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Material Didático: Proposta de Leitura
Professor PDE organizador: Celso Jorge Martins
Professor orientador: Pedro Luis Navarro Barbosa
IES: UEM
Disciplina: Língua Portuguesa
Título: Leitura do Texto Cinematográfico
Caracterização do material didático: Proposta de Leitura
Alunado: Ensino Médio
Objeto de estudo: Texto Cinematográfico
Filme: As Invasões Bárbaras
I. Considerando algumas questões sobre a arte cinem atográfica
Apesar de ter uma linguagem específica e exigir o domínio de códigos
próprios desta linguagem, o filme é hoje um recurso didático recorrente às salas
de aulas, e é usado, mais comumente, como fonte de informação e registro da
historicidade e comportamento humano.
Na categoria das Artes, o cinema é visto como fonte de fruição estética,
diferenciando-se das “produções fílmicas” eminentemente educativas realizadas
por meio de vídeos e programas televisivos, uma vez que o cinema perpassa por
um arcabouço de peculiaridades envolvendo sentimento estético de diversas
outras artes ao explorar os movimentos, os sons, as cores, as imagens, as
palavras e o silêncio. Desta forma, o filme “é produzido dentro de um projeto
artístico, cultural e de mercado ___ um objeto de cultura para ser consumido
dentro da liberdade maior ou menor do mercado” (ALMEIDA, 23001:7).
Nesta visão de filme, produzido como arte de fruição estética e voltado
para um público amplo e diversificado, é que propomos atividades didático-
pedagógicas voltadas às possibilidades de leitura do texto fílmico em seus
aspectos culturais, sociais e ideológicos, e à produção de efeito de sentido,
considerando seus recursos específicos de expressão, como texto imagético
produzido pela arte cinematográfica.
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II. Refletindo sobre o filme como objeto de leitura
Uma das maiores preocupações da prática educacional escolar é a
efetivação de uma significativa leitura, pelos educandos, das diversas tipologias
textuais, de forma que possam construir e desenvolver um processo intermitente
de leitura autônoma e crítica, tanto do texto verbal como do não-verbal.
Concordamos com Duarte quando argumenta sobre a necessidade de se
pensar sobre a presença do cinema na escola. Segundo esta autora, “pensar o
cinema como uma importante instância pedagógica, nos leva a querer entender
melhor o papel que ele desempenha junto àqueles com os quais nós também
lidamos, só que em ambientes escolares acadêmicos.” (DUARTE, 2002, p. 81).
Reconhecemos, nos filmes, uma vocação pedagógica, ou seja, para
ensinar seu espectador, pois relaciona este com uma diversidade sócio-cultural
que, apesar de ser inerente a sociedade, penso que não poderia ser tão bem
conhecida e por tantas pessoas sem a arte do cinema, propiciando a produção de
saberes, identidades e crenças. Duarte argumenta que:
Parece ser desse modo que determinadas experiências culturais, associadas a uma certa maneira de ver filmes, acabam interagindo na produção de saberes, identidades, crenças e visões de mundo de um grande contingente de atores sociais. Esse é o maior interesse que o cinema tem para o campo educacional ___ sua natureza eminentemente pedagógica. (DUARTE, 2002, p. 19)
Utilizado como mais um recurso audiovisual voltado à produção de
conhecimentos, a comunicação por meio da imagem em movimento do cinema se
diferencia, quanto a sua natureza (forma, constituição, códigos, recursos), das
formas tradicionalmente presentes e trabalhadas nos ambientes escolares. Desta
forma, faz-se necessário dominar os códigos que compõem a linguagem
audiovisual do texto cinematográfico, pois isso resulta da aquisição de uma
competência comunicativa, e é função dos meios educacionais oferecer os
recursos adequados para a aquisição desse domínio e para a ampliação da
competência para ver, da mesma forma como já se objetiva fazer com a
competência para ler e escrever.
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Levar em consideração as especificidades próprias do texto
cinematográfico, quanto a sua natureza e seus recursos expressivos, implica em
ampliar as possibilidades de leitura do sujeito leitor, uma vez que os elementos
visuais funcionam como operadores de discurso. Considerando que o texto
cinematográfico é um veículo que detém em sua essência modos específicos de
comunicação, o processo pedagógico envolvendo o cinema é determinado por
suas singularidades enquanto meio, por meio do qual o homem produz, transmite,
significa conhecimentos.
Assim, o cinema se constitui em um texto, cuja principal característica é a
imagem em movimento, e, por também fazer uso dos recursos verbais, é
considerado um discurso verbo-imagético, que utiliza meios de expressão
particulares, próprios da arte cinematográfica. E como texto, sustenta-se em
discursos, que produzem efeitos de sentido tanto no sujeito leitor como no sujeito
autor, comunicando-se por meio de posicionamentos, pelo interdiscurso, pela
formação ideológica e pela formação discursiva dos sujeitos, numa relação de
interlocução na construção de sentidos.
III. Concebendo conceitos básicos de leitor e texto
Para se efetivar uma Proposta de Leitura como trabalho significativo de
produção de conhecimento do alunado, é necessário compreender a extensão do
conceito de leitura e de texto por nós aqui utilizados.
Numa perspectiva ampla, segundo Orlandi (2006), leitura pode ser
entendida como atribuição de sentidos, que se refere tanto à produção oral ou
escrita, como também a qualquer outro tipo de linguagem, representada sob
qualquer forma que se apresente. No entanto, a leitura também pode significar
concepção, visão de mundo, relacionando-se, assim, à noção de ideologia.
O conceito de leitura vai além da mera interação entre um leitor e um texto.
Entendemos que o texto é um meio que contempla as regras do “jogo da
linguagem” utilizada para que se haja interação entre o leitor e o outro sujeito da
enunciação, no entanto essa relação não se estabelece com o texto e sim por
intermédio dele.
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Considerando sua estrutura e seus códigos, o texto estimula atos que
desencadeiam a produção de sentidos. E para essa produção entram em
funcionamento diversos fatores que são da instância do próprio texto, do leitor e
da historicidade de ambos. Assim, o processo de leitura não está polarizado nem
no texto e nem no leitor, pois, por meio da leitura, o leitor filia o texto em uma
outra historicidade que difere daquela de sua produção, e reinscreve-se em uma
outra historicidade que não a sua.
Para Orlandi (2006) a leitura pode ser um processo muito mais complexo
do que pode parecer, destacando que, além das variáveis já citadas, podemos
considerar também:
• as relações que o texto estabelece com outros textos e que, dessa
forma, acionam a formação dos sentidos que nascem da leitura;
• a compreensão dos códigos utilizados na construção do texto
(considerando que não nos referimos somente ao texto escrito, mas
também a outros tipos de textos, como os imagéticos);
• o saber enciclopédico do leitor.
Por assim ser, entendemos que um texto abarca toda manifestação que
seja passível de algum sentido e que sempre está se relacionando com outros
textos, e também que sua leitura é uma produção de sentido própria de cada
sujeito de acordo com o seu repertório sócio-histórico.
IV. Evocando pertinências do texto cinematográfico
A leitura do texto cinematográfico demanda o conhecimento de algumas de
suas especificidades, pois o discurso imagético não apresenta uma única
significação, mas sim modos de significação, indicando que existe um trabalho de
interpretação da imagem, tornando-se necessário o entendimento de como ela se
constitui em discurso, dentro de suas especificidades como texto não-verbal ou
verbo-imagético.
Embasados na teoria da Análise do Discurso (PÊCHEUX, 1990; 1995;
1997; 1999), entendemos a leitura do texto cinematográfico como uma produção
de sentido que não é propriedade exclusiva nem do autor e nem do leitor, sendo
um efeito da troca da linguagem verbo-imagética, constituindo-se nos efeitos de
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sentido produzidos entre os sujeitos da enunciação, negando-se a idéia de uma
mensagem encerrada em si, bem como a imanência do sentido.
Em se tratando do texto imagético em movimento (filme), este pode ser
entendido, de forma abrangente, como um conjunto de estruturas produtivas, que
envolve elementos de uma “gramática” iconográfica, tais como: a expressão
visual, figuras geométricas, ângulos de câmera, figuras iconográficas, montagem,
tipos de enquadre, narrativa/cronologia temporal, níveis intertextuais, dentre
outros.
O funcionamento desta “gramática” iconográfica se operacionaliza por meio
da memória discursiva de cada sujeito, ou seja, pelos acontecimentos exteriores e
anteriores ao texto e pela interdiscursividade, refletindo materialidades que
intervêm na construção do significado do discurso imagético.
O cinema explora a imagem como forma de linguagem, valendo-se de
recursos diversos, tais como o jogo de cores, de luzes, seus recortes, montagens,
avanços, recuos, o distanciamento, a profundidade; recursos esses construtores
de uma densidade imagética, propiciando a imagem que signifique sem vir
ancorada no verbal, não atuando como mero cenário ou ilustração, pois a
imagem, no cinema, é componente intrínseco da textualidade que compõe o texto
fílmico.
Ler um texto cinematográfico, sustentando-se no reconhecimento dos
recursos próprios da linguagem do cinema, certamente produzira sentidos mais
fluentes ao sujeito leitor, daí nossa ênfase nas questões mais pertinentes a leitura
do texto não-verbal, em específico do texto fílmico.
V. Procedimentos propostos para a leitura do texto cinematográfico
Para iniciar a atividade de leitura do texto cinematográfico propomos uma
seqüência de encaminhamentos, perpassando por três instâncias da construção
da leitura:
• resgate de leituras prévias – o que o aluno já conhece diante do
texto a ser lido;
• leitura do texto , considerando os seguintes aspectos de produção:
o estrutura do texto (forma e constituição);
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o códigos discursivos (verbais e não-verbais) ;
o recursos discursivos (gramática do texto imagético);
• produção de efeito de sentido da leitura do texto, considerando:
o intertextualidade – relação do texto com outros textos;
o memória discursiva – saber enciclopédico do leitor inscrito
numa memória social coletiva;
o interdiscurso – presença de diferentes discursos, oriundos
de diferentes momentos na história e de diferentes lugares
sociais, entrelaçados no interior de um discurso;
o sentido – efeito construído por meio da leitura do texto num
processo de troca de linguagem entre texto e leito.
Visando à prática da leitura do texto cinematográfico propomos que o
professor apresente aos alunos um encaminhamento de leitura do texto
cinematográfico, atentando para as suas possibilidades de leitura, nos âmbitos
cultural, social e ideológico, bem como para a estrutura, códigos e recursos
próprios do discurso verbo-imagético do cinema, considerando todas essas
variáveis na construção dos efeitos de sentido na produção das leituras.
Propomos, na seqüência, a leitura do texto cinematográfico: “As Invasões
Bárbaras”. De forma mais incisiva, este filme faz uma reflexão social
contemporânea das relações entre o homem e diversas instâncias da sociedade,
mostrando uma fluente interdiscursividade, o que intensifica as possibilidades de
leitura ao leitor (espectador), conforme a memória discursiva de cada um deles.
VI. Trabalhando com o filme – As Invasões Bárbaras
O filme canadense “As invasões Bárbaras” 1 (Quebec - 2003), de Denys
Arcand, é considerado um dos melhores da carreira deste diretor, que ficou
conhecido do público brasileiro por seu trabalho mais famoso, O declínio do
Império Americano.
O protagonista Rémy (Rémy Girard), professor universitário, encontra-se
gravemente doente (câncer terminal), internado num hospital superlotado, com
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pacientes sendo atendidos pelos corredores, vivendo o inferno da assistência
médica pública.
O diretor do filme
mostra resultados da
estatização, sindicatos
corruptos, polícia
despreparada e o apelo
religioso, o que faz de
Quebec uma província
católica canadense muito
parecida com restante da
América Latina2.
Há a presença de
uma crítica contra o Estado, a polícia, a Igreja e a família, esta representada pelos
parentes do professor que se organizam para lhe dar maior conforto, já que sua
morte parece inevitável.
O filme é, basicamente, a construção da cerimônia do adeus deste
intelectual cínico, que flertou com todas as mulheres e todos os ideais da
revolução esquerdista do século 20. A certa altura ele se pergunta, com seus
amigos, se houve algum "ismo" em que não se engajaram, passando pelo
marxismo, leninismo, maoísmo, trotskismo, entre outros. "Só faltou o cretinismo",
lembra alguém.
Outra relação abordada3 em As Invasões é a do filho Sébastien com o seu
pai Rémy. Sébastien é um operador financeiro que fez fortuna e simboliza o
capitalismo triunfante e sem fronteiras que vingou logo após a queda do Muro de
Berlim. Com seu dinheiro farto, compra tudo e todos para dar conforto aos últimos
dias do pai. Inclusive uma velha amiga de infância, que traz heroína para aliviar
as fortes dores de Rémy.
Mergulhando assim na sensibilidade e na amoralidade, o filme poderia cair
num cinismo mais desenfreado. A grande virtude é que não o faz, criando
relações com um agradável humor e uma emoção profunda em muitas cenas
1 Cf. http://www.adorocinema.com/filmes/invasoes-barbaras/invasoes-barbaras.asp 2 Cf. http://www.cineplayers.com/critica.php?id=443
AS INVASÕES BÁRBARAS. Denys Arcand (dir.). Canadá: EuropaFilmes, 2003. (99 min.)
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desse pai que está se despedindo da vida junto a seus amigos, seu filho, sua ex-
mulher e suas duas amantes favoritas.
As Invasões
Bárbaras retrata um drama
pessoal para representar a
desconstrução de ideologias
nas mudanças do todo, bem
como o confronto pessoal
de ideologias que está no
reencontro de um pai
consido mesmo e com o
seu filho.
� Atividades a serem desenvolvidas:
1. Resgate das leituras prévias (momento que antece de a exibição do
filme, a ser realizado pelo professor, de forma ora l):
- Planejamos assistir a um filme, que, na
perspectiva dos estudos na linguagem, é
considerado um texto. Portanto vamos fazer
uma leitura de um texto cinematográfico. O texto
cinematográfico é um gênero textual, mais
comumente chamado de filme.
a. Vamos assistir ao filme “As
invasões bárbaras”. Na
perspectiva das Artes, o que é um
filme? Diferencie-o de um vídeo ou
de uma produção televisiva.
b. Quais os tipos de linguagens
comuns em um filme?
3 Cf. http://cinema.terra.com.br/ficha/0,,TIC-OI4399-MNfilmes,00.html
No início das atividades deve-se: - apresentar o gênero
textual a ser lido; - questionar sobre o
gênero textual; - especular sobre o título
do texto; - fazer considerações
pertinentes ao texto e aos estudos da linguagem;
- se necessário, fazer o resgate sócio-histórico-cultural inerente ao texto a ser lido, sem romper as expectativas prévias dos dos leitores.
AS INVASÕES BÁRBARAS. Denys Arcand (dir.). Canadá: EuropaFilmes, 2003. (99 min.)
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c. O que é linguagem “verbal” e “não-verbal”?
d. Quais os principais recursos de linguagem que um filme utiliza?
e. O filme e a fotografia são considerados textos imagéticos. Qual é a
diferença entre eles?
f. Quais os recursos discursivos próprios de um filme, pensando na
imagem em movimento?
g. Como é o trabalho da câmera num filme? Comente sobre o “avanço”
e “recuo” da câmera.
h. Qual é a importância do uso das “cores”, dos “sons”, da “música” em
um filme? Cite exemplos.
i. A questão do tempo. Como é explorada nos filmes?
j. Quais as principais funções de um filme para nossa sociedade?
k. Vimos que o título do filme é “As invasões bárbaras”. Em se tratando
da história da humanidade, o que são “os bárbaros”? O que eles
representam?
l. Pensando num espaço regional, o termo “invasão” traz quais
imagens a você? E se pensarmos em âmbito mundial, “invasão” traz
em sua mente o quê?
m. O que você acredita ver nesse filme?
2. Leitura do texto (assistir ao filme – preferenci almente exibido no
próprio espaço escolar):
- Agora vamos à exibição do filme. É
importante que os alunos prestem
atenção na estrutura do filme, em
seus códigos e recursos discursivos,
bem como nas estratégias típicas do
texto imagético em movimento, tais
Após este diálogo, considerando as provocações propostas, se houver necessidade, o professor explicitará sobre os conceitos de “texto”, “leitura”, “filme” (como gênero textual), e outras considerações que se fizerem necessárias.
Na exib ição do filme, é importante: - recomendar aos alunos
que atentem para os aspectos próprios do texto cinematográfico, existentes no filme a ser assistido, os quais certamente ampliam a leitura deste gênero textual.
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como: cores, sons, músicas, avanço e recuo da câmera. Quanto mais
recursos puderem ser vistos e compreendidos, mais ampla será a
leitura deste gênero textual.
3. Produção de efeito de sentido da leitura do text o (atividades
lingüísticas diversas):
- Uma vez que já assistimos ao filme “As invasões
bárbaras”, acreditamos que cada aluno realizou
sua leitura do texto cinematográfico, priorizando
alguns aspectos que lhes foram mais
significativos.
- O filme retrata a província de Quebec, no Canadá, no ano de 2001.
Quebec é a maior província do país e a segunda mais habitada do
Canadá. Aproximadamente 80% da população do Quebec são
descendentes de franceses e são católicos, em contraste com as outras
províncias do país, cujos habitantes são em sua maioria descendentes
de ingleses ou escoceses e são protestantes.
- “As invasões bárbaras” são a continuidade do filme “O declínio do
império americano” --- filmado em 1986, pelo mesmo diretor ---,
mantendo basicamente os mesmos atores e atrizes.
- No filme de 1986 4, “os professores de História Rémy, Pierre, Claude e
Alain preparam um saboroso jantar no campo, às margens do lago
canadense Memphremagog. Na cidade, as amigas Dominique, Louise,
Diane e Danielle fazem exercícios de musculação. Sob o suave outono,
os intelectuais vislumbram o declínio quase invisível de um grande
império. Desprezo pelas instituições, decadência das elites e queda da
natalidade são sinais crepusculares. Tanto os homens como as
4 http://www.webcine.com.br/filmessi/decemame.htm
A leitura do filme implica no reconhecimento, compreensão e interpretação dos códigos da linguagem cinematográfica, bem como de seus principais recursos discursivos.
Para uma leitura mais significativa e crítica: - Faça o resgate sócio-
histórico-cultural inerente ao texto ao contexto do filme.
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mulheres só falam de sexo. Os homens falam das mulheres e as
mulheres dos homens.”
3.1. Agora vamos fazer uma reflexão oral, destacand o os efeitos de
sentido que a leitura do filme lhes proporcionou.
a) A sua expectativa/hipótese inicial
sobre o filme se confirmou?
Comente.
b) Que fatos históricos você pode
identificar no filme?
c) Relacione os fatos ocorridos no filme com outros contextos da vida?
Comente sobre isso.
d) Quais valores sociais o filme aborda? Sob que perspectivas esses
valores são postos? Comente.
e) Escolha um personagem do filme, e analise seu comportamento e
suas ações.
f) Na sua leitura, quais os efeitos de sentido o filme lhe proporcionou?
3.2. Considerando as “informações intradiscursivas” , e as
“informações extradiscursivas”, registre, por escri to, as suas
reflexões e considerações de leitura:
a) O filme aborda sobre diversas instâncias da sociedade
contemporânea: família; estado; sistema de saúde; sindicato;
Para explorar os efeitos de sentido, considere: - a intertextualidade; - a memória discursiva; - o interdiscurso.
Informações intradiscursivas: - entendimento da construção do texto cinematográfico e da sua
produção de sentido; - prediz o domínio de códigos pertinentes a esse gênero textual. Informações extradiscursivas: - são às chaves de leitura acionadas pelos leitores, a partir de
mecanismos dados pela sua inserção na sociedade; - nesse sentido, o papel do professor e seus processos --- formais e
informais --- na relação ensino e aprendizagem, frente ao uso do texto fílmico, é relevante, por se tratar de um agente de mediação.
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polícia; escola (professores e alunos); igreja. Como estas
instituições estão postas no filme? O que elas têm em comum?
b) Analisando duas cenas que envolvem o sindicato --- “contratação de
funcionários para a reforma do quarto” e “pedido de ajuda para
encontrar o notebook roubado” ---, como os recursos ci-
nematográficos são usados para caracterizar a atuação sindical?
c) Várias cenas mostram a ação da polícia diante de pequenos e
grandes crimes. Como a instituição “polícia” é posta no filme?
d) O filme mostra uma cena em que os alunos de Rémy o visitam no
hospital. A cena se desenvolve em dois momentos: dentro do quarto
e no corredor em frente ao quarto. Que efeitos de sentido são
produzidos em você após essa seqüência de cenas? Como a
imagem do jovem é construída?
e) A “Igreja” é contemplada no filme sob alguns aspectos.
Primeiramente vamos refletir sobre as ações do pároco católico de
Montreal, que busca a orientação de Gaëlle (namorada de
Sébastien) para avaliar peças sacras guardadas no porão de sua
igreja. Ao saber que as peças não tem valor comercial no mercado
internacional, o pároco diz: “Tudo isso não vale absolutamente
nada”, e Gaëlle argumenta: “Tem valor para a memória coletiva das
pessoas desta região”. Que concepção de religiosidade o filme
constrói com estas cenas? Qual a leitura que você faz do uso do
recuo e avanço da câmera ao focar as peças sacras, principalmente
as estátuas de santos?
f) Também a presença de uma freira católica é explorada em diversas
cenas. Desde visitas “maquinais” a pacientes do hospital, a
profundas reflexões sobre a existência humana. Vemos, no filme,
uma inter-relação entre Rémy e a Freira, sendo que esta o faz
refletir sobre diversos aspectos de seu comportamento, principal-
mente a relação pai e filho (abalada e inexistente há muito tempo).
Dois momentos significativos para Rémy e seu filho Sébastien têm a
participação desta freira: o primeiro, no início do filme, quando ela
faz Rémy conscientizar-se que o filho faz-se presente para ajudá-lo
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diante da doença e o segundo, próximo ao final do filme, quando ela
pede que o pai agradeça ao filho e pede ao filho toque (abrace) seu
pai. Nestas cenas, como a religião católica é construída? É
diferente daquela construída pelas ações do pároco? Considerando
a cena do pároco e as cenas da freira, quais discursos sobre a
religião estão presentes? E, para você, qual é o discurso religioso
que lhe é relevante?
g) A construção e permanência das amizades são um dos núcleos
geradores do filme. Analise as amizades construídas por Rémy. O
que representam seus amigos? Comente sobre cenas que ex-
pressam o valor positivo das amizades. Que recursos o filme usa
para enfatizar o valor das amizades?
h) A sociedade, vista sob o olhar deste texto cinematográfico, de uma
forma geral, está amplamente corrompida. O dinheiro é quem define
os rumos da sociedade. Que efeitos essa construção de uma
sociedade corrompida causam em você? Há um descrédito total no
Homem, ou ainda há esperança na construção de uma sociedade
ética e honesta?
i) No filme, há um ponto de mutação no relacionamento entre o pai
(Rémy) e o filho (Sébastien), que é percebido por meio da cena na
qual a mãe (Louise) argumenta com seu filho (Sébastien) que “Seu
pai trocou as suas fraldas tanto quanto eu”. “Do primeiro grau até a
faculdade ele ligava para seus professores todos os meses. Você
nunca soube disso”. “Quando você teve meningite, com três anos,
ele te pegou e ficou com você no colo por 48 horas, sem te largar,
sem dormir, para a morte não chegar perto de você”. “Ele queria
muito que tivesse sucesso”. Essa cena do filme faz com que
Sébastien veja o pai sob uma nova perspectiva. No discurso da mãe
estão presentes outros discursos sociais de reconhecimento, pelos
filhos, da família. Você consegue identificar esses discursos sociais?
Cite alguns deles.
j) Em diversas cenas do filme, encontramos frases que evocam
discursos recorrentes em nossa formação social, tais como: “Não é
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a vida de hoje que você não quer largar, é a vida antiga, e essa vida
já morreu” (essa reflexão leva-o a optar pela eutanásia) – Nathalie
falando com Rémy; “Você conseguiu me dar sua cobiça pela vida” –
Sylvaine falando com seu pai; “Sabe o que eu te desejo? Que tenha
um filho tão bom quanto o meu” – Rémy falando com seu filho; “São
seus sorrisos que vou levar comigo” – Rémy falando com seus
amigos. Quais são esses discursos sociais? Comente sobre eles.
k) Na segunda viagem de ambulância de Rémy com seu filho
Sébastien, eles param no lago. O texto cinematográfico, nesta
seqüência de cenas, mostra a natureza: árvores verdes e frondosas,
pássaros voando, o céu azul, o lago, e Rémy numa cadeira de
rodas, com roupas azul escuro e cinza. Que representações há
nestas imagens e cores?
l) As cenas finais do filme mostram Sébastien pensativo dentro de um
avião (retornado para Londres) e olhando pela janela. A câmera se
desloca para mostrar um banco vazio em frente ao lago, a casa
vazia próxima ao lago, o céu e os pássaros voando e retorna para o
avião levantando vôo. Que outras imagens essa seqüência de cenas
evocam em você?
m) Ao final do filme, os créditos são apresentados tendo como fundo a
música “L'amitie” da cantora francesa Françoise Hardy, numa
gravação original de 1965. Essa música fala do valor da presença
dos amigos sinceros quando necessitamos e possui uma sonoridade
suave e acalentadora. Que efeitos de sentido provocaram em você
essa música, após assistir ao filme? Que imagens vêem em sua
mente ao ouvi-la?
n) Qual é o principal sentido deste texto (filme) para você? Que
mensagem ele deixou construída em sua mente?
As atividades propostas visam a produção de leitura do texto cinematográfico, num gesto de reconhecimento da “gramática” da imagem e na busca de uma análise do discurso verbo-imagético mediante suas especificidades .
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VII. Considerações ainda pertinentes quanto ao trab alho de leitura do
texto cinematográfico
Vimos que a leitura do texto fílmico demanda um exercício interpretativo de
imagens, movimentos, sons, cores, planos, tomadas, cenas, que considere, em
seu processo de construção de significados, a multiplicidade de estímulos visuais
e sonoros ao qual o espectador está exposto. E para essa construção de sentidos
contribuem variáveis que vão desde o contexto social (história, cultura, ideologia)
do leitor/espectador, perpassando pelo seu “capital cultural”, até a sua
capacidade de interpretação crítica e decodificação dos códigos e recursos da
linguagem cinematográfica.
Assim, o trabalho com a leitura de filmes em sala de aula mostra-nos os
posicionamentos do nosso alunado diante das suas possibilidades de leitura do
discurso verbo-imagético do cinema, sendo função do professor mediar o
enriquecimento desse repertório de instrumentos de leitura da imagem, como
forma de tornar os alunos mais aptos a interpretar os textos não verbais, não
somente do cinema, mas de todas as instâncias textuais que se utilizam da
imagem, uma vez que estamos diante de uma sociedade cada vez mais imbuída
na utilização do texto imagético.
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