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RETALHO DE PADRÃO AXIAL DA ARTÉRIA TORACODORSAL APÓS
RESSECÇÃO DE NEOPLASIA EM CÃO – RELATO DE CASO
AXIAL PATTERN FLAP TORACODORSAL ARTERY AFTER RESECTION OF
NEOPLASM IN DOG – A CASE REPORT
Jardel de Azevedo SILVA1; Fabrícia Geovânia Fernandes FILGUEIRA2; Ana Clara
de França SILVA3; Gracineide da Costa FELIPE3; Pedro Isidro da Nóbrega NETO2;
Vinícius Mendes GONÇALVES3; Araceli Alves DUTRA1
1 Estudante de Graduação do Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e Tecnologia Rural, Campus Patos – PB. E-mail: jardelazevedomv@gmail.com 2 Professor (A) da Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e Tecnologia Rural, Campus Patos – PB. 3 Programa de Residência Multiprofissional da Saúde, Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e Tecnologia Rural, Campus Patos – PB.
Resumo:
Dentre as inúmeras técnicas de reconstrução, os enxertos pediculados são retalhos
que envolvem as camadas dérmicas e epidérmicas com inserção da vasculatura de
um local doador e transportado para o local do defeito. Destes, os retalhos em
padrão axial constituem enxertos pediculados que são irrigados por uma artéria e
veia cutânea direta. O presente trabalho tem como objetivo relatar o emprego de
retalho de padrão axial da artéria toracodorsal após ressecção de mastocitoma em
região escapuloumeral de membro torácico esquerdo em uma cadela. Para a
retirada completa da neoplasia e com a margem cirúrgica recomendada, foi
empregada técnica cirúrgica reconstrutiva de retalho pediculado de padrão axial da
artéria toracodorsal. Realizaram-se as marcações com caneta e régua cirúrgica no
local da exérese da neoplasia, e da confecção do retalho. Em seguida, procedeu-se
a exérese da neoplasia, e prosseguiu-se com a confecção do retalho. Houve
necrose da borda da ferida como também formação de edema. A técnica de
reconstrução mostrou-se efetiva uma vez que houve boa margem de segurança e
melhora estética da ferida cirúrgica.
Palavras-chave: Cirurgia reconstrutiva, flape, tumor, cães.
Keywords: Reconstructive surgery, flap, tumor, dogs.
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Revisão de Literatura:
A cirurgia reconstrutiva refere-se a utilização de técnicas de reconstrução dos
tecidos, como flapes e enxertos na correção de defeitos de pele traumáticos
(MACPHAIL, 2013). No planejamento desse tipo de cirurgia de reconstrução deve-se
levar em consideração a extensão e localização do ferimento, elasticidade cutânea e
suprimento sanguíneo, e assim escolher a melhor técnica a ser empregada
(PAVLETIC, 2010).
Dentre as inúmeras técnicas de reconstrução, os enxertos pediculados são
retalhos que envolvem as camadas dérmicas e epidérmicas com inserção da
vasculatura de um local doador e transportado para o ponto com a deformidade
(SLATTER, 2007). Destes, os retalhos em padrão axial constituem enxertos
pediculados que são irrigados por uma artéria e veia cutânea direta (TOBIAS, 2010).
Os retalhos em padrão axial permitem a mobilização de grandes segmentos
de pele e um único procedimento em áreas de pouca vasculatura, com exposição de
nervos, ossos e tendões e em defeitos de tórax, podendo ser utilizados
imediatamente após traumatismos ou em procedimentos cirúrgicos em que se
requeira ampla margem de segurança do local a ser retirado (HARFACREE, 2007;
LIPTAK et al., 2008). Em cães os retalhos de padrão axial mais utilizados são
provenientes dos ramos das artérias auricular caudal, temporal superficial, cervical
caudal, toracodorsal, torácica lateral, braquial superficial, epigástrica superficial
caudal e cranial, ilíaca circunflexa profunda, genicular, caudais laterais e artéria
escrotal (HARFACREE et al., 2007; TOBIAS, 2010).
Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo de relatar o
emprego de retalho de padrão axial da artéria toracodorsal após ressecção de
mastocitoma em região escapuloumeral de membro torácico esquerdo em uma
cadela.
Descrição do Caso:
Uma cadela de cinco anos de idade, sem raça definida, com peso de 6,65 kg,
foi atendida no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande,
HV-UFCG, com queixa clínica de há aproximadamente um mês estar apresentando
um aumento de volume na região da articulação escapuloumeral do membro
torácico esquerdo.
Ao exame físico, o animal apresentou aumento dos linfonodos
submandibulares e cervical superficial esquerdo, e observou-se a presença de um
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nódulo no membro torácico esquerdo (MTE), medindo 3,5 x 3,5 x 2,5 cm, não
ulcerado, não aderido, macio, com algumas áreas firmes, peduncular, avermelhado.
Como exames complementares, solicitou-se hemograma, dosagem de
proteínas plasmáticas totais, contagem de plaquetas, bioquímica hepática e renal,
com resultados dentro dos parâmetros normais para a espécie. Foi realizada
radiografia torácica, não sendo visualizado alterações radiológicas. Fez-se ainda a
citologia dos linfonodos cervical superficial e mandibulares, como também do nódulo
no MTE através do método de punção aspirativa por agulha fina (PAAF), no qual
obteve-se o diagnóstico presuntivo de mastocitoma. Em seguida, o animal foi
encaminhado para o Setor de Cirurgia de Pequenos Animais para exérese do
nódulo.
Administrou-se como medicação pré-anestésica acepromazina 0,2% (0,08
mg/kg) associada morfina 1% (0,2 mg/kg) na mesma seringa por via intramuscular
(IM). A indução anestésica foi realizada com propofol 1% (4 mg/kg) por via
intravenosa (IV) e intubação endotraqueal com sonda. A manutenção anestésica
deu-se com isofluorano diluído em oxigênio a 100% em circuito fechado. Fez-se uma
anestesia locorregional com o bloqueio do plexo braquial usando lidocaína 2% com
vasoconstrictor (5 mg/kg). Recebeu ainda terapia anti-inflamatória/analgésica com
meloxicam 0,2% (0,1 mg/kg, IV) e antibioticoterapia profilática com ceftriaxona 20%
(30 mg/kg, IV).
Para a retirada completa da neoplasia com a margem cirúrgica recomendada,
foi empregada técnica reconstrutiva de retalho pediculado de padrão axial da artéria
toracodorsal. Inicialmente, realizaram-se as marcações com caneta e régua cirúrgica
no local da exérese da neoplasia, e da confecção do retalho. Em seguida, procedeu-
se a exérese da neoplasia com margem de 2 cm. Depois prosseguiu-se com a
confecção do retalho, fazendo uma incisão de largura de duas vezes o tamanho do
defeito no sentido caudal ao processo espinhoso da escápula, em seguida,
confeccionou-se o comprimento do retalho de três vezes o tamanho do comprimento
do defeito. Depois fez-se divulsionou o retalho, cuidadosamente, e foi então
mobilizado com sua porção ventral até a porção distal da ferida e colocado de modo
que se pudesse cobrir completamente o defeito oriundo da exérese.
Para realização da síntese cirúrgica do retalho que foi transportado ao defeito,
utilizou-se náilon 3-0, em padrão simples separado. Já no defeito criado após
mobilização do retalho, fez-se redução de espaço morto com fio de poliglactina 910
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3-0 no padrão “Walking Suture”, e dermorrafia com náilon 3-0, em padrão de sutura
simples separado. O nódulo foi encaminhado para exame histopatológico, e o
resultado o diagnóstico de mastocitoma.
No pós-operatório prescreveu-se cloridrato de tramadol (4 mg/kg, a cada 12
horas, durante cinco dias), prometazina (1 mg/kg, a cada 24 horas, por cinco dias),
prednisona (0,5 mg/kg, a cada 24 horas, por cinco dias), via oral e de uso tópico
prescreveu-se Furanil (Clorexidina) pomada, a cada 12 horas durante 15 dias. Foi
recomendado utilização de colar protetor e faixa de atadura compressiva para
reduzir a formação de edema. No décimo quinto dia de pós-operatório foram
retiradas as suturas da pele.
Três dias após o procedimento cirúrgico foi observado formação de edema na
região do cotovelo esquerdo (região mais distal da ferida cirúrgica). No oitavo dia,
observou necrose das bordas distais da ferida cirúrgica na região do cotovelo. Não
observou-se deiscência de sutura nem presença de secreção purulenta.
Discussão:
A cirurgia reconstrutiva tem se mostrado uma alternativa segura e eficiente
para o tratamento de neoplasias que precisam ser retiradas com ampla margem de
segurança (LIPTAK e FORREST, 2013) o que está de acordo com este relato, tendo
em vista que a exérese do nódulo se deu através de ressecção cirúrgica ampla e
com boa margem. Por se localizar na região escapuloumeral não houve dificuldade
ou tensão da pele ao deslocá-la da região toracodorsal para o local do implante.
Quando a lesão se localiza em porções distais dos membros, há mais dificuldade de
se obter margens cirúrgicas adequadas (PAZINNI et al., 2016).
Uma dificuldade encontrada nesse tipo de cirurgia, é a retirada do nódulo com
uma margem de segurança adequado. Neste caso o aumento de volume localizava-
se na região proximal do membro torácico esquerdo, embora a localização fosse
desfavorável, foi possível realizar a técnica de reconstrução através do retalho de
padrão axial. Em locais onde a cicatrização primária é difícil de se conseguir, a
reconstrução cirúrgica permite ocluir todo o ferimento evitando complicações
posteriores como na cicatrização por segunda intenção (PAZZINI, 2016). O retalho
pediculado permite encobrir toda a região defeituosa garantindo assim a
vascularização de toda a região que recebeu o implante, uma vez que os mesmos
possuem artérias e veias em sua base (PAVLETIC, 2010). Portanto, a escolha do
retalho de padrão axial se mostrou uma excelente escolha tendo em vista que a
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vascularização da região que recebeu o implante foi mantida, não ocorrendo,
portanto, desvitalização tecidual e posterior necrose.
Os animais quando submetidos a cirurgias reconstrutivas devem permanecer
em repouso, com bandagens e ataduras compressivas afim de diminuir as chances
de insucesso da técnica (PAZZINI, 2016). Apesar das bandagens e cuidados pós-
cirúrgico, houve necrose da borda distal da ferida e edema na região do cotovelo,
mas essas complicações não causaram deiscência de sutura e nem
comprometeram, nesse caso, eficiência do enxerto.
Conclusão:
A técnica de reconstrução com retalho de padrão axial da artéria toracodorsal
mostrou-se efetiva por ter promovido ampla margem de segurança e melhora
estética da ferida cirúrgica.
Referências
HALFACREE, Z. J. et al. Use of a Latissimus Dorsi Myocutaneous Flap for One‐
Stage Reconstruction of the Thoracic Wall After En bloc Resection of Primary Rib
Chondrosarcoma in Five Dogs. Veterinary Surgery, v. 36, n. 6, p. 587-592, 2007.
LIPTAK, J. M.; FORREST, L. J. Soft Tissue Sarcomas. In: WITHROW, S. J. et al.
Withrow e MacEwen’s Small Animal Clinical Oncology. 5. ed. Saint Louis: Elsevier,
2013. p. 356-380.
LIPTAK, J. M. et al. Reconstruction of chest wall defects after rib tumor resection: a
comparison of autogenous, prosthetic, and composite techniques in 44
dogs. Veterinary Surgery, v. 37, n. 5, p. 479-487, 2008.
MACPHAIL, C. M. Principles of Plastic and Reconstructive Surgery. In: FOSSUM, T.
W. Small Animal Surgery. 4. ed. Saint. Louis: Elsevier, 2013. p. 222-252.
PAVLETIC, M. Axial parttner skin flaps. In: PAVLETIC, M. Atlas of Small Animal
Wound Management and Reconstructive Surgery. 3. ed. Cambridge: Wiley-
Blackwell, 2010. p. 357-378.
PAZZINI, J. M. et al. Retalho de padrão axial ilíaco circunflexo empregado após
ressecção de hemangiopericitoma em cão-relato de caso. Revista Lusófona de
Ciência e Medicina Veterinária, v. 8, n. 1, p. 10-17, 2016.
SLATTER, D. Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. 3. ed. São Paulo:
Manole, 2007.
TOBIAS K. M. Surgery of the Skin. In: TOBIAS K. M. Manual of Small Animal Soft
Tissue Surgery. 1. ed. Cambridge: Wiley-Blackwell, 2010. p. 27-51.
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