Post on 02-Aug-2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
IRLAN MARK ELIAS VIEIRA
Intolerância On-Line:
História e Extrema-Direita no site Valhalla88.com (1997 - 2007)
SÃO CRISTOVÃO – SE
2011
IRLAN MARK ELIAS VIEIRA
Intolerância On-Line:
História e Extrema-Direita no site Valhalla88.com (1997 - 2007)
Monografia apresentada à disciplina
Prática de Pesquisa II, como requisito
para a obtenção do título de Licenciado
em História pela Universidade Federal
de Sergipe.
Orientador: Prof. Dr. Dilton Cândido Santos Maynard
São Cristovão – SE
2011
AGRADECIMENTOS
A minha família, pelo apoio, confiança e incentivos dados durante toda minha graduação.
Ao Prof. Dr. Dilton Cândido Santos Maynard, por sua dedicação, paciência,compreensão e
incentivo durante minha vida acadêmica, por ter sido durante anos de pesquisa mais que um
simples orientador, ele foi um verdadeiro amigo e principal responsável pela conclusão de
meu curso de História.
Dedicatória
Aos membros do GET (Grupo de Estudos do Tempo Presente)
verdadeiros amigos e cúmplices de minha vida acadêmica.
RESUMO
Esta monografia investiga como a Cibercultura transforma as relações sociais. De que
maneira grupos de extrema-direita se apropriava de suas ferramentas para disseminar ideais
de intolerância no Brasil?Para isto, utilizamos como objeto de estudo o material do extinto
site www.valhalla88.com, considerado o maior site neonazista brasileiro com a significativa
marca de 200 mil visitas diárias antes de ser retirado do ar pela Polícia Federal brasileira, em
agosto de 2007. As diferentes páginas do web site apresentavam forte apologia ao racismo e à
ideologia nazista, além de doutrinarem seus visitantes (chamados “irmãos brancos”) ao
ativismo como uma espécie de iniciação. O portal oferecia farto material propagandístico
sobre o Nacional-Socialismo. Apesar de não estar mais ativo, o conteúdo deste site continua
sendo utilizado por vários outros sítios dedicados à intolerância, tais como o
www.nuevorden.net e o http://www.nacional-socialismo.comde onde extraímos o conteúdo
do Valhalla88 utilizado na pesquisa. Este acervo digital foi estudado considerando-se
conceitos como Extrema-Direita, Neofascismos e Cibercultura. Portanto, a investigação
evidencia como a Internet tem facilitado a veiculação do trabalho dos grupos extremistase, ao
mesmo tempo, tem sido veículo preferencial de divulgação, comunicação, intercâmbio de
arquivos e ideais, enfim, como um espaço estratégico para propagação dos movimentos
neofascistas.
Palavras-Chaves: História, Cibercultura, Extrema-Direita
Sumário
Introdução ............................................................................................................................................... 8
Capítulo I: Relações entre História e Internet ....................................................................................... 10
I.Pode o Ciberespaço ser estudado? ...................................................................................................... 10
II.O Conceito de História Digital: ......................................................................................................... 14
III.Um pouco da história da Internet: .................................................................................................... 19
IV.A Guerra Fria: .................................................................................................................................. 23
V.A emergência da cultura hacker: ....................................................................................................... 27
VI.Cibercultura: .................................................................................................................................... 30
Capítulo II - A intolerância na Internet: o site Valhalla88 e o Ressurgimento dos Fascismos ............. 36
I.A Internet como nova Ágora: a política em ambiente eletrônico ....................................................... 36
II.Os anos 1990 e uma dupla ascensão: Web e Neofascismos .............................................................. 37
III.Um lugar chamado Valhalla88 ......................................................................................................... 39
VIII.Caracterizando o sítio Valhalla88 ................................................................................................. 45
Linhas Gerais: ............................................................................................................................. 46
Serei Eu um NS? .......................................................................................................................... 46
Proibidos Mas Não Mortos ......................................................................................................... 47
Relacionando-se Com o Seu Meio .............................................................................................. 48
Por Que NS? ................................................................................................................................ 49
Principios Elementares do NS .................................................................................................... 49
Compreendendo o Nacional-Socialismo: 2ª Edição Ampliada e Revisada............................. 50
1. O Nacional-Socialismo é de Direita? ................................................................................................ 50
2. O Nacional-Socialismo é Capitalista? ............................................................................................... 51
3. O Nacional-Socialismo é Racista? .................................................................................................... 51
4- O Nacional-Socialismo é Fascista? ................................................................................................... 52
5- O Nacional-Socialismo é uma ditadura? ........................................................................................... 52
6- E quanto ao Holocausto? .................................................................................................................. 53
O que é que você sabe a cerca do Nacional Socialismo? .......................................................... 53
Algumas Considerações sobre Raça e Racismo ........................................................................ 54
Quem foi Adolf Hitler? ............................................................................................................... 55
66 Perguntas e Respostas sobre o holocausto ........................................................................... 55
Formas de Ação ........................................................................................................................... 56
Vale a Pena? ................................................................................................................................. 57
XI.O fim do Valhalla88? ....................................................................................................................... 58
Considerações Finais ............................................................................................................................. 61
Referências bibliográficas: .................................................................................................................... 62
8
Introdução
Este trabalho monográfico tem como finalidade analisar as relações entre a
Cibercultura e a História, tendo como foco principal a apropriação do ciberespaço por
movimentos neonazistas. Para isso, utilizamos como objeto de estudo o material da extinta
web site Valhalla88 (http://www.valhalla88.com).
A pesquisa divide-se me dois momentos: o primeiro reflete sobre o surgimento e
desenvolvimento da Internet e as relações entre a História e a Cibercultura, tendo como
justificativa fundamental um número reduzido de trabalhos de historiadores sobre o
ciberespaço e seu potencial como objeto de pesquisa histórica. O segundo momento da
pesquisa está focado em como a difusão digital e a popularização da Internet tem facilitado o
rápido crescimento de grupos de extrema-direita, funcionando como um verdadeiro bunker,
de onde os neonazistas podem promover o ódio, o racismo e a intolerância na velocidade de
um clique de mouse e na segurança de uma lanhouse ou no conforto do próprio lar.
A metodologia adotada na produção deste trabalho foi a catalogação do material do
extinto site Valhalla88 (www.valhalla88.com). Como esta web site está fora do ar desde
2007, tornando impossível o acesso a suas páginas, foi necessário trabalhar inicialmente com
alguns de seus conteúdos disponíveis em alguns sites neonazistas como o Nuevordem
(http://www.nuevorden.net/portugues/valhalla88.html),maior site neonazista da Espanha com
versão em português e o site do Partido Nacional Socialista Brasileiro88
(http://www.nacional-socialismo.com/Doutrina.htm), sítio eletrônico mais ativo atualmente
no Brasil. Também foi utilizado o site Internet Archive (http://www.archive.org/) como
espaçopara a pesquisa. Este site funciona como uma organização sem fins lucrativos que foi
fundada para construir uma biblioteca de Internet. Seus objetivos incluem oferecer acesso
permanente para investigadores, historiadores, estudiososeo público em geral para coleções
históricas que existem em formato digital, dentre estas coleções estão disponíveis várias
páginas do Valhalla88, o que enriqueceu desta pesquisa.
Através da visitação e arquivamento dos conteúdos encontrados nos sítios eletrônicos
citados,foi possível perceber como grupos neofascistas se apropriam de todos os meios
disponíveis no ciberespaço, para propagarem suas ideias extremistas dentro da web.
Amonográfia compreendeu o levantamento, fichamento e classificação do conteúdo do
Valhalla88, para um melhor esclarecimento sobre as estratégias de doutrinação utilizadas por
grupos neonazistas através do ciberespaço.
Através deste trabalho, foi possível perceber o quanto o ciberespaço vem sendo
utilizado cada vez mais por grupos de extrema-direita no intuito de propagarem suas ideias e
conseguirem mais adeptos as suas causas políticas. Todavia, são poucos os historiadores que
se interessamem estudar a “rede” e suas apropriações por grupos políticos extremistas,
mantendo-se distantes da Internet enquanto objeto de estudo e ferramenta para compreender
as relações sociais e de poder na contemporaneidade.
9
Dividimos o trabalho em dois capítulos. No primeiro, Relações entre História e
Internet, buscamos compreender como a Cibercultura mudou as relações sociais e ampliou as
possibilidades de fontes para a pesquisa histórica. Nos segundo, A intolerância na Internet:
o site Valhalla88 e o Ressurgimento dos Fascismos, fizemos uma descrição da web site
Valhalla88, objeto de estudo deste trabalho e mostramos como grupos de extrema-direita se
apropriam da web para propagarem seus ideais de racismo, intolerância e ódio a negros,
judeus, homossexuais e nordestinos em prol da “raça ariana”.
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Capítulo I: Relações entre História e Internet
I.Pode o Ciberespaço ser estudado?
Ao falar sobre Internet1, a Rede Mundial de Computadores, rapidamente pensamos no
que há de mais novo em termos de ciência, arte e tecnologia. Fonte quase inesgotável de
conhecimento e pesquisa, a Internet, atualmente experimenta uma expansão caracterizada por
sua alta velocidade, de maneira desordenada e, até onde se sabe anárquica, o que difere este
meio de comunicação de todos os outros que já conhecemos.
A existênciadesse “novo” meio de comunicação implicou e implicará uma série de
mudanças no cotidianodos seres humanos ao redor do mundo. Qual será a diferença dos
nossos dias com o advento denovas tecnologias, como, por exemplo, o personal computer
(computador pessoal), que atualmentepode ser encontrado em qualquer escritório, em todas as
universidades e repartições públicas, emmuitas casas e escolas, no supermercado e na vitrine
de inúmeras lojas a preços muito acessíveise com facilidades garantidas?
Se o mundo está sendo culturalmente afetado, quais serão as consequências dessa
revolução tecno-sociológica, não apenas das máquinas, mas também da vida e do pensamento
humano? Como aderir a estas mudanças sem sermos engolidos por ela de forma voraz e, até
mesmo, automaticamente inconsciente. Entender os mecanismos da Internet é imprescindível
para nos juntarmos a ela de uma maneira consciente, e não apenas sermos levados pelos
modismos e manias, ou uma sensação horrível de desatualização ou alienação.
A Internet tem causado duas revoluções: a primeira é no âmbito mundial pelo seu
potencial de gerar, transportar, sugerir e disseminar a informação, numa atmosfera
democrática e distante da manipulação dos outros veículos de comunicação de massa; e a
segunda revolução da Internet ocorre do ponto de vista pessoal, transformando a relação
1O nome Internet vem de internetworking (ligação entre redes). Embora seja geralmente pensada como sendo
uma rede, a Internet na verdade é o conjunto de todas as redes e gateways que usam protocolos (TCP/IP) usados
para o transporte da informação. A Web (WWW) é apenas um dos serviços disponíveis através da Internet, e as
duas palavras não significam a mesma coisa. Fazendo uma comparação simplificada, a Internet seria o
equivalente à rede telefônica, com seus cabos, sistemas de discagem e encaminhamento de chamadas. A Web
seria similar a usar um telefone para comunicações de voz, embora o mesmo sistema também possa ser usado
para transmissão de fax ou dados. Cf. LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São
Paulo: Ed. 34. 1999. Pag. 255.
11
homem x máquina, de uma guerra de capacidade de produtividade e inteligência em uma
interatividade quase humana e quase máquina2.
Esta virtualidade que reestrutura as relações sociais permite que as pessoas, através da
rede, mantenham, à distância, a sua atividade familiar, de trabalho e da vida quotidiana.
Portanto, a nova lógica de sociabilidade, move-se, através das comunidades virtuais, onde as
pessoas se organizam, por intermédio das novas possibilidades tecnológicas (celulares, e-
mails etc.), em torno dos seus valores, afinidades, projetos e interesses específicos.
No entanto, isto não quer dizer que a sociabilidade através do lugar, tenha
desaparecido, mas, há uma transição do predomínio das relações primárias (família, lugar de
residência, emprego), para o predomínio de um novo sistema de relações sociais, mais
centradas no indivíduo. Estas comunidades virtuais que se vão formando, têm potencialidades
ao fortalecerem movimentos sociais, que giram em torno de valores culturais, e que encontra
na Internet um meio de comunicação para atingirem os seus objetivos.
A Internet é, sem dúvida, uma tecnologia da liberdade, mas pode servir para libertar os
poderosos e oprimir os desinformados. Após toda a análise e descrição do papel da Internet na
atividade econômica, política, cultural e social do mundo, e observando os problemas mais
importantes que afetam todas as sociedades em geral, percebemos a importância de colocar
esta ferramenta a serviço de um modelo de desenvolvimento econômico e social mais justo.
Para que se consiga esta mudança, será necessário evitar o comodismo em não querer
participar e desenvolver a nossa responsabilidade individual, como seres humanos informados
e conscientes dos nossos deveres e direitos, com confiança nos nossos projetos, provocando
uma mudança na práxis das instituições governamentais, para que se exerça uma verdadeira e
responsável democracia. A sociedade em rede poderia representar essa possibilidade de
participação e interação democrática, entre governos e cidadãos, na construção de um mundo
melhor, concretizando a promessa do ideal Internet.
2“(...) em nossa época a Internet poderia ser equiparada tanto a uma rede elétrica quanto ao motor elétrico, em
razão de sua capacidade de distribuir a força da informação por todo o domínio da atividade humana. (...) a
Internet passou a ser a base tecnológica para a formação organizacional da Era da informação: a rede”. CF.
CASTELLS, Manuel. A Galáxia Internet: Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade. Tradução de
Maria Luiza X. de A. Borges; revisão Paulo Vaz. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2003. Pag. 07.
12
De fato, o fenômeno da popularização da Internet modificou a sociedade em diversos
aspectos e setores. Desde a fundação do comércio eletrônico, até o uso da rede como meio de
comunicação em diversas instâncias, tal popularização veio a modificar de diversas maneiras
a vidas das pessoas conectadas à rede3.
Imagem 1 – Capturado em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1517> em: 27/06/2011.
Além da possibilidade do uso da Internet como instrumento para diminuir as
desigualdades sociais, a web serve como difusor de conhecimento e de ideias das mais
diversas, sendo usado, tanto por movimentos sociais, quanto por organizações não
3Em três anos, o percentual de brasileiros de dez anos ou mais de idade que acessaram ao menos uma vez a
Internet pelo computador aumentou 75,3%, passando de 20,9% para 34,8% das pessoas nessa faixa etária, ou
56 milhões de usuários, em 2008. (...) Os mais jovens acessam mais a Rede mundial de computadores, assim
como os mais escolarizados – embora, entre 2005 e 2008, o acesso tenha crescido mais entre aqueles com menos
anos de estudo. As diferenças regionais no uso da Internet permanecem, sendo que o percentual de usuários era
menor no Norte (27,5%) e Nordeste (25,1%) e maior no Sudeste (40,3%), Centro-Oeste (39,4%) e Sul (38,7%).
O local de onde mais se acessava a Internet continuava sendo, em 2008, o próprio domicílio, mas em segundo
lugar vinham os centros públicos de acesso pago – ou lanhouses -, que superaram o local de trabalho (segundo
local de acesso em 2005). Também houve mudança no principal motivo que leva as pessoas a usarem a Internet:
83,2% acessaram a Rede em 2008 principalmente para se comunicar com outras pessoas – em 2005, o principal
motivo era educação ou aprendizado, que caiu para o terceiro lugar em 2008. Nesses três anos, o acesso à
Internet por conexão de banda larga duplicou, mas, em 2008, 32,8% dos que não acessaram a Rede ainda diziam
que não queriam ou não achavam necessário usá-la. Disponível em
<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1517> Capturado em:
27/06/2011.
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governamentais, ou mesmo por entidades que lutam por direitos de minorias, para citar alguns
exemplos.
Com a Internet, surgiram novas formas de sociabilidade on-line, mostrando como
algumas questões, como os perigos da comunicação em rede, o isolamento social do
indivíduo, a ruptura da comunicação social e da vida familiar, e o desempenho de fantasias
on-line (role playing4), onde os indivíduos vivem realidades virtuais, fugindo do mundo real,
podem existir pontualmente. No entanto, não são generalizáveis, sendo difícil chegar a uma
conclusão definitiva sobre os efeitos que a rede pode ter sobre o grau de sociabilidade.
Imagem 2 - Capturado em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1517> em: 27/06/2011.
De fato, a Internet é um meio que proporciona a troca de ideias e informações, com
custos bastante inferiores em relação a outros meios “clássicos” de difusão, como jornais,
propagandas em Rádio/TV, abrindo espaço inusitado a pessoas e ideias, algumas delas nem
4 Role Playing Game ou RPG é um jogo para o qual um grupo de pessoas se reúne e cria “personagens” para
participarem de uma aventura. Um dos jogadores fará o papel de game máster da partida, sendo responsável por
criar as regras e situações que os jogadores irão enfrentar. Cf. LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos
Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34. 1999. Pag. 257-258.
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sempre de fácil circulação, ou mesmo ilegais. A convergência entre Internet e multimídia se
reflete nas práticas atuais midiáticas, tais como o envio de música através da Internet, os
jornais disponíveis on-line, os videojogos on-line, entre outros, distinguindo os meios de
comunicação dos meios de entretenimento ou de infoentretenimento (como é o caso da
televisão).
A Internet é a infraestrutura material de uma forma organizativa concreta: a rede. O
tipo de comunicação que prospera na Internet é realmente o que se relaciona com a liberdade
de expressão, como o espírito de fonte aberta, a emissão livre de mensagens, a interação
inesperada, a comunicação orientada para um fim determinado e a criação coletiva.
Para pensarmos sobre a revolução causada pela Internet de uma forma mais completa,
não podemos nos limitar à história ou a números da Rede. Existe uma transformação
sociocultural muito grande e muito presente na vida, até mesmo daqueles que ainda não estão
efetivamente conectados à Rede. Essas mudanças podem estar implícitas. Essa impressão, por
exemplo, de estarmos sempre atrasados ou desinformados, numa busca incessante por um
conhecimento que, por mais inteligentes ou capacitados que sejamos nunca conseguiremos
dar conta, é uma característica da sociedade no século que se inicia.
II.O Conceito de História Digital
O ciberespaço facilitou o acesso à informação, rompendo as barreiras do espaço e do
tempo. Por um lado, a busca por informações passa a ser global, na medida em que elas estão
disponíveis na web. Por outro, as bases de dados permitem que os processos de pesquisa
acelerem e se refinem, passando a ser mais rápido e mais preciso conseguir acesso à
informação disponível nos milhões de páginas da web. Este manancial de informação
representa uma memória social, dinâmica, organizada e navegável, tornando mais fácil e ágil
a pesquisa histórica. Segundo Cristiane Nova, “o avanço da história, enquanto atividade de
“reconstrução” do passado histórico, não dependerá mais do acúmulo de documentação, mas
da capacidade do pesquisador de trabalhá-la”5.
5NOVA, Cristiane. A informática e a Democratização da Pesquisa Histórica. In: In: Olho da História, No. 4.
Capturado no endereço eletrônico: <http://www.oolhodahistoria.ufba.br/04nova4.html> em 14/04/2010.
15
A Internet pode facilitar a pesquisa histórica, mas não se pode ter uma confiança
acrítica neste meio, cabendo ao pesquisador ter o máximo cuidado com o tipo de web site,
arquivos e documentos que estão sendo estudados. No entanto, com a crescente evolução
técnica, a rede pode e deve se transformar num meio vital de pesquisa, juntamente com outras
práticas mais tradicionais do oficio do historiador.
O Ciberespaço transformou-se num lugar para fazer pesquisa histórica e obter acesso
fácil aos espaços do conhecimento cientifico, além de local adequado para a troca de
conhecimentos entre seus mais variados tipos de usuários, saindo dos espaços tradicionais de
troca de conhecimentos. É graças a essa revolução tecnológica proporcionada pela Internet,
que podemos observar a anulação da distância física entre professores e alunos, assim como
entre pesquisadores e suas fontes6.
A web parece oferecer hoje para a pesquisa histórica, serviços de comunicação que
facilitam o acesso à informação, podendo o profissional de história ter acesso às fontes
históricas, além de ler e aperfeiçoar o ensino da historia através da tecnologia.
O processo histórico de desenvolvimento da Internet foi condição necessária para
descrever e compreender como os historiadores podem repensar alguns aspectos da pesquisa
histórica. A nova linguagem da rede tem consequências sobre a forma de fazer, pensar e ler a
história.
As técnicas de computador e as novas tecnologias disponíveis para o estudo
historiográfico são muito importantes para a nova linguagem digital, assim como o
hipertexto7, à disposição na web, constitui-se a base para uma profunda revolução na maneira
de fazer história hoje, além do modo de como vivemos e nos comunicamos. Com ou sem a
Internet, o hipertexto e o digital, o historiador permanece com suas habilidades e
6La moltiplicazione delle risorse a disposizione di ogni livello di curiosità e di interesse storico consente
sicuramente di vedere nel web un territorio di esplorazione vastissimo; ma, al tempo stesso, la natura eterogenea
della nozione di “risorsa”, la sua estrema variabilità in funzione della tipologia di chi cerca informazione in rete
e di chi la offre, la rendono particolarmente scivolosa e non agevolmente utilizzabile con riferimento specifico
agli studi storici. CF. MIMUTI, Rolando " Internet e il mestiere di storico. Riflessioni sulle incertezze di una
mutazione ", Cromohs, 6 (2001). Capturado do endereço eletrônico:
<http://www.cromohs.unifi.it/6_2001/rminuti.html> em 19/05/2010. 7“Hipertexto é uma forma não linear de apresentar e consultar informações. Um hipertexto vincula informações
contidas em seus documentos (ou “hiperdocumentos”, como preferem alguns) criando uma rede de associações
complexas através de hiperlinks ou, mais simplesmente, links”. Cf. LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de
Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34. 1999. Pag. 254.
“Tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas,
imagens, gráficos ou partes de gráficos, sequências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser
hipertextos”. Cf. LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência: O Futuro do Pensamento na Era da
Informática. Tradução de Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993. Pag. 33.
16
conhecimentos intactos, a única mudança será na escolha ou não do pesquisador de utilizar
estas novas ferramentas e todos os benefícios e dificuldades que elas venham a trazer para o
seu oficio.
A Internet é umaferramenta contra a fragmentação do saber histórico se for utilizada
de acordo com sua identidade e possibilidades, isto é, como uma forma interativa de
transmitir informação instantânea de maneira horizontal a várias partes do mundo. Lembrando
que os limites do digital permanecem relativos à capacidade dos homens que escrevem a
história.
Se com a rede de informações disponíveis na Internet ampliamos considerável e
inexoravelmente a quantidade e a qualidade de recursos, também se aumenta a necessidade da
definição dos problemas ocasionados por sua utilização, cabendo ao pesquisador ficar atento a
uma série de cuidados. Com isso, a “rede” torna-se uma ferramenta extraordinária, cujo
potencial já está parcialmente implantado, mas que ainda necessita de uma consciência crítica
ao utilizá-la, sendo que as novas tecnologias da comunicação podem efetivamente contribuir
muito para a pesquisa, ensino e aprendizagem em história.
Tomando a ideia de alargamento das fontes, é possível agregar à categoria das fontes
históricas a conteúdos presentes na Internet, desde que haja certa cautela, pois o número
excessivo de informações em alguns casos, a possibilidade de falsificação de discursos e
também o risco de uma fonte desaparecer do dia para a noite (sites podem ser apagados tanto
por iniciativa dos próprios webmasters – criadores da página –ou mesmo por decisão judicial,
passando também por ataque de hackers ou pane nos sistemas onde estão hospedados os
arquivos das páginas). Lévy reconhece que o dilúvio informacional não terá fim8.
A possibilidade de acesso por via eletrônica de catálogos e bibliotecas eletrônicos ou
índices e inventários de arquivos é uma ajuda importante para a pesquisa, fornecendo
ferramentas altamente eficazes para a organização do trabalho, investigações e acesso aos
materiais que o pesquisador deseja através do desenvolvimento das bibliotecas digitais.
Através de um computador conectado em rede, temos coleções inteiras de textos e
documentos raros que, na maioria das vezes, é difícil de encontrar e ter acesso em bibliotecas
tradicionais, o que representa um avanço importante para a pesquisa histórica.
8”As telecomunicações são de fato responsáveis por estender de uma ponta à outra do mundo as possibilidades
de contato amigável, de transações contratuais, de transmissões do saber, de trocas de conhecimento, de
descoberta pacífica das diferenças” Cf. LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São
Paulo: Ed. 34. 1999. Pag. 14.
17
No entanto, a disponibilidade de reproduções digitais conduz a levantar problemas
deste tipo de documentação. O primeiro problema metodológico fundamental que está diante
de um documento digital é a sua falta de materialidade como fonte. Um documento para
assumir o caráter de fonte histórica não deve estar sujeito a mudanças que não estão
documentadas, além de que para se tornar fonte histórica o documento necessita da
intervenção de um pesquisador que o selecione, em meio a vários outros documentos, como
fonte para pesquisa histórica. Ao contrário do papel ou a materialidade do seu testemunho, o
documento eletrônico está sujeito a mudanças e alterações que podem não deixar vestígios
detectáveis.
O trabalho do profissional de história com a informática também engloba recursos
para reprodução, à acumulação e o tratamento de informações, desde o apelo ao scanner,
particularmente importante para quem pesquisa fontes visuais, passando por programas
estatísticos, extremamente úteis para os historiadores debruçados sobre dados quantitativos,
mas também aplicáveis aos mais diferentes tipos de materiais. Esses instrumentos copiam,
acumulam, confrontam e processam dados numa velocidade nunca antes imaginada por
historiadores do passado.
Tudo isso, obviamente, tem consequências diretas no importante problema técnico da
preservação da história digital, que, no momento, é uma das principais preocupações dos
historiadores.
Mais uma característica das ferramentas oferecidas pelas tecnologias da inteligência é
a extrema rapidez da reprodução, do processamento e da circulação de informações. Esse
ritmo sempre acelerado representa uma vantagem no mundo onde vivemos. Gastamos muito
menos tempo para copiar uma documentação gigantesca ou para obter cópias de fontes que
estão em arquivos muito distantes, bem como para processá-la de diferentes formas, do que
qualquer pesquisador de décadas passadas ou até mesmo pesquisadores tradicionais ou céticos
quanto à utilização da web gastaria9.
9La moltiplicazione delle risorse a disposizione di ogni livello di curiosità e di interesse storico consente
sicuramente di vedere nel web un territorio di esplorazione vastissimo; ma, al tempo stesso, la natura eterogenea
della nozione di “risorsa”, la sua estrema variabilità in funzione della tipologia di chi cerca informazione in rete
e di chi la offre, la rendono particolarmente scivolosa e non agevolmente utilizzabile con riferimento specifico
agli studi storici. CF. MIMUTI, Rolando " Internet e il mestiere di storico. Riflessioni sulle incertezze di una
mutazione ", Cromohs, 6 (2001). Capturado do endereço eletrônico:
<http://www.cromohs.unifi.it/6_2001/rminuti.html> em 19/05/2010.
18
Para Sá (2008), tanto para a pesquisa quanto para o uso da Internet em salas de aula
(seja por parte dos professores ou alunos), é necessário avaliar os sites que são utilizados.
Citando Kelly Schrum, chama a atenção para a preocupação em identificar o autor dos
textos/vídeos/imagens ou criador do site, a partir da pesquisa onde as páginas estão
hospedadas e qual o domínio das mesmas (.edu, .org, .com, .gov, . net)10
.
Estes procedimentos parecem sanar diversos problemas no uso da Internet para
pesquisa, sobretudo no espaço das salas de aula. Porém, a questão do anonimato pode causar
diversos problemas ao historiador que usa a Internet como instrumento ou fonte de pesquisa,
seja em nível primário ou secundário. Obviamente, nem todos os sites presentes na rede são
de propriedade de governos e empresas, tampouco são explícitos os créditos autorais destes
materiais.
Nos sites dos órgãos que prestam serviço de registro de domínio no Brasil
(http://www.registro.br) , é possível buscar informações dos domínios já registrados. Desta
forma, o pesquisador pode ter grande possibilidade de comprovação de autenticidade ou
autoria. Obviamente, há casos que buscam burlar as regras do processo (principalmente no
caso de sites com material proibido pela Justiça brasileira, tais quais mensagens racistas,
neonazistas, pirataria etc.).
Páginas brasileiras com teor neonazista são normalmente hospedadas em servidores
fora do Brasil, pois desta forma estão sujeitos – a princípio – às leis dos locais onde se
encontram os servidores. Como a legislação dos EUA garante a liberdade de expressão
(mesmo para caso de movimentos racistas, intolerantes e que pregam o ódio), são necessárias
operações demoradas e que envolvam esforços de dois ou mais países para se retirar sites
como os neonazistas White Power São Paulo (www.whitepowersp.org) e Valhalla88
(www.valhalla88.com) do ar.
A busca pela autenticidade ou ao menos dos disseminadores de textos e ideias na
Internet é algo que pode ser utilizado em qualquer pesquisa que trate de fontes virtuais. Os
fóruns de discussão e páginas de relacionamento são um fenômeno em alto crescimento,
sobretudo no Brasil. Estes sites abrem a possibilidade a qualquer usuário criar comunidades
10
CF. SÁ, A. F. DE A. Admirável Campo Novo:O Profissional de História e a Internet. Rio de Janeiro:
Revista Eletrônica Boletim do TEMPO, Ano 3, n. 07, Rio, 2008. [ISSN 1981-3384]. Capturado no endereço
eletronico:<http://www.tempo.tempopresente.org/index.php?option=com_content&view=article&id=3620%3Aa
dmiravel-campo-novo-o-profissional-de-historia-e-a-internet&catid=222&Itemid=100076&lang=pt>em
12/07/2009.
19
de temas específicos, onde é criado um espaço de interação entre pessoas que reúnem os
mesmo gostos e opiniões, estabelecendo assim uma possibilidade de pesquisa.
Porém, na Internet o passado é problematizado e rearticulado em diferentes níveis,
para diversificados usos. Desta forma, parece ser perfeitamente possível o estudo da
articulação da memória histórica e social mediante o uso da Internet, seja por grupos
pseudoanônimos ou por instituições das mais variadas matizes. Há diversos projetos em
andamento de digitalização de arquivos históricos e disponibilização de tais na rede, tais
como o site do CPDOC (http://cpdoc.fgv.br), além de variados artigos e produções
historiográficas em periódicos on-line. Estas iniciativas fortalecem duas questões essenciais à
História: o alargamento das fontes e a difusão do conhecimento.
As relações entre os homens, o trabalho, a própria inteligência dependem, na verdade,
da metamorfose incessante de dispositivos informacionais de todos os tipos. Escrita, leitura,
visão, audição, criação, aprendizagem são capturados por uma informática cada vez mais
avançada. Não se pode mais conceber a pesquisa histórica sem uma aparelhagem complexa
que redistribui as antigas divisões entre experiência e teoria. As Tecnologias da Inteligência
tornaram-se dispositivos técnicos fundamentais para a história digital, pelo qual percebemos o
mundo, pois hoje, cada vez mais concebemos o social, os seres vivos ou os processos
cognitivos através da informática.
III.Um pouco da história da Internet
Apesar da presença ampla da Internet em diversos setores da sociedade, chegando a
ser associada a possibilidades de democratização, ao livre acesso à informação e a inclusão
sócio digital, o início deste meio remonta ao contexto norte-americano da Guerra Fria, mais
especificamente aos anos 1960.
A ideia para o que hoje chamamos de Internet surgiu a partir das experiências em
torno da Arpanet, rede de computadores criada em setembro de 1969 pela ARPA – Advanced
Research Projects Agency, instituição formada em 1958 pelo Departamento de Defesa dos
Estados Unidos. A ARPA seria incumbida de mobilizar recursos de pesquisa, principalmente
no âmbito universitário, com o objetivo de alcançar a superioridade tecnológica militar em
relação à União Soviética, funcionando como uma espécie de resposta institucional norte-
20
americana ao lançamento do primeiro satélite Sputnik, em 1957. A agência deveria criar uma
rede de comunicação descentralizada, flexível e capaz de sobreviver a um ataque nuclear11
.
Foi escolhido para a rede um modelo proposto por Paul Baran em 1962, que lançou a
ideia de comunicação digital via comutação de pacotes numa série de estudos sigilosos feitos
na RAND Corporation. Estes estudos foram realizados em função de um contrato com a
ARPA cujo objetivo era a idealização de um sistema de comunicações que não pudesse ser
interrompido por avarias locais.
Nesta época a Guerra Fria estava no seu auge e a preocupação dos militares
americanos era a criação de uma rede de telecomunicações que não possuísse uma central e
que não pudesse ser destruída por nenhum ataque localizado. Uma consequência importante
desta escolha e dos desenvolvimentos posteriores é que a rede herdou esta propriedade. Na
verdade, qualquer defeito de equipamentos na rede não irá interromper o seu funcionamento
como adicionalmente nem chega a interromper sequer as comunicações entre processos em
curso na hora da avaria, desde que permaneça em funcionamento alguma conexão física entre
os dois processos. Isto resulta na robustez extraordinária da rede Internet.
Na época, já existiam algumas redes de computadores, mas cada um deles impunha as
suas normas e utilizava linguagens de comunicação incompatíveis com as dos restantes. Por
outro lado a rede deveria oferecer confiança aos utilizadores, isto é, as mensagens deveriam
chegar intactas aos receptores quaisquer que fossem os acidentes encontrados no seu percurso
entre o emissor e o receptor. A solução proposta para o problema compreendia por um lado a|
utilização de redes do tipo distribuído nas quais era possível conectar um receptor e um
emissor utilizando vários percursos. Se um nó da rede avariasse a mensagem deveria
continuar o seu percurso utilizando outro caminho disponível.
Paul Baran e o inglês Donald Davies tinham imaginado um sistema de comutação por
pacotes que resolveria o problema. Uma mensagem nunca circularia completa na rede; seria
“cortada” previamente em “pacotes” que seriam enviados por caminhos distintos. Cada
11
“El lanzamientodel primer satélite por la URSS en 1957 originóun tremendo estupor en todo el mundo y una
clara concienciaenelgobiernonorteamericano de haber perdido elliderazgoenlacarrera espacial. Como
consecuenciasurgiólanecesidad de aplicar al máximo los más recientes avances científicos y técnicos enel campo
de la defensa para lo que se creóun organismo, la Agencia de proyectos de investigaciónavanzada ARPA,
(AdvancedResearchProjectsAgency) cuyamisión era el financiar investigaciones concretas en Universidades,
Fundaciones y empresas privadas”. CF. FARINOS, Angel Martinez de Velasco. Los Orígenes de Internet. In:
Hispania Nova, Nº. 2, (2001-2002). Capturado no endereço eletrônico:
<http://hispanianova.rediris.es/general/articulo/024/art024.htm> em 05/01/2011.
21
“pacote”, criptografado conteria o endereço do emissor, o endereço do receptor, o número de
ordem do “pacote” e, evidentemente, o conteúdo do “pacote”. Deste modo o computador
receptor poderia reconstituir, localmente, para o receptor a mensagem original12
.
O propósito da Arpanet consistia basicamente em interligar, por via de uma rede
descentralizada, determinados pontos estratégicos, como unidades militares, centros de
pesquisa e de desenvolvimento de novas tecnologias, todos de extrema importância para o
Estado norte-americano. A decisão de usar um sistema de redes descentralizado, sem um
grande servidor central, estava intimamente ligada às preocupações do governo norte-
americano, temerário em relação à possibilidade de um ataque Soviético. Para o possível
desenvolvimento desta rede distribuída é proposto o uso de diversos elementos de
comunicação entre os quais o uso da linha de telefone de pulso, links de micro-ondas,
estações de televisão e satélites.
Imagem 3 - FARINOS, Angel Martinez de Velasco. Los Orígenes de Internet. In: Hispania Nova, Nº. 2, (2001-2002). Capturado no
endereço eletrônico: <http://hispanianova.rediris.es/general/articulo/024/art024.htm> em 05/01/2011.
12
“El método de conmutación de paquetes, packet-switching, tenía dos ventajas importantes: por un lado permitía
que variosusuarioscompartiesenlamismaconexión al fragmentar losdatosen unidades discretas que se podían
enviar por separado y, por otro, permitíareconocerunmensaje incompleto, ya que ningúnmedio de transmisión es
absolutamente seguro, y pedir elreenvío de los paquetes que falten”. CF. FARINOS, Angel Martinez de Velasco.
Los Orígenes de Internet. In: Hispania Nova, Nº. 2, (2001-2002). Capturado no endereço eletrônico:
<http://hispanianova.rediris.es/general/articulo/024/art024.htm> em 05/01/2011.
22
A Arpanet expandiu rapidamente, sendo que em 1981 já era constituída por 213 nós.
Seu sucesso atraiu o interesse de outra instituição do governo norte-americano, a National
Science Foundation (NSF), um órgão independente da agência federal norte-americana criado
em 1950, com a função de, entre outros preceitos, promover o progresso da ciência.
A NSF começou o desenvolvimento de uma rede nos moldes da Arpanet, porém sem
fins militares. A NSFNet, em meados de 1984, inaugurou um modelo de rede que serviria
como base para o surgimento da Internet como a conhecemos hoje. A Internet começou a se
estabelecer no início da década de 1990, a partir da junção entra a Arpanet e a NSFNet. É
plenamente possível relacionar a abertura do uso destas redes com o processo do fim da
Guerra Fria, tendo em vista que tal tecnologia poderia se tornar útil em diversos setores do
governo e da sociedade norte-americana, não apenas a interesses militares.
Com o surgimento de várias redes de computadores independentes, os líderes da
Arpanet lançaram uma nova iniciativa que tinha como objetivo investigar técnicas e
tecnologias de ligação de redes de pacotes de vários tipos. A ideia, apelidada de Projeto
Internetando, que deu origem ao nome atual da Internet, foi o desenvolvimento de padrões
que permitem que os computadores se comuniquem de forma transparente através de
diferentes redes de pacotes interligadas.
Dois estudantes da Universidade de Chicago criaram um novo protocolo, ou seja, uma
definição de como os “pacotes” se comportariam quando dois computadores se comunicam
uns com os outros, permitindo que o usuário possa usar o software de diferentes fabricantes e
apresentações diversas. Seu trabalho foi desenvolvido a partir de quatro pressupostos
fundamentais: cada rede deve ficar em sua própria e não necessitaria de mudanças internas
para se conectar a Internet. Se o pacote não chegar ao seu destino deve ser rapidamente
difundidos pelo transmissor. Poderia ser usado para interligar redes de caixas intermediárias
não devendo armazenar nenhuma informação sobre os fluxos individuais de pacotes que
viajam através deles, mantendo a sua simplicidade e evitando adaptações complicadas e
recuperação de vários modos de falha. Estas caixas, em seguida, chamadas gateways (portais)
e roteadores (routers). Não haveria controle global no nível das operações.
O conjunto de protocolos desenvolvido pelos cientistas é conhecido como TCP / IP, o
acrônimo das duas primeiras: Transmission Control Protocol (TCP) e Protocolo Internet (IP).
O protocolo TCP, fornece mensagens de pacotes gerados na fonte, e em seguida, reconstrói o
nó de destino. O protocolo IP é responsável por dirigir os pacotes, de modo que eles podem
23
viajar rotas diferentes, em vários nós e até mesmo redes diferentes, com padrões de
comunicação diferentes.
Apesar de seu crescimento, a Arpanetse transformou em uma comunidade menor,
comparada com outras que foram surgindo, impulsionado pela necessidade de ligar novas
máquinas que começavam a proliferar. Como o software TCP/IP era do conhecimento público
e sua tecnologia de base foi descentralizado e bastante anárquico, era impossível parar a
dinâmica da interface do usuário. Assim, nasceu em 1983 a INTERNET como a interligação
das várias redes de computadores surgidas a partir da Arpanet.
IV.A Guerra Fria
A Guerra Fria, ou paz armada, caracterizou-se por ser uma disputa ideológica,
econômica, política, tecnológica e militar. Contudo, nunca determinou uma disputa direta
entre as potências, mesmo tendo ocorrido disputas em áreas de influência, principalmente na
Ásia e África.
Quando situamos a Guerra Frianesse quadro de análise é preciso que tenhamos em
mente a política diplomática entre Moscou e Washington. Ainda é importante que
visualizemos a crescente tensão e o arrefecimento na intensidade das relações diplomáticas
entre as duas grandes potências mundiais. Ora temos aproximações; ora enfrentamentos.
Configura-se um mundo bipolarizado, que opõe: de um lado, os Estados Unidos e de outro, a
União Soviética; o primeiro defendendo o capitalismo, o segundo um modelo de socialismo
estatizante, com implicações para o mundo em diferentes momentos dessa demarcação de
limite histórico, talhado entre 1947 e 1991: “Por um lado, a Guerra Fria significou a
intensificação de conflitos, em escala planetária. Por outro, ela produziu, após a exacerbação
inicial, certa estabilidade, além de padrões toleráveis e previsíveis de confronto” 13
.
Assim, pode-se apresentar a Guerra Friacomo uma ordem bipolar, mas não como um
processo imóvel e estático. Havia divergências, tensões, e mudanças de interesses dos
diferentes atores envolvidos no processo. No interior dos dois blocos de poder, os países que
13
MUNHOZ, Sidnei J. Guerra Fria: Um debate interpretativo.In: Silva, Francisco Carlos Teixeira da (coord.)
O Século Sombrio: Uma História Geral do Século XX. Rio de Janeiro: Ed. Campus, Elsevier, 2004. Pag. 270.
24
os integravam, possuíam certa autonomia e as suas ações, muitas vezes, também poderiam
provocar crises.
É fato que houve alinhamentos de países, tendo em vista a órbita de ação e a
divulgação dos modelos de sociedades que prenunciavam. A atuação da OTAN, organismo
militar internacional do pólo Ocidental e o programa de auxílio à reconstrução da Europa, o
Plano Marshall (1948), demandaram uma atuação de oposição no bloco antagônico.
No Leste da Europa, foram criados organismos de ação política, estratégica e militar
que tinham por objetivo manter a unidade do bloco soviético e fazer frente ao bloco ocidental.
Nessa esteira, surge, em 1947, o Kominform, organismo destinado a unificar a ação dos
partidos comunistas e dos governos do Leste Europeu sob a direção de Stalin. Após dois anos,
o Comecon, uma versão soviética do plano Marshall, formava um conselho para incrementar
auxílio econômico mútuo entre os países do Leste europeu. O Pacto de Varsóvia,firmado em
1955, também foi um dos recursos de apoio e intimidação utilizados pela União Soviética na
relação com os países que gravitavam em torno das orientações político organizacionais de
Moscou. A contagem regressiva representa a corrida espacial, e nos remete ao período da
Détente14
(1969-1979); que se configura como um período da Guerra Fria em que houve,
14
Esta palavra de procedência francesa foi utilizada na diplomacia para denominar a distensão política entre
Estados. Na década de 1960, o termo foi empregado por Charles de Gaulle (1890-1970) ao se referir ao
relaxamento ocorrido nas tensões entre a França e a URSS. Logo, foi aplicado para denominar a aproximação
nas relações entre os EUA e a URSS. Por fim, détente foi empregada para definir a distensão entre os blocos
soviético e ocidental. No idioma russo o termo análogo é razryadkanapryazhennosti.
Embora haja controvérsias, a delimitação mais aceita para demarcar o fenômeno abarca o período que se estende
de 1969 a 1979. Essa fase não esteve livre de conflitos, e nela verificou-se a expansão da Guerra da Indochina.
Contudo, as duas potências, ao reconhecerem os seus interesses mútuos, definiram rituais e padrões aceitáveis
para a solução de dissensões. Essa fase da Guerra Fria foi marcada por relações que comportavam tanto a
cooperação quanto a competição. De forma recorrente, o clima de tranqüilidade era quebrado por divergências
na interpretação das ações da rival ou dos seus aliados, por vezes consideradas como quebra de protocolos e de
tratados. Tanto em um campo quanto no outro não foram poucos os obstáculos à execução das políticas de
distensão. Principalmente nos EUA, a oposição acusava o governo de efetuar concessões inaceitáveis e
procurava convencer à opinião pública que elas denotavam sinais de fraqueza prontamente explorados pela
adversária. Na União soviética, as tensões no campo das elites foram menores. Porém, dissidentes que apoiavam
à Détente afirmavam que ela não implicou a expansão das liberdades democráticas no país.
No período, houve aproximações entre EUA e URSS em diversos campos. Destacam-se os tratados de limitação
de armas nucleares (Salt-I); o Tratado de Helsinque, em que os EUA reconheceram a esfera soviética no Leste da
Europa; a cooperação na área científica, expressa na missão espacial Apollo-Soyuz. Nesse período, os EUA se
25
mesmo tendo em vista a política bipolarizada, entre os Blocos rivais, Estados Unidos e União
Soviética, certas intenções e medidas que visavam o controle no uso e produção de
armamentos.
Em 1957, a União Soviética saiu na dianteira da corrida espacial lançando o satélite
Sputnik ao espaço. Depois, Yuri Gagarin deu a volta ao redor da terra em abril de 1961, a
bordo da cápsula espacial Vostok, revelando ao mundo, uma informação, até então
desconhecida: a terra é uma imensa “esfera” azul. Assim, a URSS era comumente vista por
muitos no ocidente como uma ameaça real, a rondar e colocar em risco os valores, a posição
de liderança dos EUA e a estabilidade do chamado Mundo Ocidental. Em 1969, durante o
governo de Richard Nixon(1969-1974), os astronautas estadunidenses chegaram à lua
desencadeando a maior audiência da história dos meios de comunicação até então, estimada
em aproximadamente 600 milhões de telespectadores.
Nas densas proposições de ações, tanto da potência Ocidental quanto da Oriental, e
dos países que gravitavam em torno das suas respectivas órbitas, estava o firme entendimento
de que a capacidade científica de um país era a medida de seu progresso e poder.
Durante a Guerra Fria havia aproximações e arrefecimentos nos contatos entre a União
Soviética e o chamado mundo Ocidental, liderado pelos Estados Unidos. Constantemente
retoma-se a divulgação de parâmetros de acertos, acordos, controle de arsenais militares e da
produção de armas. Tais arrefecimentos e compreensões não estavam, todavia, restritos aos
EUA e a URSS, tampouco aos círculos diplomáticos, ou negociações econômicas e às
políticas internacionais, como afirma Hobsbawm15
.
aproximaram da China e exploraram a rivalidade sino-sovética. A China ingressou na ONU e passou a fazer
parte do seu Conselho de Segurança. A emergência de conflitos no chamado Terceiro Mundo, a invasão do
Afeganistão pela URSS, em 1980, a posse Ronald Reagan, em 1981, inviabilizaram a détente e a Guerra Fria
adquiriu contornos semelhantes àqueles da sua primeira fase. CF. MUNHOZ, Sidnei J. Guerra Fria Revisitada.
Disponível em: <http://leiturasdahistoria.uol.com.br/ESLH/Edicoes/4/artigo70335-1.asp>Acesssado em:
30/06/2011. 15
“Assim que a URSS adquiriu armas nucleares – quatro anos depois de Hiroxima no caso da bomba atômica
(1949), nove meses depois dos EUA no caso da bomba de hidrogênio (1953) – as duas superpotências
claramente abandonaram a guerra como instrumento de política, pois isso equivalia a um pacto suicida. Não está
muito claro se chegaram a considerar seriamente a possibilidade de uma ação nuclear contra terceiros – os EUA
na Coréia em 1951, e para salvar os franceses no Vietnã em 1954; a URSS contra a China em 1969 – mas de
todo modo as armas não foram usadas. Contudo ambos usaram a ameaça nuclear, quase com certeza sem
intenção de cumpri-la, em algumas ocasiões: os EUA para acelerar as negociações de paz na Coréia e no Vietnã
(1953, 1954), a URSS para forçar a Grã-Bretanha e a França a retirar-se de Suez em 1956. Infelizmente, a
própria certeza de que nenhuma das superpotências iria de fato querer apertar o botão nuclear tentava os dois
26
Como reação a este avanço tecnológico russo o presidente dos USA, Eisenhower,
criou, em Outubro de 1957, a ARPA - AdvancedReasearch Project Agency. O objetivo
principal da ARPA era o desenvolvimento de programas direcionados aos satélites e ao
espaço. A criação da NASA - NationalAeronautics& Space Administration -, no verão de
1958, parecia retirar à ARPA razão para a sua existência. No entanto, em 1961 a Universidade
da Califórnia – UCLA – em Santa Bárbara herdou da Força Aérea um enorme computador
IBM; o Q-32. Este fato iria permitir à ARPA orientar a sua investigação para a área darecém-
nascida informática. Para dirigir e coordenar o CommandandControlResearch – CCR – foi
contratado o psicólogo Joseph Licklider que era um especialista em computadores já com
reputação internacional.
No CCR o trabalho baseava-se na utilização do “batch processing” – processamento
de dados por lotes e em tempo controlado. Este processo que satisfazia a maioria das
necessidades de cálculo não se adequava à comunicação interativa com computadores nem à
transmissão de dados entre eles. Licklider criou então o IPTO –
InformationProcessingTechniques Office – orientado para a comunicação interativa e
transmissão de dados. Para a comunicação rápida entre os equipamentos de investigadores era
necessária à construção de uma rede - NET - pelo que a investigação, no âmbito da ARPA, foi
orientada para a construção de redes de comunicação de dados.
Em 1965 Licklider deixou a ARPA, mas a sua orientação foi continuada pelo seu
sucessor Robert Taylor, também psicólogo. Dispondo de um orçamento de 19 milhões de
dólares Taylor iniciou o financiamento da primeira rede de computadores. A tarefa não era
fácil. Já existiam redes de computadores desenvolvidas pelos fabricantes, mas cada um deles
impunha as suas normas e utilizava linguagens de comunicação incompatíveis com as dos
restantes. Por outro lado a rede deveria oferecer confiança aos utilizadores, isto é, as
mensagens deveriam chegar intactas aos receptores quaisquer que fossem os acidentes
encontrados no seu percurso entre o emissor e o receptor.
A solução proposta para o problema compreendia por um lado à utilização de redes do
tipo distribuído nas quais era possível conectar um receptor e um emissor utilizando vários
lados a usar gestos nucleares para fins de negociação, ou (nos EUA) para fins de política interna, confiantes em
que o outro tampouco queria a guerra. Essa confiança revelou-se justificada, mas ao custo de abalar os nervos de
várias gerações. A crise dos mísseis cubanos de 1962, um exercício de força desse tipo inteiramente supérfluo,
por alguns dias deixou o mundo à beira de uma Guerra desnecessária, e na verdade o susto trouxe à razão por
algum tempo até mesmo aos mais altos formuladores de decisões”. CF. HOBSBAWM, Eric. Guerra Fria. In:
Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991.São Paulo: Companhia das Letras, 1996. Pag. 227.
27
percursos. Se um nó da rede avariasse a mensagem deveria continuar o seu percurso
utilizando outro caminho disponível.
A primeira rede de computadores foi construída entre a Universidade da Califórnia –
Los Angeles -, SRI - Stanford ResearchInstitute -, Universidade de Utah e Universidade da
Califórnia – Santa Bárbara -. No dia 1 de Dezembro de 1969 “nascia” a ARPANET, que deu
origem alguns anos mais tarde a Internet como conhecemos atualmente.
Com a ascensão ao poder do líder Mikhail Gorbatchev, a União Soviética iniciou uma
mudança radical. Gorbatchev implantou a Glasnost (reestruturação política) e a Perestroika
(reestruturação econômica), a fim de buscar melhorar a crise em que estava inserido devido à
falência do Estado e à falta de investimentos tecnológicos. A União Soviética já vinha
atravessando uma crise intensa desde o início da década de 1980; Gorbatchev apenas iniciou a
passagem desse país para uma nova realidade, o capitalismo.
Posteriormente às mudanças na União Soviética houve um forte processo de
desmoronamento do bloco socialista do Leste Europeu. Esse movimento passou a ser
conhecido como efeito dominó e acarretou o movimento pró-democracia na região, marcada
muitas vezes por conflitos sangrentos e fragmentação do território.
O fim da Guerra Fria teve como marco a queda do Muro de Berlim, símbolo maior
deste conflito, pois dividia um país em duas ideologias diferentes. A Alemanha
posteriormente concretizou o projeto de reunificação.
V.A emergência da cultura hacker
A civilização do século XXI está cada vez mais conectada. As tecnologias da
informação, a exemplo da Internet, estão se tornando uma espécie de “tecido digital” do
cotidiano da vida humana.
Assim, cada vez mais a rede mundial de computadores se afirma como a base
tecnológica para a constituição de agrupamentos e organizações, que acabam por impactar
diretamente a dinâmica econômica, politica e cultural do mundo moderno. Esse contexto atual
de relações entre tecnologia e produção social acaba então se tornando um campo fértil para
estudos e pesquisas científicas. Muitos são os trabalhos acadêmicos que se debruçam sobre o
tema para tentar compreender essa realidade de intensas transformações que anunciam até
28
mesmo a superação da era industrial por uma “informacional”, em que impera a economia dos
bens digitalizados.
Pode-se dizer que todo o ecossistema colaborativo relacionado às comunidades e aos
projetos que estão voltados para o uso, o desenvolvimento e a distribuição de softwares
classificados como “livres” encontram-se fora da pauta de discussões e pesquisas acadêmicas.
Por essa razão, pouco ainda se sabe sobre a realidade das comunidades de softwares
livres situados no ciberespaço, que muitas vezes são responsáveis por definirem os rumos e
padrões tecnológicos da própria sociedade em rede. Além disso, a ética, o trabalho, a cultura,
a ideologia e a logica econômica dos sujeitos que interagem nesse ambiente digital acabam,
da mesma forma, sendo marginalizados e pouco compreendidos.
Apesar de suas origens estritamente militares, a Internet é fruto da inusitada
intersecção entre a big science, a pesquisa militar e uma cultura libertária. Da ARPANET até
a Internet como a conhecemos hoje, os padrões técnicos, os protocolos, os principais serviços
e aplicações, foram resultados de um processo aberto e colaborativo encabeçado por notáveis
pesquisadores e hackers. Um processo semelhante pode ser observado na história dos
microcomputadores e a Web - empreendimentos não institucionais, realizados por indivíduos
com o intuito de promover cooperação e comunicação livre.
Desde o nascimento da internet, a inteligência coletiva sempre se assentou na forma de
uma comunidade virtual. Se a cultura hacker possibilitou o surgimento das principais
tecnologias de democratização do acesso à informática, a cultura dos usuários moldou e
difundiu a maneira pela qual essas tecnologias passaram a ser usadas. As aplicações hackers,
transformadas em comunidades virtuais – como as salas de chat, listas de discussão, envio de
mensagens instantâneas, jogos online, conferências, redes sociais –, liberaram a expressão, o
relacionamento, o contato ou ainda a cooperação do espaço do face to face16
.
As comunidades eram utilizadas, no início, pelos chamados trabalhadores do
conhecimento (programadores, jornalistas, designers etc), porém, pouco a pouco pessoas de
todos os tipos ingressaram e construíram novas redes de produção de sentido através de
comunidades virtuais. Com o surgimento da Web, elas se multiplicaram e continuam se
16
“[...] essas comunidades virtuais se constituíram sob um ethos, primeiro, de uma visão de comunicação livre e
horizontal, numa estrutura em que toda pessoa goza da liberdade de expressar o que sente e pensa; e segundo, da
faculdade de auto-organização e auto publicação: quem não se vê mais pertencente a determinada comunidade,
sai pela “porta do ciberespaço” e funda uma outro lugar virtual para divulgar suas informações. A formação de
redes autônomas constitui um segundo valor das comunidades virtuais”. CF. CASTELLS, Manuel. A Galáxia
Internet: Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges; revisão
Paulo Vaz. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2003. Pag. 289.
29
multiplicando.
Assim, a cultura gerada em torno da Internet é essencialmente a cultura dos seus
produtores - pesquisadores e hackers. Ora, nada mais natural, considerando que os sistemas
tecnológicos são socialmente construídos e que a produção social é estruturada
culturalmente17
.
A origem da ética hacker data da década de 60 e se desenvolveu nas dependências da
universidade norte americana do MIT (Massachusetts Instituteof Technology). Num momento
em que os computadores eram monstros de algumas toneladas e vários milhões de dólares e
seu acesso era limitado há algumas horas previamente agendadas, a cultura do livre acesso,
compartilhamento e senso de comunidade aflorou. Já naquela época, os jovens que utilizavam
estes computadores desenvolviam programas para quebrar restrições de acesso impostas pelos
administradores do MIT, sempre no sentido de que quanto mais pessoas os utilizassem,
melhor seria.
Numa época em que as redes inexistiam, se o programa fosse bom, seu código fonte
era exposto em painéis próximos aos computadores para que qualquer um pudesse pegar e
melhorá-lo, numa lógica de evolução contínua dos códigos fonte, que se caracteriza como o
conjunto de instruções que revelam o que o programa faz. Os programas são escritos numa
determinada linguagem de programação e o trabalho do programador é, utilizando as regras
dessa linguagem, escrever o código fonte.
Esse plano de novas subjetivações assentou experiências que se tornaram fundamental
para criar processos de singularização que se mostrassem a base para a construção de estilos
de vida, de formas inovadoras de produção de empreendimentos econômicos e sociais, de
tecnologias inteligentes de produção, enfim, de todo um conjunto renovado de atividade rica
em valor.
Talvez a cultura hacker ilustre muito bem isto que queremos dizer. A motivação para
criação de inovações tecnológicas reside na construção de meios para que hajacirculação de
saberes que possa tornar a sociedade mais desenvolvida e mais aproximada.
O hacker busca o reconhecimento social,Quanto maior é o seu reconhecimento social,
maior é o seu acúmulo de capital humano, o que obviamente é traduzido em ofertas crescentes
de trabalhos e atividades.
17
“A cultura da Internet caracteriza-se em quatro camadas: a cultura tecnomeritocrática, a cultura hacker, a
cultura comunitária virtual e a cultura empresarial. Juntas, elas contribuem para uma ideologia da liberdade que é
amplamente disseminada no mundo da InternetCF. CASTELLS, Manuel. A Galáxia Internet: Reflexões sobre
Internet, Negócios e Sociedade. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges; revisão Paulo Vaz. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed, 2003. Pag. 34.
30
A economia política da cultura hacker faz residir o valor na circulação (dos seus
conhecimentos, mas também dos valores da sua própria vida). A internet, como invenção
máxima da cultura hacker, expressa bem essa nova configuração da produção do valor: é o
espaço de distribuição, mas também de produção de novos processos, produtos e serviços, que
eventualmente se tornam valores para a produção de outros processos, produtos e serviços.
A cultura hackerexemplifica como hoje o sujeito constrói o próprio mundo para além
de uma definição do valor como tempo, portanto, como repetitividade. Ela expressa um novo
modo de viver e gozar o tempo. Por isso que o trabalho será desmedido, já que informação e
cultura imputada num bem ou num processo é algo impossível de se mensurar em quantidade
de tempo. Portanto, fica claro, que é essa cultura hacker que dá sustentação ao ambiente
fomentador de inovações tecnológicas significativas mediante a colaboração e comunicação
“livres”, como também é ela que acaba permitindo a conexão entre o conhecimento originado
em universidades e outros centros de pesquisas e os subprodutos empresariais que difundem
as tecnologias de informação no mundo, ou seja, na materialidade da sociedade capitalista.
VI.Cibercultura
A Cibercultura configura-se como um exemplo de uma nova mídia presente na vida
social, que modifica e é modificada pelas relações sociais. Ela pode ser usada como fonte de
pesquisa para historiadores e afins, pois a popularização deste meio de comunicação veio a
ampliar - ou ao menos facilitar o acesso - o campo das relações humanas, tanto nos aspectos
político-estatais e no campo das transações econômicas e comerciais, quanto nas relações
pessoais e afetivas.
O crescimento do Ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens
ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as
mídias clássicas nos propõem, cabendo a nós explorarmos essas novas potencialidades de
maneira positiva nos planos econômicos, político e humano.
A Cibercultura expressa o surgimento de um novo universo, diferente das formas
culturais que vieram antes dele no sentido de que ele se constrói sobre a indeterminação de
um sentido global qualquer18
.
18
“O ciberespaço (que também chamarei de “rede”) é o novo meio de comunicação que surge da interconexão
mundial de computadores. O termo especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas
também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e
31
Se numa fase inicial, a Internet estava circunscrita a toda uma cultura meritocrática
norte-americana ligada a grandes universidades e centros de investigação e de estudos
inovadores, na fase do seu aperfeiçoamento e construção manteve-se como uma rede aberta
internacional, permitindo a qualquer pessoa, com conhecimentos técnicos suficientes e
interesse pelo seu desenvolvimento, participar nessa construção e partilha de conhecimento.
O esforço conjunto no desenvolvimento de uma rede que possibilitasse a comunicação
de todos para todos e a ideia da expectativa grandiosa da Internet como o sonho científico que
pretende, através da comunicação entre computadores, mudar o mundo.
São três os princípios fundamentais para o programa da Cibercultura: a interconexão,
as comunidades virtuais e a inteligência coletiva. Lévy afirma que para a cibercultura a
conexão é sempre preferível ao isolamento, é um bem em si. Para além de uma física da
comunicação, a interconexão constitui a humanidade em um contínuo sem fronteiras. O
segundo princípio prolonga o primeiro já que o desenvolvimento das comunidades virtuais se
apoia na interconexão. Uma comunidade virtual baseia-se em afinidades de interesses, de
conhecimentos, em um processo de cooperação ou de troca, independente de proximidades
geográficas. Segundo Lévy o terceiro princípio, da inteligência coletiva, seria sua perspectiva
espiritual, sua finalidade última.
Um dos principais motores da cibercultura é a inteligência coletiva. A qual constitui ao
mesmo tempo veneno e remédio. Veneno para aqueles que dela não participam e remédio
para aqueles que conseguem controlar-se em meio a seus turbilhões e correntes de
informações19
.
A rede midiática já está povoada e aumenta constantemente devido sua facilidade de
acesso em tempo real e por seu caráter interativo. Ela contém o equivalente a livros, discos,
alimentam esse universo. Quanto ao neologismo “cibercultura”, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais
e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente
com o crescimento do ciberespaço”. Cf. LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São
Paulo: Ed. 34. 1999. Pag. 17.
19
“Devido ao seu aspecto participativo, socializante, descompartimentalizante, emancipador, a inteligência
coletiva proposta pela cibercultura constitui um dos melhores remédios para o ritmo desestabilizante, por vezes
excludente, da mutação técnica”. Cf. LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São
Paulo: Ed. 34. 1999. Pag. 30.
32
programas de rádio, revistas, jornais, folhetos, currículos, videogames, espaços de discussões
e de encontros, mercados, tudo isso interligado, vivo e fluido20
.
A cada ano a internet abriga mais línguas e diversidades culturais. Para Pierre Lévy o
ciberespaço – palavra criada por William Gibson em 1984 é o espaço de comunicação aberto
pela interconexão mundial dos computadores. Com a digitalização o ciberespaço se tornará o
principal canal de comunicação e suporte de memória da humanidade21
. Desde que alguém
disponha de uma conexão pode obter qualquer informação que se encontra disponível no
ciberespaço independentemente de tempo e espaço. Para Pierre Lévy “o ciberespaço não
engendra uma cultura do universal porque de fato está em toda parte, e sim porque sua forma
ou sua idéia implicam de direito o conjunto dos seres humanos” 22
.
A Cibercultura encontra-se diretamente relacionada ao desenvolvimento tecnológico.
O espírito de fonte aberta do software da Internet permitiu a livre distribuição de códigos-
fonte, possibilitando que outros utilizadores (não militares) os aperfeiçoassem ou
desenvolvessem novos produtos, numa espiral crescente de inovação tecnológica. Neste
contexto, Castells descreve os quatro estratos culturais que, conjuntamente, produziram e
deram forma à Internet.
A cultura tecnomeritocrática, que conduziu à criação da Internet, é elitista e ligada à
comunidade científica e acadêmica, onde estão presentes os ideais da descoberta tecnológica,
estimulados pela relevância dessa descoberta na própria comunidade científica. A cultura
hacker é uma cultura que também visa à inovação tecnológica, baseada na livre criatividade
quer para absorver os conhecimentos disponíveis, quer para redistribuí-los na rede. Esta
cultura não depende de nenhuma instituição ou contexto social ou econômico. O trabalho
importantíssimo que o hacker desempenhou na fase de criação da Internet, aproximou-o ao
mundo da arte, uma vez que o hacker sempre se moveu pela genialidade de conseguir
desenvolver um software inovador, obtendo desse modo à relevância na comunidade virtual.
20
“Do mais básico ao mais elaborado, três princípios orientaram o crescimento inicial do ciberespaço: a
interconexão, a criação de comunidades virtuais e a inteligência coletiva”. Cf. LÉVY, Pierre. Cibercultura.
Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34. 1999. Pag. 127. 21
“A interconexão para a interatividade é supostamente boa, quaisquer que sejam os terminais, os indivíduos, os
lugares e momentos que ela coloca em contato. As comunidades virtuais parecem ser um excelente meio (entre
centenas de outros) para socializar, quer suas finalidades sejam lúdicas, econômicas ou intelectuais, quer seus
centros de interesse sejam sérios, frívolos ou escandalosos. A inteligência coletiva, enfim, seria o modo de
realização da humanidade que a rede digital universal felizmente favorece, sem que saibamos a priori em direção
a quais resultados tendem as organizações que colocam em sinergia seus recursos intelectuais. Em resumo, o
programa da cibercultura é o universal sem totalidade”. Cf. LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos
Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34. 1999. Pag. 132. 22
Cf. LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34. 1999. Pag. 119.
33
A cultura comunitária virtual é uma cultura que vai dar forma e uso à tecnologia
construída e/ou em construção, contribuindo para os fundamentos tecnológicos da Internet.
Fazem parte desta cultura, os utilizadores de redes, com conhecimentos técnicos limitados,
que após a eclosão da (WWW23
)na década de 90 do século passado, pretenderam utilizar a
Internet para a vida social.
Inicia-se uma nova Era e a Internet converte-se num “instrumento para a organização
social, a da ação coletiva e a da construção de sentido” 24
. Por fim, surge a cultura
empreendedora que descobriu o novo planeta Internet e tentou controlá-lo fazendo uso do
poder que acompanha esta tecnologia. Ou seja, a cultura empreendedora tem a capacidade de
transformar a tecnologia num valor financeiro, movida pela inovação empresarial e pelos
capitalistas de alto risco, capazes de arriscar tudo, por muito dinheiro.
A contribuição de todos foi fundamental para a criação cultural do mundo da Internet.
Em meados da década de 90, após a expansão da Internet, surgiram nos EUA vários aspectos
relacionados com um conjunto de fenômenos econômicos novos, como o crescimento da
produtividade, progressivamente mais elevada, a globalização dos mercados, a transformação
da lógica social da inovação, da produtividade e do crescimento econômico, entre outros, que
se expandiram aos setores mais dinâmicos das economias mundiais, especialmente na Europa,
o que levou muitos observadores a definirem o nascimento de “uma nova economia” 25
. Para
(CASTELLS, 2003: 20), esta nova economia ou e-economia, “emerge do interior da velha,
como resultado da utilização da Internet pelas empresas para os seus próprios fins e em
contextos específicos”.
A partir do surgimento do ciberespaço, a tecnologia tornou-se mediadora da vida em
sociedade. Agora tudo é mediado por alguém, alguma instituição, ou meio de comunicação.
Vivemos em “um mundo onde há mais mediação do em qualquer outro momento na história”
23
Abreviação de World Wide Web. Geralmente chamada apenas de Web, foi desenvolvida originalmente nos
laboratórios do CERN em Genebra. Atualmente o desenvolvimento da Web é supervisionado pelo World Wide
Web Consortium (http://www.w3.org). De forma simplificada, a Web pode ser descrita como um sistema de
hipermídia para a recuperação de informações através da Internet. Na Web, tudo é representado como hipermídia
(em formato HTML) e os documentos estão ligados através de links a outros documentos. A Web engloba seu
próprio protocolo, HTTP, e também alguns protocolos anteriores, tais como FTP, gopher e Telnet. Cf. LÉVY,
Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34. 1999. Pag. 259.
24
CF. CASTELLS, Manuel. A Galáxia Internet: Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade. Tradução
de Maria Luiza X. de A. Borges; revisão Paulo Vaz. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2003. Pag. 76. 25
CF. CASTELLS, Manuel. A Galáxia Internet: Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade. Tradução
de Maria Luiza X. de A. Borges; revisão Paulo Vaz. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2003. pag. 20.
34
26. Sendo assim, o ciberespaço apesar de ser um contexto complexo e imperativo, não é visto
tão distante assim da realidade moderna.
Todavia, Castells alerta para a importância de colocar esta ferramenta ao serviço de
um modelo de desenvolvimento econômico e social mais justo. A rede é, em primeiro lugar,
umas das principais ferramentas para acesso a informação, mesmo quando ainda é tradicional
em lugares físicos e virtuais. A web é potencialmente adequada para fornecer respostas para
muitas das nossas perguntas, desde que saiba o que perguntar como pesquisar e como
mobilizar os conteúdos adquiridos.
A rede estaria se transformando em uma fonte essencial de informação e divulgação
de informações institucionais e tradicionais. Críticos da Internet destacam especialmente a
incapacidade de encontrar o seu caminho neste mar de informações produzidas por
intelectuais, acadêmicos, cientistas e técnicos27
.
Com a inclusão tecnológica, testemunhamos de fato, nesta última década do século
XX, e mais particularmente após 1993-1994, uma grande revolução cultural, cientifica e de
comunicação na forma como vivemos e trabalhamos com o conhecimento em geral. A
Revolução Tecnológica oferecida pela Internet transformou drasticamente as formas de
sociabilidades humanas28
.
A Internet trouxe um novo modelo de escrita para a história, trazendo a possibilidade
de utilizar o hipertexto ou hiperlink para completar os documentos de texto, integrando
extensões multimídias como texto-imagem, filmes, músicas, vídeos, entrevistas, etc., ou seja,
uma massa incontrolável de novas formas de documentação, a partir do ponto de vista deste
tipo de escrita.
26
BRIGGS, Asa, PETER, Burke. Uma História Social da Mídia: de Gutenberg à Internet. Tradução de Maria
Carmelita Pádua Dias; Revisão de Paulo Vaz. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2004. 27
“[...] a emergência do ciberespaço é fruto de um verdadeiro movimento social, com seu grupo líder (a
juventude metropolitana escolarizada), suas palavras de ordem (interconexão, criação de comunidades virtuais,
inteligência coletiva) e suas aspirações coerentes”. Cf. LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu
da Costa. São Paulo: Ed. 34. 1999. Pag. 123. 28
“A cibercultura (...) mantém a universalidade ao mesmo tempo em que dissolve a totalidade. Corresponde ao
momento em que nossa espécie, pela globalização econômica, pelo adensamento das redes de comunicação e de
transporte, tende a formar uma única comunidade mundial, ainda que essa comunidade seja - e quanto! - desigual
e conflitante. Única em seu gênero no reino animal, a humanidade reúne toda sua espécie em uma única
sociedade. Mas, ao mesmo tempo, e paradoxalmente, a unidade do sentido se quebra, talvez porque ela comece a
se realizar na prática, pelo contato e a interação efetivos”. Cf. LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos
Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34. 1999. Pag. 249.
35
É claro que todas as transformações proporcionadas pela “rede” não garantem a priori
a resolução dos problemas que se colocam na Cibercultura e para os quais ela ainda não
apresenta perspectivas de solução, tais como o tema das desigualdades e da exclusão, a
negociação entre os poderes, as nossas relações com as ideologias, o trabalho, as forças
políticas, econômicas etc. Os processos de comunicação do ciberespaço não pressupõem a
harmonia e o consenso, mas reproduzem-se neles todos os conflitos entre os diversos lugares
sociais, e a disputa entre as diferentes vozes ganha as proporções de uma rede do tamanho do
planeta, rede esta tão interligada através de suas ramificações, links e hiperlinks que pode ser
chamada de aldeia global.
36
Capítulo II - A intolerância na Internet: o site Valhalla88 e o Ressurgimento dos
Fascismos
I.A Internet como nova Ágora: a política em ambiente eletrônico
Os movimentos sociais e políticoscaracterizam-se por iniciarem localmente a sua
partilha de ideias, como uma forma de base, para posteriormente tentando provocar um
impacto global. São exemplos destes, os movimentos feministas, ecológicos, sindicais,
religiosos, pacifistas,entre outros, embora apareçam também outros movimentos não
defendem sabotagens, opressões, propaganda política, racismo, xenofobiaetc.
Através da Internet todos estes movimentos constroem uma nova sociedade, que, por
sua vez, também transforma a natureza da Internet de uma ferramenta organizativa da
empresa e um meio de comunicação passa a converter-se, numa alavanca de transformação
social.
Portanto, aos governos, interessa-lhes obstruir o acesso à informação, esquivando-se
desta forma das possíveis críticas dos seus cidadãos. Utilizam a Internet não para
comunicarem abertamente com os seus cidadãos, fomentando a sua participação, mas para os
vigiarem, usando, como refere Castells (2003: 188), a chamada “política informacional”, ou
mediática, de um para muitos, que conduz à política do escândalo.
Aos governos interessa o controle do fluxo de informação e a Internet é um meio para
exercer essa diplomacia dirigida às sociedades fazendo valer os interesses do Estado. Segundo
Manuel Castells o poder exerce-se principalmente a partir da produção e difusão de códigos
culturais e conteúdos de informação,referindo-se às práticas hegemônicas, aparentemente
inconsequentes, que são sutilmente encontradas no quotidiano das pessoas. Esta diplomacia
exige, desta forma, que o Estado e os líderes políticos tenham a flexibilidade necessária para
mudarem as suas ideias e corrigirem os seus pontos de vista, com o objetivo de se ligarem a
um ambiente global em contínua transformação.
Este conflito sócio-político coloca por um lado as expressões culturais das pessoas e a
partilha das suas preocupações e vontades, e por outro, o controle político através da
construção de uma hegemonia ideológica, ambos dependentes da comunicação e da ligação
em rede. Deste ponto de vista a Internet contribui para a democratização, ao igualar
37
relativamente às condições nas quais distintos atores e instituições podem agir, de acordo com
a manipulação de símbolos. O desafio será saber como controlar esta agora pública no sentido
da democratização e na construção de uma sociedade mais humana e de uma economia mais
estável. Em “A Galáxia da Internet”, Manuel Castells denuncia a emergência de uma nova
concepção e práxis de Estado, com governos responsáveis, verdadeiramente democráticos e
dedicados ao interesse público, alertando também para a necessidade de uma mobilização
social ou de uma responsabilização do cidadão, no envolvimento por essa luta pela mudança.
II.Os anos 1990 e uma dupla ascensão: Web e Neofascismos
Poucos anos depois de terminada a Segunda Guerra Mundial, já havia um discurso
liberal em muitos dos antigos países fascistas, como se ali não tivesse acontecido nada de
excepcional. Essa foi uma camuflagem muito útil para a manutenção da vida política nesses
lugares, quebrandoo poder da resistência dos grandes partidos de esquerda e dos sindicatos,
que eram extremamente fortes em vários desses países.
Durante o período de desnazificação conduzida pelos governos, com políticas
educacionais específicas dirigidas aos estudantes e toda a geração que se seguiu à Guerra,
existindo um enquadramento desses em uma sociedade liberal democrática, uma sociedade de
consumo, ocorrendo progressivamente, uma despolitização dessas populações.
Em meados da década de 1970, o mundo inteiro é sacudido por diversas revoluções
ultranacionalistas ou socialistas, que atingem o Terceiro Mundo. Nesse sentido, as elites e
segmentos dasclasses médias europeias também começam a preocupar-se. A isso se soma
também outro fator que favorece o renascimento do fascismo: a estagnação e a regressão
demográfica dos países do Hemisfério Norte. A ideia de invasão de imigrantes vai se
arraigando no espírito dos europeus. “Dessa forma, a Europa aparece como velho Império
Romano em declínio e os bárbaros, aqueles de pele morena que vão invadir e corromper os
modos de vida que os ocidentais detinham29
.”
Por outro lado, essa sociedade de consumo substitui a ideia de cidadania em termos de
militância política, por uma ideia de cidadania enquanto consumo. Portanto, há uma presença
29
VIZENTINI, Paulo Fagundes. O ressurgimento da extrema direita e do neonazismo: a dimensão histórica
e internacional. In: Neonazismo, Negacionismo e Extremismo Político. Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Disponível em: <http://www.derechos.org/nizkor/brazil/libros/neonazis/cap4.html> Acessado em:
27/03/2011.
38
muito grande desse movimento de contracultura como desencanto com a sociedade de
consumo, aqueles que se centravam na questão do indivíduo e do enriquecimento pessoal.
Esse vai ser então, um local de recrutamento para as organizações fascistas ou neofascistas.
Os anos 1980 são anos de retomada do liberalismo na economia e da retomada da
Guerra Fria no plano da política internacional. É uma época que vai caracterizar-se pelo
desemprego e por incertezas de toda ordem, por desencanto. A população europeia começa a
ver sua noção de progresso, prosperidade e segurança ser perdida. No caso da Inglaterra é
interessante, não só pelos skinheads, mas pelas torcidas organizadas, os hooligans, que estão
fortemente implantados nos bairros de desempregados e de classes baixas. Logo em seguida,
estas tensões sociais vão encontrar uma válvula de escape na xenofobia e no racismo, que foi
seu grande ponto de partida e o seu relançamento.
Nos anos 1990, com a queda do Leste Europeu, com o fim da URSS e da Guerra Fria,
os neonazistas começam a fazer ações. A extrema direita, o nacionalismo, a xenofobia e as
ideias neonazistas surgem com vigor em países onde até então não havia, de certa forma,
estruturas e formas de convivência capazes de lidar com este fenômeno30
. Os riscos contidos
no ressurgimento do nazismo e da extrema direita são incalculáveis.
São precisamente as características da Internet que a tornam um recurso de
comunicação extraordinária para indivíduos e grupos que pretendem espalhar mensagens de
racismo e ódio. Os membros deste grupo, sãomuitas vezes marginalizados socialmente,
geograficamente distantes uns dos outros e muitas vezes sem muitos recursos financeiros.
Portanto, incapazes de se comunicar facilmente uns com os outros ou publicar as suas
mensagens de ódio em meios de comunicação tais como, jornais, rádio e televisão devido aos
custos e por este tipo de material ser estritamente proibidos de serem divulgados e veiculados
30
Este resurgirdelracismoyxenofobia,delantisemitismo e intoleranciaenEuropa,muestra singularmente las
importantes contradiccionespolíticas, económicas y socialesdelviejo continente. La crisis económica
internacional, losmovimientosmigratorios, loscambiosradicalesenlos países del Este, el complicado y lento
proceso de unidadEurpea y el temor por el futuro ante eldesempleo, sonalgunos elementos que
lasInstitucionesEuropeashanseñalado como factores que propicianelrenacer de estas lacras socialesen toda
Europa. De igual manera, laconfiguración de un ambiente cultural y psicosocial que abarca desde el fanatismo
intransigente de ideas ultranacionalistas, pasando por lasmanifestaciones de rechazo a imigrantes,
elantisemitismo, la homofobia y laintolerancia religiosa, hasta labanalizacion de laviolenciaenla cultura delocio,
posibilitaneldesarrolo de un amplio conjunto de actitudes y conductas que desprecian y violanlosDerechos
Humanos, dificultando de maneranotorialaconvivencia democrática. CF. IBARRA, Esteban. Neofascismos en
Europa. Disponível em: <http://www.antoniosalas.org/sites/default/files/Neofascismo_en_Europa_031309.pdf>
Acessado em: 13/11/2010.
39
por lei devido ao seu teor racista xenófobo e sobretudo nazista, encontrando na Internet um
valioso aliado.
Com uso da “rede”, grupos de extrema direita conseguem difundir seus ideais e
mensagens de intolerância ao outro, para os mais longínquos lugares do mundo, através de
ataques cibernéticos, espalhando a propaganda fascista de Hitler. Além disso, a Internet se
transformou em um ótimo lugar para convocar e organizar concertos neo-nazis, para recrutar
seguidores, difundir a música racista, divulgação de textos e propaganda de negação do
Holocausto, venda de material nazista, local para reuniões (chat, bate-papo) ou seja, uma
ferramenta com infinitas possibilidades, segura e de fácil acesso.
III.Um lugar chamado Valhalla88
“Propaganda para os líderes, para os
fanáticos; caos para as massas... Seja
criativo, use tudo a seu favor, agite,
promova a baderna e o questionamento
todos os dias, em todos os lugares” 31
.
"Procuramos ser arianos honrados e virtuosos e, além da propaganda política,
lutamos dia a dia para alcançar, pelo mérito, postos-chave na sociedade. Somos só a
semente. Nosso dia chegará”32
. É assim, de maneira arrogante e preconceituosa, que se
anunciam pela Internet os nazistas do século XXI. Com a popularização da Internet em
meados da década de 1990 e a facilidade de comunicação e distribuição de informações de
qualquer tipo seja por meio de web sites, blogs, comunidades de relacionamento, mensagens
instantâneas entre outros, grupos de extrema-direita33
como os neonazistas e skinheads,
apropriaram-se desta ferramenta por oferecer facilidade na elaboração e veiculação de seus
31
Disponível em: <http://www.nuevorden.net/portugues/valhalla88_14.html> acesso em 22/11/20010. 32
Disponível em: <http://www.nuevorden.net/portugues/valhalla88_14.html> acesso em 22/11/2010. 33
Por extrema-direita entenderemos aqui o tipo de “extremismo convencionalmente considerado como de direita,
emanação direta de classes e categorias sujeitas a uma repentina perda de status e condição e uma drástica
redução da sua influência política”. Cf. BOBBIO, Noberto. Extremismo. In: Dicionário de Política. Trad. João
Ferreira, Carmem varrialeetalli. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1986. p. 457-459.
40
ideais, por proporcionar segurança34
na distribuição de informações e como forma de ativismo
para o grupo35
, ou como forma de manipulação e apologia ao nazismo e fascismo, como no
caso da web site www.valhalla88.com37
.
A partir da difusão digital, o ciberespaço transformou-se em um campo de batalha
seguro para grupos de extrema-direita, isto, mostra como este meio de comunicação, contribui
para a disseminação desses movimentos políticos por todo o mundo, não havendo fronteiras
que possam impossibilitar o acesso a eles. A Cibercultura envolve a sociedade com seus links
e conexões, permitindo que as mais variadas culturas e povos interajam com maior facilidade
e intensidade, facilitando a ação desses grupos de extrema-direita a propagarem seus ideais.
O propósito desta pesquisa não é criticar a Internet, tão pouco diminuir sua
importância, como meio de comunicação, entretenimento e informação para a humanidade. O
objetivo aqui é alertar a sociedade para os perigos provenientes de seu mau uso, o qual pode
transformar o ciberespaço de uma magnífica ferramenta de comunicação a um mero espaço de
adestramento virtual. Portanto, através da análise do material do extinto site Valhalla88
34
Nesta concepção da rede como um lugar privilegiado às manifestações políticas, grupos de extrema-direita26
identificaram as brechas para se fortalecerem e encontraram um meio de comunicação que, por três motivos
básicos - é seguro, atrativo e econômico -, se mostrou extremamente sedutor. Junte-se a tudo isto a ausência de
uma legislação específica, algo que ainda não se consolidou, e a própria característica supraterritorial da rede,
que dificulta a ação das autoridades. Ao contrário de outros tempos, não são mais simples panfletos. Agora, são
home pagessofisticadas, desenvolvidas a partir de poderosos softwares e com forte apelo visual. Em lugar das
marchas militares, o ―nazi-techno‖ em formato mp3 de canções como Adolf Hitler Party (SwastikaMix), na qual
trechos das pregações de ódio racial e intolerância do Führersão sampleados e, depois de mixados, invadem
danceterias. Qualquer um podeouvirem web rádios da extrema-direitacançõescomoThe white man marches on:
―My eyes have seen the glory of the trampling at the zoo,/We washed ourselves in niggers blood and all/ the
mongrels too,/We're taking down the Zogmachine jew by jew by jew,/The white man marches on‖27. É possível
ainda descarregar arquivos com o rock pesado de bandas como Grupo Separatista Branco, Brigada NS e
Rahowaou ainda conhecer o não menos racista RacistRednecksRebels, grupo com um disco intitulado
Keepthehatealive!,em cuja capa um negro é enforcado por um membro da KluxKluxKlan. CF. MAYNARD.
Dilton Cândido Santos (Coord.). Relatório Final do Projeto de Pesquisa PAIRD. Sítios da Intolerância: uma
história da extrema-direita no ciberespaço (1996-2008). 2009. pag. 09. 35
“Pela internet fiz contato com os skinheads e neonazis de todo o país e também do exterior. Nossa relação
começava com um encontro casual num chat ou em uma lista de correio e continuava, primeiro, com um
encontro casual num e-mail, para depois dar lugar a cartas e chamadas telefônicas”. CF. SALAS, Antonio.
Diário de um Skinhead: Um infiltrado no movimento neonazista. Tradução Magda Lopes, São Paulo:
Editora Planeta do Brasil, 2006.pag. 25. 36
[...] o rápido crescimento da propaganda da extrema-direita no mundo virtual exige reflexões. O avanço dos
usos da Web evidencia a formação de uma ampla rede entre grupos de diversas partes do globo e, em tais
ambientes, a necessidade de ―reinventar‖ a história, encarada como a narrativa de eventos naturais, através das
ferramentas fornecidas pela Internet – músicas em formatos mp3, jogos eletrônicos, vídeos, fóruns virtuais, salas
de bate-papo. CF. MAYNARD. Dilton Cândido Santos (Coord.). Relatório Final do Projeto de Pesquisa PAIRD.
Sítios da Intolerância: uma história da extrema-direita no ciberespaço (1996-2008). 2009. pag. 01. 37
[...] o rápido crescimento da propaganda da extrema-direita no mundo virtual exige reflexões. O avanço dos
usos da Web evidencia a formação de uma ampla rede entre grupos de diversas partes do globo e, em tais
ambientes, a necessidade de ―reinventar‖ a história, encarada como a narrativa de eventos naturais, através das
ferramentas fornecidas pela Internet – músicas em formatos mp3, jogos eletrônicos, vídeos, fóruns virtuais, salas
de bate-papo. CF. MAYNARD. Dilton Cândido Santos (Coord.). Relatório Final do Projeto de Pesquisa PAIRD.
Sítios da Intolerância: uma história da extrema-direita no ciberespaço (1996-2008). 2009. pag. 01.
41
(www.valhalla88.com) foi possível compreender como grupos de extrema-direita atuam pela
Internet. Este grupo faz uso de imagens, fotos, panfletos, charges, vídeos, áudio em mp3, além
da distribuição de informações variadas advindas do Revisionismo Histórico propagado por
eles e o uso de um vasto material doutrinário, material este que mesmo após a desarticulação
do grupo Valhalla88 em 2007 continua ativo e servindo de cartilha para diversas web sites tais
como o Nova Ordem (www.neovordem.net) e o site do Partido Nacional Socialista
Brasileiro88 (www.nacional-socialismo.com/).
Sem possuir um regulamentoou uma legislação que policie as atividades de seus
navegantes devido ao seu caráter livre, a internet é a ferramentaidealpara os neonazistas.
Diferente dos uniformes e da suástica usados na década de 30, os nazistas, hoje, utilizam o
mundovirtualparamostrarsua cara e propagar o Nacional-Socialismo de forma segura e
rápida38
.
O nome Valhalla39
faz referência a um castelo da mitologia nórdica para onde iriam
os guerreiros mortos em combate. Segundo Salas, o número 88 é referência dos neonazistas
do mundo todo para a repetição da oitava letra do alfabeto, o "H". HH, acrônimo para "Heil
Hitler”. Estas letras são muito usadas na criação de pseudônimos neonazis, sendo muito
comum encontrarmos identidades em fóruns e salas de bate-papo da internet e alguns e-mails
do tipo: junior88, tiger88, nacionalsocialista18, entre outros40
.
Durante o período que ficou no ar, de 1997 a 2007, o Valhalla88 que tinha sua sede
em Santa Catarina e alcançou a significativa marca de 200 mil visitas diárias, foi conhecido
como mais ativo site Nacional-Socialista da América do Sul, mas se trata de uma web site
brasileiro. O portal estava hospedado em um provedor da Argentina, o Libreopinion.com. É
38
“Dava muito trabalho conseguir que os cabeças raspadas abandonassem a cômoda clandestinidade permitida
por um correio eletrônico gratuito, em servidores como Hotmail, Yahoo ou Mixmail, muito difícil de rastrear e
investigar, para me dar seu endereço postal”. CF. SALAS, Antonio. Diário de um Skinhead: Um infiltrado no
movimento neonazista. Tradução Magda Lopes, São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2006.pag. 25. 39
Grande palácio em Asgard onde os Einherjar (os guerreiros mortos em batalha e para lá levados pelas
Valquírias) esperam a chegada do Ragnarok. Enquanto eles esperam, os Einherjar passam os dias em justas entre
si e as noites banqueteando-se no grande salão, supervisionados pelo próprio Odin. Valhalla é descrito como o
palácio mais maravilhosa de toda Asgard. Cf. MUSSOLINI,Owen Ranieri. Valhalla. In: Dicionário de
Mitologia Nórdica. São Paulo: Enigmistica Moderna, 1984. 40
“Assim é que, semana após semana, mês após mês, insistindo uma vez e outra vez e passando horas e horas em
seus canais e páginas da web, comecei a aprender esses códigos secretos. Essas chaves e contra-senhas sem as
quais é impossível acessar o mundo skinhead. Pelas catorze palavras se aprende a síntese do pensamento racista
de David Lane, que todo autentico neonazi deve conhecer e compartilhar: “Devemos assegurar a existência de
nossa raça e um futuro para as crianças brancas”. O número 18 simboliza a primeira e a oitava letras do alfabeto,
A e H, e é uma forma em chave de referir-se a Adolf Hitler. E da mesma forma o número 88 é uma saudação e
ao mesmo tempo uma assinatura. Esses números simbolizam a oitava letra do abecedário repetida duas vezes:
HH ou, o que é amesma coisa, Heil Hitler!”. CF. SALAS, Antonio. Diário de um Skinhead: Um infiltrado no
movimento neonazista. Tradução Magda Lopes, São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2006.pag. 23.
42
muitocomumque os grupos brasileiros hospedem suashomepages emoutrospaísesparaescapar
de legislaçãobrasileira, que prevê, pelalei 7.716/90, pena de um a trêsanos de prisãoparaquem
faz propagandanazistaouracista. O hospedeiro do valhalla88.com foi rastreado pela Polícia
Federal e membros da Comunidade Judaica no Brasil, forçando-o a hospedar-se nos Estados
Unidos, logo depois sendo retirado do ar. Negros, judeus, homossexuais, imigrantes e
nordestinos são os principais alvos desses skinheads. Os neonazis brasileiros costumavam,
pelo Valhalla88, pregar a dominação do “sangue ariano”, como um elemento de identidade
racial4142
.
A análise das práticas pregadas por ativistas neonazistas no ciberespaço e a
interpretação de elementos mitológicos evidentes no material fartamente disponível, permitiu
constatar que, nas páginas e links do Valhalla88, o neonazismo articula mitos, narrativas e
rituais em que a estratégia é pregar a homogeneidade absoluta da raça ariana, conforme a
ideologia propagada por Adolf Hitler e seus simpatizantes durante o III Reich. O site é
profundamente demarcado por ideais racistas, xenófobas e pela ideologia neonazista, que
retoma símbolos, mitos e discursos políticos pregados pelo Nacional-Socialismo de Hitler.
Segunda Adriana Dias “[...] estes racistas, nazistas e revisionistas, constroem e atualizam
mitos, inscrevendo na palavra raça uma relação simbólica, polissêmica, complexificada,
enraizada numa ideologia saturada de anacronismo, contradições, ódio e insegurança,
ideologia esta que os pretende heróis” 43
.
Grande parte do marketing feito por este grupo está baseado em um caráter
“revolucionário” que se torna atraente para jovens com ideais marxistas, comunistas ou
anarquistas, e uma propaganda que incite uma revolução contra o sistema capitalista, algo
41
“Considerando apenas o Valhalla88, por exemplo, suas mais de mil e quinhentas páginas equivaleriam a
dezessete sites médios, se levarmos em conta todos os sites e cerca de cinquenta sites se desconsideramos os
grandes portais. A rede racista é, portanto, muito expressiva em tamanho: os sites se reproduzem aos milhares e a
grande maioria ocupa espaço de dezenas deles”. CF. DIAS, Adriana Abreu Magalhães. Os Anacronautas do
Teutonismo Virtual: uma etnografia do neonazismo na Internet. Campinas, SP: [s. n.], 2007.Pag. 94-95. 42
“Em outubro de 2001 um grande jornal noticiou que neonazistas manifestaram-se em São Bento do Sul, através
da criação de uma página na internet. No ano passado, o comando da Polícia Militar, ouvido pelo Evolução
depois que cartazes racistas apareceram colados em postes, tachou o acontecimento como “uma brincadeira de
mau gosto”. Pois nesta semana a “brincadeira” aconteceu novamente. Cartazes falando dos direitos do “povo
branco”, “pelo futuro de nossas crianças” foram encontrados pela cidade com o endereço virtual
www.valhalla88.com. Consta que a delegacia de polícia iniciou investigações. A Polícia Federal, conforme a
reportagem apurou, de certa forma vendo sendo “pressionada” para agir com mais ênfase, afinal não é a primeira
vez que esse tipo de crime – inafiançável e que dá cadeia – acontece”. CF. Publicado no Recanto das Letras em
05/05/2009. Capturado do endereço eletrônico <http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1577708> em
02/02/2011. 43
DIAS, Adriana Abreu Magalhães. Os Anacronautas do Teutonismo Virtual: uma etnografia do
neonazismo na Internet. Campinas, SP: [s. n.], 2007.pag. 26.
43
muito atraente para esses prováveis recrutas. “A cor vermelha de nossos cartazes foi por nós
escolhida, após reflexão exata e profunda, com o fito de excitar a Esquerda, de revoltá-la e
induzi-la a frequentar nossas assembleias; isso tudo nem que fosse só para nos permitir entrar
em contato e falar com essa gente”44
.
Imagem 4 – Cartazes utilizados no Valhalla88 para propagando do ideal de superioridade ariana.
O site adota discursos a fim de compor a seguinte proposta: se a “raça branca” está
ameaçada, é preciso reagir através do ativismo e militância dos NS. O ativismo é sugerido e
incitado como uma espécie de iniciação, por meio da oferta de adesivos e pôsteres para serem
impressos e utilizados: basta que cada pessoa faça o download dos cartazes e panfletos
disponíveis no site, imprima algumas cópias destes e os distribua ou cole em locais onde serão
lidos pelo maior número de pessoas possível: caixas de correio, inseridos no interior de livros
em bibliotecas, espalhados em mesas de lanchonetes, gôndolas de supermercados, livrarias,
entre outros45
.
Segundo os colaboradores do Valhalla88, a forma mais comum de propagar a
ideologia nazista é através da panfletagem,seja ela em universidades, ruas, bares, restaurantes,
bibliotecas e eventos culturais com grande número de pessoas, sempre deixando material NS
44
Citação retirada do artigo Propaganda do Futuro para o Nacional-Socialismo exposto no site Valhalla88.
Capturado do endereço eletrônico <http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html>
em 10/08/2009. 45
“A distribuição da propaganda alcança o Povo Branco por duas maneiras: diretamente (através do próprio
material) e indiretamente (pela resultante cobertura da mídia). Freqüentemente, mesmo uma pequena, mas bem
direcionada, distribuição conduzida por um astuto ativista resulta em primeiras páginas de jornais e cobertura
televisiva. Este ativismo construtivo é vitalmente importante, além, é claro, de ser muito divertido e altamente
satisfatório!”, sinaliza um dos responsáveis pelo Valhalla88, identificado apenas como Nacionalista88 e
responsável por maioria dos artigos do site.Citação retirada do artigo Propaganda do Futuro para o Nacional-
Socialismo exposto no site Valhalla88. Capturado do endereço eletrônico
<http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html> em 10/08/2009.
44
com link de uma página Nacional-Socialista, onde estas pessoas possam se informar sobre o
movimento encontrando pontos em comum entre o Nacional-Socialismo e os ideais que estes
grupos já possuem, sejam eles de “direita ou esquerda” e unir-se a eles.
Através destes links, a literatura nazista será amplamente oferecida no site, para quem
ainda não tem intimidade com o tema. Há também cartazes, que podem ser descarregados,
com dizeres racistas. Um deles afirma, sem cerimônia, que a solução para impedir o
casamento inter-racial é matar. Outros exaltam a beleza da raça branca e justificam os atos de
violência como forma de garantir um bom futuro para as crianças arianas46
.
A intenção desta propaganda é atrair as massas para o movimento e, para isto, os
neonazistas do Valhalla88 utilizam o Revisionismo Histórico, numa tentativa de reinterpretar
os fatos, elaborando explicações contrárias às amplamente aceitas sobre os mesmo, tendo
como exemplo: a negação do Holocausto e das câmaras de gás usadas pelos nazistas durante a
Segunda Guerra Mundial.
Segundo eles, as câmaras de gás não passavam de enormes complexos industriais.
Com isto, eles conseguem distorcer a realidade tornando possível a aceitação do ideal NS para
os leigos no assunto, usando a força destas pessoas como massa de manobra na construção de
um exército de fanáticos preconceituosos, que usam a violência como principal forma de
ação47
.
Atualmente existem vários portais como o www.nuevordem.net, fazendo apologiaao
racismo e a homofobia, características marcantes destes grupos. Curiosamente, o Nova Ordem
se vale dos arquivos do Valhalla88como parte de seu material para doutrinação e como
exemplo para o movimento neonazista brasileiro. Qualquer um que queira conhecer ou
estudar estes grupos não pode deixar de lado o ciberespaço como principal meio de difusão
propagandística do Nacional-Socialismo, pois neles existe um enorme material doutrinador,
46
“A Internet tem transformado a natureza de comunidade e de identidade dentro dos EUA. Junto com outros
grupos, esta nova mídia vem afetando a forma das organizações subversivas. Os indivíduos que propagam
ideologias nazistas tradicionalmente operavam isolados, com poucas ligações estruturais maiores. Mas com o
advento do correio eletrônico e do acesso às páginas da internet, esses subversivos estão agora descobrindo
meios de propagar suas mensagens além dos limites estreitos de suas ligações pré-estabelecidas”. ZICKMUND,
Susan. Abordando o outro Extremo: A cultura discursiva do ciber-ódio. Capturado do endereço eletrônico:
<http://members.fortunecity.com/cibercultura/vol7/ciberodio.htm> em 20/01/1011. 47
“[...] a partir de la segunda mitad de los noventa, Internet se ha convertido en una cómoda plataforma de
propaganda, difusión y contacto para empresas, colectivos sociales, asociaciones, partidos políticos, entidades
religiosas, sectas y, también, para los grupos neonazis”. MOYANO. Antonio Luis. Neonazis: La seducción de
la svástica. Madrid: Ed. Nowtilus,2004. Pag. 222.
45
que tem o intuito exclusivo de aliciar seus visitantes a cometerem crimes alegando serem
descendentes de uma “raça superior”.
Movidas pelo ódio explícito, principalmente dirigido a judeu, negros, homossexuais,
imigrantes, nordestinos48
ou pelo medo de que o futuro seja absolutamente ‘não branco’, a
rede racista se conecta a meio milhão de pessoas, que fazem da Internet um grande veículo de
divulgação, comunicação, transmissão de arquivos, venda de produtos, enfim, uma grande
estrutura para omovimento, sempre escondido nas sombras da rede, mas vivo, atuante e em
progressiva expansão e alcance global.
VIII.Caracterizando o sítio Valhalla88
A extinta web site www.valhalla88.com, estruturava-se em uma série páginas de
cunho doutrinário que podiam ser encontradas na sessão O Triunfo da Vontade: Linhas
Gerais; Serei EU um NS?; Proibidos Mas Não Mortos; Relacionando-se Com seu Meio; Por
Que NS?; Princípios Elementares do NS; Compreendendo o Nacional Socialismo. Além
destes, faziam parte da doutrinação os artigos da sessão Essencial: O que é que você sabe a
cerca do Nacional Socialismo?; Algumas Considerações sobre Raça e Racismo; Quem foi
Adolf Hitler?; 66 Perguntas e Respostas sobre o holocausto; Formas de Ação; Vale a Pena?.
48
A construção do outro como um contaminador social é evidente em toda a literatura extremista. Nela, o outro
se transforma metaforicamente em uma doença cultural, cuja própria presença dentro da nação é suficiente para
destruir a estabilidade social e os valores especiais que fizeram a nação forte em sua fundação. Esta descrição do
Outro possui laços fortes com o gênero de discurso racista articulado anteriormente na história americana, assim
como na propaganda nazista dos anos de 1930 e no discurso anti-semita francês do século XIX. CF.
ZICKMUND, Susan. Abordando o outro Extremo: A cultura discursiva do ciber-ódio. Capturado do
endereço eletrônico: <http://members.fortunecity.com/cibercultura/vol7/ciberodio.htm> em 20/01/2011.
46
Imagem 5 – Sessões Essencial e O Triunfo da Vontade, Print Screen tirada do extintoValhalla88 utilizando a web site Internet Archive
(http://web.archive.org/web/20070526112751/http://www.valhalla88.com/l)
Linhas Gerais
A página “Linhas Gerais” objetivava expor os fundamentos ideológicos do
Movimento Nacional Socialista, mostrando quais os atributos necessários para ser um ariano,
os Nacionais socialistas devem conceber o modo de vida ariano como o mais elevado e
melhor para os povos Indo europeus, renegando qualquer influência estranha. Da mesma
forma, afirmam que todas as raças devem se voltar para seus próprios povos, culturas e
tradições, resistindo ao rebaixamento e a imposição de um modo de vida ocidental ou liberal.
As raças podem até colaborar entre si, mas nunca devem se misturar, para não destruir a
pureza do nobre sangue ariano.
Outro ponto importante para os Nacionais Socialista é a questão do nacionalismo, a
nação deve ser povoada por pessoas oriundas de uma mesma espécie ou raça, como uma
unidade da qual derivam costumes, tradições e religiões comuns. A nação necessariamente
não depende do território, podendo se estabelecer em qualquer área geográfica, o importante é
que o território seja povoado por arianos, a moral Nacional Socialista se embasa nos valores
naturais e procura codificá-los49
.
Serei Eu um NS?
A página “Serei Eu um NS?” tinha como proposito mostrar as verdadeiras
características de um militante ideal para o movimento Nacional Socialista. Segundo seu
autor, identificado apenas como Nacionalista88, para ser um ativista verdadeiro é necessário
possuir profundo conhecimento do ideário NS50
.
O autor demonstrava que provavelmente aquele que interessasse na leitura do artigo já
era um NS, ele aponta que seu ideal não se funda no ódio ou na violência ao diferente, essa
pratica do movimento, ele também não pretende a destruição, ela é usada apenas na tentativa
49
O Nacional-Socialismo, fundando-se nas leis da Natureza, nunca pode ser mal, senão apenas JUSTO - que seja
o que há de ser. Se nossos pontos de vista parecem cruéis para a moralidade liberal, pouco nos importa, pois não
respondemos a valores artificiais, senão apenas à Vontade Suprema. CF. Citação retirada do artigo Linhas
Gerais exposto no site Valhalla88. Capturado do endereço eletrônico
<http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html> em 20/08/2010. 50
“Não podemos chamar de “camaradas” as pessoas que não conhecem ao menos a ideia primigênia expressa na
obra “Minha Luta” de Adolf Hitler, que é o livro básico do Nacional Socialismo. Mais do que ler a obra, é
importante compreendê-la e aceita-la como orientação de vida e principio de atividade”. CF. Citação retirada do
artigo Serei Eu um NS? exposto no site Valhalla88. Capturado do endereço eletrônico
<http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html> em 21/08/2010.
47
de construir um mundo melhor para todos que compõem a raça ariana, o Nacional-Socialismo
não age por meio da opressão ao povo, mas por meio de lideranças natas tendo como exemplo
seu maior líder Adolf Hitler, o NS não desafia as leis da natureza, usando-as como veículo
para sobrevivência da espécie51
.
Assim sendo, só existe um tipo verdadeiro de ativista necessário para o movimento,
aquele que vê o mundo conforme sua cosmovisão e age conforme nossos princípios,
procurando sempre o bem comum da sua espécie, não há Nacional-Socialismo sem o conceito
de racialismo, assim como é exigido de todo ativista o os sentidos de socialismo, patriotismo
e camaradagem. Há apenas uma forma de ser um verdadeiro camarada, seguindo
ortodoxamente os preceitos que devem ser adaptados aos nossos tempos pois, como a
natureza, o Nacional Socialismo evolui e se adapta a sua realidade vigente e de acordo com
suas necessidades.
Proibidos Mas Não Mortos
A página “Proibidos Mas Não Mortos”, fazia uma crítica ao sistema democrático do qual a lei
de liberdade de expressão foi criada, segundo Nacionalista88 o fato das sociedades
democráticas criarem uma lei em que libera a difusão de informações e ao mesmo tempo a
proíbe, claramente está a serviço do que ele chamava de Sistema sionista52
. O texto
apresentava contra-argumentos característicos do Revisionismo Histórico, tendo como
destaque a negação do Holocausto ocorrido na Alemanha Nazista chamando-o
de“holoconto”53
. Acusava os sionistas de perseguidores dos nacional-socialistas, usando a
51
Temos exemplos de pessoas que se dizem Nacional-Socialistas, até mesmo escrevem livros e militam, mas que
são homossexuais. Não poderia existir pior degeneração. A homossexualidade é um desvio irrecuperável e não
pode ser perdoada. A “empolgação ideológica” de um homossexual nunca pode ser tida como sincera pois ele
em si já contraria a própria essência de nossa Ideologia. Há também casos ridículos de camaradas que procuram
passar uma imagem radical para os demais mas que, sob embalos injustificáveis (álcool, incentivo de “amigos”,
etc.), são dados a relações sexuais com pessoas de raça diversa. Alegam que “não vão procriar, apenas se
aproveitar”. Isto é abominável. O respeito à Raça deve ser algo intrínseco à própria alma do Nacional-Socialista.
Devemos manter nossos corpos purificados, tanto quanto o espírito. Estes são exemplos claros de TRAIÇÃO.
CF. Citação retirada do artigo Serei Eu um NS? exposto no site Valhalla88. Capturado do endereço eletrônico
<http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html> em 21/08/2010.
52
O Sistema se diz democrático e liberal, nos condena pela nossa rigidez e estilo autoritário, e ainda é cínico o
suficiente para impedir nossa livre expressão. Nossos símbolos são proibidos, nossas características são
condenadas. [...] Se tivermos liberdade de expressão, o Sistema teme que possamos novamente mover as massas,
como ocorreu nas primeiras décadas deste século. E com certeza, temos o poder de convencer o povo da
validade de nossos ideais. Por isso nos proíbem, porque têm medo de nós, porque oferecemos um risco real ao
Sistema sionista.CF. Citação retirada do artigo Proibidos Mas Não Mortos exposto no site Valhalla88.
Capturado do endereço eletrônico <http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html>
em 22/08/2010. 53
Com a velha mentira do genocídio de seis milhões de judeus, “justificam” a repressão alegando que nosso
regime político é violento. Mesmo que “holoconto” o fosse verdadeiro, considere-se que os comunistas mataram
48
proibição das autoridades à propagação de suas doutrinas por serem rígidas e terem estilo
autoritário, proíbem sua simbologia (suásticas, cruz gamada, hinos nazi etc) e características
peculiares do movimento são condenadas como forma de silenciá-los. O autor afirma que os
sionistas podem proibi-los, caçá-los e matar seus seguidores, mas o movimento Nacional-
Socialista nunca morrerá enquanto seu ideal permanecer vivo.
Relacionando-se Com o Seu Meio
A página “Relacionando-se com o seu Meio”, fazia uma descrição detalhada de como
o ativista do movimento NS deveria se relacionar e em quais grupos ele deveria agir e
interagir. O nacional socialista discorda do atual meio em que vivemos, mas deixa claro que
ele é necessário e indispensável para propagação do ideal NS. Sempre deixando claro que a
informação cultural, pois não se pode defender o que não se conhece, se deve conhecer a base
ideológica e ter convicção de que ela está correta54
.
O autor descrevia os meios perfeitos para propagar o ideal Nacional-Socialista,
devendo o militante começar com sua família, por ser um terreno seguro e todos confiarem
em você. O segundo grupo social seria os amigos de infância, já que são como uma segunda
família. Também é importante para o ativista formar-se como um individuo social, devendo
ter um status social aceitável perante a sociedade, devendo sempre trabalhar e estudar (a
vadiagem é inaceitável para o Nacional-Socialista).
O terceiro grupo social é o escolar, ele descreve este meio como sendo domínio do
sistema sionista, que prega a educação oficial, por isso o ativista deve ser expor suas ideias
sem deixar se abater pelas criticas, o importante para o movimento é a distribuição e
propagação do ideal, sempre fornecendo material de propaganda se assim for possível. Outro
grupo social importante é o de trabalho, pois grandes empresas permitem o acesso a um maior
numero de pessoas, além de este ser o principal meio de desenvolvimento do comunismo, os
sindicatos são excelentes veículos para autopromoção e é possível manifestar-se sem se
inclinar à esquerda ou à direita. Outros grupos sociais vão surgindo de acordo com as
preferencias individuais do ativista, pode haver união social pelo desporto, artes, ciências etc,
DEZENAS DE MILHÕES de pessoas e nem por isso são proibidos (são aplaudidos, na verdade).CF. Citação
retirada do artigo Proibidos Mas Não Mortos exposto no site Valhalla88. Capturado do endereço eletrônico
<http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html> em 22/08/2010. 54
Os adversários vibram quando aparecem “Nacional-Socialistas” ignorantes ou de aparência, pois os usam para
generalizar, perante os olhos dos crédulos, a aparência de que nosso movimento é composto apenas por imbecis
sem nenhuma formação ideológica.CF. Citação retirada do artigo Relacionando-se Com seu Meioexposto no
site Valhalla88. Capturado do endereço eletrônico
<http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html> em 22/08/2010.
49
o importante para o movimento é a divulgação da ideologia NS e aquisição de novos
membros55
.
Por Que NS?
Na página “Por Que NS?, O autor Nacionalista88 tentava convencer seus leitores o por
que do Nacional Socialismo ser o melhor e único sistema justo e capaz de trazer dignidade ao
povo ariano. Para isto, ele nega todas as informações passadas durante décadas pelos mais
diversos órgãos de comunicação sobre o nazismo, alegando que todos estão a serviço dos
governos sionistas que tentam mostra o Nazismo como uma loucura, repleta de
criminalidades, abusos e bestialidades, tais como, o “HOLOCONTO e seus supostos seis
milhões de judeus assassinados”.
Para comprovar a eficácia do Nacional Socialismo o autor falava que o regime
antidemocrático de Hitler recuperou a agricultura e o campesinato, conseguindo alimentar
todo o Reich, houve respeito ao operariado, fazendo com que milhões de comunistas
aderissem espontaneamente ao nazismo, foi o único regime que conseguiu oferecer educação
de qualidade e criar uma juventude olímpica e injetou em sua população abatida pelo terror da
guerra e imposições absurdas do Tratado de Versalhes amor a seu sangue, seu solo, sua
história e a seu espirito nacional56
.
Principios Elementares do NS
A página “Princípios Elementares do NS” apresentava superficialmente propostas de
governo nos campos Natureza, Direito, Economia, Política, Educação e Agricultura. Para
cada um destes aspectos, diretrizes que os norteiam são esboçadas. A lei da natureza deve
reger os ideais nacionalistas (lei do mais forte) esta está intimamente ligada a educação que
55
Um Nacional-Socialista nunca pode existir sinceramente sem atuar de forma positiva sobre um grupo ou
interagir dentro de círculo social apropriado, sob pena de se tornar um dos exemplos de falsos Nacional-
Socialistas. Somente respeitando as outras pessoas você obterá a chave da confiança.CF. Citação retirada do
artigo Relacionando-se Com seu Meio exposto no site Valhalla88. Capturado do endereço eletrônico
<http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html> em 22/08/2010. 56
E sucedeu-se que, depois da Grande Guerra, surgiram com grande ímpeto os nacionalismos e com maior força
na Alemanha, nação com a qual a sanha judaica não havia tido limites. Os vencedores a desmembraram,
reduziram, rodearam de um anel de países hostis (até inventaram alguns, como a Iugoslávia) e a seu povo
pisoteado submeteram-no à fome e aos piores sofrimentos, oprimindo-o com indenizações e “reparações de
guerra” monstruosamente exageradas, para que jamais terminasse de pagá-las. Tudo isto está no criminoso
Ditado de Versalhes. Mas é precisamente nesta Nação que o sentimento nacionalista se plasma em uma doutrina
política e um programa de governo levados ao êxito, após 14 anos de luta, por um homem genial, através de um
movimento de massas que se enquadrou no NSDAP, o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores
Alemães.CF. Citação retirada do artigo Por Que NS?exposto no site Valhalla88. Capturado do endereço
eletrônico <http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html> em 23/08/2010.
50
deverá criar mentes e corpos sãs, com grandes aptidões físicas e morais o que levará a um
melhoramento da raça onde apenas os mais aptos e fortes sobreviveram, fechando-se as portas
para todos os que forem incapacitados. Todos devem ter direito a propriedade individual. Na
economia não deve vigorar o padrão ouro e sim o padrão trabalho. A política democrática e
partidarista é desqualificada, pois a melhor forma de garantir os interesses nacionais é na
figura de um Líder. A agricultura pauta-se no direito hereditário. Estes princípios são citados
como uma Cosmovisão do NS e tem como base a sobrevivência da raça ariana.
Compreendendo o Nacional-Socialismo: 2ª Edição Ampliada e Revisada
A página “Compreendendo o Nacional Socialismo” de autoria da Ação Nacional
Socialista (2006) objetivava expor os mais diversos aspectos da ideologia nacional-socialista,
no intuito de esclarecer as dúvidas tanto daqueles que já se consideram Nacional Socialistas,
quanto daqueles que se opõem ao nacional-socialismo e principalmente aqueles que se opõem
ao movimento. O texto dividia-se em seis questões fundamentais: 1. O Nacional-Socialismo é
de Direita? 2. O Nacional-Socialismo é Capitalista? 3. O Nacional-Socialismo é Racista? 4. O
Nacional-Socialismo é Fascista? 5. O Nacional-Socialismo é uma ditadura? 6. E quanto ao
Holocausto?
1. O Nacional-Socialismo é de Direita?
Segundo esta página, apesar de inúmeros Nacional Socialistas consideram-se de
direita, o nacional-socialismo nunca se disse de “direita”, e essa classificação lhe foi aplicada
pela mídia. Ao citar que o termo "direita" surgiu no período que antecedeu a Revolução
Francesa para definir os reacionários e conservadores, que pretendiam manter o sistema de
governo da época, o texto alega que a nomenclatura em questão não se aplica ao nacional-
socialismo, pois este grupo diz ter como objetivo a total destruição do mundo moderno, assim
como a extinção do sistema capitalista e dos governos ocidentais. Além disso, o artigo se
opõe à vinculação entre grupos nacional-socialistas e partidos políticos de direita, pois estes,
de acordo com o texto, seriam os primeiros a combater uma insurgência nacional-socialista57
.
57
O Nacional-Socialismo nunca se disse de “direita”, esse termo foi aplicado à nós pela mídia inimiga, só
indivíduos pouco esclarecidos e algumas bandas de rock continuam a carregá-lo. Colaborar com partidos ou
políticos de “direita” é uma total perda de tempo e também uma grande contradição, a maioria deles nos odeia e
serão os primeiros a combater uma insurgência Nacional-Socialista. Não somos representados por partidos
porque aos Nacional-Socialistas não é permitido espaço dentro da dita “democracia”. Somos a total oposição
contra a ditadura do dinheiro e as forças do Sionismo internacional.CF. Citação retirada do artigo
Compreendendo o Nacional Socialismo: 2ª Edição Ampliada e Revisadaexposto no site Valhalla88.
51
2. O Nacional-Socialismo é Capitalista?
Segundo esta página, o nacional-socialismo não é capitalista, ao contrário, se opõe a
esse sistema, bem como às grandes corporações e empresas multinacionais, acusadas, no
texto, de destruir o meio-ambiente, devido a busca desenfreada por dinheiro e a falta de
preocupação com o bem-estar mundial.
De acordo com os Nacional-Socialistas, o fenômeno da globalização assinala o fim
das fronteiras entre os países, para a implantação de um sistema econômico global, que
beneficia apenas as grandes elites e não visa à preservação cultural. Dentro desse contexto, o
capitalismo é criticado pelo nacional-socialismo, por promover a imigração em massa58
, no
intuito de diminuir os gastos através da disponibilização de mão-de-obra barata para os
grandes empresários. Em razão disso, o sistema capitalista, neste artigo, é considerado
culpado por prejudicar os trabalhadores nacionais ao implantar culturas estrangeiras em
nações que, segundo a ideologia NS, deveriam se preservar.
3. O Nacional-Socialismo é Racista?
Os argumentos apresentados neste artigo nos permitem observar que o Nacional
Socialismo possui uma postura racista. Para esse movimento, as raças são manifestações do
trabalho de milênios de evolução natural e criação da diversidade humana. Segundo os
seguidores da ideologia NS, miscigenar as raças é o mesmo que destruir todo o "trabalho da
natureza". O texto está fundamentado em um princípio chamado "Sangue e Solo". O sangue
representa a herança cultural proveniente de ancestrais, que constitui uma comunidade étnica.
As pessoas que fazem parte dessa comunidade, por sua vez, devem compartilhar de
uma mesma origem, criação e tradições, e possuir uma terra (solo) em comum. Acredita-se
que, a presença desses dois elementos, permite que as pessoas repartam um sentimento de
comunidade, preocupando-se com o seu "semelhante", e tornando-se independentes do
individualismo.
Capturado do endereço eletrônico <http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html>
em 05/10/2010. 58
O Sistema, como agente capitalista, promove a imigração em massa à fim da disponibilização de mão-de-obra
baratíssima para os patrões donos do dinheiro que pretendem diminuir os gastos e aumentar os lucros sem
nenhuma preocupação com os operários. Prejudica os trabalhadores nacionais, desvaloriza o trabalho, empobrece
a classe operária, aumenta a criminalidade, implanta culturas estrangeiras em nações que deveriam se
preservar.CF. Citação retirada do artigo Compreendendo o Nacional Socialismo: 2ª Edição Ampliada e
Revisada exposto no site Valhalla88. Capturado do endereço eletrônico
<http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html> em 05/10/2010.
52
Ao seguir o princípio de "Sangue e Solo", os nacional-socialistas defendem a
preservação das raças, e posicionam-se contra as sociedades multiculturais. Para eles, o único
motivo que justifica a sua existência, isto é, a única razão para que pessoas de diferentes
culturas, raças e valores se aglomerem em uma comunidade, é o sistema capitalista, baseado
no materialismo e no lucro pessoal. Em síntese, o nacional-socialismo defende a ideia de que
cada raça deve se autopresevar e por isso, devem possuir uma nação e um território particular,
evitando assim a miscigenação. Pois para ele, os conflitos raciais, bem como as guerras e os
choques culturais só ocorrem em sociedades multirraciais.
4- O Nacional-Socialismo é Fascista?
Segundo esta página, o Nacional Socialismo nada tem a ver com a doutrina fascista.
Argumenta-se que o fascismo, nas primeiras décadas do século XX inspirou o nacional-
socialismo apenas no plano prático (com a ideia de um golpe de Estado e a formação de
milícias paramilitares como os Camisas Negras e a SA), e não no plano ideológico.
Sendo assim, para os seguidores do movimento NS, o Nacional Socialismo e o
Fascismo apresentam ideologias e doutrinas completamente diferentes59
. De acordo com o
texto, enquanto o primeiro defende a preservação das raças, o segundo nada tem contra as
sociedades multirraciais e, em razão disso, aceita a presença de imigrantes "não arianos" e
judeus em seu território.
5- O Nacional-Socialismo é uma ditadura?
O texto afirmava que o nacional-socialismo não é uma ditadura e que, ao contrário do
que é difundido, ele representa a verdadeira democracia. Ao sustentar tal posicionamento, o
artigo comenta que o Nacional Socialismo aplicou o princípio de liderança, no qual Hitler foi
o representante aprovado, quase unanimente, pelo povo alemão, e por isso o governo
Nacional Socialista não é considerado, no texto, como ditatorial. O autor comenta que a
imagem de que o NS foi um regime opressor, um Estado supressor da liberdade, foi criado
pelos oponentes do movimento.
59
A concepção Fascista de Estado é, por princípio, puramente política e administrativa. Assim sendo, totalmente
anti-natural e, conseqüentemente, anti-Nacional-Socialista. Sua visão de mundo está em um perpétuo conflito
com a nossa, portanto nunca existiria um Estado que fosse simultaneamente Fascista e Nacional-Socialista.CF.
Citação retirada do artigo Compreendendo o Nacional Socialismo: 2ª Edição Ampliada e Revisada exposto
no site Valhalla88. Capturado do endereço eletrônico
<http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html> em 05/10/2010.
53
6- E quanto ao Holocausto?
Esta página explica que o Nacional-Socialismo nega o holocausto (genocídio de
aproximadamente seis milhões de judeus) “Toda a versão da História sobre os fatos ocorridos
durante a Segunda Guerra foi propagada pelos vencedores. Aos Nacional-Socialistas nunca
foi dado o direito de ao menos se defender das acusações. A dita História foi escrita com base
em propaganda de ódio e mentiras, e não em fatos” 60
. O artigo em questão alega que as
câmaras de gás (utilizadas no extermínio de populações judaicas) foram construídas pelos
soviéticos e pelos norte-americanos, após a tomada dos campos de concentração da
Alemanha, o texto afirma que não há prova alguma de que tenha existido qualquer política de
extermínio, ordem oral ou por escrito de genocídio aos Judeus, os nazista apenas decidiram
que os judeus deveriam ser expulsos da Alemanha e, se possível, da Europa. Além disso, o
texto afirma que toda a versão da História sobre os acontecimentos da Segunda Guerra
Mundial, foi propagada por seus vencedores, e por este suposto motivo, os Nacional-
Socialistas defendem o revisionismo histórico, isto é, uma nova análise do que aconteceu
neste período.
O que é que você sabe a cerca do Nacional Socialismo?
Na página “O que é que você sabe a cerca do Nacional Socialismo?” Nacionalista88
faz uma série de afirmações do tipo (Você Sabia...) defendendo argumentos que defendem o
Nacional-Socialismo e negam o holocausto.
O autor fazia afirmações que mostrava, por exemplo, a ascensão doNSDAP de forma
democrática como o melhor e mais forte partido com quase 4 milhões de filiados, aponta os
aspectos positivos da gestão de Hitler, como a diminuição dos índices de desemprego na
Alemanha. Afirmar que tudo o que se sabe acerca do Nacional Socialismo provém dos meios
de propaganda dos países vencedores da Segunda Guerra e que estão a serviço dos sionistas61
,
o texto também nega o holocausto, chamando-o ironicamente de "holocau$to", já que para os
seguidores da ideologia nazista, ele é visto como o grande negócio que permite à comunidade
60
Citação retirada do artigo Compreendendo o Nacional Socialismo: 2ª Edição Ampliada e Revisada exposto
no site Valhalla88. Capturado do endereço eletrônico
<http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html> em 05/10/2010.
61
Já reparou que tudo o que sabe é o que diz a propaganda dos vencedores da II Guerra?
E já se apercebeu dos meios que eles têm ao seu dispor (total controle da mídia escrita, televisionada e
radiodifundida, além de possuírem os grandes estúdios e conglomerados cinematográficos)?.CF. Citação retirada
do artigo O que é que você sabe a cerca do Nacional Socialismo?exposto no site Valhalla88. Capturado do
endereço eletrônico <http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html> em
23/08/2010.
54
judaica mascarar os crimes por ela cometidos contra a humanidade62
. Ao final, o texto
convida o leitor a conhecer "o outro lado da história", para que o leitor possa formar uma
opinião própria sobre o assunto e engajar-se no movimento NS.
Algumas Considerações sobre Raça e Racismo
Nesta parte, de autoria de Nacionalista88, temos um questionário no qual ele tenta
explicar algumas definições sobre raça e racismo. Segundo o autor, o racismo é a aspiração à
preservação, desenvolvimento e auto superação de nossa raça. Ou seja, em primeiro lugar o
racismo busca a conservação de nossa raça e logo a auto superação da mesma. Não existe lei
ou instinto maior na natureza do que a preservação de sua própria espécie, quando indivíduos
pertencentes a uma raça são incentivados por elementos estranhos a se miscigenarem,
esquecerem sua cultura, tradições e ancestrais, esta raça automaticamente estará condenada à
extinção. Raça é o conjunto de indivíduos que compartilham entre si as mesmas
características genéticas, culturais e históricas. A lei natural ensina que o maior come o
menor, por assim dizer. Valendo-se das regras de sobrevivência na natureza, da seleção das
espécies, do mais forte, o autor afirma que os arianos como superiores estão naturalmente
exercendo a função que lhes foi dada pela natureza.
A Raça ariana possui as seguintes subdivisões:
1. Raça Nórdica (dolicocéfala loira); 2. Raça Alpina (braquicéfala morena); 3. Raça
Báltica Oriental (braquicéfala loira, pômulos salientes) e 4. Raça Mediterrânea (dolicocéfala
morena).É necessário notar que o conceito racial adotado pela doutrina Nacional Socialista
transcende a mera aparência física, já que há a crença de que os germânicos possuem uma
unidade racial não só sob o aspecto físico, mas também psicológico e relativo aos atributos de
caráter da pessoa.
Este questionário foi elaborado para esclarecer algumas dúvidas frequentes, no qual é
apresentada uma série de definições como o exemplo mencionado, além de fazer ataques
frequentes aos judeus, mostrando-os como os principais responsáveis pelo trafico de escravos
62
O “holocau$to” não passa de um enorme HOLOCONTO que quanto mais terrível for mais dinheiro gera a
Israel. CF. Citação retirada do artigo O que é que você sabe a cerca do Nacional Socialismo? exposto no site
Valhalla88. Capturado do endereço eletrônico
<http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html> em 23/08/2010.
55
na América do Sul e como os principais responsáveis pela destruição da raça ariana63
. Além
da afirmação da superioridade da raça ariana64
em detrimento de todas as outras, afirmando
que as demais raças não são capazes de evoluir longe da influência ariana.
Quem foi Adolf Hitler?
Esta págins escrito por Michael Storm tem como finalidade mostrar Adolf Hitler como
um homem responsável por grandes criações e foi escrito como homenagem ao aniversário do
Führer. O autor mostra Hitler como uma figura que desempenhou grandes papeis na história
da Alemanha, incluindo líder militar, líder politico e grande construtor. Ele foi responsável
pela propagação do maior movimento politico da historia ao disseminar o Nacional
Socialismo na Alemanha e posteriormente na Europa ocupada. Ele criou sob as mais
desfavoráveis a mais forte economia na Europaà partir de uma Alemanha arrasada pela
Guerra. Quando o Führer tomou posse em 30 de janeiro de 1933, a economia alemã estava
destruída,o desemprego estava acima de 25%, o marco alemão estava sem valor, o comércio
internacional era impossível devido à depressão judaica mundial é à recusa da Grã-Bretanha
em permitir o acesso da Alemanha aos mercados mundiais.
O texto mostra Adolf Hitler como um verdadeiro deus salvador da raça ariana e grande
ícone do Nacional socialismo, omitindo todas as atrocidades cometidas pelo por ele durante o
período em que permaneceu como Führer.
66 Perguntas e Respostas sobre o holocausto
Na secção 66 Perguntas sobre o Holocaustoo autor tentava mostra ao leitor o
Holocausto como uma fraude histórica inventada pelo sistema sionista.
63
Com relação à questão judaica, os judeus, durante toda a história, corromperam e atacaram nossa raça e cultura
com o objetivo único de nos subjulgar e finalmente nos aniquilar, são um povo pestilento e parasítico que levam
a ruína e decadência toda e qualquer sociedade na qual se instalam, por este motivo eles foram perseguidos e
expulsos de todos os países e regiões aonde penetraram, desde o antigo Egito milhares de anos atrás até a
Alemanha há poucas décadas, passando pela Babilônia, Jerusalém, Império Romano, Península Ibérica,
Inglaterra, França, Dinamarca, etc.. Isto não ocorreu por coincidência, mas sim pelo fato de que a própria
existência dos judeus põe em risco a nossa e de qualquer outra raça que com eles conviva. Desta forma
consideramos sim o judaísmo internacional como nosso maior inimigo.CF. Citação retirada do artigoAlgumas
Considerações sobre Raça e Racismo exposto no site Valhalla88. Capturado do endereço eletrônico
<http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html> em 24/08/2010. 64
Cremos firmemente que a Raça Branca Ariana é superior as demais raças, mas isto não deve ser visto como
algo que vá contra a natureza, pois a superioridade de certas espécies sobre outras é parte da hierarquia
natural.CF. Citação retirada do artigoAlgumas Considerações sobre Raça e Racismo exposto no site
Valhalla88. Capturado do endereço eletrônico
<http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html> em 24/08/2010.
56
O questionário acusava os judeus e os aliados de propagarem falsamente que seis
milhões de judeus foram mortos em campos de concentração nazistas durante a Segunda
Guerra Mundial, para isso, Nacionalista88 usa registro de livros como “Acabou o Gás” e
“holocausto Judeu ou Alemão?”, produções estas escritas por membros ou simpatizantes do
Nacional Socialismo. Para ele, o objetivo desta fraude é conseguir altas indenizações e
favorecer o Estado de Israel a manipular a política ocidental em favor do povo judeu65
.
Além, de difamar os alemães, com ideias “mentirosas” sobre extermínio em câmaras
de gás, segundo ele, as confissões feitas pelos prisioneiros nazistas nos tribunais de guerra,
eram mediante tortura soviética. O conteúdo desta secção colabora com o revisionismo
histórico, uma teoria que tenta negar o holocausto e foi escrito com a ajuda do Instituto pela
Revisão Histórica que tem como principal objetivo reescrever a história oficial, que segundo
eles é cheia de mitos e mentiras. O Valhalla88, especialmente nesta sessão, demonstrava
claramente seu caráter racista e antissemita.
Formas de Ação
Na página “Formas de Ação”, o autor orientava como os ativistas chamados de
“irmãos brancos” devem se portar e propagar o ideal Nacional Socialista com o intuito de
recrutar e doutrinar novos membros. Para Nacionalista88 o futuro do movimento depende do
fanatismo, a distribuição da propaganda alcança o Povo Branco por duas maneiras:
diretamente (através do próprio material) e indiretamente (pela resultante cobertura da mídia).
Eram apresentadas variadas formas de divulgação a serem utilizadas pelos ativistas,
tais como:distribuição de panfletos e adesivos em livrarias, bancas de jornal, universidades,
banheiros públicos, bairros de preferência alemães e italianos, feiras, convenções, etc. A
discrição é a arma e o fanatismo o lema. O artigo também fornecia detalhes de como e onde
os adesivos devem ser colocados, quais os melhores lugares para ser visitados e como utilizar
65
Ela ajuda a tornar os judeus um grupo incriticável. Como um tipo de religião secular, ela dá uma junção
emocional entre os judeus e seus líderes. É uma poderosa ferramenta nas campanhas para conseguir fundos, e é
usado para justificar a gigantesca “ajuda” norte-americana a Israel. Além disso é responsável pela interminável
seqüência de “reparações” exigidas pelas falsas vítimas do Holocausto, as quais são extorquidas de governos,
empresas, bancos, etc., acusados de terem auxiliado o III Reich. Foi ainda fundamental na concretização do
Estado de Israel, funcionando como ferramenta de chantagem emocional, moral e econômica contra os líderes
das principais potências mundiais. CF. Citação retirada do artigo66 Perguntas e Respostas sobre o holocausto
exposto no site Valhalla88. Capturado do endereço eletrônico
<http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html> em 05/09/2010.
57
propaganda histérica e negativa a respeito do NS em benefício próprio66
. A clandestinidade é
incentivada visto que a liberdade de opinião no Brasil, segundo ele, era suplantada por leis
antirracistas, já que o Estado brasileiro promulgava, sistematicamente, leis “anti-brancas”
(convenientemente chamadas de leis “anti racistas” ou “anti discriminação”) de modo a
reprimir toda e qualquer forma de exaltação do Orgulho Racial Branco.
Vale a Pena?
Na página “Vale a Pena?”, o autor (não identificado) tentava convencer o leitor de
que, mesmo com todos os problemas e riscos “Vale a Pena” lutar pelo Nacional-Socialismo,
mesmo que para isso, fosse postos em risco seus empregos, família, namorada, amigos,
integridade física e mental, a liberdade e até mesmo a vida, pois, estaria lutando em prol de
uma causa nobre e pela manutenção do bem-estar da raça ariana. “Um amigo, uma namorada,
não são NADA comparados com nossa cosmovisão pela qual milhões de pessoas deram suas
vidas. Uma cosmovisão pelos quais muitos camaradas perderam, estão perdendo e perderão
sua liberdade, só por pensar diferente” 67
. Como podemos perceber, não importa ao líderes do
movimento como o seu simpatizantes estão propagando o ideal NS, muito menos quais serão
os desafios e riscos enfrentados pelo ativista, pois, se com a vida de um militante o
movimento conseguir alcançar outro simpatizante, desafiar o sistema vigente ou destruir seus
inimigos (judeus, negros, homossexuais, imigrantes, nordestinos) este ativista terá logrado
êxito e fortalecido a luta do Nacional Socialismo.
66
Quando a sua distribuição de literatura estiver concluída, examine as notícias locais. Logo que o inimigo der
início ao clima de histeria coletiva, recorte os artigos a esse respeito. Se o inimigo apenas reclamar por meio da
TV, anote, adicione as suas considerações sobre o assunto. [...] Confira diariamente jornais, revistas e outros
periódicos à procura de cartas ao editor que se aproximem do ponto de vista NS; o mesmo para referências do
tipo anti-migração, anti-crime, anti-controle de armas, etc. A seguir, utilizando os nomes e cidades dos autores,
procure obter seus endereços (completos) pela lista telefônica (muitas agências telefônicas mantém grande
diversidade de listas telefônicas de outras localidades) ou mesmo, por outros meios e, então, envie-lhes nossa
propaganda. Não coloque endereço para retorno no envelope. Lembre-se de que as pessoas tendem a expressar
seus verdadeiros sentimentos em cartas dirigidas à mídia judaizante; uma carta moderada pode ser facilmente de
um futuro ativista NS. CF. Citação retirada do artigoFormas de Açãoexposto no site Valhalla88. Capturado do
endereço eletrônico <http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html> em
10/09/2010. 67
Citação retirada do artigoVale a Penaexposto no site Valhalla88. Capturado do endereço eletrônico
<http://web.archive.org/web/20060417211726/valhalla88.com/valhalla.html> em 10/09/2010.
58
XI.O fim do Valhalla88?
Depois de dez anos de atividades (1997-2007 período de existência do site) tanto no
ciberespaço quanto no mundo real68
, a web site www.valhalla88.com foi retirada do ar através
de ação conjunta da liderança judaica brasileira e da Polícia Federal Brasileira. O grupo de
extrema direita se aproveitava da liberdade de expressão Argentina e Norte Americana para
hospedar seu conteúdo racista e xenófobo até ser totalmente desarticulado e extinto.
No entanto, apesar de ter sido extinto, o Valhalla88 continua muito vivo, a partir do
momento que seus principais artigos e material de doutrinamento, assim como o conteúdo de
seu fórum conhecido como “A Voz de Odin” estão disponíveis para download nos mais
diversos formatos (pdf, word, html) em diversos sites nazistas, temos como exemplo o Portal
Espanhol Nova Ordem (www.noevordem.net) e o site Partido Nacional Socialista
Brasileiro88 (http://www.nacional-socialismo.com) web site nazista mais ativa atualmente no
Brasil, locais de onde foi retirado o material utilizado na produção deste trabalho de conclusão
de curso.
Não foram encontrados informações sobre os integrantes do grupo Valhalla88 ou
sobre a prisão de seus líderes já que, eles utilizavam pseudônimos para se identificarem como
Nacionalista88 e faziam uso da segurança e anonimidade fornecida pela Internet a seus
usuários para se protegerem da Lei Nº 7.716, de05 de Janeiro de 1989, que define os crimes
resultantes de preconceito de raça ou de cor como imprescritível e inafiançável.A data
estimada paraa extinção do site www.valhalla88.com é 02 de agosto de 2007, mas sua última
postagem data de 25 de março de 2007, esta aparente paralisia deveu-se às fortes perseguições
sofridas pela Justiça brasileira, devido a denúncias da Sociedade Judaica e não simpatizantes
68 [...] o “Valhalla88" vinha exercendo suas atividades racistas e anti-semitas não só no mundo virtual mas
também no mundo real. O caso mais nítido foi o ataque contra a sinagoga de Santo André (SP) onde além de
assinar as pichações, membros da quadrilha filmaram parte da ação e a colocaram no YouTube, com link dentro
de sua área. Também documentaram e expuseram grandes pichações e colagens de cartazes em instituições
judaicas, em locais de grande visualização e até mesmo em viaturas policias estacionadas em São Paulo, Curitiba
e Santa Catarina.Disponível em: <http://netjudaica.blogspot.com/2007/08/valhalla88-fora-do-ar.html> Acesso
em: 04/07/2011.
59
do movimento69
. Nesta última tentativa de continuar existindo e formando agentes do ódio e
intolerância, o site publicou em sua página inicial o seguinte aviso “Na tentativa de impedir a
disseminação da VERDADE a CENSURA JUDAICA poderá em breve obrigar os provedores
de acesso à internet a bloquearem o acesso de seus usuários ao VALHALLA70
“.
Imagem 6 – Página inicial do Valhalla88 expondo a seus leitores a perseguição sofrida pelo “governo sionista”, printscreen tirada do
extintoValhalla88 utilizando a web site Internet Archive (http://web.archive.org/web/20070526112751/http://www.valhalla88.com/l/)
Apesar da extinção do Valhalla88, os grupos neonazistas brasileiros continuam
existindo e resistindo as pressões da Justiça, outras páginas de conteúdo intolerante continuam
a propagar os ideais nazistas, muitas delas utilizando o material do próprio Valhalla88. Além
disso, são criados diariamente páginas, blogs, salas de bate-papo, comunidades de
69
[...] o site www.valhalla88.com está fora do ar. Em seu lugar aparecem apenas propagandas do próprio
provedor. Seus espelhos conhecidos que redirecionavam o leitor para o site também apontam para o vazio
atualmente.Capturado do endereço eletrônico<http://fierj.blogspot.com/2007/08/valhalla88-fora-do-ar.html> em
11/07/2011. 70
Capturado do endereço eletrônico
<http://web.archive.org/web/20070526112751/http://www.valhalla88.com/l> em 11/07/2011.
60
relacionamentos etccom apologia ao Nacional-Socialismo. Por isso, faz-se necessário ter um
pouco de cautela com o material que acessamos na web, o que não quer dizer que o
ciberespaço não possa ser útil e informativo, cabendo a seus usuários decidirem a que
finalidade a web será destinada. Grupos neonazistas como o extinto Valhalla88 continuam
existindo e se multiplicando na Internet, mas felizmente eles não possuem o domínio deste
espaço de pesquisa, educação, informação e entretenimento tão importante e característico do
século XXI.
61
Considerações Finais
O neonazismo, tal como é reavivado no Brasil por grupos de extrema-direita, é
caracterizado como um movimento amplo e responsável pelo ressurgimento do Nacional-
Socialismo neste fim de século. A violência expressa por ativistas destes grupos em atentados
contra nordestinos, negros, judeus, punks, homossexuais e imigrantes,é apenas umas das
formas de manifestação exercida por uma parcela de neonazistas.
A doutrina e a disseminação do Nacional-Socialismo ocorrem principalmente através
da música, de manuais e da abundante quantidade de artigos presentes em seus sites.
Símbolos, bandeiras, suásticas, fotos, indumentárias e modelos comportamentais são algumas
das estratégias largamente exploradas pelo grupo. Além da adoração de líderes e da negação
do passado e reinvenção da História em defesa própria.
Também é importante frisar que por trás do movimento neonazista existe um grupo de
pessoas instruídas que lideram e organizam as ações do grupo. Isto pode ser percebido através
de suas páginas muito bem elaboradas, as quais sempre disponibilizam a seus usuários um
farto material propagandístico relativamente bem escrito e politizado, o qual seria impossível
de ser produzido por simples brutamontes com capacidade apenas para a violência e
preconceito gratuito. Estes indivíduos são tão fanáticos e manipulados quando os membros
das tropas de assalto (Sturmabteilung – SA) ou dos soldados da “Divisão das Caveiras”
(Totenkopfdivision) do III Reich, os quais eram crentes da ideologia nazista e da
superioridade ariana, em nome do que estariam dispostos tanto a matar como a morrer.
A luta e as manifestações propostas por grupos como o Valhalla88foram um
verdadeiro risco à sociedade brasileira a qual desde sua colonização é formada pela mistura de
várias culturas e raças,não fazendo sentido um pequeno grupo se identificar como de sangue
ariano e com isto propagar ideais de xenofobia, racismo, supremacia, homofobia e
antissemitismo. Com a desarticulação do Valhalla88, a Justiça conseguiu acabar com um dos
maiores propagadores do ódio e da intolerância do ciberespaço brasileiro, mas isso foi apenas
uma das cabeças da serpente já que seu conteúdo continua ativo e atuante. É importante frisar
que a Internet não é a culpada pelo fortalecimento dos grupos neonazi, a “rede” está
disponível para todos e oferece uma infinidade de possibilidades de utilização, cabe a seus
usuários decidirem qual o papel da web em suas vidas e aos governantes manterem o mínimo
de controle e fiscalização do conteúdo nela disponível.
62
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