Post on 11-Jul-2015
As funções gerais da doença em Georg Groddeck
Lucas Nápoli
Mestrando em Saúde Coletiva (IESC-UFRJ)
Orientador: André Martins
INTRODUÇÃO
Georg Groddeck
• Aspectos biográficos
• A influência de Ernst Schweninger
• O caráter anti-científico
• O encontro com a psicanálise
A originalidade de um pensamento
• Corpo e psiquismo não são duas “res”distintas, mas dois modos de expressão do Isso (Das Es);
• Isso → organismo + Simbólico;
• Todo sintoma orgânico pode ser lido simbolicamente;
• Apesar do sentido singular de cada sintoma, há usos gerais para as doenças.
Objetivo
• Caracterizar e discutir os usos genéricos do “cair doente” comentados por Groddeck na conferência “A Doença” proferida na Universidade de Lessing em 1926 (GRODDECK, 1926b/1994).
Funções gerais da doença
• Primeira conseqüência do “cair doente”: sofrimento e necessidade de ajuda
Retorno a um estado de dependência a outrem análogo à relação do bebê com a mãe
Funções gerais da doença
• Estando numa posição análoga à do bebê, o sujeito estabelece uma relação vantajosa com o mundo
É alvo de uma atenção e compaixão atípicas; Adquire um ganho de poder sobre o ambiente.
Funções gerais da doença
• Dado que a doença usualmente provoca dor, sofrimento e desprazer
Veículo de expiação de um sentimento intolerável de culpa.
Funções gerais da doença
• Na medida em que a maioria das doenças promove uma restrição das atividades
O sujeito adquire uma razão para não fazer determinada tarefa ou não comparecer a um dado local.
Considerações finais
• A lição de Groddeck: o adoecimento não está desconectado da vida subjetiva;
• A doença como criação e não como algo que acontece com o sujeito;
• Necessidade de incorporação desse ponto de vista na atenção primária à saúde.
Referências bibliográficas
• ÁVILA, L. A. Doenças do corpo e doenças da alma. São Paulo: Escuta, 2002.
• ÁVILA, L. A. Georg Groddeck: originality and exclusion. History of Psychiatry, v. 14, n. 1, 2003.
• GRODDECK, G. Condicionamento psíquico e tratamento de moléstias orgânicas pela psicanálise. In: ______. Estudos Psicanalíticos sobre Psicossomática. São Paulo: Perspectiva, 1992, pp. 9-28. (Original publicado em 1917)
• GRODDECK, G. Doença. In: ______. O Homem e seu Isso. São Paulo: Perspectiva, 1994, pp. 207-216. (Original publicado em 1926b)
• GRODDECK, G. Sobre o absurdo da psicogênese. In: ______. Estudos Psicanalíticos sobre Psicossomática. São Paulo: Perspectiva, 1992, pp. 125-126. (Original publicado em 1926).
Os usos do corpo: cidadania biológica e a doença como plataforma de expressão
Lucas Nápoli
Mestrando em Saúde Coletiva (IESC-UFRJ)
Orientador: André Martins
INTRODUÇÃO
Corpo e contemporaneidade
• A prevalência do corpo como referente identitário;
• Baixo prestígio das instâncias tradicionais de subjetivação;
• O corpo deixa de ser receptáculo para ser o próprio veículo de formação de subjetividades;
Cidadania biológica
• Um dos modos de incidência do corpo num campo tradicionalmente valorativo e simbólico;
• Conceito proposto por Nikolas Rose e Carlos Novas (2004), para denotar um novo tipo de exercício da cidadania que não se faz com base em predicados políticos ou institucionais, mas a partir de temas biológicos/corporais.
Cidadania biológica
• Risco de generalização do conceito;
• Eixo central do conceito: uso do corpo como plataforma de reivindicação;
• Condições de emergência: prestígio da biomedicina, da biotecnologia e da genética no meio social;
• Queda da noção de cidadania atrelada à idéia de nacionalidade.
Cidadania biológica
• Sécs. XVIII e XIX → idéias de raça e eugenia só fazem sentido a partir da noção de estado-nação;
• Na cidadania biológica a recorrência à biologia e ao corpo se faz muito mais como motivos de reivindicação de direitos e inserção política que a idéia de nacionalidade já não dá mais conta.
Cidadania biológica
• Exemplos:– Organização de pessoas diagnosticadas com
transtorno afetivo bipolar em grupos na internet para reivindicar ações por parte do Estado;
– Reivindicação de compensações por parte do Estado feita por pessoas que alegavam terem sido expostas aos efeitos da radiação da explosão nuclear do reator de Chernobyl na Ucrânia;
Groddeck
• O sujeito só fica doente quando isso serve a alguma finalidade. A recorrência ao corpo como modo de expressão constitui uma espécie de último recurso do sujeito para conseguir lidar ou solucionar determinadas questões.
• Fuga para a doença
Analogia
Impossibilidade de expressão pela
via da ação, do pensamento ou
da fala
Agentes patogênicos, fator
es de risco, condições biológicas, etc.
Criação da doença como plataforma de
expressão
Insuficiência da cidadania política como
garantidora de direitos
Condição biológica
prejudicial
Cidadania biológica
Medicalização
• O processo de medicalização auxilia a formação de cidadanias biológicas;
• As vantagens do rótulo de doente
“A doença, e isso é uma sedução a que é difícil resistir, torna inocente: o doente não tem consciência de culpa, ou, pelo menos, possui um meio de destruir o sentimento de culpa, destruir por ficar cada vez mais doente, no fim a doença leva a um ponto tal que cessa toda consciência e com isso todo sentimento de responsabilidade. Será tão absurdo adoecer, se isso oferece tão grandes vantagens?” (GRODDECK, 1926b/1994, p. 209).
O paradoxo da doença
• Cidadania biológica → ao mesmo tempo em que se quer a cura da doença, é a existência dela que liga o indivíduo ao Estado;
• Doença no nível individual → ao mesmo tempo em que causa sofrimento e dor, é o único modo encontrado pelo indivíduo para se expressar.
Considerações finais
• A importância de se considerar os aspectos subjetivos envolvidos na formação de cidadanias biológicas;
• A capacidade do corpo de ocupar o lugar outrora preenchido por fundamentos simbólicos;
• A atualidade de Groddeck.
Referências bibliográficas
• CONRAD, P. Medicalization and Social Control. Annual Review of Sociology, v. 18, 1992.
• COSTA, J. F. O uso do corpo como objeto transicional. Disponível em: <http://jfreirecosta.sites.uol.com.br>. Acesso em: 14 jun. 2010. (Original publicado em 2004).
• FERRAZ, F. C. A tortuosa trajetória do corpo na psicanálise. Revista Brasileira de Psicanálise, Rio de Janeiro, v. 41, n. 4, 2007.
• GRODDECK, G. Condicionamento psíquico e tratamento de moléstias orgânicas pela psicanálise. In: ______. Estudos Psicanalíticos sobre Psicossomática. São Paulo: Perspectiva, 1992, pp. 9-28. (Original publicado em 1917)
• GRODDECK, G. Destino e coação. In: ______. O Homem e seu Isso. São Paulo: Perspectiva, 1994, pp. 231-245. (Original publicado em 1926a)
• GRODDECK, G. Doença. In: ______. O Homem e seu Isso. São Paulo: Perspectiva, 1994, pp. 207-216. (Original publicado em 1926b)
Referências bibliográficas
• GRODDECK, G. O livro dIsso. São Paulo: Perspectiva, 2008.• LACAN, J. O seminário, livro 11: Os quatro conceitos fundamentais
da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988.• MARTY, P. A psicossomática do adulto. Porto Alegre: Artes
Médicas, 2003.• ORTEGA, F. O corpo incerto: corporeidade, tecnologias médicas e
cultura contemporânea. Rio de Janeiro: Garamond, 2008.• PETRYNA, A. Biological Citizenship: The Science and Politics of
Chernobyl-Exposed Populations. Osiris, v. 19, 2004.• ROSE, N. Biological Citizens. In: ______. The Politics of Life Itself:
biomedicine, power, and subjectivity in the twenty-first century. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2007.
• ROSE, N.; NOVAS, C. Biological Citizenship. In: A. Ong.; S. Collier (orgs.). Global assemblages: technology, politics and the ethics anthropological problems. Malden, MA: Blackwell, 2004.
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