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Boletim Informativo Escrita Igualitária nos Media Outubro de 2013 01
MEDIA + Igual O IEBA Centro de Iniciativas Empresariais e Sociais iniciou, em 2011, uma linha de traba-
lho que visa promover a igualdade e a não discriminação pelos media, designadamente,
pela imprensa escrita.
Neste contexto, entre 2011 e 2013, o IEBA foi parceiro do projecto Europeu “In Other
Words”, cujos resultados estão disponíveis e acessíveis em http://www.inotherwords-
project.eu/. Com este projecto foi constituída uma parceria local—designada ULAI Unidade
Local de Análise de Imprensa - que integrava entidades de representação, defesa de causas
e intervenção sedeadas em Coimbra, cuja voz activa e competências foram essenciais para
analisar notícias estereotipadas e discriminatórias, identificadas em 10 jornais nacionais e
locais de referência.
Os resultados deste projecto e o trabalho da ULAI mostraram-se bastante frutíferos, pelo se
procurou dar continuidade a este trabalho. A oportunidade surgiu com a candidatura e sub-
sequente aprovação deste novo projecto designado MEDIA + Igual, no qual se mantém a
metodologia de trabalho baseada na parceria entre as mesmas entidades da ULAI.
O objectivo é promover a igualdade de género nos media, através da monitorização de 9
títulos da imprensa nacional (ver caixa ao lado), da realização de debates públicos mensais, da
publicação de boletins informativos com comentários sobre conteúdos discriminatórios e
estereotipados e pela organização de sessões de sensibilização sobre temas (in)visíveis e
sobre a utilização de linguagem objectiva e inclusiva pela comunicação social.
Este primeiro boletim informativo mostra os resultados do primeiro mês de monitorização -
Setembro de 2013. Outros se seguirão, mensalmente, até Junho de 2014.
Boletim Informativo
Integra uma selecção de notícias
publicadas de 1 a 30 de Setembro
de 2013, a partir da monitoriza-
ção de nove títulos de imprensa
escrita portuguesa:
- dois de âmbito regional:
As Beiras
Diário de Coimbra
- sete de âmbito nacional:
Correio da Manhã
Diário de Notícias
Público
Caras
Maria
Happy Woman
Men’s Health
Nesta edição:
1. Editorial
2. Violência doméstica
3. Violência sexual
4. Desigualdades e estereótipos
5. Pela positiva
6/7. Especial Autárquicas 2013
8/9. Em poucas palavras
10. O projecto
Por outro lado, é também possível
encontrar exemplos positivos na
cobertura mediática de casos de vio-
lência doméstica. No artigo do Diário
de Notícias, de 16/09/2013, “Vigília
por portuguesa vítima de violência
doméstica em Espanha”, a lingua-
gem usada assume um carácter dis-
tinto do exemplo acima. Ao longo
deste texto jornalístico, não são
dadas justificações atenuantes do
crime. Pelo contrário, o caso é inte-
grado na problemática generalizada
da violência doméstica.
Esta interpretação do crime inteira-
do num problema social acaba por
ser ancorada tanto na própria lingua-
gem jornalística, como através das
fontes citadas (“o presidente da
Câmara de Verín, Juan Manuel
Jiménez Morán, qualificou esta mor-
te como «um atentado contra inte-
gridade, dignidade e liberdade» da
mulher portuguesa” / “segundo a
deputada [Laura Seara], «trata-se de
mais um caso que vai engrossar a
grande lista de vítimas de violência
doméstica em Espanha» [...] vítima
«de um mal social que não se pode
perder de vista por um momento»”).
Atenção, no entanto, à forma como a
nacionalidade do agressor é realçada.
Uma vez que este aspecto identitário
não tem relevância para o crime em
questão, a linguagem poderá promo-
ver atitudes discriminatórias.
violência doméstica
outras perspectivas
02
Da monitorização às publica-
ções realizada no âmbito do
projecto, as questões de vio-
lência doméstica e violência
sexual destacam-se como um
dos temas mais frequentes.
Não obstante, na maioria dos
exemplos analisados neste
mês de Setembro, os crimes
são apresentados pelos media
como casos pontuais, dissocia-
dos de problemáticas sócio-
-culturais e de assimetrias de
género profundas.
O artigo à direita, “Mata ex-mulher
e rival a tiro”, na edição do Correio
da Manhã de 18/09/2013, é exacta-
mente um desses exemplos, em que
o crime é descrito de forma isolada,
sem ser abordado como problema
social. Além disso, as
‘justificações’ apresentadas
para o duplo homicídio resul-
tam numa culpabilização da
vítima. Como subtítulo, “Maria
Adélia, 55 anos, trocou marido
pelo patrão há uma semana.
Ontem, casal foi buscar bens
mas acabou executado” aponta
um motivo. Mais, a notícia cita
ainda um vizinho que afirma
“ela andava mesmo a provocá-
lo e o homem perdeu-se”. Por
fim, o discurso jornalístico
acrescenta que “o homicida -
também agiu porque a mulher que-
reria deixar dívidas do casal apenas
a seu cargo”.
Em conclusão, neste exemplo do
Correio da Manhã, o acto de violên-
cia doméstica surge a par de uma
justificação, que serve de atenuante
ao crime cometido. Induz, por isso,
um grau de culpabilização à própria
vítima - pelos actos prévios e
“provocação” — acentuando assi-
metrias de género na sociedade.
violência sexual
No âmbito do MEDIA + Igual, a ULAI decidiu
dar destaque, pela negativa, à cobertura da
agressão sexual a uma estudante, em Coimbra,
por vários dos órgãos de comunicação monito-
rizados. Em comum, a culpabilização da vítima
pela violação, em virtude do seu comportamen-
to, desculpabilizando o agressor.
No caso do artigo do diário As Beiras, de 20/09/2013,
a própria escolha de palavras no título (“Estudante diz
ter sido vítima de violação em Coimbra”) remete, desde
logo, para uma desconfiança em relação à vítima e à
acusação feita. Esta é, aliás, uma construção frásica que
se repete ao longo do texto.
Por outro lado, os artigos do Diário de Notícias
(“Jovem violada após aceitar boleia”) e do Correio da
Manhã (“Forçada a sexo após diversão”) culpabilizam a
vítima por ter aceite a boleia de um estranho. A relação
entre o acto da estudante e a agressão posterior é posta
em evidência nos dois artigos.
Realce-se, por exemplo, o destaque do Correio da
Manhã: “vítima deixou que rapaz que acabara de
conhecer a levasse a casa”. Há aqui um julgamento
moral sobre as acções da vítima (“rapaz que acabara de
conhecer” ), além de que o uso do verbo ‘deixar’ pressu-
põe um consentimento explícito — logo, mais uma vez,
desculpabilizando o agressor e julgando as acções da
estudante. O destaque dado à “diversão” funciona
igualmente como uma forma de ajuizar as acções da
vítima e de condenação do seu comportamento prévio
à agressão.
Daí que as escolhas de linguagem empregues na cober-
tura noticiosa do acontecimento contribuam para que
se mantenham estereótipos comportamentais, relacio-
nados com o género e com os perfis agressor/vítima. À
vítima é exigido, de forma pública, recato (a “diversão”
é apresentada como condenável) e um comportamento
adequado, sendo culpabilizada pelas suas acções. Já o
agressor não é sujeito à mesma avaliação moral de
comportamentos, acabando por ser parcialmente des-
culpabilizado pela forma como o discurso jornalístico
constrói a imagem da vítima.
03
Mesmo abordando a violência no
namoro, as assimetrias de género
acabam por ficar ausentes neste
artigo do Público (10/09/2013). O
título é ambíguo por não usar uma
linguagem inclusiva (“Aos 21 anos,
18% dos jovens já agrediram namo-
rado”) e, com este uso do masculino
como linguagem aparentemente
neutra, a violência no namoro apa-
renta ser, à primeira leitura, simé-
trica entre homens e mulheres. Ape-
nas a meio do texto se refere que “as
raparigas são mais vítimas enquan-
to os rapazes são mais agressores”.
Contudo, esta informação é dada
entre parêntesis e carece de maior
contexto. Além disso, a citação
usada (“é uma elevada percenta-
gem de jovens que, ainda numa
fase de namoro, já aceita este tipo
de comportamentos violentos”)
pressupõe uma culpabilização das
próprias vítimas.
De forma até caricata, a infografia
que acompanha o texto reforça
assimetrias de género. No que se
refere aos “fumadores por sexo”,
o símbolo feminino é o mais
pequeno, apesar de representar a
maior percentagem.
Dois pesos, duas medidas. É
esta a leitura da notícia
“Apenas quatro mulheres
entre os incendiários detidos”,
da edição de 08 de Setembro
do jornal Público.
Ao longo do texto, há uma dualida-
de de critérios na forma como são
caracterizados incendiárias e incen-
diários. Quando se trata das mulhe-
res, o critério de análise está asso-
ciado a questões do foro psicológico
(“depressões”, “gestão das emo-
ções”). Já o “perfil dominante” dos
incendiários, associado ao género
masculino, é baseado em caracterís-
ticas socio-económicas (nível de
escolaridade e emprego).
Há, portanto, assimetrias na forma
como são apresentados mulheres e
homens, neste contexto discursivo.
Seria interessante, por exemplo,
verificar também o perfil sócio-
-económico das mulheres incendiá-
rias, além dos factores psicológicos
associados. Além disso, o subtítulo
escolhido é bastante problemático,
tanto porque reflecte esta dicotomia
de critérios usados no texto, mas
também porque resulta de uma
generalização abusiva. Do estudo
citado no texto, apenas uma das
mulheres da amostra foi associada a
problemas conjugais — do subtítulo
entende-se que este seria um perfil
generalizado da amostra em causa.
Desta forma, as mulheres conti-
nuam a ser reduzidas a questões da
esfera privada, como justificação de
actos públicos.
desigualdades e estereótipos
04
Por motivos semelhantes, também outro artigo do Público
ganha destaque positivo no boletim MEDIA + Igual relativo
ao mês de Setembro. Intitulada “Portuguesas com menos 12
anos de vida com qualidade”, esta notícia aborda e desconstrói
a raiz das desigualdades de género na qualidade de vida em
Portugal: assimetrias de condições sociais.
A partir de um relatório Europeu, a jornalista destaca a con-
clusão de que há mais desigualdades em Portugal do que a
média Europeia. Desta forma, o discurso jornalístico cumpre
uma das suas funções cruciais de promoção de um debate
informado dos vários públicos sobre a realidade actual, de for-
ma a quebrar estereótipos e impulsionar mudanças positivas.
Não obstante, é curioso que, apesar do texto se centrar na qua-
lidade de vida das portuguesas, a imagem ilustrativa destaque
um homem. Há, desta forma, informação contraditória entre
texto e imagem, numa primeira leitura.
pela positiva
Nem todos os artigos seleccionados
pela ULAI são exemplos negativos de
manutenção de estereótipos de género
e assimetrias. Pelo contrário, o artigo
do Público de 03 de Setembro, “A
«independência económica e simbólica
das mulheres» está em risco” é uma
referência positiva de desconstrução da
realidade socio-económica, contribuin-
do para uma reflexão plural em torno
das desigualdades existentes.
O artigo faz uma análise exaustiva das assime-
trias de género acentuadas pela crise econó-
mica e precariedade laboral. É de valorizar o
discurso jornalístico em causa, uma vez que
estabelece uma relação entre economia e
género, não se baseando em estereótipos e
recorrendo a uma diversidade de fontes
(documentais e humanas).
Em paralelo, a notícia reconhece ainda a
importância da história feminista: “a indepen-
dência económica sempre fora uma das ban-
deiras feministas”, pode ler-se no texto.
05
especial Autárquicas 2013
Tanto a esfera política, como a
esfera económica são exem-
plos paradigmáticos da sub-
representação das mulheres
em cargos de decisão. Nesse
sentido, adquire especial
importância perceber como é
que os media constroem em
discurso jornalístico uma cam-
panha eleitoral (momento
essencial de um regime demo-
crático), tendo em conta as
desigualdades de género exis-
tentes. As eleições autárquicas
de 2013, que tiveram lugar em
Setembro, foram, por isso,
ponto obrigatório de análise
no âmbito deste projecto.
Uma das principais conclusões é de
que não houve uma abordagem
comum ou transversal da campa-
nha, no que diz respeito a questão
de (des)igualdades de género. Des-
de a manutenção de estereótipos à
tentativa da sua desconstrução, pas-
sando pela formação de novas assi-
metrias, tudo isto foi visível nos títu-
los de imprensa monitorizados. De
realçar, a este respeito, que uma
cobertura de campanha inclusiva e
equitativa teria potencial para for-
mar uma opinião pública mais críti-
ca das assimetrias de género existen-
tes na esfera política. A selecção de
artigos aqui apresentados sobre a
campanha para as eleições autárqui-
cas tenta espelhar a realidade do que
foi encontrado nos títulos de
imprensa monitorizados, conside-
rando aspectos negativos e positivos
dos discursos encontrados. O objec-
tivo? Abrir uma janela de discussão
alargada sobre a invisibilidade das
mulheres na política e, em paralelo,
perceber como são desconstruídas
(ou reforçadas) as assimetrias de
género nesta esfera.
Nesta página, destaque para dois
artigos do Diário de Notícias de
22/09/2013 (à esquerda) e de
25/09/2013 (à direita), que retratam
o ambiente de campanha e que,
pelos discursos em causa, permitem
reflectir sobre as questões de género
inerentes. No primeiro, “As mulhe-
res são mais duras”, o tipo de texto
jornalístico recai na categoria de
artigo interpretativo. É positivo que
o artigo tente desconstruir estereóti-
pos e dar visibilidade à presença das
mulheres na esfera política, ao des-
tacar a candidata do Bloco de
Esquerda, Catarina Martins. Contu-
do, o texto acaba por reduzir a can-
didata unicamente ao seu género (lê-
se, no subtítulo, “Ser mulher parece
ser, para Catarina Martins, um fac-
tor de notoriedade, carinho e admi-
ração pela sua combatividade”).
Também a forma como uma das fon-
tes jornalísticas é descrita - “61 anos
bem conservados, cabelo louro
arranjado e figura de pin up” - pode
originar interpretações dúbias.
Também o artigo intitulado “Ai se os
nossos maridos estão a ver isto” se
pauta por um tom jornalístico mais
livre e interpretativo. Porém, a cons-
06
trução discursiva usada é bastante
distinta. Por um lado, estamos
perante dois políticos do género
masculino que são reduzidos ao seu
género e à relação corpo/objecto.
Há, portanto, uma inversão das
assimetrias de género existentes.
No entanto, o tom nitidamente
‘caricato’ do texto reforça que esta
assimetria de género é, sobretudo,
pontual e fora de norma.
Além disso, este exemplo reforça os
estereótipos associados às mulheres
de classe baixa que trabalham nos
mercados tradicionais. Numa
cobertura ‘típica’ de campanha elei-
toral, estas mulheres são frequente-
mente reduzidas à enunciação de
um ou outro piropo, ou de comen-
tários fúteis, sem conteúdo político
relevante.
Já o título do artigo “«Mini-saia»
aquece campanha em Oliveira do
Hospital”, na edição de 25 de
Setembro 2013 do Diário de Coim-
bra, reforça estereótipos de género
e uma linguagem sexista. Em causa,
na notícia, estão as afirmações do
candidato à presidência da Câmara
Municipal de Oliveira do Hospital,
José Carlos Alexandrino, que, em
relação à candidatura adversária
liderada por uma mulher, considera
que “não bastava ter umas pernas
jeitosas e usar mini-saia para ser
presidente da Câmara”. Ora, o facto
de o título manter o sexismo das
declarações do candidato — sem
que sejam desconstruídas ou con-
textualizadas — faz com que haja
uma dupla menorização pública e
objectificação da mulher em causa
(a candidata Cristina Oliveira).
O sexismo é assim reforçado em
virtude das escolhas jornalísticas de
discurso ao nível do título, mesmo
que, ao longo do texto, as declara-
ções originais sejam colocadas em
contexto, havendo também o con-
traditório de Cristina Oliveira.
Por fim, e ainda na imprensa local,
o diário As Beiras destacou, a 17 de
Setembro 2013, as desigualdades de
género nas listas para as eleições,
dando eco a um comunicado de
imprensa da UMAR - União de
Mulheres Alternativa e Resposta. A
análise crítica desta questão, que
permite o debate sobre a sub-
representação das mulheres como
cabeças de lista às autárquicas, é de
louvar. Contudo, há que chamar a
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atenção para a forma como o título
está construído: “UMAR diz que
mulheres são «figuras de adorno»”.
A construção frásica é dúbia e pode
induzir o/a leitor/a em erro, uma
vez que dá a entender que, ao invés
de uma crítica aos partidos políti-
cos, é a própria UMAR que crítica
estas mulheres e as rotula como
figuras de adorno.
especial Autárquicas 2013
em poucas palavras
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Do desporto à sociedade, a escolha da linguagem nas várias secções dos jornais e revistas pode
reforçar assimetrias de género no discurso jornalístico e, deste modo, contribuir para a
manutenção de estereótipos e discriminação.
“Domingos Gonçalves ganha e é o novo camisola amarela”,
in Diário de Coimbra, 06 /09/2013
O que aqui chama a atenção, pelo negativo, é a escolha da ima-
gem ilustrativa e a legenda que a acompanha (“Domingos Gon-
çalves teve a devida recompensa na Sertã”). A legenda, intencio-
nalmente ambígua na referência à “devida recompensa”, vem
reforçar o sexismo inerente à imagem escolhida e a objectificação
das mulheres como prémios de uma prova masculina de alta-
competição. Contribui, por isso, para a manutenção de estereóti-
pos de género.
“Kate Moss despe-se na ‘Playboy’”, in Correio da Manhã, 20/09/2013
“Kate Moss despe-se na Playboy” estabelece um ideal de
corpo feminino, que, segundo o discurso jornalístico em causa,
deveria ser seguido como exemplo desejável para a generalidade
das mulheres.
Em destaque, a frase “Mãe de uma adolescente, Kate Moss tem
39 anos e continua com um corpo invejável”, pressupõe ainda
vários estereótipos ligados à idade e à maternidade.
“Sexo com muito peso”, in Men’s Health, Setembro 2013
Este especial de duas páginas é um exemplo
de sexismo e hetereonormativismo, reforça-
do pela imagem do corpo feminino que ilus-
tra o artigo e da legenda que a acompanha
(“Ela mostra-lhe a ferramenta para ter mais
sucesso na cama”). A mulher é aqui apre-
sentada unicamente pela sua relação corpo/
objecto. A linguagem usada fortalece uma
visão unidireccional da relação sexual, cujo
sucesso é visto como da responsabilidade do
homem. Em conclusão, o discurso reforça a
dominação do homem no casal heterosse-
xual, perante a passividade da mulher.
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“Uma das maiores mulheres do século XX”, in Diário As Beiras, 14/09/2013
em poucas palavras
A citação usada no título não existe no artigo. A Irmã Lúcia é sim descrita no
texto como sendo “uma das grandes figuras do século XX português”. Desta
forma, o título escolhido acabar por induzir assimetrias de género que não
existem na citação original. Ao ser referida como “uma das maiores mulheres”,
a Irmã Lúcia é tida como um ideal a seguir, numa valorização do género femi-
nino à luz de valores católicos. Reforça, por isso, papéis sociais distintos para
cada género — já que o título exclui que a Irmã Lúcia seja também um ideal
para o género masculino.
“Mulheres da limpeza passam a auxiliares”, in Correio da Manhã, 20/09/2013
A expressão “mulheres da limpeza”, que pode
ser lida no título, reforça os estereótipos de
actividades tradicionalmente associadas ao
género feminino ou masculino.
“Femen: por detrás destas mulheres, está afinal um homem”, in Público, 06/09/2013
O título escolhido e a própria linguagem usada no texto descredibilizam os protestos da organização femi-
nista Femen, retratada no artigo. Além disso, o título é também redutor, já que o artigo ressalva que o tal
“homem por detrás destas mulheres” é um mentor ou consultor, não representando a liderança do movi-
mento. A realçar também, pela negativa, que as mulheres do movimento são caracterizadas como “bonitas”,
enquanto o mentor é apresentado como “muito inteligente”. Como consequência, a assimetria entre a carac-
terização física e psicológica permite o reforço de desigualdades entre géneros.
“Sandra Fernandes, uma mulher a treinar o Madeira SAD”, in Público, 04/09/2013
Neste artigo de âmbito desportivo, o género da treinadora está em evidência no
título. Há, portanto, uma redução de Sandra Fernandes ao seu género, quando
esse aspecto não é relevante para a actividade em causa (treinadora de andebol
do Madeira SAD).
04
créditos
Edição: IEBA - Centro de Iniciativas Empresariais e Sociais, Outubro 2013
Revisão: ULAI - Unidade Local de Análise de Imprensa: APPACDM Coimbra, APAV, GRAAL, NÃO TE PRIVES, SOS RACISMO, UMAR
Contactos: IEBA Parque Industrial Manuel Lourenço Ferreira, Lote 12 - Apartado 38, 3450-232 Mortágua, Tel.: 231927470, ieba@ieba.org.pt
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o projecto Com o objectivo de promover a
igualdade de género nos media por-
tugueses, serão monitorizados, até
Junho de 2014, vários títulos da
imprensa nacional, realizados deba-
tes públicos mensais, publicados
comentários sobre conteúdos discri-
minatórios e estereotipados, organi-
zadas sessões de sensibilização
sobre temas (in)visíveis e incentiva-
da ainda a utilização de linguagem
objectiva e inclusiva pela comunica-
ção social.
O projecto assenta no funcionamen-
to de uma Unidade Local de Análise
de Imprensa, estabelecida em Coim-
bra, que reúne várias entidades de
intervenção social: IEBA Centro de
Iniciativas Empresariais e Sociais,
APAV Associação Portuguesa de
Apoio à Vítima (GAV de Coimbra),
APPACDM Associação Portuguesa
de Pais e Amigos do Cidadão Defi-
ciente Mental de Coimbra, GRAAL
Movimento Internacional de Mulhe-
res, Não Te Prives, SOS Racis-
mo e UMAR União de Mulheres
Alternativa e Resposta.
Até Junho de 2014, esta Unidade vai
reunir-se, com uma periodicidade
mensal, para debater uma selecção
de artigos – relacionados com ques-
tões de igualdade de género – pro-
venientes de jornais nacionais,
regionais e revistas (num total de
nove títulos de imprensa).
Os boletins mensais do projecto
MEDIA + Igual apresentam as
análises aos media portugueses fei-
tas no âmbito de reuniões periódi-
cas entre os parceiros da iniciativa.
A violência doméstica, a conciliação
entre vida pessoal e profissional, o
tráfico de seres humanos, o assédio,
a desigualdade salarial, a orientação
sexual, a imigração e a deficiência
são alguns dos temas, retratados ou,
então, invisíveis, na imprensa nacio-
nal e local, que o projecto MEDIA
+ Igual vai abordar.
O projecto, que conta com o apoio
da Comissão para a Cidadania e
Igualdade de Género, vai analisar os
artigos produzidos pelos órgãos de
comunicação social monitorizados,
de forma a perceber até que ponto
reforçam, desconstroem ou (in)
visibilizam a discriminação, os múl-
tiplos factores de opressão e os este-
reótipos de género.
Esta é uma iniciativa aberta à socie-
dade. Nesse sentido, convidamos
os/as demais interessados/as a
acompanhar as reuniões mensais da
ULAI e a consultar mais informação
sobre o projecto MEDIA + Igual
nos websites abaixo indicados.
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Boletim publicado on line em:
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