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MÓDULO 3
1. DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS: CLASSIFICAÇÃO E CONCEITOS.
2. EPIDEMIOLOGIA E PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS.
3. SISTEMA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA.
4. EPIDEMIOLOGIA HOSPITALAR.
_______________________________________________________________
1. DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS: CLASSIFICAÇÃO E CONCEITOS.
Este módulo pretende transmitir conhecimentos sobre o comportamento
das doenças transmissíveis, esclarecer alguns conceitos que são fundamentais
para a compreensão da matéria e as consequências quando do acometimento
do ser vivo.
A doença transmissível é causada por um agente infeccioso ou seus
produtos tóxicos, que se manifesta pela transmissão desse agente, de uma
pessoa ou animal infectado ou de um reservatório, para um hospedeiro
susceptível. (OPAS, 1992). Isto é, aquela cujo agente biológico é vivo e é
transmissível.
Por reservatório entende-se ser um lugar que serve de fonte contínua
onde o agente infeccioso vive e se multiplica, por exemplo, homem, animal,
vegetal, solo, matéria inanimada, ou mesmo a combinação destes.
Por hospedeiro entende-se ser o homem ou animal vivo que oferece
condições para o agente se alojar, por exemplo, aves, artrópodes...
A doença infecciosa é a manifestação resultante de uma infecção, isto é,
é uma doença clinicamente manifesta do homem ou do animal, resultante de
uma infecção.
A doença não infecciosa são todas aquelas que não resultam de
infecção e são chamadas de doenças crônicas não transmissíveis – DCNT,
como, por exemplo, as doenças coronarianas
De maneira geral as doenças podem ser classificadas pelo seu tempo
de duração como:
Doenças crônicas: são aquelas doença que evoluem em longo prazo,
isto é, doenças que têm história natural prolongada, longo período de
latência, sendo lenta e prolongada.
Doenças agudas: são aquelas de curta duração, isto é, aquelas que têm
modo de ocorrência grave com coeficiente de letalidade elevado. Ex.
septicemias.
Etiologia Duração
Doenças Agudas Crônicas
Infecciosas Doenças infecciosas
agudas: tétano,
meningite
meningocócica, difteria,
sarampo, gripe.
Doenças infecciosas
crônicas: tuberculoses,
hanseníase, doença de
chagas.
Não infecciosas Doenças não
infecciosas agudas:
envenenamento por
picada de cobra.
Doenças não
infecciosas: diabetes,
cirrose alcoólica,
doenças coronarianas.
A entrada de agente, um microorganismo capaz de produzir infecção ou
doença infecciosa, num novo hospedeiro, isto é, transferência de um agente
etiológico animado, de uma fonte primária de infecção para um novo
hospedeiro, pode ser feita da seguinte forma:
Transmissão direta:
De outro indivíduo da mesma espécie infectado. Ex: espirro, beijo...
Da mãe para o feto por via placentária. Ex. AIDS
De outra espécie igualmente suscetível.
Transmissão indireta:
Necessita de um suporte mediatizador, isto é, da ação/contribuição de
um vetor biológico infectado.
Veiculado por algum elemento não vivo, seja físico ou biológico.
Por vetor biológico entende-se ser aquele que além de funcionar como
veiculador do agente infeccioso tem, também, a função de abrigo biológico, no
qual o agente cumpre parte de seu ciclo vital. Ex: esquistossomose.
Seguem alguns conceitos necessários para a compreensão do conteúdo
sobre doenças transmissíveis.
Infecção: penetração e desenvolvimento/multiplicação de um agente
infeccioso no organismo de uma pessoa ou animal. É resultante de
associação de múltiplos fatores, mais a presença de um agente vivo;
Infectividade: capacidade que têm certos organismos de penetrarem e
de se desenvolverem/multiplicarem no hospedeiro, ocasionando
infecção. Ex: o vírus da gripe que com, o passar de longo tempo, o
micróbio muda gradualmente de parasita a comensal. Há uma
adaptação mútua e necessária para a sobrevivência do parasita;
Patogenicidade: é a qualidade que tem o agente infeccioso de produzir
sintomas (doença) nos hospedeiros infectados. Ex: O sarampo tem alta
patogenicidade e a poliomielite baixa patogenicidade, isto é, 1% dos
infectados desenvolvem a paralisia;
Virulência: é a capacidade de um agente produzir casos graves ou
fatais. Ex: a raiva que é 100% fatal.
Dose infectante: é a quantidade do agente etiológico necessária para
iniciar uma infecção. Varia com a virulência do bioagente e a resistência
do acometido, quanto maior o número de parasitas inoculados no
suscetível, maior a probabilidade de infectá-lo. Ex: a malária acontece
com apenas uma picada;
Poder invasivo: é a capacidade que tem o agente de se difundir, através
de tecidos, órgãos e sistemas do hospedeiro. Ex: a tuberculose.
Imunogenicidade: é a capacidade que tem o agente para induzir
imunidade no hospedeiro. Uma vez infectado a pessoa fica imune o
resto da vida. Ex: sarampo, rubéola têm alto poder imunológico, já, a
salmonela tem baixo poder imunológico, pois produz uma imunidade
temporária.
Indivíduo suscetível: é a pessoa ou animal sujeito a adquirir uma
infecção. Permite o desenvolvimento do bioagente patogênico.
Indivíduo resistente: é aquele que, por via de algum mecanismo natural
ou por meio de imunização artificial, tornou-se capaz de impedir o
desenvolvimento de agentes infecciosos. Ex: o homem é refratário ao
bacilo da cólera aviária.
Num dado momento o conjunto de todos os indivíduos de uma espécie
hospedeira suscetível será formado por:
Indivíduo infectado: é a pessoa ou animal que aloja um agente
infeccioso, com ou sem manifestações da doença. Pode ser doente ou
portador. Trata-se daquele indivíduo ou animal infectado que não
apresenta sintomas, sendo, portanto, fonte potencial de infecção. Ex:
HIV. Pode ser portador temporário ou portador crônico.
Indivíduo infectante: é a pessoa ou animal do qual o agente infeccioso
possa ser adquirido em condições naturais.
Mais alguns conceitos:
Veículo – objeto inanimado que serve para transmitir a doença. Ex:
alimento são veículos de agentes infecciosos e também de suas toxinas,
assim como, água, leite, corpo, roupa de cama, brinquedos,
instrumentos cirúrgicos...
Vetor – organismo vivo que serve para transmitir a doença. Ex: insetos,
suas patas, asas...
Reservatório – um lugar que serve como fonte contínua da doença onde
o agente infeccioso vive e se multiplica. Ex: homem, animal, vegetal,
solo, matéria inanimada ou combinação destes.
A trajetória das doenças infecciosas acontece durante os seguintes
períodos:
Período de incubação - inicia-se com a infecção e dura até o início do
horizonte clínico. É variável, pois a infecção da cólera se dá em algumas
horas, já a da hanseníase em alguns anos.
Período prodrômico – manifestação de sinais e sintomas inespecíficos.
Não é possível ainda definir a doenças. É o lapso de tempo entre os
primeiros sintomas da doença e o início dos sinais e sintomas com os
quais o diagnóstico pode ser estabelecido.
Período de estado - manifestações clínicas características da doença.
Passou do horizonte clínico.
Período de convalescença - remissão das manifestações clínicas
Período de transmissão - agente infeccioso pode ser transferido de uma
pessoa infectada para outra, direta ou indiretamente, ou de um animal
ao homem, ou ainda do homem para o animal.
Exercício:
A capacidade de um agente infeccioso causar doença em um
hospedeiro suscetível é o conceito de:
a) Infectividade
b) Imunogenicidade
c) Patogenicidade
d) Virulência
e) Imunidade
Resposta
c) Patogenicidade
2. EPIDEMIOLOGIA E PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS
As doenças transmissíveis eram a principal causa de morte nas capitais
brasileiras na década de 1930, perfazendo um terço dos óbitos da área urbana.
A partir da década de 1960, as doenças do aparelho circulatório
passaram a compor a principal causa de morte no país
Dentre os motivos da redução podem-se destacar as melhorias
sanitárias, o desenvolvimento de novas tecnologias, como vacinas e
antibióticos, a ampliação do acesso aos serviços de saúde e as medidas de
controle adotadas.
Apesar da redução na mortalidade, ainda há um impacto importante
sobre a morbidade, pois ainda há doenças para as quais não se dispõe de
mecanismos eficazes de prevenção, além das doenças que apresentam uma
estreita associação com causas ambientais, sociais e econômicas.
A situação atual das doenças transmissíveis, no Brasil, aponta para a
ocorrência de:
Doenças transmissíveis com tendência descendente ou declinante como
a poliomielite (erradicada), raiva humana, rubéola congênita, tétano,
varíola (erradicada), coqueluche, entre outras;
Doenças transmissíveis com quadro de persistência: tuberculose,
meningites, hanseníase, malária (Amazônia), Leishmaniose visceral,
entre outras;
Doenças transmissíveis emergentes e reemergentes: Aids, cólera,
dengue, entre outras.
Segue abaixo gráfico demonstrando a Taxa de incidência de Cólera no
Brasil e Regiões, 1991-2005.
Fonte: http://crv.educacao.mg.gov.br/
Taxa de incidência de Tuberculose no Brasil, 2007.
Taxa de incidência de AIDS (por 100.000 hab.) em jovens de 15 a 24
anos por sexo e ano de diagnóstico. Brasil, 1985 a 2010. Disponível no Boletim
Epidemiológico AIDS DST
Mapa da epidemia de AIDS no Brasil, 1980-2010.
Prevenção e controle de doenças transmissíveis
Seguem alguns conceitos:
Controle – redução de casos da doença a um patamar aceitável
(medidas de controle continuadas para evitar a recrudescência). Os
programas são desenvolvidos com o objetivo de reduzir sua incidência
ou prevalência até constituir um nível que não seja mais problema de
saúde pública;
Erradicação – eliminação total da circulação do agente infeccioso
(podendo suspender medidas de prevenção/controle). Cessação de toda
transmissão da infecção pela extinção artificial da espécie do agente.
Erradicação regional ou eliminação é a cessação da transmissão de
determinada infecção em ampla região geográfica ou jurisdição política;
Eliminação ou erradicação regional - erradicação circunscrita a
determinada região (país ou continente);
Doenças imunopreveníveis são aquelas preveníveis por vacinas,
visando imunizar, proteger, tornar o indivíduo livre de contrair a doença.
Porém, um indivíduo pode ter sido vacinado e não se tornar imune, pela
utilização de uma técnica inadequada, vacina vencida ou mal
transportada e armazenada inadequadamente.
Tipos de Imunidade
Imunidade é o estado de resistência, geralmente associado à presença
de anticorpos ou células que possuem ação específica sobre o micro-
organismo responsável por determinada doença infecciosa ou sobre suas
toxinas. Os tipos de imunidade podem ser:
Imunidade Passiva Natural: adquirida por via transplacentária. De curta
duração dias ou meses, que pode ser obtida naturalmente pela
transmissão placentária;
Imunidade Passiva Artificial: pode ser obtida artificialmente pela
inoculação de anticorpos protetores;
Imunidade Ativa Natural: pode durar até anos e ser adquirida
naturalmente em consequência de uma infecção com ou sem
manifestações clínicas.
Imunidade Artificial: pode se adquirida mediante a inoculação de frações
ou produtos do agente infeccioso, do próprio agente morto ou atenuado
ou, ainda, de suas variantes, induzida pela aplicação de vacina.
Imunidade: Vacina x Soro
São produtos de origem biológica (imunobiológicos) usados na
prevenção e tratamento de doenças.
Soro: contém anticorpos necessários para combater uma determinada
doença ou intoxicação. Ex: tétano. O soro é curativo, por exemplo, o soro
antiofídico, feito a partir do veneno da cobra
Vacina: são produtos de origem biológica que contém microorganismos
vivos ou mortos, ou frações destes, possuidoras de propriedades antigênicas,
ou suas toxinas, capazes de induzirem a uma resposta imunológica sem
produzirem a doença. Induz a imunidade ativa e específica contra um
determinado microorganismo. A vacina é preventiva.
A vacina é essencialmente preventiva e o soro é usado para tratamento.
Exercício
Qual o significado de portador assintomático no controle de doenças
transmissíveis?
A) é um indivíduo ainda não identificado como doente em exame clínico,
porém está infectado e pode transmitir a doença.
B) é um indivíduo que ainda não está infectado e não precisa ser
observado.
C) é um indivíduo mais resistente às medidas de controle.
D) é um indivíduo que já foi imunizado e não desenvolveu anticorpos
para doença.
E) é um indivíduo que não necessita de medidas de controle.
Resposta
A) é um indivíduo ainda não identificado como doente em exame clínico,
porém está infectado e pode transmitir a doença.
3. SISTEMA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA.
O sistema de vigilância epidemiológica tem como objetivo a busca ativa
de casos, visando à detecção precoce de surtos epidemiológicos, por meio do
bloqueio imediato da transmissão da doença.
Originalmente, no Brasil, a vigilância epidemiológica era feita por meio
da observação sistemática e ativa dos casos suspeitos de doenças
transmissíveis e seus contatos, aplicando o isolamento e a quarentena, durante
a década de 1950. Já, na década de 1960 aconteceu a vacinação em massa
contra a varíola, configurando um sistema nacional de vigilância
epidemiológica. O Ministério da Saúde instituiu o Sistema Nacional de
Vigilância Epidemiológica (SNVE), por meio da Lei 6.259/75 e Decreto
78.231/76.
A Lei 8080/90, ampliou o conceito de vigilância sanitária e reorganizou
as ações do sistema de saúde brasileiro, por meio da descentralização de
responsabilidades e da integralidade dos serviços.
O Sistema único de Saúde-SUS incorporou o Sistema Nacional de
Vigilância Epidemiológica, que é o “Conjunto de ações que proporcionam o
conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores
determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a
finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das
doenças ou agravos" (Lei 8.080/90).
O SNVE é alimentado pelos seguintes dados:
Demográficos, ambientais e sócio-econômicos;
Dados de morbidade;
Dados de mortalidade;
Notificação de surtos e epidemias.
As funções de um Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica
(SNVE) assentam-se em seus propósitos e operacionalização.
Os propósitos visam fornecer orientação técnica permanente para os
profissionais de saúde que têm a responsabilidade de decidir sobre a execução
de ações de controle a partir da obtenção das informações sobre a ocorrência
da doença e de seus fatores condicionantes, numa área geográfica ou numa
população definida.
A operacionalização é feita a partir da:
Coleta, processamento, análise e interpretação dos dados, que devem
ter qualidade, obedecerem aos pré-requisitos e terem disponibilidade,
para poderem ter representatividade, regularidade e periodicidade. Os
dados são: demográficos, ambientais e socioeconômicos propiciando
conhecimento sobre a morbidade e a mortalidade, bem como sobre os
surtos epidêmicos. As fontes de dados são obtidas por meio de
notificações emitidas por meios de laboratórios, investigações, imprensa,
população, inquéritos e levantamentos;
Recomendação das medidas de controle apropriadas e promoção das
ações de controle indicadas;
Avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas;
Divulgação de informações pertinentes.
O conhecimento sobre as doenças e agravos de notificação compulsória
é possível a partir dos dados o SVS.
Existem doenças e agravos para os quais há obrigatoriedade de
emissão de notificação, isto é as notificações compulsórias. Explicando:
Notificação é a comunicação da ocorrência de determinada doença ou
agravo à saúde, feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde
ou qualquer cidadão, para fins de adoção de medidas de intervenção
pertinentes.
lista nacional de doenças de notificação compulsória;
facultado a estados e municípios incluir outros problemas de saúde
importantes em sua região;
Como fonte de dados, as notificações são a principal fonte de vigilância
epidemiológica e dão base para o processo de controle de determinadas
doenças, ao gerar informações que podem ser responsáveis pelas decisões
sobre quais ações, a serem tomadas, são as mais adequadas.
A notificação é a comunicação da ocorrência de determinada doença ou
agravo à saúde, feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou
qualquer cidadão, para fins de adoção de medidas de intervenção pertinentes.
Dependendo da doença a notificação dos casos suspeitos deve ser feita.
Para orientação, o Ministério da Saúde elaborou a lista nacional de
doenças de notificação compulsória, por meio da Portaria 2.325, de
08/12/2003, como segue:
Botulismo
Antraz
Cólera Coqueluche
Leishmaniose visceral
Leishmaniose tegumentar americana
Leptospirose
Malária
Dengue
Difteria
Doenças de chagas
Doenças meningocócicas e outras meningites
Meningite por Haemophilus influenza
Peste
Poliomielite
Paralisia flácida aguda
Esquistossomose
Febre amarela
Febre do Nilo
Febre maculosa
Raiva humana
Rubéola
Síndrome de rubéola congênita
Sarampo
Febre tifóide
Hanseníase
Hantavirus
Hepatites virais
Sífilis congênita
Síndrome da imunodeficiência adquirida- AIDS
Síndromes respiratórias agudas graves
Tétano
Infecções pelo vírus HIV em gestantes e crianças expostas ao risco de
transmissão vertical
Tuberculose
Varíola
Porém, é facultado aos estados e municípios incluirem outros problemas
de saúde importantes em sua região, desde que seja justificada a sua
necessidade e definidos os mecanismos operacionais.
As normas de notificação precisam estar adequadas temporal e
espacialmente às características de distribuição das doenças em foco. Alguns
critérios são necessários, como seguem:
Magnitude: relativa à frequência elevada;
Disseminação: potencial de disseminação que se refere ao elevado
poder de transmissão da doença;
Transcendência: refere-se às características subsidiárias;
Vulnerabilidade
Compromissos internacionais;
Ocorrência de epidemias, surtos e agravos inusitados
O Sistema de Informação Nacional de Agravos de Notificação-SINAN é o
órgão responsável pelo processo. O sistema funciona da seguinte maneira:
É alimentado pela notificação e investigação de casos de doenças e
agravos, da lista nacional de doenças de notificação compulsória;
Permite a realização do diagnóstico dinâmico da ocorrência de um
evento na população;
Fornece a subsídios para explicações causais dos agravos de
notificação compulsória;
Indica risco e o perfil epidemiológico por área geográfica.
Relativamente à avaliação, alguns aspectos devem ser observados, tais
como:
Atualidade da lista de doenças;
Pertinência das normas e instrumentos utilizados;
Cobertura;
Funcionamento do fluxo de informações
Abrangência;
Organização;
Investigações e sua qualidade;
Informes analíticos;
Retroalimentação;
Qualificação da equipe técnica;
Interação com as instâncias responsáveis;
Interação com a comunidade;
Condições administrativas de gestão do sistema;
Custos.
Para ilustração e orientação segue a tela principal do SINAN
Para melhor compreensão do conteúdo seguem mais alguns conceitos
muito utilizados em epidemiologia
Conceito de CASO
Caso da doença: é a pessoa ou animal infectado que aloja um agente
infeccioso e que apresenta manifestações da doença.
Caso suspeito: é aquele cuja história clínica e sintomatologia indicam
estar acometido por alguma doença. Possível exposição a uma fonte de
infecção que sugere que a mesma pode vir desenvolver alguma doença
infecciosa.
Caso confirmado: é aquele cuja doença foi confirmada por meio de
exames clínico e/ou recursos complementares. Refere-se à pessoa que
foi isolada e identificado o agente etiológico, ou de quem foi obtida
outras evidências em laboratórios. Para a confirmação do caso existem
critérios que estão relacionados ao objetivo do programa de controle de
doença ou do SVE.
Contactante: é aquele que teve contato com a pessoa ou animal
infectado, ou com o ambiente contaminado. Isto é, aquele que teve
oportunidade de adquirir o agente etiológico.
A investigação epidemiológica refere-se ao estudo das doenças
transmissíveis, realizado a partir dos casos clinicamente declarados ou mesmo
de portadores, cuja finalidade é a de detectar fontes de infecção para que
medidas profiláticas possam ser adotadas. Por não ser um estudo amostral,
investiga óbitos ou surtos de doenças.
A investigação epidemiológica tem papel importante no processo saúde-
doença uma vez que pode:
Esclarecer ocorrência de doenças;
Investigar os casos isolados ou relacionados entre si;
Utilizar a ficha de investigação epidemiológica;
Implementar busca ativa de casos, estudo de campo de casos e de seus
contactantes; e
Elaborar análise das informações, formulação de hipóteses e
estabelecimento do nexo causal;
As medidas de controle dão importante contribuição ao orientar o
tratamento e isolamento de casos, vacinação, quimioprofilaxia, exames de
contactantes, controle de vetores, veículos e reservatórios, etc.
Contribuindo para esse processo, os Sistemas Sentinelas também têm
importância significativa ao monitorar indicadores na população ou em grupos
especiais que sirvam de alerta precoce para o sistema de vigilância, sendo
que:
Evento sentinela: refere-se à doença/óbito inesperado. Refere-se à
detecção de doença prevenível, incapacidade ou morte inesperada e
tem também a função de alertar se a qualidade, terapêutica e a
prevenção estão adequadas;
Fonte sentinela – refere-se a notificações especializadas (ex. câncer).
Para tanto, há uma organização de redes constituídas de fontes
sentinelas de notificação especializada;
Unidade de saúde sentinela: refere-se a doenças infecciosas e
parasitárias. Estas são doenças que necessitam de internação
hospitalar. A monitoração de grupos alvos requer exames periódicos e
tem muito importância na área de doenças ocupacionais;
Áreas sentinelas: referem-se a espaços geográficos delimitados. Ex:
áreas em centros urbanos que sofrem com enchentes, cujo
monitoramente ajuda a evitar a ocorrência de certas doenças.
Os SSs vinculam-se à apresentação clínica e epidemiológica das
doenças e agravos, bem como aos instrumentos de controle que estão
disponíveis e que são indicados para situações específicas.
Os dados são coletados por inquéritos, investigações ou levantamentos
epidemiológicos. São necessários para que se decida sobre as ações a serem
tomadas, isto é, servem de informação para ação. Estão na base das relações
entre os responsáveis pela vigilância e demais fontes de dados.
As fontes de dados que alimentam os Sistemas de Vigilância
Epidemiológica, são:
Vigilância com Base em Sistemas de Notificações de Doenças, que é
feita pela comunicação da ocorrência da doença ou agravo às
autoridades sanitárias, por profissionais da área da saúde ou por
qualquer cidadão, visando à tomada de medidas intervencionistas;
Vigilância com Base em Sistemas Articulados de Laboratórios. Têm a
função de complementar o diagnóstico de confirmação de casos, além
de contribuir para o conhecimento dos casos que não foram notificados,
sendo que seu uso é restrito à algumas doenças e em situação
específicas;
Vigilância com Base em Dados Hospitalares;
Vigilância com Base na Análise de Certificados de Óbitos.
Vigilância com Base em Informações Obtidas de "Médicos Sentinelas”;
Vigilância com Base em Informações Obtidas em UBS.
Exercício
Qual das informações abaixo é a mais útil, sob o aspecto da vigilância
epidemiológica, para a tentativa de identificar possíveis fontes de infecção?
a) Data do diagnóstico
b) Data do início dos sintomas
c) Data da notificação do caso
d) Data do exame médico
e) Data da confirmação do caso
Resposta
b) Data do início dos sintomas
4. EPIDEMIOLOGIA HOSPITALAR.
A definição do que é a epidemiologia hospitalar permite o
reconhecimento do nível de comprometimento ou não quanto às possibilidades
que os hospitais têm de ter focos de infecção. A infecção não deve estar
presente ou em incubação quando o paciente é admitido. Caso esteja em
incubação no ato de admissão do paciente, precisa estar relacionada a alguma
hospitalização anterior na mesma instituição que o acolheu. Caso esteja
presente quando o paciente for admitido, precisa ser temporariamente
associada a uma internação anterior ou a algum procedimento realizado em
alguma instituição de saúde.
Infecção Hospitalar é considerada aquela adquirida após a admissão do
paciente, que se manifesta durante a internação ou após a alta e que pode ser
relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares, cujos critérios
podem variar em conformidade com a doença, seu estágio e características do
doente, sendo que os dados precisam constar de planilhas próprias e devem
ser informados aos setores afins para elaboração dos índices correspondentes.
Os critérios são:
>72h após a internação, quando não houver sinais clínicos na
internação;
<72h outro microrganismo na mesma topografia da infecção
comunitária, quando no mesmo local em que foi diagnosticada infecção
comunitária, isola-se um micro-organismo diferente, com agravamento
das condições clínicas do paciente;
<72h associada a procedimentos diagnósticos e/ou terapêuticos.
Para que não haja confusão no diagnóstico da infecção hospitalar
distingue-se desta a Infecção Comunitária, que é:
Diagnosticada ou em incubação na admissão do paciente, desde que
não relacionada com internação hospitalar anterior.
Associada com complicação da infecção já presente na admissão, a
menos que haja troca de microrganismo, com sinais e sintomas
sugestivos da aquisição de nova infecção
Infecção do RN (Recém Nascido) cuja aquisição por via placentária é
conhecida e tornou-se evidente logo após o nascimento. Ex. Herpes
simples.
Infecção do RN associada à bolsa rota há mais de 24h.
As infecções têm a seguinte classificação:
Infecção endógena - Microbiota do paciente, que por alguma razão
torna-se patogênico.
Infecção exógena - Fontes externas ao paciente, como ingestão,
inalação, picada de inseto, coito, contato, etc.
Infecção metastática - Expansão do microrganismo para novos sítios de
infecção, como o streptococcus responsável pela cárie e que causa
endocardite.
Seguem mais alguns conceitos:
Contaminação: presença transitória de microorganismos em superfície
sem invasão tecidual ou relação de parasitismo;
Colonização: crescimento e multiplicação de um microorganismo em
superfícies epiteliais do hospedeiro, sem expressão clínica ou
imunológica;
Infecção: invasão, multiplicação e ação de agentes infecciosos no
hospedeiro.
São veiculadas por portador que é o Indivíduo que aloja um
microrganismo específico, sem apresentar quadro clínico atribuído ao agente e
que serve como fonte potencial de infecção;
São disseminadas por Indivíduo que elimina o microrganismo para o
meio ambiente.
Contaminam na presença transitória de microrganismos em superfície
sem invasão tecidual ou relação de parasitismo;
A colonização por micro-organismos se dá pelo crescimento e
multiplicação de um microrganismo em superfícies epiteliais do hospedeiro,
sem expressão clínica ou imunológica;
A infecção se dá pela invasão, multiplicação e ação de agentes infecciosos
no hospedeiro. O portador pode ser breve ou temporário, ou, ainda, crônico,
então pode ser:
Portador - Indivíduo que aloja um microrganismo específico, sem
apresentar quadro clínico atribuído ao agente e que serve como fonte
potencial de infecção; o portador poder ser:
Ativo: é aquele que elimina o agente, porém não aparecem
sintomas clínicos;
Ativo crônico: é aquele que mantém o agente etiológico, mesmo
muito tempo após ter tido a doença
Eficiente: é aquele que elimina o agente no meio ambiente
exterior ou, ainda, para o organismo de algum vetor hematófago
possibilitando a infecção de um novo hospedeiro;
Ineficiente: é aquele que não elimina o agente para o meio
exterior e, portanto, não coloca a comunidade em perigo.
Passivo: é aquele que nunca apresentou e, também, nunca
apresentará sintomas, portanto difunde o agente etiológico sem
ser percebido;
Passivo crônico: é aquele que alberga um agente etiológico por
muito tempo;
Passivo temporário: é aquele que alberga um agente etiológico
por pouco tempo.
Disseminador - Indivíduo que elimina o microrganismo para o meio
ambiente.
Para melhor controle das infecções hospitalares existe a Comissão de
Controle de Infecção Hospitalar-CCIH, órgão de assessoria da direção
hospitalar, composta por Membros Consultores que são os representantes dos
serviços médico, de enfermagem, farmácia hospitalar, laboratório de
microbiologia e administração hospitalar. Membros Executores, que, pelo
Regimento Interno da CCIH, devem implantar SVE, e aplicar medidas que
visem controlar a IH. Tudo sob coordenação nacional da ANVISA/MS. São
indicadores de infecção hospitalar:
Taxa de infecção hospitalar (%):
Nº. IH no período________ x100
Número de altas no período
Taxa de doentes com IH (%):
Nº. de pacientes com IH no período x100
Número de altas no período
Taxa de IH por procedimento de risco (%0):
Nº. pac.submetidos ao procedimento com IH x 1000
Nº. pacientes submetidos ao procedimento
Taxa de densidade de IH (%0):
Nº. de pacientes com IH x 1000
Nº. de pacientes-dia
Os Indicadores de infecção hospitalar, permitem:
Acompanhamento longitudinal – monitoramento - vigilância
Perfil endêmico da instituição;
Identificação de eventos inesperados - surtos;
Comparações entre procedimentos, clínica de internação, medicamentos
utilizados, idade, gênero, doença de base, tempo de internação etc;
Segurança para o paciente internado;
Os fatores que influenciam as IH são:
Agente etiológico: resistência antimicrobiana, virulência do agente;
Fatores Ambientais: fontes de infecção – pacientes
infectados/portadores, superlotação de pacientes, objetos e superfícies
contaminadas;
Suscetibilidade do paciente: fatores que predispõem os pacientes às
infecções por microrganismos oportunistas - extremos de idade,
doenças crônicas, imunossupressão, desnutrição;
Resistência microbiana: uso de antimicrobianos
Exercício
O que é infecção comunitária? Assinale a alternativa correta:
a) Infecção manifestada após 72h de internação e relacionada com os
procedimentos hospitalares.
b) Adquirida pelo paciente no momento da admissão hospitalar.
c) Constatada ou em incubação no ato da admissão do paciente,
desde que não relacionada com a internação anterior no mesmo
hospital.
d) Infecção do recém-nascido adquirida logo após o nascimento.
e) Adquirida após a admissão do paciente, que se manifesta durante
a internação ou após a alta.
Resposta
C) Constatada ou em incubação no ato da admissão do paciente, desde que
não relacionada com a internação anterior no mesmo hospital.
REFERÊNCIAS
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_______________________. Lei 8080/90. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de
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