Post on 21-Oct-2015
OTHERO, Gabriel de Ávila. A língua portuguesa nas salas de b@te-p@po: uma visão
lingüística de nosso idioma na era digital. Versão Digital. Novo Hamburgo: Editora do
Autor, 2002.
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A LÍNGUA PORTUGUESA NAS SALAS DE B@TE-P@PO
UMA VISÃO LINGÜÍSTICA DE NOSSO IDIOMA NA ERA DIGITAL
Gabriel de Ávila Othero
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“A linguagem fez-se para que nos sirvamos dela,
não para que a sirvamos a ela.”
Fernando Pessoa
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... p.
CAPÍTULO 1 – A INTERNET ............................................................................................. p.
1.1 BREVE HISTÓRICO DA INTERNET ..................................................................... p.
1.2 A INTERNET NO BRASIL .................................................................................... p.
1.3 AS SALAS DE BATE-PAPO ................................................................................. p.
1.3.1 CONVERSANDO COM O ICQ ............................................................... p.
1.3.2 USANDO AS PÁGINAS DA WEB ........................................................... p.
1.3.3 OS CANAIS DE BATE-PAPO DO IRC .................................................... p.
CAPÍTULO 2 – ESCREVENDO INTERNETÊS: A ANÁLISE DO CORPUS LINGÜÍSTICO ........... p.
2.1 ACOMODAÇÕES ORTOGRÁFICAS E ALGUMAS ALTERAÇÕES FORMAIS .............. p.
2.2 EXPRESSÕES ONOMATOPÉICAS ......................................................................... p.
2.3 SÍMBOLOS ......................................................................................................... p.
2.4 FORMAÇÃO DE PALAVRAS ................................................................................ p.
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2.5 SIGLAS .............................................................................................................. p.
2.6 ESTRANGEIRISMOS ............................................................................................ p.
CAPÍTULO 3 – PEQUENO DICIONÁRIO DE INTERNETÊS ................................................... p.
3.1 EXPRESSÕES USADAS ........................................................................................ p.
3.2 EMOTICONS ........................................................... .......................................... p.
ÚLTIMAS PALAVRAS ....................................................................................................... p.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... p.
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS .......................................................................................... p.
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INTRODUÇÃO
Na primeira vez em que entrei em uma sala de bate-papo pela Internet, senti-me
mais ou menos como se entrasse em um lugar (real) novo e diferente e tentasse conhecer
novas pessoas. Como não poderia deixar de ser, muitas dessas pessoas com quem tentei me
enturmar já estavam amplamente familiarizadas com o local e já eram conhecidas entre o
restante do grupo. Eu, ao contrário, era apenas um lammer - um novato, mais tarde descobri
- tentando conhecer gente nova e ampliar meus horizontes através da Internet.
Além de ser de fora da turma, enfrentei outro problema: um problema lingüístico!
Justo eu, um estudioso da área de Letras! Bom, acontece... O problema foi que, a princípio,
eu não conseguia entender direito o que os outros me falavam (na verdade, escreviam). Ou
melhor, entender, entendia, mas não gostava muito daquele jeito de escrever. Logo de cara,
já me perguntaram: “e ae, td blz? vc eh novo aki? tc de onde?”
Por ter me causado certo choque no começo (creio que causaria a qualquer um que
esteja acostumado a trabalhar, diariamente, apenas com a linguagem escrita culta), comecei
a escrever tudo de maneira “correta”, dentro da norma culta da língua, seguindo a ortografia
oficial, com a qual já estou habituado:
“Tudo bem comigo, e com você? Sou novo por aqui e teclo de Novo Hamburgo.
Onde você mora?”
É claro que a “minha” maneira de escrever causou tanta estranheza no meu
interlocutor quanto o jeito com que ele escreveu causara em mim. E também é evidente que
demorei muito mais a responder às mensagens e perguntas que me eram dirigidas (afinal,
tinha de ficar acentuando as palavras, colocando letras maiúsculas, pontuando corretamente
os períodos...) do que os outros, que já estavam utilizando (e criando) essa nova variação do
idioma.
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Após trocar algumas mensagens, meu mais novo amigo virtual – TNT era seu
nickname – me perguntou em que curso eu estudava na universidade (“q q tu estuda na
universidade?”). Respondi-lhe que era Letras, e ele deu uma gargalhada, dizendo que já
desconfiava, afinal eu escrevia tudo “certinho”. Mas... espere um instante. Como eu sei que
ele deu uma gargalhada, se nós estávamos nos comunicando através de mensagens escritas?
Já me explico. Foi mais ou menos assim o que ele me escreveu:
“HAHAHAHHAH bem q eu jah desconfiava!!! Soh podia fazer Letras pra escrever
td certinho desse jeito!!!”
E, para finalizar, ainda me mandou um emoticon, dizendo para que eu não me
preocupasse, que, com o tempo, eu me acostumaria com os novos termos e com a nova
maneira de escrever:
“Naum dah nada! daki a pouco tu te acostuma a escrever como os outros... :-)”
Percebi, então, que a linguagem culta era, ali, estigmatizada, que uma nova
linguagem estava se desenvolvendo, paralelamente aos avanços da Internet. Uma
linguagem que estava se adaptando às situações rápidas da escrita em espaço virtual e
tempo real.
Dei-me conta de que era a primeira vez na História da humanidade que as pessoas
se comunicavam, em tempo real, através da linguagem escrita. Dei-me conta também de
que essa mesma linguagem escrita estava sendo modificada, adaptada, antes de tudo, para
melhor servir a seus usuários. Vi que, talvez mais do que nunca na História, as pessoas
estavam escrevendo, usando esse código convencionado que acompanha o Homem há anos,
para se comunicar, trocar idéias, começar romances, terminar namoros, discutir assuntos
com pessoas de lugares distantes etc.
As salas de bate-papo e os canais do IRC (um tipo de programa de conversa pela
Internet) me mostraram isso: basta ver quantas salas existem – e com os mais variados
tópicos para assuntos, desde Futebol, passando por Rock, Literatura e Moda até Filologia,
Arte Japonesa do século III e Culinária –, basta verificar quantas pessoas estão on line,
“conversando” nesses novos ambientes virtuais.
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Diante de tantas indagações, descobertas e reflexões, fiquei boquiaberto!
Que grande noite de descobertas (sim, não mencionei, mas era de noite)! Em poucas
horas conectado, percebi tudo isso e pensei com os meus botões: “já que eu gosto de bater
papo on line e navegar na Internet e também gosto de estudar a língua portuguesa, por que
não estudar esses novos fenômenos? Por que não descrever, analisar e tentar entender essas
novas transformações da nossa língua nessa era digital? Por que não tentar descobrir o
quanto isso pode influenciar em nosso idioma daqui para a frente?”.
Pois é... resolvi aceitar o desafio e aqui estou, escrevendo a introdução para este
trabalho agora transformado no livro que tens nas mãos. Ele pretende ser o meu passo
inicial no estudo da língua portuguesa no meio virtual. E, como primeiro passo, serão
analisados principalmente fenômenos, alterações e inovações que dizem respeito ao léxico
da língua portuguesa.
Explicito agora o que será discutido em cada capítulo desta pesquisa: no capítulo 1,
o leitor poderá saber um pouco mais sobre a história da Internet e sua implantação no
Brasil, além de ficar conhecendo algumas das diversas maneiras de se comunicar através da
rede. O capítulo seguinte é o cerne do trabalho. É lá que se encontra grande parte do
corpus lingüístico – que contém mensagens de ICQ, e-mails, message boards, conversas
em salas e canais de bate-papo – com as análises, interpretações e explicações. O capítulo
3, por sua vez, vem a ilustrar melhor o trabalho, já que é um pequeno DICIONÁRIO DE
INTERNETÊS, o que poderá facilitar (espero) a vida do leitor quando resolver entrar em uma
sala de bate-papo virtual. Por último, na conclusão do trabalho, tento discutir e argumentar
a respeito de algumas questões importantes concernentes à verdadeira revolução lingüística
por que o português está passando no meio virtual.
Sem mais por hora, desejo a todos uma boa leitura.
O autor
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CAPÍTULO 1 – A INTERNET
1.1 BREVE HISTÓRICO DA INTERNET
A Internet é a famosa rede mundial de computadores, que interliga milhares de
computadores do mundo inteiro, formando uma gigantesca e verdadeira rede de
informações. Essa tecnologia, apesar de ser bastante recente no Brasil, já pode ser
considerada uma balzaquiana, pois surgiu há mais de 30 anos, nos Estados Unidos. Ela foi
idealizada e posta em prática mais precisamente no ano de 1969, por uma iniciativa do
Departamento de Defesa Americano, que queria descentralizar as informações de seus
centros de pesquisa, interligando vários centros estratégicos através de uma rede de
computadores. Assim, em caso de uma guerra, não haveria apenas um único ponto vital,
mas vários lugares que estariam compartilhando as mesmas informações, sem uma ordem
hierárquica estabelecida..
A primeira rede, desenvolvida pela ARPANET (Advanced Research and Projects
Agency), interligou quatro instituições, conectando os computadores de seus departamentos
de pesquisa. Para essa primeira conexão, foram escolhidos os seguintes locais como sites: a
Universidade de Los Angeles (UCLA), o Instituto de Pesquisa de Stanford (SRI), a
Universidade de Santa Bárbara (UCSB) e a Universidade de Utah.
Após anos de pesquisas, tentativas e inovações, finalmente, no início da década de
80, muitos outros centros de pesquisa passaram a aderir à ARPANET, aumentando
consideravelmente o número de computadores interligados e a quantidade de informações
transmitidas. Já no começo do anos 90, grandes universidades e centros acadêmicos da
Europa estavam conectados à Internet, e faltava pouco para que ela atingisse o grande
público.
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Em 1993, a Internet enfim perdeu seu caráter exclusivamente acadêmico e passou a
ser explorada comercialmente, ampliando ainda mais o seu alcance. Do começo da década
de 90 para cá, o número de servidores da grande rede cresceu de cerca de 100 mil para
quase 20 milhões. Estima-se que já sejam mais de 318 milhões de usuários da rede em todo
o mundo – aproximadamente 5% da população mundial.
Em relação ao número de páginas na Internet, calcula-se que as páginas WWW (da
World Wide Web) proliferam-se com um crescimento de cerca de 340% ao ano. E essas
estatísticas tendem a aumentar, uma vez que a Internet está se tornando cada vez mais
acessível a diversos países do Terceiro Mundo e conquistando multidões de novos usuários
todos os anos.
Além de todos esse impressionantes números, a influência da Internet tornou-se
tamanha que revolucionou todo o mercado e a economia global. No mundo dos negócios,
foram criados os conceitos de e-business e e-commerce, modificando e inovando na
maneira de compra e venda de produtos e também no modo como as grandes e pequnas
empresas passaram a se comunicar com seus consumidores. Agora, lojas e instituições não
possuem mais apenas o espaço físico, real; possuem também um espaço virtual, medido em
bits e bytes e que pode oferecer ainda mais conforto e comodidade para quem quiser
comprar, sem precisar sair de sua própria casa.
Além disso, a Internet democratizou o mercado multimídia. Hoje em dia, pode-se
ler um livro na rede, baixar grandes obras clássicas da literatura mundial direto para o seu
próprio computador, usar quadros de grandes mestres da pintura como papel de parede do
seu ambiente de trabalho e até mesmo fazer o download daquela música dos Beatles que há
tanto tempo procurava e nunca havia encontrado nas lojas. É claro que tudo isso tem seu
preço: além das indesejáveis propagandas que o usuário se vê obrigado a ter em sua tela e,
até mesmo, receber em sua caixa de correios, há quem diga que muita coisa de graça na
rede é pirataria e pode ser considerado como material ilegal e criminoso. É o que vem
acontecendo com os arquivos em MP3, formato de música que revolucionou a indústria
fonográfica, porque oferecem música de alta qualidade, fácil de ser copiada e repassada de
computador para computador, sem que as grandes gravadoras sequer vejam a cor do
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dinheiro investido no trabalho. É certamente uma questão complicada, mas, como todo
conteúdo da Internet, também o MP3 tem o seu caráter inovador e democrático.
Ainda, é claro, a revolução nos meios de comunicação deve ser mencionada.
Através da rede, milhares de pessoas dos mais diversos países podem se comunicar
simultaneamente, sem, para isso, precisar pagar o custo de uma ligação internacional. Além
do mais, é possível “conversar” com diversas pessoas – de diferentes localidades do mundo
– ao mesmo tempo. Nunca as distâncias foram tão curtas. Nunca, também, as pessoas se
utilizaram tanto da linguagem escrita para se comunicar. Apesar de existir uma tecnologia
capaz de transmitir mensagens de áudio pela rede, esta parece ter sido eleita pelos usuários
apenas para a transmissão de rádio, sons e músicas, já que os mais populares meios de
comunicação através da rede continuam sendo as mensagens via e-mail e as salas de bate-
papo. Milhares de pessoas, todos os dias, se encontram em salas e canais de bate-papo e
literalmente conversam através de mensagens escritas. E como a língua escrita está sendo
usada nesta era digital? Isso é assunto para um próximo capítulo.
1.2 A INTERNET NO BRASIL
A Internet chegou a nosso país em 1988, graças a iniciativas de comunidades
acadêmicas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Porém, foi somente após seis anos de testes e
aperfeiçoamentos que foi iniciada a sua exploração comercial.
Segundo a Abranet (Associação Brasileira dos Provedores de Acesso, Informações e
Serviços da Rede Internet), o Brasil tem cerca de 380 provedores de acesso à Internet, com
um total de quatro milhões de usuários. E, com a chegada de novos provedores gratuitos e
outros com novas tecnologias de conexão mais rápido, a previsão é de que o número de
usuários brasileiros dobre nos próximos anos.
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E não é só isso: em 1996, as mulheres brasileiras, que representavam apenas 12%
dos usuários da Internet, hoje representam cerca de 44%, mostrando que o público-alvo da
grande rede também está mudando e se diversificando, ampliando ainda mais suas
pretensões comerciais e expansionistas.
Todos esses dados comprovam o quão abrangente e promissora essa nova
tecnologia de comunicação vem demonstrando ser. A cada ano, o número de usuários
multiplica-se no mundo todo, chegando cada vez a pontos mais distantes e permitindo
acesso (e troca) de informações entre as mais variadas pessoas dos mais diferentes países.
Com cerca de quatro milhões de internautas e um crescente aumento desse número
todos os anos, o Brasil vem demonstrando ser uma grande e promissora potência no espaço
virtual. Cada vez mais, provedores estrangeiros – como a Starmedia e a America Online –
vêm demonstrando grande interesse pelo usuário brasileiro. Com tanta gente
falando/escrevendo o português brasileiro na rede, qual será o impacto imediato na nossa
língua, que cada vez mais se distancia da língua de Portugal? E, a longo prazo, o que
poderemos esperar dessa revolução internáutica?
1.3 AS SALAS DE BATE-PAPO
Por ter um alto caráter de interatividade, as salas de bate-papo (os chamados chat
rooms ou somente chats) logo se tonaram uma verdadeira mania na Internet. Através desses
chats, é que se tornou possível “conversar”, em tempo real, com uma pessoa em qualquer
parte do planeta através do computador.
Na medida em que as tecnologias para a rede foram evoluindo, também os chat
rooms foram ficando melhores e mais diversificados, oferecendo ao usuário uma interface
mais agradável e eficiente. Hoje em dia, existem diversas maneiras de se “bater papo” pela
rede. As formas mais conhecidas e difundidas são as três seguintes: conversas pelo
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programa ICQ ou similares); conversas através de páginas da web; e através de programas
com a tecnologia IRC.
1.3.1 CONVERSANDO COM O ICQ
O ICQ (www.icq.com), lê-se como I seek you /ai si:k iu:/, que, em inglês, significa
algo como eu procuro você, é um freeware (ou seja, um programa que pode ser distribuído,
copiado e instalado gratuitamente) criado pela empresa israelense Mirabilis e recentemente
comprado pela norte-americana America Online. É, atualmente, um dos programas mais
populares para conversas on line, sendo utilizado por mais de 38 milhões de usuários. Uma
vez instalado no computador, o usuário pode criar uma lista de amigos, adicionando
pessoas que também têm o ICQ instalado. Toda vez que alguém dessa lista estiver
conectado à Internet, o programa irá dar um aviso, tornando possível, então, a conversa
através do programa.
Além de possibilitar dois tipos de conversas – a troca de mensagens curtas ou uma
janela onde os dois internautas interagem simultaneamente –, o ICQ também apresenta
outros recursos, como a troca de arquivos de qualquer espécie e o envio de e-mails.
A grande vantagem desse programa é que o usuário não precisa entrar em uma sala
de bate-papo para tentar encontrar pessoas com quem conversar; ao contrário, assim que
alguém de sua lista de amigos se conectar, o programa irá avisá-lo e permitirá, a partir daí,
trocar mensagens ou conversar on line.
1.3.2 USANDO AS PÁGINAS DA WEB
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As salas de bate-papo através de páginas da web são também muito populares entre
os internautas. Todos os grandes portais (sites grandes de conteúdo e informação), como o
Universo Online (www.uol.com.br), o Terra (www.terra.com.br) e a Starmedia
(www.starmedia.com.br) entre outros, possuem seus próprios chat rooms, divididos,
geralmente em salas de interesses, com tópicos específicos. Assim, é possível que o usuário
entre em uma sala onde encontrará pessoas com quem tenha possíveis afinidades. Existem
os mais diversos títulos de salas de bate-papo, desde o nome de cidades (como
Votuporanga, São Paulo ou Novo Hamburgo), passando por salas divididas por idade
(desde salas “de 8 a 10 anos” a “mais de 50 anos”) até salas com assuntos bem específicos
(como Ufologia, Surfe ou Literatura).
Segundo dados da Folha de São Paulo, o Universo Online é o site brasileiro com o
maior número de salas de bate-papo, com cerca de 1.500 salas, divididas em dez categorias,
como Sexo, Por Idade, Esportes etc. Em horários de maior movimento, calcula-se que
mais de vinte mil usuários estejam conectados aos chat rooms do site.
1.3.3 OS CANAIS DE BATE-PAPO DO IRC
IRC é a forma acronímica para Internet Relay Chat, ou seja retransmissão de
conversas pela Internet. O primeiro programa desse estilo foi escrito por um programador
finlandês chamado Jarkko Oikarinen, que provavelmente estava cansado do longo
isolamento causado pelos invernos escandinavos e resolveu criar uma nova forma de
conversar via teclado do computador.
Por mais utilizadas que sejam as páginas da web e os chats via ICQ, os programas
com a tecnologia IRC são ainda imbatíveis. Eles são os meios mais empregados por
internautas de todo o mundo para participar de uma sala de bate-papo (ou canal de bate-
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papo) e conversar on line. Dentre os programas mais utilizados para acessar canais do IRC,
estão o mIRC (para o Windows), o ircII (para o sistema Unix) e o Ircle (para os usuários do
Macintosh).
Há, atualmente, milhares de canais disponíveis espalhados pelo mundo inteiro. No
Brasil, há uma vasta relação de servidores e canais nos sites das duas principais redes de
IRC do Brasil, a BrasNET e a BrasIRC.
Além de inúmeros servidores e canais de conversa, o sistema IRC possibilita aos
usuários que criem seus próprios canais, de acordo com seus interesses. Assim, alguém em
São Paulo poderá criar uma sala com o tópico “Filologia Portuguesa”, por exemplo, e
esperar que outros usuários de qualquer parte do mundo interessem-se pelo assunto e se
conectem ao canal, iniciando uma conversa on line.
Como pode-se perceber, há diversas maneiras possíveis de interagir com outras
pessoas através da Internet, e todas essas maneiras apresentadas pressupõem o uso do
código escrito como meio de comunicação em tempo real. Como foi visto na introdução
deste trabalho, a língua escrita utilizada pelos internautas está rapidamente sendo
modificada e sofrendo alterações em níveis semânticos, morfológicos, fonéticos e lexicais.
E é exatamente sobre isso que os próximos capítulos irão tratar.
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CAPÍTULO 2 – ESCREVENDO INTERNETÊS: A ANÁLISE DO CORPUS LINGÜÍSTICO
Há milhares de anos, desde que aprenderam a viver em sociedade, os seres humanos
têm-se organizado em grupos. E cada grupo sempre apresentou suas próprias
características, que os diferenciavam dos demais. Ainda hoje é assim. Essas marcas
diferenciais podem ser cortes de cabelo exclusivos, vestimentas incomuns, tatuagens,
hábitos únicos ou podem até mesmo ser traços lingüísticos distintos que fazem com que um
grupo se caracterize, distinguindo-se de outros.
Desse modo, sabe-se que a língua dos surfistas, por exemplo, é repleta de gírias e
expressões que os identificam, fazendo com que pessoas de fora de tal grupo encontrem
dificuldades ao tentar entender seu linguajar característico. Assim também acontece quando
alguém ouve uma conversa entre dois médicos, com seus termos técnicos e jargão próprio.
Como disse Maria Helena de Moura Neves em entrevista ao jornal ABC Domingo
de 8 de outubro de 2000, “cada grupo social tem sua própria linguagem. O que é necessário
é usar de bom senso para saber utilizar a língua de acordo com o receptor dessa mensagem,
para que a comunicação seja feita de forma plena. É como se fôssemos poliglotas, com um
discurso diferente dependendo da situação. Quanto mais o falante aproximar-se do grupo
em que estiver interagindo, mais eficiente estará sendo a sua comunicação.”
O que será analisado neste capítulo será o discurso on line, a linguagem dos
internautas brasileiros. Uma linguagem repleta de expressões novas, palavras estrangeiras,
abreviações, neologismos semânticos, emoticons, entre outros. Enfim, tudo com que um
estudioso da linguagem gostaria de se deparar!
O estudo desta linguagem predominantemente escrita irá focalizar especialmente o
nível lexical da língua, através da análise do vocabulário usado pelos internautas.
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Evidentemente, para enriquecer o trabalho, outros fatores também serão comentados e
explicados.
No capítulo três desta pesquisa, encontra-se um pequeno dicionário de internetês,
que contém todas as palavras e expressões novas encontradas no corpus lingüístico do
trabalho. Como foi visto, o corpus, que foi coletado entre 1997 e 2000, contém conversas
em salas de bate-papo da Internet, conversas em canais de IRC, conversas através do
programa ICQ, mensagens de e-mail, mensagens através do ICQ e ainda mensagens
deixadas em message boards de páginas da Internet.
2.1 ACOMODAÇÕES ORTOGRÁFICAS E ALGUMAS ALTERAÇÕES FORMAIS
Ao analisar o vocabulário contido no corpus lingüístico, foi possível estabelecer
alguns padrões em que as mudanças ocorrem. Assim, para escrever (ou para entender)
qualquer palavra em uma sala de bate-papo, basta verificar em qual das regras abaixo ela se
encaixa e formar uma palavra nova, coerente com o padrão utilizado nos chats.
Veja o trecho de um diálogo entre GAB e TNT, dois usuários de um canal de IRC:
<GAB> e ae, TNT!!
<GAB> ainda lembra dos velhos amigos?
<GAB> eheh
<TNT> AEEEEEEEEEEEEEEEEE
<TNT> DAE Gabriel!
<TNT> cara
<TNT> qt tempo@
<GAB> ehhehe
<GAB> põe tempo nisso!
<GAB> agora resolvi entrar pra matar as saudades...
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<GAB> mas de conhecido soh encontrei a ti!
<TNT> bah
<TNT> tem alta galera
<TNT> mas hj eh domingo
<TNT> o pessoal dos velhos tempos entra mais em dia de semana..
<TNT> amanha denoite te garanto q tu vai encontrar uma galera
<GAB> blz
Pode-se perceber como a conversa apresenta um ritmo solto e veloz, despreocupado
e coloquial. Uma nova forma de escrita caraterística dos tempos digitais foi criada. Frases
curtas e expressivas, palavras abreviadas ou modificadas para que sejam escritas no menor
tempo possível – afinal, é preciso ser rápido na Internet. Como a conversa é em tempo real
e pode se dar com mais de um usuário ao mesmo tempo, é preciso escrever rapidamente.
Além do mais, o provedor de acesso à Internet é pago e tarifado e quando não o é, ainda
assim é preciso não perder muito tempo, já que uma linha de telefone está sendo usada para
a Internet. E se isso não bastasse, é imprescindível a velocidade em uma “conversa” que
usa a língua escrita, pois comunicar-se em tempo real com mais de um interlocutor através
da palavra escrita exige que se diga muito escrevendo pouco. É a velha e conhecida lei do
MINIMAX, que ajuda muito a explicar as evoluções nas línguas: mínimo esforço para o
máximo de expressão.
Em relação à análise do discurso, é possível, à primeira vista, notar muitas
modificações comparando o texto on line a um discurso formal, como por exemplo:
- As frases são curtas e rápidas;
- Há ausência de letra maiúscula no começo das sentenças;
- Para dar ênfase ao enunciado, os internautas usam novos recursos gráficos, como
vários pontos de exclamação;
- Há uma incrível coerência na escrita, mesmo com frases sintéticas e com formas novas.
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Devido ao contexto e aos conhecimentos pragmáticos dos interlocutores, o diálogo
mantém plena coerência. É como já disse Maria Helena de Moura Neves no trecho citado
acima, “é como se fôssemos poliglotas, com um discurso diferente dependendo da
situação”.
Como porém, vamos nos ater mais ao léxico, às palavras e expressões usadas pelos
internautas, outros fenômenos serão analisados. Como, por exemplo:
� O uso da letra h no lugar do acento gráfico aberto ´. No trecho acima (a conversa
entre GAB e TNT), aparecem as palavras soh, bah e eh, ao invés de só, bá e é.
O acento gráfico, por ser um empecilho a mais na hora da escrita, está entrando em
desuso, e, em seu lugar, os internautas estão utilizando a letra h ao lado da vogal para
indicar que ela tem um som aberto.
Acompanhe outros exemplos:
Mensagem de um message board:
Apesar de jah ter visto e ouvido todo o estress que dah monta essa página o trabalho ficou
muiiito bom !! nao eh a toa que quem faz e dono da melhor empresa do vale do sinos no
desenvolvimento de Homepage !! nao eh puxar o saco eh pq tb eh minha a empresa !!
Conversas via IRC:
<Denise19> nunca vi um programa ateh o fim
<MORSA> comecei mal, neh?
<MORSA> falando desse programa...
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<|Vogt-> onde tu passaa o recreio!
<|Vogt-> ?
<dreamy> sei lah, lah na frente da rádio, por ali
<dreamy> e tu?
<|VXR|-Vogt-> nas arkibancada!
<|VXR|-Vogt-> perto da radio
<dreamy> ah
<dreamy> dani, tu vai í na festa do aliança sexta?
<DaNiZiNhA-NH> achu ki vo...tu vai ih ?
<dreamy> achu q sim tb
<DaNiZiNhA-NH> ;))
Trecho de conversa em sala de bate-papo:
Toponimo>> bah, cara, naum vai dah pra ir lah hj...
Ricky>> mas pq naum??
Toponimo>> vou ter q ficar em casa fazendo uns trabalhos e talz...
Assim, em uma primeira análise, é possível constatar que as seguintes modificações
ocorreram nas palavras:
só > soh
é > eh
já > jah
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dá > dah
até> até
né > neh
lá > lah
ir > ih
dar > dah
O acento agudo é simplesmente substituído pela letra h nos finais das palavras. E
esse fenômeno acontece com as vogais finais abertas tônicas, acentuadas ou não, como
pode ser observado nos dois últimos trechos, em que o verbo ir passou a ih e o verbo dar a
dah. Esse fenômeno não acontece com vogais abertas em posição medial ou inicial, átonas
ou tônicas. No caso dos verbos no infinitivo terminados em –ar e –ir, a tendência, na fala é
de não pronunciar a consoante r do final. Então, escrever dah ou ih representa mais uma
vez a forte presença da oralidade na escrita internáutica.
No capítulo três, há uma abrangente listagem de palavras recolhidas do corpus que
apresentam a mesma modificação.
O sinal gráfico agudo está deixando, então, de ser utilizado. Nas palavras com as
vogais finais abertas tônicas, ele é substituído pela letra h, e quando a vogal acentuada se
encontra no meio da palavra, ele é muitas vezes omitido.
Por mais incrível que possa parecer ao usuário de primeira viagem, há uma
convenção de regras e normas de etiqueta para quem quer se aventurar pelas salas e canais
de bate-papo virtual. É a chamada netiqueta, e pode ser encontrada em diversos sites
nacionais e internacionais. Nesse manual de etiqueta na Internet, aparece uma regra que diz
o seguinte: “evite utilizar acentos em e-mails. Dependendo do tipo de ferramenta que a
outra pessoa utiliza, as letras acentuadas podem aparecer trocadas. Para não correr esse
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risco, o melhor é simplesmente não utilizar nenhum acento.” Assim, além de representar
um empecilho a mais na conversa em tempo real pela Internet, a acentuação pode bagunçar
toda uma comunicação via e-mail também. Uma frase como “É necessário que você vá
Viamão hoje à tarde” (exemplo retirado do artigo de Anete A. Pezzini, revista
Entrelinhas, 2000 – p. 14 a 17), poderia, dependendo do programa de correio eletrônico e
de suas configurações, transformar-se em “E9 necess=A7rio que voc=EA v=A7 a
Viam=A9 hoje A3 tarde.”
Por esses motivos, além de o sinal de acento agudo estar em processo de
desaparecimento, como foi observado, outros acentos também o estão. A crase já é muito
pouco utilizada, seja pela inconveniência de se utilizar tal acento, seja pelo
desconhecimento de seu uso correto. Além disso, essa marca gráfica não altera em nada o
timbre da vogal na linguagem falada, e talvez isso seja também mais uma dificuldade para
inseri-la em textos on line, que apresentam um caráter marcadamente oral. O acento
circunflexo também aparece muito pouco e não está mais sendo usado.
Algo muito interessante, porém, está acontecendo com o sinal gráfico til (~),
principalmente nos ditongos nasais, marcados com tal grifo. Os usuários não estão
simplesmente ignorando a marca do til, mas estão também criando novas formas de
escreverem os ditongos ão e ãos. Veja o trecho que segue, que é parte do e-mail de Lélio
F., enviado em dezenove de fevereiro de 2000 para uma lista de discussão chamada
FEGAJIE:
Bom, eu naum fui a nenhuma reuniaum pois naum moro em POA, e uma viagem ateh aih
demora, de carro, cerca de 3h, ou de onibus custa em torno de R$ 20,00 ...
Naum posso ir aih soh por causa da reuniaum...
Entaum era isso, eu falei, respondi ao mail, dei a desculpa (;PP)
Antes de continuar, vale lembrar que os textos em e-mails, e mensagens de message
boards são diferentes dos textos em conversas on line no que concerne à preparação de pré-
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escrita e ao tempo para a escrita. O primeiro tipo de texto pode ser pensado, escrito, lido,
monitorado e reescrito antes de ser enviado ou postado na página (no caso de message
boards). Já a conversa virtual acontece em tempo real, freqüentemente com vários usuários
ao mesmo tempo. Ela tem de ser escrita rapidamente e logo enviada. Ainda assim, como
pode-se perceber, todos os discursos on line apresentam as mesmas alterações formais da
escrita internáutica. Houve um contágio e uma verdadeira padronização implícita em
relação à formalização da escrita on line em suas diferentes manifestações. Como será
discutido na conclusão, o discurso on line pode influenciar também em discursos escritos
em outros meios, onde se espera o uso da norma culta da língua.
Mas voltando ao novo uso da marca do til, analisando o e-mail acima percebem-se
as seguintes alterações (nas palavras grifadas):
não > naum
reunião > reuniaum
então > entaum
Essas não são, porém, as únicas formas possíveis encontradas. Como acontece
também com o acento agudo, além das formas vistas, há ainda quem use a norma padrão da
ortografia oficial e quem simplesmente deixa de usar a acentuação e a marca do til:
Trecho de conversa por ICQ:
GAB> putz
e entaum?
acha q a gente deve fazer uma jantinha antes do Joe ir
viajar ou naum?
Airwolf> a minha casa ta liberada ate domingo
GAB> blz
a gente podia ir no girassol na quinta
q q tu acha?
24
Airwolf> nao..
nao vai dar
esquece
GAB> pq?
Airwolf> por q nao...
sei la
tem q ver cara
liga pra ele
ele q ta complicando
nao eu
Logo, é possível elaborar, em relação à acentuação do sinal agudo e à marca gráfica
do til, o seguinte quadro:
� O uso do sinal gráfico aberto:
a) em vogais abertas finais tônicas acentuadas:
- padrão
ateh
até ate
até
+ padrão
Explicações:
até > ateh
O acento gráfico desaparece, e, em seu lugar, é escrita a letra h para indicar que a vogal (e
nesse caso) tem o timbre aberto.
25
até > ate
De acordo com a indicação da netiqueta, o uso do acento é simplesmente ignorado.
b) em verbos no infinitivo terminados em –ar e –ir:
- padrão
dah
dar
dar
+ padrão
Explicações:
dar > dah
A tendência do falante do português brasileiro é terminar as palavras sempre em sons
vocálicos. Dessa forma, na fala, os verbos no infinitivos são pronunciados, em geral, sem o
r final: falar [fa´la], fazer [fa´ze] e sair [sa´i]. Devido à forte influência da oralidade na
escrita dos internautas, a letra h que, ao lado da vogal final, deixa-a com um som aberto,
passou a ser usada também ao lado das vogais a e i em verbos no infinitivo.
c) em demais vogais abertas que não sejam finais tônicas:
- padrão
oculos
óculos
óculos
+ padrão
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Explicações:
óculos > oculos
O sinal gráfico é simplesmente ignorado.
� O uso do til:
a) em ditongos nasais ão e sua forma plural ãos:
- padrão
entaum
então entao
então
+ padrão
- padrão
mauns
mãos maos
mãos
+ padrão
Explicações:
então > entaum
O ditongo nasal ão - /ãw/ - foi substituído pela sílaba de semelhante ou idêntica pronúncia
aum - /ãw/ -, se for levado em consideração que a nasalização que a letra m exerce sobre o
27
u contagia também a letra a. Além do mais, analisando a origem e a evolução das palavras
desde o latim, percebe-se uma saborosa coincidência:
manum (latim) > maum > mão (português)
Aconteceu, nesse processo, a síncope (queda) do n intervocálico, a evolução da vogal u
para o e o [m] nasalizou tanto o o quanto a vogal a.
Continuando essa análise diacrônica, desde a antiga região do Lácio até as salas de bate-
papos, eis o esquema completo da análise de evolução:
manum > maum > mão > maum
Quem diria que os internautas estão, no fundo, usando formas eruditas em suas conversas
virtuais?
Já no exemplo visto em mauns, tem-se:
mãos > mauns
Assim como ão resultou em aum, sua forma plural aõs conseqüentemente deu
origem à auns.
� O uso da letra K
Banida oficialmente da língua portuguesa, a letra k parece ter achado, enfim, um
novo e aconchegante lar: as salas de bate-papo. De acordo com o Vocabulário Oficial da
Língua Portuguesa, a letra k (juntamente com w e y) podem ser usadas somente em alguns
casos especiais, como em antropônimos oriundos de outras línguas e seus derivados (Kafka,
kafkiano, por exemplo); topônimos de outros idiomas e seus derivados (Kuwait,
kuwaitiano); e em siglas, símbolos e palavras adotadas como unidades de medida
conhecidas internacionalmente, como kg (quilograma) e km (quilômetro).
28
No mundo das conversas virtuais, no entanto, outro tem sido o uso do k. Veja os
exemplos que seguem:
Recado extraído de um message board:
Aliens existem, cuiedem-se meninas... ahhh.. ARRaiauuuu sexta,
vai tah "fumando" como diz nosso kerido amigo Pedrote
..uhUhuHU Faloww
Trechos de conversas extraídas de canais de IRC:
<GAB> e ae, figura!
<GAB> blz?
<TheWizard> Eaeeeeee
<TheWizard> To em altos papos com a Tina e talzzzz
<GAB> valeu pelas fotos!
<TheWizard> Pegou as fotinhos?
<GAB> ficaram bem tri
<GAB> tava muito a fu o teu aniversário!
<GAB> ehhe
<TheWizard> Q tri
<TheWizard> Massa mesmo
<GAB> espero q ainda esteja usando akela caneca!
<TheWizard> As fotos no papel ficaram melhores
<TheWizard> Sim claro
<TheWizard> Mas ainda naum da pra gelar
<TheWizard> Depois vai ser soh ela!
29
<dreamy> tu vai competi neh gre??
<dreamy> claru q vaiiiii
<Gre> naumm lô
<Gre> eh serio
<dreamy> como naumm?
<dreamy> pq?
<dreamy> tu tah tri bem.....sério mesmu
<Gre> mas eh o compromisso sabe lo
<Gre> q eu naum gostu
<Gre> akilo de ir pros treinos tendo q acertar
<dreamy> ahh gre, eu achu q tu devia competi, mas tu q sabe, sei lah...
<Gre> eu fico muito nervosa
<|Vogt-> tipo
<|Vogt-> onde tu passaa o recreio!
<|Vogt-> ?
<dreamy> sei lah, lah na frente da rádio, por ali
<dreamy> e tu?
<|Vogt-> nas arkibancada!
<|Vogt-> perto da radio
<dreamy> ah
Além, é claro de a letra k ser muito utilizada em termos estrangeiros relacionados ao
mundo da informática (conforme será visto mais adiante neste capítulo), ela também, como
pôde-se observar, substitui o dígrafo (duas letras que representam apenas um fonema) qu,
que foneticamente é representado pela letra k. Assim, ao invés de o internauta escrever
arquibancada, escreve arkibancada, aquilo passa a ser akilo etc. É um processo bastante
30
eficiente na escrita, já que não será preciso digitar duas letras para representar um único
som da fala, e já que existe a letra k em qualquer (kualker) teclado de computador
disponível. Acompanhe as alterações:
aquela > akela
aqui > aki
aquilo > akilo
arquibancada > arkibancada
querido > kerido
...
No capítulo três (no Dicionário de Internetês), há uma extensa lista de palavras
encontradas no corpus de pesquisa deste trabalho que apresentam o mesmo fenômeno.
Aliás, esse fenômeno pode ser chamado de simplificação ortográfica, uma vez que, ao invés
de usar um dígrafo, o usuário da Internet está usando apenas uma letra para representar um
som.
E a influência do uso do k é tanta que, muitas vezes, os usuários estão até mesmo
utilizando essa letra no lugar da letra c quando apresenta o som representado pelo fonema
[k]. Observe os textos abaixo:
Recados deixados em um message board:
Chuvinha sux, num sei se vai rolar Ok, mas o vinhu talvez...
né mii Sabado IBZ®( Preciso falar + ¿?) ... Mil Batidas Por
minuto no UK e-rrera na kabeça nennemmmmm !!!! Abraços
pra gurizada da hempa...hehehe e do techno..
31
Uhmmm OOOOOOOKKK! hihihi, bom né, ... daki a poko
tenho q tah lah, trabalhar e talz.. alguma coisa eu ateh q faxuu
hihihi. bom o kentao maix bao ces jah sabem eh na barrakitcha
da fundeka ;]
Trecho de conversa pelo IRC
<dreamy> q q tu tah comendo?
<DeStRoYeR> comendo negrinhu!
<DeStRoYeR> =]
<DeStRoYeR> :P
<DeStRoYeR> krispis
<DeStRoYeR> huahuahuahuuahhua
<DeStRoYeR> uns troço de chokolate
<DeStRoYeR> hehehehehe
<dreamy> bah, nem fala q dá fome
Trecho de conversa pelo ICQ
GAB> tah bueno
mas quando chegar mais perto eu te ligo pra gente combinar e tal...
Pedrote> sem galho, vamu faze um festere legal...
GAB> blz
entaum, daqui há umas 2 ou 3 semanas eu te dou um toque.
Pedrote> nao eskece ...
OBS.: Vcs sao mesmo lokos, vao no boliche e vao embora as 12
32
Nos trechos acima, os internautas utilizaram as palavras kabeça, poko, chokolate e
lokos, respectivamente. Analisando essas palavras, obtém-se o seguinte:
cabeça > kabeça
- A letra c por representar o fonema [k] passa a ser substituída pela letra k, de uso
corrente nos bate-papos virtuais.
pouco > pouko > poko
loucos > loukos > lokos
- A letra c foi substituída pela letra k novamente e
- Ocorreu uma monotongação (ou > o), graças à influência da oralidade na escrita.
chocolate > chokolate
- Como nos casos anteriores examinados, a letra c representando o fonema [k] foi
substituída pela letra k.
� O uso do X
Assim como a letra k é utilizada no lugar de um dígrafo, com o intuito de
simplificação na hora da escrita, a letra x também desempenha esse papel. O x é diversas
vezes usado no lugar da combinação das letras ch para representar o som [� ], como nas
palavras xícara ou chá. Essa troca, porém, é bem menos utilizada pelos internautas, talvez
por representar formas que são tradicionalmente estigmatizadas, que possam antes
demonstrar um desconhecimento do uso correto do ch do que uma inovação lingüística.
33
Ainda assim, tal fenômeno pode ser encontrado, como confirmam os seguintes
trechos:
Conversa através do IRC:
<dreamy> foi bem na prova de física?
<Seixa > psss.. axu q zerei.. eu peguei os resultados da outra prova e copiei.. eu fiz, mas
nunca dava os resultados iguais dai eu colocava os q eu sabia..
<Seixa > bah fui mt mau mesmo
<Mac> pq naum foi ontem no boliche ?
<dreamy> bah, naum tava afim
<dreamy> bolixi jah enjoo
<dreamy> qm foi?
Recado de um message board:
aeeeeee! agora isso aqui num vai vira xinelagem!
Nos casos acima vistos, a letra x substituiu o dígrafo ch nas palavras acho, boliche e
chinelagem.
Apesar de, como foi dito, essa alteração ainda não ser muito freqüente, a tendência é
que, com o tempo, os internautas se acostumem a escrever x sempre que desejarem
representar o som [� ], pois por trás de todas as alterações estudadas até agora, os princípios
da lei do MINIMAX têm sido seguidos.
34
Além de substituir as letras ch para representar o som [� ], o x, quando está no final
de uma palavra, pode representar também o som [ks], geralmente representado pelas letras
cs. Como exemplo, há a expressão inglesa it sucks que, na gíria, significa que algo é ruim
ou chato. Veja o que acontece nos trechos abaixo:
Chuvinha Suxx!! :( .....tô vendendo meu ingresso para a festa do
Ok a 5 pila ,quem quiser...,
By Pietra & Beti bah...tah boa essas bolachas neh beti??????
uhauHUAHuahUAHuahu cara.....mto SUXXX aki em poa...soh
serve pra toma café e comer bolacha...
Nesses casos, a expressão passou de sucks para sux, e a letra x foi utilizada para
desfazer o encontro consonantal, facilitando a escrita.
Analisando os primeiros trechos acima, pode-se observar outra alteração formal nas
palavras:
� A mudança do e final para i e do o final para u. Veja que está escrito axu ao invés
de axo e bolixi ao invés de bolixe (como deveria ser, caso ocorresse somente a
transformação de ch > x).
Veja outros exemplos, todos de conversas em canais de IRC:
<dreamy> to induuuu
<dreamy> beijusssss
<DaNiZiNhA> bejusss
<DaNiZiNhA> té amanaha
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<DaNiZiNhA> té amanhã
<dreamy> teh
<DaNiZiNhA-NH> by
<DaNiZiNhA-NH> bye
<dreamy> :))
<DaNiZiNhA> :D
<DaNiZiNhA> também to indu!
<dreamy> onde c estuda?
<GRs> fundação
<GRs> naum lembra mais
<dreamy> bah, é mesmu, desculpa
<dreamy> to c/ sonooooooo
<GRs> heheh
<GRs> tudu bem
<dreamy> :))
<dreamy> vai í na festa da dani?
<dreamy> capaz
<GRs> dia 29?
<dreamy> aha, é minha tb a festa
<GRs> eh?
<GRs> ela me convidou...
<GRs> vamos ver
<dreamy> é....
<GRs> axu q vou
<dreamy> vai mesmu!
<dreamy> bah, sei qm tu é...te vi no bolichi...
<dreamy> lah na frente
<GRs> pq naum falou comigu?
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<dreamy> bah, sei lah...a dani ia me apresenta pra ti, mas no fim sei lah
<BaB> oiee
<dreamy> tuduu?
<BaB> td
<BaB> e vc?
<dreamy> tbbbbb
<dreamy> pq tah felizinha??????/
<dreamy> :)))
<BaB> naum sei
<BaB> por estar
<dreamy> ki bommm
<dreamy> huahuahuahu
Nesses trechos, apareceram diversas palavras terminadas em o e em e átonos que
acabam se transformando em u e i respectivamente. Isso se deve ao fato de que, na fala, as
vogais [o] e [e] postônicos finais se neutralizam, transformando-se em [u] e [i], duas vogais
altas. São, na verdade, variantes posicionais. Além das vogais postônicas finais, o
fenômeno pode também acontecer com vogais átonas finais, como acontece com o que, no
último trecho, que virou ki.
Veja a análise:
acho > axo > achu
- alteração do dígrafo ch para a letra x, representado o mesmo fonema [� ]
- neutralização da vogal [o] postônica final em favor da vogal alta [u], por
influência da fala na escrita.
indo > indu
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mesmo > mesmu
beijos > beijus
tudo > tudu
comigo > comigu
boliche > bolixi
- alteração do dígrafo ch para a letra x, representado o mesmo fonema [� ]
- neutralização da vogal [e] postônica final em favor da vogal alta [i], por
influência da fala na escrita.
que > ki
- alteração do dígrafo qu para a letra k, representado o mesmo fonema [k]
- neutralização da vogal [e] final átona em favor da vogal alta [i], mais uma vez,
por influência da fala na escrita.
De acordo com Evaldo Heckler e Sebald Back (Curso de Lingüística 2, 1988), o
quadro de vogais nesses casos analisados fica assim:
boliche ( > bolichi) i u comigo ( > comigu)
a
38
� Outras mudanças nas formas das palavras
Aqui estão outras mudanças formais relativas ao vocabulário usado pelos
internautas. Todas estas alterações, como as demais, ocorrem por três motivos principais:
a) com o intuito de poder expressar o máximo possível com a menor forma
possível (lei do MINIMAX – MÍNimo esforço, MÁXimo resultado);
b) por influência da oralidade na escrita on line;
c) pela lei do menor esforço, também conhecida como a “lei da preguiça”.
Consiste em efetuar o menor esforço físico para pronunciar – ou escrever
– as palavras, conservando seu significado, mas abreviando e facilitando
a sua forma (oral ou escrita).
Todas as palavras analisadas já estão consagradas no uso do internauta e são
tranqüilamente compreendidas dentro do contexto do bate-papo virtual. Estas e as outras
palavras deste capítulo aparecem apresentadas esquematicamente no capítulo três, o
Dicionário de Internetês.
Veja os seguintes trechos de conversas e recados de message boards:
<GAB> e ae, TNT!!
<GAB> ainda lembra dos velhos amigos?
<GAB> eheh
<TNT> AEEEEEEEEEEEEEEEEE
<TNT> DAE Gabriel!
<BATMAM> eu to indo viu
<BATMAM> falow
39
<BATMAM> t+
<GAB> falow
<dreamy> vai te uma festa, na casa de uma amiga minha...
<dreamy> e ela vai convida um monte de gente da net...
<dreamy> e a deise vai...
<Dun> isso quando?
<dreamy> acho q lah pelo dia 29.04, mas naum eh nada certu
<dreamy> agente ainda naum convido ela...mas vamu convidá...
tipou tamu aki no coleginhu tendo uma aulinha na informatica.. huehuheuehue demos uma
passadinha por aki queria manda um
:*zaum p/ a minha mana do coração cris e todos os outros migos...
e era isso..:))))
<FMC> da o fone do luciano
<dreamy> bah, tenhu q axá, otra hora te dou
<dreamy> okz?
Pessoal... festa nesse finde onde mesmo? Bem... só nao me diz
que é sexta no ok.. blz? pq... sabado.. trampo... nao pode
faltar.. se nao sabe né? um poco de coca aki.. guarana ali...
pode faze mal ... putz... q msg nada a ve... parece q bebe...
40
Retirados dos trechos acima, essas são as palavras a serem analisadas:
ae, dae, falow, vamu, tamu, otra e poco
As duas primeiras formas, ae e dae, são modificações das expressões e aí e e daí,
que são cumprimentos bastante informais, comuns em diálogos “reais” (em oposição a
virtuais).
e aí > e ae > ae
e daí > e dae > dae
A expressão falow é usada como uma despedida, como tchau ou até logo. Por
alguma razão, os internautas, nesse caso, utilizam a letra w ao invés da semivogal u como
deveria ser o esperado.
Já no terceiro e no quarto trechos, aparecem, respectivamente os verbos vamu e
tamu, ao invés do padrão vamos e estamos.
vamos > vamo > vamu
Explicações:
- apócope do s, para fazer com que a palavra termine em som vocálico (que é a
tendência do português brasileiro).
- neutralização do o em favor do u.
Esse fenômeno pode ser aplicado também em outros verbos (sempre com a
terminação da primeira pessoa do plural):
41
aceitamos > aceitamu
fazemos > fazemo
dormimos > dormimu ou durmimu
Já em tamu, além das alterações explicadas acima, acontece também outro tipo de
mudança, bem próprio do verbo estar:
estamos > tamos > tamo > tamu
Explicações:
- aférese (desaparecimento da primeira sílaba – es)
- apócope do s final
- neutralização do o em favor da vogal alta u.
Com o verbo estar, é comum ocorrer a queda da primeira sílaba (es). Dessa
maneira, em todas as pessoas, em todos os tempos verbais, o verbo é conjugado como se
fosse apenas *tar no infinitivo:
Modo indicativo:
Presente
eu to
vc tah
ele tah
nós tamos – (tamu [´tãmu])
vcs (vocês) taum
eles taum
Pretérito imperfeito
eu tava
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vc tava
ele tava
nós tavamos [´tavãmos] (tavamu [´tavãmu])
vcs tavam [´tavã]
eles tavam [´tavã]
Pretérito perfeito
eu tive
vc teve
ele teve
nós tivemos (tivemu [ti´vemu])
vcs tiveram
eles tiveram
Pretérito mais-que perfeito (forma arcaica, em desuso)
Futuro do presente (em desuso, é usada a forma vai estar, uma locução
verbal)
Futuro do pretérito
eu taria [ta´rωa]
vc taria [ta´rωa]
ele taria [ta´rωa]
nós tariamos [ta´rωamos] (tariamu [ta´rωamu])
vcs tariam [ta´rωã]
eles tariam [ta´rωã]
Modo subjuntivo:
Presente
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eu teja
vc teja
ele teja
nós tejamos (tejamu [te´jãmu])
vcs tejam
eles tejam
Passado
eu tivesse
vc tivesse
ele tivesse
nós tivessemos [ti´vεsemos] (tivessemu [ti´vεsemu])
vcs tivessem
eles tivessem
Futuro
eu tiver
vc tiver
ele tiver
nós tivermos
vcs tiverem
eles tiverem
Analisando as duas últimas palavras destacadas, otra e poco...
outra > otra
pouco > poco
44
...percebe-se que ocorre uma monotongação (ou > o) antes da consoante oclusiva [t]
e [c] respectivamente. Isso ocorre na escrita por influência da fala, onde “alguns ditongos,
na língua portuguesa, estão sofrendo alterações no sentido de desfazer o encontro vocálico”
(BACK e HECKLER, p.25, 1988).
A forma poco, porém, não é a única para a qual a palavra pouco variou. Observe:
- padrão
poko
pouco poco
pouco
+ padrão
Esse fenômeno também acontece com outras palavras em que apareça o ditongo
formal ou, como couro > coro; louco > loco; estou > tou > to...
2.2 EXPRESSÕES ONOMATOPÉICAS
� A expressão eheheheheh foi criada pelos internautas e está sendo muito bem
utilizada. Essa expressão onomatopéica representa gargalhadas, risadas ou risadinhas,
dependendo do número de vezes em que é repetida. Ela também apresenta algumas
variações, como pode ser visto nos trechos abaixo:
45
Recado extraído de um message board:
tah feito jah o time pra jogah contra o teu timeco
AuehaUehahe
E BOTA ESSE PEH NA FORMA, tava horrivel no ultimo jogo
AuehAUeha
<dreamy> sei lah, tu ganha teu próprio dinheiro,
<Hill> aham isso é saio sem pedir grana pra mãe e atl
<Hill> tal
<Hill> mas independente
<dreamy> é...jah eu nem tanto hehehehe
<Hill> hehehhe
<Hill> mas isso ajente conquista com o tempo
MORSA> to zoando ele direto por causa do cabelo dele, ele á deixando crescer e tá
paracendo uma samambaia
hehhhe, quando eu tava deixando o meu crescer ele tava parecendo uma tb
o cara tá parecendo o caetano veloso nos tempos dos novos baianos
Lady> HAHAHAHA....DEVE SER UM FIGURA COMO O PRIMO!!
O segundo texto é parte de uma conversa por IRC, e o terceiro faz parte de uma
conversa pelo programa ICQ.
No primeiro trecho, percebe-se que o usuário usa uma gargalhada, bem caprichada
por sinal, usando uma seqüência de vogais maiúsculas e minúsculas com a letra h. Já no
segundo excerto, parece que ambos usuários deram apenas uma risada, sem tanta ênfase
46
quanto a manifestação expressa na mensagem do message board. Em compensação, no
terceiro trecho de análise, a usuária Lady deu uma sonora gargalhada (HAHAHAHA) e
ainda terminou a frase falando alto.
Uma das regras de netiqueta (já mencionada) diz que se deve evitar o uso de letras
maiúsculas, pois escrever com maiúsculas significa gritar ou falar alto. Que engenhosidade,
não? Dessa forma, é possível saber o tom de voz do interlocutor, mesmo que a
comunicação esteja sendo feita através da palavra escrita. É impressionante como a língua
pode se adaptar – e bem – em diferentes meios, servindo cada vez melhor a seus usuários.
Em relação às expressões que representam as risadas (ou gargalhadas), deve-se
ainda lembrar que há diversas variações, como hehehehehe, ahhahaaha, uheuheuhuhauh,
ihihihi (esta última, por alguma razão, tem uma denotação feminina)... Dependendo do
número de repetições e também do uso de letras maiúsculas, pode-se expressar a risada
com maior ou menor intensidade.
E essa regra da repetição de letras para dar ênfase às palavras não pára nas risadas:
serve também para destacar qualquer outro vocábulo ou expressão. Acompanhe o exemplo
abaixo, retirado de uma sala de bate-papo da Internet:
SCUD>> Cara, agora naum posso falar
Vou durmi pq to muuuuuuiiiiiittttoooo podre de cansado...
ZK>> tah blz! Amanhã a gente se fala..
Percebe-se que a repetição de letras na palavra “muito” é usada para enfatizá-la.
Além das repetições de letras nas palavras, pode haver também a repetição dos pontos de
exclamação ou de interrogação, o que igualmente serve para enfatizar as frases do diálogo.
Veja o exemplo na conversa retirada de um canal de IRC:
<dreamy> oiiiiiiiiiiieeeeeeeeeeeeeee
47
<DaNiZiNhA> oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
<DaNiZiNhA> oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
<DaNiZiNhA> oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
<DaNiZiNhA> #rockroll
<DaNiZiNhA> #rockroll
<DaNiZiNhA> #rockroll
<dreamy> tudu?????????
<dreamy> bah danii
<DaNiZiNhA> fala
<dreamy> tava muuuuuuuiiiiiiiiiitoooooooooo ruim a festa
<DaNiZiNhA> ehhhhhhhhhh
<DaNiZiNhA> pq ?????????????
A maneira com que as duas internautas se cumprimentam é bastante peculiar, com
muitas repetições, denotando muito entusiasmo em suas saudações (elas fazem um
verdadeiro escândalo ao se encontrarem, mesmo virtualmente...) . Além disso, há também
outro tipo de repetição: a repetição de toda a sentença várias vezes, para dar ênfase. A
usuária DaNiZiNhA repete três vezes o seu “oi” entusiasta e ainda outras três vezes o nome
do canal #rockroll. Um pouco mais abaixo no texto, percebe-se novamente a repetição de
letras dentro da palavra “muito”, exprimindo com ela a idéia de um superlativo. Pode-se
dizer, então, que, quando a repetição se dá com adjetivos e advérbios, a palavra expressa a
mesma idéia de um superlativo absoluto. Veja:
A festa estava mmuuuiiiitttooo chata = a festa estava muitíssimo chata OU
a festa estava chatíssima
Já em relação à pontuação, basta verificar quantos pontos de exclamação as usuárias
utilizaram em cada pergunta que fizeram uma à outra. A repetição de palavras, de
48
pontuação e de letras dentro de um vocábulo ou de uma frase, como se observou, dá a idéia
de ênfase e destaque dentro do discurso.
Ainda no campo da onomatopéia, é preciso destacar algo muito curioso que aparece
no discurso on line: por ter uma forte influência da língua oral, os internautas estão
escrevendo (ou transcrevendo) palavras que representam sons, como as risadas (vistas
acima) e expressões como hmmmmm, aham etc. Tudo é feito para recriar um clima de uma
conversa “real”, através da escrita.
Acompanhe os trechos de conversas que seguem:
Tyler>> sabe q eu sempre gostei mais de tomar Toddy do q Nescau...
Tyler>> sei lah, acho mais gostoso...
Ricky>> eu fiz com chocolate em poh
Ricky>> da nestle
Ricky>> eh bem melhor
Tyler>> eh?
Ricky>> aham
Tyler>> Bom, acho q isso eu nunca experimentei
Ricky>> hehe
Tyler>> acho q vou experimentar qualquer hora
Tyler>> eheh
<DaNiZiNhA> oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
<dreamy> caiu??
<DaNiZiNhA> aha
<dreamy> :)))
<DaNiZiNhA> ta falando com o riper ?
<dreamy> ahaa
49
<GAB> tu eh daki de noia mesmo?
<BAT> aham
<BAT> eu to indo viu
<BAT> falow
<BAT> t+
Tyler>> q q tu vai fazer depois de te formar?
MORSA>> hmmmm sei lah... pq?
Tyler>> pq eu tb naum tenho idéia ainda...
Se é o papel da Lingüística estudar os sons da fala humana, então, com certeza esses
sons transcritos para a conversa escrita terão de figurar nesta análise. Pois bem, nos
primeiros trechos de conversas, os interlocutores, ao responderem afirmativamente às
perguntas, escreveram aham, aha, ahaa e aham novamente. Essas expressões são todas
afirmativas e têm, por conseguinte o mesmo valor semântico de um sim ou de um
afirmativo.
Como, porém, os diálogos na Internet apresentam um caráter oral, inovador e
coloquial, novas expressões, mais fiéis a uma conversa “real” vão aparecendo.
No último trecho de conversa, a expressão hmmmm é utilizada, mostrando que o
usuário está pensativo. Esse é mais um recurso eficaz para enriquecer e tornar o mais
pessoal possível o bate-papo virtual.
Além do que já foi mostrado, há um verbo onomatopéico que merece atenção: é o
verbo clicar. Clicar é a ação de apertar um botão do mouse, fazendo com que o ponteiro
que aparece na tela do computador selecione algum objeto ou ícone. Esse verbo
provavelmente vem do ruído que o mouse faz ao pressionar de seus botões, algo como
50
click, click. Como a imensa maioria dos verbos novos, esse também é da primeira
conjugação, terminado em –ar.
2.3 SÍMBOLOS
Nem só de palavras vivem os internautas. Para enriquecer a comunicação escrita,
diversos novos recursos estão sendo utilizados. Como o uso de símbolos, que são criados
por combinações de caracteres disponíveis no teclado dos computadores e servem para
expressar palavras, expressões ou sentimentos.
Dentre os símbolos, há alguns que substituem palavras ou expressões inteiras, como
por exemplo:
[ ]´s – que significa abraços, ou saudações. É uma combinação de símbolos muito
utilizada nos finais de mensagens de e-mails. A forma dos colchetes parecem-se com
braços se fechando em um abraço, e o ´s passa a idéia de pluralidade. Logo, [] é igual a um
abraço, enquanto que [ ]´s significa abraços.
+ ou - que significa literalmente mais ou menos. Com apenas quatro caracteres, essa
combinação expressa o mesmo que toda a expressão de onze letras mais ou menos. É a lei
de economia e expressividade atuando como uma força transformadora – e criativa –
novamente.
Há ainda o símbolo matemático + que é usado ao invés da palavra mais, em
detrimento da velocidade da escrita. Além disso, ele também é utilizado em palavras como
demais e expressões como até mais, que passaram a ser escritas com o símbolo, virando
então d+ e ateh + (ou t+), respectivamente.
Veja alguns trechos abaixo, retirados de conversas virtuais:
51
Spider> oi
<dreamy> oiii
<Spider> td?
<dreamy> ha
<dreamy> ops
<dreamy> aha
<dreamy> e contigo?
<Spider> legal... q tens feito?
<dreamy> nada d+
<dreamy> e tu?
<Spider> escola+cursinho=tédio
<dreamy> heheheheheheeh
<MarI> oieeeeeeeeeeeeeee
<dreamy> oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
<dreamy> nunca + entro
<MarI> faz tempo ne
<ZaK> axu q vou indo
<ZaK> bjus
<ZaK> t+
<dreamy> teh
<dreamy> beijusssss
No primeiro trecho, o usuário usou o d+, para designar demais:
52
nada d+ = nada demais
Já o segundo trecho traz o símbolo + representando a palavra mais, e o último
trecho de análise apresenta a expressão t+, no lugar de até mais. Essa expressão de
despedida tem, aliás, diversas variações:
- padrão
t+
teh +
ateh +
até mais teh mais
ateh mais
até mais
+ padrão
Um símbolo bastante curioso é o e1/2, que é usado em substituição à palavra e-mail,
apenas, porém, como forma de paródia ou brincadeira, já que a palavra mail /meωl/ do
inglês (ou [´meiw:] como é pronunciado no português brasileiro, principalmente em regiões
que tendem a falar o [l] em finais de sílaba como [u]) apresenta uma pronúncia parecida
com a palavra meio portuguesa. E como o símbolo de meio é ½... Nada como a
criatividade!
Além desses símbolos, outros que são largamente usados pelos internautas são os
chamados emoticons que significam, literalmente, emotion icons, ou ícones da emoção. São
aquelas “carinhas” feitas por caracteres, que expressam emoções e dão uma indicação do
tom como deve ser interpretada cada frase, ou mensagem.
Dentre os exemplos mais utilizados, encontram-se os seguintes:
:-) Sorrindo, feliz
53
=] Sorrindo, feliz
:-] Sorrindo
;-) Sorrindo e piscando o olho
:-} Sorrindo e envergonhado
:-))) Muito feliz, gargalhando
:-D Dando um grande sorriso
:-c Emburrado
:-|| Bravo
>:-< Bravo
>:-/ Bravo
:-/ Um pouco zangado
:-\ Um pouco zangado
:-( Triste
:-((( Muito triste
(:-( Muito triste
:*-( Chorando
:”-( Chorando
:-* Um beijo
:-**** Muitos beijos
<:-) Burro
54
^. .^ Gatinha
Para quem não conseguiu visualizar bem os emoticons, aqui vai a dica: tente virar a
cabeça 90º graus para a esquerda e veja novamente.
No capítulo três deste livro, há uma lista bastante extensa de emoticons e de suas
possíveis definições. Experimente usar nas próximas vezes em que escrever um e-mail. :-)
2.4 FORMAÇÃO DE PALAVRAS
� Palavras formadas pelo processo de derivação:
a) Derivação sufixal:
- micreiros: a palavra micro dá origem a um novo vocábulo, micreiros, que
designa o usuário de microcomputadores.
b) Derivação regressiva deverbal:
- clique: é formado a partir do verbo onomatopaico clicar.
- delete: é formado a partir do verbo de origem latina deletar, que significa
apagar, destruir.
c) Derivação regressiva coloquial:
- abs: é a forma reduzida de abraços.
55
- bjos: forma reduzida de beijos.
- bjus: forma reduzida de beijus (variação já estudada de beijos). Sendo assim,
pode-se constatar que a palavra beijos usado muito em despedidas apresenta 3
variantes:
- padrão
bjus
beijos bjos
beijus
+ padrão
- blz: é a forma reduzida de beleza.
- c/: forma reduzida da preposição com.
- ctz: forma reduzida da palavra certeza.
- e-mail: é a forma reduzida da expressão inglesa (isto é, da língua inglesa)
electronic mail.
- findi: forma reduzida de fim de semana.
- hj: forma reduzida de hoje.
- msg: forma reduzida de mensagem.
- mt: forma reduzida de muito.
- p/: forma reduzida da preposição para.
- pq: forma reduzida que representa porque, por que, porquê e por quê.
- q: forma reduzida que representa que e quê.
56
- qdo: forma reduzida de quando.
- qm: forma reduzida do pronome quem.
- qnd: forma reduzida de quando.
- qt: forma reduzida de quanto.
- qts: plural de qt, conseqüentemente, significa quantos.
- s/: forma reduzida de sem.
- tb: forma reduzida de também.
- tbm: variante de tb, é outra forma reduzida de também.
- tc: forma reduzida do verbo teclar.
- td: forma reduzida de tudo ou de todo, dependendo do contexto.
- tds: forma reduzida de todos.
- vc: forma reduzida do pronome você.
- c: outra forma reduzida do pronome você!
- vcs: é o plural de vc, logo representa vocês.
� Palavras formadas pelo processo de composição:
- multimídia: prefixo latino multi mais mídia, também do latim.
- ciberespaço: termo traduzido do inglês cyberspace. Apesar do empréstimo da
língua inglesa, o termo ciber vem do grego kyber.
- hipertexto: junção de hiper (que vem do prefixo grego hypér) mais a palavra
vernácula texto.
57
- correio eletrônico: palavra composta traduzida do inglês electronic mail.
� Palavras formadas pelo processo de abreviação:
- micro: é a abreviação de microcomputador.
2.5 SIGLAS (OU FORMAS ACRONÍMICAS)
O mundo da informática, sendo incluídos aí os domínios da Internet, está repleto de
siglas, sejam elas vindas de termos técnicos, nomes de empresas ou de produtos. Para esta
pesquisa, foram levantadas apenas aquelas formas acronímicas correntes entre a maioria
dos usuários e que, por esse motivo, aparecem constantemente nos bate-papos virtuais.
Neste capítulo estão analisadas essas siglas, com o levantamento dos nomes que elas
representam. Maiores definições e explicações dos acrônimos podem ser encontrados no
mais no final, no Dicionário de Internetês.
CPU – é usado como substantivo masculino e representa Central Processing Unit,
ou unidade de processamento central.
HD – substantivo masculino. É a sigla de Hard Disk, ou disco rígido.
HP – substantivo feminino, que significa Home Page, ou página da Internet.
IBM – substantivo feminino. É a sigla de International Business Machines.
58
ICQ – substantivo masculino. É o nome de um programa de comunicação em tempo
real pela Internet. As letras iniciais da sigla não representam nenhum nome ou expressão,
mas, em Inglês, ICQ se pronuncia /ai si:k iu:/, como é pronunciado I seek you, que significa
eu procuro você.
IRC – é um substantivo masculino e representa Internet Relay Chat, que significa
algo como retransmissão de conversas pela Internet.
PC – substantivo masculino. É a sigla de Personal Computer, ou computador
pessoal.
2.6 ESTRANGEIRISMOS
Em se tratando de informática e Internet, é inegável reconhecer a supremacia da
língua inglesa em relação às demais. Na Internet, estima-se que cerca de 78% dos sites
estejam em inglês. Graças à dominação econômica e tecnológica exercida pelo verdadeiro
império norte-americano, pessoas do mundo inteiro se comunicam diariamente em inglês
em salas de bate-papo internacionais. Não bastasse isso, mesmo quem deseja se comunicar
em seu próprio idioma irá se deparar com termos vindos das terras do tio Sam.
A princípio isso não é um problema, é antes um reflexo do problema, ou seja, é um
reflexo da dominação norte-americana. Lingüisticamente, os estrangeirismos só vêm a
enriquecer o vocabulário de uma língua. Além do mais, ao longo da história (“desde que os
primeiros agrupamentos humanos começaram a trocar idéias com seus vizinhos”, como
lembra Sebald Back no artigo Mordaça Lingüística, 2000), a língua portuguesa vem
sofrendo diversas influências externas, como mostra a pesquisa de Heckler, Back e Massing
(1984-1988), com os percentuais de contribuição de línguas estrangeiras na formação do
léxico português:
1. Latim 58,66%
2. Grego 17,38%
59
3. Tupi-guarani 5,73%
4. Grupo germânico 2,41%
5. Árabe 2,39%
6. Espanhol 1,45%
7. Inglês 0,94%
8. Africano 0,74%
9. Italiano 0,69%
10. Outras línguas 9,61%
Embora tenha pouca influência no léxico português (apenas 0,94%), a língua inglesa
parece que resolveu entrar com tudo na virada de século, principalmente através deste
eficiente veículo de comunicação que é a Internet.
Neste capítulo, estão listados os termos estrangeiros mais freqüentemente usados
entre os internautas. Algumas palavras já sofreram acomodações morfo-fonéticas (na forma
e na pronúncia) para se adaptarem ao sistema fonético do português; outras, continuam
originais do idioma de que vieram e algumas palavras e expressões já foram traduzidas e
apresentam, portanto, correspondentes em português.
� Palavras estrangeiras que sofreram alterações e tentativas de aportuguesamento:
- atachar: esse verbo vem do inglês to attach e significa anexar. O verbo perdeu
o to que marca o infinitivo em inglês, sofreu uma acomodação ortográfica (de
duas letras t, passou a ter apenas uma) e recebeu a terminação de verbal de
primeira conjugação –ar.
to attach > attach > atach > atachar
Além disso, o aportuguesamento desse verbo resultou um termo derivado: atachado,
que quer dizer anexado.
60
- ciberespaço: é a tentativa de aportuguesamento do termo inglês cyberspace e
pode ser usado como sinônimo de espaço virtual na Internet. Na transformação
para o léxico português, a palavra cyber perdeu o y (que não faz parte,
oficialmente, do vocabulário oficial brasileiro, excetuando-se em alguns casos já
vistos) e, em seu lugar entrou a letra de igual valor fonológico i. Já space foi
traduzido literalmente e, transformando-se na palavra vernácula espaço.
- deletar: esse verbo é, em verdade, de origem latina; vem de delere (deleo, -es, -
re, -ere, -evi, -etum) e significa destruir ou apagar. Porém, passou a ser utilizado
mais freqüentemente depois do advento da informática e provavelmente veio
através da influência do verbo to delete inglês.
- kickar (ou simplesmente kikar): este verbo vem do inglês to kick e significa
chutar ou, no contexto da Internet, significa fazer com que alguém perca a sua
conexão em canal de IRC. Mais uma vez, a desinência verbal preferida para a
formação de novos verbos –ar foi utilizada. É interessante notar que, no
aportuguesamento desse verbo, a letra k se manteve, ao invés do dígrafo qu que
seria o mais adequado sob a ótica tradicional – porém o mais incômodo para os
internautas.
- scanear: verbo derivado da palavra inglesa scanner, e significa, em português,
passar uma ilustração (uma foto, figura ou texto) para o computador através
desse aparelho. Provavelmente pela influência da letra e em scanner, o verbo em
português ficou scanear e não *scanar.
- sux: já analisado acima, essa forma vem da gíria do inglês norte-americano it
sucks, que significa que algo é ruim ou chato. A fim de simplificar a escrita, o
encontro consonantal cks foi substituído simplesmente pela letra x.
- zipar: é mais um verbo terminado na primeira conjugação. Significa compactar
um arquivo. O verbo é derivado do nome do mais famoso compactador de
arquivos utilizado no momento, o Winzip.
61
� Palavras estrangeiras que mantém a grafia original.
Todas estas palavras listadas estão também no capítulo terceiro, com suas
respectivas definições.
62
away
banner
bug
chat room
chat
computer
cool
cracker
cyberspace
download
emotag
emoticon
freeware
hacker
hardware
home page
hyperlink
Internet
invisible
lammer
link
loser
message board
mouse
net
netgame
nick
nickname
off line
on line
(it) rules
shareware
show
site
soft
software
spam
(it) sucks
63
web
web site
webmaster
winchester
64
CAPÍTULO 3 – PEQUENO DICIONÁRIO DE INTERNETÊS
Como pôde ser visto no capítulo anterior, as palavras e expressões utilizadas pelos
internautas podem ser, na grande maioria das vezes, analisadas, explicadas e
sistematizadas. Assim, foi constatado que, por exemplo:
a) as vogais finais abertas tônicas perdem seus sinais de acentuação gráfica, e a letra h
passa a ser adicionada após a vogal, concebendo o mesmo valor que o acento gráfico (ateh
= até; jah = já...);
b) o dígrafo qu representando o fonema [k] simplesmente passou a ser substituído pela
letra k (kerer = querer; baskete = basquete...)
Seguindo, então, as regras elaboradas através da análise, será possível escrever
qualquer palavra de acordo com a escrita dos chats. Porém, para melhor ilustrar (e
organizar as palavras), foi elaborado um pequeno dicionário com as expressões e os
vocábulos mais freqüentemente usados nas salas de bate-papo pelos internautas. Assim, o
pequeno guia lexical a ser apresentado abaixo tem as pretensões de ser um verdadeiro
“dicionário de internetês”.
Além das expressões e abreviaturas usadas pelos internautas em chats, estão
também apresentadas palavras novas ao léxico português que fazem parte do mundo da
informática e da Internet, estrangeirismos constantemente usados e ainda uma lista bastante
abrangente de emoticons e suas (sugestões, ou tentativas de) definições.
� O DICIONÁRIO
65
SÍMBOLOS
•••• []´s: abraços, ou saudações
•••• + ou - : mais ou menos
•••• +: mais
A
•••• abrassaum: abração
•••• abs: abraços
•••• achu (variação axu): acho
•••• ae: aí (ver também e ae). Pode ser uma forma de saudação. Ex: ae, tudo bem?
•••• aham: palavra onomatopéica que significa sim ou afirmativo (variações: aha, ahan).
Ex: Vai sair hj de noite? Aham, eh claro q vou
•••• ahhahahah: expressão onomatopéica que representa gargalhadas ou risadas (ver
variações). Obs: a gargalhada e a risada podem também ser representadas por emoticons.
•••• aih: aí
•••• akela: aquela
•••• akele: aquele
•••• aki: aqui
•••• akilo: aquilo
•••• amigu: amigo
66
•••• arkibancada: arquibancada
•••• arkivo: arquivo. Porém, não tem mais a idéia do arquivo físico, mas sim o virtual, que
ocupa uma nova unidade de medida, o byte. Os arquivos armazenam informação: arquivos
de texto, de áudio, arquivos executáveis...
•••• atachado: anexado (ver atachar)
•••• atachar: verbo que vem do inglês to attach, que significa anexar. Atachar um arquivo
em uma mensagem de correio eletrônico significa anexá-lo a essa mensagem.
•••• ateh: até
•••• auhauhauhau: expressão onomatopéica que representa gargalhadas ou risadas (ver
variações).
•••• away: na verdade, a expressão completa é estar away. Quando um usuário do ICQ está
away, significa que ele está conectado à Internet, mas, no momento, não está usando o
computador.
•••• axar: achar
B
•••• baixar: significa fazer um download, ou seja, copiar dados de um computador remoto
para seu próprio computador através da Internet.
•••• banner: é um anúncio, uma faixa publicitária na web.
•••• baskete: basquete
•••• beijaum: beijão
•••• beijus: beijos
67
•••• bjos: beijos
•••• bjus: beijos
•••• blz: beleza. É usado como uma expressão indicando que (ou perguntando se) está tudo
bem. Ex: E ae, tudo blz? Aham, blz, tô trankwilo.
•••• bug: são os problemas que (freqüentemente) acontecem nos computadores ou em seus
softwares. A origem da palavra, que significa “inseto”, em inglês, é bastante curiosa:
acredita-se que, antigamente, com o aquecimento das válvulas dos antigos computadores,
insetos verdadeiros (real bugs!) entravam nos enormes computadores e causavam danos ao
equipamento!
C
•••• c/: com (preposição)
•••• c: você, pronome pessoal (ou de tratamento, como queira). Ex: c vai na aula amanhã?
•••• cair: é ser desconectado da Internet involuntariamente.
•••• certu: certo
•••• chat: em inglês, quer dizer bater papo, conversar. É sinônimo de chat room.
•••• chat room: é uma sala de bate-papo na Internet.
•••• chatear: 1) encher o saco de alguém, aborrecer alguém; 2) conversar com outra pessoa
pelo chat.
•••• ciberespaço: tentativa de aportuguesamento do termo cyberspace (ver cyberspace).
•••• claru: claro
68
•••• clicar: verbo onomatopaico que determina o ato de se apertar o botão de um mouse,
fazendo com que, na tela do computador, o cursor obedeça ao comando manual do clique
do mouse.
•••• clique: ver clicar
•••• comigu: comigo
•••• computer: computador
•••• confusaum: confusão
•••• contigu: contigo
•••• cool: vem do termo inglês, que significa, na gíria, legal
•••• CPU: é a sigla para Central Processing Unit (Unidade Central de Processamento), ou
seja, é o verdadeiro cérebro do computador. Comumente, porém, é usada como um
sinônimo de computador. Ex: Teu cpu eh uma porcaria, tah sempre com vírus!
•••• cracker: é o legítimo pirata de computador. É um usuário que invade sistemas alheios e
normalmente comete crimes virtuais, como roubo de senhas pessoais e depredações de
sites.
•••• ctz: certeza. Ex: vc tem ctz disso???
•••• cyberspace: termo criado pelo escritor William Gibson e usado pela primeira vez em
1984, no livro Neuromancer. É usado como sinônimo da Internet e de seu espaço
virtual. Uma tentativa de aportuguesamento é ciberespaço.
D
•••• d+: demais. Além de advérbio de intensidade, pode ser usado como adjetivo
(expressando uma qualidade, sinônimo de “bom”, ou “legal”) e como interjeição
69
(denotando surpresa e alegria). Ex: Akele programa é muito bom, eh d+!!! ou Tu foi
aprovada no vestibular? d+++!!!
OBS: quanto mais sinais de +++ forem usados, mais felicidade e surpresa está sendo
expressa (o mesmo acontece com a repetição dos pontos de exclamação).
•••• dah: dá, ou dar (ver explicação para as vogais abertas com o uso do h, no capítulo 2)
•••• daki: daqui
•••• deletar: verbo de origem latina delere (deleo, -es, -ere, -evi, -etum), que significa
apagar, destruir. Apesar da origem, esse verbo provavelmente passou ao português pela sua
forma inglesa (to delete), já que é usado quase exclusivamente no mundo da informática,
onde maioria das expressões são provenientes da língua inglesa.
•••• deslogar-se: quer dizer desconectar-se da Internet ou do sistema, é o mesmo que efetuar
um log off.
•••• disco: é o disquete para armazenar dados
•••• domigu: domingo
•••• download: fazer um download é copiar dados de um computador remoto para seu
próprio computador através da Internet. Fazer um download é sinônimo de baixar.
E
•••• e ae (ae, dae ou ainda e dae): é um cumprimento, como olá ou oi
•••• e1/2: e-mail
•••• eh: é
•••• eheheheeheh: expressão onomatopéica que representa gargalhadas ou risadas (ver
variações).
70
•••• e-mail: é a abreviatura do termo inglês electronic mail. É o correio eletrônico.
•••• emotag: quando o usuário não expressa seus sentimentos ou estados emocionais através
de palavras, expressões ou emoticons, pode usar os emotags, que são palavras dentro de
colchetes ou parênteses, indicando seu estado emocional. Ex: (risos), (gargalhadas),
[muito brabo!].
•••• emoticon (ou smileys): são as famosas “carinhas” encontradas nos bate-papos da
Internet. São símbolos que expressam características, ações ou estados emocionais dos
usuários. Ex: :-) ;-)
•••• entaum: então
•••• eskecer: esquecer
•••• eskentar: esquentar
•••• estranhu: estranho
F
•••• falow: falou (expressão de despedida, como tchau, ou até logo). Ex: ae, galera, vou
cair fora. Falow pra todo mundo!
•••• fazendu: fazendo
•••• fechamo: fechamos (variação: fechamu)
•••• findi: fim-de-semana. Ex: e ae, q q tu vai fazer no findi?
71
•••• freeware: é um software (programa) que pode ser distribuído gratuitamente, sem custo
nenhum aos seus usuários
G
Não foram encontradas palavras com a letra G.
H
•••• hahahahhaha: expressão onomatopéica que representa gargalhadas ou risadas (ver
variações).
•••• hacker: é um usuário fanático por seu computador e pelo mundo digital. Conhece bem
as tecnologias usadas na Internet e está sempre testando seus limites com novos
programas.
•••• hardware: é a parte física do computador, a máquina em si e seus acessórios. Ou, como
já diz o ditado: hardware é a parte do comutado que você chuta, e software é a parte
que você xinga!
•••• HD: é a sigla de hard disk, ou disco rígido. É o winchester do
computador, onde se armazenam todos os seus programas e arquivos.
•••• hehehehehhe: expressão onomatopéica que representa
gargalhadas ou risadas (ver variações).
•••• hihihihihihih: expressão onomatopéica que representa gargalhadas ou risadas. Por
algum motivo, esse tipo de risadas é usado quase exclusivamente por internautas de sexo
feminino (ver variação - ihihihihihihi).
72
•••• hipertexto: é um documento que permite uma leitura não linear, uma vez que pode
estabelecer ligações com outras partes do documento ou com documentos diferentes,
através de links ou hyperlinks.
•••• hj: hoje
•••• hmmmm: expressão que representa desconfiança ou quer dizer que o usuário está
pensativo. Ex: vc vai me dar o teu telefone? Hmmmmm... naum sei ainda...
•••• home page: são as páginas da web (ver site e web).
•••• HP: é a forma acrônima de Home Page.
•••• hyperlink: (ver link)
I
•••• IBM: sigla de International Business Machines, grande empresa norte-americana
fabricante de computadores.
•••• ICQ: lê-se como I seek you /ai si:k iu:/, que, em inglês, significa algo como eu procuro
você. É um dos programas mais populares para conversas on line (ver capítulo 1).
•••• ihihihihihihih: expressão onomatopéica que representa gargalhadas ou risadas. Por
algum motivo, esse tipo de risadas é usado quase exclusivamente por internautas de sexo
feminino (ver variação - hihihihihihihih).
•••• indu: indo
•••• internauta: nome dado ao usuário da Internet.
•••• Internet: é a rede mundial de computadores, que interliga máquinas do mundo inteiro.
•••• invisible: usando o programa ICQ, é possível escolher a opção invisible, que permite ao
usuário ficar literalmente invisível para os demais. Dessa maneira, ninguém saberá que
73
está conectado à Internet, apesar de, em sua tela, aparecer normalmente a sua lista de
amigos que estão on line. Ex: Entrei na net, mas naum keria conversar com ninguém,
por isso fiquei no invisible.
•••• IRC: é a sigla de Internet Relay Chat. Através desse sistema, o usuário consegue
conversar através de seu computador em tempo real com inúmeras pessoas, divididas em
canais de assuntos específicos (ver capítulo 1).
•••• IRContro: formado por cruzamento vocabular, significa um encontro (festa, janta ou
outro tipo de reunião) entre os membro de um mesmo canal de IRC.
•••• irmaum: irmão
•••• issu: isso
•••• istu: isto
J
•••• jah: já
•••• jogah: jogar
K
•••• kebrar: quebrar
•••• kerer: querer
•••• kerido: querido
•••• ki: que. Ex: Ela falou ki naum keria mais sair de lah
74
•••• kickar (ou dar um kick): significa fazer com que alguém caia (desconecte-se da rede).
É muito comum isso acontecer em canais de IRC, principalmente quando um lammer
começa a encher o saco de algum usuário mais experiente. Ex: eu naum aguento mais
akele... vou kickar ele agora mesmu!
L
•••• lah: lá
•••• lammer: usuário novato na Internet e no mundo da informática em geral.
•••• link: em inglês quer dizer elo, vínculo, conexão. Um link (ou hyperlink) é uma palavra
ou imagem que permite o acesso à outra seção de conteúdo em um documento de
hipertexto.
•••• log off (ou efetuar um log off): desconectar-se
•••• log on (ou efetuar um log on): conectar-se
•••• logado: particípio passado do verbo logar-se. Estar logado é estar conectado.
•••• logar-se: significa se conectar, efetuar um log on
•••• loko: louco
•••• loser: do inglês, perdedor. Serve para designar pessoas patetas, bobas ou atrapalhadas.
Ex: Como eh q pode pegar vírus e ter q formatar o HD?? eh um loser mesmu...
M
•••• mail: é a abreviatura do termo electronic-mail. Serve para designar o correio eletrônico.
•••• mesmu: mesmo
75
•••• message board: os message boards são verdadeiros murais virtuais de mensagens que
existem em alguns sites. Qualquer usuário que visite uma página com um message
board pode ler os recados ali deixados e até mesmo postar a sua própria mensagem.
•••• micreiros: forma derivada da abreviatura micro. Os micreiros são aqueles que mexem
diariamente no microcomputador. São também conhecidos como viciados.
•••• micro: é a abreviatura de microcomputador.
•••• miga: amiga. Ex: Kero dar um beijaum pras minhas migas do canal!
•••• mouse: é um periférico do computador, que
movimenta o cursor na tela. Curiosamente, no português
brasileiro, não há um correspondente para essa palavra,
enquanto que, em Portugal, o mouse foi traduzido
literalmente do inglês e é chamado de “rato”.
•••• msg: mensagem (do ICQ, ou de correio eletrônico).
•••• mt: muito. Ex: Naum kero nem saber... eu to mt braba!!
N
•••• nakele: naquele (em + aquele)
•••• nakilo: naquilo (em + aquilo)
•••• naum: não
•••• navegador: é o programa utilizado para acessar (ou navegar) a Internet. Dentre os
programas mais conhecidos, estão o Microsoft Internet Explorer e o Netscape Navigator.
•••• navegar: é o mesmo que “surfar” pela Internet. É acessar a rede através de suas home
pages.
76
•••• neh: né
•••• net: abreviatura de Internet.
•••• netgame: é um evento que acontece quando várias pessoas conectam seus
computadores para jogarem o mesmo jogo. A conexão pode ser por meio da Internet ou
via cabos. É uma das grandes manias na Internet.
•••• netiqueta: é o padrão de normas de comportamento na Internet (ver capítulo 2).
•••• nick (ou nickname): é o apelido usado pelo internauta ao entrar em uma sala ou canal
de bate-papo.
O
•••• off line: é o oposto de on line. Estar off line quer dizer estar desconectado da Internet.
•••• oieeee: o mesmo que “oi”, porém, com (muito) mais entusiasmo.
•••• on line: estar on line é estar conectado à Internet.
•••• otra: outra
•••• otro: outro
P
•••• p/: para (preposição). Ex: Vou mandar umas flores p/ ela. Qual eh o site q entrega
flores?
•••• PC: é a sigla de Personal Computer, o computador pessoal.
•••• page: sinônimo de home page
77
•••• página: não é mais somente a designação para a página do livro ou do jornal, a página
que ocupa espaço físico; é também a página da Internet, lugar virtual para se visitar (ver
site e home page).
•••• peh: pé
•••• perae: espere (ou, espera) aí
•••• poco: pouco (ver também poko)
•••• poh: pó
•••• poko: pouco
•••• portal: são grandes sites que funcionam como verdadeiros portais de entrada para a
Internet, oferecendo diversos serviços, como e-mails, salas de bate-papo, links...
•••• pq: porque, porquê, por que ou por quê
•••• pra kct: expressão que dá a idéia de intensidade; deveras. Ex: Akele carro eh muito
caro, além disso, ele eh feio pra kct.
Q
•••• q: que, quê
•••• qdo: quando
•••• qm: quem
•••• qndo: quando
•••• qt: quanto
•••• qts: quantos. Ex: qts anos vc tem?
78
R
•••• rede: passou a ter o significado de uma rede de computadores.
Conectar-se a uma rede significa ligar-se a vários computadores
conectados por meio de cabos ou linha telefônica.
•••• reuniaum: reunião
•••• rules (rulez ou rulz): vem do inglês e, assim como cool, é usado para designar algo que
seja bom, legal. Ex: O nosso último IRContro tava rulez!!
S
•••• s/: sem
•••• saudadi: saudades
•••• saum: são. Ex: Akeles professores saum mutio bons.
•••• scanear: verbo derivado da palavra inglesa scanner. Significa fazer uso desse periférico
(o scanner) para digitalizar uma imagem ou um texto, passando para dentro do computador.
•••• senaum: senão
•••• shareware: são softwares de avaliação distribuídos gratuitamente aos usuários. Eles,
porém, só funcionam durante determinado período de tempo ou apresentam apenas
parte dos recursos do programa original. São as “amostras grátis” dos softwares.
•••• show: sinônimo de cool. Adjetivo usado como legal, ótimo. Ex: Esse novo programa eh
super rápido, eh muito show!
•••• site: vem do inglês e significa sítio ou local; é um lugar virtual na web, uma home page.
79
•••• soft: abreviatura de software.
•••• software: são os programas de computador (ver hardware).
•••• soh: só. Pode ser usado como advérbio (sinônimo de somente) ou como expressão de
confirmação, como concordo ou, menos formal, bem nessa! Ex: Akele site eh muito
tri!!! Soh... eh muito show mesmu!
•••• spam: são mensagens (geralmente de correntes ou de propagandas) não solicitadas de
correio eletrônico, mandadas a muitos destinatários ao mesmo tempo.
•••• sucks (ou sux): vem do verbo inglês to suck, que, na gíria, significa que algo é chato,
maçante. Como expressão de chat, diz-se de algo que não é cool, de algo que seja chato.
Ex: A festa de ontem foi ruim, tava sucks
•••• surfar: surfar na web ou surfar pela Internet quer dizer acessar a rede (ver também
navegar).
T
•••• t+: até mais, até logo. É uma forma de despedida.
•••• tah: está ou estar (ver explicação para as vogais abertas com o uso do h, no capítulo 2)
•••• tamu: estamos. Ex: A gente chegou tri tarde, agora tamu mt cansado.
•••• taum: estão
•••• tava: estava
•••• tb: também
•••• tbm: também
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•••• tc: teclar. Faz parte de uma clássica frase no mundo do chat, que até já virou clichê:
quer tc comigo? ou Alguém quer tc?
•••• td: tudo ou todo, dependendo do contexto. Também é usado como forma de
cumprimento, no lugar de tudo bem?. Ex: E ae, td?
•••• tds: todos
•••• teh mais: expressão de despedida, até mais (ver t+).
•••• tempu: tempo
•••• tenhu: tenho
•••• to windows (ou to windows nessa): quer dizer estou indo. Analogia com o nome do
famoso sistema operacional da Microsoft.
•••• trankwilo: tranqüilo
•••• tudu: tudo. Também usado como forma de cumprimento, no lugar de tudo bem?
U
•••• uhuhuauhauha: expressão onomatopéica que representa gargalhadas ou risadas (ver
variações). Obs: a gargalhada e a risada podem também ser representadas por emoticons.
V
•••• vah: vá
•••• vamu: vamos
•••• vaum: vão
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•••• vc: você, pronome pessoal (ou de tratamento, como queira).
•••• vcs: plural de vc. Significa vocês.
•••• viciado: o viciado, dentro do contexto da Internet, é o usuário que mexe
compulsivamente na rede ou com computadores. Estudos científicos recentes ainda estão
tentando comprovar realemente quais os níveis de vício e dependência que o mundo virtual
pode despertar em seus usuários mais adeptos.
•••• vírus: neste contexto, vírus são pequenos programas de computador, projetados para
causar danos e destruição em arquivos e programas, sempre causando
considerável prejuízo.
W
•••• web (ou World Wide Web): é também conhecida como WWW. É a área da Internet
onde se encontram as páginas da web ou sites, que podem conter imagens, sons, vídeo
e texto.
•••• web site: é uma página (ou um site) da web.
•••• webmaster: é a pessoa encarregada pela produção, manutenção e atualização de uma
home page.
•••• winchester: também conhecido como HD, é o local de armazenamento de dados do
computador.
X
Não foram encontradas palavras com a letra X.
82
Y
Não foram encontradas palavras com a letra Y.
Z
•••• zipar: significa compactar arquivos utilizando o mais famoso programa de
compactação, o Winzip.
EMOTICONS
Existem os mais variados tipos de emoticons, e a criatividade sempre permitirá
inventar mais alguns. Sendo assim, esta lista com explicações não é restrita, nem sequer
definitiva. Ela apenas apresenta um vasto levantamento dessas verdadeiras “carinhas”
simpáticas que habitam as salas de chat e propõe uma definição para cada uma delas.
Se você não consegue visualizar os emoticons perfeitamente, aqui vai uma dica:
incline a cabeça 90º graus para a esquerda e tente novamente!
:-) Sorrindo, feliz
=] Sorrindo, feliz
:-] Sorrindo
:-> Sorrindo
:-þ Sorrindo
^_^ Sorriso japonês
83
;-) Sorrindo e piscando o olho
:-} Sorrindo e envergonhado
:-))) Muito feliz, gargalhando
:-D Dando um grande sorriso
=D Dando um grande sorriso
:-c Emburrado
:-|| Bravo
>:-< Bravo
>:-/ Bravo
:-[|] Muito bravo
:-/ Um pouco zangado
:-\ Um pouco zangado
>:-|| Zangado
>:-& Muito zangado
:-0 Surpreso
=:-O Espantado
:-| Sério
:-( Triste
:-((( Muito triste
(:-( Muito triste
84
:-{ Quase chorando
:´-( Chorando
:*-( Chorando
:~ Chorando
(:-... Chorando
:”-( Chorando
:-* Um beijo
:-**** Muitos beijos
:-X Um beijo
:-*-: Beijo na boca
0:-) Anjinho
<:-) Burro
:-[ Vampiro
^. .^ Gatinha
(=^.^=) Gatinha
:^) Narigudo
:-B Dentuço
X-) Tímido
(:-) Careca
:-{) Usuário de bigode
85
&:-) Usuário de cabelo encaracolado
(-: Usuário canhoto
:-P Mostrando a língua
:-6 Que nojo!
d:-) Usando boné
<|:-) Usando boné
C|:-) Usando chapéu
:-)*= Usando gravata
:-)<>>>> Usando gravata
:-)8 Usando gravata-borboleta
:-)X Usando gravata-borboleta
8-) Usando óculos
B-) Usando óculos
:-(#) Usando aparelho nos dentes
::-) Bêbado
%#@:-( De ressaca
:-~~~ Babando
:-@ Gritando
:-V Gritando
:-“ Cochichando
86
|-0 Com sono
~.~ Com sono
@---- Uma flor para uma flor
OBS: Muitos emoticons podem também aparecer sem o travessão (que simboliza o nariz):
: ) Sorrindo, feliz
: ] Sorrindo
: > Sorrindo
; ) Sorrindo e piscando o olho
: ))) Muito feliz, gargalhando
>: < Bravo
: \ Um pouco zangado
>: || Zangado
: ( Triste
: ((( Muito triste
:´ ( Chorando
:* ( Chorando
: [ Vampiro
: )*= Usando gravata
87
: )<>>>> Usando gravata
8 ) Usando óculos
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PALAVRAS FINAIS
Após o estudo e a análise do uso da língua portuguesa pelos internautas no meio
virtual, uma conclusão bastante óbvia pode ser alcançada: a língua está, definitivamente,
sofrendo inúmeras modificações e adaptações no contexto da Internet. Porém, essa aparente
conclusão implica a discussão de pontos importantes e controversos, questões que vêm
sendo bastante discutidas em relação ao novo uso do português pelos internautas, como:
- A Internet empobrece ou amplia o poder expressivo da língua?
- A língua portuguesa está perdendo a sua identidade?
- Essas novas formas podem vir a acelerar o ritmo tradicionalmente lento de
evolução da língua?
- O discurso on line pode influenciar em textos escritos em outros meios, em
que se espera a norma culta da língua?
Antes de mais nada, é preciso saber que essa pesquisa e seu respectivo autor
apresentam (ou esforçam-se por apresentar) análises científicas e imparciais, sem qualquer
julgamento preconceituoso contra determinadas formas lingüísticas, muito menos contra
seus falantes (ou usuários). Sendo assim, será adotada uma postura aberta e científica para
analisar e debater as questões acima mencionadas.
A língua portuguesa escrita no meio virtual, em mensagens eletrônicas e canais e
salas de bate-papo, está, acima de tudo, adaptando-se para melhor servir seus usuários:
novas formas são criadas para expressar o máximo possível em tempo mais ágil – como os
emoticons, as abreviações... – e outras formas, menos usadas pelos falantes, vão entrando
em desuso. Por a linguagem nos bate-papos ser uma mistura entre a língua oral e a escrita
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(justamente para os internautas poderem “conversar pelo teclado” e “bater papo”), e por a
língua escrita não passar apenas de uma tentativa de representação da língua oral, é que
acontecem tantas modificações lexicais, sintáticas e semânticas. E tudo isso ocorre com um
objetivo: propiciar ao usuário da língua total liberdade para expressar suas idéias,
sentimentos e emoções.
Se a língua portuguesa está se modificando na Internet, é porque há uma
necessidade de haver essa modificação, essa adaptação aos novos tempos e meios. Seria
bastante infantil e superficial afirmar que a língua está se descaracterizando ou
empobrecendo.
Em primeiro lugar, todas as línguas são mutáveis, é de sua natureza sofrer alterações
ao longo do tempo. Sírio Possenti (em Por que (não) ensinar gramática na escola, 1996, p.
38) já afirma que “não há língua que permaneça uniforme. Todas as línguas mudam. Esta é
uma das poucas verdades indiscutíveis em relação às línguas, sobre a qual não pode haver
nenhuma dúvida.” (grifos do próprio autor). Consciente desse caráter mutável das línguas,
não há uma maneira de se afirmar que um idioma está se “descaracterizando”; está apenas
seguindo o curso natural das coisas, ou seja, modificando-se, alterando sua forma (lexical,
fonológica, sintática ou semântica) para se adaptar a seus usuários e poder melhor servi-los.
A língua portuguesa nada mais é do que a língua latina altamente modificada ao
longo dos anos, por diversas gerações de falantes e influências de outros idiomas. Se não
fosse por essa característica de movimento constante de todas as línguas, a população
brasileira poderia estar falando latim hoje em dia!
Em termos de empobrecimento ou enriquecimento da língua, também parece muito
imaturo afirmar que a língua portuguesa está sendo maltratada e empobrecida nas salas de
bate-papo virtuais. Ora, se a língua está justamente se modificando para melhor atender a
seus novos usuários em suas novas formas de comunicação e uso, e se a cada dia novos
vocábulos, símbolos e abreviações passam a fazer parte do léxico dos internautas, a língua
portuguesa está, na verdade, enriquecendo-se, através dessas formas e usos inovadores. Ela
está ficando mais expressiva (mesmo ficando também um pouco mais “enxuta”), como se
viu. Imagine que agora, na língua escrita, emoções podem ser expressadas em poucos
90
caracteres (através dos emoticons, por exemplo); que é possível gritar (usando letras
maiúsculas); que há mais de uma maneira de representar foneticamente uma palavra escrita
com acentos gráficos; que há novas formas de dar ênfases nas palavras e frases dos discurso
(através das repetições); que se pode soltar gargalhadas e risadinhas em um texto escrito
(como através das palavras onomatopéicas e dos emoticons) e muitos outros recursos
inovadores.
A linguagem da Internet está, de fato, provocando um processo de mudanças
formais na língua escrita e está modelando uma nova maneira de se expressar através da
palavra escrita. Dessa maneira, há duas novas questões que viram foco de questionamento:
o discurso on line, que presta tão bons serviços no meio digital, poderá influenciar na
escrita de textos em outros meios, onde se espera o uso da norma-padrão da língua? E, com
isso, está a Internet acelerando a evolução da língua portuguesa?
A verdade é que ainda é muito cedo para se comprovar as influências da linguagem
da Internet em outros meios, e seria por demais precipitado afirmar algo sobre a relação
entre a revolução da língua dos internautas e a evolução dita oficial da língua portuguesa.
Como pôde ser observado no capítulo 1, as comunicações via rede, em tempo real,
são de uso muito recente no Brasil, mas, ainda assim, é possível levantar alguns aspectos da
influência do discurso digital em outros meios. Sem caráter científico e com um corpus
bastante limitado, por experiência própria, o autor deste livro verificou que acontece
efetivamente o uso de formas já consagradas nsa salas de bate-papo virtuais em textos mais
formais, como em textos escolares e redações para concursos de Vestibular. Através da
análise de algumas composições desse estilo, escritas por alunos do Ensino Médio, foi
possível verificar que muitos, às vezes, usam formas como vc (para você), pq (para porque,
por que, porquê e por quê), q (para que e quê) etc.
Se um internauta passa horas usando seu discurso on line para conversar em salas e
canais virtuais da Internet, é pouco provável que esse discurso não tenha influência alguma
também em outros meios. Mesmo em discursos mais monitorados (como as redações para
um concurso de Vestibular), será possível averiguar esse fato.
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Dessa forma, parece que a nova forma de escrever dos internautas pode vir a
acelerar um pouco o ritmo da evolução e modificação do léxico oficial da língua
portuguesa. Como foi dito, ainda é demasiado cedo para se afirmar algo a esse respeito,
mas essa hipótese não pode ser descartada.
Finalizando...
Em suma, o livro pretendeu ser um primeiro passo para o estudo da nova variedade
da língua portuguesa nos tempos digitais; variedade essa que influenciará cada vez mais a
maneira de os falantes se expressarem através da língua escrita, seja no meio virtual, seja
no meio “real”. Afinal, estima-se que, hoje em dia, haja cerca de 318 milhões de internautas
regulares no mundo e esse número pode subir para um total de 1 bilhão de usuários em
2005.
A cada dia, mais pessoas estarão se comunicando através da língua escrita, fazendo
– inevitavelmente – com que ela se modifique para atender às suas necessidades. Novas
formas lexicais, semânticas, morfológicas e até sintáticas estarão surgindo. Resta apenas
saber se elas serão duradouras ou se entrarão em desuso e ficarão desatualizadas tão
rapidamente como os próprios computadores o ficam.
92
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LINHA DO TEMPO DA INTERNET NO BRASIL <www.lsi.usp.br/~emguizzo/inetbr/>
MICROSOFT. Dicionário de informática. Brasil, Editora Campus, 1998. 1 CD (500 MB),
Windows.
THE ULTIMATE CHAT DICTIONARY <www.chatdictionary.com>