Leiria e São Tomé e Príncipe falam a mesma língua: solidariedade … · 2017. 1. 10. ·...

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10 Jornal de Leiria 10 de Março de 2016

Sociedade

Leiria e São Tomé e Príncipe falam a mesma língua: solidariedade

Daniela Franco Sousa com ECdaniela.sousa@jornaldeleiria.pt

� Gastronomia, dança, música,desfiles de molda, exposições ar-tísticas e debates que deram a co-nhecer o melhor de São Tomé ePríncipe (STP) à população de Lei-ria. Estas foram algumas das acti-vidades dinamizadas no passadofim-de-semana, no Mercado deSant'Ana, e que tiveram tambémcomo objectivo cativar interessa-dos em aderir Bolsa de Volunta-riado da Associação Portuguesapara a Promoção do Envelheci-mento Activo e Saudável (APpeas).

E por que razão está a APpeas aprocurar voluntários? Esta asso-ciação tem em curso o projectoUnidos por São Tomé e Príncipe,uma iniciativa de voluntariado quepretende dar resposta a necessi-dades de saúde, educação, agri-cultura, cultura, empreendedoris-mo e ambiente identificadas pelospróprios governantes e dirigentesdaquela comunidade africana.

Rita Andrade, vice-presidente daAPpeas e mentora deste projecto, ex-plicou ao JORNAL DE LEIRIA que aideia lhe surgiu ao constatar que osseus alunos de São Tomé e Príncipeeram dos mais focados e empenha-dos, precisamente por compreen-deram que a sua formação profis-sional era essencial para ajudar assuas famílias, que viviam carênciasde vários níveis.

A escassez dos apoios comuni-tários para estudantes saotomen-ses em Portugal, bem como o fimdos seus vistos de residência noPaís, ditavam muitas vezes o re-gresso dos alunos ainda antes deterem cumprido por cá os seus ob-jectivos académicos. Rita Andradepercebeu que a APpeas pode ajudarnesses aspectos burocráticos, fun-cionando como “ponte” entre osdois países, e que os seus sócios,idosos, têm disponibilidade e co-nhecimento para ajudar a colmatarnecessidades identificadas pelospróprios governantes de STP. As-sim, salienta a mentora, “dignifi-cam-se os idosos e dignifica-se acomunidade”.

Entre outros objectivos, este pro-jecto prevê: a requalificação parcialdo centro de saúde; o envio demedicamentos, equipamentos eoutros bens essenciais; formação equalificação do pessoal técnico lo-cal na área da saúde; construção deuma biblioteca; requalificação dequatro escolas primárias locais e

respectivo apetrechamento; for-mação de professores; apadrinha-mento de alunos do ensino pri-mário; implementação de cursosde ensino profissional; requalifi-cação e expansão da roça comuni-tária; envio de maquinarias e fer-ramentas agrícolas; construção deum centro cultural local; inter-câmbio de artes e de artistas; aber-tura de um centro de formação eincubadora de empresas; criaçãode lojas sociais; e aplicação de pro-gramas e iniciativas para a defesada fauna e flora do arquipélago.

Os vários protocolos firmadoscom instituições da região de Lei-ria permitem encaminhar para STPnão só idosos, mas também vo-luntários de outras faixas etárias,sendo que existe a possibilidade decontratação de especialistas soli-citados pela comunidade local, sa-lienta Rita Andrade.

São Tomé e Príncipe é um paíspequeno, que não é muito popu-loso, e cuja aplicação deste projectopode servir como modelo a futurasiniciativas do género, a promoverentre a Comunidade dos Países deLíngua Portuguesa, adianta a pro-fessora.

Na apresentação pública do pro-jecto, Rita Andrade sublinhou quea saúde é uma das lacunas da re-gião. “Tem três postos de saúde eapenas num deles existe interna-mento e numa sala, onde convi-vem homens, mulheres e crian-ças”, alertou. A educação é tam-bém outro problema, pelo que“melhorar o acesso à escola” étambém uma das prioridades. “Hásalas com 93 alunos, mas o núme-ro média está entre os 50 e 60 es-tudantes. E nós queixamo-nosquando temos 30...” Sendo a agri-cultura o sector mais importante deSTP, a mentora desafia a aplicaçãodo comércio justo, para que osprodutores locais possam recebero valor real do seu trabalho. Nestaárea, Rita Andrade sugeriu a qua-lificação e expansão de uma roçacomunitária. “Se tudo for trabalhoem união as pessoas sentem queestão a trabalhar para elas pró-prias e podem ser auto-sustentá-veis.”

Criar a Fundação Gratitude é ou-tro dos grandes objectivos. “PorquêGratitude? Porque devemos teruma atitude de gratidão. Será queagradecemos o que temos? Se com-pararmos com este país, a nossarealidade é bem diferente”, cons-tatou.

Voluntariado Em Leiria nasceu um projecto que dignifica o conhecimento dos idosos, e a comuni-dade que os recebe. Chama-se Unidos por São Tomé e Príncipe e promete ser o primeiro de muitos

Projecto foi apresentado publicamente no passado fim-de-semana

O presidente da Câmara de Cantaglo (à esquerda) esteve em Leiria

ELISABETE CRUZ

Autarcas agradecem apoio de LeiriaPresidente da câmara e representante dos municípios“É extraordinário”. É assim queo presidente da câmara Distritalde Cantaglo e representante daAssociação Nacional dasAutarquias Locais e Regional deSão Tomé e Príncipe (STP),Paulo Jorge de Carvalho,agradece a ajuda que Leiriapretende oferecer. “Estasiniciativas são de louvar. STP éhoje um país em francocrescimento e iniciativas destanatureza, que levam STP além-fronteiras, devem serabraçadas, acarinhadas eapoiadas.” Este responsávelconsidera que STP é um país“relativamente pequeno”, mas“grande em matéria depessoas”. A indústria e “quaseinexistente”, pelo que as“fontes de desenvolvimento deSTP estão mais direccionadaspara o turismo”. Paulo Jorge deCarvalho lembra que “há muitospaíses no mundo que têm oturismo como base da suaeconomia”. E STP “tem tudonatural para ser um potencial naárea do turismo”, que pode ser“um veículo para levantar aeconomia” do país. Com cercade 70% dos habitantes na faixados 30 anos, STP pode

aproveitar os jovens para o seudesenvolvimento, mas para talprecisa de formação e emprego.O governante acrescentou queas duas ilhas que constituemSTP padecem de “muitasnecessidades”. “Até há bempouco tempo quase 70% doorçamento geral do Estadodependia do nosso parceiroeconómico. A receita interna émuito reduzida e dependemos

muito dos parceiros externospara desenvolver STP.” Por isso,Paulo Jorge de Carvalhoagradece à AssociaçãoPortuguesa para a Promoção doEnvelhecimento Activo eSaudável esta iniciativa e“conseguir congregar nesta salagentes de diferentes níveis emuitas delas interessadas emparticipar neste projecto, que étrazer STP ao mundo.”

CML