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7/25/2019 McKinsey Carbono Brasil
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Caminhos para umaeconomia de baixa emisso
de carbono no Brasil
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Prefcio
Lderes de vrias naesdiscutem hoje metas ambiciosas parareduzir as emisses de gases de efeito estufa (GEE), a fim de diminuir
o grave impacto da mudana climtica para o meio ambiente, a
sociedade e a economia. Muitos cientistas e responsveis por
polticas pblicas acreditam que limitar a elevao da temperatura
mdia global a 2oC um objetivo fundamental, pois esse limite
representa um marco a partir do qual as implicaes do aquecimento
global tornam-se muito srias.
Visando contribuir para essa discusso, a McKinsey & Company
empreendeu um esforo global para desenvolver uma base de fatos
sobre as alavancas tcnicas existentes e o custo envolvido para o
abatimento das emisses a partir do caso base projetado. O esforo
concluiu que a implementao de cerca de 200 iniciativas, em 10
grandes atividades econmicas, segmentadas em 21 regies do
mundo tem o potencial de reduzir as emisses em 55% com custo
inferior a 60/tCO2e, podendo chegar a 70% com iniciativas de
custos mais elevados ou com o sequestro de carbono da atmosfera.
Este relatrio tem como foco o desafio apresentado ao Brasil para
contribuir nesse processo de abatimento de emisses de carbono. Sem
surpresa, o estudo identifica a reduo do desmatamento e de emisses
do setor de pecuria e agricultura como as principais oportunidades de
abatimento, que representam 85% do potencial do Pas.
Para a fora-tarefa que trabalhou no relatrio, um desafio em particular
foi a quantificao do custo para efetivamente parar o desmatamentoat 2030, especialmente no bioma Amaznia.
No temos a pretenso de indicar um caminho especfico para resolver
um problema to complexo como esse. Nossa contribuio consiste
na compilao dos trabalhos de diversos especialistas que estudam
esse tema h dcadas, e de gestores pblicos que trabalham na
prtica para enfrentar esse desafio, e no desenvolvimento de uma
abordagem sistmica para o problema. Essa abordagem est ancorada
no fortalecimento das instituies e mecanismos de monitoramento
e controle, na gerao de incentivos para crescimento de atividades
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florestais sustentveis, e em investimentos para a criao de empregos
formais e para a melhoria dos ndices de desenvolvimento humano
da regio Amaznica. Colocamos os resultados dessa modelagem,
incluindo o custo e o impacto individual das vrias iniciativas,
disposio do pblico em geral, no intuito de avanar na discusso
desses temas.
As concluses do relatrio confirmam o potencial do Brasil para
participar, em uma posio de destaque, na batalha global contra a
mudana climtica.
Alm de contribuir com a eliminao do desmatamento, o Pas tem
condies para implementar um programa de reflorestamento emlarga escala, considerando seu grande volume de terras degradadas
e improdutivas, com o objetivo de sequestrar carbono da atmosfera.
Quando os mercados globais de carbono tiverem se desenvolvido
de forma a remunerar tais programas de reflorestamento mais
amplamente, o Brasil poder ser o destinatrio natural dessa nova
indstria, servindo como um reservatrio global de carbono.
Este estudo evita propositadamente qualquer avaliao de polticas
e opes regulatrias. Antes, seu objetivo fornecer um conjuntouniforme de dados que possa servir aos lderes corporativos,
acadmicos e responsveis por polticas pblicas na discusso sobre
a melhor forma de reduzir as emisses no Brasil.
Stefan Matzinger
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Introduo
Segundo oWorld Resources Institute1
, o Brasil o 4 maior emissor de gases de efeito estufa(GEE) na atmosfera, e segundo a perspectiva da McKinsey em seu relatrio global, no horizonte
at 2030, tambm um dos 5 pases com maior potencial para reduzir essas emisses. Este
papel de destaque na agenda global de mudana climtica traz uma srie de implicaes, bem
como a criao de oportunidades significativas.
As diversas questes relacionadas a essas oportunidades devem ser debatidas por alguns
setores da sociedade brasileira empresarial, poder pblico, rgos reguladores e instituies
no governamentais. Sessenta iniciativas representam 10% do potencial de abatimento do
Brasil e foram identificadas como tendo um custo negativo, ou seja, benefcios associados queso maiores do que os gastos. Das demais 70 iniciativas, 80% do potencial de abatimento tm
custo inferior a 10 por tonelada de CO2e2, valor abaixo daquele comercializado no mercado
internacional de crditos de carbono. A implementao dessas iniciativas, contudo, requer um
esforo significativo, incluindo desde a criao de uma cultura de baixas emisses e de um
arcabouo regulatrio, a investimentos que devem ser estimulados por meio de legislao ou
insero do Pas nos mercados globais de carbono.
Neste contexto, o relatrio da McKinsey&Company tem como objetivo identificar e quantificar
o impacto e o custo de cada uma das iniciativas que podem ser conduzidas pelo Brasil paracontribuir para a agenda global de mudana climtica. O documento est organizado nos
seguintes captulos:
1. Resumo dos principais resultados
2. Caso base brasileiro
3. Oportunidades de abatimento detalhadas por setor
4. Implicaes para o Pas
Anexo 1 Abordagem do modelo
Anexo 2 Leitura da curva de abatimento
Anexo 3 Clculo do custo das iniciativas para evitar o desmatamento na Amaznia
1 O World Resources Institute um instituto de pesquisa ambiental fundado em 1982 e baseado em Wasghington, EUA2 CO2e significa equivalente de dixido de carbono, uma medida padronizada de GEE como o dixido de carbono e o
metano. As emisses so medidas em toneladas mtricas de CO2e por ano, ou atravs de mltiplos como milhes de
toneladas (MtCO2e) ou bilhes de toneladas (GtCO
2e)
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
1. Resumo dos principais resultados O Brasil tem um papel
de grande relevncia na reduo das emisses globais
de gases do efeito estufa
Cerca de 45 GtCO2e foram emitidas globalmente na atmosfera em 2005. De acordo com o
estudo da McKinsey3que avaliou as emisses atuais e suas projees de evoluo, at 2030
as emisses no caso base4devem atingir 70 GtCO2e. O estudo desenvolveu uma base de dados
com mais de 200 oportunidades de reduo das emisses de GEE, distribudas entre 10 setores
de atividade econmica e 21 regies do mundo.
Nossa anlise global revela que podemos reduzir as emisses de 70 para 32 GtCO2e, a partir
de uma srie de iniciativas coordenadas globalmente, com custo inferior a 60/ GtCO2e
(Figura 1). Um volume adicional de 9 GtCO2e poderia ser gerado a partir de medidas tcnicas
mais dispendiosas (acima de 60/GtCO2e), de mudanas de comportamento significativas,
de seqestro de carbono de programas intensivos de reflorestamento ou de outras tcnicas
alternativas. Teoricamente, a captura de todo esse potencial significaria nveis de emisso
amplamente consistentes com um caminho que, de acordo com o Painel Intergovernamental
sobre Mudanas Climticas (IPCC), resultaria em um aumento mdio da temperatura global
inferior a 2 graus Celsius.
Figura 1
3 Pathways to a Low-Carbon Economy - Version 2 of the Global Greenhouse Gas Abatement Cost Curve, McKinsey &Company, 2009
4 No estudo global da McKinsey & Company o caso base foi nomeado BAU (business as usual)
102005 25
Emisses globais de gases do efeito estufa
GtCO2e/ano
2015 2030
Evoluo das emisses globais de gases do efeito estufa
Caso base
Oportunidades deabatimento globais< 60/ tCO2e
Oportunidades de abatimento
globais (60-100/tCO2e) e
mudanas de comportamento
(estimativas de alto nvel)
-9(20%)
70
32
-38(80%)
23
Evoluo n ecessria
para limitar aumento de
temperatura em 2 C
Pico em 550 ppm, estabilizao em 550 ppm
Pico em 510 ppm, estabilizao em 450 ppm
Pico em 480 ppm, estabilizao em 400 ppm
Concentrao de CO2e na atmosfera
NOTA: Como referncia, as emisses totais em 1990 foram de 36 GtCO2e
FONTE: Global GHG Abatement Cost Curve v2.0; Houghton; IEA; IPCC; den Elzen; Meinshausen; OECD; US EPA; van Vuuren
0
10
20
30
40
50
60
70
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
Nesse contexto, o Brasil tem um papel relevante, pois responsvel por 5% das emisses de
GEE atuais e ser responsvel por 4% das emisses estimadas para 2030, ou 2,8 GtCO2e.
Diferentemente de outros pases mais industrializados, e da norma global, a principal fonte de
emisses no Brasil o setor florestal. Somente o desmatamento representa 55% das emisses
de GEE hoje e ser responsvel por 43% das emisses do Pas em 2030. Esse elevado pesonegativo do setor florestal parcialmente compensado pelas baixas emisses da matriz
energtica brasileira, que tem a gerao de eletricidade baseada em grandes hidroeltricas.
Outro fator a penetrao do etanol na frota automobilstica brasileira, que bastante alta.
Apesar disso, a intensidade per capitade emisses brasileiras de 12 toneladas (t) CO2e per
capita(em 2005), comparvel a pases industrializados europeus, com emisses em torno de 10
tCO2e per capita. Desconsiderado o setor florestal, as emisses brasileiras caem para 5 tCO
2e/ per
capita, o que posicionaria o Pas com um nvel de emisses baixo/moderado. No entanto, com o
crescimento da economia brasileira, a intensidade de emisses deve aumentar para 14 tCO2e per
capitaem 2030, ou 7,5tCO2e per capitase excluirmos o setor florestal. Em resumo, atualmenteas emisses do Brasil j esto acima da mdia global e, em uma perspectiva futura, mesmo se
eliminssemos as emisses do setor florestal, elas permaneceriam relativamente altas.
Isso evidencia a necessidade do Brasil considerar algumas medidas para reduzir as emisses de
GEE. Nosso estudo avaliou mais de 120 oportunidades de reduo de GEE em todos os principais
setores da economia brasileira. Os resultados indicam que o Brasil tem potencial para reduzir as
emisses estimadas para 2030 de 2,8 GtCO2e para 0,9 GtCO
2e, ou seja, uma reduo anual de
1,9 GtCO2e, o que equivale a uma reduo de 70% das emisses. A Figura 2 ilustra as principais
iniciativas que compem esse volume de reduo de gases de efeito estufa e o custo5associado a
cada uma delas. O Apndice 1 mostra como interpretar o quadro mais detalhadamente.
Figura 2
5 O custo inclui a somatria dos investimentos e custos operacionais menos benefcios econmicos auferidos
Curva de custo de reduo de gases do efeito estufa do Brasil em 2030
FONTE: Global Abatement Cost Curve v2.0, estudo Caminhos para uma Economia de Baixa Emisso de Carbono no Brasil
Custo de abatimento
/ tCO2e
1.900300 1.800100 500 1.200600
0
1.500
20
30
40
50
60
1.600
10
800 1.7001.4000 1.3001.100900200 1.000700-10
-100
-20
-30
-40
-50
-60
-70
-80
400
-90
Cimento CCS ps combusto, retrofit
Siderurgia -CCS, retrofit
Siderurgia - eficincia energtica II (geral)
Transporte - veculos pesados grupo 4
Petrleo - CCS
Siderurgia -CCS, novos
Cimento -CCS ps combusto, novos
Transporte - leves hbridos com plug-in
Pecuria - suplementos alimentares para gado
Siderurgia - eficincia energtica (geral)
Agricultura - restaurao de terras degradadas
Agricultura - prticas agronmicas
Agricultura - prticas de plantio direto e gesto de resduos
Agricultura - gesto de nutrientes em plantaes
Pecuria - gesto de nutrientes em pastos
Qumica - mudana de combustvel petrleo para gs, novas
Transporte - veculos leves grupo 2
Petrleo - maior eficincia energtica em novas construes
Transporte - veculos leves grupo 4
Resduos - reciclagem de lixo, novo
Edificaes - pacote de eficincia para novos prdios, comerciais
Floresta - florestamento de pastos
Floresta - restaurao de florestas degradadas
Potencial de abatimento
MtCO2e/ ano
Floresta reduo do
desmatamento
Resduos - gerao de eletricidade de aterrosTransporte - veculos leves - hbridos
Outras indstrias
Pecuria - vacina anti-metano
Agricultura - restaurao de solos orgnicos
Transporte - etanol de biomassa
Pecuria - gesto de pastosTransporte - etanol de cana
Energia - PCHs
Cimento - combustvel alternativo - resduos
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
O volume de abatimento possvel significativo, posicionando o Brasil somente aps EUA,
China e ndia em termos do potencial absoluto de reduo do volume de emisses. Em termos
percentuais, o abatimento potencial superior mdia global de 50%. Alm disso, os custos
associados curva de abatimento no Brasil so baixos. Enquanto o custo mdio mundial de
reduo em 2030 est estimado em torno de 18/tCO2e para iniciativas com custo positivo,
no Brasil o custo mdio para este tipo de iniciativa 9/tCO2e.
Globalmente, as principais fontes de emisso de GEE so gerao de energia e transporte, que,
somados, representam cerca de 40% das emisses em 2030. No Brasil esses setores tm um
desempenho ambiental relativamente bom e so responsveis por somente 13% das emisses.
A predominncia de hidroeltricas em nosso parque de gerao de eletricidade e a elevada
penetrao do etanol no mercado de combustveis impactam positivamente esses setores.
As oportunidades de redues de emisses so limitadas, pois se considerarmos a evoluo
da matriz energtica brasileira prevista no planejamento do governo, o parque de gerao deeletricidade continua tendo um bom desempenho ambiental. O potencial de abatimento nesses
setores soma 72 MtCO2e, correspondendo a 4% do potencial total de abatimento no Brasil.
Na mdia global, o setor industrial (cimento, siderurgia, produtos qumicos, petrleo e gs e
outras indstrias) representa 26% das emisses esperadas para 2030. No Brasil, o setor
industrial tem uma representatividade menor, respondendo por 13% das emisses. Isso se deve,
em parte, s caractersticas da energia eltrica produzida no Pas e, em parte, s caractersticas
intrnsecas da produo brasileira. Tais caractersticas incluem, por exemplo, a intensidade de
carbono associada produo de petrleo cru nacional, de 18 kgCO 2e/ barril de petrleo, que relativamente baixa. Isso ocorre em funo do tipo de petrleo e das medidas ambientais
j adotadas. Em outros pases, o petrleo cru um setor com maior intensidade de carbono,
chegando a mais de 70 kgCO2e/ barril de petrleo. Outro exemplo a indstria siderrgica,
em que aproximadamente 35% da produo de ferro-gusa utiliza carvo vegetal atualmente.
Se assumirmos que no futuro o fornecimento desse carvo vir de fontes reflorestadas, ou de
manejo sustentvel, o desempenho ambiental da siderurgia brasileira tem possibilidade de
contribuir para o abatimento de emisses de GEE. As iniciativas de abatimento para esses setores
industriais somam 130 MtCO2e, correspondendo a 7% do potencial de abatimento do Pas.
Os dois setores que dependem majoritariamente do comportamento do consumidor final
edificaes e tratamento de resduos so responsveis por 7% e 2% das emisses globais
em 2030, respectivamente. No Brasil, eles somam somente 3% das emisses. O setor de
edificaes beneficia-se da vantagem de o Brasil ser um pas tropical, o que reduz a demanda
de energia por sistemas de calefao. Assim, as iniciativas relacionadas a isolamento trmico
de habitaes e escritrios tm menor impacto e totalizam somente 8 MtCO2e em 2030, ou
0,4% do potencial brasileiro. No entanto, em relao ao tratamento de resduos, o Brasil est
em desvantagem, com uma baixa utilizao dos sistemas de tratamento de gases oriundos de
aterros sanitrios e reciclagem de resduos slidos. As iniciativas de abatimento no setor de
tratamento de resduos representam 3% do potencial de reduo do Pas, e esto principalmente
concentradas em reciclagem de lixo e aproveitamento de gases de aterros sanitrios.
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
Os setores mais relevantes para o Brasil, tanto em termos de emisses, como em oportunidades
de abatimento, esto relacionados ao uso da terra agricultura e floresta. Cerca de 70% das
emisses estimadas para 2030 e 85% das oportunidades de abatimento vem desses dois
setores, sendo fundamental, portanto, reduzir significativamente suas emisses. A relevncia
da agricultura decorre do fato do Pas ser um grande produtor agrcola, suprindo tambm boaparte da crescente demanda mundial por alimentos, liderando as exportaes mundiais de
diversas commodities, como, por exemplo, gros (30% do comrcio global de soja) e carne
bovina (25% do comrcio global).
O setor de agricultura e pecuria representa aproximadamente 25% das emisses brasileiras
atuais, percentagem que deve aumentar para 30%, atingindo 820 MtCO2e em emisses at
2030. Metade dessas emisses origina-se na pecuria, onde a fermentao entrica e os
resduos orgnicos das quase 200 milhes de cabeas do rebanho brasileiro produzem metano,
um dos gases do efeito estufa. A outra metade das emisses origina-se nas prticas agrcolas,como, por exemplo, as queimadas para limpeza do terreno antes do plantio e do uso excessivo de
fertilizantes nitrogenados que leva produo N2O, outro gs do efeito estufa. As oportunidades
de abatimento no setor de agricultura e pecuria so significativas, representando 14% do total
do Pas em 2030. As iniciativas identificadas dependem de capacitao e mudanas de prticas
dos agricultores e pecuaristas, assim como investimentos em pesquisa e regulamentao
especfica.
A maior parcela vem, no entanto, do setor florestal. O desmatamento, principalmente do
bioma Amaznia, a maior fonte de emisses de GEE do Brasil sendi responsvel por 55% das
emisses atuais. Esse percentual deve cair para 43% em 2030, partindo-se da premissa de que
o volume desmatado se mantm na mdia histrica dos ltimos 10 anos, em linha com o caso
de referncia do Plano Nacional de Mudanas Climticas6lanado em 2008. A eliminao do
desmatamento at 2030 representa 72% das oportunidades de abatimento brasileiras.
Uma soluo duradoura para eliminar as emisses associadas ao desmatamento deve
partir inicialmente do entendimento sobre o contexto socioeconmico e das foras em ao
na destruio das florestas, principalmente o bioma Amaznia. Como do conhecimento de
especialistas que estudam este tema h dcadas, e dos lderes do setor pblico que enfrentam
esse desafio na prtica, esse entendimento fundamental para o desenvolvimento de umconjunto de iniciativas que possam abordar as questes de forma sistmica.
Para entender os custos associados iniciativa de preservao da floresta Amaznica, por meio
de um modelo de desenvolvimento sustentvel, compilamos as inmeras contribuies de
especialistas no tema e desenvolvemos uma abordagem sistmica que inclui:
(i) Fortalecimento das instituies;
(ii) Reforo do comando/controle do Estado;
6 Governo Federal, Comit Interministerial Sobre Mudana do Clima
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
(iii) Incentivos para o aumento da produo madeireira e de outros produtos florestais por
meio de prticas sustentveis e, por ltimo,
(iv) Investimentos na criao de empregos formais e na melhoria dos ndices de
desenvolvimento humano da populao rural das reas afetadas pelo desmatamento.
Nesse modelo, os gastos associados reduo de emisses de GEE do setor florestal na
Amaznia variam ao longo do tempo. Em mdia, totalizam um custo anual de cerca de 2,5
bilhes7ao longo dos prximos vinte anos, em iniciativas diretamente associadas reduo do
desmatamento, ou5,7 bilhes se consideramos tambm as iniciativas associadas elevao
dos ndices de desenvolvimento socioeconmico da populao rural das regies mais afetadas
pelo desmatamento na Amaznia. No longo prazo, esse investimento ser provavelmente
fundamental para que a populao tenha acesso a empregos de melhor renda e para que se
promova um desenvolvimento sustentvel da regio. Isso se traduz em um custo por toneladade carbono prximo a 8/ tCO
2e.
Diferentemente de outros estudos, este relatrio no avalia o valor econmico da floresta,
que consiste do ganho com a comercializao da madeira proveniente do desmatamento e do
uso alternativo da terra para agricultura, pecuria ou minerao. Nesse caso, seria tambm
necessrio modelar os efeitos secundrios negativos do desmatamento como, por exemplo, a
alterao do regime de chuvas no continente. Essas consideraes foram avaliadas como no
pertinentes questo central abordada neste projeto: o que seria necessrio para reduzir o
nvel atual de desmatamento da Amaznia?
H tambm oportunidades no reflorestamento de reas onde a floresta nativa foi desmatada.
Essas oportunidades podem se transformar em objetivos de explorao comercial, como por
exemplo, de madeira e celulose, ou de recomposio de reas de reservas legais e de reservas
permanentes. Neste caso, os custos podem ser financiados pelo mercado de crdito de carbono
internacional e poderia at transformar-se em uma atividade econmica rentvel.
Em concluso, o estudo indica que para implementar todas as iniciativas identificadas,
resultando na reduo de 70% nas emisses de GEE em 2030, seria necessrio um gastoanual de 5,7 bilhes associados preservao da floresta Amaznica e um gasto crescente
ao longo do tempo com as demais iniciativas, que atinge 8 bilhes em 2030. O gasto total
representa em torno de 1% do PIB do Pas ao longo do perodo. Uma parte significativa desse
gasto pode ser custeada pelo mercado internacional de crditos de carbono. Nesse clculo no
inclumos as iniciativas que tm custo negativo, ou seja, aquelas cujas economias geradas so
maiores que o investimento necessrio.
7 Utilizando uma taxa de cmbio de 1,5 US$/ e taxa de desconto de 4%
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
2. Caso base brasileiro O desmatamento da floresta
Amaznica distorce a baixa intensidade de carbono
no Brasil
O Brasil tem um papelrelevante nas emisses globais de gases do efeito estufa. Em 2005,foi responsvel por 5% das emisses do caso base, ou 2,2 GtCO
2e, posicionando-se como o 4
maior emissor no mundo, segundo o World Resources Institute. O setor florestal brasileiro o
principal responsvel por esta posio de destaque: o desmatamento representa 55% de todas
as emisses de GEE no Brasil. De acordo com o Inventrio Nacional de Emisses publicado
em 2006, anualmente 1,2 GtCO2e8so emitidos na atmosfera na forma de queimadas para
abertura de reas agrcolas, de carvo para siderrgicas, ou para fornecer matria-prima para
produtos madeireiros. Se o setor florestal fosse excludo do inventrio de emisses, o Brasilseria responsvel por somente cerca de 2% das emisses globais.
Um caso base para a evoluo das emisses foi desenvolvido para possibilitar a avaliao
das possveis alavancas para reduzir as emisses de carbono entre 2005 e 2030. Este caso
base considera que todas as atividades econmicas tero os impactos das regulamentaes
existentes e reflete as expectativas atuais sobre a evoluo das condies de mercado. Assim,
estima-se um crescimento de emisses globais anuais de mais de 50% entre 2005 e 2030.
As principais premissas adotadas na modelagem do caso base brasileiro baseiam-se naperspectiva de que o Brasil tem um grande potencial de desenvolvimento a ser capturado nos
prximos anos. Para fins desse modelo, assumimos que a populao ir crescer 0,9 % ao ano at
2030 e o PIB, 3,5 % ao ano at 2015, e 2,8% ao ano entre 2015 e 2030. Essa projeo baseia-
se na expectativa de que a indstria brasileira ter um desenvolvimento robusto, por exemplo,
com a produo de cimento e ao, expandindo na mdia 4,2 % e 4,6% ao ano, respectivamente,
at o final do perodo do estudo. No setor agrcola, o Pas manteria cerca de 6% das reas
globais de pastagens e 4,3% das reas cultivveis. De maneira geral, assumimos preos e
custos de 2005, o preo do petrleo em US$ 60/ barril9e uma taxa de juros de 4% ao ano.
Neste caso base, as emisses brasileiras cresceriam apenas 28% entre 2005 e 2030, como
mostra a Figura 3. Isso se deve ao fato de assumirmos que a principal fonte de emisses,
o setor florestal, se mantm constante em relao mdia observada no perodo de 1996-
2005, perodo usado como base de comparao no Plano Nacional de Mudana Climtica. No
entanto, excluindo-se o setor florestal de nossa anlise, o crescimento esperado no Brasil seria
de 60%, superior mdia global. A maior parte desse crescimento resulta da expectativa de que
o setor industrial brasileiro ter um desenvolvimento intenso no perodo, e do crescimento do
transporte rodovirio, que aumentar em 100% suas emisses.
8 Considera as emisses brutas do Primeiro Inventrio Brasileiro de Emisses Antrpicas de Gases de Efeito Estufa,utilizando os valores mximos de intensidade de carbono por bioma, ajustado para taxa de desmatamento mdia de1990 a 2005 por bioma
9 IEA WEO 2007 International Energy Agency, World Energy Outlook 2007
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
Figura 3
No entanto, o acelerado desenvolvimento econmico do Pas baseia-se em uma plataforma
de baixas emisses. As emisses de GEE em 2005, novamente se excluirmos o setor florestal,
so de 5 tCO2per capitaem 2005, posicionando o Brasil aps a 100 posio no ranking de
intensidade per capita. No caso base, o desenvolvimento econmico elevar esta intensidade
para 7 tCO2per capita, levando o Pas a uma posio mais prxima da Europa atual (10 tCO
2/
capita), mas ainda longe dos EUA (23 tCO2/capita). Se considerarmos o setor florestal, as
emisses de GEE em 2005 per capitaatingem 12 tCO2/capita, que superior mdia europia.
Se compararmos as emisses do Brasil hoje e em 2030 com o restante do mundo, observaremos
comportamentos muito distintos. Uma das principais diferenas entre o Brasil e o restante do
mundo que, enquanto na mdia as emisses do setor de energia so as mais importantes
(27%), no Brasil elas so a segunda exatamente abaixo em termos de menor peso (1,7%). O
setor de transporte terrestre, um outro setor de altssima relevncia para a mdia global, tem
apenas peso moderado no Pas. Em oposio, os setores de agricultura e floresta, de relevncia
mediana na mdia global (22%), so os de maior destaque no Pas (72%).
Emisses de GEE do Brasil no caso base por setor em 2005 e 2030GtCO2e/ ano
FONTE: MCT, IEA, IPCC, UNFCCC, US EPA, Global Abatement Cost Curve v2.0, estudo Caminhos para uma Economia de Baixa Emisso de Carbono
no Brasil
No relacionado
com uso da terra
Agr icu ltu ra
Florestas
2,83
2030
0,42
0,59
1,20
2,21
2005
0,81
0,82
1,20
0,04
0,02
0,42
2005
0,09
0,28
0,13
0,14
0,07
0,03
0,030,02
0,04
0,02
0,07
0,06
0,06
0,04
0,05
0,04
0,81
2030
Energia
Transportes
terrestres
Siderurgia
Qumica
Cimento
Petrleo e gs
Outras indstrias
Resduos
Edificaes
Setores
industriais
Matriz
energtica
Setor deconsumo
Usoda
terra
28%
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
Figura 4
Mundo
Comparao entre o perfil das emisses de GEE do Brasil e do mundo em
2030
0,07Qumica
0,06
Siderurgia
Cimento
0,06Petrleo e gs
0,04Outras indstrias
0,28
0,09Energia
0,05
Transportes terrestres
0,13
0,82
Florestas
Edificaes
Agricultura
Resduos
0,04
1,20 7,2
7,9
4,6
1,7
3,0
3,5
3,5
3,7
4,7
11,4
18,7
FONTE: MCT, Global Abatement Cost Curve v2.0, estudo Caminhos para uma Economia de Baixa Emisso de Carbono no Brasil
GtCO2e, emisses diretas no caso base, 2030
2,83Total 69,9
Peso relativo (%)
3
10
5
2
2
2
2
2
1
29
43
Brasil
27
16
7
5
5
5
4
2
7
11
10
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
3. Oportunidades de abatimento detalhadas por setor H
oportunidades para reduzir as emisses em todos os
setores, mas no setor florestal que o impacto ser maior
Da mesma forma que o setor florestal tm um peso significativo nas emisses brasileiras deGEE, suas oportunidades de abatimento so igualmente importantes, conforme demonstrado
pela curva de custo de abatimento (Figura 5). A maior oportunidade que o Brasil tem para reduzir
os gases de efeito estufa reside em eliminar o desmatamento e promover o reflorestamento
da terra degradada, que representa cerca de 70% da oportunidade de abatimento. Todavia,
apesar dos outros setores (indstria, edificaes, transporte, energia e tratamento de resduos)
apresentarem relevncia relativa menor, em termos absolutos eles representam um abatimento
potencial de 530 MtCO2e, superior quele de vrios pases desenvolvidos.
Figura 5
Oportunidades de abatimento de GEE no Brasil em 2030
FONTE: MCT, Global Abatement Cost Curve v2.0, estudo Caminhos para uma Economia de Baixa Emisso de Carbono no Brasil
Peso relativo (%)
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
3a. Gerao de energia O setor de energia responsvel por
um volume significativo de emisses de carbono nos pases
desenvolvidos, mas no Brasil tem um excelente desempenho
ambiental
A matriz de gerao de energia eltrica brasileira uma das mais limpas do mundo. Com uma
elevada participao de grandes hidreltricas, que respondem por 85% da energia gerada,
o Pas emite em mdia hoje 94 tCO2e para cada GWh de energia produzida. A mdia global
de intensidade de carbono de 580 tCO2e/GWh, incluindo pases com alta dependncia de
termoeltricas a carvo, atingindo 1000 tCO2e/GWh. Essas emisses representam somente 1%
do total emitido pelo Pas, posicionando o setor de energia como o de menor ndice de emisso
de GEE. Na mdia global, essas emisses chegam a 26% do total, posicionando o setor comolder na lista de maiores emissores. A expectativa de que investimentos globais sejam feitos
para gerar um aumento da penetrao das energias nuclear, elica, solar e de co-gerao a
partir de biomassa. Isso poderia reduzir essa intensidade para 170 CO2e /GWh, que, ainda
assim, representa quase o dobro da mdia brasileira atual.
Segundo o Plano Nacional de Energia, a gerao de energia eltrica no Brasil deve mais que
dobrar nos prximos 20 anos. Esse crescimento, apesar de contemplar grandes investimentos
em energia hidreltrica e promover fontes alternativas como a nuclear, acarretar um crescimento
da dependncia de combustveis fsseis de 10 para 14% da matriz de gerao eltrica. Comoconseqncia haver uma triplicao das emisses do setor, de 30 MtCO
2e para 90 MtCO
2e em
2030. Apesar do crescimento relativo ser alto, a participao das emisses do setor no total do
Brasil fica em torno de 3,5%, muito inferior a mdia mundial.
As oportunidades para reduo das emisses alm do caso base so focadas na expanso das
pequenas centrais hidroeltricas (PCHs). As iniciativas de abatimento devem concentrar-se na
substituio de parte das expanses de usinas gs e carvo pela duplicao do volume de
energia de PCHs, Tais investimentos podem levar a uma reduo de 4 MtCO2e, equivalente a
aproximadamente 8% das emisses esperadas para 2030 no caso base.
O custo associado a essa iniciativa baixo, ou at negativo, dada a alta competitividade das
PCHs, porm a extenso do aproveitamento deste potencial seria mais desafiador. Por outro
lado, se a opo brasileira for diminuir sua dependncia da energia hidroeltrica, poderia-se
investir mais agressivamente em energia elica, solar e de biomassa, visto que o Pas tem timas
condies para desenvolver todas essas alternativas. As opes de energia solar e elica ainda
apresentam um custo bem superior s demais, com tendncia de queda no futuro a partir da
evoluo tecnolgica e ganhos de escala. Alm disso, a opo de energia de biomassa poderia
ser mais intensamente explorada.
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
Figura 6
3b. Transporte rodovirio- A elevada penetrao do etanol no
mercado de combustveis impacta positivamente o Brasil
O setor de transporte rodovirio, definido como as emisses da frota nacional de veculos leves
(carros de passageiros) e veculos comerciais leves e veculos pesados, responde por 6% das
emisses brasileiras de GEE atuais, atrs somente dos setores florestal e agrcola. Na mdia
global, o setor o segundo mais relevante, respondendo por 13% dessas emisses. O setor
fortemente beneficiado no Brasil pela alta penetrao do etanol, que j representa mais de 40%
do mercado de veculos gasolina (em contedo energtico). Com mais de 85% das vendas
atuais de veculo leves incorporando a tecnologia flexfuel, a expectativa de que a penetrao
destes veculos aumente dos atuais 20% para mais de 80% at 2020, possibilitando um
deslocamento ainda maior da gasolina. Apesar disso, a intensidade das emisses permanece
alta em funo do atraso nos investimentos para melhoria da qualidade da gasolina e do diesel,
devido a mudanas no cronograma do Programa de Controle de Poluio do Ar por Veculos
Automotores (Proconve).
O caso base projeta um crescimento acelerado da frota brasileira, com um aumento de 115%
entre 2005 e 2030, quando dever atingir 49 milhes de veculos, sendo grande parte do
crescimento originado por veculos leves. As emisses no caso base tm aumento limitado a
100% entre 2005 e 2030, atingindo 280 MtCO2e devido melhoria esperada na qualidade doscombustveis at 2030 (Proconve) e, tomando-se como base a estabilizao da participao
3%
2%
2%
2%
2030 com maior
participao de PCHs
73%
5%
933
14%
2005
401
82%
2030
73%
15%
Grandes
hidroeltricas9%
4%3%
1%
3%
1 Exclui importao de energia
2 Elica e solar
Evoluo da matriz de gerao de eletricidade brasileira no caso base e
com abatimento
%, TWh/ano1
, caso base
FONTE: IEA WEO 2007, PNE, Global Abatement Cost Curve v2.0, estudo Caminhos para uma Economia de Baixa Emisso de Carbono no Brasil
933Outras2
Biomassa
Nuclear
Combustveis
fsseis
4%1%
4%
PCH
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
de 46%10do etanol no mercado de ciclo Otto, e a penetrao de biodiesel atingindo 5%. Este
volume representa 7% das emisses brasileiras esperadas para 2030.
As oportunidades para reduo de emisses no setor de transporte rodovirio podem ser
classificadas em melhorias tecnolgicas e aumento da penetrao de biocombustveis. Foram
mapeadas 16 melhorias tecnolgicas aplicveis a veculos leves, impactando o motor, a caixa
de transmisso, a aerodinmica, o peso e os pneus dos veculos. Alm disso, considera-se a
penetrao de carros hbridos (hbrido puros ou plug-in) e eltricos. A penetrao do etanol
cresce, e j considera a produo com a tecnologia de cana-de-acar e com a lignocelulose de
biomassa, que tem entrada no mercado prevista para depois de 2015. A penetrao de biodiesel
foi considerada limitada do caso base, no apresentando oportunidade, devido a questes
de competio por leos comestveis na produo. No caso de veculos comerciais e pesados,
as oportunidades se concentram em melhorias tecnolgicas (Figura 7). Esses investimentos
devem levar a uma reduo de 25% das emisses esperadas para o caso base em 2030, cercade 70 MtCO
2e, com um custo mdio de 12/ tCO
2e.
Figura 7
10 Em contedo energtico. Fonte PNE 2030 Empresa de Pesquisa Energtica
50 60 70
0
120
0
60
90
-30
-60
30
10 20 30 40
-90
A implementao de iniciativas no setor de t ranspor te tem potenc ial para
reduzir as emisses em 69 MtCO2e anuais em 2030
FONTE: Global Abatement Cost Curve v2.0, estudo Caminhos para uma Economia de Baixa Emisso de Carbono no Brasil
Leves
Comerciais
Pesados
Curva de custo de reduo de gases do efeito estufa no setor de t ransporte terrestre para 2030
Custo
EUR/t CO2e
Veculos leves
(melhorias)
Veculos
hbridos
Etanol de
cana-de-
acar
Etanol de
biomassa
Veculoshbridos plug in
Veculos pesados
(melhorias)
Potencial de abatimento
MtCO2e
Veculos eltricos
Veculos comerciais (melhorias)
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
3c. Siderurgia A perspectiva de intensa expanso da siderurgia
nacional levar a um aumento significativo de suas emisses
O setor siderrgico no Brasil caracterizado pela grande penetrao de usinas integradas,que emitem 2,5 vezes mais carbono do que as usinas eltricas que utilizam metais reciclados.
No entanto, a produo brasileira de ao tambm depende fortemente de carvo vegetal para
produo do ferro gusa, com uma penetrao atual de 35%, o que pode reduzir as emisses, se
o carvo vegetal for produzido a partir de reflorestamento e no de florestas nativas.
O caso base prev um intenso crescimento do setor, motivado pelo prprio desenvolvimento
do Pas e pelas exportaes de produtos semi-acabados. A capacidade produtiva deve atingir
aproximadamente 95 Mt at 2030 (ou seja, 3 vezes a capacidade atual), mantendo a elevada
participao da rota integrada e a participao do ferro gusa produzido com carvo vegetal (dereflorestamento).
As oportunidades de reduo das emisses em siderurgia incluem: (i) diversas iniciativas
para melhoria da eficincia energtica do processo produtivo; (ii) uso de energia renovvel
(substituio do coque mineral pelo carvo vegetal); (iii) utilizao de tecnologias mais eficientes
em novas instalaes (por exemplo, integrao do lingotamento contnuo e laminao quente);
e (iv) tecnologia de captura e armazenamento de carbono (CCS) (Figura 8). As iniciativas com
maior vantagem de custo esto ligadas eficincia energtica, por exemplo, com a instalao
de co-gerao em novas plantas para utilizar os gases dos alto-fornos para gerao de energia.
Outras medidas de eficincia incluem manuteno preventiva, fluxo de processos otimizado(gesto, logstica, IT), melhoria na recuperao de calor, pr-aquecimento de sucata de ferro e
anlise da sucata a laser. A substituio do coque mineral utilizado nas usinas integradas deve
ser feita de forma indireta, estimulando que os fornos eltricos do Pas consumam ferro-gusa
produzido com carvo vegetal no limite da viabilidade tcnica, e liberando sucata metlica para
utilizao nas usinas integradas em substituio ao coque. Essas oportunidades somam em
torno de 28 MtCO2e, com um custo mdio de 4/ tCO
2e. As oportunidades com CCS somam 22
MtCO2e com custo de 46/ tCO
2e. No total, os 50 MtCO
2e de abatimento potencial permitem
que as emisses no caso base em 2030 sejam reduzidas em 38%.
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
Figura 8
3d. Qumico O setor qumico pode reduzir em 50% as emisses
esperadas para 2030
O setor qumico no Brasil tem como caractersticas a forte participao do segmento de
petroqumicos, que representa 60% do volume total produzido, e a utilizao intensiva de
petrleo como fonte de gerao de energia nas plantas, que responde por 40% do equivalente
de petrleo consumido. Na mdia global, grande parte da energia vem do gs natural (40%),
que um tipo de energia mais limpa do que o petrleo e contribui para limitar as emisses. No
entanto, as caractersticas da oferta do produto no Pas limitam sua penetrao alm dos nveis
atuais. As plantas produtivas apresentam como caractersticas positivas a baixa utilizao de
carvo (1%, enquanto globalmente a mdia atinge 14%), e a penetrao de biomassa, que j
atinge 2% da energia utilizada no setor qumico.
No caso base, as emisses devem crescer 2,4 vezes, acompanhando a intensa expanso
esperada para o setor. Uma grande parte desse crescimento resulta de emisses diretas de
vrios gases de efeito estufa gerados nos processos qumicos.
Vinte por cento das oportunidades de abatimento no setor qumico concentram-se na troca do
combustvel utilizado para a gerao de energia, deslocando o uso de carvo e ampliando o
uso do gs natural e de biomassa (por exemplo, bagasso de cana). Normalmente, esse tipo detroca tem um custo econmico negativo (Figura 9). Com relevncia similar, as oportunidades
A implementao de in ic iat ivas no setor de siderurgia tem potencial para
reduzir as emisses em 50 MtCO2e anuais em 2030
FONTE: Global Abatement Cost Curve v2.0, estudo Caminhos para uma Economia de Baixa Emisso de Carbono no Brasil
Potencial de abatimento
MtCO2e
Custo
EUR/t CO2e
Curva de custo de reduo de gases do efeito estufa no setor de si derurgia para 2030
-50
-100
0
50
20 3010 5040
0
Novo
Retrofit
Aumento da eficincia energtica,
novo
Aumento do uso de energia
renovvel - novo
Aumento do uso de energia
renovvel - retrofit
Aumento da eficincia de
maquinaria e processos - retrofit
CCS novo CCS retrofit
Tecnologias e novas
instalaes mais eficientes
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
relacionadas intensificao de processos (por exemplo, melhorias de processos contnuos,
controle de processo, manuteno preventiva e logstica) e otimizao do uso de catalisador
que reduzem emisses diretas a partir da melhoria na estrutura qumica e de reao em
cadeia , trazem vantagens com um custo positivo. Estas e outras oportunidades relacionadas
ao aproveitamento da energia da produo de potncia para gerao de calor, que reduzem aquantidade de combustvel utilizado, somam 24 MtCO
2e em termos de abatimento com um
custo mdio negativo de -18/ tCO2e. As oportunidades com captura e seqestro de carbono
adicionam 9 MtCO2e, apesar de seu custo elevado, correspondendo a 43/ tCO
2e. No total, os
33 MtCO2e, so capazes de abater em 50% as emisses esperadas para 2030.
Figura 9
3e. Petrleo e gs Atualmente as emisses brasileiras do setor
de petrleo e gs so baixas em comparao a outros pases, e as
oportunidades de abatimento so limitadas
As emisses do setor de petrleo e gs incluem as atividades de produo e de refino. As
emisses relativamente pequenas resultantes de explorao e desenvolvimento de petrleo
no esto includas no escopo desta anlise. As emisses de plantas petroqumicas esto
incorporadas no setor qumico; as resultantes da distribuio de produtos esto incorporadas
no setor de transportes terrestres, e as de marketing e consumo final, nos setores de energia,
edificaes e transportes.
CCS
Curva de custo de reduo d e gases do efeito estufa no setor qumico para 2030
A implementao de iniciativas no setor qumico tem potencial para
reduzir as emisses em 33 MtCO2e anuais em 2030
FONTE: Global Abatement Cost Curve v2.0, estudo Caminhos para uma Economia de Baixa Emisso de Carbono no Brasil
305
0
20
40
60
-20 3510 15 20 250
Potencial de abatimento
MtCO2e
Custo
EUR/t CO2e
Sistemas de motor
Troca de combustvel
CHP Craqueamento do etileno
Intensificao de processo
Otimizao de catalisador
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
Comparado a outros pases, o setor de petrleo e gs no Brasil emite pequenas quantidades
de GEEs. Esta qualidade do setor no Pas um reflexo do tipo de petrleo produzido, da
tecnologia empregada nos processos de produo e de refino e, principalmente, devido ao
volume e qualidade das medidas ambientais j adotados pelas empresas no Pas. Alm disso,
h o beneficio de uma matriz de gerao eltrica limpa. Aproximadamente 50% das emissescorrespondem a atividades de refino, outros 30-40% so resultantes das atividades de produo
de petrleo e gs, e os outros 10% oriundos do processamento e distribuio de gs.
No caso base, as emisses brasileiras devem aumentar em torno de 50% at 2030, atingindo
60 MtCO2e, que correspondem a cerca de 2% das emisses. A mdia de crescimento anual no
perodo, em torno de 1% a.a., inferior expectativa de crescimento da produo brasileira,
estimada em 3% a.a, e resulta do fato de que novos campos iro naturalmente adotar tecnologia
mais avanada e os esforos no setor ambiental devem continuar.
As oportunidades de abatimento das emisses somam 20 MtCO2e, representando 35% das
emisses estimadas no caso base em 2030, e 1% do total de abatimento possvel no Pas (Figura
10). Cerca de 40% das oportunidades resulta de iniciativas de melhoria da eficincia no uso de
energia, como o aperfeioamento nos processos de manuteno (garantindo o uso otimizado
dos equipamentos). Devido s economias geradas, o custo tpico dessas oportunidades
negativo, -54/ tCO2e. A outra parte das oportunidades baseada em investimentos em
captura e armazenamento de carbono, que tm um alto custo (45/ tCO2e).
Figura 10
Curva de custo de reduo d e gases do efeito estufa no setor de petrleo e gs para 2030
205 10
0
80
15
CustoEUR/t CO2e
-80
40
0
-40
A implementao de iniciativas no setor de petrleo e gs tem potencial
para reduzir as emisses em 20 MtCO2e anuais em 2030
FONTE: Global Abatement Cost Curve v2.0, estudo Caminhos para uma Economia de Baixa Emisso de Carbono no Brasil
Potencial de abatimento
MtCO2e
Mudanas de comportamento e processos
Melhorias em manuteno e controle de processo
Planejamento
Mudanas de comportamento e melhorias em
manuteno, processos e controles, upstream
Projetos de eficincia energtica,
downstream
Maior eficincia energtica em novas
construes, upstream
CCS
Reduo do flaring
Manuteno por distribuio
Troca de vedaes
Manuteno de compressores
Projetos de eficincia energtica
requerendo capex, upstream
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
3f. Cimento O setor de cimento o que tem perspectivas de maior
crescimento das emisses entre 2005 e 2030
Devido sua caracterstica de intenso desenvolvimento no Pas, a produo de cimento deve
evoluir rapidamente, atingindo em 2030 uma produo quase 3 vezes maior que a de 2005.
O setor produz o insumo bsico para a preparao de concreto, amplamente utilizado para
construes e obras de infraestrutura. Este rpido crescimento gera um aumento nas emisses,
com expectativa de aumento de 1,7 vezes durante o perodo, e faz do setor o que mais amplia
suas emisses no Brasil.
Mais de 70% das emisses das cimenteiras brasileiras esto associadas ao processo de
calcinao do calcrio e argila para produo do clnquer, um produto intermedirio. A
substituio de clnquer por materiais alternativos, como a escria da produo siderrgica,reduz diretamente as emisses do setor. Uma pequena parcela das emisses associada, no
Brasil, a emisses indiretas pelo uso de eletricidade e pela queima direta de combustveis.
No Brasil, as oportunidades de reduo das emisses esto relacionadas, principalmente,
substituio do clnquer e ao uso de combustveis alternativos, com custo negativo de -13/
tCO2e. No caso brasileiro, o principal substituto para o clnquer a escria de alto-fornos da
indstria siderrgica, diferentemente de outros pases que podem tambm utilizar cinzas da
produo de energia em termoeltricas a carvo (Figura 11). Alm disso, no Brasil esta escria
pode ser oriunda de alto-fornos a carvo vegetal, ao invs de coque, o que permite o abatimento
completo das emisses, em funo da origem renovvel da escria. Esta oportunidade
corresponde a 35% do total de reduo de GEE na indstria, que chega a 16 MtCO2e . Outros 25%
resultam do uso de combustveis alternativos, como resduos industriais ou municipais, ou da
utilizao de biomassa. Os 40% restantes de oportunidades de abatimento esto relacionados
captura e armazenagem de carbono, com custo elevado, acima de40/tCO2e. O abatimento
total pode potencialmente reduzir as emisses brasileiras em 30%, em relao ao caso base
para 2030.
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
Figura 11
3g. Tratamento de resduos O segundo maior potencial de
abatimento entre os setores no ligados ao uso da terra est no setor
de tratamento de resduos
O setor de tratamento de resduos slidos e efluentes (esgoto residencial e guas industriais)
o setor com maiores oportunidades de abatimento no Brasil, depois daqueles ligados ao uso da
terra (floresta e agricultura) e aos de transportes terrestres. Estes resduos produzem metano
a partir da decomposio anaerbica de materiais orgnicos. Os fatores que determinam as
emisses de resduos slidos so: a parcela de dejetos orgnicos, a umidade no sistema, as
condies meteorolgicas e o projeto do aterro. Emisses de efluentes (metano e xido nitroso)tendem a ser mais intensas em pases em que o sistema de coleta e tratamento ainda est em
formao.
Sendo o 5 pas mais populoso do mundo, e com nveis de coleta e tratamento de resduos
relativamente baixos, o volume de emisses brasileiro contribui com 53 MtCOse, posicionando
o Pas entre os 10 maiores emissores neste setor. No cenrio base para 2030, essas emisses
devem crescer moderadamente, 26% em relao a 2005, j considerando as iniciativas
existentes para tratamento de gases de aterros.
Para a anlise de oportunidades de abatimento foram consideradas iniciativas em resduos
slidos, tanto em pr-tratamento (por exemplo, reciclagem e compostagem), como em tratamento
Curva de custo de reduo d e gases do efeito estufa no setor de cimento para 2030
0 10 155
0
80
40
-40
-80
CustoEUR/t CO2e
Potencial de abatimentoMtCO2e
A implementao de iniciativas no setor de c imento tem potencial para
reduzir as emisses em 16 MtCO2e anuais em 2030
FONTE: Global Abatement Cost Curve v2.0, estudo Caminhos para uma Economia de Baixa Emisso de Carbono no Brasil
Substituio de clnquer por outros componentes industriais
Substituio de clnquer por cinzas
Combustvel alternativo - resduos
Substituio de clnquer por escria
CCS - retrofit
CCS- novos
Combustvel alternativo - biomassa
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
(por exemplo, captura de gases de aterros). Oportunidades de abatimento em efluentes no
foram avaliadas devido escassez de informaes.
O Pas tem a oportunidade de deslocar totalmente suas emisses no setor, principalmente
atravs de iniciativas de reciclagem de novos resduos slidos gerados (Figura 12). Essas
iniciativas somam 75% do potencial de abatimento do setor, e referem-se ao reaproveitamento
de metais e papis, por exemplo, como insumos em suas cadeias produtivas. A compostagem
de novos resduos slidos representa outros 2% da oportunidade de abatimento. Os restantes
23% das oportunidades esto ligadas intensificao do uso de gases de aterros (para gerao
de eletricidade ou uso direto). Essas iniciativas tm custo negativo mdio negativo, -15/ tCO2e
devido s receitas originadas com as atividades, mas dependem largamente de mudanas de
hbitos, com a introduo da cultura de reciclagem pelas empresas e a populao em geral. As
barreiras tecnolgicas so consideradas mnimas atualmente, e podem estar completamente
eliminadas em 2030.
Figura 12
3h. Edificaes O setor de edificaes apresenta as oportunidades
mais eficientes em custo, mas o potencial de abatimento limitado
O setor de edificaes residenciais e comerciais tem representatividade limitada no
Brasil, respondendo por cerca de 1% das emisses estimadas para o caso base em 2030.
No total, o setor responsvel por 8% das emisses. Essa vantagem, em relao mdia
global, decorre em parte do clima tropical, reduzindo a demanda de energia por sistemas de
0 10 20 30 40 50 60
0
-20
-40
20
A implementao de iniciativas no setor de t ratamento de resduos tem
potencial para reduzir as emisses em 63 MtCO2 e anuais em 2030
Potencial de abatimento
MtCO2e
Custo
EUR/t CO2e
FONTE: Global Abatement Cost Curve v2.0, estudo Caminhos para uma Economia de Baixa Emisso de Carbono no Brasil
Curva de custo de reduo d e gases do efeito estufa no setor de tratamento de resduos para 2030
Uso direto de gases de aterros
Reciclagem de lixo, novos
Gerao de eletricidade em de aterros
Resduos - compostagem, novos
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
calefao e aquecimento de gua. No entanto, 50% das lmpadas utilizadas no Pas ainda so
incandescentes, e a penetrao dos equipamentos eltricos e eletrnicos nas habitaes tem
aumentado recentemente devido a um maior acesso a crdito pelas populaes de baixa renda,
o que aumenta o consumo de energia eltrica.
No caso base, as emisses brasileiras no setor crescem 43%, atingindo 36 MtCO2e em 2030.
Em torno de 65% das emisses so relativas ao segmento residencial, no qual 25% do consumo
de energia tem como fonte a rede de energia eltrica e 75% relativo ao GLP (gs liquefeito de
petrleo), com baixssima penetrao do gs natural (menos de 1%) em comparao mdia
global. O segmento comercial (escritrios e prdios pblicos) responde pelos restantes 35% das
emisses, com uma maior penetrao da rede de energia eltrica (aproximadamente 50%).
As oportunidades de abatimento das emisses no setor somam 8,5 MtCO2e, dos quais cerca de
25% so relativos a melhorias nos sistemas de iluminao e 25% relativos a trocas nos sistemasde aquecimento de gua em edificaes, tanto em residncias como em prdios comerciais
(Figura 13). As oportunidades em iluminao decorrem da troca de lmpadas incandescentes
e CFL (lmpadas fluorescentes compactas) por LEDs com elevada eficincia eltrica. LEDs
apresentam capacidade luminosa de 150 lumens por Watt (lm/W), enquanto CFLs tm 60
lm/W e lmpadas incandescentes tm 12 lm/W. No aquecimento de gua, as oportunidades
surgem da substituio de sistemas eltricos ou a gs por energia solar, podendo atingir at
85% de economia de energia. Outros 20% das oportunidades esto relacionadas com a gradual
substituio de equipamentos atuais por produtos de maior eficincia energtica na linha
branca e em aparelhos eletrnicos, com potencial de 35% de economia de energia. Pacotes
de eficincia energtica adicionam outros 20% de potencial abatimento por meio da reduo
da demanda por energia atravs de melhorias em projetos de isolamento trmico e de fluxos
internos do ar em novos edifcios, utilizando materiais e tcnicas mais eficientes na edificao
de paredes, telhados, pisos e janelas.
Essas oportunidades podem reduzir em 24% as emisses no caso base para 2030, todas elas
com custo negativo, em mdia abaixo de -100/tCO2e, sendo as medidas em iluminao as
mais eficientes em custo. Todavia, o investimento inicial supera as economias financeiras de
curto prazo, o que constitui uma barreira para a populao e construtoras em geral adotarem
tais medidas.
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
Figura 13
3i. Agricultura O setor agrcola o segundo mais relevante
em emisses, atrs somente do setor florestal. H desafios nas
oportunidades de reduo de GEE no setor
A agricultura o segundo setor que mais emite GEE no Brasil, representando 21% das emisses
no caso base para 2030, com 820 MtCO2e, atrs somente do setor florestal. Os gases de efeito
estufa geralmente emitidos so o xido nitroso (46% das emisses do setor na mdia global) e
metano (54%), ao invs de dixido de carbono. Diversas oportunidades de abatimento do setor,
esto relacionadas ao seqestro de carbono.
No Brasil, a principal atividade responsvel por emisses a pecuria, como resultado da
fermentao entrica e do depsito de resduos nos pastos. Estes respondem por 50% das
emisses. Uma outra parcela resulta de prticas agrcolas, como a gesto de nutrientes no
solo (por exemplo, uso excessivo de nitrognio sinttico) e queima de resduos agrcolas (por
exemplo, na lavoura de cana-de-acar). Este volume de emisses faz com que o Pas contribua
com 10% das emisses globais do setor, atrs somente da China.
A expectativa de crescimento das atividades agrcolas no Brasil faz as emisses crescerem
40% entre 2005 e 2030 no caso base. Apesar das atividades pecurias responderem por42% das emisses (95% resultantes de emisses entricas de metano) e 37% do crescimento
Curva de custo de reduo d e gases do efeito estufa no setor de edificaes para 2030
A implementao de iniciativas no setor de edi fi caes tem
potenc ial para reduzir as emisses em 8,5 MtCO2e anuais em 2030
Custo
EUR/t CO2e
Comercial
Residencial
FONTE: Global Abatement Cost Curve v2.0, estudo Caminhos para uma Economia de Baixa Emisso de Carbono no Brasil, IEA
-49
0 1
-350
43 52
-700
6 7 8
0
Luz incandescente
por LED
Luz CFL
por LED
Produtos
eletrnicos
Controle de il uminao
em novos prdios
Linha
branca
Eletrnicosde escritrio
Refrige-
radores
Ar condi-
cionado
Controle de
iluminao retrofit
Aquecimento de
gua troca de
eltrico por solar
Troca de luz
T12 por T8/T5
Controle de ar
condicionado retrofit
Retrofit de envelope
de prdios
Retrofit de
manuteno de
ar condicionado
Retrofit ar
condicionado
Pacote de eficincia
para novos prdios
Aquecimento de
gua - troca de gs
por solar
Potencial de abatimento
MtCO2e
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
esperado, as emisses do solo que apresentam um crescimento mais vigoroso, estimado em
90%, passando a ter uma participao similar da pecuria em 2030. Prticas agrcolas, tais
como a queima de resduos, tm emisses constantes ao longo do perodo, diminuindo sua
participao nas emisses do setor de 30% para 21%.
Trs fatores relevantes nos mercados interno e externo so considerados nas estimativas do caso
base: (i) crescimento populacional (25% entre 2005 e 2030 para o globo); (ii) desenvolvimento
global resultando em crescimento do PIB per capita; e (iii) mudanas nos hbitos alimentares,
aumentando o consumo de carnes. O caso base no considera potenciais consequncias das
mudanas climticas, que podem afetar a produo agrcola (por exemplo, ciclo de chuvas),
dado que a magnitude do impacto ainda incerta. Considera os efeitos de seqestro de carbono
decorrentes da ampliao da rea plantada.
O potencial de abatimento das emisses estimado em 262 MtCO2e, ou 32% das emissesestimadas para 2030 (Figura 14). Cerca de 60% do abatimento potencial est relacionado
atividade pecuria e pode ser dividido em duas iniciativas principais. A primeira relativa
melhoria na gesto dos pastos, possibilitando aumento da criao bovina, hoje limitada a uma
mdia de cerca de 1 cabea por hectare. Isso pode ser alcanado atravs da melhoria gentica
das espcies de pastos utilizados, gesto de incndios e de irrigao e melhorias nas prticas
de gesto de nutrientes dos pastos, que, por sua vez, requerem um uso mais adequado de
fertilizantes.
A segunda iniciativa refere-se gesto da eficincia da fermentao ruminal, com medicamentos
que selecionam as bactrias desejveis e controlam as indesejveis em cmaras de fermentao
animal. Com isso, h uma maior eficincia no aproveitamento de nutrientes e na reduo da
produo de subprodutos indesejveis da fermentao, como o metano. Amplamente utilizados
em confinamentos em todo o Pas, os suplementos alimentares ainda tm custo relativamente
alto e so de implementao mais complexa na pecuria extensiva. Alm disso, esto em
desenvolvimento vacinas que controlam ao de bactrias metanognicas, as quais poderiam
ser uma opo atraente se sua eficcia for comprovada e o custo acessvel.
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
Figura 14
Outros 26% do potencial abatimento esto relacionados a iniciativas de restaurao de solos
agrcolas, geralmente degradados por uso excessivo ou imprprio, eroso, perda de matriaorgnica, salinizao ou acidificao. Esses solos podem ter sua fertilidade restaurada pela
correo dos nutrientes, aplicao de substratos orgnicos como resduos ou compostos,
reduo de aragem (plantio direto) e reteno de resduos agrcolas, e pela conservao da
gua. Estimativas do setor indicam que 26 Mha de reas agrcolas j utilizam plantio direto no
Brasil, prtica que diminu a degradao dos solos. Este alto nvel de penetrao considerado
no caso base. No entanto, h no Brasil em torno de 188 Mha de solos degradados, que segundo
a FAO11encontram-se principalmente no Cerrado e na regio litornea do Pas. H, alm disso,
oportunidades associadas restaurao do nvel de guas de terras alagadas (solos orgnicos).
Quando drenados para possibilitar atividades agrcolas, esses solos tendem a emitir N2O e CO2
As demais oportunidades de abatimento esto distribudas entre iniciativas para melhoria na
gesto de nutrientes na agricultura, incluindo a cultura do arroz e as prticas de gesto de
resduos.
O custo mdio das iniciativas no setor agrcola baixo, em mdia estimado em 2/ tCO2e
para 2030, exigindo pouco investimentos e pequenas adaptaes nas prticas atuais dos
produtores. Esta estimativa no inclui a necessidade de programas de treinamento, a criao de
incentivos, taxas ou ferramentas de monitoramento. Mesmo assim, quantificaes preliminares
indicam um custo inicial adicional limitado a 1/ tCO2e. A implementao dessas iniciativas
11 Food and Agricultural Organization, Naes Unidas
Curva de custo de reduo d e gases do efeito estufa no setor agrcola para 2030
40
-20 0 250
-40
-60
50 100
CustoEUR/tCO2e
150
0
20
200
A implementao de iniciativas no setor agrco la tem potencial para
reduzir as emisses em 262 MtCO2e anuais em 2030
Prticas de plantio direto e gesto de resduos
Gesto de nutrientes em plantaes
Gesto de nutrientes em pastos
Arroz - inundao rasaGesto de nutrientes em arroz
Gesto de pastos
Restaurao de solos orgnicos
Pecuria - vacina antimetano
Prticas agronmicas
Restaurao de terras degradadas
Suplementos alimentares para gado
FONTE: Global Abatement Cost Curve v2.0, estudo Caminhos para uma Economia de Baixa Emisso de Carbono no Brasil
Potencial de abatimento
MtCO2e
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
enfrenta barreiras relacionada alta fragmentao dos produtores. Em diversas regies, as
atividades agrcolas so puramente para subsistncia e, neste caso, usar o argumento da
mudana climtica como motivador no muito eficaz.
3j. Florestas- A maior parte das oportunidades para abatimento
de GEE no Brasil est no setor florestal, e inclui a reduo do
desmatamento e a recuperao de reas degradadas. No entanto, a
implementao de iniciativas estruturais na regio complexa.
O setor florestal brasileiro tem recebido a maior parcela de ateno na agenda brasileira de
mudanas climticas. Isso ocorre no apenas pela magnitude de suas emisses de gases
do efeito estufa, mas tambm por outros potencias impactos negativos como a perda de
biodiversidade e mudanas no regime de chuvas. Alm disso, o Brasil detm o maior estoque de
florestas tropicais do mundo (em torno de 460 Mha), correspondendo a mais da metade do total
mundial. tambm o Pas que apresenta uma das maiores taxas de desmatamento absoluto,
com uma mdia anual em torno de 1,9 Mha/ano na regio entre 1996 e 2005, perodo de
tempo analisado no Plano Nacional de Mudanas Climticas. O bioma da floresta Amaznica,
analisado nesse Plano, o que apresenta a maior taxa de desmatamento, e tambm o que
detm o maior estoque de carbono no Pas.
Nos ltimos anos, o governo tomou uma srie de iniciativas para reduo do desmatamento,destacando-se o Plano de Ao para a Preveno e Controle do Desmatamento na Amaznia
Legal (PPCDAM)12, que resultou em 60% de reduo da rea anualmente desmatada no perodo
entre 2003 e 2008. Em segundo lugar, o Plano Nacional sobre Mudana do Clima13, de dezembro
de 2008, que tem como objetivo reduzir gradualmente o desmatamento e elimin-lo at 2040.
Como resultado da ocupao histrica da regio Amaznica, a populao aumentou de 10 para
25 milhes nos ltimos 30 anos. Cerca 6 milhes vivem em reas rurais e estimamos que em
torno de 700 mil esto envolvidos direta ou indiretamente com atividades econmicas que
levam destruio da floresta, como a indstria madeireira e a pecuria.
Muitos especialistas que estudam este tema h dcadas, e lderes do setor pblico que enfrentam
esse desafio na prtica, defendem que necessrio uma abordagem sistmica para eliminar
as emisses associadas ao desmatamento. Essa abordagem sistmica deve visar criao de
alternativas de emprego formais e uma oferta de produtos baseados em atividades legais que
utilizem prticas sustentveis. Um elemento importante de qualquer soluo para este quebra-
cabea provavelmente uma presena mais forte das instituies pblicas, iniciando com a
implementao eficaz de iniciativas para a regularizao fundiria.
12 Plano elaborado pelo Grupo Permanente de Trabalho Interministerial para Reduo dos ndices de Desmatamento daAmaznia Legal do Governo Federal coordenado pela Casa Civil
13 Elaborado pelo Comit Interministerial sobre Mudanas do Clima
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
Para entender o custo da iniciativa de preservao da floresta Amaznica, associada a um modelo
de desenvolvimento sustentvel, compilamos as inmeras contribuies de especialistas no
tema e modelamos uma abordagem sistmicaque considera:
(i) o fortalecimento das instituies,
(ii) o reforo do comando/controle do Estado,
(iii) incentivos para o crescimento de prticas sustentveis, e por ltimo, mas talvez to
importante,
(iv) investimentos na criao de empregos formais e na melhoria dos ndices de
desenvolvimento humano da populao rural (Figura 15).
Figura 15
H alguns pr-requisitos a serem considerados para que um esforo de reduo de desmatamento
seja efetivo no longo prazo. Em primeiro lugar, fundamental haver uma regularizao fundiria,
ou seja, saber de quem a terra, pois, sem isso, no temos chance de aplicar a lei ou atrair
mais empresas formais e srias para o campo. Hoje, menos de 10% das terras tm ttulos de
propriedade claros. Alm disso, necessria a execuo da lei no campo, com mais recursos
policiais e um Sistema Judicirio mais eficiente. Para realizar esses esforos, estimamos um
investimento de 1 bilho por ano14(Figura 16).
14 Foi considerado o cmbio de 3 R$/EUR no caso de iniciativas para evitar o desmatamento
Incentivos
Desenvol-
vimento
Fortaleci-
mento das
instituies
Monitoramento
A
B
C
Monitoramento ambiental4
Garantia de origem5
Guardies da floresta6
Incentivos para manuteno e recuperao da floresta7
Subsdios/crdito para produtos alternativos8
Penalidades por atividades no-sustentveis9
Regularizao fundiria1
Polcia2
Judicirio3
Desenvolvimento econmico10
11 Desenvolvimento social
D
FONTE: Estudo Caminhos para uma Economia de Baixa Emisso de Carbono no Brasil
Iniciativas para preservao da floresta Amaznica
Alavancas Iniciativa/ao
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CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA DE BAIXA EMISSO DE CARBONO NO BRASIL
Figura 16
Uma base institucional mais forte aumentaria a probabilidade de sucesso na implementao e
captura dos benefcios das iniciativas de monitoramento e controle. Analisamos o conjunto das
idias propostas para essa categoria e estimamos que seria possvel uma fiscalizao eficazcom um investimento anual em torno de 0,5 bilho. Por exemplo, para monitorar os parques
existentes de forma eficiente, ser necessrio triplicar o numero dos agentes. A implementao
de sistemas inteligentes de rastreabilidade do gado e da madeira tambm fundamental
para o sucesso do monitoramento e controle do Governo. Por fim, necessrio investir em
recompensar as comunidades tradicionais pelo trabalho efetivo de monitoramento que j feito
atualmente, e que pode ser expandido e potencializado.
Simplesmente apontar as causas do desmatamento no suficiente. Em algumas regies, as
atividades associadas ao desmatamento so fundamentais para o funcionamento da economialocal. Seria necessrio criar incentivos para que novas cadeias produtivas sejam formadas e
substituam as atuais. Especificamente para a criao de atividades formais nas cadeias de
gado e madeira, como o manejo sustentvel certificado e a intensificao da pecuria, de forma
que seja possvel at duplicar a produo com a mesma rea utilizada por meio de uma gesto
ativa de pasto. Com iniciativas desse tipo, possvel aumentar a produo dessas cadeias
produtivas sem provocar o desmatamento, alm de gerar mais empregos formais e tributos para
o governo. Existe tambm a opo de implementar mecanismos de pagamento por servios
ambientais para os proprietrios de terras que optem por conservar suas terras com floresta.
Estimamos que um volume anual de cerca de 0,8 bilhes de incentivos e pagamentos por
servios ambientais seria suficiente para encadear esse processo.
Custo anual dos esforos necessrio para evitar o desmatamento da
floresta Amaznica em 5 frentes
ESTIMATIVAS
FONTE: Estudo Caminhos para uma Economia de Baixa Emisso de Carbono no Brasil
0,5
1,5
1,8
5,7
0,8
1,1
A
Fortalecimento
de instituies
B
Monitoramento
C
Incentivos
Custo totalSocialEconmico
D
Desenvolvimento
bilhes por ano, custo mdio anual at 2030
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De acordo com nosso modelo, os gastos associados reduo de emisses de floresta descritos
acima variam ao longo do tempo, pois alguns so investimentos estruturais e outros so gastos
recorrentes. Totalizam um custo mdio anual de cerca de 2,4 bilhes ao longo dos prximos
vinte anos, perodo suficiente para eliminar o desmatamento. Assumindo uma reduo linear
do desmatamento nesse perodo, obtemos um custo mdio de emisso evitada por tonelada deCO
2e de3,5. Aps o perodo inicial de vinte anos, podemos assumir que os custos associados
reduo do desmatamento sero muito menores, visto que todos os investimentos estruturais
tero sido feitos e uma nova economia sustentvel estar desenvolvida.
Alm das iniciativas que visam diretamente reduo do desmatamento, considera-se importante
no longo prazo garantir um nvel de desenvolvimento econmico e social nas regies menos
desenvolvidas do Norte do Pas, assim como em polos de emigrao para essa regio. Alm das
atividades rurais sustentveis mencionadas anteriormente, seria necessrio criar empregos
urbanos com maior valor agregado nas pequenas cidades e aumentar o investimento emdimenses bsicas como sade e educao na regio Amaznica para melhorarmos os ndices
de desempenho humano da populao. No longo prazo, esse investimento ser provavelmente
fundamental para que a populao tenha acesso a empregos de melhor renda e se promova
um desenvolvimento sustentvel da regio. O custo incremental nessas reas estimado em
torno de 3 bilhes por ano. Esse custo pode ser visto como um gasto do Pas necessrio para
trazer os Estados do bioma Amaznia ao patamar da mdia nacional, ou includo no balano
geral do custo de reduo do desmatamento. Se a sociedade optar pela segunda alternativa,
o custo total para se evitar os 0,8 GtCO2e emitidos anualmente pelo desmatamento do bioma
Amaznia chegar a 5,7 bilhes por ano, ou 8/ tCO2e.
Figura 17
Curva de custo de abatimento p ara o setor agrcola para 2030
0 100 1.000 1.100 1.200 1.300200 300 400 500
0
900800700600
10
1520
25
5
CustoEUR/tCO2e
A implementao de iniciativas no setor de f lorestas tem potencial para
reduzir as emisses em 1,36 GtCO2e anuais em 2030
Reduo do desmatamento no Amaznia
FONTE: Global Abatement Cost Curve v2.0, estudo Caminhos para uma Economia de Baixa Emisso de Carbono no Brasil
Potencial de abatimento
MtCO2e
Gesto florestal
Florestamento de reas agrcolas
Reflorestamento de florestas degradadas
Florestamento de pastos
Reduo do desmatamento Amaznia
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Os 30% de emisses devidas a desmatamento fora do bioma Amaznia esto, em grande parte
(80%), concentrados no Cerrado e no Pantanal. Para evitar o desmatamento nas outras regies
estimamos um custo anual de600 milhes ou1,8/ tCO2e. O custo menor que para o bioma
Amaznia, pois nesse caso no consideramos investimentos em desenvolvimento econmico e
social e fortalecimento das instituies. A Figura 17 ilustra a curva de custo associada a todasas iniciativas do setor florestal.
Os esforos implementados recentemente mostram o comprometimento do setor pblico e
privado para reduzir o desmatamento. No mbito governamental, ressalta-se o grande esforo
de demarcao de unidades de conservao, novas regulamentaes que limitam o acesso
a crdito para propriedades com passivo ambiental, criao de novas linhas de crdito para
reflorestamento e a sistematizao dos planos de combate ao desmatamento dos Estados. H
tambm iniciativas para reduzir o consumo de madeira ilegal, como as novas normas da Caixa
Econmica Federal para aprovar financiamentos de moradia, e a nova lei do Estado de SoPaulo, que promove o consumo de madeira sustentvel. Por fim, a iniciativa privada tambm
est empreendendo esforos importantes como a Moratria da Soja.
Por fim, destaca-se a criao do Fundo Amaznia, que pode ser um veculo importante para
apoiar iniciativas sistmicas que visam reduzir o desmatamento e promover o desenvolvimento
sustentvel da regio.
Alm das oportunidades de reduo nas emisses associadas ao desmatamento, foram
consideradas oportunidades em reflorestamento de reas marginais de pastos e terras
agrcolas, em gesto florestal (por exemplo, combate a incndios), e em reflorestamento de
terras degradadas, em um total de 0,75 Mha adicionais de florestas anualmente, totalizando 16
Mha plantados em 2030. Essas iniciativas representam uma oportunidade de 158 MtCO2e para
seqestro de carbono, uma frao de 13% da oportunidade de abatimento total em florestas, a
um custo mdio de 9/ tCO2e.
Este volume de terras reflorestadas conservador quando comparado ao potencial do Brasil
de utilizao das reas degradadas para seqestro de carbono atravs do reflorestamento.
O Pas tem mais de 180 milhes de hectares de terras degradadas. H um grande potencial
de reflorestamento, especialmente na regio amaznica, onde a velocidade de crescimentoda floresta superior mdia mundial. Esse reflorestamento pode ser feito por meio de uma
combinao de atividades florestais comerciais. O Brasil j lder mundial em produo de
celulose e tem potencial para se consolidar como lder em produtos madeireiros e reflorestamento
com espcies nativas para recomposio das reas de reserva legal e de reas de preservao
permanente, sem fins comerciais.
Esse reflorestamento sem fins comerciais poder ser financiado por crditos de carbono do
mercado internacional. Esse mecanismo j opera hoje em pequena escala e tende a aumentar
rapidamente, visto que as oportunidades de reduo de emisses no so suficientes paraatingir as metas desejadas. Existem 9 GtCO
2e de emisses em 2030 para as quais no
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existem alternativas de reduo com custo inferior a 60 por tCO2e. Para esse volume ser
necessrio implementar novas tecnologias com custo elevado ou seqestrar carbono emitido.
Nesse contexto, o reflorestamento uma opo muito atraente. Se assumirmos que 25% desse
volume at 2030 (2,3 GtCO2e/ano) ser capturado com o reflorestamento de 230 Mha em nvel
global e um preo mdio de crdito de carbono de 20-30/t, teremos um mercado de quase25-30 bilhes anualmente. O Brasil se encontra muito bem posicionado para capturar uma
fatia relevante desse mercado.
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4. Implicaes A necessidade de investimento,mobilizao dos agentes e as implicaes para a
sociedade esto concentradas no setor florestal
Embora nosso estudono tenha o objetivo de apresentar um roteiro dos caminhos parao Brasil se tornar uma sociedade de baixa emisso de carbono, ele indica que isso factvel.
Cabe sociedade encontrar o caminho para realizar essa meta para a prxima gerao. A curva
de custo projetada indica que somente a implementao das iniciativas no relacionadas
preservao das florestas exigiria um gasto anual, com aquelas de custo positivo, que cresce
ao longo do tempo e atinge 8 bilhes por ano em 2030. Nesse clculo no incluimos as
iniciativas que tm custo negativo, ou seja, aquelas cujas economias geradas so maiores que
o investimento necessrio.
Com a preservao da floresta Amaznica, o gasto anual estimado varia entre 2,4 e 5,7
bilhes, dependendo se os custos de desenvolvimento econmico e social forem includos ou
no queles diretamente associados reduo do desmatamento.
Assim, os gastos totais associados implementao de todas as iniciativas, que resultam em
uma reduo de 70% das emisses do Pas, variam ao longo do tempo e representam cerca de
1% do PIB nacional. Uma parte significativa desse gasto poderia eventualmente ser custeada
pelo mercado internacional de crditos de carbono.
Alm dos custos associados a redues de emisses, ressaltamos que o Brasil tem potencialmente
uma grande oportunidade a ser explorada com o reflorestamento de terras degradadas para
obteno de crditos de carbono. Esse mercado hoje ainda incipiente, mas existe um cenrio
de crescimento rpido se a regulamentao internacional evoluir favoravelmente.
Esperamos que os fatos apresentados por este relatrio possam ser teis para os tomadores
de deciso, de forma a gerar benefcios para o Pas, em especial neste momento, em que os
tpicos em questo esto sendo avaliados globalmente.
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ANEXOS
Anexo 1 Abordagem do modelo
Neste relatrio, os custos e o potencial de reduo de mais de 100 medidas de combate a
emisses em seis setores da economia foram analisados atravs de um processo dividido
em quatro fases. Em primeiro lugar, foi determinado um caso base mantendo as tendncias
atuais para emisses atuais e futuras. Em seguida, foram identificadas as oportunidades para a
reduo de emisses e, com base em fatos, feitas estimativas dos custos e do volume potencial
de reduo apresentado por cada oportunidade. Em terceiro lugar, os custos e volumes foram
agregados formando a curva de custos de reduo de emisso de gases de efeito estufa parao Brasil. A quarta e ltima etapa consistiu em analisar o impacto dos possveis cenrios em
termos de regulamentao e tecnologia sobre os custos e potencial de reduo e quantificar as
provveis conseqncias econmicas para o Brasil.
Fase 1: O caso base foi determinado utilizando o inventrio de gases do efeito estufa do governo
brasileiro. Para 2030, as informaes disponveis foram extrapoladas com base em premissas
e metodologia coerentes com a abordagem do IPCCC. As previses representam a trajetria de
emisses que ocorreriam com as atuais tendncias e com todas as polticas pblicas em vigor
a partir de 2006, porm no inclui qualquer esforo adicional para o combate s mudanasclimticas. Considera uma taxa projetada de crescimento econmico de 3%, o que significa
que a intensidade de carbono da economia (produo econmica por unidade de emisso de
carbono) continuar a cair, de acordo com a tendncia padro de longo prazo resultante de um
desenvolvimento econmico do case base, ou seja, sem grandes mudanas. Essa tendncia
impulsionada pelo crescimento relativo do setor de servios e outros efeitos de descarbonizaco
sem a adoo de qualquer medida de combate.
O caso base representa emisses diretas assim, o setor de energia inclui todas as emisses
provenientes de atividades de gerao de energia, independentemente do usurio final naponta da cadeia de energia.
Fase 2: Foram avaliadas possveis oportunidades e custos para a reduo de emisses.
Analisamos uma srie de oportunidades de reduo, incluindo fontes de energia renovvel,
combustveis alternativos, medidas de eficincia energtica e novas tecnologias, de forma a
estudar maneiras de substituir atividades geradoras de gases de efeito estufa por alternativas
menos impactantes ou carbono neutras. As medidas consideradas foram apenas as que exigem
a mobilizao de tecnologias atuais, alm de um pequeno nmero de tecnologias emergentes
em fase de amadurecimento. Tecnologias experimentais ou incipientes no foram includas,
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tampouco foram consideradas na anlise tecnologias que exigem mudanas significativas de
hbitos. Por exemplo, foi considerada a substituio de combustveis e veculos de passeio
mais eficientes, mas campanhas em defesa do uso do transporte pblico ou de bicicletas para
substituir esses veculos no foram includas. Da mesma forma, a eficincia de sistemas de ar
condicionado em residncias foi considerada, mas no a reduo do uso de ar condicionado.
Para cada oportunidade analisada, o custo de reduo considerado como o custo adicional
para a sociedade com a implementao da oportunidade comparado ao custo da atividade que
ocorreria sem a adoo de qualquer medida (caso base). Por exemplo, o custo de reduo da
energia elica calculado pelo custo adicional de gerao acima do custo mdio de gerao
de ativos energticos, mantida a situao atual (caso base), e pela quantidade de emisses
que pode ser evitada com cada unidade de produo de energia elica. O modelo de custo
elaborado com base no custo total durante a vida til da oportunidade ou do ativo. Vale ressaltarque no abordamos a questo sobre quem se responsabilizaria pelos custos adicionais, se sero
subsidiados por governos, repassados ao consumidor, ou arcados por empresas. Simplesmente
adotamos como premissa que o custo econmico permanece o mesmo.
Embora esses custos provavelmente representem a maior parte dos custos para a economia
brasileira, no incluem custos transacionais difceis de quantificar, como o tempo de gesto
necessrio para implementar as mudanas. Alm disso, so custos brutos, ou seja, no foi
incorporado o custo provvel de um cenrio braos cruzados, como os custos engendrados
por um declnio na produo agrcola. Tambm no buscamos quantificar a criao esperadade valor na economia em conseqncia da busca de novas oportunidades de negcios.
Oportunidades ligadas ao estilo de vida