Post on 24-Nov-2018
LUCIANA MACIEL DA HORA
A CONTRIBUI<;:AO DA PSICOPEDAGOGIA EM CRIAN<;:AS COM DISLEXIA
Monografia apresentada para obten~ao do titulo deEspecialista em PSicopedagogia no Curso de Pos-Graduayao da Universidade Tuiuti do Parana.
Orientadora: Prof' Rosilda Dallagassa.
CURITIBA;--_._2006 _1~~;:":');i,LL.\h~:jUJf , ..
L
SUMARIO
Resumo 02
1 - Introdu,ao 03
2 - Entendendoa Psicopedagogia 05
2.1 - Historia e Forma,ao da Psicopedagogiano Brasil 14
3 - CrilEiriosFundamentaispara 0 TratamentoAdequado da Dislexia __ 23
3.1 - Alfabetiza,ao do DislEixico 30
4 - A Interven,ao Psicopedagogicana Escola 34
5 - Conclusao 39
6 - ReferenciasBibliograficas 40
RESUMO
A Psicopedagogia e uma area de estudo e de aplica<;aoque engloba a Psicologia ea pedagogia, trabalhando 0 aluno por completo, sua aprendizagem significativa,solucionando problemas de cunho social e psicol6gico. Abordam-se aqui aPsicopedagogia como teoria e sua forma<;ao historica no Brasil, onde se procuradestaca-Ia em sua essencia, de estudo e aplica<;ao.A Psicopedagogia e uma areade interfaces. E com este espirito que este trabalho traz urn dos mais gravesproblemas atendidos por ela: a dislexia e a dificuldade de aprendizagem. Adificuldade de aprendizagem e um grave problema que nao pode esperar para sesolucionado e necessita de verificaC;:8o precisa para a atuac;:8o. Estabelece-se entao,a questao do erro e fracasso escolar bern como a culpa da propria instituiC;:80 naprodu<;ao desse fracasso, tambem indica que 0 processo de medicaliza<;ao epsicologizay8o do fracasso escolar surge, como uma defesa da instituiy80 no lidarcom a diferenc;:a de aprendizagem, e dentro dela, 0 Fator social. Par finalizaC;:8o trata-S8 do auxilio do psicopedagogo a aprendizagern, dentro da instituic;:ao escolar,buscando a solu<;ao para 0 problema da dificuldade de aprendizagem. Nao sepretende esgotar 0 assunto, mas trata-Io de uma forma clara para que provoque umareflexao critica.
INTRODUC;AO
A Psicopedagogia e uma area de atua,ao que podera favorecer e muilo 0
desenvolvimento da crian,a em idade escolar, auxiliando no trabalho pedagogico
com informa,oes pSicologicas podendo assim compreender 0 outro lado da crian,a
e trabalhar conforme a necessidade de cada uma.
A institui,ao educacional que trabalha em parceria com a Psicopedagogia lera
muilas chances de sanar urn grande problema que esla presente em todas as
escolas do Brasil, a dificuldade de aprendizagem em alunos portadores da dislexia.
o professor que conla com 0 trabalho do psicopedagogo podera dar novos rumos a
sua metodologia e de usar recursos diagn6sticos, estudando a dificuldade de
aprendizagem da crianc;a a partir de aspectos afetivDS, cognoscitivos e do meio, que
confluem no aprender do ser humano.
Este trabalho tern como objetivo primordial estudar sobre a fundamenta,ao da
Psicopedagogia contemporanea e apresentar metodos e recursos que urn
psicopedagogo utiliza no seu trabalho com crianc;as que apresentam 0 diagn6stico
da dislexia.
Os metod as utilizados para 0 atendimento da crianc;a dislexica, serao entaD,
as focos principais ja que a questao do erro e do fracasso escolar incomoda muitos
educadores e exige entao urn acompanhamento de urn Dutro profissional capacitado
para lidar com esses alunos, trabalhando diretamente com essa dificuldade,
explorando seu lado social e psicologico.
Para que 0 trabalho seja fundamentado de forma coerente sera utilizada a
pesquisa bibliografica em obras de alguns autores, estudiosos sobre 0 assunto da
PSicopedagogia e da dificuldade de aprendizagem para crian9as que apresentam
diagnostico da dislexia.
o primeiro capitulo tem como objetivo primordial discorrer sobre a
Psicopedagogia contemporanea, definindo-a teoricamente e detalhando seu objeto
de estudo.
o segundo capitulo especifica fatores referentes a dificuldade de
aprendizagem caracterizando a questao da dislexia, trazendo fatores que
contribuem para 0 mesma tentando ex plica-los, alem disso, trara referencias sabre a
metodologia que 0 psicopedagogo utiliza no acompanhamento dos portadores de
dislexia estabelecendo criterios adequados.
Concluindo, este trabalho monogratico apresentara urn panorama te6rico
sobre a PSicopedagogia referente a dislexia, bem como metodos que contribuem
com 0 trabalho pedagogico nas institui90es.
2 ENTENDENDO A PSICOPEDAGOGIA
Frente as opinioes de varios autores, como FACHIN (1993), POPPER (1979).
BOSSA (1994) e varios outros, parece que quanto mais se estuda e se aprofunda no
campo da PSicopedagogia, menos claro ele se apresenta.
Por isso, este primeiro capitulo aborda 0 que e PSicopedagogia, 0 hist6rico de
seu surgimento em nivel nacional e mundial e seu objeto de estudo.
Antes de apresentar a defini<;ilDde Psicopedagogia, faz-se necessario expor
o que e conhecimento e como ele propicia 0 surgimento da ciencia, ja que, como diz
BOSSA, (1994) "a Psicopedagogia no Brasil se encontra aparentemente numa rase
de pre-saber com as caracteristicas positivas deste estado, au seja, se acha
baseada numa empirica, numa opiniao valida, numa experiencia",
De acordo com FACHIN (1993):
o conhecimento empirico fundamenta-se apenas em experiencias vivenciadas outransmitidas de pessoa para pessoa; tambem pode derivar de experh3ncias casuais,sem a (undamentaqao dos postu/ados metodol6gicos [...] E 0 primeiro nivel docantato do inte/ecto com 0 mundo sensivel {...} E uma visao ingenua do contextoexterior". Seus acontecimentos procedem da v;vencia; quer dizer, sua aqao seprocessa segundo conhecimentos adquiridos em aqoes anteriores.
o conhecimento empfrico e a estrutura para se chegar ao conhecimento
cientffico; per isso, nao pode ser menosprezado. 0 conhecimento empirico e a base
fundamental do conhecer superior oj 0 conhecimento cientifico. Diz FACHIN, (1993):
o conhecimento cientifico se apresenta em funC;ao da necessidade de 0
ser humano estar constantemente procurando aperfeic;oar-se e nao assumir
uma postura simplesmente passiva, observando os fatos e os objetos, sem poder de
ac;ao ou controle dos mesmos. Compete ao ser humano, fazendo uso do seu
intelecto, desenvolver formas sistematica, met6dica, analitica e critica da missao de
inventar e comprovar novas descobertas cientfficas.
Do conhecimento cientifico nasce a ciencia que, na vi sao de K6cHE, apud
FACCHIN (1993).
{. .. J demonstra ser uma busca, uma investigaqao continua e incessante de sofuq6ese expficaq6es para os problemas propostos. Como busca sistematica, ela visa asteorias fundamentadas em evidencia do passado, reformula-as atraves de suacoerencia interna, submetendo-as a uma revisao critica, estabelecendo relaq6es econfrontando-as com outras teorias, formulando novas hip6teses e propondocondiq6es com 0 maximo de seguranqa para sua estabilidade. 0 resu/tado critico doconfronto empirico podera dizer se ha ou nao urn novo conhecimento.
Para POPPER (1979), "0 conhecimento que deve descrever e explicar 0
mundo sempre forma parte do mundo existente; par esse motiv~, podem sempre
surgir novas entidades com que ele tera de haver-se". Quer dizer, verifica-se que no
conhecimento cientifico ocorrem constantemente novas descobertas ou ampliac;6es
ou junc;oes do conhecimento ja existente, proporcionando 0 surgimento de novas
ciencias, tal como a Psicopedagogia, que une saberes da Pedagogia e da
PSicologia.
o termo Psicopedagogia tem produzido uma rea,ao de critica e de rejei,ao,
mesmo sendo definido no novo dicionario da lingua portuguesa como "aplicac;ao da
psicologia experimental a pedagogia". Essa rea,ao se da porque muitos
profissionais ligados ao estudo da infancia (e tambem muitos leigos - pais,
principalmente) ainda nao conhecem 0 que seja Psicopedagogia.
Este termo, segundo BOSSA (1997), distingue-se em tres conotayoes:
"como urna pratica, como urn campo de investigayEio do ato de aprender e
como (pretende-se) um saber cientifico". Como a Psicopedagogia iniciou-se no
campo empirica, e certa que tern a conotay80 da pratica. Quanta ao campo de
investigay80, ate hoje muitas obras nessa area partem da pratica de campo para
construir a teoria. E, 0 caminho buscado, pretendido, que e elevar a Psicopedagogia
a urn status de ciencia, embasado no saber cientifico.
MIALARET, apud BOSSA (1997, p.13-15), apresenta uma tentativa de
definiy80 da Psicopedagogia, fazendo, inicialmente, algumas observayoes
importantes:
a) as metodos pedag6gicos que nao levam em conta 0 componentepsicol6gicQ, 0 f8zem, mesma sem saber, de maneira implicifa. a trabalhoeducativo naG pode ignorar as dados psico/6gicos.b) A maior parte das vezes 0 profissional de educac;ao refere-s8 a psic%giade uma maneira orB intuitiv8, ora explicita. a ata educativo sempre estaremais au menDS impregnado de Psicologia.c) Dever-se-ia pensar no termo Psicopedagogia no plural, porque, aoapresenta-Io, faz-s8 referencia:
quer a uma teoria, quer a urn conjunto de mefodos e de praficaspedag6gicos;. ao que fern em consideraqao, quer na escolha das finalidades, quer para asjustificar, quer para as explicar, quer para agir;
ao conjunto ou parte dos componentes psicol6gicos, psicofisiol6gicosindividuais e psicossociais da vida dos pequenos grupos intervenienfes numasituaqao de educaqao.
Exemplificando, existe a Psicopedagogia da musica e a Psicopedagogia do
ensino programado, com elementos comuns, mas tambem com elementos
especificos a cada uma delas.
Finalmente, MIALARET, apud. BOSSA (1997, p.16), ap6s essa explanayilo,
define Psicopedagogia: "pode entender-se quer uma teoria, quer um metodo, quer
um conjunto de praticas pedag6gicas referindo-se, quer para basea-Ios, quer para
explica-Ios, quer para leva-los a cabo em nivel da agao, aos dados da
pSic%gia da educaqao". Para ele, fica evidente a amplitude do dominio
abrangido pela Psicopedagogia, uma vez que se devem considerar todos os
aspectos da educaC;ao.
BOSSA (1994, p. 5), evidencia 0 carater interdisciplinar da Psicopedagogia.
Diz a autora que "reconhecer tal carater significa admitir a sua especificidade
enquanto area de estudos, uma vez que, buscando conhecimento em ouiros
campos, cria 0 seu proprio objeto, condiqao essencial da interdisciplinaridade".
Admitindo que a psicopedagogia e uma intersec;aoentre a psicologia e a pedagogia,
admite-se uma nova area de conhecimento que, utilizando as teorias das duas
disciplinas citadas, "pensa 0 seu objeto de estudo a partir de urn corpo teorico
proprio, ou melhor, que busca se constituir".
KIGUEL (1991, p. 22), concorda com BOSSA, quando diz:
Historicamente, a psicopedagogia surgiu na fronteira entre a pedagogia e apsicologia, a panir das necessidades de atendimenlo de crianqas com disturbios deaprendizagem, consideradas inaptas dentro do sistema educacional convenciona/ eno momenta alua/, a /uz de pesquisas psicopedag6gicas que vem se desenvolvendo,inclusive no nosso meio, e de conlribuiq6es da area da psicologia, sociologia,anlropologia, lingOistica, epistem%gia, 0 campo da psicopedagogia passa por umareformulaqao. De uma perspectiva puramente c1inica e individual busca-se umacompreensao mais inlegradora do fenomeno da aprendizagem e uma atuaqao denatureza mais preventiva.
As definic;oes apresentadas ate aqui sao, de certa maneira, confusas, porque
nao exp5e, objetivarnente, 0 que e a PSicopedagogia. Para rnelhor cornpreender seu
significado, e necessario pensar sobre 0 seu objeto de estudo e, a partir dele,
conceitua-Ia.
A Psicopedagogia surgiu no Brasil como uma das respostas ao grande
problema do fracasso escolar. Inicialmente, seu objeto de estudo foram os sintomas
das dificuldades de aprendizagem, tais como a desatenqao, 0 desinteresse nas
aulas, a lentidao, etc., e seu objetivo era remediar esses sintomas. Como
lembra SILVA, apud BOSSA (1994, p. 25) "a psicopedagogia nao seria um
saber independente dotado de fundamentos proprios, mas uma sintese simplificada
dos multiplos conhecimentos psicol6gicos e pedag6gicos". E claro, tratar as
sintomas revelou-se insuficiente para 0 exito escolar.
A partir do momenta em que a Psicopedagogia passou a considerar as
sintomas das dificuldades de aprendizagem como valores relativos, ° objeto mudou.
"Nao e mais somente ° sintoma que se visa, nao e mais 0 desempenho".
[...) mas a genese da aprendizagem. Assim, a psicopedagogia enlra em uma novafase, em que e possivel dizer que seu objelo passa a ser 0 processo deaprendizagern, e seu objetivo, rernediar ou refazer esse processo ern lodos os seusaspectos. ''Assirn, a Psicopedagogia passa a ser percebida como urn saberindependenle, tendo seus proprios instrumentos corretivos e profilaticos."
seoz (1992, p. 25), coloca que a Psicopedagogia "estuda a processo de
aprendizagem e suas dificuldades, e numa a9ao profissional deve englobar varios
campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os". NEVES, 1991, p:12,
apud. BOSSA (1997, p. 33), tem a mesma definic;:ao,dita com outras palavras: "A
PSicopedagogia estuda 0 ate de aprender e ensinar, levando sempre em conta as
realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto. E, mais,
procurando estudar a constru9ao do conhecimento em toda a sua complexidade,
procurando colocar em pe de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e socia is
que Ihe sao implicitos". WEISS (1987, p. 6), vai mais longe, ao dizer que "a
Psicopedagogia busca a melhoria das relac;:6escom a aprendizagem, assim como a
melhor qualidade na constru980 da propria aprendizagem de alunos e educadores".
Vislumbra-se uma vi sao que se encaixa no mundo modernizado, onde a busca da
melhor qualidade esta presente em todos as setares.
10
WEISS (1987, p. 7), tambem coloca que a PSicopedagogia cuida tanto
os alunos como dos educadores, que as dificuldades de aprendizagem podem
ocorrer tambem devido a rna atu8c;ao do educador no processo ensino-
aprendizagem.
Nesse contexto, GOLBERT, 1985, p:13, apud. MASINI (1994, p. 76), diz que
o objeto de estudo da PSicopedagogia deve ser entendido sob dois enfoques:
preventiv~, que considera como objeto de estudo a pessoa a ser educada, seus
processos de desenvolvimento e as alterayoes de t8is processos. Focaliza as
possibilidades do aprender, num sentido amplo, ista a, nao deve S8 restringir 56 a
escola, mas deve ir tambem a familia e a comunidade. "Poderc3 esclarecer aos
professores, pais e administradores sabre as caracterfsticas das diferentes etapas
do desenvolvimento, sabre 0 progresso nos processos de aprendizagem, sabre as
condi96es psicodinamicas da aprendizagem, sabre as condic;oes determinantes de
dificuldades de aprendizagem". E terapeuticos ou clinicos que consideram como
objeto de estudo "a identifica9ao, analise, eiabora9aO de uma metodologia de
diagn6stico e tratamento das dificuldades de aprendizagem".
o trabalho cHnico se da na rela<;ao entre um sujeito com sua historia pessoal
e sua aprendizagem, buscando compreender a mensagem de outro sujeito. Nessa
modalidade de trabalho 0 psicopedagogo deve compreender 0 que 0 sujeito aprende
como aprende e por que aprende, alem de perceber a dimensao da rela<;ao entre
psicopedagogo e sujeito de forma a favorecer a aprendizagem.
Entao, a Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, cujo principal
atar e 0 homem enquanto ser em processo de constru<;ao do conhecimento - 0 ser
cognoscente.
11
SILVA, apud BOSSA (1994, p. 29), considera 0 ser humano como uma
unidade de complexidades, au seja:
"Como urn ser pJuridimensional com uma dimensao raciona', uma dimensao afetivo-desiderativa e uma dimensao (e/acional, esla ultima implicando um aspectocontextual e urn aspecto interpessoal. Esle ser seria sujeito na construc;ao doconhecimento e de sua propria autonomia e, 80 mesma tempo, determinado pelasdimensoes racional, desiderativa e fe/acional que 0 constituem. "
Essas dimensoes. na medida em que determinam 0 ser cognoscente, sao
constituintes do processo de constru<;8odo conhecimento, de formas e intensidades
diferentes. Segundo SILVA, apud. BOSSA (1994, p. 8), as dimens5es sao assim
definidas:
a) dimensao relacional (contextual e interpessoal): 0 ser cognoscente e urn
ser social contextualizado, ou seja, determinado pelas condic;oes materiais de
existencia em que vive na sociedade.
Primeiro, a maneira de ele perceber 0 mundo e distinguir determinados
elementos esta ligada a maneira pela qual constr6i seus conhecimentos. Segundo,
seus julgamentos sao condicionados por sistemas de valores que penetram no seu
psiquismo pela mediac;ao de suas motivac;6es conscientes e inconscientes e,
sobretudo, pela mediac;aode sua ac;aosobre 0 objeto. Tambem 0 ser cognoscente e
determinado pelas relac;6es que estabelece com outros sujeitos - chamadas
relac;6es interpessoais.
b) dimensao racional: 0 ser cognoscente, atraves de sua ac;ao sobre 0 meio,
constr6i suas pr6prias estruturas no prolongamento dessa ac;ao interiorizada.
Portanto, a ac;ao do sujeito sobre 0 objeto e 0 ponto de partida para a
construc;ao do conhecimento, mas passa pela experiencia vivida pelo sujeito.
PIAGET (1978), criador da teoria psicogenetica, coloca que a estruturac;ao do vivido
se d<identro de uma perspectiva genetica, onde cada etapa (estagio, na concepc;ao
12
piagetiana), e genese da etapa seguinte. Estes estagios, segundo DOLLE
(1995, p: 53), sao delimitados por criterios definidos, como segue:
1. A ordem de sucessao das aquisi<;6esdeve ser constante - depende da
experiencia anterior do sujeito e nao samente de sua maturac;ao, do meio
social que pode acelerar ou retardar a apari<;aode um estagio, ou mesmo
impedir sua manifestat;ao;
2. Os estagios tem um carater integrativo, 0 que significa que as
estruturas construidas a urn nrvel sao integradas nas estruturas do nrvel
seguinte;
3. Cada estagio deve-se caracterizar por uma estrutura de conjunto;
4. Cada estagio comporta, ao mesmo tempo, um nivel de prepara<;ao,de
uma parte, e de acabamento, de outra;
5. Em toda sequencia de estagios ha os processos de forma<;aoou de
genese e as formas de equilibrios finais.
E interessante citar os estagios do desenvolvimento infantil de PIAGET
(1978).
1°) Estagio sensoria-motor: nao ha ainda capacidade de abstray80, e a
atividade intelectual e de natureza sensorial e motara. A crianc;a percebe 0
ambiente e age sobre ele.
2°) Estagio pre-operacional: 0 principal progresso desse periodo em rela<;ao
ao sen so rio-motor e 0 desenvolvimento da capacidade simb6lica. Nesta fase,
a crian9a ja nao depende unicamente de suas sensac;oes, de seus
movimentos, mas ja distingue a significador daquilo que ele significa.
13
3°) Estagio de operac;oes concretas: periodo que S8 caracteriza par urn
tipo de pensamento que demonstra que a crian9a ja possui uma
organizac;:aoassimilativa rica e integrada, funcionando em equilibrio com urn
mecanismo de acomoda9ao. Segundo BAGGIO, apud. DOLLE (1995, p. 34),
"ela ja parece ter a seu comando um sistema cognitiv~ coerente e integrado
com a qual organiza e manipula 0 munde",
4°) Estagio de opera90es formais: a crian9a e capaz de resolver problemas a
respeito de todas as rela<;6es possiveis entre eventos. E capaz de pensar em
termos abstratos, de formular hip6teses e testa-las sistematica mente.
Analisando a teoria piagetiana, SILVA, apud BOSSA (1997, p. 59), resume
que na genese da constru9ao do conhecimento, a a9ao existe sempre com algumas
especificidades, que podem ser representadas pelos seguintes verbos: perceber,
discriminar, organizar. conceber, conceituar, enunciar. Segundo a autora, "0 que
muda e sua qualidade, sua organizac;ao e seu funcionamento. 0 sujeito percebe,
discrimina, organiza, concebe, conceitua, enuncia de modo sensoria-motor, em
seguida de modo simb6lico, pre-conceitual, pre-operat6rio e operat6rio".
Portanto, conciui a autora que a dimensao racional do ser cognoscente e
constituinte do processo de construyao do conhecimento pela ayao do sujeito sobre
o objeto e pela estrutura9ao desta a9ao, formando etapas que servem de genese
para as etapas seguintes.
c) dimensao desiderativa: 0 ser cognoscente e determinado por um saber que
ele nao conhece, por um saber do qual ele nao tem con sci emcia. Esse e um saber
desiderativo, e seu sujeito se coloca como excemtrico em relayao ao sujeito da
razao. 0 ser cognoscente nao e senhor absoluto dos seus pr6prios pensamentos,
14
porque 0 inconsciente pode existir sem a conscielncia - posta que 0
inconsciente seja a essencia da vida mental - levando 0 ser a ter dois sistemas
de funcionamento: um sistema pre-consciente, consciente, 16gico, intelectivD, e Dutro
sistema inconsciente simb6lico, regido pelo principio do prazer (desejo).
o ser em processo de construyao, ou seja, 0 ser cognoscente, nao e uma
totalidade acabada, mas e um eterno vir a ser, apresentando as dimensoes
racionais, desiderativas e relacionais que 0 constituem, permitindo defini-Io como
"contextualizado, de rela<;ao,pensante e apaixonado".
2,1 HISTORIA E FORMA9AO DA PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL
Em 1958 foi criado um Servi<;ode Orienta<;ao Psicopedag6gica (SOPP), na
Escola Guatemala, na Guanabara. Segundo MASINI (1994, p. 56), 0 objetivo do
Servi<;o era melhorar a relac;c3oprofessor-alune e criar um clima mais receptiv~ para
o aluno, aproveitando seu saber. 0 SOPP trabalhava junto a professora, para que
esta ampliasse suas proprias condi<;6es de respeitar e aproveitar a experiencia do
aluno [...] 0 SOPP prop6s-se a fazer um acompanhamento psicol6gico a professora,
desenvolvendo urna 8<;;30 primordialmente preventiva. Nessa epoca ja se
vislumbrava a ideia de que a psicopedagogia e um trabalho a. ser desenvolvido na
escola.
No Brasil, por muito tempo se explicou 0 problema da aprendizagem escolar
como sendo decorrente de fatores organicos. Nessa trilha, na decada de 70, BOSSA
15
(1994, p. 43) diz: "fai amplamenle difundida a ideia de que lais problemas
/eriam como causa uma disfunqilo neurol6gica nilo-de/ec/avel em exame
clinico chamado disfunqila cerebral minima (OeM)". Todo aluno com dificuldades na
escola era cansiderado portadar de DCM.
Para DORNELES, 1986, p.44, apud FACHIN (1994, p. 29), diz que: "essa
perspectiva patofogizante era utilizada para mascarar a verdadeiro quadro da
educagao brasileira, cujos fen6menos da repetencia e da evasao escolar
eram graves. Para a au/ora, 0 diagnos/ico de OCM em grande parte dos
alunos dissimufava a verdadeira natureza do problema e, aD mesmo tempo,
legitimava as situaqoes de desigualdades de oportunidades educacionais e
seletividade escolar. ".
Na decada de 80, verifica-se uma mudanqa no enfaque psicopedag6gico.
Como na Europa, a enrase passa a ser no aspecto socialligado ao fracasso escolar.
o governo, atraves de pesquisas do Ministerio da Educaqaa e Cullura e de algumas
secretarias estaduais de educ89ao, percebe que a percentagem de crian98s que
nao fazem 0 primario no tempo estabelecido e muito. Por exemplo, em Sao Paulo,
em 1980/82, 0 indice de repetencia nas primeiras series do Ensino Fundamental,
nas escolas do Estado, era de 34%. Mas, desde os anos 70, cam 0 fim de melhor
tratar as problemas de aprendizagem escolar, comegam a surgir as cursos com
enfoque pSicopedag6gico, antecedendo a criaqao dos cursos formais de
especializaqao e aperfeiqoamento.
Esses cursos eram oferecidos a psic610gos, pedagogos e profissionais de
areas afins, que buscavam subsidios para lidar com as crianyas que nao respondiam
ao processo de aprendizagem.
16
Venda a necessidade de formar profissionais capacitados a lidar com as
dificuldades de aprendizagem escolar, foi criado em 1979 0 primeiro curso
regular de Psicopedagogia do Instituto Sedes Sapientiae, SP, seguido pela Pontificia
Universidade Cat61ica de Sao Paulo. Em 1972, a Pontificia Universidade Cat6lica do
Rio Grande do Sui passa a desenvolver cursos em nivel de especializa<;ao e
mestrado em educa<;ao, com concentrat;aO em Aconselhamento Psicopedag6gico
que, em 1984, tambem passa a fazer parte de curso de especializat;ao da
Universidade Federal do Rio Grande do SuI.
A partir da decada de 90 os cursos de especializat;ao em Psicopedagogia
comet;am a fazer parte da maioria das faculdades e universidades de Sao Paulo, Rio
de Janeiro, Parana, Santa Catarina, Minas Gerais, Espirito Santo, Mato Grosso do
Sui, Goias, Bahia, Pernambuco, Ceara e Brasilia.
Por um lado, a Psicopedagogia tem um carater multidisciplinar, porque
envolve profissionais graduados em Psicologia, Pedagogia, FonoaudioJogia e outras
areas afins. Par outro lacto, 8ssa multidisciplinaridade dificulta a forma9ao do
psicopedadogo, justamente porque os graduados nas diversas areas nao tem a
mesma base teorica. Uma pratica psicopedagogica que efetivamente atenda a
demanda responsc3vel par sua origem implica uma formac;ao s61ida e consistente
que favoreC;8 a vinculac;ao entre teoria e pratica. Esta vinculac;8.o deve ocorrer em
determinado momento do curso, atraves de estagios supervisionados, onde os
alunos entram em cantata com as situac;oes que foram estudadas teoricamente e
vivenciam 0 papel do psicopedagogo. Entretanto, nem sempre esta possibilidade
existe, ficando a articulac;ao teoria-pratica para a p6s-formaC;Bo e, na maioria dos
casas, sem a supervisao de um profissional mais experiente.
17
Quanto a categoria profissional dos psicopedagogos, segundo SCOl, ea partir das decadas de 50 e 60 que S8 inicia sua organiz8<;ao, cujo marco foi a
divulga,80 da abordagem psiconeurol6gica do desenvolvimento humano,
largamentedifundida no Brasil. Para SCOl (1992, p. 2):
"Inicialmente as profissionais psicopedagogos ficaram mais restritos a essa linha deanalise. No atual momento, {...} as novas abordagens teoricas sobre 0
desenvolvimento e a aprendizagem, bern como as inumeras pesquisas sobre 0 pesodos {atores intra-escalares na determinaqao do fracasso esco/ar, tern oferecido aosprofissionais psicopedagogos urna visao mais critica e abrangente de seu pr6priotraba/ho."
Ao mesma tempo, a ideia de que somente urn profissional deveria S8 ater aos
problemas de aprendizagem do aluno, facilitando 0 vinculo do mesmo com 0
processo de aprendizageme 0 resgate do prazer de aprender e desenvolver-se, foi
amadurecendo. Inicialmente restrita ao atendimento clinica, mas seus estudos
ampliam-se em dire,80 as institui,oes escolares. Citando SCOl (1992, p. 79) "a
psicopedagogia deve estar presente na enfrentamento dos problemas cruciais da
educac;ao brasileira, assumindo uma atuac;ao consciente e comprometida".
Com 0 objetivo de aprofundar os estudos sobre os problemas de
aprendizagem e tornar conhecido 0 campo de atua,ao profissional do
psicapedagaga, fai criada, em 1980, a Assaciac;ao Brasileira de Psicapedagagia
(ABPp), cuja sede esta em Sao Paulo. Segundo BOSSA (1994, p. 62), a ABPp "tern
sida respans8vel pela organizac;ao de eventos de dimensao nacional, bem coma par
publica,oes cujos temas retratam as preocupa,oes e tendencias da area. Os temas
dos encontros e congressas promovidos par essa entidade refletem a trajetoria da
atua,ao psicopedag6gica".
No 10 Encontro de Psicopedagogia realizado em 1984, bern como nos
encontros posteriores, a tema referia-se as abordagens terapeuticas e preventivas
18
do trabalho psicopedagogico. No 3° Encontro e 1° Congresso realizados em
1988, a base foi a importancia de se conscientizar as educadores da
necessidade de uma formac;:aomais globalizante que transforme a ac;:aoeducacional
fragmentada na atuay80 de varios profissionais, em uma atua980 mais objetiva e
centralizada num (jnico profissional.
Preocupada com a capacitac;:ao profissional do psicopedagogo, a ABPp
abordou, no 4° Encontro, em 1990, a identidade profissional do psicopedagogo, afim
de traduzir 0 comprometimento e 0 nivel de conhecimentos envolvidos nessa
profissao. POis, com a divulgac;:aocada vez maior da psicopedagogia surgiram
cursos que formavam profissionais precarios.
Nem sempre a formac;:ao, no Brasil, prepara 0 aluno para uma p,,!ltica
consistente, a qual requer grande conhecimento teorico e compromisso social,
implicito na tarefa a que 0 psicopedagogo se propoe. Lembra BOSSA (1994, p.3),
que:
{ ..J tal pratica se baseia em conhecimentos de diversas areas: Psicologia daAprendizagem, Psicofogia Genetica, Teorias da Personalidade, Pedagogia,fundamentos de Biologia, fundamentos de LingO/stiea, fundamentos de Sociologia,fundamentos de Filosofia, fundamenlos de Atendimento Psicopedag6gico."Conhecimentos especificos dessas areas alicerqam a pratica psicopedagogica. "
FERNANDEZ, citada por BOSSA (1994, p. 14), diz que a formac;:ao do
psicopedagogo so e possivel se estiver orientada por tres pilares:
a) Pratica clinica: em consult6rio individual-grupal-familiar; em instituic;6es
educativas e sanitarias;
b) Construc;:aote6rica: permeada pela pratica de forma que, a partir desta,
a teoria psicopedagogica possa ser tecida;
c) Tratamento psicopedagogico-didatico: fundamental na formac;:ao do
psicopedagogo, pois se constitui num espac;:opara a construc;:aodo olhar e da
19
escuta clinica - a partir da analise do seu proprio aprender - que
configuram a atitude psicopedagogica.
o psicopedagogo ensina a aprender e, para issa, necessita aprender 0
aprender e a aprendizagem. Para ele, aprender e urn processo que implica p6r em
a<;;;o diferentes sistemas que intervem em todo 0 sujeito: a rede de rela<;6es e
c6digos naturais e de linguagem, que tern lugar em cad a ser humane a medida que
ele S8 incorpora a sociedade.
o artigo 4" do Codigo de Etica da ABPp trata da forma<;ao profissional do
psicopedagogo:
Artigo 4". EstariJo em condi<;i5es de exercicio da Psicopedagogia osprofissionais graduados em 3° grau, portadores de certificados de curse dePos-Graduaqao de Psicopedagogia, ministrado em estabelecimento de ensinaoficia/ e/ou reconhecido, ou mediante direitos adquiridos, sendo indispensave/submeter-se a supervisiJo e aconse/hBve/ traba/ho de formaqiJo pessoa/.
E 0 artigo 5" fala do objetivo da forma<;ao psicopedagogica: "0 trabalho
psicopedag6gico tern como objetivo":
(I) prom over a aprendizagem, garantindo 0 bem estar das pessoas em atendimento
profissional, devendo valer-se dos recursos disponiveis, incluindo a rela<;ao
interprofissional; (II) realizar pesquisas cientificas no campo da Psicopedagogia.
Em fun<;aoda forma<;ao, dos marcos referenciais que sustentam a pratica do
psicopedagogo e a abordagem te6rica a qual ele se identifica, pode haver variac;:6es
no diagnostico desses profissionais. E, citando BOSSA (1994, p.22), essa situa<;ao e
ainda mais controvertida quando se fala na atua<;ao psicopedagogica no Brasil,
devido as condic;:6esde formac;:Elo.
A Psicopedagogia esta com seu projeto para regulamenta<;ao na Comissao
de Educa<;ao. Apoios e eventos de quaJidade vem sendo oferecidos em todo 0 pais
20
demonstrando 0 nivel de conhecimento dos profissionais dessa area. E a
profissao do terceiro milenio.
A Psicopedagogia hi:! muito tempo e reconhecida, respeitada e regulamentada
em paises culturalmente desenvolvidos como Argentina, Estados Unidos e Fran<;a.
Os profissionais brasileiros tambem devem ser reconhecidos no pais, para que
valores nao S8 percam 8, mais do que issa, nao tenham que salr do Brasil para
desenvolver urn trabalho tao necessaria a educ8C;:80 e cultura nacionais. A
mobiliz8C;:80e grande para mostrar a importfmcia da profissao e, conseqUentemente,
a necessidadeda regulamenta9ao.
o campo de atua9ao da Psicopedagogia est;' se ampliando, pois 0 que era
somente avaliado como aspecto clinico (Psicopedagogia Clinica), nos dias atuais
pode ser aplicado no segmento escolar (Psicopedagogia Institucional e ainda em
segmentos hospitalares, empresariais e em organiz8c;:oes que acontec;:am a gestao
de pessoas).
Segundo MACEDO, citado por BOSSA (1994, p. 24), 0 pSicopedagogo
brasileiro ocupa-se das seguintes atividades:
1. Orientayao de estudos: consiste em organizar a vida escolar da crian9a
quando esta nao sa be faze·lo espontaneamente. Procura·se promover a
melhor uso do tempo, a elabora9ao de uma agenda e tudo aquilo que e
necessaria ao "como esludar" (como ler urn lexto, por exemplo).
2. Apropria9ao dos conteudos escolares: 0 psicopedagogo visa propiciar 0
dominio de disciplinas escolares em que a crian9a nao vern tendo urn born
aproveitamento. Ele se diferencia do professor particular, pois 0 conteudo
escolar e usado apenas como uma estrategia para ajudar e fornecer ao aluno
21
o dominic de sf proprio e as condic;:6es necessarias ao desenvolvimento
cognitive.
3. Desenvolvimenlo do raciocinio: trabalho feito com os processos de
pensamento necessarios 80 ato de aprender. Os jogos sao muito utilizados,
pois sao ferteis no senlido de criarem urn contexto de observac;ao e dialogo
sobre processos de pensar e de construir 0 conhecimento. Este procedimento
pode promover um desenvolvimento cognitiv~ maior do que aquele que as
esco[as costumam conseguir.
4. Atendimento de crianc;as:a psicopedagogia se presta a alender deficientes
menta is, autistas ou com comprometimentos orgEmicos mais graves, podendo
ate subsliluir 0 trabalho da escola.
A Psicopedagogia tambem tern papel importante em urn novo momenta
educacional que e a inseryao e manutenC;80 dos alunes com necessidades
educativas especiais no ensine regular, comumente chamada de inclusao.
o Projeto de Lei 3.124/97 do Deputado Barbosa Neto prev'" a
regulamentac;ao da profissao de Psicopedagogo e cria 0 Conselho Federal e os
Conselhos Regionais de Psicopedagogia. Este projeto esta em tramitac;ao na
Camara dos Depulados em Brasilia na Comissao de Constituic;ao, Justic;a e
Redac;ao.
Para que a Psicopedagogia e os psicopedagogos possuam credibilidade
frente a sociedade e a comunidade de psicologia e educacional, e preciso seguir
certos principios eticos que estao condensados no C6digo de Etica, devidamente
aprovado pela Associac;ao Brasileira de Psicopedagogia, no ana de 1996.
o C6digo de Elica regulamenta as seguintes siluac;6es:
22
• as principias da Psicopedagogia;
• as responsabilidades dos psicopedagogos;
• as relayoes com Qutrasprofiss6es;
• a sigilo;
• as public890es cientificas
a publicidade profissional;
• as honorarios;
• as relayoes com a eduC8r;ao e saude;
• a observancia e cumprimento do c6digo de etica; e
• as disposic;:oesgerais.
A Psicopedagogia nasceu, especialmente da necessidade de compreensao e
alendimento as pessoas com dificuldades e disturbios de aprendizagem e ao longo
de sua estrutura<;ao, veio e vem adquirindo novas perspectivas.
23
3 - CRITERIOS FUNDAMENTAlS PARA 0 TRATAMENTO ADEQUADO DA
DISLEXIA
A partir do saculo XIX, segundo MORAIS (2006), passou-se a dar mais
ateny80 as crianC;8s com problemas d leitura e que nao apresentavam fracassos nas
demais disciplinas escolares, nem possuiam quaisquer deficiencias que pudessem
explicar as dificuldades para ler. Quem descreveu esses disturbios de leitura, pela
primeira vez, foi James Kerr em 1896. Desse perfodo ate nossos dias, muitas
descri<;6es de crian<;as com problemas de leitura e muitas defini<;6es foram
formuladas.
Segundo 0 Comite de Abril de 1994 (www.psicologiacom.br). Dislexia a um
dos muitos disturbios de aprendizagem. Eo um disturbio especifico da linguagem, de
origem constitucional, caracterizado pela dificuldade de decodificar palavras simples.
Mostra uma insuficiencia no processo fonol6gico. Estas dificuldades de decodificar
palavras simples nao sao esperadas em relayao a idade. Apesar de submetida a
instru<;ao convencional, adequada inteligencia, oportunidade socio-cultural e nao
possuir disturbios cognitivos e sensoria is fundamentais, a crianC;8 falha no processo
de aquisi<;ao da linguagem. A dislexia e apresentada em varias formas de
dificuldade com as diferentes formas de linguagem, freqOentemente incluidas
problemas de leitura, em aquisi<;aoe capacidade de escrever e soletrar.
24
A Dislexia nao e uma doen9a, portanto nao podemos falar em cura. Ela
e congenita e hereditaria, e seus sintomas podem ser identificados logo na pre-
escola. Os sintomas, ainda, podem ser ali via dos, contornados, com
acompanhamento adequado, direcionado as condi90es de cada caso. Nao podemos
considerar como 'comprometimento' sua origem constitucional (neurologica). mas
sim como uma diferenc;:a, que e mais notada em relac;:ao a dominfmcia cerebral.
Segundo a Associa9aO Brasileira de Dislexia (1994):
"A DISLEXIA e uma dificuldade de aprendizagem na qual a capacidade de
uma crianc;a para fer au escrever esta abaixo de seu nivel de inteligencia."
• '1'\ DISLEXIA e uma funqao, um problema, um transtorno, uma deficiencia,
um disturbio. Refere a uma dificuldade de aprendizagem relacionada alinguagem. ".
'"A DISLEXIA e um transtorna, uma perturba9ao. uma dificuldade estave/,
duradoura au parcial e, portanto, temporaria, do processo de feilura que se
manifesla na insuficiEmcia para assimilar as stmb%s graficos da
linguagem. "
'1'\ DISLEXIA nao e uma doenqa, e um disturbio de aprendizagem
congenito que interfere de forma significativa na integrac;ao dos simbolos
lingOisticos e perceptivQs. Acamete mafs 0 seXQ masculino que 0 feminin~,
numa propor9ao de 3 para 1."
• "A DISLEXIA e caracterizada por dificuldades na leilura, escrita (ortografia
e semantica), matematica (geometria, ca/culo), atraso na aquisiqao da
25
Iinguagem, comprometimento da discriminac;ao visual e auditiva e da
memoria seqOencial."
Em diversas bibliografias encontramos opiniOes bern diferentes e
discordantes sabre a Dislexia. Num item, em geral todos os estudiosos concordam:
que a Dislexia e urn termo que S8 refere as crian<;as que apresentam serias
dificuldades de leitura e, consequentemente de escrita, apesar de seu nivel de
inteligEmcia ser normal ou estar aeirna da media. Par Dutro lado, a crian<;a dislexica
nao apresenta disturbios a nivel sensorial ou fisico, a nivel emocional, au
desvantagens SOCio-8conomicas, Gulturais ou instrucionais, que possam ser
consideradas causas das dificuldades para aprender a ler. Parlindo deste principio,
fica claro que 0 diagnostico da crianc;a dislexica e algo muito complexo, que envolve
varias areas 8, na maiaria das vezes, e necessaria a opini8o de diferentes
profissionais para se conseguir um diagnostico perfeito.
A rigor, nao ha nenhuma seguran<;a em afirmar uma ou Dutra etiologia para a
causa da dislexia, mas ha algumas situayoes que foram descartadas:
Em hip6tese alguma 0 dislexico tern comprometimento intelectual. Segundo
a Teoria das Inteligencias M01tiplas, a ser humano possui habilidades cognitivas:
inteligemcia interpessoal, inteligencia intrapessoal, inteligencia 16gica-maternatica,
inteligencia espacial, inteligencia corporalcinestesica, inteligencia verbal-linguistica,
inteligencia musical, naturalista, existencial e pict6rica. 0 dislexico teria sua
inteligencia rna is predisposta a inteligencia corporal-cinestesica, musical, espacial.
26
Quanta aD emocional, e preciso avaliar muito bern. Pode haver urn
camprometimenta do emacianal como canseqUencia das dificuldades da
dislexia, mas nunca como causa (mica.
A crian<;:a dislexica naa tem perda auditiva.
Ha varias estudas:
A) Uma falha no sistema nervasa central em sua habilidade para arganizar as
grafemas, ista e, as letras au decadilicar as fanemas, au seja, as unidades sanaras
distintivas no ambito da palavra.
B) 0 impedimenta cerebral relacianada com a capacidade de visualiza<;:aa das
palavras.
C) Diferen<;:as entre as hemislerias e altera<;:aa (displasias e ectapias) do lada direita
do cerebro. IS50 implica, entre Qutras eOisas, uma dominancia da lateralidade
invertida au indefinida. Mas tambem justifica a desenvalvimenta maiar da intui<;:aa,
da criatividade, da aptidao para as artes, do raciocinio mais holistico, de serem rna is
subjetivos e todas as Qutras qualidades caracteristicas do hemisferio direito.
D) Inadequada processamenta auditiva (cansciencia (ana/6gica) da inlarma<;:aa
lingOistic8.
E) Implica<;:6es rela<;:aa aletiva materna-filial, a que pade entravar a necessidade da
linguagem, e mais tarde a aprendizagem da leitura e escrita.
Alguns sinais sao encontrados nos dislexicos. Desde a pre-8scola alguns
sinais e sintomas podem oferecer pistas que a crianC;8 e dis1E3Xic8.Eles naD sao
suficientes para se fechar um diagn6stica, mas vale prestar aten<;:aa:
_FracD desenvolvimento da atenc;ao.
_Falla de capacidade para brincar com outras crianc;:as.
27
_Atraso no desenvolvimento da tala e escrita.
_Atraso no desenvolvimento visual.
_Falta de coordena~ao motora.
_Dificuldade em aprender rimas!can96es.
_Falla de interesse em livros impressos.
_Dificuldade em acompanhar historias.
_Dificuldade com a memoria irnediata e organiz8c;ao geral.
Algumas dificuldades sao encontradas em crian~as com dislexias.
_Dificuldade para ler ora~oes e palavras simples.
_A pronuncia au a 50181r89130 de palavras monossilabicas e uma dificuldade
evidente nos dislexicos.
_As crian~as ou adullos disl;,xicos invertem as palavras de maneira total ou parcial,
par exemplo "casa" e fida "saca". Uma caisa e uma brincadeira ou urn jogo de
palavras, observando a produtividade morfol6gica ou sintagmatica dos I;,xicos de
uma lingua, uma outra caisa a, sem intencionalidade, a crianC;8 ou adulto trocar a
sequencia de grafemas.
_Invertem as letras ou numeros, por exemplo: Ipl por Ibl, Idl pori b 131por 151ou 18/,
/6/ par 191 especialmente quando na escrita minuscula ou em texlos manuscritos
escolares. Assirn, e patente a confusao de [elras de simetria oposta.
_A ortografia ;, alterada, podendo estar ligada a chamada CONSCIENCIA
FONOLOG/CA.
Algumas crian~as possuem dificuldades fonol6gicas:
_ Copiam de forma errada as palavras, mesmo observando na lousa ou no livro
como sao escritas. Em geral, as professoras fieam desesperadas: "como podem -
28
pensam e reclamam - ala esta venda a forma correta e escreve exatamente 0
contrario?". Ora, 0 processamento da inlorma,ao lexica, que e de ordem
cerebral, esta invertida ou simplesmente deficiente.
_As crianC;:8sdislexicas conhecem 0 texto ou a escrita, mas usam outras palavras,
de maneira involuntaria. Trocam as palavras quando leem ou escrevem, por
exemplo: "gato" por "casa".
_ Tem as crian,as dislexicas diliculdades em distinguir a esquerda e a direita.
_Alteray80 na sequencia das letras que formam as silabas e as palavras.
_ Confusao de palavras parecidas au opostas em seu significado. Os homonimos,
isto e, palavras semelhantes (se,ao, cessao e se,ao) sao uma dificuldade nas
crianC;:8s dislexicas.
_as erras na separaC;:8o das palavras.
_Os dislexicos solrem com a lalta de rapidez ao ler. A leitura e sem modula,ao e
sem ritmo.
Os dislexicos, as vezes, com muito sacrificia, decodificam as palavras, mas
nao conseguem ter compreensao.
_Os dislexicos tem lalha na constru,ao gramatical, especialmente na elabora,ao
de orac;:oes complexas (coordenadas e subordinadas) na hora da redaC;:8o
espontanea.
No momento da analise psicopedag6gica de diagnostico de dislexia e muito
importante observar as diferenc;as existentes.
_DISLEXIA ACOSTICA: manilesta-se na insuficiencia para a dilerencia,ao acustica
(sonora ou fonetica) dos fonemas e na analise e sintese dos mesmos, ocorrendo
29
omissoes, diston;:oes, transposiQoes ou substituiQoes de fonemas. Confundem-
se os fonemas por sua semelhanQa articulatoria.
_DISLEXIA VISUAL: Ocorre quando hi! imprecisao de coordena9ao viso-especial
manifestando-se na confusao de letras com semelhanQa grafica. Nao temos duvida
que a primeiro procedimento dos pais e educadores e levar a crianc;a a um medico
oftalmologista.
DISLEXIA MOTRIZ: evidencia-se na dificuldade para 0 movimento ocular. Ha uma
nitida IimitaQao do campo visual que provoca retrocessos e principalmente intervalos
mudos ao ler.
E preciso observar:
_Altera90es de grafia como "a-o", "e-d", "h-n" e "e-d", por exemplo.
_As crianQas dislexicas apresentam uma caligrafia muito defeituosa, verificando-se
irregularidade do desenho das letras, denotando, assim, perda de concentra9ao e de
fluidez de raciocinio.
_As crianQas disJexicas, ainda segundo 0 professor, apresentam confusao com
Jetras com grafia similar, mas com diferente orientaQao no espayo como" b-d". "d-p",
"b-q", "d-b", "d-p", "d-q", "n-u" e "a-e". Ocorre tambem com os numeros 6;9;1 ;7;3;5,
etc.
_Apresenta dificuldade em realizar calculos por se atrapalhar com a grafia
numerica ou nao compreende a situayao problema a ser resolvida.
_Confusoes com os sinais (+) adi9ao e (x) multiplica9ao.
_A dificuldade pode ser ainda para letras que possuem um ponto de articula9ao
comum e cujos sons sao acusticamente pr6ximos: "d-t" e "c-q", per exemple.
30
_Na lista de dificuldades dos dislexicos, para 0 diagn6stico precoce dos
disturbios de 1etras, chamamos a aten<;ao de educadores, e pais para as
inversoes de silabas au palavras como "sol-los", "som-mas" bern como a adi<;ao
ou omissao de sons como "casa-casaco", repeti~ao de silabas, saito de linhas e
soletra~aodefeituosade palavras.
3.1 ALFABETIZA9AO DO D1SLEXICO
a sucesso no acompanhamento do paciente dislexico esta baseado em
terapias multissensoriais, ista e apreender a ler e escrever pelo usa de todos os
sentidos, combinandoa visao, a audi~aoe 0 tatooToda atividade terapeutica deve
exigir maxima aten<;ao aD ver, aD ouvir e aD realizar movimentos, tanto das maDS
durante a escrita como da boca aD falar. Com isso a crian93 associara a forma
escrita, com sons e com movimentos de mao e da boca.
Falar, Quvir, ler e escrever, sao atividades da linguagem. Falar e ouvir sao
atividades com fundamentos biologicos. 0 metodo mais adequado tern sido 0
fonetico e montagem de "manuais" de alfabetiz8<;ao apropriada a crian9a dislexica.
A crian~aaprende a usar a linguagem falada, mas isto depende do:
_meio ambiente compreensivo, estimulador e paciente.
_trato vocal.
_organiza9ao do cerebra.
_sensibilidade perceptual para falar os sons.
31
o sucesso na reeduc8980 de urn dis/exico esta baseado numa terapia
mullisensorial (aprender pelo usa de lodos as senlidos), combinando sempre a
visao, a audic;ao e a tata para ajuda-Io a Jer e soletrar corretamente as palavras.
ESTRATEGIAS QUE AJUDAM
Usa freqOente de material concreto:
_Rel6gio digital.
_Calculadora.
_Gravador.
_Confecc;ao do proprio material para alfabetizac;ao, como desenhar, mantar uma
cartilha.
_Usa de gravuras, fotografias.(a imagem e essencial para sua aprendizagem).
_Material Curisineire I Material Dourado.
_Folhas quadriculadas para matematica.
_Mascara para leitura de texto.
_Letras com varias texturas.
_Evitar dizer que ela e lenta, pregui<;osa au compara-Ia aos outros alunos da
classe.
_Ela nao deve ser fon;ada a ler em voz alta em cia sse a menos que demonstre
desejo em faze-Io.
32
_Suas habilidades devem ser julgadas mais em suas respostas orais do que
nas escritas.
_Sempre que passivel, a crianga deve ser encorajada a repetir 0 que foi Ihe dito
para fazer, isto inclui mensagens. Sua pr6pria voz e de muita ajuda para melhorar a
mem6ria.
_Revis6es devem ser freqOentes e importantes.
_Copiar do quadro e sempre urn problema, tente evitar issa, ou de-lhe mais tempo
para faze-lo.
_Demonstre paciencia, compreensao e amizade durante todo 0 tempo,
principalmente quando voce estiv8r ensinando a alunos que possam ser
considerados dislexicos.
_Ensine-a quando for ler palavras longas, a separa-Ias com uma linha a lapis.
Oe-Ihe menos dever de casa e avaHe a necessidade e aproveitamento desta
tarefa.
_Nao risque de vermelho seus erros ou coloque lembretes tipo: Estude! Precisa
estudar mais! Precisa melhorar!
_Procure nao dar suas notas em voz alta para toda dasse, iss a a humilha e a faz
infeliz.
_Nao a force a modificar sua escrita, ela sempre acha sua letra horrivel e nao g05ta
de ve-Ia no papel. A modula,ao da caligrafia e um processo longo.
_Procure nao refofyar sentimentos que minimizam sua auto-estima.
_De-Ihes urn tempo maior para realizar as avaliac;:6es escritas. Uma tarefa em que
a crianc;a nao-dislexica leva 20 minutos para realizar, a dislexica pode levar duas
horas.
33
_ Usar sempre uma linguagem clara e simples nas avaliac;oes orais e
principalmente nas escritas.
_Uma lingua estrangeira e muito dificil para eles, faC;8 suas avaliac;oes sempre em
termos de trabalhos e pesquisas.
Algumas atitudes simples favorecem emocionalmente a crianc;a com Dislexia.
levando a um melhor desempenho escolar.
34
4 A INTERVEN9AO PSICOPEDAGOGICA NA ESCOLA
Historicamente, a interven9ao psicopedagogica vern ocorrendo na
assistElncia as pessoas que apresentam dificuldades de aprendizagem. tanto no
diagn6stico quanta na terapia. Diante do baixo desempenho academico, alunos sao
encaminhados aos psi coped agog os pelas escolas que freqOentam, com 0 objetivo
de elucidar a causa de suas dificuldades. A questao fica, desde 0 principio, centrada
em quem aprende, au methor, em quem nao aprencte.
Diferente de estar com dificuldade, a atuno manifesta dificuldades,
revelando uma Situ8<;80 mais ampla, ende tambem S8 inscreve a escola, parceira
que e, no processo da aprendizagem. Portanto, analisar a dificuldade de aprender
inclui, necessaria mente, 0 Projeto Pedag6gico Escolar, nas suas propostas de
ensina, no que e valorizado como aprendizagern. A amplia9ao desta leitur8 atraves
do aluno permite aD psi coped agog a abrir espa9Ds para que S8 disponibilizem
recursos que f898m Frente aos desafios, ista 8, na direg<3o da efetiv8gao da
aprendizagem.
o estudo psicopedag6gico atinge plenamente seus objetivos quando,
ampliando a compreensao sobre as caracteristicas e necessidades de
aprendizagem do aluno, abre espayo para que a escola viabilize recursos para
atender as necessidades de aprendizagem. Oesta forma, 0 fazer pedag6gico
se transforma, podendo se tomar uma ferramenta poderosa no projeto
terapeutico.
o psicopedagogo com uma postura integrativa levara em conta nao s6 0
sintoma, fruto de um disturbio organico, mas tambem a aspecto afetivo e a
emocional que 0 acompanham. A import~ncia do afetivo emocional esla em que nao
s6 podem fazer parte do surgimento ou do agravamento do sintoma como tambem
sao importantes no processo de cura.
SOUZA (1998) nomeia algumas atividades que auxiliam no trabalho de
intervenC(ao psicopedag6gica:
1 - Estrategias que visam a recupera<;ao par parte das crian<;as, de
conteudos escolares avaliados como deficitarios;
2 - Procedimentos de orienta<;aode estudos (organiza<;ao, disciplina, etc.);
3 - Atividades como brincadeiras, jogos de regras e dramatiza<;6es
realizadas na escola e fora dela, com 0 objetivo de prom over a plena expressao da
crian<;a com e sem dificuldades de aprendizagem;
4 - Atendimentos em consultorios de crian<;as com dificuldade de
aprendizagem na escola (encaminhamentos feitos pela propria escola);
5 - Pesquisa de instrumentos que pod em ser utilizados para auxiliar 0
processo de aprendizagem de crian<;as, bem como a seu desenvolvimento, no que
se refere a inteligencia e afetividade.
36
A intervenc;ao psicopedagogica tem para 0 dislexico, um carater de
urgencia e pode capacita-Io a ser "senhor de seu destino" I integrando-o dentro
da sala de aula como alguem responsavel e competente, assim como reintegra-Io
em suas relayDes familiares e sociais. A reabilitac;ao da leitura dara aD dislexico,
condic;6es de adquirir a educac;ao formal, ja que em nossa sociedade representam -
a Jeitura e escrita, habilidades basicas, a "chave-mestra" para 0 conhecimento de si
mesma e do mundo que 0 cerca.
Desta forma, a atuac;ao da PSicopedagogia so encontra real eficiencia
quando atingir a familia do dislexico, incorporando-8 ao tratamento, ja que esta S8
apresenta no minima contaminada pelos fracassos e sofrimentos de seus filhos,
associado as projec;6es de seus proprios sofrimentos, alem das tentativas
fracassadas de auxilio. Para tanto, a compreensao do sistema funcional, da
dinamica desta familia, S8 faz necessario para que S8 possa orienta-Ia
eficientemente. A ac;ao deve se estender a instituic;ao escolar, alertando e
sensibilizando seus educadores de que 0 dislexico pode e merece aprender, tal qual
outro aluno qualquer, que ele apenas precisa de tecnicas e estrategias que 0
auxiliem nessa jornada. Que 0 educador possa valorizar nao seus erras, mas seus
acertos.
FERREIRA (2005) nos escreve que algumas atitudes simples favorecem
emocionalmente a crianc;a com Dislexia, levando-a a um melhor desempenho
escolar. Algumas destas ac;6essao referidas pela Associac;ao Nacional da Dislexia:
• Acompanhe sempre que possivel a agenda.
37
• Cerlirique-se, sempre, de que 0 aluno entendeu as instrug6es au
solicilaqoes (eitas par escrito.
• De dicas especificas de como 0 aluno pode estudar sua disciplina.
• Incentive 0 aluno a restaurar confianqa em si proprio.
• NaD exerqa presseo sabre ele a ponto de amedronta-Jo com a perspectiva
de nao passar de ano.
• Nao insita que 0 aluno leia em voz aita, perante a classe.
• Ressa/te as aeerlos, ainda que pequenos e nao enfatize as erros.
Valorize sua grafia. Manifeste sua apreeiagao pelo esforga, como par
exemplo, elog/anda por ten tar escrever uma historia. Mesma que contenha
muitos erros, diga que a maior parte das pa/avras estavam certas.
• Sempre que passivel, atribua-Ihe taretas, que passam faze-Ia se sentir uti/.
De dicas e oriente 0 a/uno sobre como organizar-se e realizar as
atividades na carteira da sa/a.
• NaD estimule e tao pouco permita que os cotegas humithem ou rejeitem 0
atuno por causa das suas dificuldades.
Grande parte da interven<;ao psicopedag6gica estara em buscar os talentos -
muitas vezes, escondidos - dessa crian<;a; os fracassos, sem duvida, ela ja os
conhece bem; sao constantemente expticitados na escola, na familia e entre seus
pares. Outra tarefa da clinica psicopedag6gica Eo ajudar essa pessoa a descobrir
modos compensat6rios de aprender. Jogos, leituras compartilhadas, atividades
especfficas para desenvolver a escrita e habilidades de memoria e aten<;ao fazem
parte do processo de intervenqao a medida que essa crianqa se percebe capaz de
38
produzir podera avanc;:ar no seu processo de aprendizagem e iniciar 0 resgate
de sua auto-8stima.
No atendimento a qualquer crianya com dificuldade de aprendizagem se faz
necessaria uma parceria envolvendo 0 psicopedagogo, pais e a escola. No caso da
Dislexia 8ssa parceria e vital no processo de aprender da crianC;:8.
Muitas vezes, na escola, sao necessarios esclarecimentos sabre a Dislexia, e
estrategias favoraveis aD seu desempenho academico.
A Dislexia e urn disturbio de aprendizagem que, por envolver areas basicas
da linguagem, pode tornar arduo esse processo; porem, com acompanhamento
adequado, a crianC;:8 pode redescobrir suas capacidades e 0 prazer de aprender.
39
5 CONCLUSAO
A avalia<;ao psicopedagogica de uma crian<;a, como qualquer diagnostico
necessita de uma cautela e de observa<;6es que direcionaram este trabalho para
auxiliar no processo de ensino-aprendizagem. 0 presente estudo procurou contribuir
para uma melhor compreensao do que e Psicopedagogia e sua 8c;ao frente aos
diagnosticos de Dislexia.
A Psicopedagogia sempre estara ligada a Psicologia, e fornecera subsidios
sobre a aprendizagem do aluno, como ele aprende e como evoluira nessa
aprendizagem.
Para tanto nao e somente viavel avaliar 0 aluno e suas dificuldades, mas
tambem verificar as procedimentos usados pela instituic;ao escolar para trabalhar
com 0 aluno dish3Xico. Oiante desse cenario, procurou-se esclarecer pontcs
relevantes do trabalho realizado com alunos portadores deste problema.
Este estudo bibliogrillico abordou quest6es referentes a interven<;ao da
Psicopedagogia frente aos problemas de aprendizagem principal mente com crianc;:as
que se encontram no ambiente escolar.
40
6 REFERENCIASBIBLIOGRAFICAS
AQUINO, Julio Groppa. Erro e Fracasso na Escola - Alternativas Teoricas
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