Post on 12-May-2018
LITERATURA, POESIA E AS DIVERSAS LINGUAGENS DA GEOGRAFIA
Alecsandra Santos da Cunha1/Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
alecsandrascunha@gmail.com
BREVE HISTÓRICO DA LITERATURA OCIDENTAL
Heródoto é conhecido como o primeiro historiador por ter escrito a história da
Grécia Antiga e dos países que visitou, assim como também escreveu sobre a vida de
Homero, que foi um dos primeiros autores conhecidos na história da literatura ocidental.
A Homero foram atribuídas as duas primeiras obras clássicas que se tem notícia, Ilíada e
Odisséia. Esopo ficou conhecido pelas suas fábulas e Píndaro, Safo e Anacreonte como
principais poetas daqueles tempos.
Da civilização romana originaram-se estilos que nos são conhecidos até os dias
de hoje, como as sátiras, as poesias líricas e épicas. Obras como ‘A Natureza das
Coisas’ e ‘Eneida’ e ainda grandes nomes como Lucrécio, Cícero, Horácio, entre outros.
Do período no qual aconteceram as invasões bárbaras no Império Romano, destacam-se
os poetas Sêneca, Petrônio e Apuleio.
Com a queda do Império Romano, a Igreja Católica passa a controlar as
produções culturais da Idade Média e somente no século X começam a ressurgir poemas
narrando guerras e fatos heróicos. No século XI surgem as prosas e lendas arturianas, e
do século XII a XIV o trovadorismo, as poesias líricas, e as sátiras. As diversas versões
das lendas sobre Tristão e Isolda ganham espaço, como afirma José Miguel Wisnik:
Histórias de Tristão e do rei Marcos já eram conhecidas desde o século VII,
mas é no século XII que a narrativa celta (trabalhada pelo imaginário
cristão) cristaliza-se numa intrincada rede de sentido cuja unidade
enigmática e fascinante salta aos olhos apesar da multiplicidade de suas
versões. (WISNIK, 1987. p.195).
1 Graduanda do 7º período de Geografia – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
A passagem da Idade Média para a Idade Moderna é marcada por literaturas
ainda com características religiosas, entretanto começam a aparecer obras que retomam
o período greco-romano e a valorização do homem como indivíduo, com vontade
própria e sem o dogmatismo da igreja. Esse estilo se consagra durante o Renascimento e
destaca clássicos como Camões e Shakespeare. A literatura da Idade Moderna ainda foi
profundamente marcada pelas idéias da Contra-Reforma, excepcionalmente na Itália,
França, Portugal e Espanha, países de forte tradição católica.
No período neoclassista, século XVIII, a valorização da razão e da ciência para
alcançar o conhecimento humano norteou as produções literárias. Os iluministas
criticaram duramente o absolutismo. Várias obras dessa época são conhecidas até hoje,
entre elas estão ‘Robinson Crusoé’ e ‘As Viagens de Gulliver’, além das primeiras
traduções de ‘As Mil e Uma Noites’ chegarem à Europa.
Edgard Allan Poe e outros de seu tempo valorizam a fantasia e os sentimentos
no período consecutivo ao Neoclassismo, o Romantismo, na primeira metade do século
XIX. Desse mesmo período o advento de aspectos do nacionalismo toma corpo por toda
a Europa.
O Realismo na segunda metade do século XIX traz a tona a criticidade em torno
do mundo capitalista e suas contradições intrínsecas, além de realçar o ser humano com
seus defeitos e qualidades. Aqui, o amor perde lugar e a fantasia e os sentimentos do
Romantismo são substituídos pelo valor econômico e pela produtividade. Destacam-se
nesse momento autores como Eça de Queiroz, Emily Brontë, Camilo Pessanha, Leon
Tolstoi e outros.
A individualidade agoniza nas sociedades burocratizadas e
aburguesadas, nas quais nada escapa às leis do mercado, nas quais o
homem só existe como sujeito e objeto econômico. Nelas se verificam
um processo de fragmentação da identidade e de mutilação do ego;
não há mais espaço para o prazer, para o amor desinteressado e
gratuito: o indivíduo sucumbe à produtividade que impõe suas regras
contra tudo que se lhe apresente como obstáculo. (MATOS, 1983. p.
209).
Com o advento do século XX permeado por revoluções, nas suas primeiras três
décadas, nomes bem conhecidos como Fernando Pessoa, Pablo Neruda e Franz Kafka
buscam novos formatos literários, abdicando das formas tradicionais da literatura
existentes até o momento. O surrealismo surge na França, na década de 20. Após a
Segunda Guerra Mundial, o medo e o pessimismo influenciam a época, e essa atmosfera
é mostrada na obra ‘1984’. A década de 50 é marcada pela intensa crítica ao
consumismo e valores tradicionais.
A literatura latino-americana se faz presente a partir das décadas de 60 e 70,
trazendo consigo o realismo mágico, também conhecido como realismo fantástico.
Produto de visões da cultura da superstição e da tecnologia, reagiu ainda contra as
ditaduras da época, inclusive no Brasil, onde jornais, revistas, filmes e músicas foram
proibidos e fechados.
Dentro do nosso território, a partir da anistia, a literatura brasileira é evidenciada
sob diversos estilos, intimismo, urbanismo e introspecção psicológica numa linha
tradicional e o concretismo, a poesia Práxis, poema-processo, poesia-social,
tropicalismo, poesia-marginal, os romances numa vertente inovadora, além do
regionalismo.
A poesia popular prescinde, e muito, o surgimento da escola. [...]porém,
foram os brasileiros que a herdaram e a transformaram em linguagem
popular, tal qual a conhecemos hoje; aqui surgiram novas modalidades,
regras, técnicas e estilos. Por volta de 1960/1970 surgiram os primeiros
poetas repentistas e declamadores no interior do nordeste [...] (SILVA &
BARBOSA, 2007. p. 01)
O conto e a crônica explodiram a partir dos anos 70 com características bem
acolhidas pelo mundo modernizado e sua agilidade, ou seja, exposições breves e
concisas. Além de evidenciarem aspectos emocionais e flagrantes do dia-a-dia, havia
fusões entre poesias e prosas. Esses dois estilos se tornaram muito popular em
decorrência dessas variantes.
De acordo com esse percurso superficial feito sobre a história da Literatura
Ocidental, pode-se observar o quão rica e valorosa ela pode se tornar dentro das salas de
aula e em conjunto com o conteúdo programático da Geografia. Com textos de
Heródoto sobre o Egito Antigo, por exemplo, pode-se vislumbrar a ocupação do
território egípcio naquele espaço-tempo e compará-lo com os dias atuais.
As possibilidades, manifestações e expressões da literatura e da poesia na sala de
aula e no ensino da Geografia são enormes, emocionantes e trazem contribuições
fantásticas para o desenvolvimento do educando.
Com a incorporação e difusão da Literatura de Cordel e da poesia popular
nos meios de comunicação de massa – rádio e TV –, a partir dos anos 1970,
este gênero artístico fez despertar o interesse de pesquisadores e educadores
para sua utilização em sala de aula como recurso didático-metodológico.
[...] (SILVA & BARBOSA, 2007. p. 01)
A literatura, em qualquer de suas formas, seja cordel, poesia, narrativas, entre
outras, tem a capacidade de despertar interesse, abrir horizontes, temperar a imaginação,
desenvolver a dramatização, melhorar a escrita e a oralidade, facilitar as correlações
temáticas e espaciais e ainda permiti trabalhar diversos valores que vem se perdendo na
sociedade moderna, assim como dita os temas transversais, tudo isso aliado à realidade
do aluno, seu espaço, seu meio, seu chão. “Atualmente, pensadores, professores, artistas e
cordelistas propõe uma verdadeira revolução na educação de maneira que se possa contemplar as
especificidades locais.” (SILVA & BARBOSA, 2007. p. 01).
Se deixadas de lado as visões viciadas do tradicionalismo na busca por novas
metodologias, as surpresas acabam por ser sucessivas ao se encontrar novas
possibilidades no âmbito educacional. Os aspectos físicos, políticos e sociais podem ser
trabalhados facilmente através da literatura e da poesia, além de poder ser acrescentado
o fator criticidade de maneira lúdica.
Dessa forma, cabe a nós, professores, a missão de permearmos o meio
geográfico escolar com literatura, poesia, contos, prosas, além de músicas, imagens,
charges, quadrinhos, teatros, entre outras linguagens, buscando eficiência na
assimilação de conteúdos, de forma leve, lúdica e o mais aproximado possível da
realidade sócio-econômica e cultural local do aluno.
Literatura e poesia como recurso pedagógico: sugestões de atividades
Observação e registro da paisagem (5ª série – 6º ano 1/9 – 3º ano do 2º ciclo)
Nas primeiras horas da manhã
desamarre o olhar
deixe que se derrame
sobre todas as coisas belas
o mundo é sempre novo
e a terra dança e acorda
em acordes de Sol
faça de seu olhar
uma imensa caravela
MURRAY, Roseana. Receitas de Figura 01: Nascer do sol nas montanhas Olhar. São Paulo: FTD, 1999. Fonte: http://ipt.olhares.com/data/big/3/32444.jpg (Extraído do livro Passaporte para Geografia – Vol. I. 2005. p.15)
Possibilidades a partir da ótica geográfica: O texto pode ser explorado em conjunto com
uma imagem (também podem ser usadas fotos dos próprios alunos em suas casas ou
algum lugar real para eles, tiradas no nascer do sol), ressaltando a importância da
observação da paisagem que nos cerca. Assim, devem ser explorados os elementos da
paisagem, elementos naturais e culturais, a interação entre eles e etc.
Evolução Urbana – Uso e Ocupação do Solo (6ª série – 7º ano 1/9 – 1º ano do 3º ciclo)
[...]Percorrer as ruas do Centro, depois de anos que não pisava por lá, dava certo prazer
a dona Irene. Prazer que ela não confessava a si mesma. Parava diante das vitrines. Sim
senhor, como isso mudou. [...]Ali era uma livraria. Mais adiante, cadê a confeitaria que
tinha aquele sorvete de pistache, super delicioso? Nada de confeitaria. Somente bancos,
financeiras, agências de loteria esportiva. Dona Irene sentia leve saudade da década de
60. Era outro Rio. Mas devemos conhecer o Rio de hoje, e ela ia aproveitando o
percurso na direção do ônibus para ver, assuntar, sentir, apesar da multidão, do bolo de
gente, do barulho...[...]
Carlos Drummond de Andrade. “O medo e o relógio”. In: Moça deitada na grama. Rio de Janeiro,
Record, 1987.
Possibilidades a partir da ótica geográfica: Esse trecho do texto pode ser trabalhado
explorando as paisagens culturais, a evolução urbana, o aumento populacional, os usos e
ocupações do solo, a reorganização do espaço. “Quando ficamos muito tempo ser ver
um lugar, podemos descobrir que ele sofreu diversas alterações quando o vemos
novamente. Você já teve esta experiência? Qual, ou quais das alterações mais te fizeram
admirar? Redija um texto e ilustre-o de acordo com esta sua experiência. Se isso não
aconteceu com você, pergunte a seus pais, irmãos, tios, avós, amigos e peça a eles que
narre a você como eles se sentiram.”
Localização no espaço terrestre (5ª série – 6º ano 1/9 – 3º ano do 2º ciclo)
“Proteção ao vôo é um serviço de controle e segurança que é prestado a todas as
aeronaves que sobrevoam o território brasileiro. Essa atividade é exercida por
controladores do tráfego aéreo, que monitoram os céus do Brasil 24h/d.
Este monitoramento visa identificar o posicionamento exato das aeronaves em
vôo. Para que se possa orientar um avião com segurança, é preciso conhecer sua
localização. Uma instrução fornecida sem o conhecimento da posição real da aeronave
pode gerar um acidente aéreo de grandes proporções.
A identificação da posição de uma aeronave é feita por meio das coordenadas
geográficas. Além da confiabilidade, a precisão é fundamental. Com margem de erro
igual a zero, a pilotagem é feita com segurança, oferecendo ao controlador condições de
orientar o vôo de forma segura e eficaz.”
Depoimento de Luciano Carvalho, 1º Sargento/Controlador de Tráfego Aéreo – Cindacta II. Curitiba,
Paraná. (Extraído do Livro Passaporte para Geografia – Vol. I, 2005. p.55)
Possibilidades a partir da ótica geográfica: Diante do depoimento de Luciano, pode-se
trabalhar conteúdos como latitude e longitude, paralelos e meridianos, orientação,
pontos cardeais, coordenadas geográficas, GPS, acidentes aéreos atuais, a importância
de saber se localizar no espaço terrestre, entre outros.
Conflitos territoriais no meio rural (6ª série – 7º ano 1/9 – 1º ano do 3º ciclo)
Cercaram tudo. Só agente
Nem sabe mais onde mora,
Não tem para onde ir embora,
Cercado, o mundo é o mundo
Sem lado de fora,
Sem brecha nem beira,
Mundo dentro da gaiola.
“Cercas”. Mauro Mota.
Possibilidades a partir da ótica geográfica: Através do texto e do mapa, podem ser
trabalhados temas como: estrutura fundiária no Brasil, reforma agrária, conceitos de
latifúndio, minifúndio, empresa rural, movimentos e questões sociais no campo e etc.
Relevo, hidrografia, vegetação e lugar (Ensino Médio)
Como se vê, já não caminho
Só cavalgo o pensamento.
Vou a galope por essas terras, pelas montanhas e pelas serras.
Noite sozinha. Noite tão negra...
Já nem consigo ver a estrada
Serão espinhos ou serão pedras...
Nesta planície eu não respiro, e nestes mares já não navego.
Sou da montanha, bem lá do cume
Do Aventureiro, de Santo Antônio
Procuro o rio, rio contente que desce a serra tão de repente.
Se ele desce em cachoeiras
Com o seu doce chuá-chuá,
É a minha terra, eu cheguei lá!
Cheiro de mato, cheiro de terra, existem vinhas e tantas flores!
Tudo tão puro, sempre tão bela.
Vou no meu sonho me deleitar
E esquecer meus dissabores.
Dona Valma Schettino– Década de 50.
Possibilidades a partir da ótica geográfica: Este poema foi escrito na década de 50, por
uma senhora nascida na cidade de Santo Antônio do Aventureiro, Zona da Mata
Figura 02: Mapa das vítimas de conflitos por terra – 1985/1995. Fonte: CPT – Comissão Pastoral da Terra.
mineira. O êxodo rural atingiu essa cidade, assim como vários outros grotões por todo o
Brasil, e devido a sua grande proximidade com a capital do Rio de Janeiro, esse foi o
destino de boa parte de sua população, inclusive a autora do poema que morou por
vários anos na capital, e hoje está de volta à sua cidade natal2. Tanto o texto do poema,
quanto a história de vida dessa senhora abrem caminhos para se trabalhar os conceitos
de ‘lugar’ e sentimento de pertencimento, atividades desenvolvidas no meio rural,
costumes e valores, os domínios de relevo, hidrografia, vegetação e etc.
Domínios climáticos, biomas e cultura (Ensino Médio)
“Os flocos de neve exerciam um efeito
hipnótico sobre mim. Deixavam-me cada
vez mais sonolento, mas eu tinha de manter
os olhos abertos. E se me enganasse de
estação e saltasse na errada, caísse na branca
tundra ártica, inteiramente ofuscado, e me
deparasse com lobos prontos para me fazerem
em pedaços! Ora, isso seria imperdoável,
e indigno de um grande caçador. Um
na arte da sobrevivência, como não acender uma fogueira e não cuidar direito do
cachorro, e agente paga com a vida. Escurecia, e os grandes e fofos flocos de neve
batiam nas janelas embaçadas do meu compartimento. As luzes do trem abriam um
túnel na paisagem que passava, e brancas rajadas de neve explodiam interminavelmente,
em bilhões de pedacinhos, o comboio martelando em frente e eu ficando cada vez mais
exausto.” (Jönsson, 1991. p.05)
“E, muito estranhamente, o mundo não desabou quando eu disse sim ao noivado [...].
tinha absoluta certeza que ela sabia dançar samba, e pedi-lhe que me ensinasse.
Decidimos ir ao baile no celeiro na Véspera do Solstício de Verão.”3 (Jönsson, 1991. p.73).
JÖNSSON, Reidar. Minha Vida de Cachorro. São Paulo: Círculo, 1991.
2 Informações e poema obtidos pela autora desse artigo na cidade de Santo Antônio do Aventureiro, também sua cidade natal, em longas conversas com D. Valma, por quem nutre profunda amizade. 3 Midsommarafton corresponde à Festa de São João. E, pela importância do sol, é a maior festividade entre os suecos. (notas do autor).
“Os flocos de neve exerciam um efeito
hipnótico sobre mim. Deixavam-me cada vez
mais sonolento, mas eu tinha que manter os
olhos abertos. E se me enganasse de estação e
saltasse na errada, caísse na branca tundra
ártica, inteiramente ofuscado, e me deparasse
com lobos prontos para me fazerem em
pedaços! Ora, isso seria imperdoável, e
indigno de um grande caçador. Um caçador
não deve cometer erros nunca. Um único erro
Figura 03: Montanhas cobertas por neve. Fonte: http://www.garrafive.com
Possibilidades a partir da ótica geográfica: A história dessa obra se passa na Suécia,
diversas passagens fazem referências ao clima, a vegetação, aos costumes, entre outros,
possibilitando trabalhar assim, os conteúdos de domínios morfoclimáticos, biomas,
fauna, além do contexto sócio-cultural de países europeus. Pode-se, inclusive, usar as
interpretações a cerca da cultura local mostrada na obra em comparação com a cultura
local do aluno, sua realidade vivida.
Literatura e poesia como recurso pedagógico: proposta para unidade de ensino
A proposta feita a seguir é uma sequência de ensino de Geografia que mostra
diversas possibilidades de uso e aplicação da literatura no ensino da Geografia,
utilizando também outras linguagens como apoio no desenvolvimento das atividades,
tendo como base um livro didático utilizado em várias redes de ensino no Brasil.
Ao se elaborar uma sequência ou planejamento de unidade é necessário observar
elementos e aspectos que serão primordiais para a excelência e desenvolvimento das
atividades, assim como alcançar os objetivos de cada uma delas. Entre os elementos e
aspectos a serem observados, pode-se ressaltar o ‘porque’ estudar tal assunto/tema, qual
é a relevância científica e social dos conteúdos a serem estudados; as metas para
aprendizagem, considerando nível de abordagem e demanda dos alunos; os
conhecimentos prévios dos alunos; materiais que poderão ser utilizados, entre
necessários e disponíveis; estratégias ou direção a ser seguida; organização do tempo e
espaços escolares e outros.
É extremamente importante lembrar, que nós professores, somos seres humanos
lidando com seres humanos, portanto, toda e qualquer alteração e adequação necessária
ao planejamento pré-estabelecido pode e deve ser feita de acordo com a demanda.
Geopolítica e suas possibilidades literárias
Livro: Geografia Geral e do Brasil – Unid. VII - Geopolítica e Geoestratégia – pg.192.
Cap. 20: Relações de força no mundo pós-guerra fria
Cap.21: Poderio econômico-militar e a nova ordem
mundial
Objetivo Geral:
* Possibilitar o desenvolvimento e assimilação do
conhecimento dos alunos, através das atividades pro-
postas, relacionando à unidade escolhida do livro cita-
do, bem como suas possibilidades literárias.
Atividade 1: Introdução “Muitas chinas percorriam Pelas margens dos banhados Levando cada uma delas Ao dez e doze soldados” Se quereis ser triunfante Mudai desde logo a cena, Não dês heróis combatentes Ao cargo dum Barbacena E assim aconteceu Sem nada determinar
Fazendo carga no centro E só entrou nessa luta Aquele que quis entrar. Sem dar proteção aos flancos Lá deixou bastantes mortos Muitos feridos e mancos Tendo nos sido visível Quase inteira a perdição O Herói Bento Gonçalves Foi a nossa salvação. Trecho do livro “Um certo capitão Rodrigo, págs 20 e 21”
“- Entrei em Montevidéu em 1817 com as forças do Gen. Lecor – prosseguiu o capitão. – As castelhanas são mui lindas. – Sorriu. (...). Juvenal não disse nada. Depois de um curto silêncio falou: - Meio feio a gente invadir a terra dos outros, não? - Não tivemos culpa. O governo da Banda Oriental pediu a proteção do nosso. Estava malito, porque o Artigas andava fazendo estripulias por lá. - A verdade é que nós acabamos tomando conta da terra deles. - Águas passadas... - Mas muita gente boa morreu. - Hai gente demais no mundo... Mas, como eu ia dizendo, em princípios de 21 eu era tenente e estava na guarnição de Porto Alegre quando soubemos dos acontecimentos de Portugal. - Que acontecimentos? - A revolução do Porto. - Não ouvi falar nada... - Ora, a portuguesada disse que não queria saber mais dessa história do rei mandar e desmandar sem dar satisfação a ninguém. Queriam que ele jurasse a uma constituição. - Me desculpe. Mas nunca ouvi falar nesse negócio. Sou um homem rude. - Constituição é... – Rodrigo calou-se, embaraçado, e começou a fazer gestos, como se estes pudessem substituir as palavras. - ... é um papel, um regulamento que um país tem, dizendo todas as coisas... vosmecê sabe... todas as leis... um negócio desses compreende?(...).
- Seja como for, a junta governativa de Porto Alegre não estava muito disposta a jurar tal constituição... Ora, chegaram notícias que nas outras capitanias havia barulho. Por toda a parte se falava em revolta.” Trecho do livro “Um certo capitão Rodrigo, p. 14 e 15”
“Uma guerra sempre avança
A tecnologia Mesmo sendo guerra santa
Quente, morna ou fria Prá que exportar comida?
Se as armas dão mais lucros Na exportação...”
A canção do senhor da guerra Composição: Renato Russo e Renato Rocha
Atividade proposta a partir da ótica geográfica: os trechos da obra “Um certo capitão
Rodrigo” e da música de Renato Russo e Renato Rocha possibilitam o embasamento e
abertura do tema proposto, ou seja, Geopolítica e Geoestratégia. Através da leitura e
interpretação desses trechos, inicia-se a discussão sobre o tema central. Após essa
atividade segue leitura do livro didático e apontamentos por parte dos alunos. Os
objetivos dessa atividade introdutória são provocar reflexões para a importância da
Geopolítica no contexto atual, além das interações com outros espaços-tempos.
Atividade 2: Leitura da obra de Sun Tzu ‘A Arte da Guerra’
“Em batalhas, quaisquer que sejam os resultados, o gosto será sempre amargo, mesmo
para os vencedores. Portanto, a guerra deve ser a última solução e só deve ser travada
quando não existir outra saída” (Sun Tzu, A Arte da Guerra)
Atividade proposta a partir da ótica geográfica: Depois da leitura completa do livro de
Sun Tzu feita pelos alunos, as experiências e impressões tidas e/ou vividas durante a
leitura serão expressas em um seminário, com apontamentos sobre as possíveis relações
com o contexto mundial atual. Os objetivos principais são a participação, capacidade de
reflexão e interrelação entre a obra e a atualidade.
Atividade 3: Palestra sobre Geopolítica
A palestra tem o planejamento para duas aulas geminadas de 50 minutos, com o
objetivo de fomentar nos alunos o interesse pela análise do contexto histórico e
geopolítico em obras literárias de diversos tipos. O aluno deverá sair ao final da palestra
com a noção de que na literatura encontramos traços de Geografia Política e Geopolítica
que serão importantes para a sua formação, além de compreender de que forma é
possível encontrar nessas obras tais traços.
Atividade proposta a partir da ótica geográfica: A palestra será baseada em indagações
próprias do tema, de constatações demonstradas ao longo da atividade e de exemplos de
literaturas com traços Geopolíticos. (O que é Geografia política e Geopolítica? O que a
literatura tem a ver com Geopolítica? A leitura cotidiana e a Geopolítica). Será aberto
um espaço para perguntas e discussões no final, pois este, geralmente, é o mais rico
momento em sala de aula.
Figura 05: Diversas linguagens relacionadas à Geopolítica. Fonte: Felipe Marçal Repolês – Abril/2009.
Atividade 4: War4 na sala de aula
O tema estudado será bem aplicado nesta atividade, reforçará o conteúdo e irá
instigar o aprendizado. Com a adaptação feita no jogo, quem souber mais sobre as áreas
a serem conquistadas (objetivo de cada equipe), se tornará o exército campeão. Essa
4 Jogo de tabuleiro que utiliza uma mapa-mundi. É disputado em rodadas de ataques entre exércitos inimigos que são representados pelos participantes do jogo. Para detalhes e regras, aconselho consulta ao site www.ilhadotabuleiro.com.br, especialista em jogos de tabuleiro.
atividade modifica a rotina e proporciona discussões e trabalho em grupo por meio de
interação/competição entre os alunos.
Atividade proposta a partir da ótica geográfica: Algumas regras foram incorporadas ao
jogo original para melhor atender como uma atividade pedagógica. Depois de definidas
as equipes e sorteados os respectivos objetivos e territórios, cada equipe deverá fazer
uma explanação sobre aquela região, de acordo com seus conhecimentos prévios. As
informações deverão ser contidas tanto do espaço físico, quanto político, social,
econômico e cultural, a equipe que se sair melhor começará o jogo. Para que possa
invadir o território inimigo, a equipe deverá também trazer informações sobre o mesmo,
assim como fez anteriormente. As demais regras originais do jogo serão seguidas
normalmente.
Os objetivos dessa atividade são de analisar criticamente os conflitos
geopolíticos, compreender a importância da Geografia ao dar uma visão diferenciada e
estratégica para os problemas cotidianos, trazer para uma realidade mais próxima do
aluno os problemas militares globais, reforçar os mapas físico e mental dos continentes,
incentivar as discussões em grupo, identificar os pontos estratégicos do planeta e buscar
os conhecimentos prévios e adquiridos no decorrer dos estudos feitos pelos alunos ao
longo da sequência de ensino desenvolvida até o momento.
Atividade 5: Estudo Dirigido:
1) “Na Guerra Fria, os temas da propaganda ideológica eram complexos porque
envolviam ideais distintos de vida, democracia e felicidade”. (Fonte: Algosobre.com.br)
O século XX foi marcado pela Guerra Fria, um conflito com bases ideológicas
travado entre os Estados Unidos e a União Soviética. Explique essa guerra e como se
deu seu fim.
2) "Não estou interessado em falar sem pensar. Mas acho que podemos levar a relação
entre Estados Unidos e Cuba a uma nova direção. Será "um longo caminho a percorrer,
para superar décadas de desconfiança, mas há passos essenciais que podemos dar rumo
a um novo dia” disse o presidente americano Barack Obama na 5ª cúpula das Américas.
(Fonte: Folha on line 18/04/2009)
O conflito entre Americanos e Cubanos é herança da extinta guerra fria, explique
o desenrolar desse conflito e porque ele não teve sanções militares e sim econômicas.
3)“Esta semana marca o quinto aniversário do início da guerra no Iraque, o que a torna
um dos mais longos conflitos militares no exterior da história americana.
O capítulo inicial da guerra de choque e temor há muito perdeu espaço para novas
narrativas dos erros do governo Bush, uma insurreição sangrenta e um crescente número
de iraquianos e americanos mortos. Um marco mais macabro deverá ser atingido neste
mês ou no próximo: 4 mil baixas militares americanas. É por este prisma que as
lembranças da invasão, antes saudada como uma missão cumprida, são passadas a
limpo. Mas aqueles que travaram a primeira guerra há cinco anos lembram da derrota de
Saddam Hussein com orgulho.” (Fonte: abin.gov.br 19/03/2009).
Porque a invasão do EUA ao Iraque no ano de 2003 foi tão questionada por
autoridades internacionais e pela a opinião pública de um modo geral?
4) Pesquise exemplos de guerras e ou conflitos da atualidade que envolva disputas
territoriais ou econômicas e construa um pequeno texto sobre elas.
Atividade proposta a partir da ótica geográfica: Este estudo dirigido deverá ser seguido
por uma conversa em sala (podendo optar por uma formação em roda) na qual os alunos
irão debater os temas levantados, contribuindo com o conhecimento adquirido e suas
respectivas visões críticas sobre os mesmos. Objetiva fixar a aprendizagem do conteúdo
discutido, provocar reflexões em relação ao tema e trabalhar alguns conflitos existentes
no mundo e suas conseqüências locais e globais.
Atividade 6: Produção de texto
Cuba dançou ideologicamente (Arnaldo Jabor)
“Quando Fidel e seus companheiros jovens e corajosos tomaram Cuba foi um
momento de grande esperança. Não apenas pelo fim da ditadura de Batista, mas porque
surgira uma alternativa para o poder total americano, em plena Guerra Fria. Também
parecia ser uma mudança no próprio socialismo careta e duro da União Soviética. Seria
um socialismo dançante, uma “pachanga”, uma “rumba” de esquerda. Mais contra Cuba
agiram duas formas de estupidez. A americana, criando um embargo comercial e a
boçalidade soviética, que em 62 quase derreteu o mundo, porque consideraram Cuba
apenas uma base de mísseis. O que era belo e novo ficou velho. E Cuba foi esmagada
entre dois gigantes e descobrimos nesta época que não há meias verdades românticas na
história política. E Cuba se filiou a União Soviética. O embargo americano é terrível
nos últimos 47 anos. Mas não explica tudo. Cuba dançou não a “pachanga”, mas dançou
ideologicamente, dançou na bruta repressão a dissidentes, de homossexuais até
intelectuais finos e democráticos. Mas Cuba dançou principalmente pela extrema
mediocridade administrativa, pela incompetência burocrática, pela confusa idéia de
socialismo ainda Stalinista.” (Fonte: www.portalmatao.com.br/portal2009) .
Atividade proposta a partir da ótica geográfica: Após a leitura do texto de Arnaldo
Jabor, os alunos deverão desenvolver um texto dissertativo tendo como assunto central a
situação de Cuba no contexto que compreende o início da guerra fria até atualidade.
Essa atividade tem como principal objetivo desenvolver a capacidade de argumentação
e redação dos alunos, integrando o conteúdo estudado na unidade do livro didático, as
diversas atividades desenvolvidas na sequência de ensino na disciplina de Geografia,
além de auxiliar na preparação para o vestibular, já que são alunos do Ensino Médio e a
redação é um item importantíssimo para classificação ou não nos vestibulares do país.
Algumas Considerações
A interrelação dos pressupostos teóricos da Literatura e da Geografia podem
ampliar as possibilidades de interpretação de um mesmo espaço a partir de duas leituras.
Nas redes de ensino no Brasil, tanto pública quanto particular, ainda é raro que as
escolas adotem novas metodologias. Desenvolver no aluno, vínculos com a Literatura,
em qualquer de seus modelos literários, pode reorientá-lo para perspectivas futuras em
relação ao conhecimento.
Obras literárias que envolvam, por exemplo, aspectos culturais das regiões
podem fortalecer o processo de ensino-aprendizagem e a valorização da cultura local. A
literatura é totalmente capaz de exaltar tais aspectos culturais, assim como pode servir
de fonte de inspiração à paisagem geográfica, portanto, uma análise geográfica do
poema é relevante para o estudo literário. Da mesma forma, a representação que os
poetas fizeram desta paisagem geográfica traz elementos novos para o estudo
geográfico. São duas leituras que se complementam, com a literatura traduzindo o
essencial das relações homem e espaço e a geografia subsidiando a interpretação dos
textos literários que abordam o espaço trabalhado no contexto do aluno.
As alternativas de transposição dos múltiplos conhecimentos trazidos para o
contexto escolar passam a ser um recurso didático-pedagógico nas salas de aulas de
relevância tal que, em alguns casos, parecem transformar as atividades desenvolvidas
pelo professor/geógrafo com seus alunos em prazeres e vivências fantásticas.
Através da poesia, da prosa, da música, do texto de um romance, do texto de um
documentário ou do texto originado de uma entrevista pode-se estabelecer relações que
resultam da produção do espaço geográfico, é provável entender os saberes e fazeres
dos homens com um novo olhar, mais aberto e crítico em diferentes espaços-tempo. O
aluno pode, através da literatura, questionar a realidade e compreendê-la nas suas
diferentes formas e fenômenos e como estão relacionados entre si.
Quem escreve um texto, escreve de algum lugar e por alguma razão, portanto
traz algo de sua realidade, está inserida em um contexto. Assim, “aprendendo a ler”, o
aluno passará a perceber esses contextos evidenciando-os através de instrumentos do
seu cotidiano. Dessa forma, será possível entender o mundo que o cerca, a dinâmica
sócio-política, os conflitos, as mudanças, entre outras questões.
A educação deve ser priorizada e valorizada como fator importante na
construção da sociedade que se encontra em constante transformação, e porque não
acompanhar essas transformações também no âmbito escolar? O “tradicionalismo
militar” precisa ser expulso dos meios escolares, abrindo espaço para a valorização dos
diversos ambientes de aprendizagem e metodologias inovadoras.
Nos exemplos de atividades que compõem este trabalho, estão expressos uma
concepção do processo de ensino-aprendizagem de forma interdisciplinar para que o
aluno possa ter uma visão da totalidade. Os resultados obtidos através destas atividades
com os alunos de 5ª e 6º séries do Ensino Fundamental com os quais trabalho foram
surpreendentes, no sentido do despertar de interesses, apreensão de conteúdos,
correlações temáticas, compreensão de suas realidades, além da leveza que adentrou a
sala de aula, afastando as abordagens tradicionais e fragmentadas da Geografia que
ainda estão presentes em diversas escolas espalhadas pelo Brasil.
A literatura é, então, um grande apoio, já que através de suas representações
permite ao aluno fazer interpretações subjetivas, nas quais podem expressar suas
compreensões sobre diversos assuntos de maneira mais rica e espontânea. Há uma
maior interação entre o aluno e o professor e destes com o conteúdo a ser apresentado.
Referências Bibliográficas CARPEAUX, Otto Maria. História da Literatura Ocidental. 3ª Ed. (8 Vol.) Rio de Janeiro: Alhambra, 1987. HENRÍQUEZ UREÑA, Pedro. Las corrientes literarias en la Ameérica Hispánica. México: Fondo de Cultura Económica, 1964. 313p. KELLY, Celso Otávio do Pardo. Escola nova para um tempo novo. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973. 192p. (Coleção Didática Dinâmica). MATOS, Olgária C. F. Reflexões sobre o amor e a mercadoria. In: Discurso – Revista do Departamento de Filosofia da FFLCH da USP, nº 13. SP: Polis, 1983. MOTA, Mauro. O poeta no cartório (artigo). Recife: Diário de Pernambuco, coluna Agenda, 1º Caderno, 23/08/1967. Disponível em: www.ufpe.br OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de (org.). Para onde vai o ensino da geografia? 6ª Ed. São Paulo: Contexto, 1998. 114p. POUND, Ezra; CAMPOS, Augusto de. ABC da literatura. 7. ed. São Paulo: Cultrix, 1995. 218p. RUDEK , Roseni. GONÇALVES , Marcos. MAGALHÃES , Claudia. SOURIENT, Lilian. Passaporte para a Geografia – Volume I. São Paulo: Editora do Brasil, 2005. 144p. RUDEK , Roseni. GONÇALVES , Marcos. MAGALHÃES , Claudia. SOURIENT, Lilian. Passaporte para a Geografia – Volume II. São Paulo: Editora do Brasil, 2005. 200p. SILVA, Dilsom Barros da. BARBOSA, Vilma de Lurdes. A Literatura de Cordel no Ensino da Geografia. Anais/Catálogo de Resumos do IX Encontro de Extensão
Universitária. Desafios da indissociabilidade entre ensino e extensão. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2007. TZU, Sun. A Arte da Guerra. São Paulo: Jardins dos Livros. 2007. VERISSIMO, Erico, 1905-1975. Um certo capitão Rodrigo. 32ª ed. São Paulo: Globo, 1997. 223p. VESENTINI, José William. Geografia: geografia geral e do Brasil, volume único: livro do professor/José William Vesentini; ilustrações Cláudio Chiyo e Luis A. Moura. 1ª ed. São Paulo: Ática, 2005. WANDERLEY, Alba Cleide Calado; SEVERO, Ione dos Santos (organizadoras). Nas Trilhas do Popular. Literatura e Educação. João Pessoa: Ed. Universitária/UFPB, 2006. 113p. WISNIK, José Miguel. A Paixão Dionisíaca em Tristão e Isolda. In: CARDOSO, Sérgio et alii. Os Sentidos da Paixão. SP: Companhia das Letras, 1987. ZÓBOLI, Graziella. Práticas de ensino: subsídios para a atividade docente. São Paulo: Ática, 1998. 149p.