mandamentos do Meu
Pai e permaneço no Seu amor”. (Jo10, 10). 98
Declara o Papa, que o único conhecimento concreto do itinerário da santidade
se dá mediante a Palavra de Deus. 99 E, que quando Jesus diz “Eu sou o caminho, a
verdade e a vida ( Jo 14,6)”, mostra-se como o único caminho que conduz à
santidade. Deus desde o princípio comunica a todos, uma vocação essencial.
Em particular, o Espírito revela-nos e nos comunica a vocação fundamental que o Pai desde a eternidade dirige a todos: a vocação a ser ‘santo e
94
Cf. JOÃO PAULO II. Catequese do Papa sobre santidade cristã Tradução Mirticele Medeiros 13/04/11.
Disponível em: http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=281260. Acesso em:15/07/12. 95
JOÃO PAULO II. Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para leigos:A Igreja tem necessidade de
leigos santos.L’Osservatore Romano 22/06/1986. p. 03. 96
Cf. Exortação Apostólica, Ecclesia in América,1999. N. 31. 97
JOÃO PAULO II.Catequese do Papa sobre santidade cristã Tradução Mirticele Medeiros 13/04/11.
Disponível em: http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=281260. Acesso em: 15/07/12. 98
Cf. JOÃO PAULO II. Santa Missa da beatificação em Cracóvia. L’Osservatore Romano. 10/07/1983. p. 06
n. 338. 99
Cf. Exortação Apostólica, Ecclesia in América,1999. N. 30.
imaculados na sua presença na caridade’, em virtude da predestinação para
‘sermos seus filhos adotivos por obra de Jesus Cristo’ ( Ef 1, 4-5).100
O Papa ao dirigir-se aos cristãos alega que o dom da santidade, de forma
objetiva é oferecida a todo batizado, com efeito, diz: esse dom gera um dever, que
há de moldar toda a existência cristã: “Esta é a vontade de Deus: a vossa
santificação” ( 1 Ts 4,3)101.
A santidade comporta uma novidade de vida que, a partir de uma profunda intimidade com Deus por meio de Cristo, no Espírito, penetra todas as situações humanas, todos os estilos de vida, todos os empenhamentos,
todas as relações com as coisas, com os homens, com Deus”.102
Exorta ainda, que a “santidade é um aspecto intrínseco e essencial da Igreja:
é através da santidade que tanto os indivíduos, como as comunidades em geral, se
configuram com Cristo”.103
Fazendo alusão a Lumen Gentium, afirma: que “a santidade é um
compromisso que diz respeito a todos os cristãos, “a vossa primeira solicitude seja a
inclinação para a santidade, que é a vocação universal de todos os cristãos”104
Independente do estado de vida abraçado; “os caminhos da santidade são variados
e apropriados à vocação de cada um”,105 todos são chamados à plenitude da vida
cristã e a perfeição da caridade.106 A santidade do homem sobre a terra, está
baseada na caridade.107 “A caridade autêntica, brota de uma comunhão constante
com Deus e alimenta-se na oração”.108
No entanto, o Papa se pergunta o que é ser santo, quem é chamado a ser
santo? E alerta, que muitas vezes somos levados a pensar que a santidade seja
uma meta reservada a alguns escolhidos. E nos recorda, que São Paulo fala do
100
Pastores Dabo Vobis, n.19. 101
Cf. Carta Apostólica Novo Milennio Ineunte. N.30 102
JOÃO PAULO II. Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para leigos:A Igreja tem necessidade de
leigos santos.L’Osservatore Romano 22/06/1986. p. 03. 103
Cf.JOÃO PAULO II. Discurso aos Prelados da conferência Episcopal da Escócia. L’Osservatore Romano.
15/03/2003. p. 2 (150). 104
JOÃO PAULO II. À Consulta da Ordem Equestre do Santo Sepulcro, reunida em Roma. L’Osservatore
Romano. 6/12/ 2003. p.4 (664). 105
Carta Apostólica Novo Milennio Ineunte. N.31. 106
Ibid. N.30. 107
Cf. JOÃO PAULO II. Visita Pastoral na Diocese de Roma. L’Osservatore Romano. 6 de Fevereiro de 1983.
p.8, n.64. 108
JOÃO PAULO II.Canonização de Maria De Mattias e Virgínia Centurione Bracelli. L’Osservatore
Romano.24 de Maio de 2003. p. 10, n.21.
grande projeto de Deus e afirma: “Nele, Cristo, Deus nos escolheu antes da criação
do mundo, para sermos santos e imaculados diante dEle ,na caridade” (Ef 1,4).109
Contudo, declara que a santidade não é privilégio de um grupo, nem é
reservada a estados de vida particular, ainda que, segundo ele, alguns estados a
favoreçam, mas é, sobretudo, uma graça dispensada a todos os batizados. 110
3.2. SANTIDADE DOS FIÉIS LEIGOS
João Paulo II em uma ocasião falou aos leigos com essas palavras:
Os leigos participam da caminhada da Igreja para a santidade. Por esta razão, apreciei muito a escolha do tema da vossa Assembléia plenária: “chamados à santidade para a transformação do mundo”. Não separais este apelo e esta missão. A Igreja tem necessidade de cristãos leigos santos. Sim, mais do que “reformadores”, ela tem necessidade de santos, porque os santos são os reformadores autênticos e os mais fecundos.Cada grande período de renovação da Igreja está ligado a importantes testemunhos de santidade, a movimentos de santidade. Se não procurarmos, a atualização conciliar será um engodo. Mas a convicção que devemos partilhar e difundir, é a de que o apelo à santidade é dirigido a todos os cristãos (LG cap. V).
111
Ainda referindo-se ao fiel leigo afirma, que sua dignidade se revela em
plenitude quando se considera a primeira e fundamental vocação, que o Pai em
Jesus Cristo, por meio do Espírito Santo, dirige a cada um deles: a vocação à
santidade, isto é, à perfeição da caridade. “O santo é o testemunho mais esplêndido
da dignidade conferida ao discípulo de Cristo”.112
Em outra ocasião, constata que “O santo é o homem verdadeiro, cujo
testemunho de vida persuade, interpela e atrai, porque manifesta uma experiência
humana transparente, impregnada da presença de Cristo”.113 “Nenhuma condição,
nem idade alguma, são obstáculo para uma vida perfeita”.114 Para ser testemunha
autêntica de Jesus Cristo, todo cristão deve buscar constantemente a santidade.
109
Cf. JOÃO PAULO II.Catequese do Papa sobre santidade cristã Tradução Mirticele Medeiros 13/04/11.
Disponivel em: http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=281260. Acesso em:15/07/12. 110
Cf. JOÃO PAULO II. Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para leigos:A Igreja tem necessidade de
leigos santos.L’Osservatore Romano 22/06/1986. p. 03. 111
Ibid. 112
Cf. Exort. Ap. pós- sinodal Christifideles Laici. N.6. 113
JOÃO PAULO II. Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para leigos:A Igreja tem necessidade de
leigos santos.L’Osservatore Romano 22/06/1986. p. 03. 114
JOÃO PAULO II.Durante o rito de Canonização de Quatro Beatos italianos e polacos. L’Osservatore Romano. 24/05/2003. p.8 n.21.
A santidade tem suas raízes no Batismo e volta a ser proposta pelos vários
sacramentos, e em especial pelo sacramento da Eucaristia: revestidos de Jesus
Cristo, e impregnados por seu Espírito, os cristãos são “santos” e, por isso, são
habilitados e empenhados em manifestar a santidade do seu ser na santidade de
todo o seu operar.115 A maior missão dos leigos é fundamentalmente, a santificação
do mundo, que perpassa pela experiência pessoal, ao serviço da restauração do
mundo.116
A vocação dos Fiéis leigos à santidade permita que a vida no Espírito se
revele de forma peculiar na sua inserção nas realidades temporais e na sua
participação nas atividades terrenas.117
Queria hoje recordar sobretudo as figuras excelsas de crentes que, vivendo no coração do mundo, nas ordinárias condições da vida familiar e social, conduzem uma existência toda entremeada de fé, ordenando segundo Deus as próprias realidades temporais. Quantas mães e quantos pais de família, por exemplo, guiados pelo Espírito na sua fidelidade à vocação sobrenatural de cristãos, souberam plasmar a sua vida quotidiana de acordo com modelos heróicos de virtude. Respondendo no pensamento e nas ações, com empenho constante, aos impulsos da graça, eles puderam alcançar, às vezes com vigor excepcional, cimos sublimes de bondade e de santidade. Tais exemplos confirmam-nos que todo leigo, embora se aplique – segundo o próprio estado – nas coisas do mundo, pode ser cristão em
sentido pleno, isto é, santo.118
O conceito de santidade, “não deve ser considerado como algo de
extraordinário, como uma coisa que ultrapassa os confins da normalidade da vida
cotidiana” 119. Deus nos chama para viver uma existência santa, nas circunstâncias
comuns onde nos encontramos: no nosso trabalho, em casa, na escola, nos lugares
de lazer120. O essencial não é o que se faz, mas como se faz. “A santidade, de fato,
consiste precisamente no amor, no verdadeiro amor”.121
115
Cf.Exort. Ap. pós- sinodal Christifideles Laici. N.16. 116
Cf.JOÃO PAULO II.Discurso aos leigos em Lisboa, Portugal ( 12/05/1982),2: L’Osservatore Romano, 16/05/1982. 117
Cf.Exort. Ap. pós- sinodal Christifideles Laici. N.17. 118
JOÃO PAULO II. Alucução do Angelus: A santificação dos leigos. 04/10/1987. L’ Osservatore Romano 11/10/1987 p. 15 (519). 119
JOÃO PAULO II. Discurso aos Prelados da conferência Episcopal da Escócia. L’Osservatore Romano. 15 de Março de 2003. Pág. 2 (150). 120
Cf. ibid. 121
JOÃO PAULO II. Visita Pastoral na Diocese de Roma. L’Osservatore Romano. 6/02/1983. p..8, n.64.
A exortação feita aos leigos, que olhem para suas atividades da vida
cotidiana, como uma ocasião de união com Deus e de cumprimento da sua
vontade.122 A santidade consiste em realizar em tudo a vontade de Deus.
É exatamente a alegria de fazer a vontade de Deus. Esta alegria vem experimentada pelo homem por meio de um constante trabalho sobre si mesmo, mediante a fidelidade à lei Divina, aos mandamentos do Evangelho.
É também não sem as renúncias.123
Um convite a abrir-se a ação do Espírito Santo124. “Sendo Ele o dispensador
recôndito da santidade do homem, da sua união com Deus”125, recorda também que
o mesmo transforma a nossa vida, “para ser também nós como fragmento do grande
mosaico de santidade, que Deus vai criando na história, a fim que a face de Cristo
esplenda, na plenitude do seu fulgor”.126
“O leigo santifica-se procurando o Reino de Deus” 127e é chamado a efetuar
sua santificação, dentro das tarefas terrenas que lhe são confiadas, sem se afastar
do mundo para servir a Deus. 128 A seguir indica como o leigo pode santificar-se:
Compenetrando de profundo sentido religioso os próprios deveres, quase descobrindo dia após dia, de momento a momento, a presença do Espírito de Deus que, assim como enche o universo, de igual modo guia a sua alma. O leigo é chamado à santificar-se aceitando corresponder a esta interna ação
do Espírito, e permanecendo aquilo que ele é, homem entre os homens.129
122
.Cf. Exort. Ap. pós- sinodal Christifideles Laici. N.17 123
JOÃO PAULO II. Discurso aos fiéis da Paróquia São José de Roma. ( 18/01/1981), 4: L’Osservatore Romano, 01/02/1981. 124
Cf. JOÃO PAULO II.Catequese do Papa sobre santidade cristã Tradução Mirticele Medeiros 13/04/11.
Disponível em: http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=281260. Acesso em: 15/07/12. 125
JOÃO PAULO II. Abertura do Ano Mariano: É o Espírito Santo o artífice da vida nova e o dispensador da
santidade a todos os homens. L’Osservatore Romano,14/06/ 1987 p.03. 126
JOÃO PAULO II.Catequese do Papa sobre santidade cristã Tradução Mirticele Medeiros 13/04/11.
Disponível em: http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=281260. Acesso em: 15/07/12. 127
JOÃO PAULO II.Alucução do Angelus A santificação dos leigos 04/10/1987 L’ Osservatore Romano 11/10/1987 p. 15 (519) 128
Cf.JOÃO PAULO II.Alucução do Angelus A santificação dos leigos 04/10/1987 L’ Osservatore Romano 11/10/1987 p. 15 (519). 129
JOÃO PAULO II.Alucução do Angelus A santificação dos leigos 04/10/1987 L’ Osservatore Romano 11/10/1987 p. 15 (519).
Uma vida santa não é fruto do nosso esforço, das nossas ações, “porque é
Deus, o três vezes Santo que nos faz santos, é a ação do Espírito Santo que nos
anima, a partir de dentro, é a mesma vida de Cristo Ressuscitado que nos é
comunicada e que nos transforma”.130
3.3. SANTIDADE DOS BISPOS E SACERDOTES
Para ilustrar a imagem do Bispo, como alguém muito próximo de Deus, e o
pastor que guia o povo, o papa usa uma imagem bíblica, da figura de Moisés.
Tal como Moisés que, depois do colóquio com o Senhor na montanha santa, voltou para o meio do seu povo com o rosto resplandecente (cf. Ex 34, 29- 30), assim também o Bispo só poderá mostrar entre os seus irmãos os sinais de ser pai, irmão e amigo, se tiver entrado na nuvem obscura e luminosa do
mistério do Pai, do Filho e do Espírito Santo.131
Evidencia a importância do empenho espiritual na vida, no ministério e no
caminho do Bispo e a urgência de um testemunho de santidade.132 Os Bispos, como
pastores de almas, jamais devem ceder ao desânimo, em seus esforços destinados
a orientar toda a vida cristã e toda a comunidade cristã, cada vez mais ao longo do
caminho da santidade.133
Afirma aos Bispos que o seu “ministério de santificação, tem por objetivo a
santidade do Povo de Deus, que é dom da graça divina e manifestação do primado
de Deus, na vida da Igreja”. Salienta ainda, que tal “ministério, deve fomentar
incansavelmente, uma verdadeira e própria pastoral e pedagogia da santidade".134
130
JOÃO PAULO II.Catequese do Papa sobre santidade cristã Tradução Mirticele Medeiros 13/04/11.
Disponível em: http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=281260. Acesso em: 15/07/12. 131
JOÃO PAULO II. Exort. Apost. Pós-Sinodal PASTORES GREGIS. N.12. Disponível em:
http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_exhortations/documents/hf_jp-
ii_exh_20031016_pastores-gregis_po.html. Acesso em: 15/07/12. 132
Cf. Ibid.,n.12. 133
Cf. JOÃO PAULO II. Discurso aos Prelados da conferência Episcopal da Escócia. L’Osservatore
Romano.
15 /05/ 2003. p. 2 (150). 134
JOÃO PAULO II. Exort. Apost. Pós-Sinodal PASTORES GREGIS. Disponível em:
http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_exhortations/documents/hf_jp-
ii_exh_20031016_pastores-gregis_po.html. Acesso em: 15/07/12.
Todos são chamados à santidade, sacerdotes, religiosos e leigos. “...É preciso que nós, Pastores, tenhamos esta ambição da santidade para todo o povo que nós é confiado. A promoção autêntica dos homens e mulheres realiza-se nesta santidade que impregna a vida de todos os dias, a exemplo da Virgem Maria, que soube conformar-se em Deus na perfeição da fé e da caridade.
135
João Paulo II com todo ardor de pastor da Igreja propõe aos sacerdotes um
projeto de santidade sacerdotal.
Desejo hoje confirmar-vos, fortificar-vos, radicar-vos cada vez mais a fundo naquela sagrada realidade, que constitui o ser do sacerdote. Como Jesus, bato à porta do vosso coração, amadíssimos Irmãos, e com toda força da persuasão de que sou capaz, digo a cada um: sacerdote, sê aquilo que és; sem restrições, sem subterfúgios, sem compromissos diante de Deus e da tua consciência; antes de tudo. O que és por dom gratuito na ordem da graça, sê- o na estrutura da tua personalidade, no modo de pensar e de amar. Tem sempre e claramente a coragem da verdade do teu sacerdócio. Nenhuma sombra ofusque a luz que está em ti. Nenhum desvio te afaste da estrutura da tua sacralidade. Nenhum sinal de morte detenha a circulação da vida, de
que és depositário.136
No mesmo discurso, revela seu desejo de que todos os sacerdotes, fizessem
próprias as palavras do Apóstolo Paulo, quando diz: “Somos e sentimo-nos
verdadeiramente homens de Deus e seus colaboradores!” (1 Cor 3,9). E exorta
dizendo que “a coragem da santidade do ser, comporta a coragem da santidade do
viver”137
A menção à Constituição Lumen Gentium, declara que de modo especial os
presbíteros são chamados não só enquanto batizados, mas especialmente enquanto
presbíteros, à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Os sacerdotes têm
a obrigação de buscar a perfeição, pelo fato de serem consagrados de forma
particular a Deus, pelo sacramento da Ordem, que os torna instrumentos vivos do
sacerdócio eterno de Cristo.138
Ainda no mesmo contexto, diz que a maior ou menor santidade do ministro
influi sobre o anúncio da Palavra, a celebração dos sacramentos, e a condução da
135
JOÃO PAULO II. Audiência aos bispos: A promação autêntica dos homens e mulheres realiza-se na
santidade que impregna a vida de todos os dias. L’Osservatore Romano 29 /11/1987. p. 09 136
JOÃO PAULO II. Aos sacerdotes, aos religiosos e aos seminaristas na Catedral de Palermo.
L’Osservatore Romano. 28/11/1982. p. 7-8 (635). 137
Ibid. 138
Cf. Pastores Dabo Vobis, n.20.
comunidade, na caridade. O dom da graça que o sacerdote oferece à Igreja, torna-
se nele princípio da santidade e apelo de santificação.139
João Paulo II define o que é a santidade sacerdotal com essas palavras:
A santidade é intimidade com Deus, é imitação de Cristo pobre, casto e humilde; é amor sem reserva às almas e entrega pelo seu próprio bem; é amor à Igreja que é santa e nos quer santos, porque assim é a missão que Cristo lhe confiou. Cada um de vós deve ser santo também para ajudar os
irmãos a seguir a sua vocação à santidade.140
Durante o retiro que os sacerdotes fizeram, meditaram sobre a vocação
sacerdotal com particular chamado à santidade. Lembra-os que este tema é muito
importante e atual, que o mundo de hoje necessita de sacerdotes, de muitos
sacerdotes, mas sobretudo, de sacerdotes santos.141
“Os seguidores de Cristo, chamados por Deus, não segundo as suas obras,
mas segundo o desígnio da sua graça, foram feitos verdadeiramente filhos de Deus
e co participantes da natureza divina, e por isso, realmente Santos”. 142 Afirma
também:
Portanto, devem com a ajuda de Deus, manter isto na vida deles e aperfeiçoar a
santidade que receberam (ibid., 40). A santidade tem, portanto, a sua raiz ultima
na graça batismal, no ser nutrido no Mistério pascal de Cristo, com o qual nos
vem comunicado o seu Espírito, a sua vida de Ressuscitado.143
3.4. A Santidade dos Religiosos e Consagrados
Ao referir-se aos religiosos, faz a consideração que a santidade é também um
caminho de perfeição.
139
Cf. Ibid., n.26. 140
Pastores Dabo Vobis, n.33. 141
Cf. JOÃO PAULO II. Homilia a 5.000 sacerdotes ( 9 de outubro de 1984): Insegmenti, VIII/2 ( 1984) 839.
Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/homilies/1984/index_po.htm. Acesso
em:30/06/2012. 142
Cf. JOÃO PAULO II. Catequese do Papa sobre santidade cristã Tradução Mirticele Medeiros 13/04/11.
Disponível em: http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=281260. Acesso em: 15/07/12. 143
Ibid.
Este caminho também é chamado caminho da perfeição. Conversando com o
jovem, Cristo diz: «Se queres ser perfeito ...»; de tal maneira que o conceito
de «caminho da perfeição» tem a sua razão de ser na fonte do próprio
Evangelho. Não ouvimos nós, de resto, no Sermão da Montanha: «Sede,
pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celeste»? O chamamento do
homem à perfeição foi pressentido, de alguma maneira, pelos pensadores e
moralistas do mundo antigo e também sucessivamente, nas diversas épocas
da história. O chamamento bíblico, porém, reveste-se de uma sua
característica absolutamente original, e apresenta-se particularmente
exigente, quando aponta ao homem a perfeição à semelhança do próprio
Deus. Sob esta forma, precisamente, o chamamento corresponde a toda a
lógica interna da Revelação, segundo a qual o homem foi criado à imagem e
semelhança do próprio Deus. Por conseguinte, deve buscar a perfeição que
lhe é própria na linha desta imagem e semelhança. Escreverá São Paulo na
Carta aos Efésios: «Sede, pois, imitadores de Deus, como convém a filhos
muito amados; caminhai na caridade a exemplo de Cristo, que nos amou e
por nós se entregou a si mesmo a Deus, como oferenda e sacrifício de
agradável odor». 144
Hoje mais que nunca, é necessário um renovado empenho de santidade,
“para favorecer e apoiar a tensão de todo cristão para a perfeição”.145 Fala de uma
renovação na vida religiosa, lembrando que, “a mesma se renova para se tornar
caminho de santidade”.146 “O fato de todos serem chamados a tornar-se santos, não
pode senão, estimular ainda mais aqueles que, pela própria opção de vida que
fizeram, têm a missão de recordar aos outros”.147
Por fim, conclui dizendo que o trabalho que os sacerdotes, diáconos,
religiosos, religiosas, e fiéis leigos realizam em todos os setores, dentro da
144
João Paulo II. Exot. Apost. Redemptionis Donum. N.04 – Disponível
em:ttp://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_exhortations/documents/hf_jp-
ii_exh_25031984_redemptionis-donum_po.html. Acesso em: 30/06/2012
145 Exot. Apost. Pós-sinodal Vita Consecrata. n.39.
146 Texto integral Segundo a CNBB. Todos os pronunciamentos do Papa no Brasil. São Paulo: Edições Loyola.
1980. p.115. 147
Exot. Apost. Pós-sinodal Vita Consecrata. n.39.
sociedade, “representa uma contribuição preciosa para alcançar aquela santidade
de vida, para a qual todos os fiéis são chamados”.148
3.5 O ITINERÁRIO DA SANTIDADE NOS ESCRITOS DE JOÃO PAULO II Assinala Cristo como o único caminho que conduz à santidade.149 “O
conhecimento concreto desse itinerário, se dá mediante a Palavra de Deus”.150 Com
essas palavras João Paulo II, aponta a primeira forma de alcançar à santidade.
3.5.1 A Palavra de Deus
Sem dúvida, é à luz da Palavra de Deus que Jesus se revela e nos impele a
imitá-Lo, numa vida imbuída de sua santidade. “Esse primado da santidade e da
oração, só é concebível com base em uma renovada escuta da palavra de Deus,
quando escutada com abertura de coração e disposição, interpela, orienta, plasma a
existência.151
O Papa alega que a primeira fonte de toda a vida cristã é a Palavra de Deus e
continua:
Ela sustenta um relacionamento pessoal com o Deus vivo e com a sua vontade salvífica e santificadora. Por isso é que a lectio divina [...], foi dita na mais alta consideração. Por meio dela, a Palavra de Deus é transferida para a vida, projetando sobre esta a luz da sapiência, que é dom do Espírito. Embora toda a Sagrada Escritura seja “útil para ensinar” (2Tm 3,16) e “fonte pura e perene da vida espiritual”.
152
A leitura meditada e orante da Palavra de Deus, através do método, Lectio
divina, quando realizada numa atitude de escuta humilde e cheia de amor, é um
elemento essencial da formação espiritual.153 A tradição espiritual ensina que “da
meditação da Palavra de Deus e, em particular, dos mistérios de Cristo, nasce a
intensidade da contemplação e o ardor da ação apostólica [...]”.154
148
JOÃO PAULO II. Discurso aos Prelados da conferência Episcopal da Escócia. L’Osservatore Romano. 15
de Março de 2003. p. 2 (150). 149
Cf. . Exortação Apostólica, Ecclesia in América,1999. N.31. 150
Ibid. 151
Cf. Carta Apostólica Novo Milennio Ineunte. N.39. 152
Exot. Apost. Pós-sinodal Vita Consecrata. n.94. 153
Cf. Exortação Apostólica. Pastores Dabo Vobis, n.47. 154
Exortação Apostólica. Pós-sinodal Vita Consecrata. n.94.
Muitos foram os homens e mulheres de oração que como instrumentos da
vontade de Deus, realizaram grandes obras. Foi em conseqüência da convivência
com a Palavra, que essas pessoas obtiveram a graça do discernimento individual e
comunitário, para perceber nos sinais dos tempos, os caminhos do Senhor.155
Van Thuan afirma a importância de acolher e viver a Palavra de Deus.
Todavia, para que a Palavra de Deus gere e produza todos os seus efeitos, é preciso que a acolhamos e a vivenciemos. Diante do Verbo de Deus que fala e que se comunica, a principal atitude que nos é pedida é a de escuta e acolhida. “Escutai-o”é, justamente, o mandato que o Pai dá aos discípulos no que se refere ao relacionamento com seu Filho. É uma escuta que se dá mais com o coração do que com os ouvidos. De fato, a Palavra produz seus frutos somente quando encontra um terreno fértil, ou seja, quando cai em um “coração bom e perfeito”(cf. Lc 8,15).
156
Adverte que escutar verdadeiramente a Palavra significa obedecê-la. É
preciso deixar que a Palavra trabalhe em nós até que, a mesma, impregne toda a
nossa vida. Ocorre transformá-la em vida, “como nos admoesta são Tiago: ‘Tornai-
vos praticantes da Palavra e não simples ouvintes” (Tg 1,22).157
“A primeira e fundamental forma de resposta à Palavra é a oração, que
representa, sem qualquer sombra de dúvida, um valor e uma exigência primária na
formação espiritual”.158. A oração é o segundo meio o qual o papa indica nesse
itinerário.
3.5.2. A Oração “Para uma pedagogia da santidade, há a necessidade de um cristianismo que
se destaque, principalmente pela arte da oração”.159 A oração é o primeiro dever e
quase que o primeiro anúncio. Ele é obra essencial e insubstituível da própria
vocação, “o opus divinum que antecede – quase no vértice de todo o seu viver e agir
155
Cf. ibid. 156
VAN THUAN, François. X. N. Testemunhas da Esperança: Quando o amor irrompe em situações de heroísmo e no dia-a-dia. São Paulo: Cidade Nova, 2002.p.77. 157
Cf. ibid. 158
Exortação Apostólica. Pastores Dabo Vobis, n.47. 159
Carta Apost. Novo Millennio Ineunte. N.32.
qualquer outro empenho seu”.160 Com isso, João Paulo II, descreve como se decorre
a experiência de oração.
Quem conhece a alegria da oração, sabe também que há nesta experiência algo de inefável e que o único modo para compreender a sua íntima riqueza é vivê-la: o significado da oração é compreendido orando.Com as palavras só se pode balbuciar algo: orar significa também antecipar nalguma medida nesta terra, no mistério, a contemplação transfigurante de Deus, que se tornará visível para além do tempo, na eternidade.
161
Acrescenta que o dom da oração se multiplica na pessoa que ora, segundo,
“a multiforme irrepetível riqueza da graça divina que vem a nós no ato do nosso
orar”.162 A oração é verdadeira, na medida em que não se procura a si mesmo, mas
unicamente o Senhor. Na busca da identificação com sua vontade, numa atitude de
desprendimento, disposto a uma total entrega. Unindo-se a Cristo em uma única
oração no Getsémani: ‘Não a minha, mas a Tua vontade seja feita’(cf. Mt.6,10;
Lc.22,42).163
A oração é um dever de todo cristão, o próprio Jesus nos deu o exemplo
quando nos momentos decisivos da sua vida se retirava num lugar de silêncio para
elevar sua oração ao Pai.164 Ela torna-nos perceptíveis a pessoa de Jesus e da
aplicação do Seu ensinamento à nossa vida. Impele-nos à imitá-Lo e vermos as
coisas à Sua maneira. Quando se examina os acontecimentos da cada dia dentro da
oração, segundo o plano de valores que Jesus ensinou, tudo se torna diferente.165
160
Cf. JOÃO PAULO II. Discurso às Religiosas. Insegnamenti, Vol. II-2, 1979, p.680. 161
JOÃO PAULO II. Adoração Eucarística na Basílica Vaticana. L’Osservatore Romano.02/12/1984.p.9. 162
Cf. Ibid. 163
Cf. ibid. 164
Cf. Exortação Apostólica, Ecclesia in América,1999. N. 29. 165
Cf. JOÃO PAULO II. Discurso à juventude. L’Osservatore Romano. 13/06/1982. P.13.
O nosso primeiro dever seja o estar com Cristo, afirma João Paulo II, e
adverte: O “perigo constante [...] é deixar-se arrastar de tal modo pela atividade na
causa do Senhor, que esqueçam o Senhor de toda a atividade”.166
É importante ter cada vez mais, uma consciência maior do grande valor da
oração em nossa vida e dedicar-se a ela com generosidade. 167
A oração é um dos elementos espirituais, que assumida com perseverança “levará,
aos poucos, a ver a realidade com um olhar contemplativo, que lhe permitirá
reconhecer a Deus em cada instante em todas as coisas; contemplá-lo em cada
pessoa; procurar cumprir sua vontade nos acontecimentos”.168
No entanto, se faltar à união com Cristo que é alimentada por meio da oração,
“a nossa energia se debilita, perdendo o fervor, e corremos o risco de nos
convertermos em ‘bronze que soa ou como címbalo que tine’( 1 Cor. 13,1)”.169
Percebemos que a oração diária nos impele a entrar num processo de conversão.
3.5.3. A Conversão
Outro meio nesse itinerário da santidade é o da conversão. “A santidade é a
meta do caminho de conversão, visto que esta não é o fim em si própria, mas
itinerário para Deus, que é santo [...]”.170
O encontro com Jesus Cristo nos leva à conversão (metanóia), que significa
mudança de mentalidade. Não se trata de uma mudança só na forma de pensar em
nível intelectual, mas, sobretudo, de uma revisão iluminada pelos critérios
evangélicos das próprias convicções vitais.171
A conversão autêntica “deve ser preparada e cultivada por meio da piedosa
leitura da Sagrada Escritura e da prática dos sacramentos da Reconciliação e da
Eucaristia”. 172“É necessário, por conseguinte, suscitar em cada fiel, um verdadeiro
anseio de santidade, um forte desejo de conversão e renovação pessoal num clima
de oração [...]”.173
166
Cf. JOÃO PAULO II. Discurso aos participantes na Sessão Plenária da Sagrada Congregação para os Religiosos e os Institutos Seculares. L’Osservatore Romano. 16/03/1980. P.3. 167
Cf. ibid. 168
Cf. Propositio 78. Exortação Apostólica, Ecclesia in América,1999. N. 29. 169
Cf. JOÃO PAULO II. Encontro com os Sacerdotes, os Religiosos e os Leigos.L’Osservatore Romano. 30/09/1984. P.4. 170
Exortação Apostólica, Ecclesia in América,1999. N. 30. 171
Cf. ibid., n.26. 172
Ibid.
Esse caminho de conversão exige de nós a rejeição do modo de pensar e
agir do mundo, que busca de alguma forma, condicionar nossa existência.174 A
conversão terrena é uma meta que nunca se alcança totalmente. É um empenho de
toda vida, pois, por mais que estejamos vigilantes, estamos sempre sujeitos a
tentações. Por isso a mudança de mentalidade (metanóia), consiste no esforço de
assimilar os valores evangélicos, que contrastam com as tendências dominantes do
mundo.175
É preciso renovar constantemente ‘o encontro com Cristo vivo’, só Ele pode
conduzir-nos à conversão permanente,176que exige uma verdadeira identificação,
com a forma de ser de Jesus.177
Para um constante processo de conversão é necessário empenhar-se num
caminho de ascese178, pois não existe conversão, sem antes de tudo, se dispor dos
meios ascéticos. São eles que sustentam o empenho na vivência de uma autêntica
conversão.
3.5.4. Ascese João Paulo II deixa claro que a ascese é um dos meios fundamentais no
caminho da santidade.
É preciso redescobrir também os meios ascéticos, típicos da tradição espiritual da Igreja e do próprio Instituto. Eles foram, e continuam a se- lô, um auxílio poderoso para um autêntico caminho de santidade. Ajudando a dominar e a corrigir as tendências da natureza humana ferida pelo pecado, a ascese é verdadeiramente indispensável para a pessoa consagrada permanecer fiel à própria vocação e seguir Jesus pelo caminho da cruz.
179
Ao contrário do que se pensa, ascese não necessariamente, quer dizer
renúncia. No grego, askesis, significa exercício, prática, treinamento. 180 “A ascese é
173
Exot. Apost. Pós-sinodal Vita Consecrata. n.39. 174
Cf. Exortação Apostólica, Ecclesia in América,1999. N. 32. 175
Cf. ibid., n.28. 176
Cf. Exortação Apostólica, Ecclesia in América,1999. N. 28. 177
Cf. ibid. 178
Cf. ibid., n.32. 179
Exot. Apost. Pós-sinodal Vita Consecrata. n.38. 180
Cf. CENCINI. Amedeo. A arte de ser Discípulo: Ascese e Disciplina: Itinerário de Beleza. São Paulo: Paulinas, 2011. p.9.
precisamente esse exercício repetido que jamais é improdutivo, mas que, no final,
cria capacidade, liberdade, sinceridade, olhar introspectivo”. 181
Faz-se necessário deixar claro que a ascese não tem valor em si mesmo, é
um instrumento, um meio e não um fim. Esta diferença quando esquecida pode
causar distorções.182
Mas qual seria a finalidade da ascese? Seu objetivo é purificar o coração de
todas as paixões, que consequentemente nos impedem de amar a Deus.
Portanto, para alcançar a pureza de coração e o amor é necessário que façamos tudo quanto realizarmos por meio de obras ascéticas; pois elas são os instrumentos que podem libertar nosso coração de todas as paixões prejudiciais que nos atrapalham no progresso para a plenitude do amor.
183
A ascese é um instrumento que nos ajuda a dar resposta ao amor divino.184 O
itinerário ascético, leva-nos a identificarmos com os sentimentos do Filho ( Fl 2,5).185
É no quotidiano que encontramos inúmeras ocasiões na prática da ascese. Pois é o
lugar oportuno de santificação.
3.5.5. O Quotidiano da Vida.
No itinerário, um dos meios para alcançar a santidade, com insistência é o
quotidiano da vida. Percebendo a grandeza das atividades da vida quotidiana, como
caminho para a santidade. Estas são oportunidade preciosa de união com Deus e de
cumprimento de sua vontade. Podem tornar-se não só lugar, mas matéria de
santificação.
Nas atividades comuns, temos várias ocasiões de exercitarmos as virtudes.
“Santidade significa, de fato, viver plenamente as virtudes evangélicas nas situações
concretas onde nos encontramos”.186
181
Ibid., p.10. 182
Cf. CENCINI. A. A arte de ser Discípulo: Ascese e Disciplina: Itinerário de Beleza. São Paulo: Paulinas, 2011. p.37. 183
GRUN. A. O céu começa em você: A sabedoria dos padres do deserto para hoje. Trad. De Renato Kirchner. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. p.51. 184
Cf. ibid., n.55. 185
Cf. CENCINI. A. A arte de ser Discípulo: Ascese e Disciplina: Itinerário de Beleza. São Paulo: Paulinas, 2011. p.35. 186
JOÃO PAULO II. Discurso aos Carabineiros. L’Osservatore Romano. 10/03/2001. P.02.
Van Thuan, o cardeal que ficou preso por treze anos, em 1999 foi o pregador
do retiro do papa João Paulo II, no Vaticano. Entre outros assuntos, falou da
importância de viver o momento presente, como meio para à santidade.
Faz-se necessário aproveitar as ocasiões que se apresentam todo dia,
para realizar ações ordinárias de modo extraordinário. Nas longas noites na prisão, dei-me conta de que viver o momento presente é o
caminho mais simples e mais seguro para chegar à santidade.187
Através do espírito de oração podemos dar outro sentido ao trabalho; é
possível estar unido a Deus, mesmo quando se está envolvido nas realizações do
dia a dia. Os locais de trabalho também são lugares de encontro com Deus.
O trabalho é transfigurado pelo espírito de oração e torna, assim, possível permanecer na contemplação de Deus, mesmo quando se está absorvido pela realização de várias ocupações. Para todo o batizado, que queira seguir fielmente a Cristo, a fábrica, o escritório, a biblioteca, o laboratório, a oficina, as paredes da casa podem transformar-se em outros tantos lugares de encontro com o Senhor, que escolheu viver durante trinta anos na obscuridade. Poderia, porventura, pôr-se em dúvida que o período passado por Jesus em Nazaré fosse já parte integrante da sua missão salvífica? Portanto, também para nós, o quotidiano, na sua aparente uniformidade, na sua monotonia feita de gestos que parecem repetir-se sempre na mesma, pode adquirir o relevo de uma dimensão sobrenatural e ser
transformado desse modo.188
Devemos aprender a perceber nos pequenos acontecimentos do dia, que
esconde em si riquezas insuperáveis, e vivê-las com amor a Deus e aos irmãos.189
Quem trabalha com os olhos fixos em Deus, abre-se necessariamente, aos irmãos e
faz tudo em espírito de serviço para o bem do próximo. O que fecunda e completa o
nosso trabalho, e aqui está o segredo da fecundidade é a intimidade com Deus, uma
vida intensa de oração e contemplação .190
187 VAN THUAN, François. X. N. Testemunhas da Esperança: Quando o amor irrompe em situações de heroísmo e no dia- a – dia. São Paulo: Cidade Nova, 2002.p.66. 188 JOÃO PAULO II. Discurso aos membros da Opus Dei. L’Osservatore Romano. 19/01/2002. P.03. 189
Cf. ibid. 190
Cf. MARTINS,Saraiva. Missa para os peregrines de língua portuguesa. L’Osservatore Romano. 19/10/2002. N.5.
O trabalho do homem realizado em união com Cristo, manifesta a dimensão
da redenção. Quando o homem realiza seu trabalho em união com o crucificado,
tornando-se Seu verdadeiro discípulo e levando com Ele sua cruz de cada dia,
participa da redenção da humanidade.191
Nessa profunda união com Cristo, o homem torna-se consequentemente,
partícipe de sua Realeza. Cristo a viveu servindo os irmãos, impelido pelo amor ( cf.
Mt. 20,28). Ao participar de tal Realeza, o ser humano, livremente se coloca a
serviço do próximo, na fadiga quotidiana do trabalho, como um ato de amor.192
No trabalho, às vezes pesado, fatigante, nem sempre se sente a presença do
amor, mas aos poucos, se o faz numa perspectiva de fé e constância, o amor se
revela, sobretudo, na solidariedade que nasce na relação entre as pessoas.193
O fundamento e a fecundidade de todo apostolado dependem principalmente
da nossa viva união com Cristo. Essa união é manifestada e cultivada na oração.
Pode-se afirmar que o apostolado é uma manifestação do amor de Jesus pelo
próximo que, nasce do nosso interior.194 Tudo que realizamos encontra sua eficácia
no amor.
3.5.6. O Amor
O próprio Jesus nos ensina que “o núcleo da santidade é o amor, que leva a
dar a vida pelos demais (cf. Jo 15,13)”.195 A imitação de Cristo consiste em trilhar o
caminho do amor, que se doa totalmente, aos irmãos por amor à Deus: “O meu
mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, como vos fiz, façais vós
também” ( Jo 13,14-15). 196
Em relação a esse amor disposto a dar a própria vida, Van Thuan na
pregação do retiro ao papa, afirma:
191
Cf. Encíclica Laboem exercens. N.27. 192
Cf. JOÃO PAULO II. Alocução da Audiência geral de quarta-feira. L’Osservatore Romano. 19/02/1984. P.12. 193
Cf. ibid. 194
Cf. JOÃO PAULO II. Encontro com os Sacerdotes, os Religiosos e os Leigos.L’Osservatore Romano. 30/09/1984. P.4. 195
Exortação Apostólica, Ecclesia in América,1999. N. 30. 196
Cf. Veritates Splendor. N.20.
Jesus é Deus e o seu nome só pode ser infinito como Deus. Não é um amor que doa alguma coisa; Jesus doa a si mesmo: “Tendo amado os seus [...] amou-os até o fim”(Jo 13,1). “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos”(Jo 15,13). Jesus deu tudo, sem reservas: deu a sua vida na cruz e deu o seu corpo e o seu sangue na Eucaristia. Esta é a medida com a qual também nós somos chamados a amar: dispostos a dar a vida por aqueles que trabalham conosco; prontos a dar a vida um pelo outro.
197
A santidade se expressa na união do homem com Deus, no poder do amor,
que se desenvolve por meio de múltiplas obras de caridade, realizado pela pessoa
no decorrer de sua caminhada: ‘Deste-Me de comer...deste-Me de
beber...recolheste-Me...deste-Me de vestir...visitaste-Me...foste ter comigo.’(Mt
25,35-36).198
O amor tem a capacidade de unir o homem ao Coração de Deus, nesse
Coração, o amor “humano”supera a si mesmo.199 A caridade despoja-nos do próprio
egoísmo, faz- nos sair do isolamento e impele-nos a descobrir o irmão, naqueles que
estão ao nosso redor, também nos que estão distantes, e toda à humanidade. A
caridade é exigente, mas ao mesmo tempo gratificante, porque nos leva a participar
no amor de Deus.200
Van Thuan, recordando as palavras de Paulo: ‘Se não tivesse a caridade, eu
nada seria’ ( 1Cor 13,2), é chamado à conversão e lembra que ‘antes de tudo’ a
caridade. Antes de fazer uma homilia, de rezar, de qualquer trabalho apostólico,
deve ter, a caridade, “deve ser a caridade”.201 Tendo o Cristo, como único “Caminho"
que nos leva ao Pai.
197
VAN THUAN, François. X. N. Testemunhas da Esperança: Quando o amor irrompe em situações de heroísmo e no dia- a – dia. São Paulo: Cidade Nova, 2002.p.85. 198
Cf. JOÃO PAULO II. Canonização de José Moscati. L’Osservatore Romano. 01/11/1987. Ano XVIII. N.44. 199
Cf. ibid. 200
Cf. JOÃO PAULO II. Mensagem para a Quaresma de 1986. L’Osservatore Romano.16/02/1986. 201
Cf. VAN THUAN, François. X. N. Testemunhas da Esperança: Quando o amor irrompe em situações de heroísmo e no dia-a-dia. São Paulo: Cidade Nova, 2002.p.81.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao término desta pesquisa monográfica, não se pretende esgotar a temática
da santidade. O foco principal desta, antes de oferecer ao leitor um itinerário
prefixado, oportuniza reflexões que suscitem o desejo de buscar um itinerário
pessoal no caminho de santificação.
O presente trabalho mostra que alguns autores pesquisados procuraram
definir, de vários ângulos, em que consiste a via da santidade. Constata-se que
todos convergem à dois eixos fundamentais: a plena união com Cristo e a
conformidade com a vontade de Deus, expressa no cumprimento do dever generoso
e constante.
Observa-se que a Sagrada Escritura, apresenta Deus como única fonte de
santidade. O ser humano é incapaz de perceber a santidade de Deus, porém, a Sua
manifestação, o santifica e o faz participante da mesma.
Fica evidente que Jesus é o ícone de santidade, daquilo que cada cristão é
chamado a viver. Na sua encarnação tornou-se o modelo perfeito de todo batizado.
Nele se encontra todos os traços de santidade a ser imitado no intuito de configurar-
se com sua pessoa, sobretudo, em sua Kenosis, vivenciado no total esvaziamento
de si.
Destacou-se a urgência de que todos, sem exceção, em qualquer gênero, nas
diferentes profissões e estado de vida, sejam santos. O Vaticano II, procurou superar
o conceito que perdurou por décadas, de que a santidade era privilégio somente do
clero e de religiosos. Sendo assim, a Lumen Gentium, declara que todos os
batizados são chamados a vocação à santidade, reconhecendo que a dignidade da
vida cristã procede do batismo, e não de um estado de vida específico. O batizado é
designado a uma vocação específica, a qual lhe oferece oportunidades de
crescimento gradual, no caminho de santidade, segundo a correspondência à graça
divina.
A maior parte desta pesquisa está ancorada em alguns escritos de João
Paulo II, contudo, sem a pretensão de esgotar todo o tema sobre a santidade, pois
oferece uma infinidade de escritos, nos quais sempre lança o apelo à santidade de
vida, que deve ser cultivada na intimidade com Cristo.
Procurou-se traçar com evidência, um itinerário, no qual se conclui que a
santidade não é algo distante e impossível, mas um dom a ser desenvolvido. Ser
santo, é buscar viver de modo extraordinário, aquilo que faz parte do ordinário do
quotidiano.
Concluindo, constatamos que a santidade em si, está fundamentada na
caridade. Faz parte da essência da santidade, o amor. Um amor capaz de dar a vida
pelos demais. Está baseada no mandamento do amor: amai-vos uns aos outros
como eu vos amei” ( Jo 10,12).
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