Post on 07-Apr-2016
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Português
Ensino Médio, 1ª Série
Discursos direto, indireto e indireto livre
LÍNGUA PORTUGUESA, 1 ª SérieTópico: Discursos direto, indireto e indireto livre
Maingueneau (2002) diz que, em geral, o indivíduo que fala e se manifesta como "eu" no enunciado é também aquele que se responsabiliza por esse enunciado.
Assim, o indivíduo que fala, se assume como fonte de referências enunciativas e posiciona-se comoresponsável pelo ato de fala realizado.
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Por exemplo, observe o seguinte o enunciado:
"Eu vi você ontem com o presidente.”
O "eu" indica que o sujeito da frase coincide com o enunciador; o "você" indica que alguém é o coenunciador, ou seja, aquele com quem se fala;e o "presidente" refere-se a alguém excluído da dupla de coenunciadores. Se observarmos os verbos, notaremos que a asserção se refere a um momento anterior à enunciação.
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Mas nem sempre aquele que fala é responsável pela sua fala!
Nem sempre o enunciador é a fonte das referências da situação de enunciação!
Nem sempre o enunciador é o responsável pelo ato de fala!
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Uma forma de comprovarmos isso é observarmos o discurso relatado.
Estamos,então, falando de modalidades de discurso.
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A grosso modo, seria uma enunciação sobre outra enunciação. Ou seja, o enunciador apoia-se em outro discurso para produzir o seu e, ao fazer isto, modaliza, atenua sua fala e sua responsabilidade sobre o dizer e o dito.
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Na língua, são três os tipos de discurso:
1- discurso direto;
2- discurso indireto;
3- discurso indireto livre.
Vamos ver como eles se processam?
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Discurso diretoDiscurso direto
Segundo Consul (2008, p.92), no discurso direto, o enunciador simula reproduzir as falas citadas ecaracteriza-se por dissociar claramente as duas instâncias da enunciação: a do discurso citante e a do discurso citado.
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“Os limites entre os discursos citante e citado são marcados por elementos tipográficos – como travessão ou aspas – e pelos chamados verbos dicendi, que podem preceder o discurso citado, intercalá-lo ou vir em seu final.” (Consul, 2008, p.92)
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Verbos dicendi Verbos dicendi
São também chamados de verbos de declaração, são geralmente empregados antes de uma declaração ou pergunta.
Exemplos desses verbos: dizer, falar, exclamar, perguntar, responder.
“Maria disse que foi ao supermercado ontem.”
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Por que o discurso direto?Por que o discurso direto?
Maingueneau (2002) lembra que a escolha por discursos diretos, como modo de introduzir a fala de outrem no discurso, se deve à tentativa de:
1- Criar autenticidade, indicando que as palavras relatadas são aquelas realmente proferidas;
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2- Distanciar-se: porque o enunciador citante não adere ao que é dito e não quer misturar o dito com aquilo que ele efetivamente assume;
3- Mostrar-se objetivo, sério.
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Além disso, a introdução do discurso direto deve satisfazer a duas exigências em relação ao leitor de um texto:
1- Marcar a fronteira que o separa do discurso citado;
2- Delimitar a fala citada.
Esta segunda maneira, observa Maingueneau (2002), aparece de várias formas, como por exemplo, através de dois pontos, travessões, aspas, etc.
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Observe:
"- Por que veio tão tarde? perguntou-lhe Sofia, logo que apareceu à porta do jardim, em Santa Teresa.- Depois do almoço, que acabou às duas horas, estive arranjando uns papéis. Mas não é tão tarde assim, continuou Rubião, vendo o relógio; são quatro horas e meia.- Sempre é tarde para os amigos, replicou Sofia, em ar de censura."(Machado de Assis, Quincas Borba, cap. XXXIV)
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Mas os sinais de pontuações não são condições de êxito para a existência do discurso direto.
Às vezes eles aparecem no discurso, mas este não se configura como direto. Vejamos um exemplo disto.
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Todos os caçadores de talentos afirmam: quando apresentam dois candidatos de sexo oposto para ocupar um cargo de direção, ambos com os mesmos diplomas e igual nível de competência, o cliente escolhe sempre o candidato do sexo masculino.
L'Entreprise, n° 13, novembro de 1996 apud Maingueneau (2002, p.147)
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o exemplo acima não é um discurso direto, embora haja presença de sinais de pontuação que indiquem isto, porque neste discurso encontramos uma terceira pessoa ("eles”, os caçadores de talento).
A fonte da fala citada não é um indivíduo, mas uma classe de locutores (todos os caçadores). Para que o texto acima seja configurado como discurso direto, basta atribuir a um indivíduo a referida enunciação.
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Discurso indireto Discurso indireto
Maigueneau (2002, p. 150) diz que, no discurso indireto, o enunciador tem uma infinidade de maneiras para traduzir as falas citadas, pois não são as palavras exatas que são relatadas, mas sim o conteúdo do pensamento.
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As falas, no discurso indireto, são apresentadas sob a forma de uma oração subordinada substantiva direta, introduzida por um verbo dicendi.
Exemplo: contaram-nos que...
Note que, diferente do discurso direto, é o sentido do verbo introdutor, no caso, 'contaram' que mostra haver um discurso relatado e não uma simples oração subordinada substantiva direta.
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Observe estes exemplos:
1- Paulo diz que está chovendo.
2- Paulo sabe que está chovendo.
Em 1 temos um discurso indireto e a presença de um oração subordinada substantiva, enquanto que em 2, temos apenas uma oração subordinada substantiva, sem o discurso relatado.
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Resumindo a questão do discurso indireto:
O discurso indireto ocorre quando o narrador utiliza suas próprias palavras para reproduzir a fala de uma personagem. (1)
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Discurso indireto livreDiscurso indireto livre
O discurso indireto livre é um tipo de discurso que combina os recursos do discurso direto e do discurso indireto.
Neste tipo de discurso, a polifonia nem é a de duas vozes distintas (como ocorre com o discurso direto), nem ocorre uma absolvição de uma voz por outra (como ocorre no discurso indireto). Mas ocorre uma mistura praticamente perfeita de duas vozes.
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"Que vontade de voar lhe veio agora! Correu outra vez com a respiração presa. Já nem podia mais. Estava desanimado. Que pena! Houve um momento em que esteve quase... quase! Retirou as asas e estraçalhou-a. Só tinham beleza. Entretanto, qualquer urubu... que raiva... " Ana Maria Machado
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Note que, no discurso indireto livre, o escritor possui mais liberdade sintática e estilística.Essa liberdade, pode levar o leitor desatento a confundir as palavras do locutor com a narração.
Essa modalidade de discurso é mais frequente em textos cujo foco narrativo é a 3°pessoa, com narrador onisciente.
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Referências
MAINGUENEAU. Dominique. Análise de textos de Comunicação. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2002.
CONSUL, Márnei. Os discursos direto e indireto à luz a enunciação. Ao Pé da Letra (UFPE), v. 10, p. 87-104, 2008.