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113 Loja S u p e r m e r c a d o m o d e r n o • julho 2011
resíduos sólidosDescarte depende
da sua lojaCom a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, o setor é um dos
responsáveis pelo descarte de produtos e embalagens que não interessam mais ao consumidor. Entenda melhor a lei e conheça alternativas para cumpri-la.
Por Fernando Salles | salles@lund.com.br
enTenda a políTica nacional
de reSíduoS SólidoS
QUais ProDUTosesTÃo inCLUÍDos
Vale para agrotóxicos e seus resíduos e embalagens; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrifi cantes, seus resíduos e
embalagens; lâmpadas; eletroeletrônicos e componentes; e todas as embalagens plásticas, metálicas ou de vidro
CoMo afeTa os sUPerMerCaDosNo artigo 33, obriga a implantação de sistemas de logística reversa, com o retorno dos produtos após o
uso pelo consumidor. Essa responsabilidade deve ser compartilhada entre fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes
QUe Lei É essa
A Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos institui uma
série de medidas para garantir o tratamento ambientalmente
correto do lixo em todo o Brasil. Impõe ao poder público, por
exemplo, a substituição dos lixões por aterros sanitários, locais
preparados para evitar a contaminação do solo e dos
lençóis freáticos
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centiva apenas o descarte correto, mas também a redução da quan-tidade de resíduos gerados. “Mui-tos produtos contam com mais de uma embalagem ou excesso de material. Um dos caminhos pode ser discutir com o fornecedor uma redução na quantidade de plástico ou papelão”, exemplifica.
Algumas iniciativas já reali-zadas pelo varejo dão razão a ele. Uma delas vem do Walmart Brasil. Felipe Antunes, gerente de susten-tabilidade, conta que alguns itens de marca própria são produzidos com menos material nas emba-lagens. É o caso do achocolatado Bompreço, cuja redução é de 30%.
Na bandeira Pão de Açúcar, os clientes são incentivados a fazer reciclagem antes mesmo de con-sumir: 67 lojas contam com caixas verdes nas quais os clientes podem descartar o excesso de embalagem logo após a compra. Com a inicia-tiva, a empresa já arrecadou 1,3
Uma lei que ficou cerca de duas décadas parada no Congresso deve trazer mu-danças na operação da sua loja e na relação com forne-cedores. Sancionada pelo presidente Lula no final de
2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos impõe, em um de seus artigos, a implantação de sistemas de logística reversa a fabricantes, importadores, distri-buidores e comerciantes, o que inclui o autosserviço.
Na prática, a legislação responsabiliza os mem-bros da cadeia por todo o ciclo de vida dos produtos. Ou seja, o supermercado deve estar preparado para receber de volta produtos e embalagens que o clien-
te descartar. Essa responsabilidade independe dos serviços públicos de coleta e deve ser compartilha-da com os integrantes da cadeia. A regra vale para pilhas e baterias, eletroeletrônicos e componentes, lâmpadas, pneus, agrotóxicos, óle-os lubrificantes, além de embala-gens de plástico, metal e vidro.
O governo formou dois grupos interministeriais para comandar as tratativas com os envolvidos na distribuição, como indústria e varejo. Dessas discussões devem surgir direcionamentos para que
a logística reversa torne-se realidade. Até agosto de 2012, deve ser apresentado um plano de implemen-tação. Já o prazo para ser colocado em prática é de quatro anos após a sanção da lei – dezembro de 2014.
Menos eMbalageMSolução além do descarte
Seja qual for a mecânica adotada pela cadeia de dis-tribuição, uma coisa é certa: o autosserviço terá de realizar diversas adequações. Vicente Manzione Fi-lho, sócio da Gestão Origami, consultoria especia-lizada em sustentabilidade, lembra que a lei não in-
Muitos produtos têm mais de uma
embalagem ou usam excesso de material. Como a lei incentiva
a diminuição dos resíduos gerados,
convém discutir com os fabricantes como usar menos matéria-prima.
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achocolatado bompreço, marca própria do Walmart, é vendido em
embalagem confeccionada com 30% menos material
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milhão de embalagens, encaminhadas para cooperativas de reciclagem. Parte desse material é aproveitado na con-fecção de embalagens cartonadas da marca exclusiva Taeq.
Antecipar-se às exigências, como fazem os dois gigantes do autosservi-ço, é a melhor alternativa para o setor, acredita Estanislau Freitas Jr., coorde-nador de comunicação do Instituto Akatu, ONG que estimula o consu-mo consciente. “O ideal é o varejo se
adiantar e implantar processos desde já. Além de boas para a sociedade, es-sas ações são muito bem vistas pelo público e podem ajudar no marketing da empresa. Com o avanço nas dis-cussões a respeito do descarte de re-síduos, quem não se adaptar logo vai perder o freguês”, avalia.
Outra ação realizada com suces-so é a coleta de materiais recicláveis. Segundo Manzione Filho, da Gestão Origami, as exigências legais tendem a aumentar a escala do que se faz hoje. Ele lembra que resíduos de cer-
tos produtos podem ser matéria-prima para a fabricação de outros. E uma solução para di-luir custos da implantação da logística reversa pode ser vender parte do material coletado. A iniciativa ajuda a evitar repasses nos preços, um dos riscos para o consumidor.
Pão de açúcar42 mil toneladas de recicláveis
O Grupo Pão de Açúcar conta com duas em-presas parceiras na implementação da gestão
integrada de resíduos, o que inclui separação de recicláveis, lixo orgâni-co e rejeitos. A separação é feita nas próprias lojas, onde plástico e papelão são prensados e encaminhados para a venda na forma de fardos. Já o lixo orgânico é encaminhado para reapro-veitamento como compostagem ou ração animal. Aquilo que não pode ser reaproveitado (rejeito) vai direto para os aterros sanitários.
Atualmente, a empresa conta com 228 postos de entrega voluntária de material reciclável. Esses pontos já re-ceberam 42 mil toneladas de plástico, vidro, papel, metal e óleo de cozinha usado. Em 31 lojas, é feita também a
coleta de celulares, baterias e acessórios. Até o final deste ano, o trabalho deve ser estendido a 160 lojas. Mais avançada ainda está a coleta de pilhas e baterias comuns, disponível em todas as filiais da empresa. A maior parte desse trabalho é feita em parceria com fornecedores.
WalMart40 cooperativas beneficiadas
Adequação à lei também já é feita pelo Wal-mart. Lá, o processo de coleta, tratamento e destinação de resíduos é considerado um dos pilares do programa de sustentabilidade. Des-
disponibilizar postos de entrega de resíduos é uma das sugestões da lei para viabilizar a logística reversa. clientes costumam aderir.
joão
de
frei
taS
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de 2006, a empresa conta com estações de reciclagem. Hoje são cerca de 300 em todo o Brasil. Os produtos oriundos do descarte são recebidos por aproximada-mente 40 cooperativas.
Algumas lojas da rede estão aptas a receber lâmpadas fluores-centes, que exigem cuidados espe-ciais por conter mercúrio.
descarte de eletrônicosServiço embutido na compra
Outro gigante, o Carrefour, man-tém 104 estações de coleta – em 2009 eram só 15. Neste momento, a empresa negocia parceria para
levar a iniciativa às lojas onde há viabilidade de implantação. Mas o Carrefour oferece também um serviço que deve se tornar mais comum a partir da implantação da lei. Trata-se do programa Descarte Sustentável, pelo qual os clientes podem descartar de modo ambientalmente correto aparelhos eletrôni-cos, como TVs, monitores, notebooks, etc.
O projeto é uma parceria com a Descarte Certo. Lúcio Di Domenico, presidente da empresa, expli-ca que, no ato da compra de um eletroeletrônico, é oferecida ao consumidor a possibilidade de solici-tar o descarte do equipamento antigo. Quem con-corda inclui o valor do serviço no pagamento (em torno de R$ 130), do mesmo modo que as garantias estendidas. Feito isso, o consumidor acessa o site da Descarte Certo e define o dia em que o aparelho antigo poderá ser retirado pela equipe de coleta.
Outra opção é a venda da coleta para ser realiza-da apenas no momento em que o consumidor deci-dir se desfazer do produto que está comprando, com prazo máximo de 14 anos. Esse serviço sai por cerca de R$ 20. A empresa já vendeu perto de 10 mil ga-rantias de descarte, mas acredita que em breve a prá-tica estará mais difundida no varejo e entre os con-sumidores. “Em dois ou três anos, o setor já venderá todos os eletroeletrônicos com o serviço embarcado. Com ele, a logística reversa fica garantida”, acredita.
Caso se confirme a previsão otimista de di Do-menico, o varejo estará livre dos custos logísticos envolvidos no processo. “Cerca de 80% do custo do desmanche de um produto eletrônico é logística”, afirma. Com a consolidação da cultura do descar-te consciente, uma alternativa é, no momento da entrega do produto, a equipe já levar o aparelho velho. A discussão sobre como implementar a lo-gística reversa está só no começo. O melhor é não perder tempo e buscar, com fornecedores e parcei-ros, alternativas viáveis para a sua empresa. Sm
no Pão de açúcar, caixas verdes incentivam o
descarte correto de embalagens antes
do consumo. Material é
reaproveitado em embalagens da
marca taeq.
joão
de
frei
taS
M a i s i n f o r M açõ e s :
Carrefour: www.carrefour.com.brDescarte Certo: www.descartecerto.com.brGestão origami: www.gestaoorigami.com.brGrupo Pão de açúcar: www.grupopaodeacucar.com.brinstituto akatu: www.akatu.org.brWalmart: www.walmart.com.br
custos da implantação da logística reversa podem ser diluídos com a
venda do material coletado nas lojas